Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci.
Você foi, dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim.
Os olhos. Lembro bem dos olhos. E da boca. E da mão que tocava meu corpo e que descia, descia. Do sorriso que se formava nos lábios. Das piadas que contávamos e das lembranças que retornavam ali, naquele momento, naquele exato segundo. Tive tanta vontade de te abraçar, de nunca mais soltar, de pedir por favor, fica. Você notou o meu silêncio, se inquietou com ele. Queria saber os meus pensamentos mais íntimos, como se já não os soubesse, como se não os conhecesse. Como se todos eles não girassem em torno daquele momento, de você, de nós, do mundo lá fora.
Naquele quarto, éramos nós. Duas pessoas que se encontraram por acaso, procurando o amor no lugar mais bobo, improvável. Voltávamos com novas bagagens para a mesma época, e era como se nunca tivéssemos deixado de existir no mundo do outro, como se a vida não tivesse seguido. Naquele lugar, eu era sua, e você era meu.
O que mudou, então?
O nosso tempo se esgotou. Percebi isso enquanto te ouvia falar sobre algum fato que eu já não lembro mais. Enquanto teus dedos acarinhavam o meu braço. Leves toques, leves toques. E o incômodo aumentou, a distância se estendeu. Pensei na hora de ir pra casa. No mundo lá fora, tão diferente do mundo de antes, do nosso mundo. Nos meses que se passaram, nas minhas tentativas falhas de te esquecer, de te enterrar no fundo de uma gaveta, te deixar lá. Voltei para casa em silêncio. Um silêncio que doía, que gritava.
Não sei em que momento a gente se perdeu um do outro. Gostaria de me lembrar. Queria tentar consertar as coisas, nos salvar, quem sabe pudéssemos recomeçar, eu faria qualquer coisa. Mas eu só consegui segurar a sua mão, com força, como quem se despede da sensação de pertencimento, do calor.
Não tive tempo de te contar da minha angústia, nem sei se queria mesmo que você soubesse. Para mim, te guardar na memória já era o bastante. Te deixar assim, quieto, uma lembrança boa, daquelas que a gente gosta de reviver de vez em quando. Mas confesso que às vezes, na minha rotina, me pego lembrando do antes. Uma música. Um filme. Um livro. Qualquer coisa me leva de volta para aquela tarde em que éramos você, eu, nosso mundo. E de repente o peito aperta, sinto medo, mas logo passa, e eu sigo em frente.
Dou passos largos, olho para frente. Tento me concentrar no agora, presente, e no amanhã, futuro. Permito que meu cérebro te esqueça por um tempo, que reconheça outras faces, outros corpos. Que memorize outros nomes além do seu, que sei que jamais conseguirei esquecer. Por vezes, consigo. Sigo em frente. Me apaixono. Amo. Vivo. Me refaço.
Transformo a saudade em poesia, deixo ela se derramar em folhas de papel, notas de celular, conversas reflexivas. Falo sozinha. Crio diálogos, finjo que sei alguma coisa, que o peito calejado entende de sofrimento, que as letras das canções falam mais do que qualquer coisa, e a melancolia dos dias sozinha é só mais uma desculpa para criar devaneios, ilusões, cenas que nunca irão acontecer, conversas que jamais teremos. Tento encaixar qualquer coisa que me faça suprir essa ausência. Até porque é só mais um amor de tantos que se foram. Por que é que dói tanto, então?
Talvez sejamos só mais uma história. Talvez, nessa história, sejamos duas personagens que fogem da mesmice dos casais apaixonados. Como Joel e Clementine, corremos em direção oposta ao esquecimento, tentando manter o que ainda há de bom aqui. Vamos viver o que ainda há de bom aqui. Agarre essas memórias, as esconda, por favor. Me abrace. Não me deixe ir. Fala alguma coisa. Qualquer coisa. Mas você não me escuta, já está longe, do outro lado, na sua realidade. Talvez sejamos dois estranhos agora.
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez.
Gracias por leer!
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