ana-paula-durks- Ana Paula Durks

Eli quando contemplava seu reflexo não se reconhecia mais. O tempo a consumiu, sem ao menos perceber. Definitivamente esteve no inferno e voltou. Foi salva da morte , para virar a morte. Ou melhor , Trazer a morte. Esse mundo já está velho e cansado. Está na hora da limpeza , do famoso juízo final. Somente os merecedores deverão permanecer e reconstruir. Mas afinal, existe merecedores?


Fantasía Todo público.

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Introdução

Tic-tac... Tic-tac... Tic-tac. Esse era o som que ecoava em minha mente, enquanto contemplava o enorme Big Ben, antigo e imponente, como um farol, ao lado do grande Palácio de Westminster. Mas não era um farol, e sim um relógio. Um maldito relógio, constante e impiedoso, onde o tempo nunca para, só consome. Meu devaneio foi interrompido quando percebi o reflexo na janela do carro. Manchas escuras circundavam os olhos, a pele pálida como papel velho, o cabelo cinza não ajudava na aparência, assim como a cicatriz que começava ao lado do olho direito e terminava no osso mandibular, uma lembrança do início. Às vezes ainda pulsava, como um despertador, não me deixando esquecer, um castigo. Como se eu já não tivesse vários.

- Como deseja pagar?

A voz do motorista me acordou dos pensamentos por um instante.

- Dinheiro. Respondi.

Londres era fria e apática, com densas nuvens cinzas , anunciando que uma tempestade estava a caminho. Inspirei profundamente. Amava o cheiro molhado antes da chuva, o vento frio balançando os casacos, as bandeiras e cortando a pele, dando arrepios. Cerrei os punhos e o vento aumentou, espantando alguns turistas, fazendo seus chapéis e cachecóis voarem. Comecei uma caminhada em direção ao barco, atracado no museu das Docas. Tinha uma reunião marcada com a Senhora das Águas. E eu não sabia nadar.


Alta, esguia, a pele levemente bronzeada , manchas avermelhadas de sol marcavam os braços , o peito e as bochechas. Seu cabelo era longo e escuro, muito escuro , tão preto que chegava a mostrar tons azulados. Seus olhos eram levemente puxados e ligeiros, juntamente com sobrancelhas arqueadas que se arquearam ainda mais assim que pulei da calçada para o barco.


- Ouvi boatos que não sabe nadar. Poderia te afogar tão... tão facilmente.


Continuei parada, as mãos dentro do bolso do sobretudo. Ava poderia parecer uma modelo americana, aparência inofensiva, mas tinha uma mente doentia.


- Realmente poderia. Talvez eu agradeceria. Mas, sabemos que não funciona assim , essa coisa de morrer. Respondi.


Ava fez um gesto de desdém com as mãos , o que fez o barco chacoalhar e as águas ao redor se agitarem.


- Morrer, porque deseja tanto isso irmã? Você bem sabe que, nossa missão é justamente ao contrário. Da morte retornamos , para o fim anunciar.


Fechei os olhos. E elas me inundaram. Lembranças que pareciam ter milênios de anos. Talvez tenham. Ava era realmente uma irmã. Passamos por tudo juntas, do início até a volta a esse mundo caótico. Mas, não quer dizer que eu aceitava o meu destino. Eu nunca quis aquilo, não realmente, só fui egoísta e medrosa e agora todos que um dia amei, todos que nunca esqueci , terão um fim.

1 de Agosto de 2022 a las 14:04 0 Reporte Insertar Seguir historia
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