vatrushka Bê Azevedo

[História inspirada na vida do rei William I da Inglaterra e da rainha Matilde de Flandres, no ano de 1051] Matilde é uma donzela muito espirituosa. Neta do rei Robert II da França, não só está ciente de seus privilégios de berço como os defende com garras e dentes. Seus ideais se abalam, entretanto, ao se apaixonar por um duque bastardo - ninguém menos que o futuro rei da Inglaterra. Quem iria imaginar que um rei bastardo e uma petulante rainha baixinha marcariam para sempre o curso da história de seus reinos? *Livro publicado em formato eBook na Amazon. Link: https://www.amazon.com.br/dp/B094788RVV


Histórico Todo público.

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I

Ano 1051 d.C., em Flandres.


Como esperado, Matilde terminava de se aprontar para recepcionar os convidados. Seu pai, Baldwin V, conde de Flandres, oferecera sua fortaleza para hospedar alguns nobres normandos por uma breve temporada.

“Ficarão aqui por muito tempo?” Perguntara Matilde à sua mãe, Adela, enquanto esta inspecionava a aparência da filha.

“Não sabemos ao certo, mas provavelmente não. Imagino que fiquem apenas algumas semanas. Aparentemente, estão em uma viagem para divertirem-se e conhecerem a região.” Adela lhe respondeu, tirando um fiapo de seu vestido.

Matilde soltou um risinho propositalmente, revirando os olhos. “Divertirem-se. Imagino que a situação da Normandia esteja muito melhor para poderem sair por aí divertindo-se.”

Sua mãe tentou conter seu sorriso, mas não conseguiu. Trocaram um olhar cúmplice — não foi necessária mais nenhuma palavra para entenderem o que as duas pensavam. Os assuntos que levavam aqueles nobres até ali certamente não eram tão divertidos assim.

Adela suspirou, comentando baixo: “Seu pai finge que nos engana. Fingimos que acreditamos.”

Sua filha sorriu de canto, e assim permaneceram em um silêncio agradável por alguns segundos. Não tardou a este ser interrompido pelo raciocínio relâmpago de Matilde.

“Já que imagino que papai dará um jeito de me casar com algum deles, vamos adiantar o trabalho, sim?” Esta articulou, pragmática. “Quem serão exatamente nossos estimados convidados?” Perguntou, erguendo a sobrancelha. Sua personalidade espirituosa não conseguia evitar sarcasmo.

Adela tentou recordar-se. “Do que ouvi, dois condes e um duque. Irmãos, todos eles. E jovens!” Animou-se pela filha. “Acredito que temos algum grau distante de parentesco, mas me pede muito se quer que eu recorde assim, de cabeça...”

“Olharemos isto com mais calma depois, mamãe.” Concluiu. ‘Temos muitos parentes, de qualquer forma...’

Ao percorrer as escadas ao lado de Adela, Matilde já conseguia ouvir o som dos cavalos se aproximando da fortaleza. Apressaram-se para se aproximar do senhor da casa. Baldwin sorriu em aprovação ao ver a filha se aproximar. “Está muito bonita.” Elogiou-a. Seus longos cabelos dourados estavam presos em elaboradas e pesadas tranças, como o de costume.

“Puxou a mãe.” Provocou Adela, erguendo a sobrancelha.

“Certamente.” Admitiu o conde, segurando-a pela mão.

As pesadas portas abriram-se para os três nobres recém-chegados e sua comitiva. Baldwin tomou a frente, cumprimentando-os.

Matilde julgou-os silenciosamente. Ao que pôde perceber, o irmão que vinha da direita tratava-se de um clérigo — logo, não despendeu nele muita atenção.

Os outros dois tinham traços evidentemente mais parecidos. Bonitos, tinha de confessar. ‘Uma difícil escolha. Para desempatar, só me resta descobrir qual é o duque.’

Não pôde deixar de reparar no mais alto, que se encontrava no meio dos outros dois irmãos. Não sabia explicar como nem porquê, mas este destacava-se de sua própria forma. Não apenas pela altura... Como também postura e presença. Algo em sua expressão... Algo por trás de seus olhos, talvez uma profunda fúria ou profundo luto que lhe endurecia a feição, deixava-o com a aparência de ser muito mais velho do que realmente era.

Uma figura deveras enigmática.

E Matilde adorava resolver quebra-cabeças.

Talvez tenha o encarado por muito tempo, pois sentiu seus olhos tempestuosos irem em sua direção. Abaixou o olhar automaticamente, envergonhada.

“Esta é minha esposa, Adela, segunda filha do rei Robert II da França. E esta é minha filha, Matilde. Meus dois outros filhos não se encontram no momento, uma pena — acredito que teriam se dado bem.” Baldwin apresentou-as aos nobres cavalheiros. Estes curvaram-se às damas, e estas devolveram-lhes os cumprimentos.

Ao aproximar-se, Matilde percebeu o quão mais alto que ela era o rapaz do meio. Não que já não estivesse acostumada com a ideia de olhar para cima para conversar com qualquer um.

Matilde era terrivelmente baixinha.

“Este é Robert, conde de Mortain.” Seu pai apresentou-os, da esquerda para a direita. “Este é William, duque da Normandia, e este é Odo de Bayeux, conde de Kent.”

A jovem comemorou silenciosamente em sua cabeça. ‘Sabia que era o duque! Claramente soberano aos próprios irmãos. Tal título se impõe naturalmente.’

Matilde estava plenamente convencida de que aquela era a ordem natural do mundo. A percebia nas pequenas coisas — como no casamento de seus pais, por exemplo. Não importava se seu pai era o homem da casa e senhor de sua mãe; era notável o quanto o título de princesa de Adela a destacava como soberana de seu lar — ainda que esta se interpretasse como submissa de seu marido. Sua graça lhe era genuína, sua expertise, autoridade e habilidades de negociação, inquestionáveis.

Seu pai era um bom marido, mas era apenas um conde. Jamais a alcançaria em tais atributos.

‘O nascimento nos determina.’ Concluiu. ‘Um berço é um berço.’

E Matilde sabia que havia sido abençoada por sua posição de nascimento, naturalmente — e se aproveitaria dela.

‘William.’ Guardou o nome em sua memória. ‘O duque de Normandia.’



Estavam ceando, no início daquela mesma noite. A conversação entre os cavalheiros mostrou-se incrivelmente agradável, ainda que para homens tão poderosos. Por coincidência ou não — acreditava que não — Matilde sentou-se de frente para William.

Mentiria se dissesse que não estava sentindo o olhar do duque em sua direção. ‘É lógico que tentará me cortejar. Sou a melhor pretendente que encontrará em décadas.’

“Gosta de cavalgar, senhorita?” Surpreendeu-se a ver que William se referira a ela diretamente.

Para seu alívio, conseguiu se recuperar do susto rapidamente. “É um de meus passatempos preferidos.” Admitiu, com casualidade.

“Confesso que imaginei que se dedicaria mais à leitura e bordado, dentre outras atividades domésticas... Supus que deveria gastar boas horas de seu dia trançando seus cabelos... Mas felizmente, creio ter me enganado.” William respondeu, sorrindo. Os outros na mesa riram.

O rosto de Matilde queimou em brasa, dada inesperada grosseria. ‘Bárbaro.’ Olhou de canto para sua mãe, que fingira rir em prol do contexto. Seu olhar, entretanto, não expressava júbilo.

Matilde abriu um sorriso venenoso. ‘Então é assim que vai ser?’

A jovem loira pousou a mão em seu peito, teatralmente. “Não mais se surpreendeu do que eu, duque, ao vê-los aqui hoje — lhe asseguro. Por acidente, creio ter associado a imagem de normandos à de vikings... Talvez por seu próximo parentesco? Esperava encontrá-los também de tranças e saias, imagine só! Lá se foi a minha vã esperança de compartilhar segredos de penteados com os senhores...” Tomou um gole de seu vinho, fazendo questão de repetir lentamente as mesmas palavras de William. “Felizmente, creio ter me enganado.”

Os dois irmãos mais novos do duque gargalharam alto. William ainda a encarava, um pouco perplexo com a rapidez da resposta. Matilde lhe sorriu, com uma sobrancelha erguida. Quanta ousadia! Tentar disputar gracejos? Justo com ela, de todas as pessoas? ‘Espero que esteja preparado para esta guerra, duque.’

‘Ou lhe massacrarei.’

William abriu um largo sorriso, ao reconhecer seu temperamento forte. “Vejo que se orgulha muito de suas tranças.”

Adela riu, pondo sua mão suavemente no ombro da filha — congratulando-a discretamente. “Matilde as usa desde pequena. Se algum dia minha filha sair sem elas, dificilmente a reconhecerão!”

De fato, era sua marca registrada: loira, baixa, de tranças e gênio forte — só poderia ser Matilde.

O duque arriscou-se: “Neste caso, não vejo o porquê não a convidar também para cavalgar conosco amanhã. Se conseguir me perdoar algum dia o infeliz comentário, é claro.”

“Rezarei a noite toda para que Deus me ajude a curar o rancor em meu coração, senhor. Pela manhã, já devo tê-lo superado.” Foi sua resposta.

27 de Mayo de 2021 a las 11:21 3 Reporte Insertar Seguir historia
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Mario Sergio Porto Mario Sergio Porto
Boa escrita e de um segmento que aprecio e escrevo. Só tenho um pouco de restrições ao uso indiscriminado da categoria "De época". Eu faço duas distinções Romance Histórico, narrativa no passado que interage personagens históricos com personagens fictícios, inventados pelo autor, sem alterar a historiografia conhecida. E narrativa de Época, simplesmente, ambientada no passado, sem necessariamente existir interação com personagens dito históricos. Um dos meus https://amzn.to/3HRmVq5
May 28, 2022, 18:40
Amanda Luna De Carvalho Amanda Luna De Carvalho
Seu livro é muito interessante e denota quão bem está escrito! Livros de época assim, encantam nossa alma!
July 15, 2021, 16:40

  • Bê Azevedo Bê Azevedo
    muito obrigada. que bom que gostou! July 15, 2021, 19:07
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