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Meu nome é Annica, pelo menos é o que me disseram quando acordei…

Eu acordo de repente, me levantando devagar e tentando pensar… Mas não há o que pensar. Não sei quem eu sou, onde estou, ou quem eu era antes de acordar, nada, absolutamente nada, apenas um vazio agoniante e absoluto.

Paro para analisar a minha volta, me deparando com um quarto elegante, sutilmente rústico. Há uma parede inteira coberta por uma gigantesca estante de livros, o único espaço vazio é um vão arquitetado para gerar uma penteadeira. Luminárias acesas transmitem um certo calor reconfortante dos cantos no cômodo, iluminando a escuridão da noite vista pela janela da sacada do outro lado.

Instintivamente toco meu corpo, procurando alguma falha, algum machucado ou indício do porque não lembro de nada, mas nada parece errado, sequer uma dor de cabeça que sugira uma pancada forte. Ao ver a escrivaninha ao lado da cama, noto um espelho de mão de tamanho bom o suficiente para que eu consiga alcançar os pontos do corpo que não consigo ver.

Nada.

Como não há meio de saber o que aconteceu agora, precisava de algumas outras informações, descobrir onde estou, ou até mesmo com quem…

Antes que pudesse levantar e investigar, uma mulher entra no quarto parecendo preocupada, até me olhar e relaxar os ombros, seguidos de um suspiro delicado.

  • Annica! Finalmente acordou, como se sente?

Eu a observo devagar. A silhueta é alta e magra, o cabelo castanho claro dispõe uma trança presa, formando um coque trabalhado e sutil, que realça o rosto fino, os olhos rígidos e a expressão indiferente. Velha, porém… jovem de certa forma também.

Os olhos amarelos transmitem sabedoria e são tão severos que quase atacam lâminas, mesmo intencionalmente. Apesar disso, busco me manter firme, com respeito e cautela.

  • Quem é você? Como me conhece? O que houve comigo? Por quê não lembro de nada? - As perguntas são disparadas da minha boca, sem que eu pudesse contê- las. Eram tantas dúvidas.

Só então percebi um homem atrás dela, um pouco mais baixo, parecia musculoso, mas a armadura disposta pelo corpo todo torna difícil dizer.

  • Como assim, Annica? - A mulher tenta projetar o que parece ser um sorriso divertido, como se eu tivesse dito algo engraçado e não estivesse prestes a colapsar diante dela e do homem.

Como se pudesse ver meu desespero, ela fica séria, rígida, o que imediatamente me faz encolher. Ela apenas sai, sem dizer mais uma palavra sequer, enquanto que o homem continua ali, parado na porta, de guarda.

Eu aguardo um tanto quanto insatisfeita por não ter as respostas que queria, e volto a observar o quarto novamente, prestando mais atenção nos detalhes agora, e então percebo a magnífica espada embainhada na cabeceira da cama, e quando a vi senti quase um imã me puxando para ela.

Eu ouso me aproximar da espada, desembainhá- lá, porém a mulher entra no quarto novamente, segurando algum objeto que não consigo ver na mão fechada, e um livro encantador, com duas luas minguantes brilhando em prata, cercadas pelo azul escuro do couro.

A mulher se dirige até a escrivaninha, sem nem me olhar, e abrindo uma gaveta da penteadeira ela puxa uma tiara, encaixando em seu centro uma pedra alaranjada que emite um brilho parecido com o amarelo dos olhos dela.

  • Isso vai ajudar você a se lembrar… É mais complicado do que isso, na verdade, - ela folheia o livro - se algo do que viver a partir de agora for semelhante ao seu passado, então se lembrará dessa memória semelhante, mas precisará usar isso se quiser ter essa possibilidade.

Ela para por um momento, analisando o livro aberto em suas mãos finas e começa a citar palavras que sinto não ser a primeira vez que as escuto, com uma pronúncia familiar, e aquela pedra alaranjada brilha na tiara por apenas alguns segundos antes de voltar ao normal. A mulher caminha até mim, e com gentileza ela encaixa o diadema ao redor da minha testa, e o frio do metal de certa forma me traz um certo conforto, como se estivesse onde deve estar.

Olhando para ela novamente, lampejos de memória me percorrem a cabeça, como se fossem um sonho distante, a sensação muito semelhante a um deja vu, e ali, parada em minha frente, eu finalmente reconheço minha genitora.

Deitei por um momento, pensando, tentando encaixar algumas memórias que surgiram durante o pouco tempo em que estava acordada. Apenas algumas horas se passaram, a noite ainda pairava pela sacada ampla, e apesar da minha insistência em saber o que aconteceu para que eu perdesse a memória, ainda não descobri nada.

Me levantei novamente, entediada, percebendo na prática que não precisava dormir, minha espécie é um tanto quanto peculiar, e até estranhei quando me olhei no espelho pela primeira vez depois de acordar. O cabelo laranja e liso escorria pelos meus ombros agora, sentada diante da penteadeira estudando minha própria forma. As orelhas pontudas são delicadas e sutis, dando a impressão de um rosto mais fino também, o restante do corpo corresponde a isso, magro e esguio, sendo mais alto que a maioria dos outros pelos que passei até agora, apenas alguns guardas com a patente mais alta conseguiam ser um pouco mais altos. Meus olhos amarelos brilhavam junto com a pedra da coroa em minha testa, iguais aos da outra mulher.

Analisando o corpo devagar, é notório que não sou muito velha, na verdade, a aparência de uma adolescente que recém saiu da puberdade é o que minha feição transmite.

Vasculhei o quarto ao redor buscando por coisas que indicassem algo de quem eu era, ou costumava ser. Talvez cartas de alguém próximo ou, com sorte, um diário, mas não havia nada que fosse muito pessoal, apenas coisas essenciais, tudo muito organizado, organizado demais.

Deparei- me com a espada que vi mais cedo, que parecia me chamar de certa forma. Fui até a cama novamente, onde ela estava pendurada na cabeceira, ainda embainhada, com o cabo de prata reluzindo na luz fraca do ambiente. Finalmente a peguei, sentindo uma certa satisfação, mas algo em meu interior gritava por perigo, porém eu ignorei, e a desembainhei parcialmente e com cuidado, apenas para admirar a lâmina.

O metal cortante é do mais puro vermelho sangue, como se fosse cristalizado no sangue das pessoas que já feriu, e uma certa aura emanava daquela espada, o que me fez perguntar a mim mesma se a lâmina de fato não aprisiona as almas e os gritos.

Guardei -a de novo, não era o momento apropriado para verificar minhas habilidades físicas, e passei a explorar a mansão.

Quero dizer, o castelo.

Assim que saí do quarto pela primeira vez, notei que era óbvio que éramos nobres, ou pelo menos algo próximo disso.

Primeiro porque a quantidade de serventes era um tanto quanto exagerada; segundo porque o tratamento especial que eu vinha recebendo não era apenas por ser uma coitada sem memória, e sim algo comum, rotineiro pelo que pude notar do comportamento tanto dos serventes como dos guardas. Os guardas, é claro, podem ser considerados um terceiro motivo, visto que pelo menos cinco deles compunham cada um dos muitos corredores. E por fim, o luxo que adornava a residência por completo, desde as molduras nos canteiros do teto escuro até o piso de madeira vermelha, brilhante e requintado.

Pude explorar vários dos andares com cautela nas semanas que se seguiram, apesar de ainda não poder adentrar em dois dos andares. Ambos restritos apenas ao rei e rainha de Aciladia, vulgo meus genitores.

A mulher de cabelos amendoados e curtos com olhos iguais aos meus se tratava de uma estudiosa brilhante, uma maga, especializada em necromancia apesar de dominar todas as artes da magia. E além disso, a rainha e conselheira do rei, cujo eu não tinha muito contato fora das refeições, mas pesquisando e coletando informações, soube que era um guerreiro temido, um glorioso líder de exércitos, inabalável em outras palavras. Contaram- me ainda que ele me ensinava a arte da guerra, e que me treinou pessoalmente quando ainda era uma pequena elfa. No entanto, nunca conversamos desde que acordei.

Depois que meus dias explorando e me acostumando ao ambiente acabaram, a mulher passou dias, semanas testando minha memória a fim de saber o que eu ainda me lembrava, e tentando restaurar as lembranças perdidas, mas não houve sucesso nesse último.

Após inúmeros testes intelectuais, ela passou a testar meu físico também, o quanto eu era forte e resistente, e bem… Não é minha habilidade mais louvável, definitivamente, mas sabia manusear uma espada com destreza, apesar de ela me recomendar não brigar com uma espada, pois meu corpo era fraco, mesmo que soubesse lutar não aguentaria pancada alguma. Não ousei questionar, e em vez disso, passei a usar o arco, que diferente da espada, eu dominava em todos os quesitos.

Aquela Espada de Sangue, como decidi nomear, descobri ser uma relíquia, que milagrosamente ninguém, absolutamente ninguém em um castelo gigantesco soube me dizer de onde veio e como a consegui. Mas percebi, ao duelar com um dos guardas, que ela contém veneno na lâmina, que pode causar alucinações, exaustão, ou uma dor tão intensamente torturante que faria alguém se matar apenas para parar de sentir tal agonia.

Pobre guarda que me ajudou a descobrir isso…

E os outros cinco, que confirmaram minhas expectativas sobre o efeito do ferimento depender da intenção de quem a empunha.

Depois de mais algum tempo testando minhas capacidades, a mulher passou a testar algo novo.

Magia.

Não entendia seus conceitos no começo, mas tudo me fascinava, e não demorou para que ela viesse diariamente me ensinar sobre a manipulação da magia, seus conceitos, sua essência, composições e diversidades infinitas, até que eu as dominasse com extrema excelência.

Conforme encontrava brechas, eu perguntava sobre minhas memórias, sobre o que aconteceu para perdê- las simplesmente, mas todos davam uma resposta diferente de outra, enquanto um dizia “caiu do cavalo e bateu a cabeça”, outro dizia que “ferida em combate”, ou outro ainda “atacada por um ork”. Uma explicação sempre mais confusa do que a outra, o que me fazia questionar o que havia de fato acontecido para que todos quisessem me confundir para que eu desistisse de querer saber.

Insisti por mais alguns meses, ao ponto até de entrar em algumas discussões com todos os que não me contavam a verdade, e depois de tanto tempo sem resultados, comecei a diminuir a frequência dos meus questionamentos, e talvez meu interesse tenha diminuído com isso também.

Os livros se tornaram meu refúgio, transformando o conhecimento em uma válvula de escape da mente vazia. Mas com o tempo passei a gostar, de fato, talvez porque esse conhecimento fosse a única coisa que eu poderia realmente saber, já que não sabia sequer quem eu era.

Sendo assim, passava dias e mais dias estudando, fosse história, magia ou artes e línguas estrangeiras, estudava tanto que mal saia do quarto, por anos.

E apenas as vezes, quando meditava na calada da noite, algo sombrio se esgueirava pela minha mente, fazendo as mãos tremerem e o estômago revirar, como um alarme angustiante soando no sangue, a qual eu não podia controlar; e apenas quando isso acontecia, eu me permitia ceder à tensão, permitia os pensamentos intrusos que me apavoraram dizendo que não importava o quanto de conhecimento eu tivesse, jamais conseguiria saber de tudo.

E de fato, há tantos livros que eu nunca lerei, descobertas que serão feitas quando eu já estiver no além-vida, descobertas e heróis que surgirão sem que eu sequer saiba seus nomes… Mas o que me afeta mesmo, é cogitar que talvez eu jamais saiba sobre mim mesma.



Foram um pouco mais de duzentos anos assim, e não é como se eu fosse uma prisioneira confinada no quarto, diria que era mais uma opção. Claro, eu saio às vezes, uma vez por ano se eu estiver sociável.

Mas de qualquer forma, tudo que aprendi nesse tempo todo serviu para ganhar alguns patamares. Agora, além de princesa, eu era uma maga, não tão renomada quanto a mulher que me treinou, até porque eu poderia passar mais duzentos anos me especializando e seria apenas um terço dela, porém, é inegável que havia um reconhecimento considerável sobre minhas habilidades.

Aprendi também sobre esse mundo, coisas que creio valer a pena registrar aqui.

O continente de Vaeni é único continente do planeta, que é nosso mundo, a terra em que pisamos, segundo alguns astrólogos (apesar de alguns estarem confinados em prisões para seres mentalmente instáveis para viver em sociedade).E nele vivem criaturas de diferentes raças, sejam seres pensantes como também os próprios monstros e criaturas abomináveis, uma das mais importantes sendo os dragões, que já assombram o continente destruindo suas cidades e reinos por décadas.

A magia é comum e bem aceita pela maioria, mas alguns podem ter uma certa discriminação, seja com a magia em si, com o tipo de magia que varia pela ascendência, ou ainda, no caso dos magos, a escola de magia a qual se pertence. Quando falo em tipo de magia, me refiro às classes variadas do continente, que podem ser de um bardo, bruxo, clérigo, druida e muitos outros, há também aqueles que se voltam às magias de combate, que é o caso dos guerreiros e bárbaros, por exemplo.

Já as escolas de mago, se dividem em escola de abjuração, que se caracteriza por suas magias que expulsão e protegem; a escola de adivinhação, cujo próprio nome já diz; a escola de conjuração, onde se produzem objetos e criaturas da mínima matéria; a escola de encantamento, que se caracteriza pela forte sedução, tanto de pessoas como de monstros; a escola de evocação, que é capaz de criar efeitos elementais; a escola da ilusão, que também é autoexplicativa; a escola de transmutação, que podem modificar matéria, e por fim, aquela a qual pertenço, aquela que explora as forças cósmicas da morte, manipulando a energia da essência da vida e controlando toda força vital que ela compõe, intitulada de escola de necromancia.

Eu estava no quarto, já me preparando para estudar mais um idioma, primordial, que por enquanto eu sabia apenas o básico da língua. A noite quase sem estrelas era visível pelas janelas abertas da sacada,e apenas por causa das janelas abertas eu pude ouvir os gritos distantes e os urros acompanhados do barulho de metal contra metal, mas antes de me aproximar o suficiente para ver, um guarda entrou pela porta, sem cortesia alguma:

  • Venha imediatamente.

Eu ignorei o fato de um mero guarda ter me dado uma ordem, e o acompanhei até um dos andares que me era restrito, onde ficavam os aposentos do rei e da rainha. Ele me guiou por breves corredores até adentrarmos um quarto não muito diferente dos outros, exceto por sua imensidão.

A mulher se encontrava ferida na altura do estômago, no entanto ainda perambulava pelo quarto, de forma constante e ainda sim, calma. Apenas por anos de convivência com ela pude notar sua ansiedade, um sinal pequeno do que poderia ser desespero, e imediatamente arqueei a coluna, me preparando.

Somente quando ela se virou em minha direção pude ver o grimório em suas mãos, um livro que continha todas as anotações de seus estudos e pesquisas como maga, que ela regularmente usava para me dar aulas.

Antes de falar qualquer coisa, ela me estende o livro. A capa de couro escuro parecia se iluminar por causa do brilho de duas luas centrais que o compunham.

  • Pegue- o, é seu agora. - A voz se sobrepuja ao som da batalha, mais perto a cada minuto.

Eu o peguei, sentindo toda magia que continha ali, e a olhei novamente.

O rosto permanecia rígido e também estaria neutro se não fosse pelas linhas dobradas na testa.

Ela analisou rapidamente meus olhos e a coroa em minha cabeça, que carregava a pedra enfeitiçada.

  • Vá, não seja encontrada, não diga seu sobrenome a ninguém, faça- o como achar melhor, mas faça- o.

Ela não explicou porquê, e me recusei a questionar, a fazer perguntas tolas, então ela prosseguiu apressada, e me olhou pela última vez, grunhindo devido ao sangramento.

  • Se lembre, Annica! - disse ela entre dentes, com a voz rouca.

Não precisei da ordem para sair, deixando-a para trás, sem me sentir culpada por apenas responder com um aceno curto do queixo enquanto absorvia o comando, suas últimas palavras direcionadas à filha não sendo palavras de conforto ou de afeto, mas uma última ordem, um último dever.

Parti para andares abaixo, onde havia uma saída de serventes para alimentar os cavalos nos estábulos e cuidar dos jardins. Apenas o guarda que me levou até os aposentos reais me acompanhou, e a espada em meu punho não foi necessária já que não encontramos nenhum ser vivo sequer no caminho.

Encontrei Arion onde o havia deixado tantas vezes, um cavalo branco com a crina num tom fraco de creme, que eu visitei quase todos os dias durante os anos desde que acordara, apenas pela companhia de ter outro ser que não fosse eu.

Rapidamente joguei uma sela sobre ele e subi, olhando o guarda enquanto ele me estendia uma bolsa grande, que imaginei conter tudo que precisasse, pelo menos por algum tempo, inclusive armas e dinheiro. Coloquei o grimório na bolsa também, e a prendi firmemente nas costas, olhei para o guarda uma última vez, a fim de cumprimentá-lo em reconhecimento e sorte para o som de batalha que se aproximava e que em breve ele mesmo enfrentaria, mas ele já levava um frasco a boca, esvaziando- o com honra estampada no peito.

Não demorei um segundo a mais para vê-lo cair com um baque, não me atrevi a dar tempo aos inimigos de me rastrearem e parti com Arion batendo os cascos fortes no solo até sumir na grama alta dos bosques.

E esse foi o início para que meu destino me levasse ao Conclave.









9 de Agosto de 2021 a las 21:05 0 Reporte Insertar Seguir historia
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