shoegazer Juliana Pereira

E se sua vida virasse as histórias que você tanto lê? Isso foi o que aconteceu com Vitória, uma jovem que adora fantasiar sobre sua rotina e que, em um festival, conhece alguém que faz com que ela queira colocar tudo que já leu e escreveu em prática. Mas, será que essa paixão se transformará em amor, ou a vida, sem roteiros, irá surpreendê-la?


LGBT+ Sólo para mayores de 18.

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Vitória Santos é uma perdedora

“Então, sem eu perceber, vi que ela levantava minha camisa devagar, e eu apenas a deixei tirar e logo após isso, ela foi em direção à minha calça. Apenas olhava para ela de maneira sugestiva, instigando para que ela continuasse com aquilo, e logo que ela desceu um pouco minha calça, passou a mão no meu cabelo ainda recém cortado.
— Combina com você – disse ela, sussurrando enquanto fechava os olhos. Voltamos a nos beijar novamente e eu segure-a com certa força passando as mãos pela sua costa, querendo que ela ficasse cada vez mais próxima.
— Bonnie... – dizia enquanto a beijava. As coisas tinham esquentado de verdade enquanto nosso beijo ficava mais intenso, já que podia ouvir gemer baixinho a cada vez que nos beijávamos e...”

— Vitória, pode me dizer qual é a resposta dessa questão?

— O quê? – respondo distraída, saindo do transe em que me encontrava.

— A resposta da pergunta que te fiz...

— Bem... – coço a cabeça devagar – letra B?

A professora me olha com repreensão e nega com a cabeça, enquanto os demais riem.

— É 1889, Vitória. Preste mais atenção na próxima.

— Ai, merda... – sussurro baixinho, e tento voltar a minha leitura, mas uma mão conhecida me interrompe antes que eu pegue o telefone.

— Vic, presta atenção na aula, sabe como a professora é.

— Mas, Cris, eu nem dormi – aponto para o meu próprio rosto – lendo essa fanfic, e agora que está na melhor parte...

— Deixa para o intervalo – ela me repreende mais uma vez – já está quase na hora.

Tento pegar no telefone novamente, mas o olhar dela é tão repreensivo que mudo de ideia no mesmo instante. O intervalo toca, e eu, livre daquele cativeiro chamado de sala mais uma vez, espero do lado de fora Cristina pegar seu lanche para irmos até o nosso lugar habitual no refeitório.

A parte que mais gosto é de quando estamos andando nos corredores e eu me sinto como se estivesse em uma série teen, só que em vez de ser a personagem principal que se mete em uma aventura ou tenta resolver um mistério, estou mais para o núcleo dos figurantes que servem pra passar ao lado desse personagem principal deslumbrante.

Digo, podem achar até estranho que eu pense das coisas dessa forma, mas é assim que funcionam para mim, no caso, narrar minha vida em minha cabeça como se alguém estivesse lendo isso como uma história. Então, me apresento para aqueles que ainda não me conhecem.

Pois é, essa sou eu. Vitória Andrade dos Santos, fiz dezoito anos mês passado, sou do signo de Aquário – não que isso importe muito – tenho 1.65 de altura – queria ser mais alta, mas fazer o que – minha cor preferida é o amarelo, gosto muito de jogar online, RPG de mesa e claro, fanfics. Tanto ler quanto escrever são os maiores prazeres que eu tenho, isso quando a certa pessoa que está aqui do meu lado de moletom e fones de ouvido com uma cara de que puxaria briga com qualquer um a qualquer momento não me interrompe chamando minha atenção.

A propósito, essa é a Cristina, e se minha vida fosse uma história serializada ou escrita, com certeza ela teria o papel principal junto ao meu lado, porque somos praticamente inseparáveis.

Sentamos, e ela pega a sua marmita enquanto eu pego o pacote de biscoitos que roubei das coisas dos meus irmãos. A propósito, eu tenho quatro irmãos, então já imaginem as coisas que eu tenho que passar. Se fosse pra reparar toda a raiva que tenho com eles, nem a fábrica seria o suficiente para me indenizar, e para piorar, eu sou a mais nova.

Mas, enfim, eu estava falando dela aqui que está sentada na minha frente, comendo séria. Pois bem, eu e a Cris nos tornamos inseparáveis quase que imediato, logo no começo do ensino médio e me entristece a ideia de que ela vai no final do semestre para um conservatório. Não, não um daqueles que vão os delinquentes dos filmes, mas um de música. Ela é uma musicista excepcional, tanto que toca até na orquestra do Estado, viaja para os lugares e tudo mais, mas ela gosta mesmo é de tocar no projeto de punk rock que ela tem. Fala que faz bem para alma fazer um pouco de barulho.

— Vic – ela diz ao perceber que estou encarando-a – já está pensando alto de novo?

— Quando é que eu não estou? – retruco.

— Escuta – ela concorda com a cabeça – vai fazer o que mais tarde?

— Não sei, provavelmente brigar com alguém em casa e passar a noite chorando.

— Então, vou para um ensaio no teatro. Cola lá comigo que de lá a gente sai pra fazer alguma coisa.

— E essa coisa seria ficar de bobeira por aí, falando besteira e comendo coisas de qualidade duvidosa?

Ela sorri e concorda com a cabeça. Gesticulo em um sinal positivo e voltamos a comer.

O que eu falei sobre meus irmãos não deixava de ser mentira: brigamos muito, principalmente eu com meu irmão mais velho. Toda a nossa família mora no mesmo terreno, então por mais que ele tenha saído de casa para viver com a esposa, ele continuava a literalmente cinco passos da minha casa, onde eu vivia com meus outros três irmãos.

Para quem quiser saber, minha árvore genealógica é assim: há a minha mãe, Helena, e o meu pai, Santiago. Dessa maravilhosa relação, nasceu Antônio, meu irmão mais velho, Manuela, a mais sensata da casa, Bento, no qual um dia estou de bem com ele e no mesmo quero esfaqueá-lo, Beatriz, minha cúmplice e Vitória, que sou eu, mas que também às vezes quero esfaquear.

Sempre me pergunto porque meus pais quiseram esse tanto de filho dentro de uma casa, imaginando que, não sei, uma família grande seria sinônimo de amor? No nosso caso, está mais para discórdia, porém, se tirasse o Antônio da cidade, do estado ou melhor, do país, acho que as coisas ficariam uns noventa por cento melhores.

Sorte da Cristina, por exemplo, que é filha única, por isso que eu, sempre que posso durmo na casa dela, que ao menos eu divido o quarto com alguém que não passa a noite gritando na frente do computador tomando uma surra no jogo e ficando com raiva quando perde para mim na partida.

Mas, já que é hora de voltar para a aula, e mais um dia vai se passando nessa selva hormonal que é a escola. Nessas horas vejo que fui esperta em passar essa história completa para meu telefone.

*

— Como acha que eu fico? – Cristina aponta para a própria cabeça, usando um chapéu espalhafatoso.

— Depende – aponto para mim mesmo, usando um no mesmo tom – como é que eu estou?

— Uma beldade, sem dúvidas – ela ri – posso pegar seu contato?

— Não sei – faço um beiço com meus lábios – depende. Você também não é de se jogar fora.

— Fico lisonjeada – ela aponta para o próprio peito, tiramos os chapéus e saímos da loja. Já está de noite, e caminhamos pelas calçadas de pedras de um lado para o outro, ouvindo o barulho do ônibus ao nosso lado, a fumaça que se forma, a conversa dos desconhecidos cortadas pela nossa caminhada.

Assistir a ela tocando seu violoncelo é sem sombra de dúvidas mais interessante do que ter que ajudar nas tarefas domésticas, fazer dever de casa acumulado ou qualquer coisa do tipo. Falando assim, até parece que sou a fim dela, mas posso me explicar.

Não é como se isso já não tivesse acontecido. Tipo, meio que começou comigo sendo a fim dela. A Cristina é, digamos...de uma forma que eu não possa me comprometer, atraente aos meus olhos. Ela é bonita, inteligente, culta, e apesar de ser muita coisa, passa longe de ser esnobe. Pelo contrário, ela é uma pessoa mais tímida até do que eu, que até hoje não tive coragem de falar que um dia já fui a fim dela.

E mesmo se eu falasse, não acho que adiantaria de alguma coisa. Desde o tempo que a conheço, ela nunca se envolveu com ninguém, e nem demonstra querer fazer isso. Ela já chegou para mim e falou que se considera assexual, então respeito totalmente isso – o que é o óbvio, apesar de nunca ter conhecido alguém que fosse. Acho que no caso dela, é a pessoa que não se atrai de qualquer forma.

Mesmo assim, a nossa relação agora é muito mais do que isso. Cris se tornou alguém tão importante que considero ela como uma companheira, uma irmã praticamente. E também acho que bem, como podem ter percebido, eu gosto muito da questão de fantasia. Então no meu caso, vivo muito feliz nas realidades que eu leio ou as que eu imagino com pessoas aleatórias, como personagens e alguém famoso. Pelo menos nela eu sou uma pessoa ativa, que tem atitude e arranja uma namorada, não sofrendo bullying constante até do pai por ainda não ter arranjado uma namorada.

Eu sei que tenho preferências irreais, mas é que é difícil depois de ler tanto essas coisas não desejar, por exemplo, namorar com uma Marceline ou com a Ellie, com a Alex Vause ou com... Deixa pra lá. Se eu pensar muito sobre isso, fico triste.

Ah, acho que se não ficou claro, eu sou lésbica. Tipo, me assumi para os meus pais ano passado e tudo e, ainda bem, eles foram supertranquilos, tanto que até brincam com o fato de eu ser encalhada. Meus irmãos meio que já sabiam e nem ligaram, porém o dono da moral falsa e bons costumes Antônio não vê com bons olhos, fica falando bobagem e acabamos discutindo toda a vez.

— Ei, Vic – Cristina chama minha atenção – quer ir lá pra casa? Ainda tá cedo.

— Por mim, podemos ir agora.

A casa dela não fica muito longe andando, diferente de mim que tenho que pegar um ônibus e torcer pra que ele ainda esteja passando. E, claro, a casa dela é a considerada, afinal, porque vocês não sabem de quem estamos falando.

Tiramos o sapato, deixando-os na frente. Dou um sorriso sugestivo na direção de Cris, que revira os olhos, o que me faz rir mais ainda.

Sua mãe, que está sentada no sofá lendo umas papeladas, vira logo ao ver que chegamos e nos recepciona com seu largo sorriso. Cristina que me perdoe, mas...me sinto até mal de achar a mãe dela tão... “Desculpe, mamãe?”

Sei que devem estar achando “Nossa, mas essa garota ainda agora falou que era tímida e não sei o quê, e simplesmente fica assim para qualquer mulher que aparece na sua frente.” É que vocês não entendem que se estivesse no meu lugar, sentiriam o mesmo.

— Benção, mãe – Cristina diz indo abraça-la e beijá-la. Sua mãe retribui com o mesmo apreço e vem logo em minha direção para me dar um abraço apertado.

— Vic, veio a passeio ou veio pra dormir?

Ela me deixa tão apreensiva que até esqueço o que responder.

— É – rio constrangida – não sei ainda, tia.

— Veio pra dormir – Cris responde abrindo a geladeira.

— Ótimo – ela dá mais uma vez aquele largo sorriso bonito – só deixa eu avisar que temos visitas – e dá as costas para nós, adentrando pelo corredor – amor...

— Para de tarar a minha mãe, Vitória – Cristina me lança seu olhar repreensor novamente, gesticulando com o copo de água nas mãos.

— Eu não posso fazer nada, Cris – digo tentando me justificar – com todo o respeito, mas não só ela, como...

— Boa noite, Vic – aquela voz suave adentra no recinto, aproximando-se de nós.

Acho que esqueci de avisar, mas é que é uma coisa tão habitual para mim que sempre deixo passar, mas a Cris tem duas mães. Uma é gata pra caralho, mas a outra tem um charme que me faz fraquejar, que é justamente a que entrou na sala. Ela e a Cris são muito parecidas, e isso não se resume a só na aparência, mas em muitas coisas como a paixão por arte e todas essas coisas, gestos, jeito de falar, mas que na real também parece muito com a outra. Ela é uma mistura perfeita das duas, mesmo que na aparência seja dessa mulher que agora segura minha mão.

Claro, eu não pude deixar de imaginar a história dessas duas, tanto que até escrevi uma fanfic das duas – mudando de nome é claro, porque se a Ana Cristina descobre que ando fantasiando com as mães dela mais uma vez, vamos discutir – que teve até um reconhecimento legal.

— Pediremos uma pizza, Amanda? É o que vocês querem, meninas?

Ela arrasta os braços pelo ombro da Cris, que a abraça com firmeza. Sim, para ser mais clichê, é uma família amorosa demais, perfeita para um comercial de margarina.

— É sim, mā.

Se um dia eu tiver uma meta de vida, será essas duas, digo...Olha como a tia Amanda olha pra tia Hai. Quero chorar porque eu tenho dezoito anos e já fracassei amorosamente. Viver do lado do seu amor, com uma filha maravilhosa numa casa legal aceitando a melhor amiga como se fosse de casa...Será que posso pedir pra ser adotada? Não, isso aqui não é nem a casa Lannister.

Mas já que estou fanficando, devo confessar uma coisa pra vocês sobre o maravilhoso lar o qual estou falando: é maravilhoso assim mesmo como estou fazendo a propaganda. Imagina você vai pra escola e encontra o amor da sua vida, assim? E passam por todos os perrengues, já que a tia Hai passou e passa às vezes por umas situações ruins – mas quem é que não passa? – e ainda continuarem juntas? Dá pra perceber que se gostam nem é pelo que falam, e sim pelo gesto, como por exemplo, eu estou aqui pensando alto enquanto a Cris joga as pernas por cima da minha e liga a televisão e elas estão tipo, ligando pra pizzaria rindo. A tia Hai afastando o cabelo da cara da tia Amanda toda boba, enquanto ela encosta os dedos dela de leve no da outra.

É melhor deixar isso pra lá e focar no que está passando na televisão, mas nem isso está sendo interessante.

— Ei, Vic, vamos lá pro quarto?

— Pensei que quisesse assistir o resto da série – aponto para a televisão.

— Quero te mostrar o negócio que fiz... – ela responde baixo.

— Já terminou aquela música? – dou dá um largo sorriso – Sério?

Ela gesticula para que eu fale mais baixo, e assim seguimos para seu quarto, no ponto mais afastado dali. Tira o violão do apoio e, depois de apertar as tarraxas – palavra que aprendi com ela – começou a tocar e cantarolar uma de suas composições. Cris sempre se deixa levar pelo som, fechando os olhos, a boca entreaberta guiando apenas pelo som que sai de sua garganta.

Sua banda vai apresentar essas músicas no show que terá na praça esportiva da cidade no final de semana. Ela que compôs as músicas, com exceção dos outros arranjos e está tão animada que nem pode conter, como posso ver em seu sorriso assim que ela termina de tocar.

— O que achou?

— Perfeito como sempre, Cris – seguro seu rosto, dando um largo sorriso – vocês vão arrasar, sério.

— Vocês vão estar lá, não é? – ela cerra os olhos, colocando o violão de lado – Principalmente você.

— Não perderia isso por nada desse mundo – dei um leve empurrão nela, me levantando da cama – estaremos todos lá. Agora – aponto em sua direção – quero ouvir o resto.

— Ah, sério que quer continuar a ouvir minha voz chata?

— Cris – sento ao seu lado – para com isso. Claro que quero continuar te ouvindo.

Poderia ouvir aquilo a noite toda, sério. Ela tocava tão bem, e sua voz dava o tom melancólico perfeito para aquelas letras. Eu só me deito, apoio minha cabeça em seu travesseiro e continuo a encará-la naquele show particular até dar a hora de nos chamarem.

E não, eu não continuo apaixonada por ela...ou pelo menos é o que eu acho.

10 de Diciembre de 2021 a las 00:14 1 Reporte Insertar Seguir historia
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Isabelle Torres Isabelle Torres
Ah todos os livros Lgbt são assim!
January 22, 2022, 23:34
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