zephirat Andre Tornado

O Senado Imperial acaba de ser dissolvido pelo Imperador Palpatine a e a galáxia prepara-se, num espanto silencioso, para o seu período mais negro. O senhor dos Sith governa incontestável. A Aliança para a Restauração da República é ainda uma pequena organização clandestina e desconhecida, movida apenas por ideais e sonhos, com uma capacidade limitada para fazer face ao poder esmagador do Império. Neste cenário de desespero e de caos, o senador Heskey abandona Coruscant, desiludido com o curso dos acontecimentos, disposto a retirar-se da vida pública e da luta. É então que na viagem de regresso a Corulag surge um percalço que irá mudar para sempre a sua avaliação sobre o jogo de forças na galáxia…


Fanfiction Películas Sólo para mayores de 18. © Star Wars não me pertence. História escrita de fã para fã.

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I - O orgulho despido


Ele sempre se achou cínico, mas Coruscant conseguia ser ainda mais cínica.


De mãos atrás das costas, pernas ligeiramente afastadas, a pesada capa a ondular junto aos calcanhares, levantou o queixo e contemplou, despojado de pensamentos, o firmamento. Era um céu escuro, com laivos de vermelho, quais pinceladas perdidas a imitar uma pintura requintada de um artista de Astarte. Conhecia a preferência do Imperador pelos artistas desse sistema, porque representavam quase sempre cenas tétricas, com uma forte tendência para causar repulsa, terror e espanto. Palpatine considerava-as a pura invocação do sofrimento, um aviso para se ser obediente e submisso de modo a não experimentar o que se via na tela. Ele, por seu lado, sempre vira nessas pinturas um exagero sem qualquer significado, uma simples representação de nada e pinceladas avulsas de preto e vermelho, sem outra razão a não ser o lugar por onde passara o pincel.


As mesmas cores que pintavam o céu distante e esmagador de Coruscant. Preto e vermelho.


Talvez fosse por esse único e prosaico motivo que Palpatine apreciava os quadros oriundos de Astarte. Porque nessas pinturas existia o céu da capital imperial. Nada mais do que isso. O discurso sobre sofrimento, sobre os cuidados que se devia ter para não o contrariarem e conhecerem o seu braço implacável fazia parte da sua forma intimidante de mostrar o seu poder. Pois ele tinha a firme impressão de que o Imperador gostava tanto de arte como uma ratazana womp de Tatooine.


E tudo era cinismo ali, a começar pelos céus. De uma imprudência e desdém sem paralelo em toda a história da galáxia. Um firmamento estrelado, tão pacífico, imaculado e ostensivo como uma pintura. Abaixo dessa cúpula magnífica, contudo, existia a mais refinada podridão.


Os seus dias ali terminavam. Em breve iria partir de Coruscant para, esperava ele, recolher-se numa aprazível reforma, sem preocupações, sem desafios, sem ruído. Anulava-se num anonimato voluntário que ele acolhia com uma certa complacência. Tinha tudo programado e elaborar esses planos não o deixaram ansioso ou preocupado. Pelo contrário, até o deixaram bastante satisfeito. Primeiro alguns meses de descanso para organizar a sua nova rotina. De seguida provavelmente uma viagem para estabelecer os contactos que ele iria usar naquela sua nova etapa, pois não pretendia isolar-se completamente. Por fim, sentar-se e dedicar-se a um qualquer estudo académico, escrever talvez memórias inofensivas sobre episódios que vivera enquanto político.


Se fosse noutros tempos haveriam de lhe perguntar, preocupados, se era isso que realmente desejava – retirar-se totalmente do serviço público e da emoção de trabalhar em prol de um bem maior. E ele haveria de responder que naquela fase e como se mostrava o panorama geral da política galáctica, com um Império mais do que autossuficiente, que sim, que era efetivamente o que desejava. Estava cansado, ligeiramente desiludido, sobretudo desencantado e tinha de dar lugar aos mais novos. As batalhas que foram dele não o eram para as novas gerações e o tempo podia ser terrível, quando se confundia experiência com vaidade, resiliência com teimosia.


Tinha de apontar esses pensamentos no seu holopad, admitiu de si para si com um certo sarcasmo, porque eram realmente frases ótimas para figurar na sua autobiografia, na parte em que ele se justificaria, cheio de humildade irrepreensível, indicando que tudo tinha sacrificado em prol da galáxia. Até a sua brilhante carreira diplomática. Um dos homens bons que acabaram trucidados pelo sistema. Algo assim inflado de uma autopiedade exagerada, sem, todavia, beliscar a autoridade imperial. Não se podia arriscar a ser classificado como um inimigo emboscado no seu retiro dourado. Iria esforçar-se por manter-se num estatuto firme de aliado exilado. Dispensava de bom grado os agentes enviados por Lorde Vader…


Nesta fase, achava também, estava a deixar-se macular pelo cinismo higiénico de Coruscant. Mas, realmente, ele sempre fora um cínico… Nisso ele não enganava ninguém. Apesar de, concordava, teria mesmo de enganar alguns se quisesse manter-se na sua reforma e longe das lealdades exigentes da capital do Império. E longe desses agentes do tenebroso Darth Vader.


Estava, portanto, de saída. Em direção a um futuro calmo, controlado, monótono, vazio, fácil. Estava ansioso para que começasse – pois desejava muito saber como ele se daria nesse ambiente. O desafio estimulava-o e o seu sorriso foi provocador.


No dia anterior um decreto surpreendente e inesperado do Imperador Palpatine tinha dissolvido o Senado Imperial. Não fora, contudo, uma notícia surpreendente ou inesperada. A galáxia já funcionava sem o Senado e tudo o que acontecia na grande assembleia era estéril de propósito. Discursos inúteis, legislação que nunca seria aplicada, uma indolência grosseira por parte dos senadores. Era só uma questão e tempo até que Palpatine deixasse de achar graça à brincadeira, o que acabara por acontecer no dia anterior.


O que o chocou foi que algumas delegações chegaram a assinar manifestos de indignação, como se estivessem a defender a democracia ou alguma patetice idealista. Na realidade, descobriu posteriormente, esses senadores estavam aborrecidos com a perda de privilégios. Representavam sistemas imundos da Orla Exterior, que nem sequer conheciam que eles estavam ali no Senado a falar em seu nome. Com o fim do Senado iriam regressar a esses planetas fétidos e a maioria nem seria bem recebida. Os senadores estavam assustados com a possibilidade de reencontrarem as suas populações que não os tinham elegido e tentaram manter-se na capital. A esses e porque tinha havido protestos, Palpatine não lhes perdoou e foi ele mesmo que os enviou de volta a casa. Ao menos ele regressava por sua livre vontade e sabia que não teria qualquer complicação quando pusesse o pé em Corulag. As suas propriedades mantinham-se e ele tinha assegurado um rendimento anual mais do que suficiente para suprir as suas necessidades mundanas a partir dos investimentos da família.


A indignação dos senadores centrava-se na defesa dessa instituição secular que era a República – que já tinha terminado, a bem de ver, quando Palpatine instituiu o Império Galáctico havia vinte anos-padrão. O Senado era apenas para enganar os distraídos e manter os últimos republicanos debaixo da influência do Imperador. O governo da galáxia ficava assegurado, leu ele no decreto, pelos governadores regionais que controlavam os respetivos territórios, que manteriam subjugados os sistemas sob a sua governança na base do medo que o Império tão gratuitamente apreciava espalhar, com o auxílio do seu imenso poderio militar. Nada de novo, portanto. Como é que aqueles velhos senadores ainda tinham a ousadia de acharem que as suas manifestações de democracia bafienta iriam surtir algum efeito? Ele abanou subtilmente a cabeça, recordando-se do histerismo que atravessara os corredores do Senado no dia anterior.


O Imperador tinha ainda outra garantia para manter o Estado coeso dentro da esfera da crueldade imperial, ele é que não conseguira descobrir qual seria e o tempo tinha-se acabado. Estava com a viagem agendada e não lhe apetecera deixar pendências em Coruscant. Deixava a capital e procurava, igualmente, deixar a sua curiosidade sepultada ali. Não se podia martirizar com questões por resolver na sua nova vida em Corulag! Isso iria estragar todo o ambiente idílico que tinha imaginado para si. No fundo, considerava-se um homem pragmático, malgrado as suas paixões exacerbadas e as suas explosões de génio, que ele também tinha direito aos seus momentos especiais.


Desconfiava que essa garantia seria uma arma secreta. Tropeçara, sem querer, em rumores que apontavam para algo desse género, mas não se quisera aprofundar no tema, pois com esses rumores vieram o nome da Aliança para a Restauração da República e ele conhecia muito bem essa organização clandestina. Rebeldes! A guerra civil alastrava-se e era uma realidade que a propaganda imperial se esforçava por esconder.


Tinha a sua quota parte de passos em falso no Senado Imperial, a sua porção de espiões ao serviço de Palpatine que lhe vasculharam os documentos e fizeram aquela pressão dissimulada para ver se ele voltava ao caminho certo. Não se considerava dissidente, traidor ou sedicioso, mas também não simpatizava totalmente com a ditadura.


Suspirou, colocando os braços às ilhargas. Era senador havia demasiado tempo e ele, mesmo orgulhoso e intransigente, tinha a plena consciência de que precisava de um descanso de todo o ruído de Coruscant, das suas intrigas e das suas vilanias. Tornara-se político e ganhara as suas primeiras eleições depois da tomada do poder pelo chanceler Palpatine. Nunca tinha servido a Antiga República, mas sabia que a situação no seu tempo era bastante diferente e restrita em relação às liberdades anteriores. Sentira falta da autoridade dos cavaleiros Jedi, da possibilidade de efetuar mudanças efetivas que contribuíssem para a melhoria das condições de vida de sistemas longínquos. No fundo, sendo senador no agora extinto Senado Imperial nunca alcançara nenhuma conquista política digna de nota e se fosse, naquele derradeiro momento em que se despedia do lugar, dar-se à recordação dos seus tempos ali passados, nada levava de Coruscant.


Eram, efetivamente, os dois cínicos, ele e a capital, presos nas mentiras e na mascarada final.


Dali não seguiria imediatamente para casa, lembrou-se com um ligeiro arrependimento. Fora convocado a Alderaan por Bail Organa e ele desconfiava de que a reunião que teria com o colega senador se relacionava com a guerra civil. Admiravam-se mutuamente, embora ele não soubesse afiançar o que Organa vira nele, afinal nada fizera de monta no Senado. Eram dois homens francos, corajosos, mundanos, inteligentes. Talvez esses pontos de contacto fossem os suficientes para forjar uma amizade sólida. Ele nunca tivera grandes amigos, admitia-o. O seu feitio inquieto costumava afastar toda a gente que se aproximava. Homens e mulheres. Não tinha paciência para aturar o próximo e nem procurava escondê-lo para ser agradável. Uma vez alguém lhe tinha dito isso mesmo, que ele era horrivelmente desagradável. A sua resposta? Sorrira com ironia. Não lhe doera. Nada lhe doía. Ele tinha blindado o corpo e especialmente a caixa torácica onde resguardava o seu coração de pedra para que nada o atingisse. Vida, morte, tudo fazia parte do ciclo eterno e ele ali estava a contemplar a mecânica do universo com uma indiferença pedante.


- Senador Heskey?


Ele girou um pouco o pescoço, de modo a espreitar o recém-chegado à plataforma onde ele estava naquele modo contemplativo e ácido. Era o seu assistente pessoal, que também o iria acompanhar na viagem. Atendia pelo nome de Onca, um ithoriano, uma das espécies que faziam parte da população de Corulag, que na sua grande maioria era humana. A principal característica da espécie eram as suas cabeças em formato de martelo, sendo que por causa disso tinham a alcunha de cabeças-de-martelo que eles detestavam. Eram criaturas pacíficas, dedicadas e pacientes.


- Temos novidades, senador.


No pequeno silêncio, o ar tinha-se tornado mais espesso e quente.


- Fala, Onca.


O ithoriano fez um pequeno ruído seco com a garganta e começou a contar na sua voz tranquila:


- O Império Galáctico tem uma nova arma que se chama Estrela da Morte. É uma estação espacial do tamanho de uma pequena lua e já se encontra operacional. Foi feita a primeira demonstração do seu poder destrutivo. Com um único disparo do seu canhão de iões foi capaz de pulverizar um planeta inteiro.


- Um planeta inteiro…


- Sim, senador. O planeta Alderaan explodiu no espaço e desapareceu. A notícia já está a ser divulgada pelos canais informativos. A versão oficial é de que se tratou de uma resposta do Império à declaração de rebelião e secessão de Alderaan, que colocaria em perigo a união e a paz na galáxia. A justificação habitual para mais um massacre com a assinatura do Imperador.


- Alderaan? – Heskey arrepiou-se. Ele devia seguir para Alderaan dentro de minutos-padrão. – Então, isso significa que…


- Estão todos mortos. Tentámos contactar o senador Bail Organa através do código secreto, mas não obtivemos qualquer retorno. O que significa que o senador Organa pereceu, juntamente com todo o seu povo. Ele estava no planeta no momento fatídico do ataque da Estrela da Morte.


- A nossa rota já foi corrigida?


- Afirmativo, senador. Seguimos diretamente para Corulag e as coordenadas anteriores foram apagadas do sistema de navegação. Para todos os efeitos, a reunião que tinha agendada com o senador Bail Organa nunca existiu. Neste momento seria perigoso ligarmos o seu nome a Alderaan. Está a ser feita uma caça às bruxas, senador Heskey. Irá ser contactado em breve por uma comissão imperial para responder a um inquérito sobre as suas ligações a Alderaan e ao senador Organa. Para esclarecimentos. Deverá aproveitar a oportunidade para limpar o seu nome.


- Compreendo. Não tenho nada a esconder, Onca. Eu e o senador Organa mantínhamos relações cordiais no Senado Imperial. E era só. Éramos amigos, mas naquele nível superficial que se estabelece entre duas pessoas com interesses em comum que partilham o mesmo modo de vida. Acho que nunca bebi um copo com o homem… O homem não gostava de beber.


- Farão perguntas sobre a Aliança.


Heskey inspirou profundamente, voltando a olhar o céu rubro e negro de Coruscant. Iria acontecer uma festa, recebera o convite. Uma celebração estúpida de despedida, com direito a diversões duvidosas e óbvios exageros. Ele nunca dissera que participaria, nem declinara formalmente esse convite. Ficara tão espantado com o facto de se terem lembrado dele que resolvera ignorar. Se considerassem que estava a fugir da capital, que o julgassem assim. Ele não se importava.


- Podem fazer todas as perguntas que quiserem sobre a Aliança. Não tenho qualquer conhecimento sobre os rebeldes. Mesmo que quisesse agradar ao Imperador e contar alguma coisa, apenas seriam mentiras descaradas e invenções idiotas. Creio que não é isso que Palpatine pretende…


Se fosse à festa, contudo, poderia estabelecer algumas parcerias com senadores mais subservientes que iriam defender o seu nome na sua ausência, que poderiam dissipar eventuais dúvidas que surgissem na mente perigosa de Palpatine. Sacudiu os ombros. Ele saberia defender-se. Não precisaria de senadores devassos a falar em nome da sua reputação. E ele iria retirar-se. Seria tão inofensivo como uma thala-siren das regiões remotas. Passivo e invisível. O ideal para Palpatine.


Não lhe agradava fazer as vontades ao Imperador, mas naquela fase não podia fazer muito mais.


Perguntou, subitamente apreensivo:


- E a princesa?


Onca pigarreou.


- A princesa Leia Organa não estava em Alderaan.


- Oh…


- Logo a seguir à notícia da destruição de Alderaan veio uma segunda notícia – explicou o ithoriano. – Lacónica, três linhas. A senadora Leia Organa foi julgada como traidora, existem provas irrefutáveis da sua culpa e vai ser executada nas próximas horas. De acordo com o que apurei, a princesa não está em Coruscant. Muito provavelmente estará a bordo da estação espacial do Império.


Heskey rodou sobre os calcanhares e encarou o seu assistente.


- Nessa… Estrela da Morte?


- Sim, senador.


- Como foi a princesa parar à estação espacial?


- Desconhecemos os pormenores. Aparentemente a princesa estava em missão diplomática quando a sua nave desapareceu na Orla Exterior, perto de Tatooine.


- Tatooine? Isso não é um local remoto?


- Nem conheço o nome, senador – admitiu o ithoriano. – Bem, só nos resta apresentar os nossos respeitos ao povo de Alderaan que foi hoje eliminado da galáxia.


Aquela declaração deixou-lhe um sabor amargo no fundo da garganta. Heskey passou pelo ithoriano.


- Fá-lo-emos em privado e quando chegarmos a Corulag. Até lá, guardemos o nosso respeito e as nossas preces para nós mesmos. Quero partir, imediatamente. O shuttle está preparado, Onca?


- Sim, senador. Está preparado. E toda a sua bagagem já foi acondicionada.


O ithoriano foi no seu encalço e conseguiu ultrapassá-lo para poder ir à frente, como mandava o protocolo, e abrir-lhe as portas da pista privada que servia aquela secção de alojamentos do enorme condomínio que hospedava os senadores. O ithoriano teve de correr porque ele tinha uma passada larga devido às suas pernas grandes e agora arfava sem fôlego, enquanto apertava os botões dos respetivos comandos.


Havia um silêncio perturbador nos corredores. Era de esperar algum rebuliço, pois os senadores já não o eram. Seriam despejados daquele edifício que só fazia sentido existir porque havia Senado e naquele momento isso não acontecia. Palpatine teria outras ideias para o local, talvez transformá-lo num hotel luxuoso para acolher as delegações dos territórios que ali viriam bajulá-lo e beijar-lhe a bainha do manto. Onde estava, então, a confusão de gente a fazer as malas, a destruir segredos embaraçosos, a procurar escapar da armadilha doce em que se transformara Coruscant? Heskey franziu uma sobrancelha. Ele não era o primeiro a tomar a decisão de regressar a casa, esperava ter companhia. No entanto, os senadores consideravam que deixar a capital não era prioritário.


E se Palpatine chegasse à brilhante conclusão que os ex-senadores eram todos inimigos e que seriam feitos reféns ali? Ele não o queria descobrir…


Na pista ventosa aguardava-o um shuttle da classe Eta que Onca havia fretado para a viagem. A conta seria paga pelo governo de Corulag e assim se fechava a contabilidade da sua prestação no Senado Imperial, pensou Heskey com enfado. Haveria de ainda ter de aturar algumas reuniões sobre finanças, pois os burocratas não deixavam passar em branco qualquer crédito. Se ele tinha tido gastos suplementares? Não se recordava exatamente se beber whisky corelliano e fumar charutos cigarra constituíam um luxo para um senador.


O vaivém era aquele utilizado pelos senadores da Antiga República e pelos embaixadores Jedi. Era uma nave de transporte de passageiros antiga, mas mostrava a fuselagem brilhante e estava com a manutenção em dia, pelo que iria proporcionar uma viagem sem problemas. Equipava-se com três canhões laser para defesa, que ele esperava não fossem usados. A carlinga era ocupada por dois pilotos e tinha capacidade para dez passageiros. Seriam só ele e Onca, pelo que isso sim, poderia configurar um luxo. Podia justificar que precisara do espaço para acomodar as suas caixas. Não era totalmente verdade, as caixas seguiam no compartimento de carga… Podia justificar também que gostava de espaço, tinha pernas compridas e braços longos.


Esqueceu esses pensamentos idiotas ao se sentar na confortável poltrona. Baixou as luzes, fechou as persianas da escotilha próxima e pediu ao ithoriano que não o incomodasse. Cruzou os braços, colou o queixo ao peito e fechou firmemente os olhos, cortando o contacto com o exterior. Não queria mesmo ser aborrecido. O seu assistente, que trabalhava com ele desde sempre, compreendia os sinais e sentou-se numa poltrona afastada.


Pouco tempo depois os motores do vaivém foram ligados e ele sabia que estava a ir para casa. Não que fosse uma perspetiva agradável e algo que ele ansiava, mas de momento era melhor do que estar a caminho de um planeta que fora transformado em poeira espacial. Se tivesse partido no dia anterior, como lhe pedira Bail Organa, naquela altura estaria desintegrado em átomos irreconhecíveis.


A galáxia não ficava em boas mãos, ao deixar Coruscant entregue às veleidades de Sheev Palpatine. A destruição de Alderaan iria lançar o pânico nos sistemas que apoiavam a Aliança e talvez essa Estrela da Morte distribuísse a sua punição por outros traidores, dando o mesmo destino de Alderaan a outros planetas revoltosos. A guerra civil iria em breve terminar e ele iria assistir a tudo desde o conforto da sua casa, esquecido que um dia tivera um qualquer ideal irrealista de querer mudar o mundo.



***



A nave viajava calmamente pelo hiperespaço e ele dormitava, vazio de sonhos.


De repente, um solavanco empurrou-o para diante. Heskey abriu os olhos, agarrou-se aos braços da poltrona.


- O que foi que aconteceu?


Onca tinha-se levantado.


- Não sei, senador. Posso ver o que se passa…


Um silvo prolongado encheu a cabina e depois toda a nave começou a sacolejar, afetada por turbulência. Tinham deixado a velocidade da luz.


- É um campo de asteroides?


- Não existe nenhum na nossa rota.


- Não estamos a passar pela região de Alderaan, pois não? Creio que me disseste que tínhamos alterado as coordenadas da viagem. Neste momento, admito, não me apetece ir verificar com os meus olhos se o planeta efetivamente explodiu. Acredito nas notícias oficiais do Império. E Bail Organa já não precisa mais de mim! Nem eu lhe posso valer.


Abriu a persiana da escotilha e teve de usar a mesma mão para cobrir os olhos, pois uma intensa luz verde atravessou o vidro e ofuscou-o. O ithoriano começou a fazer os ruídos típicos de quando estava nervoso e assustado. A nave parou de abanar e Heskey também se levantou.


- Isto é um feixe trator? Estamos a ser rebocados…


Correu até à carlinga e abriu a passagem que lhe dava acesso. Interpelou os pilotos, brusco:


- O que se passa, meus senhores?


- Senador – respondeu o copiloto –, fomos abordados por uma nave não identificada que nos intimou a obedecer ou abririam fogo sobre nós.


- Não temos canhões nesta sucata para nos podermos defender?


- A nave não identificada disse-nos que estávamos na sua mira e que bastavam alguns disparos para desabilitar os nossos escudos defletores e fazer estragos consideráveis. Achámos por bem… acatar as indicações.


Heskey enfureceu-se.


- Meus senhores, está a acontecer um rapto de um senador e vocês acham que o melhor que podem fazer é serem cúmplices nesse rapto?


- Preferimos ser cúmplices num rapto… do que num assassinato, senador – justificou-se o piloto cabisbaixo, entredentes, mãos sobre a consola que apitava, coberta de avisos luminosos. – Dadas as circunstâncias, não vimos outra possibilidade senão cumprir o que a nave desconhecida nos está… gentilmente a pedir.


- Gentilmente.


- Prometeram que não iriam usar a força se fizéssemos o que eles querem.


- E quem são… eles?!


- Saberemos em breve, senador.


Heskey regressou à cabina. Estacionou junto à porta exterior e aguardou pelos seus raptores, numa pose altiva e desafiante. O Senado Imperial podia ter sido extinto, mas ele fora um senador e gozava ainda de imunidade diplomática pelos próximos cinco anos-padrão, assim havia decidido o Imperador no decreto de dissolução da assembleia. Aquela afronta não iria sair impune.


Então, a porta chiou e começou a abrir-se.

14 de Abril de 2021 a las 12:52 0 Reporte Insertar Seguir historia
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