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O renomado escritor Ryuzaki Kimura, instalou-se a fim de passar um tempo de calmaria, na pequena cidade ancestral ao sul do japão, conhecida pelo nome de Tsuwano. Os costumes antiquados, presos nos tempos remotos da civilização, nunca haviam incomodado Ryuzaki, até que ele se viu preso em um relacionamento, uma paixão proibida pela garota à moda antiga, Harumi Koyama. Ele descobrirá que tradições devem ser mantidas e nem todos os romances têm final feliz.


Cuento No para niños menores de 13.

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Cuento corto
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Kimura, Koyama e Takeda

CONTO 1


O ritmo suave e agradável dos sinos preencheu o ambiente, assim que foram tocados anunciando a chegada da noiva ao Taikodani Inari-jinja, tradicional templo xintoísta, no centro da cidade de Tsuwano. As imponentes portas de madeira vermelha esculpidas a mão, abriram-se ao singelo toque do gongo cerimonial, revelando-a estonteante e impecável em seu shiromuku de seda com bordados de sakuras em tons de branco e dourado, em conformidade com seu wataboshi que trazia pequenos detalhes em fios de ouro, deixando encobertas as madeixas castanho douradas.


Harumi Koyama caminhava a passos curtos sob o geta, equilibrando-se sofregamente em cima do calçado alto de madeira. O lábio pintado em vermelho carmim, tremulava levemente na parte inferior. Ela não poderia deixar cair jamais, uma única lágrima que maculasse sua maquiagem e feição perfeitamente alinhada. Seria um ato inadmissível e vexaminoso, embora refletisse toda sua vida nos últimos tempos. Os convidados se levantaram diligentes e, virando-se em direção a entrada puderam contemplar a beleza da cena. Ela estava lindíssima, como uma personificação perfeita da deusa Konohana Sakuya. Aquele era um casamento tradicional, como não poderia ser diferente em Tsuwano.



Todos estavam a admirar, exceto um em especial. Esse não prendeu a atenção na exclusividade do momento, tão pouco na noiva. Ele a conhecia, não como os outros ali presentes… Ryuzaki Kimura, ele sim a conhecia como ninguém jamais a conheceu. Enquanto a jovem Koyama desfilava pelo salão em direção ao futuro marido, atraindo os holofotes para si, ele observava analítico a figura do noivo elegante em seu kimono customizado com o símbolo do clã Takeda nas costas, estava impecável. A imponência que aquele sobrenome carregava, estava refletida em cada mínimo detalhe de sua aparência perfeitamente alinhada. Afinal, eram descendentes do antigo Samurai que governou aquelas terras. Os cabelos negros bem penteados, barba feita, postura ereta e sorriso contemplativo, combinavam com a ocasião, no entanto, aquela expressão incomum a um membro de uma família tradicional, que estava se casando através de um “Omiai Kekkon” casamento arranjado, em nada era compatível. E então, Ryuzaki teve a certeza de que havia sentimento por parte dele. Se tratava de alguém saboreando a doce sensação de estar apaixonado, provavelmente pela primeira vez.



Kimura questionou internamente se em meio ao sorriso de Hayato, existia o amargor de saber o passado daquela que viria a ser sua esposa, a futura senhora Takeda. Ou se por um acaso ele se sentiria incomodado em lembrar que, por mais que dissesse o contrário, ela amava outro homem, ainda que gostasse dele. Pensou por um instante se faria alguma diferença a essa altura dos acontecimentos, lutar por ela… Não, não mais.



A verdade para ele era que, embora odiasse essa perspectiva, Harumi escolheu seu destino e preferiu casar-se com outro sem amor, seguindo a tradição, a ter um futuro ao lado de quem dizia realmente gostar. Será que foi tudo mentira? Será que a garota de sorriso fácil, raciocínio ligeiro, tímida e amorosa que ele conheceu… Não passava de uma farsa? Impossível! Era melhor acreditar que toda diferença que sempre existiu entre eles, finalmente conseguiu os separar. Aquele era o último capítulo de uma história de amor que não deu certo. Ou talvez fosse uma que não teria um final feliz, apesar disso, ele não saberia dizer se outrora acreditou que poderia culminar exatamente para isso… Nunca sequer cogitou, não, sabendo como eram juntos. Eram Perfeitos!



. . .



As mãos do platinado deslizavam possessivas pelo corpo curvilíneo, de maneira contemplativa, mapeava aquecendo como se fossem chamas, desnorteando a garota à beira do ápice. Ele apalpou firme, arremetendo mais uma vez e levando-os ao abismo, ao céu, na mesma medida. Havia paixão, desejo e intensidade a cada toque, beijo e gemido emitido por eles. Ambos os lábios ansiosos se buscaram, se querendo e se provando através de sucessivos beijos cálidos, evidenciando os sentimentos compartilhados. “Itoshi teru” declararam em uníssono o ‘eu te amo’ que nascia no mais profundo de suas almas. Cessaram os murmúrios melindrosos e excitantes, dando lugar ao respirar calmo e as batidas ritmadas dos corações cúmplices.


Um sorriso deslumbrante surgiu nos lábios róseos de Harumi ao admirar a disparidade que os resumia, a começar por seus traços físicos. Ryuzaki era um homem alto, de tronco estreito, todavia, com músculos bem distribuídos, ela por sua vez consistia numa estrutura "mignon", magra, porém, de formas bem desenhadas, os cabelos dele ostentavam uma coloração prateada límpida com fios rebeldes, de corte moderno, em contrapartida Koyama dispunha de longas madeixas douradas, de um castanho singular. Seus olhos eram verdes como esmeraldas reluzentes e seu amado contava com a noite densa, no entanto, brilhante como a luz do mais belo luar. O par de ônix mirava os corpos unidos com dois tons de pele acentuados sob a seda azul celeste. Kimura sentia-se um homem realizado. Amava-a com toda força de seu ser, uma vez que a garota nua sob seu peitoral, conquistara seu coração de maneira irrevogável.



A experiência de vida que Ryuzaki possuía, tanto no amor quanto no prazer, esvaiu-se. Ele estava perdido, rendido… Perdido de amor por ela e, rendido aos desejos da menina que se tornou mulher em seus braços. Cada olhar dirigido a ele, tendo o vislumbre do verde água inconfundível, cada sorriso sincero e contagiante que ela o presenteava, os abraços calorosos, beijos envolventes, sobretudo, a forma que se completavam e tornavam-se em um só... Tudo que compartilharam em tempos de convivência, seja como amigos ou namorados, serviu-lhe de ponte para a construção de um elo forte o bastante para nunca se quebrar, um sentimento puro e verdadeiro, algo único e incondicional, que ficaria gravado em seus corações e memórias, independente do que o futuro os reservasse. Ou assim pensava Ryuzaki Kimura, enquanto a tinha presa em seus braços.



Uma vez mais, dentre tantas, ela deixou-se cair em meio aos lençóis macios, desfrutando do conforto que compunha o leito do amado, corpo suado, fatigado, mas, usufruindo de inquestionável saciedade, esboçando um riso satisfeito. Harumi aconchegou-se nos braços do namorado, tendo os lábios capturados em um beijo amoroso. Desde que se viu interessada por ele, iniciando um relacionamento às escondidas devido a família ser contra, nunca se arrependeu ou hesitou quanto a se entregar completamente. A jovem tinha certeza de seus sentimentos, sonhando com o futuro ao seu lado, deixando à parte os empecilhos impostos pelos pais.



Ele era um homem honrado, de caráter impecável. Morava sozinho, após perder o pai ainda muito cedo. Infelizmente Ryuzaki jamais conhecera a mãe, que faleceu ao dar à luz. Não possuía uma riqueza inominável, algo que se comparasse aos presentes requisitos de seu clã. Ele tinha uma boa condição financeira, o suficiente para suprir quaisquer desejos que tivesse. Era escritor, um excelente e bem sucedido romancista que podia se dar ao luxo de seguir no anonimato, uma vez que sua identidade era mantida em sigilo... Ou nem tanto… Algumas pessoas, seus vizinhos em específico, não disfarçavam o incômodo ao saberem de seu "ganha pão" Definitivamente não era algo fora da lei, ou vergonhoso… Dependendo do ponto de vista, é claro. Romancista, com um detalhezinho de que seus livros eram focados em Literatura adulta. Sim, eram livros para maiores. Até aí não havia nada de assustador ou "estranho" não fosse o fato de que a cidade, na qual residia atualmente era em absoluto habitada por anciões antiquados. Famílias tradicionais criadas dentro de ensinamentos arcaicos.



Tsuwano é uma pequena cidade a oeste da província de Shimane.Preservando sua cultura enraizada na era medieval, aplica aos mais jovens as regras e imposições dos antecessores, como lei. Como observador, Kimura notava as senhorinhas centenárias, comentando sobre o fato dele ser solteiro “naquela idade”, escrever "pouca vergonha", se vestir e portar de maneira " escandalosa". Esses comentários o fazia cair na gargalhada. Como podiam estar preocupados com as vestimentas dele?


De fato não era casado, tinha namorada ou noiva. Nunca foi de se apegar a alguém de maneira convencional. Se vestia de acordo com a moda atual, era um homem vivido. Ao longo de seus trinta e cinco anos, conheceu boa parte do mundo, então porque privar-se dessa liberdade? Não faria, tinha convicção.

Mas nada o havia preparado para lidar com uma paixão avassaladora e proibida como a que se envolveu. Ryuzaki sustentava uma beleza inebriante, jamais tivera problemas em conquistar uma mulher, contudo, sua vasta experiência em "romance" não serviu para que soubesse lidar com o sentimento que se desenvolveu naturalmente por Harumi Koyama. Sua vizinha e nada menos que dezesseis anos mais jovem que ele. Ela, pertencente a uma das famílias mais tradicionais do Japão, para ele, era mais do que proibida.



O quão surpreso Kimura não ficou, ao se dar conta tempos depois que havia recíprocidade de sentimentos? Mal pôde acreditar! Inicialmente tornaram-se amigos e passado algum tempo, renderam-se a paixão, com uma particularidade... Era um relacionamento secreto, para evitar falatório e infortúnio por parte dos Koyama. Obviamente ele não ficou feliz com a situação, era um homem feito e não um adolescente encrenqueiro e, isso de "namoro às escondidas" definitivamente não lhe caía bem.

O que poderia ter em comum um homem no auge da juventude, ciente de grande parte de seus limites, com uma jovem de dezenove anos inexperiente, que nunca saiu do conforto e segurança de sua cidadezinha interiorana, limitada dentro de costumes rígidos?

Qualquer um diria que eles não tem nada a ver. E não estaria errado, mas, não estaria exatamente certo se dissesse que tinham muito em comum. Tratava-se de uma questão de ponto de vista... ou incógnita. Tudo a que se resumia Ryuzaki, falas, palavras, funcionava para Harumi como imã, exercendo uma atração gravitacional. Desde que o conheceu, ela despertou de imediato um interesse incomum em relação ao escritor forasteiro.



A presença marcante, diálogo rico e jovialidade com a qual agia, despreocupado, atraente e misterioso. Ao iniciarem uma conversa, tinha o poder de prender toda a atenção da Koyama facilmente, instigando-a a desejar experimentar as coisas incríveis relatadas por ele. Viagens por países distantes, conhecer culturas diferentes, as várias formas de sentir-se livre, a incomparável adrenalina sentida ao pular de bungee jump, mergulho no oceano, tirolesa, escaladas em montanhas absurdamente altas, surfar em ondas gigantescas, tour em safáris africanos, viagens em desertos no Egito… Eram tantas histórias que Harumi, desconfiava ser impossível uma pessoa com tão pouca idade ter vivenciado em uma só vida. O tacharia de “caloteiro” se não tivesse visto as inúmeras fotos e vídeos.



Ryuzaki apresentou-lhe um mundo novo, fascinando-a com sua vida sem regras ou costumes. Ele queria e fazia, não tinha que dar satisfação para ninguém, se reportar ao chefe ou esposa, cuidar de filhos… Era ele, por ele. E dando-se conta, Harumi entendeu o porquê de nunca ter estado satisfeita com o rumo que sua própria vida levava. Desde que nasceu ela apenas obedecia às ordens, metódica, submissa e impotente. Sendo boa filha, neta, aluna, um exemplo de moça… Do século passado! Não era aquilo que desejava para sua existência. Havia um brilho de fascínio em seus olhos quando, às escondidas, via ou lia algo sobre pessoas que decidiram seu próprio destino, entretanto, aquilo lhe parecia inalcançável.


Os Koyama tomavam toda e qualquer decisão sobre o que devia fazer, ser ou até mesmo pensar. Não fosse isso muito, escolheram para ela um noivo que julgaram ser o "marido ideal e perfeito." Harumi gritou, se desesperou e contestou veementemente e absolutamente de nada adiantaram seus protestos. O acordo já estava firmado e o clã Takeda, que havia proposto a "aliança" revelou que o noivo, estava fora terminando os estudos, mas, assim que se formasse, o que seria em pouco menos de três semanas, retornaria e seria realizada a cerimônia de casamento. Estava acabado. Seus sonhos haviam sido roubados de si

E, então ela se viu em um beco sem saída, desesperando-se ao perceber que perderia a única chance de ser feliz. O que poderia fazer para mudar essa situação desastrosa? Talvez se dissesse a verdade… Que estava apaixonada, ou melhor que amava Ryuzaki e somente se casaria com ele? Ponderou por um momento, aquela não era a melhor das idéias e a Koyama sabia bem que seus pais não aceitariam. Logo no início de seu relacionamento, sondou a opinião dos familiares a respeito do escritor, frustrando-se com o que obtivera em resposta. Eles o tinham como perfeito exemplo de alguém que não se devia chegar perto; "libertino" "mal exemplo" "cafajeste" foram algumas das denominações que usaram para se referir a ele. Ela quis esbravejar e defendê-lo dizendo que estavam equivocados e Kimura não era nada daquilo, porém, isso somente levantaria suspeitas, então "engoliu" os insultos e permaneceu calada.

Não obstante, situações extremas, pedem medidas desesperadas… A jovem tomou coragem e despejou seus segredos e frustrações aos patriarcas, que escutaram incrédulos toda verdade. Ela viu suas expressões mudando de chocados, para ultrajados, humilhados e sobretudo raivosos. Não previu a reação do pai, talvez por inocência, mas deveria tê-lo feito, já que sentiu a face arder com a sonora bofetada que recebera do progenitor. Seria prudente que permanecesse em silêncio esperando os ânimos se acalmarem, porém, julgou que se havia chegado até ali, não faria sentido anuir e amedrontar-se. Estufou o peito desafiando o homem que exalava fúria, dizendo o que não aguentava mais guardar para si. Rude erro… Definitivamente não o devia ter feito, pois tudo que conseguira com o ato imprudente, foi uma surra que lhe deixou terríveis marcas. Estava ferida, não somente de corpo, mas de alma. Determinada, ela não derramou sequer uma lágrima, durante a severa agressão.



A famosa lei de Murphy se aplicou à vida de Harumi. Vigiada a cada passo que dava, foi impedida de aproximar-se da entrada de sua casa. Nunca pensou que chegaria o maldito dia que seria deliberadamente ameaçada por seus próprios familiares. Eles não somente a mantiveram em cárcere, como também se associaram à família do noivo, para afastá-la em definitivo de Ryuzaki. Ainda que fosse tamanha a desonra para os Koyama, que sua herdeira tivesse se relacionado intimamente com um homem e namorado sem consentimento e supervisão, seria pior uma devolução após as núpcias. Eles então, esclareceram tais fatos e não havendo recusa, o acordo permaneceu, com a ajuda do clã Takeda. Porque? Simples, pior que uma noiva "impura" não sendo mais virgem, se bem que isso, ainda que vergonhoso, era comum. O real e principal motivo era o fato de tanto Koyama quanto Takeda serem de linhagens ancestrais extremamente honrosas. Não poderiam de modo algum permitir um escândalo que manchasse a honra de séculos de tradição.

Ambos os clãs prometeram atrocidades, caso ela não se afastasse do amante e passasse a ser fiel ao compromisso com Hayato. Sem a coragem de "pagar para ver" porque sabia que seriam capazes de cumprir suas ameaças, ela terminou o namoro ainda aos prantos, omitindo alguns detalhes do que ocorreu, para preservalorizar ou protege-lo, disse-lhe apenas que estaria se casando em poucos dias. E nada do que ele disse, foi capaz de fazê-la mudar sua decisão. A moça sentia o coração estraçalhado com a tristeza que viu no rosto do amado, mas, era inevitável o fim. Jamais se perdoaria caso algo lhe acontecesse. Por mais que os elevados cargos de poder dos Takeda se restringissem a Tsuwano, Harumi tinha conhecimento de que a influência e prestígio que possuíam, chegava muito além dos limites da pequena cidade. Se quisessem os caçariam até os confins da terra, como prometeram.


E foi o fim. Fim de sua esperança, de seu namoro, de seu amor e felicidade. Sem ele, ela sabia que jamais seria feliz. Ao menos Kimura estaria vivo, poderia viver sua vida e quem sabe encontrar um novo amor.

O que Harumi não sabia, era que, para Ryuzaki também não havia mais salvação. Tudo que ele tinha, havia dado a ela, não lhe restara nada mais.


. . .


A cerimônia se iniciou quando a noiva alcançou seu lugar ao lado do futuro marido. Para todos era um motivo de festa, a união de importantes famílias, para todos sim, menos para Harumi e Ryuzaki que assistia impotente, sua felicidade se distanciando a cada palavra que o cerimonialista pronunciava.

Ele sentiu o ar faltar em seus pulmões, quando Hayato beijou levemente os lábios de sua, agora, esposa. Estava feito. Ela não seria mais sua e, sim a nova senhora Takeda. Ele lutou contra o choro e fracassou vergonhosamente ao sentir um líquido quente escorrer por sua face. Apressando-se, secou com as costas da mão, aquilo era a própria sarjeta.

Os recém-casados se dirigiram para a saída do templo de braços dados, sendo acompanhados pelos convidados em direção ao salão de festas onde estava organizada a recepção, que ostentava uma decoração pomposa e extravagante.

Kimura permaneceu no templo. Deixando-se cair sentado no banco de madeira lustrada, curvou-se para frente, cruzando os dedos na nuca agoniado, maltratando os fios de cabelo. Ele sentia o peito doer, o coração sangrar… Uma vida inteira vivida com liberdade, sem se apegar a ninguém, fugindo de sentimentos, negando se entregar ao amor e, tudo isso para terminar se apaixonando perdidamente por uma menina, uma linda e doce menina, que lhe era proibida.

Provou o doce sabor de amar, para logo ter seu paraíso arrancado bruscamente. Antes não tivesse tido a infeliz ideia de residir naquela cidade cheia de pessoas preconceituosas e mesquinhas. Antes, nunca tivesse saído para caminhar naquele parque e cruzado o caminho da jovem que esbarrara em si. Aqueles olhos curiosos e hipnotizantes... Ele não teve como lutar, foi pego desprevenido e quando se deu conta… Ela já havia dominado seu mundo, virando tudo do avesso.

Poderia se arrepender de muitas coisas. De não ter dito ao pai que o perdoava, por ele ter sido tão ausente e negligente, devido ao seu trabalho. Por não ter sido mais flexível com seu amigo, ajudando-o em suas dificuldades na escola. Ah! O remorso! Ele não havia sido uma boa pessoa com o amigo durante a infância e, como sentiu sua morte, essa que se dera em um acidente durante uma escalada. Foi um período difícil! Doloroso. E sua primeira namorada, Suyen? Kimura sabia que ela o amava, mas, apesar de gostar dela, não foi capaz de retribuir o sentimento de igual modo, fugindo covardemente. Quase enlouqueceu, ao saber um ano depois, que ela havia se suicidado após sofrer de uma depressão intensa. Foram anos e mais anos de pesadelos, levando décadas para curar-se e se perdoar pelo ocorrido.


Eram muitos os motivos para querer não ter feito o que fez em muitos momentos de sua vida. Ainda assim, ele tinha plena certeza, mesmo que jamais voltasse a amar, esquece-la ou relacionar-se a sério. Não faria diferente, não se arrependeria e não mudaria nada. Sabia que se sua vida compensou, foi exatamente porque soube o que era amar de verdade e, só por isso, valia a pena a dor dilacerante em seu peito. Era a prova de que amou e foi amado, de que teve seus beijos e abraços correspondidos na mesma intensidade. Como escritor Ryuzaki acreditava sim, que certas coisas relacionadas a sentimentos eram inexplicáveis e esse era um dos casos. Mesmo tendo a maior porcentagem de suas publicações voltadas para conteúdos adultos, ele já havia escrito obras literárias com foco em romance e o drama da modernidade, inclusive, de época. Só não pensou por um instante que a história de sua própria vida terminaria assim, com um doloroso "Não, felizes para sempre". A frase que escutou de um sacerdote indiano há alguns anos, lhe veio à mente, com todo sentido do mundo “Almas gêmeas são destinadas a se encontrar, não a ficarem juntas”.


Caminhou a passos lentos, indo na direção onde sabia encontrá-la. Precisava desesperadamente a ver uma última vez, ouvir sua voz e esperançosamente tocar-lhe. Tudo aquilo estava sendo uma tortura sem tamanho, muito provavelmente ele fosse o tipo masoquista, mas suas ações já não estavam sendo comandadas por si mesmo, ele agia no automático.

Adentrou o salão sendo discreto, não era do seu feitio fazer escândalo. As famílias dos noivos, se mantinham vigiando-o "nas sombras", como quase todos em Tsuwano, ele havia sido convidado. Soube imediatamente que esse convite, fora proposital para que visse com os próprios olhos, que ela não era mais dele e nunca voltaria a ser. Ao longe estava, sentada em uma mesa de destaque ao lado do marido. O prateado soube reconhecer a tristeza no olhar perdido, a dor por trás do sorriso forçado… Harumi sofria, assim como ele.


Seus pés o guiaram até ela, mantendo o foco na imagem de sua amada, que em sua percepção, lhe parecia "congelada" em meio a toda aquela hipocrisia de família feliz, noivos apaixonados e casamento perfeito. A jovem notou-o enquanto se aproximava, sobressaltando-se com a possibilidade de um embate. Sentindo o palpitar acelerado do coração por estar mais uma, talvez a última vez, face a face com seu amor. Antes que Harumi dissesse algo, Ryuzaki se antecipou cordialmente convidando-a para uma dança. O marido não ofereceu objeção, ele realmente gostava da esposa, como constatou anteriormente. Pelo simples fato de morar fora por muito tempo, Hayato não tinha conhecimento do antigo caso dos dois, valsando à sua frente.

O clã Takeda, tal como a família Koyama, o mantiveram alheio ao vexame de sua, agora esposa, ter tido um relacionamento proibido com o escritor, embora tenham comunicado o fato dela nao ser mais 'pura', aquele seria impossível esconder.


— Você está perfeita! Imaginei-a tantas vezes bela assim em… Nosso casamento. – declarou pesaroso.


— Ryo... Porque se machucar dessa forma?– suspirou agoniada, as lágrimas se formando por detrás dos olhos. — Você não precisava passar por isso. – olhou-o, sentindo a visão turva e a voz embargada pelo choro custosamente contido.


— Sei que não, mas era necessário para que eu acreditasse que tudo acabou. – ainda com a visão focada no rosto feminino, Kimura gravava na mente todos os detalhes que já sabia de cór– Eu te amo Harumi!

Declarou espontâneo, não fazendo ideia do peso, que aquelas palavras tinham no coração da jovem. Ela também o amava, muito mais que a si mesma, faria tudo para que seu amado não sofresse como estava sofrendo.


— Eu também… Te amo! – derramou uma lágrima solitária. — Sempre vou amar… Mas, infelizmente, nosso amor não era para ser, me perdoe por tudo.

Desculpou-se correndo para fora do salão, o peito sufocado pela dor. Os soluços altos, sendo contidos pelas mãos levadas à boca… Um desespero tomou conta dos pensamentos de Harumi, a perspectiva de um futuro agonizante sem ele, lhe tomando por completo.

O que poderia fazer, senão chorar? Não havia mais saída, ela iria embora e nunca mais o veria. Era preferível a morte e talvez, nem mesmo isso, fosse capaz de curar.



Os olhos dele acompanharam-na fugir, fechando-se dolorosamente, ao restar somente o vazio na direção em que ela se foi. Na mente e no coração, gritava o difícil adeus e o fim de um jogo no qual, ele saiu perdedor.


( Continua... )

3 de Agosto de 2021 a las 15:55 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

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J Carreir Apenas. . . “Escrevendo ideias impossíveis de ignorar” (⌒_⌒;)

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