A noite já prepara seu turno, mas antes que bata o ponto, ainda posso ver nitidamente, através da minha janela hermeticamente cerrada, e com olhos encantados de criança, flocos de neve viajarem rumo ao chão ou pousando em qualquer superfície que os acolham antes. Após a queda, rejeitam a solidão e se unem sobre os telhados e pátios que compõem a minha paisagem lateral.
Gosto de me deter observando a neve cair suave e obstinada. Os flocos, tão ternos, polvilham os telhados deixando-os alvos, lembrando-me dos bolos revestidos de coco ralado tão comuns em festas de aniversário quando eu era criança. A neve persiste e eu não canso de contemplá-la. Testemunho o vento incliná-la e sussurrar-lhe alguma novidade. Ou uma velha memória. Esses flocos de gelo que vigio estão condenados a uma breve existência sólida e, aglomerados, se liquefarão. A condenação, entretanto, é passageira e em algum momento vindouro estarão, quem sabe, compondo o palco de outra janela, deleitando novos olhos, repousando em outros tetos e quintais. Quem sabe, afinal esses aparentes frágeis flocos de neve gozam da prerrogativa de se transmutar, viajar para múltiplos destinos sem depender de um pássaro de ferro ou de carne e renascer infinitamente.
Escureceu. A vista do meu pequeno e silencioso espetáculo invernal fora me subtraída pela noite que chegou mansa como o carneirinho de São João.
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