Notas Iniciais:
Essa história se passa no começo da saga Dragon Ball Z, quando Goku ainda estava morto.
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Morar no campo podia ser um problema às vezes. Não que Gohan não gostasse de lá. Estava acostumado a ter uma vida simples e se divertiu muito durante a infância brincando com os animais da floresta, assim como seu irmão caçula fazia agora. O problema era que havia certas dificuldades, como comprar um simples presente, por exemplo.
O dia das mães estava chegando e ele gostaria de dar um bom presente para sua mãe dessa vez. Seria mais fácil se morasse no centro da cidade, onde teria uma noção melhor do que mulheres gostam e, principalmente, mais chances de conseguir dinheiro. Às vezes invejava Goten. Ele sempre fazia desenhos de bonecos de palito e sua mãe adorava. Sentia falta da época em que podia dar simples desenhos como presente também.
Mas Gohan já era um adolescente, então precisava dar um bom presente à sua mãe. Ela criou os dois filhos sozinha depois que seu pai morreu após a batalha contra Cell, era o mínimo que ele podia fazer por ela. Ainda que não morasse na cidade, ia até lá quase todos os dias para ir à escola. Podia arranjar um emprego de meio-período e conseguir um dinheiro extra.
Porém, Gohan logo descobriu que conseguir um emprego também não era fácil. Havia poucos lugares oferecendo emprego e quase ninguém queria contratar alguém da idade dele.
O rapaz até conseguiu alguns testes. Atendente em uma sorveteria, por exemplo. Não durou nem um dia, pois era muito desastrado e acabou derrubando várias caixas de sorvete enquanto tentava carregar todas de uma vez.
Auxiliar de limpeza em uma loja. Ele tentou usar sua força fora do comum para desentupir o vaso sanitário e acabou quebrando um cano acidentalmente, fazendo com que jorrasse água suja dentre outras coisas para tudo que é lado. Foi demitido, obviamente.
Teve sorte na sua terceira tentativa. Desistiu de apelar para sua força de super saiyajin e conseguiu uma vaga como caixa em um super mercado. Quem diria que ouvir os sermões que sua mãe lhe dava quando era criança sobre estudar matemática valeriam à pena.
Estava tudo correndo bem. Ele era simpático com os clientes, nunca errava nenhum cálculo na hora de dar o troco. Estava confiante de que conseguiria comprar um bom presente para sua mãe naquele ano, embora ainda não tivesse decidido o que exatamente iria comprar. Estava cogitando pedir a opinião de Bulma quando se surpreendeu ao ver a cliente que estava diante dele.
— Gohan?
— Mãe… — o rapaz gaguejou ao ver o rosto enfurecido da mulher diante dele — Que surpresa… o que faz aqui?
— Comprando as coisas para o jantar, é claro. A pergunta é o que você está fazendo aqui?
Gohan engoliu em seco. Por que sua mãe tinha resolvido ir ao mercado? E justo no mercado em que ele estava trabalhando! Ela sempre cozinhava os animais que ele e Goten caçavam… não, isso não importava agora. Precisava dar uma explicação. Não havia como negar que estava trabalhando lá, mas tinha a sensação de que sua mãe não iria gostar disso.
— Eu… trabalho aqui — Gohan respondeu simplesmente.
— Trabalha? — Chi-Chi repetiu — Então é por isso que você tem chegado mais tarde em casa nas últimas semanas? — ela perguntou e o rapaz assentiu — Gohan, você não pode trabalhar e estudar ao mesmo tempo! Você ainda é muito jovem, precisa se focar nos seus estudos!
— Desculpe não ter te contado antes, mas eu realmente preciso desse emprego — ele respondeu, baixando a cabeça. Notou então que a fila atrás dela começava a aumentar e que as pessoas reclamavam da demora — Hm… não é melhor você passar logo as compras? A fila está aumentando.
— Dane-se a fila, eu estou tendo uma discussão com meu filho aqui! Esperem a sua vez ou vão para outra fila! — Chi-Chi gritou para as pessoas atrás dela, que se encolheram de medo. Algumas realmente foram para outra fila.
— Caramba mãe, não precisava ter gritado com as pessoas assim — Gohan falou, um pouco assustado também — Aliás, por que veio ao mercado? Você sempre cozinha o que eu e o Goten caçamos.
— Acontece que alguém parece ter se esquecido disso — Chi-Chi falou em tom de censura — O Goten passou o dia inteiro brincando com os animais que deveria caçar — ela cruzou os braços — Quer mesmo jogar essa responsabilidade em cima de um menino de sete anos?
— Desculpe…
— Pedir desculpas não vai colocar comida na mesa. Anda, vamos embora.
— O que? Mas mãe, eu já disse que estou trabalhando.
— Por que precisa tanto desse trabalho afinal? — Chi-Chi o encarou desconfiada — Ah! Não me diga que é por causa de alguma garota?
— O que? — Gohan exclamou, surpreso com a conclusão a qual ela tinha chegado.
— É isso, não é? Você se apaixonou por alguma garota e está tentando arranjar dinheiro para convidá-la para sair, comprar presentes, pagar um lanche e todas essas coisas.
— Não é nada disso…
— Aposto como é alguma daquelas riquinhas do colégio — Chi-Chi não lhe deu atenção — Pode esquecer. Seja lá quem for essa menina, tem que gostar de você do jeito que é! — falou decidida — Você vai pedir demissão e vai para casa comigo agora e ponto final.
Por mais que Gohan protestasse e lamentasse, não adiantou. Acabou pedindo demissão do único emprego no qual conseguiu se encaixar e voltou para casa com a mãe. E de quebra ainda ficou de castigo por ter mentido.
De noite, ele encarava o dinheiro que havia recebido pelos dias que trabalhou. Não era muito e o rapaz ainda não tinha decidido o que comprar. Agora que estava de castigo então, seria mais difícil ainda.
— Desculpe, irmão — Goten murmurou, sentado na cama dele — A mamãe só descobriu sobre o seu emprego porque eu fiquei brincando com os bambis ao invés de caçar eles…
— Não são bambis, são veados — Gohan corrigiu — E não foi culpa sua. Eu não deveria ter deixado a comida por sua conta.
— A mamãe disse que você estava trabalhando para comprar um presente para uma garota. Você tem uma namorada? — ele perguntou curioso.
— É para comprar um presente sim, mas não é para nenhuma namorada — Gohan sorriu — Você sabe que o dia das mães está chegando, não é?
— Sim! Eu até já comecei a fazer um desenho novo para a mamãe — o menino falou com empolgação — Você quer ver?
— Depois — Gohan respondeu, mal acreditando no que estava prestes a fazer — Goten, na verdade eu estava trabalhando para conseguir dinheiro para comprar um presente para a mamãe.
— Sério? — o mais novo arregalou os olhos — E ela te fez sair do emprego? Que injusto!
— Ela só está preocupada com meus estudos — Gohan falou conformado — Enfim… eu recebi o dinheiro pelos dias que trabalhei, mas, agora que estou de castigo não posso sair para comprar o presente dela, então preciso te pedir uma coisa.
— O que é?
— Preciso que você vá comprar o presente dela por mim.
— O que? — Goten exclamou, surpreso com o pedido.
— Vai ser fácil. É só você dizer para a mamãe que vai sair para brincar e, ao invés disso, vá comprar um presente para ela.
— Mas irmão, eu não sei do que mulheres gostam — Goten falou receoso — Posso pedir ajuda para a Bulma?
— Também pensei nisso, mas acho que não vai dar certo. A Bulma é rica, poderia comprar um barco ou um castelo de princesa se quisesse — Gohan sorriu sem graça — Geralmente mulheres gostam de joias e roupas, eu acho. Se tiver dúvidas peça ajuda para uma atendente da loja.
— Está bem — o menino respondeu, guardando o dinheiro que o irmão lhe entregou.
— Compre algo bem legal para a mamãe, Goten. Confio em você.
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No dia seguinte, lá foi Goten realizar a missão mais difícil de todos os seus curtos sete anos de vida: Comprar um presente para sua mãe. Após dizer que estava indo brincar com os animais da floresta, coisa que fazia quase todos os dias, seguiu por um caminho diferente que quase não percorria. Levava até uma estrada estreita e tortuosa, praticamente impossível de percorrer de carro por ser muito inclinada. Não que ele pretendesse ir de carro, é óbvio. Porém morava longe demais da cidade e demoraria muito para chegar até lá andando.
Era frustrante como ele havia conseguido se tornar um super saiyajin com tanta facilidade, mas não tinha aprendido a voar. Se soubesse, chegaria à cidade bem mais rápido. Por sorte Gohan lhe deu a nuvem voadora pouco depois de começar a frequentar a escola, o que ajudava bastante naquela situação. Foi voando até a cidade montado na nuvem e desceu em uma área um pouco afastada para não ser visto por ninguém. Caminhou por alguns minutos até chegar ao centro da cidade e não conseguiu evitar sua cara de espanto.
Havia tantas lojas naquele lugar… vendiam todo tipo de coisa que se possa imaginar! Roupas, sapatos, bolsas, eletrodomésticos, brinquedos… e comida! Céus, havia tantos tipos de comida diferentes, desde restaurantes sofisticados a barraquinhas de lanches. Todos aqueles aromas tentadores estavam começando a abrir o apetite do menino. Goten caminhou distraidamente até uma barraquinha de doces, mas se lembrou a tempo de que não podia gastar o pouco dinheiro que tinha com bobagens. Gohan lhe deu uma missão e ele não podia decepcioná-lo. Precisava comprar um presente para sua mãe.
Mas… o que deveria comprar?
Caminhou a esmo por alguns minutos, mas tudo parecia caro demais. Será que as pessoas da cidade eram tão ricas assim? E ele nem sabia ao certo o que deveria comprar. Seu irmão disse que a maioria das mulheres gostavam de roupas e joias. Goten sabia que tipo de roupas sua mãe usava, a maioria eram vestidos longos, mas não fazia ideia do tamanho que ela vestia. Céus, ele era um péssimo filho… sua mãe cuidou dele a vida inteira, preparou sua comida, sabia exatamente que tipo de roupas e sapatos comprar para ele, cuidou dele quando ficava doente e ele sequer sabia o tamanho da roupa que sua mãe vestia!
Gohan era um filho muito melhor… conseguiu um emprego para arranjar dinheiro a fim de comprar um bom presente para sua mãe. E, se ela não tivesse ido ao mercado, ele não teria sido demitido. Pelo contrário, teria conseguido ainda mais dinheiro e poderia escolher um presente para ela pessoalmente. E pensar que sua mãe só descobriu sobre o trabalho de Gohan porque ele ficou brincando até tarde e se esqueceu de pegar a comida para o jantar… era tudo culpa dele!
— Está tudo bem, querido? — uma voz o despertou de seus pensamentos. Só então ele percebeu que estava parado em uma calçada chorando, de frente para a vitrine de uma joalheria.
— Sim, obrigado — ele esfregou os olhos com as costas da mão — Desculpe, eu preciso ir…
— Tem certeza? — a mulher perguntou — Se não estiver se sentindo bem pode entrar e se sentar um pouco — ela sorriu — Você está perdido? Quer que eu chame alguém?
— Não senhora — ele respondeu, embora realmente não fizesse ideia de onde estava. O centro da cidade era enorme — É que… eu preciso comprar um presente, mas não sei o que escolher… nunca comprei nada para uma mulher antes.
— Ah, entendo — o sorriso dela se alargou — Por que não entra e dá uma olhada nos mostruários? Eu posso te ajudar a escolher alguma coisa se quiser.
— Verdade? Iria me ajudar muito! — o menino sorriu, com energia renovada.
Goten seguiu a moça até o interior da loja e observou as várias joias enquanto ela falava do que elas eram feitas, quantos quilates tinham, mas o menino desistiu de tentar entender no terceiro colar que ela lhe mostrou e tentou escolher o que achava mais bonito, embora todos parecessem iguais. Talvez sua mãe gostasse de algum que tivesse bastante pedras. Ela gostava de coisas brilhantes.
Após mostrar a maioria das joias a vendedora deixou Goten mais a vontade para observá-las e escolher qual era de seu agrado. Estava em dúvida entre um colar de diamantes e uma pulseira de esmeraldas (que ele não sabia que eram pedras preciosas, é claro), até que se lembrou de um fator crucial: O preço.
Tudo ali parecia agradar sua mãe, mas havia tantos zeros nas etiquetas de preços que ele duvidava que poderia comprar alguma daquelas joias. Estava prestes a dizer à vendedora que não compraria nada quando ela retomou a conversa.
— Desculpe por perguntar, mas você não é muito novinho para comprar um presente para uma menina?
— O que? — ele encarou a moça confuso.
— Quantos anos você tem? Oito? Nove?
— Tenho sete — o menino respondeu.
— Sete anos e já tem uma namoradinha? — ela espantou-se — As crianças crescem tão rápido…
— Eu vim comprar um presente para a minha mãe — Goten esclareceu — O dia das mães está chegando, sabia?
— Ah, é claro! Isso faz mais sentido — a vendedora sorriu — E do que a sua mãe gosta?
— De coisas brilhantes — ele continuou olhando as jóias, lamentando por não saber diferenciar nenhuma daquelas pedras. Foi até o balcão, perto de onde a vendedora estava e deparou-se com um conjunto de brincos e colar de pérolas. Se parecia muito com o tipo de brincos que sua mãe costumava usar — É isso! Minha mãe sempre usa brincos assim, mas os dela são coloridos. Ela não tem nenhum branco.
— São brincos de pérolas, e vem com um belo colar — a moça sorriu — Então vai ser esse?
— Sim, esse é perfeito — Goten sorriu, feliz por ter encontrado um bom presente. Tirou o dinheiro do bolso e estendeu para a vendedora, que desfez o sorriso.
— Ah, querido… receio que não seja o suficiente — ela indicou a etiqueta de preço e o menino arregalou os olhos.
— São muitos zeros…
— Sinto muito — ela lamentou.
— O que eu faço agora? Demorei tanto para encontrar algo legal para a mamãe… e o meu irmão trabalhou duro para conseguir esse dinheiro… se eu voltar sem nada ele vai ficar decepcionado comigo… — ele começou a soluçar.
— Acalme-se querido. Podemos fazer um acordo — ela falou, com pena do menino.
— Um acordo?
— Esse valor não é o suficiente para levar o conjunto todo, mas você pode comprar apenas os brincos. Que tal?
— Isso é ótimo! Obrigado! — Goten sentiu um impulso de abraçar a mulher, mas segurou-se a tempo.
— Imagine — ela sorriu — Ah, e tem outra coisa: Como você mesmo disse, “tem muitos zeros” no preço. Então não poderei te vender os brincos com as pérolas de verdade.
— Como assim? — Goten inclinou a cabeça para o lado confuso.
— Significa que você vai levar os brincos com as pérolas que “tem menos zeros” — ela disse de uma forma que Goten pudesse entender, mas que ao mesmo tempo não percebesse que não era a joia verdadeira — Veja, é esse aqui — ela tirou uma caixa de uma gaveta que ficava atrás do balcão. Um par de brincos de pérolas idêntico ao que o menino tinha visto antes.
— Mas eles são iguais — Goten se pendurou no balcão para enxergar melhor.
— Exatamente! Ninguém vai perceber — ela sorriu — E então? Negócio fechado?
— Tá legal — ele apertou a mão da mulher.
— Ótimo! Vou embrulhar para presente.
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Goten se perdeu na volta para casa, obviamente. A cidade era enorme e ele raramente ia até lá. Após alguns minutos caminhando sem rumo, encontrou um beco vazio e chamou pela nuvem voadora, que veio ao seu resgate mais uma vez. Era um pouco vergonhoso que a nuvem soubesse o caminho para sua casa e ele não. Teria que aprender algum dia.
Estava quase chegando quando avistou o rio que ficava perto de casa, onde costumava brincar e pescar. Lembrou que a comida que sua mãe comprou no mercado já tinha acabado (ele e Gohan comiam bastante afinal) e não sabia se tinha algo para a janta. Seu irmão estava de castigo, provavelmente não pode sair de casa nem para caçar. Resolveu descer perto do rio e pescar alguma coisa antes de voltar para casa. Sua mãe ficaria feliz se ele voltasse com o jantar e pelo menos o tipo de peixe que ela gostava ele sabia escolher sozinho.
Mergulhou no rio e nadou por algum tempo até avistar um grande peixe. Enorme mesmo, era maior do que ele. O peixe fugiu o mais depressa que pode, mas não tinha chance contra a velocidade do menino. Goten não demorou a capturá-lo e repetiu o processo algumas vezes, divertindo-se enquanto pescava. Quando conseguiu seis peixes, deu-se por satisfeito. Retornou para a margem do rio e tirou a blusa molhada, torcendo a roupa para tirar o excesso de água. Até que notou que havia algo errado.
— Ué… cadê os brincos da mamãe? — ele vasculhou os bolsos da camisa, virou-a do avesso, mas nem sinal deles. Verificou também os bolsos da calça, mas não estavam lá — Ei, vocês engoliram os brincos da minha mãe? — ele abriu a boca dos peixes, que a essa altura não estavam mais vivos, uma a uma e olhou lá dentro, mas nenhum deles parecia ter engolido as joias — Essa não… eu perdi os brincos! — bagunçou os cabelos desesperado.
Onde poderiam estar? Ele não os tirou do bolso em momento algum na volta para casa. Olhou ao redor, verificando se não tinham caído no chão, até que seu olhar recaiu sobre o rio. É isso… deviam ter caído do seu bolso enquanto ele pescava.
Goten mergulhou no rio sem pensar duas vezes. Teve tanta dificuldade para conseguir aqueles brincos, não podia perdê-los. O que diria ao seu irmão se chegasse de mãos vazias e sem dinheiro? Não podia decepcioná-lo. Não podia decepcionar sua mãe.
Vasculhou o rio até o sol começar a se pôr, mas nem sinal dos brincos. Era praticamente impossível encontrar uma caixa tão pequena naquele rio enorme, sem falar que a correnteza poderia tê-la levado embora. Goten começou a se desesperar até que viu um brilho ao longe. Nadou naquela direção esperançoso, mas não eram os brincos de sua mãe. Entretanto, havia algo muito parecido dentro do que ele imaginava ser uma concha. Aquilo teria que servir. Pegou o pequeno objeto, voltou para a superfície, vestiu-se e retornou para casa com os peixes.
— Onde você estava esse tempo todo, Goten? — foi a primeira coisa que Chi-Chi falou, ou melhor, gritou, quando ele chegou em casa.
— Eu estava brincando…
— Até essa hora? Quantas vezes já te disse para voltar antes de escurecer? Quer ficar de castigo igual ao seu irmão?
— Desculpe mamãe — ele baixou a cabeça — É que eu pensei em pegar o jantar e me distraí.
— Ah, Goten… não precisa se preocupar com essas coisas, você ainda é uma criança — Chi-Chi suspirou, um pouco arrependida de ter gritado com ele — Olhe só para você, está encharcado. E se pegar uma gripe?
— Eu estou bem, mamãe. Desculpe por te deixar preocupada.
— Não quero saber de desculpas. Já disse várias vezes para você voltar antes do pôr do sol, então faça isso — ela voltou a assumir uma expressão severa — Não quero que você fique doente por causa de uma bobagem. Eu já perdi o seu pai, não quero que nada aconteça com você ou com seu irmão — ela afagou os cabelos do filho — Agora vá tomar um banho e coloque roupas limpas enquanto eu preparo o jantar.
Goten assentiu e foi até o banheiro. Depois de tomar banho e vestir roupas secas, foi até o quarto do irmão sem que sua mãe notasse.
— Oi irmão.
— Entra, Goten. Fecha a porta — Gohan falou e o menino obedeceu — E aí? Conseguiu um bom presente para a mamãe?
— Bom… aconteceram algumas coisas…
O menino resumiu sua pequena aventura para o irmão, que fazia várias caretas enquanto ele falava, desde espanto até uma discreta vontade de rir. No final, Goten retirou o pequeno objeto do bolso e mostrou para Gohan.
— Eu procurei bastante, mas não consegui encontrar a caixa com os brincos da mamãe. Mas achei essa concha no rio, ela tem essas coisas parecidas com os brincos, e são duas — ele falou — Achei que dava para fazer um par de brincos com elas. Desculpe, irmão… eu desperdicei o dinheiro que você teve tanto trabalho para conseguir…
— Goten, isso não é uma concha. É uma ostra — Gohan interrompeu, retirando-a das mãos do menino com cuidado — E ainda por cima tem duas pérolas.
— Hm… e isso é bom?
— Está brincando? É fantástico! — Gohan sorriu — Pelo que você me contou, a vendedora daquela loja te enganou e te vendeu brincos com pérolas falsas. Mas essas aqui são verdadeiras.
— Então acha que a mamãe vai gostar delas? — Goten perguntou esperançoso.
— Tenho certeza que sim.
— Mas irmão, você me disse para comprar joias — Goten lembrou — Não dá para a mamãe pendurar isso nas orelhas. E são só duas, também não dá para fazer um colar… — ele interrompeu-se ao ouvir a mãe gritando da cozinha, avisando que a comida estava pronta.
— Não se preocupe, eu dou um jeito nisso — Gohan falou mais baixo, guardando a ostra na gaveta do armário — Anda, vamos jantar. E não se esqueça, não pode falar sobre isso com a mamãe, ou vai estragar a surpresa.
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O dia das mães finalmente chegou. Os dois conseguiram disfarçar bem na frente de Chi-Chi, mas os brincos não eram a única surpresa. Acordaram mais cedo do que de costume naquele dia e prepararam o café da manhã. Havia sobrado alguns dos peixes que Goten pescou, então decidiram prepará-los.
— Tem certeza de que não quer ajuda? — o mais novo perguntou.
— Não precisa. Você já trouxe os peixes, eu cuido do resto — Gohan falou enquanto os assava na fogueira. Não sabia de fato cozinhar, mas o tempo que passou treinando com Piccolo quando criança o ensinou a fazer fogueiras e assar carne ao ar livre.
— Mas eu quero fazer alguma coisa também — o menino falou emburrado. Gohan já tinha consertado os brincos e estava preparando a comida, desse jeito acabaria levando todo o crédito.
— Tudo bem, tudo bem — o mais velho olhou ao redor, pensando em algo que o irmão caçula pudesse fazer — Nesse caso, pode trazer a toalha de piquenique? Ah, e talheres e pratos também.
— É pra já! — Goten voltou correndo para dentro de casa.
Conseguiram arrumar tudo em poucos minutos. Estavam em dúvida se deveriam acordar a mãe e fazer uma surpresa ou esperar que ela acordasse sozinha, mas, antes que chegassem a uma conclusão, ouviram um grito vindo de dentro de casa.
Vários gritos, na verdade. Primeiro algo sobre estar faltando pratos e eles terem sido assaltados. Depois Chi-Chi aparentemente foi chamar os filhos, mas encontrou as camas vazias e começou a gritar coisas sobre sequestro, resgate e morte.
Talvez preparar um café da manhã ao ar livre não tenha sido uma boa ideia afinal.
— Mãe? Está tudo bem? — Gohan chamou à porta, temendo a reação dela. Óbvio que não estava tudo bem, mas precisava acabar com o desespero da mãe.
— Gohan! Graças aos céus, aí está você! — ela sorriu aliviada ao ver o rapaz.
— Mamãe? O que está acontecendo? — Goten perguntou, escondido atrás do irmão mais velho.
— Ah, Goten! — o sorriso dela se alargou ao ver o outro filho — Não foi nada querido… nada com o que precise se preocupar — ela abraçou os dois garotos.
— Então por que você estava gritando? — o mais novo insistiu.
— Bem, parece que alguns pratos sumiram, então eu achei que tínhamos sido roubados. Mas deve ser bobagem minha, quem iria roubar pratos, não é? — Chi-Chi falou, soltando os dois para poder encará-los — Eu fui chamar vocês, mas as camas dos dois estavam vazias, então eu fiquei morrendo de medo pensando que vocês poderiam ter sido sequestrados no meio da noite…
— Ninguém seria capaz de sequestrar a gente, mãe. Somos saiyajins, lembra? — Gohan sorriu, tentando acalmá-la.
— E como é que eu vou saber? Seu pai também era um saiyajin forte pra caramba e veja só o que aconteceu com ele! — Chi-Chi exclamou — Não quero nem imaginar o que aconteceria se eu perdesse vocês.
— Desculpe, mamãe. Não queríamos te preocupar — Goten falou cabisbaixo.
— Eu sei que não, querido — ela afagou os cabelos do filho — Mas aonde é que vocês estavam afinal, hein?
— Ah, é mesmo! Nós temos uma surpresa para você — Gohan falou e a conduziu até o lado de fora da casa.
— Mas o que…? — Chi-Chi sentiu o queixo cair ao se deparar com a cena. Uma fogueira acesa, as fatias de peixe assado nos pratos desaparecidos e suco preparado na hora — Foi você quem fez isso?
— Nós dois fizemos — Gohan apoiou a mão no ombro do irmão caçula.
— Você sempre se preocupa e cuida da gente, então queríamos fazer algo legal para você — Goten acrescentou — Feliz dia das mães!
— Ah, meninos… não precisava — Chi-Chi sentiu os olhos marejarem — Está tudo lindo, eu adorei.
— Mas ainda não acabou — Gohan disse com um sorriso. Retirou um pequeno embrulho do bolso e manteve a mão abaixada para que Goten pudesse entregar o presente junto com ele — Isso é para você.
— Vocês compraram um presente? — Chi-Chi arregalou os olhos — Como… quando…
— Meu irmão não estava trabalhando para comprar um presente para namorada, ele queria comprar um presente para você — Goten falou, rindo da expressão envergonhada que Gohan fez.
— O que? — Chi-Chi exclamou, sentindo a felicidade se transformar em culpa em um piscar de olhos — Então quer dizer que… esse tempo todo você estava juntando dinheiro para comprar isso? — ela segurou com cuidado o embrulho que os garotos lhe estendiam.
— Pois é — Goten falou com os braços atrás da cabeça — Mas você não acreditou que o meu irmão não tinha namorada e fez ele ser despedido…
— Já chega, Goten — Gohan murmurou.
— E ainda colocou ele de castigo…
— Eu disse já chega! Ou quebro todos os seus brinquedos — Gohan ameaçou e o menino parou de falar.
— Sinto muito, Gohan — Chi-Chi soluçou — A verdade é que eu estava com medo de você me abandonar. Sei que você está crescendo, logo vai se apaixonar por alguma garota e ela vai te levar para longe de mim… eu sou uma mãe terrível…
— Ei, não diga isso! — Gohan apoiou ambas as mãos nos ombros dela — Você criou dois filhos sozinha. É forte, corajosa e gentil. Eu não poderia querer uma mãe melhor.
— Obrigada, querido — Chi-Chi esfregou os olhos com as costas da mão e enfim abriu o presente. Soltou uma exclamação ao ver o conteúdo.
Gohan havia feito brincos improvisados com as pérolas, usando anzóis de varas de pescar. Torcia para que ela não percebesse.
— Uau, eles são lindos! Parecem até pérolas de verdade! — Chi-Chi exclamou enquanto trocava os brincos que usava pelos novos — Como conseguiu eles? Não me diga que fugiu do castigo para ir comprar?
— Na verdade eu pedi para o Goten ir comprar para mim.
— E são pérolas de verdade, mamãe — Goten acrescentou.
— Ah querido, elas não são de verdade. Pérolas são muito valiosas sabe, dependendo do tamanho poderia valer mais até do que a nossa casa — Chi-Chi contou — Mas você escolheu muito bem, a mamãe adorou o presente — ela sorriu.
— Nossa casa pode valer a mesma coisa que uma pedrinha dessas? — o menino espantou-se.
— Se for verdadeira, sim. Elas são muito raras e difíceis de conseguir — sua mãe respondeu.
— Então nós podemos comprar duas casas novas, essas pérolas são de verdade! — Goten exclamou.
— Goten, eu sei que elas são brilhantes e parecem de verdade, mas não são…
— São sim! — ele insistiu — Eu as encontrei dentro de uma concha!
— Uma concha? — Chi-Chi segurou por pouco uma risada.
— Certo, Goten, sua história é ótima, mas que tal pararmos por aqui e irmos tomar café da manhã? Vamos comer antes que esfrie — Gohan aproveitou o momento em que o menino confundiu ostra com concha para interrompê-lo antes que acabasse contando a verdade. Se conhecia bem sua mãe, era capaz de ela realmente querer vender as pérolas para ficar com o dinheiro, e ele não queria que isso acontecesse depois de todo o trabalho que tiveram para conseguir o presente.
Reuniram-se na toalha de piquenique e tomaram o café da manhã preparado pelos garotos. Dessa vez não sobrou nenhuma migalha de peixe. Conversaram por mais algum tempo até que Goten foi até a floresta, dizendo que iria caçar “bambis” para o almoço. Gohan o corrigiu pela terceira vez naquela semana, arrependendo-se de ter deixado o irmão assistir ao filme Bambi.
Começou a recolher a louça suja até que notou que sua mãe o estava ajudando.
— Pode parar por aí! Hoje é o seu dia, não precisa se preocupar com a louça — Gohan retirou os pratos sujos das mãos dela.
— Você é mesmo muito gentil, Gohan — ela sorriu — Obrigada pelo café da manhã, estava ótimo. E também pelas pérolas.
— Não foi na… espera, o que?
— Acha que não reconheço uma pérola verdadeira quando vejo, Gohan? Estamos na pior agora, mas já fui uma princesa muito rica quando era mais nova, não se esqueça de que o seu avô é o Rei Cutelo — a mulher recordou — Sem falar que jogar a casca vazia da ostra pela janela não foi muito inteligente. Devia ao menos ter jogado de volta no rio.
— Desculpe — ele coçou atrás da cabeça sem jeito.
— Por que você negou quando seu irmão disse a verdade?
— Bom, é que você começou a falar sobre como as pérolas são valiosas… quero dizer, eu sabia que eram caras, mas não a ponto de terem o mesmo valor que a nossa casa — ele explicou — Então eu fiquei com medo que, se você soubesse que eram verdadeiras, talvez quisesse… sabe…
— Vender? — Chi-Chi completou a frase — Gohan, eu jamais venderia um presente que os meus filhos me deram.
— Mas são pérolas…
— Podia ser um colar de diamantes, não me importa — ela interrompeu — Você trabalhou duro para conseguir dinheiro e o Goten se esforçou para encontrar um bom presente. Esses brincos não são valiosos porque são pérolas, e sim porque contem todo o afeto que vocês sentem por mim, e isso não tem preço. Você e o seu irmão são meus maiores presentes.
— Obrigado, mãe — Gohan deixou os pratos de lado e a abraçou, sentindo-se acolhido nos braços da mulher.
Sua mãe não era tão materialista como ele pensava afinal. Estava envergonhado por ter pensado isso dela e também feliz por ter se enganado. Sua mãe entendia os sentimentos que ele e Goten depositaram naquele gesto e os amava tanto quanto eles a amavam. Uma mulher incrível, que deixou a vida de luxo de princesa de lado, assim como as artes marciais para cuidar da família. Perdeu o marido cedo, com um filho pequeno e grávida de outro. Às vezes parecia rigorosa demais ou super protetora, mas, considerando que era viúva e que teve que criar e sustentar dois filhos sozinha, quem não seria?
Todos tinham seus defeitos, mas as qualidades de sua mãe eram tantas, sem falar em tudo pelo que ela passou que tudo que Gohan sentia por ela era admiração, e principalmente amor.
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Notas Finais:
Essa história também foi publicada no Spirit, no Nyah! Fanfiction e no Ao3.
Gracias por leer!
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