April poderia facilmente dizer que aquela era a pior notícia do ano -ou até mesmo de todos os anos que se passaram desde que Jingu assumiu o trono. Relendo a carta, sentia sua mão trêmula e sua visão já embaçada pelas lágrimas que preenchiam seus azuis olhos. Uma de suas mãos passou por seu rosto, ao que a outra depositou a carta na mesa de ébano. Um soluço escapou pelos seus lábios e, então, não tardou e a sereia despencou na cadeira de seu escritório, o rosto escondido entre as mãos, e foi quando ouviu a porta ser aberta bruscamente. Eloah adentrou na sala sem sequer bater na porta, um sorriso largo no rosto -e, de tão largo, parecia até mesmo falso. Foi quando ela parou no meio do cômodo e olhou para April. O sorriso desapareceu instantaneamente, dando lugar a uma feição neutra, como se não se importasse. Entretanto, a sereia sabia; sabia perfeitamente que a feição seria seguida de um abraço apertado e permissão para molhar-lhe o ombro com seu choro.
—April, meu amor. O que foi? — Questionou ao que se levantava, levando a ruiva junto consigo.
—A carta, Eloah. — Foi tudo o que ela disse -e tudo o que conseguia dizer, já que os soluços escapavam-lhe constantemente da garganta. Ao observar a confusão no rosto da rósea, April rapidamente apontou para a carta aberta em cima da mesa.
Eloah distanciou-se de April, suspirando brevemente e, então, apanhou o papel. Leu-o cuidadosamente, não deixando escapar nenhum detalhe, nem mesmo a assinatura no final. Aquela bela letra, traçada delicadamente em um tom dourado, junto àquele símbolo tão conhecido.
“Jingu Yamamoto”
April viu a mão de Eloah tremer -entretanto, não podia ver-lhe o rosto. Não sabia se ela estava neutra como sempre, ou apenas sorrindo falsamente -como sempre.
Pobre e ingênua April.
—April. — Chamou, a voz quebradiça. A ruiva aproximou-se, tocando o ombro da mais alta. Foi quando Eloah virou-se para si. Os olhos lacrimejavam, o sorriso fora-se embora e, por fim, tudo o que a sereia pôde fazer foi abraçá-la.
Como se o mundo pudesse acabar a qualquer momento, ambas abraçaram-se demoradamente. Lágrimas insistiam em descer pelas bochechas de April, colorindo-lhe o nariz e as bochechas, enquanto a rósea permanecia calada.
Já em outro lugar, uma mulher observava tudo. Olhos afiados e azuis-celestes notavam até mesmo as minuciosas coisas, demorando-se nos mínimos detalhes. Cabelos curtos e pretos sequer caíam até os ombros, a pele negra-avermelhada parecia brilhar sob o lustre e, por fim, o vestido aberto em ambos os lados caía perfeitamente bem, como se tivesse sido feito exatamente sob suas medidas
Avalon Elysium.
Seu posto não combinava com seu nome e isso era claro para todos. A representante dos demônios, a mais impiedosa da guerra, a cavaleira da noite, e mil e outros codinomes que lhe davam. Ela não ligava -por que o faria, afinal? Quando dava os bailes em seu castelo, era apenas Avalon, a representante dos demônios. E este título não lhe era exatamente um fardo -era cansativo, claramente, mas nada que não pudesse lidar com.
Foi quando a viu.
A dama que passava de braço em braço em meio à dança. Cabelos dourados que caíam em uma cascata levemente ondulada; pele que parecia de prata e, por fim, os olhos.
Olhos do mais profundo cinza.
Avalon não ousou expressar nada quando a moça retribuiu seu olhar. Sequer arqueou uma sobrancelha, como tão costumeiramente fazia. Entretanto, não pôde deixar de tomar um gole do vinho em sua taça, rapidamente entregando-a ao garçom que passava perto de si naquele momento.
Uma desconhecida trazendo-a para a dança! Quão irônico o destino poderia ser, não?
Com o cuidado de um predador, a mulher de madeixas negras foi se aproximando. Sorriu com toda sua ironia e arrogância, arrancando um arquear de sobrancelha da jovem que dançava.
Foi quando ela entrou na dança, tomando a loura em seus braços. Os passos dela eram graciosos o suficiente, porém não o suficiente para serem comparados com o andar preciso e tentador de Avalon, que, conforme trajava seu destino pela dança, movia seu quadril de um lado ao outro, chamando a atenção dos pares que dançavam. Nenhuma das duas falou nada por um bom tempo. Foi quando a demônia notou que, se quisesse questionar, teria que iniciar a conversa. Sem sorrir ou expressar qualquer coisa, ela suavemente perguntou-lhe;
—O quê um anjo faz nestas terras, minha rainha?
A moça riu.
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