sahsoonya sahsoonya

[KAISOO] [CHANBAEK] [SIDE DE YOU'VE GOT MAIL] [OS] A vida de colegial segue seu curso enquanto Jongin se contenta em admirar seu crush, Do KyungSoo de longe... Até que certo dia um e-mail suspeito chega em sua caixa de entrada, de um remetente estranho, virando o mundo do moreno de cabeça para baixo. "Eu sei muito bem que você me persegue. Não negue, pois está bem nítido que você está de olho em mim." Quem será o remetente dos e-mails, e como ele sabe sobre essa paixonite? Jongin está doido para descobrir. Fanfic dedicada à @AiKimSoo Capa por ~dinnyyoongi


Fanfiction Bandas/Cantantes No para niños menores de 13.

#exo #yaoi #fluffy #kaisoo #os #chanbaek
Cuento corto
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Perhaps...

Eu corria feito louco por entre os alunos. Parecia que o ambiente estava em uma guerra silenciosa comigo. Minha camisa branca do uniforme já estava colando no corpo tamanho era o nível do meu suor. Eu sentia meus cabelos úmidos e frios na testa quente, devido ao esforço físico, me dando uma estranha sensação de frio e calor ao mesmo tempo. As panturrilhas doloridas me avisavam que correr demais após uma aula de educação física na qual eu já me esforçara o suficiente, não era uma boa ideia.


Claro que todo mundo estava morrendo de fome e caminhavam apressados para ir à cantina. Mas, meu propósito em atravessar aquela horda de pessoas famintas era muito mais importante, poxa.


Eu precisava vê-lo.


Enquanto esbarrava em algumas pessoas, senti uma mão nas minhas costas, que me fez sobressaltar levemente. Parei abruptamente e olhei para trás, encontrando com a figura de JanDi me olhando toda sorridente.


Ela era uma das garotas mais populares da escola. Pra falar bem a verdade, ela e eu tivemos sim, um lance tempos atrás, mas isso estava no passado, até por que eu não via mais graça alguma naqueles cabelos negros e compridos nem no corpo cheio de curvas e naqueles lábios sempre acompanhados de um brilhante gloss cheirando a frutas.


E isso, por que ela não era ele.

Não sei precisar quando foi que comecei a notar o garoto de cabelos negros. ChanYeol, meu melhor amigo, após muita discussão e um clima estranho entre nós acabou me contando certo dia, que gostava de garotos. De um em especial, que havia conhecido na biblioteca da escola e com quem estava tendo uma espécie de rolo.


Nunca entendi bem esse termo "rolo", porém não julguei. Só era estranho ver um cara como ChanYeol, que pagava de top hétero normativo, se relacionando com outro cara.


Eu não me importei muito com tudo isso, afinal na minha concepção... Se ChanYeol gostasse de meninos, sobrariam muito mais meninas para mim, e foi munido de tal pensamento estúpido que acabei apoiando meu amigo em sua empreitada homossexual.


Porém, minha curiosidade certo dia acabou me levando até a situação presente. Eu desejava saber quem fora o cara que despertou meu amigo de seus desejos enrustidos. Porque veja bem, com um cara com a minha beleza, elegância e porte, como ChanYeol não se apaixonou por mim? Não quero me gabar nem nada, mas eu sou um sonho.


Achei que minha altura, pele morena naturalmente, o rosto bem delineado e o corpo definido fizessem com que todos me adorassem. E faziam mesmo... Na moral, fiquei chateado por não ter sido o escolhido, por uma questão de puro ego, afinal, eu não namoraria ChanYeol nem que fosse gay e ele fosse o último cara na terra, e soubesse preparar o melhor frango do mundo...


Porque, vamos combinar... Frango é tudo de bom!


Então acabei seguindo meu amigo em um de seus encontros casuais com seu ficante. Num primeiro momento, achei esquisito que o gosto de ChanYeol se limitasse a carinhas baixos e magricelas que falam pelos cotovelos. O tal BaekHyun era um baixinho extravagante que adorava dar uns belos cascudos no meu amigo grandão e se achava o dono da verdade. Porém, relevei o fato de que ele não gostava nem um pouquinho de mim, por causa daquele sorriso bobo na cara de Chan. Meu amigo gostava mesmo daquele ser. Tentei ser o mais legal que pude, mas era meio esquisito saber que meu amigo estava ficando com aquele cara. Até externei essa estranheza para ChanYeol certo dia.


Naquele dia fatídico.


No dia em que me apaixonei por aquele menino de cabelos negros.

Andávamos pelos corredores, ao que meu amigo decidiu do nada que entraria na biblioteca. Estranho. ChanYeol não lia... E pela forma pela qual o Byun segurava o livro "crime e castigo" do Dostoievski de ponta cabeça, ele menos ainda.


Aí que fui entender o esquema. Esse garoto que ele conhecera na biblioteca devia estar fazendo tudo menos ler, naquele lugar.


O mais estranho, quando me aproximei, é que ele não estava só. Sentado ao seu lado, parecendo muito concentrado em "Oliver twist" de Charles Dickens, um garoto pálido acompanhava o amigo.


A primeira coisa que me chamou atenção, me lembro bem, foram os olhos. Eram negros e muito maiores que o normal. Num primeiro momento, o cenho franzido que o garoto fazia enquanto lia as páginas secas do livro, me incomodou um pouco. Nunca admitirei, mas senti certo receio, porque veja bem, o cara estava com uma carranca. E de quebra estava todo de preto. Sou uma pessoa sensível, me impressiono fácil.


Mas naqueles breves momentos em que pude vislumbra-lo, cheguei à conclusão de que aquele garoto, no qual Baek se escorava descaradamente, era muito mais bonito e peculiar do que parecia.


Aquela expressão amuada, descobri prover de uma incrível concentração e ansiedade pelo enredo da obra. E após achar fofa e peculiar a forma com a qual ele arregalava os olhos de tempos em tempos, como se algum clímax estivesse acontecendo na história, pousei meus olhos na minha perdição.

Os lábios... Os lábios dele.


Enquanto lia o livro, o rapaz mordeu levemente o lábio inferior, o que me fez notar como seus lábios eram bonitos. Cheios e com aparência apetitosa, ótimos para dar uns beijos... No formato de coração. Também eram muito vermelhos e singulares. Eu jamais em minha vida vira tal coisa. Fiquei completamente anestesiado pela beleza daquele garoto.


E não importava o quanto ChanYeol me chamasse ou me cutucasse, eu simplesmente não conseguia desviar meus olhos dele. Um calor estranho e sufocante me envolveu, enquanto ele levantava os olhos de seu livro e nos saudava com uma expressão séria. Sua voz foi outro choque que recebi, como se já não estivesse imerso o suficiente na beleza dele. Era uma calma e grave voz, uma voz que eu adoraria ouvir mais.


Sorri sem graça, quando seus olhos encontraram os meus e finalmente fomos devidamente apresentados. Fingi uma certa indiferença em relação à ele e dali em diante decidi ignora-lo. Mas, mesmo tentando fingir para mim mesmo que eu só havia ficado deslumbrado por ele, como ficara por tantas garotas ao longo de meus anos escolares, no meu âmago eu sabia que estava destinado a sofrer por causa dele...


Seu nome era Do KyungSoo.

Acordei de meus devaneios com JanDi agitando a mão em frente ao meu rosto, me enchendo com aquelas mesmas perguntas indiscretas demais pro meu gosto, enquanto tudo que eu fazia era olhar por cima da cabeça dela, impaciente por alcançar o refeitório.


- E então estou pensando em fazer uma dieta macrobiótica e...


- JanDi... Isso parece realmente fascinante, mas eu estou realmente atrasado. Será que poderíamos falar disso mais tarde?


Acho que meu olhar suplicante e desesperado a convenceu.


Me vi livre, rumando à fila das bandejas, de onde podia fitar com adoração o objeto de admiração da minha vida. Aquele a quem eu secretamente amava.

Meu crush... O garoto dos cabelos negros.


***

Com o passar do tempo, aprendi a maioria dos trejeitos e dos horários de D.O, como ele era chamado por seu amigo bocudo. Secretamente ou não tão secretamente, espreitei-o por aqui e ali por quase dois anos, sem que ele sequer notasse a minha existência.


Não, espera. Até que ele sabia... Vez ou outra acabávamos por nos esbarrar por causa de nossos respectivos amigos, mas eu ficava tão eufórico ao vê-lo que quase sempre cometia alguma gafe digna de vídeo no YouTube, simplesmente por estar perto dele. KyungSoo, por outro lado, sempre agia cautelosamente perto de mim, como se me temesse. Talvez por uma vez eu ter pisado em seu calcanhar, enquanto ele andava à minha frente com BaekHyun, fazendo com que caísse de cara no chão.


Bem, talvez não fosse esse o motivo... Talvez eu só estivesse imaginando coisas.


Eu prossegui com esta vida de "me nota senpai" por algum tempo, até que um dia ChanYeol e eu conversávamos sobre algo e ele comentou que KyungSoo havia lhe perguntado de mim.


- E ele me perguntou se você tinha algo contra ele... - ChanYeol comia um sanduíche de frango, enquanto eu resolvia equações exponenciais em meu caderno, durante o intervalo.


Meus olhos se arregalaram tanto que tive de piscar ao senti-los lacrimejar.


- QUE? O QUE? - só percebi que estava gritando quando a moça que limpava o piso do refeitório me lançou uma carranca irritada.


- Calma. Deixei bem claro que você é um cara legal e nunca seria escroto com ele de propósito - ele completou, sem se dar ao trabalho de responder minha indagação.


- E-Ele acha que eu odeio ele?


- Bem, a forma como o trata é meio... Hum... Estranha.


Fitei minha caligrafia horrorosa, confuso e impressionado.


- E-Eu nunca o odiaria. - baixei os olhos, triste de saber que causara tal impressão no menino pelo qual estava apaixonado por tanto tempo.


ChanYeol abriu seu popular sorriso escancarado.


- Eu sei. Sei exatamente como se sente em relação à ele.


Engoli em seco, desviando o olhar, envergonhado. Sei que era normal para meu amigo que um garoto gostasse de outro, mas eu me preocupava mesmo com o quanto ele iria me zuar quando soubesse que o tiro havia saído pela culatra - melhor analogia não existe - e que eu estava apaixonado por um cara.


No entanto, ChanYeol deixou aquele assunto morrer ali mesmo e dei graças aos céus por isso.


Mas aquele problema não acabou por ali.


***

Eu já estava acostumado a matar aula nas sextas, era de praxe. Também, quem fazia aquela grade horária devia estar louco. Duas aulas seguidas de matemática e duas seguidas de Química, me respeita, ‘né?


KyungSoo gostava de matérias de exatas. Ele ficava tão lindo resolvendo problemas matemáticos na biblioteca. Ah, é... Voltando...


Lá estava eu fazendo um dos meus populares desenhos de KyungSoo, trancado no meu quarto, sem a mínima paciência para fazer uma social que fosse com minha irmã.

Neste desenho, KyungSoo lia confortavelmente sentado embaixo de um carvalho. O mesmo semblante concentrado fitando as páginas do livro, como ele sempre fazia. Desde que pus meus olhos nele, quase dois anos antes, comecei a sentir uma vontade quase insana de fazer todas aquelas coisas ridículas que gente apaixonada faz. Desde escrever letras de música até mesmo desenhar em meu velho caderno de desenho, há muito esquecido. Eu passava horas inteiras imaginando como seria se tivesse coragem suficiente para me confessar, porém em todas elas eu recebia uma resposta bem "KyungSoo", do tipo: quem é você, garoto? Melhor sumir daqui, senão te quebro inteiro... Ou a popular... "Se olhar pra mim de novo enfio minha lapiseira no seu olho". Na verdade, eu ouvi ao longo desses anos alguns rumores bem graves de que o Kyung, na verdade, tinha uma fama não muito boa. Ele era educado e quieto, mas quando provocado, tornava-se uma fera.


Fui tirado de meu momento de "artista", quando na tela de meu notebook o ícone de mensagem acabou apitando. Eu recebera um e-mail.


Mas, perai gente. E-mail hoje em dia só pode significar uma coisa...


Cobranças.


Me arrastei até a mesinha de canto, onde deixava meu notebook, não antes de tropeçar em algumas peças de roupa no chão do quarto. Eu era uma negação. A desarrumação do meu quarto refletia a bagunça que eram a minha vida e meus sentimentos.


"Eu sei muito bem que você me persegue. Não negue, pois está bem nítido que você está de olho em mim."


Engoli em seco enquanto lia o e-mail uma, duas, três vezes.


Aquilo estava mesmo acontecendo? Tal coisa não fazia o menor sentido. Eu nunca persegui ninguém, a não ser...


Pus ambas as mãos na cabeça, perplexo. Ele sabia! Ele descobriu! D.O sabia que eu gostava dele!


Me joguei em minha cama de casal, rolando de um lado para o outro. Meu rosto queimava, mesmo que eu estivesse só. Só de imaginar a cara dele me enviando aquele e-mail me causava calafrios. Fiquei ali, esperneando debilmente, inconformado de ter sido descoberto antes mesmo de ter criado a coragem necessária para confessar a ele.


O que ele estaria pensando de mim? Com certeza me achava um nojento pervertido. Abracei meu caderno instintivamente, como se o protegesse dos grandes olhos inquisidores de KyungSoo.


Aquela era a hora da verdade. Hora de agir, para o bem ou para o mal.


Fitei a tela do notebook, imaginando milhares de coisas que pudesse responder, e ali passei toda a tarde, como um louco, soltando uns gritinhos desolados de vez em quando, enfim reunindo coragem para responder, muitas horas depois:


“Não sei como conseguiu meu e-mail, nem quem é você, mas se for quem eu estou pensando, me desculpe. Não foi a minha intenção.”

Bear.


Na verdade, foi minha intenção sim, mas seja quem for, não precisava saber disso.


Fiquei olhando para a tela, ansioso pela resposta que viria. A dita cuja veio depois de uns quarenta minutos, fazendo meu pobre coração dar um salto dentro do peito. Fitei a tela do notebook com tamanha intensidade, que vi as letrinhas se desfocarem diante de meus olhos.


“Não entendi o que quis dizer... Por que está se desculpando?”.

Penguin.


Santo Deus! Só podia mesmo ser o KyungSoo! Esse era o apelido que circulara pela escola uns anos atrás e o qual ele acabou incorporando.


“Como assim? Foi você que me acusou primeiro... Eu te observo ás vezes, mas você me ignora, mesmo que eu saiba que você pergunta de mim pro ChanYeol.”

Bear.


Fiquei ali por longos minutos, abraçando a almofada que costumava manter em cima da cama, com a mão rente a boca, roendo os restos de unha que ainda possuía. De repente minha irmã mais velha irrompeu no quarto, fazendo com que meu corpo desse um pulo tão alto que mordi a língua.


- O que faz aí, Jongin? Vendo pornô? ‘Tá quase entrando dentro dessa tela aí.


Lancei um olhar de desprezo a ela, enquanto minimizava o ícone de e-mail, revirando os olhos enquanto dizia, acompanhando-a para fora do quarto:

- Vê se não enche, garota...


Desci para o jantar, antes mesmo de checar de KyungSoo havia respondido minha mensagem. Por algumas horas fui capaz de esquecer o ocorrido, não que isso fosse mudar a grande burrada que fiz.



***

Corri pra escola o mais rápido que pude. Em minha mente o pesadelo da noite anterior... Nele, KyungSoo me apontava o dedo, gritando “culpado” diversas vezes, antes de me atingir com um livro.


Durante as aulas, tive que aturar ChanYeol vestindo aquele moletom ridículo, e insinuando coisas sobre Baek e Kyung. Para ele, ambos estavam muito colados. Era suspeito mesmo, mas não me importei muito com aquilo. Eu tinha que tirar a prova. Tinha que descobrir se Kyung era mesmo o Penguin e se ele havia mesmo descoberto que eu ficava o sondando quando não estava prestando atenção. Os ciúmes de meu amigo eram o de menos.


Porém, KyungSoo me pareceu mais escorregadio que nunca. Parece que além de estar me evitando, ele também estava evitando seu melhor amigo. Baek passou a manhã toda procurando-o.


Aproveitei o horário do intervalo para procura-lo e estava rodando a escola atrás desse menino. Frustrado por não ter conseguido, acabei por me sentar abaixo do carvalho no qual o desenhara tantas vezes, perto do grande campo de futebol.


Ali observei os pássaros cantando, enquanto aquele vento forte da manhã despenteava meus cabelos castanhos, transformando-os num emaranhado de fios rebeldes que mais parecia um ninho de periquitos. Suspirei diversas vezes, antes de mandar tudo às favas e me inclinar até que minhas costas estivessem no chão. Cruzei meus braços embaixo da cabeça, e inspirei o perfume de olhos fechados.


- Cadê você? – sussurrei baixinho, inebriando-me com aquele cheiro maravilhoso.


Espera. Esse não era o cheiro da árvore.


Abri meus olhos, tendo ao mesmo tempo a visão mais linda e mais desesperadora de toda a minha vida.


Era ele. Estava sentado em um dos enormes galhos, olhando para mim de cima.


- Estou aqui. – respondeu baixinho, com o rosto um tanto corado.


Me sentei tão rápido que senti um pouco de tontura, e me inclinei, de modo a vê-lo com mais clareza. Por cima do uniforme escolar, KyungSoo usava um moletom preto – obviamente – e os cabelos castanhos estavam caídos sobre os olhos, enquanto me fitava de forma curiosa. Parecia me analisar com o olhar.

- Me procurando? – falou, desviando os olhos.


Puxei o ar pelas narinas profundamente. Tentei me acalmar antes de responder:

- Talvez... Você por acaso conhece algum penguin?


Ele sorriu levemente, desviando novamente o olhar.

- Talvez.


Ali tive a minha confirmação. No mesmo instante senti minhas bochechas, pontas das orelhas e pescoço queimarem de nervoso.


- Devo começar a me explicar? – falei, e ele assentiu, com a mesma expressão séria de sempre.


Mas a pergunta que não quer calar é: O que eu iria dizer?


Opção A: Então, ‘né? Que loucura... Nada a ver que eu iria te stalkear assim na cara dura...


Opção B: Desculpe aí. Foi engano. Eu gosto de um outro garoto, mega parecido contigo. Eu às vezes me confundo enquanto o persigo por aí. Nada pessoal não.


Opção C: Não sei o que dizer.


Todas as três, com seu quê especial de estupidez. E me perguntem qual eu escolhi?

- Não sei o que dizer...


Vi a expressão perdida do menino à minha frente, provavelmente pensando que caralhos eu tinha ido fazer ali se não ia explicar por que o perseguia por aí. Diferente do que pensei que ele faria, ele apenas bateu no galho de madeira, em um espaço vazio ao seu lado, enunciando:

- Senta aqui comigo, Jongin.


A forma pela qual chamou me nome fez até o último fio de cabelo da minha cabeça se arrepiar, enquanto eu me levantava meio aos tropeços, confuso e ansioso por pela primeira vez chegar perto dele sem ser machucando-o.


Ledo engano.

A primeira coisa que fiz após apoiar ambos os braços no grande galho, a fim de subir na árvore, foi calcular errado o impulso de que precisaria para realizar a tarefa de subir naquela árvore.


Isso que dá dormir nas aulas de física.


Quase pulei por cima do galho com a força que empreguei na escalada, e sem querer meu cotovelo foi de encontro à testa de KyungSoo. Soltei um grito assustado, ao que senti aquele choque desconfortável que se sente ao esbarrar o cotovelo em superfícies muito duras, no caso, a testa do pobre rapaz. Quase fomos os dois ao chão, não fosse pela força de KyungSoo em se equilibrar, segurando meu ombro firmemente.


Quando consegui me estabilizar sentado muito perto do menor, - devo comemorar - fitei a testa com aquela marquinha vermelha, incomensuravelmente arrependido do que fizera. Num momento de impulso, levei a mão esquerda até o local, acariciando de leve, e enunciando um “me desculpe” baixinho. Quando senti a respiração de KyungSoo perto de meu rosto que fui perceber em que tipo de situação realmente estávamos. Sentados naquela árvore onde tantas vezes eu o presenciara lendo seus amados livros. Ele estava ali do meu lado... Sua pálida mão ainda pousada no meu ombro, provavelmente preocupado de que eu pudesse cair, e minha mão displicentemente tocando sua testa.


Neste momento nossos olhos se conectaram. Os meus, arregalados pela oportunidade de contato incomum. Eu queria muito recolher a mão, pois estava constrangido demais para dizer qualquer coisa, mas a pele debaixo de meus dedos era tão macia e afável que não pude me mover.


Suas orbes negras e brilhantes estavam bem concentradas em mim, como se pela primeira vez na vida tivesse me notado. Eu podia notar como elas passeavam pelo meu rosto, curiosas. Engoli em seco, quando meus próprios olhos captaram aquela suave beleza novamente. Fitei as sobrancelhas grossas, diferentemente das outras vezes, não franzidas. Além disso, demorei-me nos lábios, meio comprimidos em uma linha reta, que não chegava a mascarar o formato curioso e bonito dos lábios. Parecia que ele estava nervoso.


Meu coração batia tão alto que tive medo que ele pudesse ouvir.


Permanecemos naquele silêncio cheio de palavras não ditas, enquanto lentamente minha mão deixava de tocar a testa alva, ao mesmo tempo que sua mão abandonava meu ombro. Só uma coisa não nos deixou... O olhar que trocávamos.


Neste momento, senti a necessidade de me explicar, mesmo que isso fosse estragar tudo.

- E-eu... Aquele e-mail... Eu não sei como... – as palavras estavam engasgadas na minha garganta.


- Eu sei quem está por trás disso.


Ele desviou o olhar, fitando o pátio ali distante. De onde estávamos sentados, dava pra visualizar bem o local. Kyung apontou com o dedo um aluno que andava de um lado para o outro, como barata tonta, parecendo em busca de algo.


- BaekHyun? – questionei, confuso.


O menor assentiu com um sorriso.


- Esse idiota inventou tudo isso. Com certeza não tinha nada melhor para fazer e deu um jeito de importunar a vida alheia. É o que ele faz de melhor.


Fitei o semblante divertido de KyungSoo perguntando-me se ele achava que tudo não passava de uma invenção de BaekHyun. Afinal, naquele e-mail que trocamos eu praticamente entreguei que sim, eu o observava diariamente, escondido nas sombras.


- E o-o que pretende fazer? – cocei a nuca, decidido a tentar disfarçar minha culpa real diante da situação.


O menor esfregou as mãos de uma forma engraçadinha – tudo nele é lindo – e me dirigiu um sorriso arteiro.


- Ele vai ter o que merece. Vamos deixar ele achar que se safou, por enquanto.

Concordei com a cabeça, sem deixar de notar a forma com a qual os fios de cabelo negros de KyungSoo se despenteavam com o vento, mas voltavam a seus devidos lugares logo em seguida.


- K-KyungSoo, sobre aquelas mensagens... Sobre o que perguntou ao ChanYeol...


Ele se virou pra mim, colocando as mãos nos bolsos do moletom preto, assumindo uma expressão mais serena.


- Eu não odeio você. – falei decidido. Se eu não era capaz de me confessar, que pelo menos ele ficasse ciente que eu não carregava nenhum sentimento adverso a si.

- Que bom. Isso me deixa feliz. Quer dizer que agora podemos continuar conversando por e-mail.


Estudei os traços de seu rosto, tendo a certeza de que ele queria ter dito algo mais, que não teve coragem de dizer.


- Só por e-mail? – sem querer, esbanjei um pequeno beicinho, para o qual ele riu, divertido.


- Claro que não... Na verdade, eu sempre quis ser seu amigo. Porém, nunca tive a oportunidade de me aproximar.


Me sinto mal por você, KyungSoo... Pois eu não tinha a menor intenção de ser só seu amigo.



***

“Os de mistério são os melhores! Não sei como consegue ter medo de lê-los!”

Penguin.


Sorri para a tela do notebook, em seguida olhando ao redor, como se alguém pudesse flagrar aquele sorriso bobo adornando meus lábios. Já eram três da manhã e KyungSoo e eu ainda estávamos mandando e-mails um ao outro. Parecia ser um cúmulo, perder minhas preciosas horas de sono conversando... Pois não se enganem, não há pessoa no mundo que ame mais o ato de dormir, puxar um ronco, cochilar, nanar, entrar em coma, tirar uma pestana, do que eu. Mas como do outro lado daquele monitor estava meu amado KyungSoo, até mesmo umas das minhas funções de sobrevivência básica perdia a importância.



“Sou medroso para tudo. Não saber o que está acontecendo me deixa ansioso... Sem falar que os finais inesperados quase me matam do coração”.

Bear.

“Então você não podia assistir nem “Scooby doo” quando era criança... Lol.”

Penguin.


“Você tá’ brincando? Eu morria de medo desse desenho. Prefiro livros e filmes de aventura”.

Bear.


“Hilário, senhor Kim Jongin... “

Penguin.


“Mas sabe... Você deveria mesmo tentar. Tenho certeza de que se ler algum, vai se apaixonar...”.

Bear.


“Apaixonar é uma palavra muito forte, e muito difícil também.”

Penguin.


Mordi o lábio inferior. Estávamos conversando há alguns dias e já tínhamos adquirido bastante afinidade e confiança. Trocar e-mails com meu hyung era uma das coisas que mais me fazia feliz nos últimos tempos. Falávamos de absolutamente tudo! Era como conhecer alguém disposto a ouvir tudo que você tem a dizer e mais... Ter essa pessoa se esforçando para conhecer mais de você.


KyungSoo e eu não tínhamos muito em comum. Mas isso era mesmo um problema? Na minha concepção, isso era algo a mais em nossa estranha amizade. Nunca faltava assunto e ele me travava muito bem. A cada dia me apaixonava mais por sua gentileza, senso de humor e beleza.


“De fato, meu caro Watson...”

Bear.


“Como pode saber tanto sobre isso?”

Penguin.


Eu conseguia visualizar muito bem sua expressão irônica ao escrever estas palavras. Ele estava brincando.


“Acredite... Eu sei...”

Bear.


Corei ao reler minha mensagem. Nos últimos dias eu tinha criado coragem suficiente para disparar algumas indiretas, mas KyungSoo ou não as pegava, ou as ignorava. Naquele seu jeito KyungSoo de ser.


“Hum, senhor Kim está apaixonado?”

Penguin.


Meu coração palpitou forte ao ler a indagação implícita naquele e-mail. Digitei antes que a coragem me faltasse:

“Talvez... Conhece o sentimento?”

Bear.


Mergulhei o rosto no travesseiro, me enfiando embaixo do edredom, com medo de ver a resposta que ele me enviaria. O som do aparelho me acordou de meus devaneios, enquanto me sentava afobado na cama, corando violentamente enquanto lia o e-mail do menor.


“Talvez...”

Penguin.


Se eu não estivesse acordado escondido, teria saído dançando no meio do quarto, tamanha era minha surpresa diante daquela simples palavra.


KyungSoo sabia que eu gostava mesmo dele?

Será que ele gostava de mim?


Abracei meu travesseiro, sorrindo como um idiota, ao que a mensagem seguinte me chamou a atenção.


“Está tarde. Devíamos ir dormir, por que amanhã tem aula”.

Penguin.


Assenti para mim mesmo, olhando para o relógio na escrivaninha. Era melhor mesmo, antes que eu me empolgasse e acabasse estragando tudo com uma declaração de amor via e-mail.


“Certamente, meu caro... Tenha bons sonhos”.

Bear.


“Você também, mister Holmes...”

Penguin.


Eu com certeza teria bons sonhos, ainda mais se eles envolvessem um certo rapaz de cabelos negros.



***

Segundo as investigações minuciosas de Kyung, o que ocorrera conosco teve a participação de ChanYeol, mesmo que ele fosse inocente, e decidimos não castiga-lo quanto a isso. O rapaz alvo me dissera que seu amigo pediu meu e-mail para o Yoda, e fez uma brincadeira conosco, mandando um e-mail de Kyung para mim, como para me acusar de algo que não era verdade.


Não totalmente verdade, mas o Soo não precisava saber disso, não é mesmo?

KyungSoo e eu havíamos bolado um plano pra matar BaekHyun do coração. Primeiramente, eu disse a ChanYeol que estava conversando com um tal Penguin, para que ele repassasse a informação a Baek.


Desde esse momento, Baek grudou em seu amigo feito carrapato e me lançava uns olhares carregados de desespero. Era tão divertido vê-lo sofrendo. Ele merecia tudo que estava vindo para ele.


KyungSoo, por outro lado, decidiu que fugiria do melhor amigo, para deixa-lo tão desesperado, que o mesmo ia acabar se entregando, o que culminaria em um castigo bem do mal para o baixinho. Eu não fazia a menor ideia de que tipo de punição aguardava BaekHyun quando ele enfim fosse pego na mentira, mas não gostava nem mesmo de imaginar a cena.


Com o passar dos dias, Baek começou a agir ainda mais estranho, querendo acompanhar Kyung onde quer que ele fosse, receoso de que pudéssemos acabar nos encontrando, justamente como Kyung disse que aconteceria. O Soo passou a perturbá-lo, dizendo-lhe coisas sugestivas e suas próprias ações o entregavam.


- E então falei sobre a assinatura muito estranha que eu supostamente havia feito para uma loja de cosméticos online... Você tinha que ver... Ele estava hiperventilando. – Kyung sorria, em seguida comendo a batatinha frita da porção que dividíamos.


Repousei o queixo em meu punho, analisando a pose divertida de KyungSoo, imitando o amigo.


- Não acha que já está bom de brincadeiras não? – peguei um pedaço de frango frito.


- Nunca me sentirei satisfeito... – comentou – Ele merece muito mais. Te acusando de algo assim, quando você é claramente inocente. – o modo como seus olhos se estreitaram, me fez gelar no mesmo instante.


Que expressão facial era aquela? Ele estava brincando comigo?


KyungSoo era, como vim a descobrir com a convivência, muito observador e divertido, de modo que eu permanecia sempre alerta, receando que ele descobrisse minha paixonite aguda por ele de uma forma que eu não estivesse planejando. Olhando para aqueles olhos desafiadores, pude perceber que havia muito mais naquelas orbes profundas, do que ele estava mostrando. Ele ficava tão bonito usando aquela camiseta do “um anel”, que eu lhe dera após receber de si uma camiseta preta com a imagem do cachimbo de Sherlock Holmes. Eu sentia que compartilhávamos algo muito mais profundo do que a amizade, e apesar do medo que eu sentia de ser descoberto, mesmo assim a ideia de sairmos daquele chove não molha, me parecia bem atrativa de vez em quando.


Esse era um daqueles nossos encontros não nomeados no meio da tarde, no qual dois garotos meio nerds se encontravam para comer coisas que não faziam bem à saúde. Apesar da minha popularidade – na minha opinião, sem muito sentido – eu era um cara até bem normal, não muito inclinado ao tipo de coisas que fazem a cabeça de gente jovem feito eu. E Kyung, apesar e bonito e educado, não costumava dar muita atenção a esse tipo de coisa, por isso agia tão normalmente ao meu redor, outra característica sua que me encantava. Eu estava pra lá de caído por ele, isso era inegável.


- Hum. – foi tudo que fui capaz de enunciar.


Ele aproximou o tronco, me fitando do lado oposto da pequena mesa redonda na qual dividíamos as porções, me fitando divertido.


- O que é Jongin-ah? Não é inocente?


- Talvez...


- Talvez sim, ou talvez não? – um sorriso maroto brincava nos cantos de seus lábios e aquilo só fazia crescer em mim um desejo louco de tomar sua boca na minha.


- T-talvez não...


Começamos a rir baixinho, parando aos poucos, enquanto nosso olhar se encontrava. Os risos lentamente se tornando um pequeno sorriso dirigido ao outro, suspirando quase que ao mesmo tempo.


Não sei o que deu em mim, pra ter tido tanta coragem. Talvez tenha sido a forma como a brisa beijava os cabelos negros que tanto me enfeitiçavam. Talvez aquele sorriso sereno, implicitamente me dizendo que estava tudo bem eu dizer o que há tanto vinha sentindo. Essas coisas me levaram a fazer o que fiz...


- Talvez eu goste de você. – quando percebi, já tinha saído. E apesar de a ideia de ser rejeitado sem ter terminado meu frango me assustar, imediatamente senti um alívio se apossar de minha mente. Eu enfim havia me declarado, após anos de amor platônico não correspondido.


Tentei decifrar aquele sorriso sereno que não esmoreceu nem por um minuto. O que significava?


- Talvez eu também goste de você... – ele tornou, encontrando minha mão encima do tampo da mesa, me despertando do choque que levei.


O toque de seus dedos pequenos em minhas mãos enviando impulsos nervosos ao meu coração. Eu não podia acreditar naquilo.


Do. KyungSoo. Também. Gostava. De. Mim!


Ah, chupa essa, sociedade!


Um sorriso certamente assustador se apossou de minha face, tirando pequenas gargalhadas do menor.


- Suas mãos estão frias. Está nervoso? – aquele sorrisinho brincalhão em seu lábios fez meu coração em frangalhos.


- I-Isso... É sério mesmo? Você gosta de mim?


- Por que duvida tanto?


- Sei lá. É meio inacreditável. – me levantei, afobado, apontando com o indicador para ele – Ei! Tem certeza disso? Depois não adianta se arrepender... Não reembolsamos.


Ele se pôs a gargalhar, implorando que eu voltasse a me sentar pois as pessoas estavam me julgando com os olhos.


- Tenho. Talvez, eu já goste de você há algum tempo.


Sorri.


- Talvez eu já goste de você há muito tempo também.


Voltei a me sentar, louco pra gritar a melhor frase para aquele momento...


O SENPAI ME NOTOU!


Porém, levando em conta que o temperamento do Soo não era dos melhores, me reservei a gritar internamente, como o bom idiota que eu era.


Envolvi sua mão com a minha novamente, antes de ouvir uma voz feminina me chamando.


- Oppa! Que surpresa você aqui! – era JanDi.


Meu Deus! Eu fiz pole dance na cruz, não pode. O que essa menina queria ali?

Olhei para ela por cima do ombro, e então para KyungSoo.


- O que faz por essas bandas? – ela questionou, puxando uma cadeira, sem permissão mesmo, e sentando ao meu lado.


KyungSoo torceu a expressão. Ele não gostava muito de gente, quem dirá gente como ela.


- O hyung mora por aqui. – me limitei a dizer, afastando minha cadeira da dela, bem de fininho.


Ela fitou KyungSoo, meio confusa, provavelmente não tinha ideia de quem era ele.

- Oi. – gesticulou, expondo as unhas vermelhas e bem feitas.


- KyungSoo. Prazer. – ele a completou.


Ela olhou para nós dois, antes de prosseguir com uma cara não muito boa.


- Estudam juntos? – Kyung suspirou baixinho. JanDi era da turma dele.


Cocei a nuca, momentaneamente envergonhado de conhece-la.


- Estamos em um encontro. – falei, querendo dar um fim àquela história de uma vez por todas.


Ela engoliu em seco, buscando em minhas feições algo que pudesse indicar ser aquilo uma brincadeira. Quando fitou o menor novamente, viu que o mesmo mantinha-se sério, como se corroborasse comigo.


- Isso... É sério?


Ele assentiu.


- Mas oppa... Você não era ...?


Meneei a cabeça de um lado para o outro.


- Não. – fui resoluto. Ela pareceu muito envergonhada.


- Mas, você e eu...


- É passado. – tornei.


- Mas, ele é gar...


- Não importa. – foi KyungSoo quem falou, cruzando os braços, com aquela expressão carrancuda.


Ela soltou uma risadinha desconfortável, tão ansiosa para sumir dali quanto eu estava para ver-me livre dela. Apesar de inconveniente, ela se desculpou por atrapalhar e partiu dali rapidinho, meio atordoada pela notícia.


Voltamos a conversar, mas o humor de Kyung não estava mais o mesmo. Ele ficou o caminho de volta todo meio triste e até deixamos de lado nossa confissão, ao nos despedirmos com um aceno e um tímido beijo na bochecha.


Eu estava realmente surpreso comigo mesmo. Mesmo antigamente tendo tido receio de que soubessem que eu gostava de um menino, quando confrontado sobre isso, não me senti nem um pouco desconfortável em dizer em alto e bom tom que estava com um garoto.


Eu estava com KyungSoo.


Pude então perceber, que o amor nos muda. Nos faz alcançar a força que desejamos obter... Nos completa. E o que eu mais queria naquele momento, era que KyungSoo soubesse o quanto eu o amava e o quanto estava disposto a sacrificar por ele, se fosse necessário.


***

Decidido a conversar seriamente com meu hyung no dia seguinte, o chamei até a biblioteca na última aula. Aquele era seu recanto de paz, e eu sabia que mesmo ele tendo sido super fofo, havia algo o incomodando. Eu não podia deixar as coisas como estavam então simplesmente resolvi resolver a questão de uma vez por todas.


Kyung encontrou comigo na porta, enfiando as mãos nos bolsos do moletom, enquanto fitava o chão. Não parecia ter ninguém naquela biblioteca abandonada, portanto, vi a oportunidade perfeita para resolvermos tudo. Entramos, e de pronto percebi o quão abatido estava o seu rosto. Eu não queria vê-lo assim.


- Bem. Sei que é estranho eu ter te chamado aqui, mas não quero que haja nenhum mal entendido entre nós... – eu disse, vendo como sua expressão facial estava séria - Não era minha intenção que aquela garota arruinasse nosso encontro.


Os olhos do Soo enfim encontraram os meus, tristonhos.


Após assentir para mim, ele disse:

- Não foi sua culpa. Eu entendo que é bem popular.


Não era essa a reação que eu queria. Ele não estava sendo sincero. Era sua honestidade que me fazia sempre tão apaixonado por ele. Suspirei com pesar, me aproximando e tirando sua mão esquerda do bolso da blusa, tomando-a na minha, num carinho terno.


- Ei. Se entende, então por que ficou tão zangado? – falei, acariciando as costas de sua mão com meu polegar, vendo o menino por quem era louco me olhando concentrado.


Meu garoto dos cabelos negros meneou a cabeça, como se pedisse que eu ignorasse o que quer que fosse. Porém, eu não tinha a menor intenção de deixar as coisas assim. Precisávamos conversar, para que pudéssemos seguir em frente.


- Soo. Fale comigo. Prometemos que levaríamos as coisas devagar e que seríamos sinceros incondicionalmente. Eu não quero que haja uma sombra entre nós. Eu quero ver o seu verdadeiro eu.


Kyung enfim pareceu convencido. Me esboçou um lindo sorriso de coração, enquanto desviava o olhar, claramente envergonhado.


- Eu. Só fiquei com ciúmes... Quando vejo alguém dando em cima de você, me sinto um ninguém. Como se a minha presença não fizesse diferença alguma.


Então era isso? Ele estava apenas inseguro. Eu consideraria aquilo como algo insignificante, caso não tivesse passado por uma situação semelhante pouco tempo atrás. Eu precisava deixar bem claro para meu crush de dois longos anos que no coração desse moreno, só ele tinha morada. Sorri, achando fofo o biquinho involuntário que ele formou naqueles lábios maravilhosos.


- E é um dos motivos pelos quais te chamei aqui. Sei que prometemos ir devagar e estamos nos conhecendo. Mas o que começou agora pra você tem sido verdade pra mim há muito mais tempo do que gostaria de admitir.

Seus olhos me fitaram introspectivos.


- Eu gosto de você, hyung. E tive muita sorte de seu amigo ser tão inconsequente. De outra forma, eu teria ficado só te olhando de longe para sempre.


O sorriso maroto que recebi em resposta só reafirmou em meu coração a certeza de que queria ver aquele sorriso dirigido a mim pelo resto da vida – de preferência – e saber que também era amado da mesma forma. Kyung explicou novamente que minha timidez era muito fofa e que nunca imaginaria que o cara que ele acreditava ter algum tipo de problema com ele, iria acabar confessando seu amor por si.


- Pois é. Se não fosse o babaca do Baek, eu ainda acharia que você me odiava. – ele observou, brincando com meus dedos.


- Por incrível que pareça, ele foi extremamente útil sabe? Devíamos lhe presentear com uma caixa de bis – completei, feliz de ver aquele sorriso lindo em seus lábios. No fundo do meu ser eu já sabia que estávamos bem novamente.


- Aquele lá vai ter o que merece para aprender a não fuçar nas coisas alheias. – de novo, a promessa de vingança deixou seus lábios, enquanto ele curvava a cabeça levemente, provavelmente arquitetando como faria...


Ás vezes eu tenho medo dele...


- Mas, esquece um pouco dele. Quero falar de nós...


KyungSoo me fitou, com seus olhos brilhantes, bem concentrados em mim.


- Eu gosto muito de você, e não quero te ver assim de novo. Você é o único que me importa. E por isso quero te promover. – falei, estufando o peito, orgulhoso.


- Promover?


- Sim. De amigo-por-quem-sou-caidinho, para namorado. - cocei a nuca, por um momento bem envergonhado.


Eu queria que as coisas fossem oficiais entre nós, afinal, tive dois anos para pensar e fantasiar sobre como seria nosso namoro quando finalmente pudesse chama-lo de namorado. Só a ideia já me deixava eufórico.


O sorriso que ele me dirigiu quando ouviu tais palavras, foi a coisa mais linda e brilhante que eu já em toda a minha vida. Sei que havia prometido que não atropelaria as coisas, mas tudo que eu queria naquele momento era beijar aqueles lábios. Sentir seus braços em torno de mim e aspirar o cheiro dos seus cabelos. Nunca antes havia me sentido assim. Quando me dei conta, já estava deslizando minha trêmula mão pela lateral de seu rosto, sentindo como a pele estava quente sob meu toque. Seus olhos me fitavam em expectativa e os vi se arregalarem ligeiramente quando fechei meus olhos, aproximando meu rosto de sua respiração descompassada, pouco antes de tomar seus lábios nos meus, num selar aconchegante. Minhas mãos foram para seus ombros, enquanto sentia seu corpo, antes estático, se aproximando enquanto inclinava um pouco a cabeça. Assim que concedeu permissão, aprofundei o beijo, sentindo seus ombros se agitarem numa tremedeira que eu conhecia bem.


Ambos estávamos nervosos, mas isso não impediu que seus braços de me envolverem a cintura, como a tanto tempo eu sonhara.


Ao nos separarmos, senti suas mãos acariciando meus cabelos. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo. Me permiti sorrir para ele, com o coração transbordando unicórnios coloridos, bem como Chan dizia se sentir toda vez que via BaekHyun. Só o baixinho espoleta não parecia notar o quanto meu amigo Spock era caidinho por ele, na conotação romântica da coisa.


Vi Soo ficar nas pontinhas dos pés e então sussurrar no meu ouvido:


- Talvez eu queira ser seu namorado. Há muito tempo, inclusive.


Sorri vitorioso. Eu não precisava de mais nada naquele momento. Só queria sair dançando e cantando “what a wonderful world” pelos corredores da escola, performando meu próprio número musical, como naqueles filmes americanos dos anos 70.


Entrelacei meus dedos aos seus, sorrindo. Decidi que sairíamos dali para comemorar aquela data especial, mas Kyung teve que voltar para seção de autoria feminina, em busca de um livro que sua professora pedira. Até então, eu não notara nada de estranho naquelas prateleiras empoeiradas. Eu disse até então, porque do nada, o armário foi ao chão com um baque enorme, revelando um Baek atrapalhado e um ChanYeol confuso, em meio a tantos livros.


Vi um sorriso macabro adornar o rosto angelical do meu agora namorado, enquanto ele se curvava, para a figura desesperada de BaekHyun. Meu namorado estava prestes a ter sua vingança, e ah... Ele faria questão de se vingar do amigo.

Fiz uma nota mental de nunca irritar meu namorado. Não que eu estivesse com medo... Era só por garantia. Nunca se sabe.


- Ora, ora, ora. – Soo falou, enquanto recolhia alguns livros do chão, ao que a bibliotecária entrava no vestíbulo, horrorizada pela bagunça que o tagarela havia feito.


- Vai organizar tudo de volta, senhor Byun! – ela gritou, se abanando com seu leque afoitamente.


Acho que a última preocupação de Baek seria a biblioteca, pois o sorriso de KyungSoo para ele só demonstrava que algo ruim estava prestes a acontecer.



***

Com a passagem dos dias, tornou-se menos divertido ver Baek sendo o escravo pessoal de meu namorado. Diferentemente de mim, que me cansava fácil das coisas, KyungSoo sentia um prazer imenso em torturar o amigo, mesmo que secretamente fosse grato por seu amigo ter enviado aquele e-mail por ele me acusando e por seu intermédio, ter nos juntado.


No meio de toda essa confusão, Chan também pareceu ter se dado bem na história. Segundo ele, o relacionamento deles evoluiu, e estavam atualmente namorando. Assim que o castigo indeterminado de Baek acabasse, poderíamos todos sair em casais e fazer aqueles programas de fim de semana clichês que eu sempre quis fazer.


E olha, que fiz questão de organizar todo tipo de clichê em torno de meu relacionamento, que pude imaginar. Kyung e eu andamos de bondinho, enquanto segurávamos as mãos, pedalamos em volta do rio com aquelas bicicletas duplas, – que inclusive eram mais difíceis do que pareciam para andar – Tiramos selcas românticas naquelas máquinas de foto de shopping, presenteamos um ao outro com ursinhos condizentes a nossos apelidos. Tudo ao que tínhamos direito.


Se não for pra namorar e esbanjar minha felicidade por aí, eu nem quero...


Também, como todos os adolescentes, passamos pelos momentos turbulentos da relação, como eu me apresentando formalmente aos pais do Kyung, e sendo ameaçado pela também clichê frase: “Quais são as suas intenções com nosso filho?”. Ele também não ficou atrás, tendo que presenciar a surpresa de meus pais ao verem um garoto ao invés de uma garota, sentado comigo no sofá cor de vinho da minha mãe, num silêncio gutural, até que minha irmã insuportável exclamou:

- Eu sempre soube que tu era gay, Kai!


A risadinha de meus pais não foi menos escandalosa que a de Kyung, que logo virou coleguinha de minha irmã, unindo-se a ela para me alfinetar nas horas vagas.


Além de termos de prestar contas a nossos progenitores, passamos por momentos embaraçosos, como quando decidimos, após a formatura – outro clichê, porque sim – perder a virgindade juntos. Nem preciso dizer que foi um desastre.


Nenhum dos dois sabia bulhufas do que estava fazendo. Nossa pesquisa se resumindo à leituras de fanfics e mangás escritos para fujoshis de plantão. No fim das contas, foi tudo muito desengonçado, com nós dois rindo da cara um do outro quando sem querer bati com a testa na alheia, enquanto tentava abrir o zíper da calça do Soo. Me lembro bem de como eu tremia, e como fiquei surpreso por perceber que Kyung estava mais confiante que eu.


- V-você... Fala sério... Já fez isso antes, confessa. – falei, assoprando uma mecha de cabelo da frente de meus olhos, enquanto corria as mãos pelo seu corpo. A boca de meu hyung ocupada maculando meu pescoço.


- Você está louco? Claro que não. Está insinuando o que? Olha que te bato hein... – ele riu baixinho, enquanto eu cobria seu corpo com o meu.


Juntei as mãos em um pedido de desculpas.


- Olha que uns tapinhas seriam legais.


Ele sorriu.


- Hum, então você é desses?


- Talvez... – desviei os olhos, sapeca.


Eu amava a forma descontraída e livre como nos tratávamos. Era como se pudéssemos confiar um no outro incondicionalmente.



E apesar de inexperientes naquilo, nos amamos na minha cama de casal, entre risos divertidos, toda vez que quase caíamos da cama, ou quando Kyung me apertava muito forte, ou quando eu mordia sua pele e recebia uns tapas. Nada na terra poderia se comparar à sensação do toque dele em minha pele, ou a textura de seu corpo nas pontas de meus dígitos, quente e enlouquecedora. Além disso, quando finalmente alcançamos o prazer juntos, naquela noite, eu tive a certeza de que KyungSoo era o homem pra mim. Pra sempre. Eu sabia, só de olhar para nossos smokings, pendurados na porta de meu guarda-roupas, lado a lado, como tinha que ser. Pode soar muito clichê, mas era assim que eu me sentia e como ainda me sinto.


***

Olhei para o carvalho, à luz do fim de tarde, naquela cidadezinha do interior, suspirando profundamente. Memórias de minha juventude vindo à tona, como um filme.


Me sentei, arrumando meus cabelos castanhos, penteados num belo topete, admirando o cenário de tantos momentos com meu hyung, meu crush...

Meu garoto dos cabelos negros.


- O que faz aí? – fitei a figura bonita se aproximando, com aquele mesmo sorriso que me acompanhava por tantos anos.


Sorri de volta, observando-o se aproximar, e sentar entre minhas pernas, repousando a cabeça em meu peito.


- Relembrando coisas.


- Se o senhor Byun nos pega aqui, ele nos mata. – sussurrou, brincando com meus dedos.


Ri baixinho.


- Não acredito que o Baek virou professor aqui. É um absurdo.


- O que ele estará ensinando a essas pobres crianças? – Kyung completou, acompanhando minha gargalhada.


Suspiramos após cessarem as risadas.


- Como a vida surpreende, não? – ele comentou. Assenti, beijando a parte de trás de sua cabeça.


- Quem diria que estaríamos sentados abaixo do velho carvalho? – completei – Namorando como na adolescência.


Ele se virou, esboçando meu precioso sorriso de coração.


- Parece muito com um daqueles clichês.


- Naqueles em que seu amigo tagarela lhe pede uma carona por que o marido está viajando e depois enrola uma hora para lançar notas aos alunos?


- Esse mesmo. – ele sorriu.


Quais eram as chances de uma brincadeirinha de um adolescente idiota juntar duas pessoas para sempre?


Lhes apresento o poder da internet, e da falta do que fazer...


Mas internamente, minhas preces eram sempre as mesmas.


Que BaekHyun esteja sempre entre nós, amém...


Até por que, querendo ou não, ele me proporcionou a maior alegria da vida.


- Talvez eu ame esse clichê. – KyungSoo se aconchegou entre meus braços, enquanto eu o envolvia em um caloroso abraço. Ao longe, o portão dos alunos sendo fechado. Já passara da hora de Baek sair pra irmos embora.


Mas eu não ligava. Aquele momento era perfeito.


- Talvez eu ame muito você. – repliquei, sorrindo para o pôr do sol, em tons alaranjados e levemente roxos.


- Não mais que eu. O meu “talvez” é maior... – ele inflou as bochechas. Não importava quantos anos o passassem, ele só ficava mais lindo.


- Duvido. – gracejei, fazendo-lhe cócegas.


Ficamos rindo, até que uma companhia indesejada se pronunciou:


- Nossa, chega de grude, vamos logo embora que estou exausto. – Baek disse, carregando múltiplas pastas e passando por nós carrancudo. Detalhe: usando um moletom de piu piu ridículo que seu marido dera pra ele.


Mereço mesmo. Quero mudar minha prece... Baek só sabe atrapalhar.


Levantei a contra gosto, deixando o supracitado carvalho para trás, segurando firmemente a mão de meu marido, e revirando os olhos para a impaciência de BaekHyun.


Com a birra de BaekHyun sendo abafada pelo som do rádio do carro, dei um selinho em KyungSoo, enquanto partíamos com o veículo. BaekHyun continuou falando mais alto que a Sia, reclamando da molecada e dos horários loucos de ChanYeol na empresa, enquanto eu mantinha meus olhos na rua.


- E não falei da coordenadora ainda... Aquela lá é uma bruaca...


- Amor, talvez devêssemos jogar BaekHyun do carro em movimento. – Kyung o interrompeu, sorrindo de lado.


Baek fez cara feia.


- Hum, talvez devêssemos matar e esconder o corpo. – completei, rindo de Baek olhando debochado no banco de trás.


- Já entendi. Já calei. Ninguém me compreende, poxa.


Esse não tinha jeito mesmo. Aumentei o som do rádio e seguimos viagem.



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9 de Julio de 2020 a las 20:15 0 Reporte Insertar Seguir historia
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