myazurck Mya Zurck

Em que momento alguém decide enfrentar o preconceito e ser quem de fato é? O que desencadeia a coragem para ir contra o que a sociedade dita como patrão de comportamento aceitável e natural? É provável que estas perguntas ecoassem de vez em quando na mente de Liam, mas ele não buscava por respostas, conformava-se com as coisas como eram. Até que um dia a própria vida o empurrou ao caminho da autodescoberta e ele soube que não havia como voltar.


LGBT+ Sólo para mayores de 18.

#drama #escola #sexo-explícito #homoafetividade #bebidas-alcóolicas #história-original
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O sinal de saída para os alunos do turno da manhã soa e o colégio vai aos poucos se esvaziando, apesar de alguns estudantes persistirem em ficar nas redondezas da instituição uns minutos adicionais, por qualquer motivo.

Caminhando pelo corredor estreito e comprido, três jovens seguem em seus passos relaxados. Liam, mesmo sendo um garoto reservado e um tanto exigente quando o assunto diz respeito a amizades, terminou tornando-se próximo a Tiago e a César por causa do seu melhor amigo que, ao contrário dele, é mais popular.

— Para onde você falou que ele foi? — pergunta César, o garoto de olhos castanhos, mesma cor dos cabelos, dando a entender que não está prestando muita atenção às palavras do outro.

— Ele foi à coordenação, disse que tinha que procurar o professor Edson. Vai tentar entregar o trabalho de matemática — Liam meneia a cabeça, passa os dedos por seus cabelos claros e dá um meio sorriso. − ... atrasado, como sempre.

O detalhe não dito é que o tal trabalho de matemática só foi concluído com a ajuda dele, já que o seu amigo de anos e colega de classe é realmente um desastre nessa disciplina.

— Vai esperar por ele? — Quem fala agora é Tiago, o outro loiro, sabendo que eles moram em casas que ficam na mesma direção, ambas próximas à escola, e costumam ir juntos.

— Só um pouco, se ele demorar muito vou-me embora porque estou realmente faminto. — Após anunciar sua decisão, para de caminhar, ajusta sua mochila pondo-a num só ombro e se reclina à parede, deixando claro que os outros podem seguir seus destinos e ele ficaria ali mais um instante.

Os colegas, assim, fazem menção de se despedir, mas, de repente, César observa, através da porta entreaberta da sala que fica em frente à parede na qual Liam está recostado, a movimentação suspeita de dois garotos.

— Mais que merda é essa?! Olha só isso! — exclama, achegando-se à porta, abrindo-a mais uns escassos centímetros, cuidando em não fazer barulho e convocando os demais para verem também.

— Caralho! Que nojo! — Tiago ri, sarcástico.

Liam ergue as sobrancelhas, curioso, e se desencosta da parede. Por ser o mais baixo entre eles, é obrigado a ficar na ponta dos pés para olhar por cima dos ombros dos demais e poder igualmente ver a cena que lhes chama a atenção.

Na sala de música, sem se darem conta de que são espionados, estão Murilo e Otávio, abraçados e se beijando com vontade. Eles se encontram ao fundo do recinto, por trás dos instrumentos e em nada se concentram além de apreciar os toques afetuosos um do outro.

César, sorrindo de modo perigoso, enfia a mão no bolso e de lá retira seu celular.

— Droga! Tá descarregado. Me passa o seu. — bufa irritado e cochicha a ordem para Tiago.

— Você não vai fazer o que eu tô pensando, vai? — A pergunta é seguida de risadas, enquanto, obediente, lhe entrega o aparelho.

— É claro que eu vou. — dizendo isto, ele aciona a câmera do celular e começa a filmar os meninos, buscando o melhor ângulo a fim de que possam ser identificados claramente. — Vou tornar esse casalzinho bem famoso, todos vão poder apreciar o show de viadagem deles no Youtube, no Face, no Insta, em todo lugar.

— Só espero que estejam cientes de que isso é ilegal e que eu não tenho nada a ver. — Liam declara de modo categórico, mas dá de ombros, afasta-se deles e volta a se recostar na parede, aparentando desinteresse.

César e Tiago, entretanto, apenas continuam filmando e rindo até o momento em que Murilo e Otávio finalmente percebem que foram pegos no flagra. Os rapazes ficam muito constrangidos, assustados, ainda mais quando se dão conta da filmagem, intuindo o mal que lhes seria feito.

— Ei! O que pensam que estão fazendo? Que sacanagem é essa? — Após recuperar-se do susto, Murilo avança furiosamente na direção dos intrusos.

— Murilo, não! Fica calmo. — Otávio, querendo evitar o pior, segura o namorado pelo braço e, suplicante, olha para César, que tem a câmera firme em suas mãos. — Por favor... por favor, só apague isso e nos deixe em paz. Não queremos confusão, não precisam fazer isso.

— E quem aqui quer confusão? Por que estão tão ofendidos? Deveriam estar felizes, afinal serão os protagonistas de um filme romântico. — A ironia na voz do garoto é absurda.

Deste modo, os ânimos vão-se acalorando mais e mais. César não cede e permanece ostentando expressão de chacota, Tiago o acompanha, sempre rindo, como se estive achando tudo divertido, e Liam não faz mais que assistir à cena e mudar a postura de insensível para impaciente.

Minutos transcorrem e as vozes só aumentam de volume a cada segundo.

André, que passava por ali e é amigo de Murilo e Otávio, achega-se para averiguar o que ocorre e também entra no tumulto.

Inteligente e observador, Liam entende que não levaria muito tempo para o bate-boca evoluir a socos e pontapés. Sua suposição transforma-se numa certeza ao ver Theo caminhando ao rumo deles.

“Pronto! Agora é que o circo pega fogo”, reflete o loiro, revirando os olhos e os direcionando para o jovem robusto que, por vontade assumida ou não, costuma causar medo ou empatia a muitos.

Realmente, o próprio Liam não sabe como ele veio a tornar-se o melhor amigo de um indivíduo como esse, visto que possuem personalidades tão distintas. Liam pode ser considerado um tipo de nerd, por ser discreto, muito estudioso, ter pele clara, olhos verdes e ser um menino magro, que só há poucos meses resolveu praticar algum exercício físico no intuito de ganhar massa corporal. Theo, por sua vez, possui cútis menos alva, um porte físico que começa a mostrar o bom resultado das horas diárias dedicadas à malhação e admiráveis olhos castanho-escuros, que conseguem ser mais negros que seus cabelos.

— O que diabos tá acontecendo aqui? — A voz sonora, nítida e arrogante do moreno se destaca.

— Theo, meu amigão! Que bom que você chegou pra me ajudar nesse impasse... — César convoca o garoto que é apenas dois centímetros mais alto que ele para participar da discussão e exibe uma atitude ridiculamente cerimonial. — Veja se não tenho razão. Esses dois aqui... — aponta com o celular para Murilo e Otávio. — resolveram trocar beijinhos em plena luz do dia, na sala de música da nossa escola, não se importando em serem vistos por quem quer que seguisse por este corredor. E agora que eu tenho em mãos o registro do que houve, que quero expor o amor deles e torná-los conhecidos na internet, estão rejeitando a fama.

Mais uma vez, Murilo tenta soltar-se dos braços do namorado para arremessar-se contra seus algozes, completamente indignado. Otávio, no entanto, ainda o prende a si, sabendo que lutar seria a última opção, pois o risco de saírem mais humilhados e machucados é enorme. Tal pensamento é partilhado por André, que se esforça para ser diplomático e fazer emergir, em meio ao conflito instalado, algum senso de solidariedade.

— Escutem! Se vocês fizerem uma coisa dessas irão arruinar a vida dos meus amigos, principalmente a do Otávio, porque os pais dele ainda não sabem que ele é homossexual. Por favor, pensem bem no que estão fazendo, apaguem essa gravação!

Desdenhando a súplica de André e o transtorno emocional dos namorados, Theo volta-se apenas para César.

— Posso ver? — faz a pergunta com naturalidade.

Sorrindo maldosamente, César entrega o telefone ao moreno.

Ante todos os olhos postos sobre si, Theo passa facilmente os dedos na tela e exclui o vídeo, sem ao menos dar-se ao trabalho de lhe assistir, devolvendo o aparelho, logo em seguida.

César, incrédulo, mas imediatamente exaltado, toma o celular em mãos e passa a mexer nas teclas digitais em busca da filmagem, gesto obviamente inútil.

— Você... você apagou o vídeo, seu imbecil!

— Sim, apaguei e você pode me agradecer depois.

— Te agradecer?! — César tem agora os olhos saltados por conta da raiva.

— Eu livrei os seus pais de um processo de indenização, afinal, invasão de privacidade é crime.

Tiago interrompe o riso, os demais garotos mostram-se surpresos, nada esboçando de reação, e Liam igualmente parece estar em transe de tão embasbacado.

— E é você quem vem me dar lição de moral? O cara que, na semana passada, quebrou o nariz de um garoto na presença de muitos estudantes e com certeza ainda o ameaçou para que ele ficasse em silêncio, porque o coitado nunca te acusou?! — César faz questão de relembrar a selvageria cometida pelo moreno.

Theo empertiga-se, mostrando que esse assunto o incomoda, mas ele se cala.

César dá um passo e se põe na sua frente. A tensão entre eles é palpável.

— Agora você quer nos convencer de que se importa com as regras? Tá certo... mas cuidado, Theo, ou as pessoas podem achar que você baixou a guarda, que não é o valentão que todos pensam.

— Tá a fim de me encarar, César? Não tenho medo algum, se quiser brigar, eu tô aqui, pode vir, aliás, podem vir os dois. — contrai o maxilar e os músculos do pescoço, olhando também para Tiago, com expressão confiante e intimidadora.

— Fica tranquilo, amigão. — César mostra um sorriso de escárnio, ao passo que não foge ao seu olhar petulante. — Você sabe que minha melhor arma não são os punhos.

Há uma clara ameaça nessas palavras e Theo capta a mensagem, ele conhece os métodos sujos do outro, que ele gosta de provocar, de atormentar seus inimigos, descobrindo seus pontos fracos e os expondo em boatos maldosos.

Em seguida, César direciona-se para Tiago, faz um sinal de cabeça e ambos saem sem olharem para trás.

Ao vê-los sumindo de suas vistas, André, Otávio e Murilo finalmente respiram aliviados.

— Muito abrigado pelo que você fez, cara, foi uma atitude bem legal, valeu mesmo. — André é o primeiro a se pronunciar.

— É... Obrigado. — agradece também Murilo, meio sem jeito.

— Olha, eu sei que parece exagero, mas você realmente nos salvou de uma séria encrenca, por isso seremos eternamente gratos e, se um dia precisar da nossa ajuda, é só pedir. — Otávio é o mais efusivo e, gentil, sorri para Theo.

— Não precisam me agradecer, fiz apenas o que achei correto. — replica, com voz enfastiada, mas não agressiva.

O moreno, na verdade, parece distraído, sua mente vagueia para onde ninguém sabe. Logo, os três garotos não puxam mais conversa e optam também por ir embora, deixando Theo e Liam sozinhos, entregues a um clima estranho.

— Dá pra me explicar o que houve aqui? Ou melhor, pode me situar? Porque eu tô bem perdido. — Liam afasta-se da parede e descruza os braços, olhando diretamente para Theo.

— O quê? Acha justo o que eles pretendiam fazer com aqueles garotos? — solta, sentindo sua impaciência aumentar.

— Não, não acho, tanto é que eu deixei claro que não iria participar daquilo, mas, Theo, eu estou surpreso é com você, eu te conheço há anos, já te vi bancar o babaca inconsequente várias vezes e nunca imaginei que você seria capaz de se preocupar com qualquer pessoa além de si mesmo, confesso que o seu repentino gesto altruísta me espantou.

— Eu sei que já cometi muitos erros, Liam. Sei também que, até bem pouco tempo, eu dei motivos suficientes para ser mesmo considerado um idiota egoísta, mas será que você não pode supor que eu esteja apenas querendo mudar? As pessoas mudam, mudam o tempo todo. — mostra-se bastante agitado.

— Ok, ok. Quer mesmo mudar, Theo? Ótimo, mude. — reajusta a mochila no ombro e depois ri de um pensamento que lhe passa na mente. — Só que agora você vai ter que ficar preparado porque o César, com certeza, vai espalhar pra todo mundo que você se transformou em um defensor de maricas e, pior, pode ser que ele diga que você é igual a eles.

— E se eu for, Liam?

— Ra-ra-ra, tô morrendo de rir da sua piada. — Mas, depressa, o loiro fica preocupado com o rumo da conversa.

— Por acaso, você tá me vendo rir também?

— Como?! É sério isso? Theo... Você é gay?

— Quer saber? Que se dane! Eu tô cansado dessa merda toda. Sim, Liam, eu sou!

Por impulso e ira, Theo termina confessando o que mantinha em segredo há um bom tempo. Contudo, imediatamente se dá conta do ato precipitado e se arrepende, sobretudo, ao ver Liam ser dominado por grande pasmo.

O loiro simplesmente meneia a cabeça em sinal de negação, vira as costas para Theo e, depois de alguns passos ligeiros, inicia uma corrida para longe do amigo, sem dizer mais nada.

— Liam... Liam! — Ainda tenta chamá-lo de volta, porém, é tarde, Liam já se encontra muito distante.

✻∞✻

18 de Marzo de 2022 a las 12:57 0 Reporte Insertar Seguir historia
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