Já faziam algumas horas que Evelyn estava em trabalho de parto, o sol já havia partido e a noite estava começando a esfriar. Os gritos da mulher acabavam com o silêncio do vilarejo em que vivam, no condado de Cheshire - Inglaterra e seus vizinhos temiam que a mulher de 23 anos acabasse falecendo. Todos sabiam que a gravidez havia sido difícil e que ela tinha problemas para engravidar, tendo perdido dois bebês no último ano.
Seu marido, Arthur, implorava para que Deus cuidasse de sua esposa e que não deixasse nada de mal lhe acontecer. Torcia para que a parteira viesse lhe dizer que tudo estava bem. Aquilo estava sendo um pesadelo e ele torcia pelo melhor.
Ambos esperavam por um menino. Foi isso que a cigana havia lhes dito: “é um menino, com certeza. Um menino cheio de saúde.” E eles sonhavam com seu pequeno anjo a meses. Era tudo o que desejavam: um menino forte que poderia ser do exército do rei ou que poderia ajudá-los na fazenda. Uma menina nunca esteve nos planos do casal. Quando pensavam em uma menina, sempre diziam que só lhes traria prejuízo e que não serviria para muita coisa.
Quando os gritos de Evelyn pararam e o choro de uma criança encheu a noite, quando a parteira gritou “é uma menina!”, o destino de Celiny foi selado.
Dizer que a menina teve uma infância feliz seria a maior mentira já contada. Celiny era odiada pela mãe, e seu pai nem conseguia olhá-la. Ambos a culpavam por Evelyn não poder ter mais filhos, dizendo constantemente que ela era a razão pela qual eles não eram felizes.
Quando era pequena, até seus seis anos, seus pais esqueciam de alimentá-la e se não fosse por suas vizinhas, já teria morrido de fome. Aos sete anos, seu pai a colocou para ajudar em casa e trabalhar na fazenda com ele. Se Deus lhe deu uma menina, ela deveria então fazer o mesmo que um menino faria. Trabalho pesado ou não, Celiny faria.
Sua vida resultou em aulas na igreja do vilarejo e trabalhar o resto do dia, esperando poder ter o que jantar. Aos 12 anos, sua menstruação veio e seu pai já deu um jeito de achar um pretendente para ela. Celiny não tinha mais idade para morar com eles, dizia. Alguns dias após completar 13 anos, o conselheiro da rainha, Stanley Reuben, de 54 anos, a viu fazendo compras na feira com sua mãe e decidiu que ela seria sua próxima esposa. Apaixonou-se pela beleza dela e logo foi falar com Evelyn.
Seus pais pensaram quanto poderiam de dinheiro e no fim, Stanley aceitou o valor absurdo que a família dela queria. Celiny chorou, implorou, mas nada deu resultado: seus pais a venderam e ela casou-se com Stanley.
Sua noite de núpcias foi dolorosa: ele não se importava se era a primeira vez dela, se ela pedia para ele parar. E os dias que se seguiram eram os mesmos. Ela cuidava da casa, ia em festas da alta sociedade e a noite, ele abusava dela.
Aos 15 anos, ela conheceu Madeleine Gastrell. Uma linda moça de 24 anos que ia em um dos eventos da realeza. Ambas conversaram a noite toda e Celiny sentiu-se viva, sentiu que havia ganhado uma amiga. Stanley ficou feliz com a aproximação delas, pois Madeleine, embora a última de sua família, tinha um nome de poder e uma riqueza em seu nome.
Madeleine começou a frequentar a casa de Celiny e logo algo mais surgiu entre elas. Foi um sentimento avassalador e Celiny contava as horas para ver a mulher. Quando beijaram-se pela primeira vez, Celiny sentiu-se completa. Era amor, ela sabia. E sabia que era correspondido.
Madeleine tornou-se sua amante e tudo parecia estar bem. Até que Madeleine, cansada de ficar longe de sua amada e de vê-la nos braços daquele cretino, propôs que elas fugissem. Madeleine tinha dinheiro, poder e muitas casas espalhadas pelo mundo. Celiny movida pela paixão, aceitou.
Mas Stanley descobriu. Uma das criadas contou o que havia escutado e a fúria apossou-se sobre ele. Stanley pegou Celiny pelos cabelos e jogou-a no chão do quarto deles. Tirou seu cinto e disse que ela pagaria por tê-lo traído, por ser uma aberração e por achar que podia fugir com “a primeira puta que aparece”. Ele a bateu com o cinto muitas vezes, além de tê-la estuprado repetidas vezes e, quando cansou de machucá-la, quando Celiny já havia perdido a consciência e ele havia decidido que não valia tê-la por perto, pegou a arma que tinha em seu quarto e deu-lhe um tiro.
Porém ele não sabia o que Madeleine era. Ele não sabia que ela não era tola. Madeleine sentiu que havia algo errado e quando chegou na casa deles e sentiu o cheiro do sangue de Celiny, tudo tornou-se preto. Ela só enxergava a raiva que sentia. Tendo jurado para a menina que ele nunca mais encostaria nela, Madeleine adentrou a casa com ódio borbulhando em seu corpo. Ela iria matar Stanley. Quando finalmente encontrou os dois, Celiny estava quase morta. Seu corpo agoniava no chão e Stanley apenas observava tudo como se fosse uma peça de teatro interessantíssima. Madeleine não pensou duas vezes antes de matá-lo. Ela pegou a menina em seus braços e recusando-se a aceitar o destino de Celiny, a mordeu e a tirou da casa, levando-a para sua.
Sua transformação de humana para vampira foi algo que demorou, pois embora ela não estivesse morta quando foi mordida, a transformação em si era algo complicado e nem sempre dava certo. Mady, como Celiny a chamava, sabia que era algo arriscado. Nem todos viravam vampiros quando mordidos, uns sucumbiam à morte e outros transformavam-se em algo pior, perdiam qualquer consciência e vivam apenas para a matar.
Quando Celiny finalmente acordou, ela sabia que havia algo errado. Ela sabia que havia algo diferente consigo, ela sentia tantas coisas ao mesmo tempo que a deixavam amedrontada. Havia ela se tornado um daqueles monstros das histórias que sua mãe contava para assustá-la? Ver Madeleine parada na porta, sem saber como agir, era ainda mais assustador. Celiny não sabia o que estava acontecendo, não sabia porque seu corpo desejava sentir o gosto de sangue, não sabia porque era capaz de sentir e perceber tudo. E quando sua amante lhe explicou toda a situação, ela achou que estava louca. Demorou algumas horas para que tudo fizesse sentido, para que ela aceitasse a sua nova vida. No fim, Celiny só aceitou aquilo porque estaria com Madeleine. E de tudo que já havia lhe acontecido, a menina estava preferindo focar no seu amor e em nada mais.
Ao longo dos meses, Celiny foi aprendendo sobre como ser uma vampira, sobre seus poderes e seus desejos que viu naquilo algo bom. Ela nunca mais seria submissa a alguém, ela nunca mais baixaria a cabeça. Quando o assassinato de Stanley voltou a ser mencionado pelas pessoas e muitos começavam a desconfiar dela, já que ela havia sumido, Madeleine decidiu que estava na hora de deixar a Inglaterra. Mas antes, a menina tinha algo a fazer: acabar com a vida daqueles que a colocaram no mundo.
Celiny Joan Relish não existiria mais. Ela decidiu isso quando matou seus pais e saboreou o sangue deles por dias. Naquele momento, Nephthys Arwen Gastrell surgia da escuridão.
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