Poderia relatar esta estória como grandes poetas, rascunhar em um caderno empoeirado palavras bonitas que fariam sucesso em grandes e luxuosas livrarias, onde todos cairiam de joelhos e com o coração ardendo num rompante apaixonado. Porém, creio eu, que o amor é, ainda num devaneio ilusório de noites mal-dormidas, complexo demais para ser descrito de forma belíssima e poética contemplada pela humanidade.
Foi em uma manhã de quarta onde o manto solar clamava seu calor nas ruas da pequena cidade de Daegu, que o ciclo perdia uma de suas partes, para encaixar uma semelhante, fazendo com que novas descobertas surgissem na vida daquele jovem rapaz de cabelos negros como a escuridão de um eclipse.
Havia o aroma dos bolinhos quentinhos e do café recém passado tomando conta da cozinha pequena, prontos para servirem em âmbito deleite o desjejum da manhã, mas Jimin não teve tempo de aproveitá-los por ter dormido além do permitido, então os separou em uma porção dentro da mochila surrada e foi direto para a faculdade.
No circulo estudantil, e em grande parte dos outros também, o jovem não era muito presente em conversas, mas tinha dois colegas próximos, aos quais discutiam coisas banais e se juntavam nas tarefas em grupo. Quebrando o padrão, Jaebeom não foi ao campus e Yoongi, sempre que surgia uma oportunidade, sempre fugia das aulas para paquerar o rapazinho da biblioteca.
Agora, após o término dos períodos, notou que restavam poucos como ele no local. Sentia-se um pouco deslocado, sozinho no pátio, acompanhado de fones nos ouvidos e um livro com uma lista de exercícios ao lado enquanto os demais comiam juntos em mesas mais afastadas.
Puxou as mangas do casaco até que sobrasse na palma da mão e apertou o tecido entre os dedos. Soltou a lapiseira sob o caderno e pegou o celular dentro da mochila, jogada em cima da mesa vazia ao lado da que ocupava. Digitou rapidamente uma mensagem, enviando em seguida: "Irei me atrasar, estou procurando um livro na biblioteca". Devolveu o aparelho na bolsa junto com os materiais que usava anteriormente, retirando-se do campus.
Um raio cortou os céus escuros, seguindo do estrondo alto característico de um trovão, surpreendendo o Park, que ao menos notou quando o sol havia sido encoberto pelas densas nuvens carregadas. Seu olhar, até aquele momento, estava completamente focado no rapaz alto que montava um sanduíche natural de frango, azeitonas, maionese e cenoura pra si, em uma lanchonete poucas quadras de sua casa.
Se amaldiçoava baixinho por esquecer de pegar um guarda-chuva na correria da manhã. Talvez se corresse, poderia evitar de pegar aquela chuva, e ainda poderia evitar o fúria do namorado por chegar ensopado. Verificou o aparelho telefônico de novo, mas nada de respostas. Agradeceu a balconista em um sorriso doce e partiu com o saco de papel do lanche nas mãos, atropelando os próprios passos enquanto andava pelas ruas.
Foi então que, poucos minutos de seu destino, parou em frente a floricultura e olhou para as margaridas expostas do lado de fora. Um fato interessante sobre Park Jimin: grande parte da população acha margaridas brancas, belíssimas e delicadas flores. Mas ele as acha sem graça.
Porquê lembrava-lhe alguém.
Considerou comprar uma dúzia para presentear, entretanto o vento forte o tirou de seus devaneios com seus pingos grandes e doloridos caindo dos céus incrivelmente escuros. Subiu o colarinho do casaco, correndo pelas ruas até sua casa, sentindo a mochila colidir em suas costas.
Ao que entrou na casinha azul safira com branco, abandonou as chaves no aparador da entrada e pendurou o casaco molhado no cabide atrás da porta, deixando os coturnos na sapateira. Encontrou Daewon assistindo televisão na sala e o cachorro, um buldogue inglês, ocupando o que sobrava do sofá velho de dois lugares.
— Como foi a aula? — Era a primeira coisa que ele perguntava.
A resposta também era a mesma. Monótona.
— Acho que normal. — Sentou-se no chão, entre as pernas do homem e recebeu um afago nos cabelos macios. Por um momento seu coração se acalmou, o corpo dispensou minimamente a tensão e ele fechou os olhos, aproveitando do afago raro.
— Conseguiu seu livro? — Um balançar de cabeça confirmando foi tudo o que fez. Estava mentindo e sentia medo.
— Não posso comprar, é muito caro. Então tenho que fazer os exercícios lá e pegar o livro emprestado do acervo. Farei isso após a aula, no intervalo entre turnos.
— Tudo bem. — Foi tudo o que o rapaz disse e Jimin sentiu-se vitorioso quando sentiu os ombros sendo apertados em uma massagem que há muito não recebia.
— Bem, vou fazer o jantar. — Declarou após um tempo, levantando e fez um carinho rápido no topo da cabeça do cachorro. — Quer algo em específico?
— Kimchi.
Na cozinha, ele ouviu o som da televisão ficar mais alto e a geladeira ser aberta pouco após, o som do tintilar das garrafas de vidro o fez tensionar o corpo.
Park Daewon acatou suas juras de amor e paixão avassaladora no primeiro ano de namoro, mas após isso, e ouvindo os gritos altos do homem na sala, Jimin concluiu que o mais velho havia arrancado a pureza, inocência, a juventude e principalmente a paz de si.
Naquela noite Jimin teve que comemorar a vitória do time favorito do namorado com uma transa violenta demais. Seu corpo doía e o homem havia o deixado sozinho, adormeceu na sala, como se evitasse que o namorado escapasse pela porta da frente. Não teve forças, chorou contra o colchão aquela noite e faltou as aulas no dia seguinte.
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