Aos nove anos, Perséfone acreditava que nada seria capaz de separá-la de sua amada mãe, Deméter, que fazia de tudo para que sua filha fosse feliz e saudável.
Aos dezesseis, ela possuía vários pretendentes, mas nenhum deles era bom o suficiente aos olhos de sua mãe: desde Hermes a Ares, todos tiveram suas chances negadas. Para a deusa da primavera, ações como essas passavam despercebidas.
Aos dezoito anos, corria entre os campos roubando flores e brincando com as ninfas, seu passatempo predileto.
Para a sua surpresa, um deus a observava de longe, pensando que estivesse bem escondido. Aquela não havia sido a primeira vez, muito menos seria a última. Todos os dias, o deus do Submundo passeava pelo local procurando por Perséfone desesperadamente.
Sua inocência a fazia crer que não havia nada de errado, já que Hades não seria capaz de se aproximar sem provocar a fúria de sua irmã. Contudo, por mais que ele tentasse, não conseguia esquecer o doce sorriso e gentileza de Perséfone… a garota estava enlouquecendo-o.
Um dia, passados anos observando-a de longe, saiu de seus aposentos decidido: Perséfone seria sua, apenas sua e de mais ninguém mais. Assim, naquela mesma tarde, colocou sua armadura e dirigiu-se à sua carruagem, chegando ao seu destino sem demora.
Como se fosse uma previsão do que estava prestes a acontecer, relâmpagos tomavam conta do céu escurecido pelas nuvens, fazendo inundar campos com a chuva. Cada passo do deus do Submundo fazia murchar as flores do campo sob seus pés conforme aproximava-se de Perséfone, que, assustada, tentou escapar correndo através do bosque mesmo com o temporal que dificultava o trajeto.
Isso não foi capaz de impedir Hades, tão pouco o suplicar nos olhos da garota.
— Não irei machucá-la — prometeu, aproximando-se e acariciando sua bochecha com os dedos. — Sua beleza estonteante me fez perder o sono.
— Jamais foi minha intenção, senhor — com medo, abaixou a cabeça para evitar encarar as orbes escuras feito o céu à noite. — Por favor, deixe-me.
— Não lhe farei mal algum, apenas peço que venha comigo até o meu palácio.
Negou com a cabeça por seguir fielmente às ordens de sua mãe, que não permitiam que deixasse o bosque; sua casa, onde nasceu e cresceu, onde passou os dias mais felizes de sua vida.
— Espero que um dia possa me perdoar — o homem sussurrou, e então passou os braços em volta de sua cintura num aperto firme, carregando-a junto consigo de volta para a carruagem.
Os gritos de Perséfone nunca foram esquecidos, e ninfas iriam comentar sobre o rapto durante séculos. Deméter adoeceu, desamparada e sem esperanças de que um dia iria reencontrar sua filha. Porém, por um milagre, foi capaz de descobrir que ela era mantida cativa no Submundo.
— Papai, por favor! Não pertenço a este lugar… leve-me embora — suplicava a Zeus, seu pai, a jovem deusa.
— Perséfone, não há nada que eu possa fazer! Comer aquela fruta foi um erro, agora irá pagar por ele — Zeus, que nunca havia sido misericordioso, referia-se à romã que Hades coagiu Perséfone a comer enquanto em seu domínio — Cá está minha sentença: ficará seis meses no submundo e seis meses no bosque, assim terá tempo suficiente para repensar seus atos imprudentes.
Estúpido e desprovido de compaixão, Zeus jamais fora um exemplo de paternidade. Em sua concepção distorcida da realidade, a culpa decaía sobre a filha, que teria provocado Hades. Sendo assim, Perséfone teria de sofrer as consequências por sua promiscuidade.
Os seis meses de sua estadia no Submundo trouxeram as estações do outono e inverno, onde a natureza morria e dava lugar ao frio congelante. Já os seis meses que passava no bosque caracterizavam a primavera e o verão, as estações mais amadas por Deméter onde voltavam a florescer os campos e o clima tornava a ser ameno.
Fadada a seguir essa rotina até o fim dos tempos, Perséfone desejava uma intervenção simples e justa que faria mudar seu destino. Infelizmente, tal intervenção demorou séculos para se firmar, estando muito distante do que se esperava. Os deuses caíram e o mundo foi tomado por humanos, seres irresponsáveis e cheios de ódio.
Humanos… ah, os humanos…
✲
“A reencarnação pode ser definida como a ação de encarnar-se sucessivas vezes, ou seja, derivada do conceito aceito por doutrinas religiosas e filosóficas de que na morte física a alma não entra num estágio final, mas volta ao ciclo de renascimentos”
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