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“A presença ítalo-brasileira na cidade de São Paulo é, de fato, o grande tema deste livro. [...] O autor tematiza cenas da vida cotidiana paulistana na década de 1920, dedicando especial atenção às contribuições que este novo personagem trouxe para a fisionomia urbana e para a vida social em São Paulo.”


Clásicos Todo público.

#classicos #literatura #brazil
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Parte I

À memória de

LEMMO LEMMI (VOLTOLINO)

e ao triunfo dos novos mamalucos.


ALFREDO MÁRIO GUASTINI

VICENTE RAO

ANTÔNIO AUGUSTO COVELLO

PAULO MENOTTI DEL PICCHIA

NICOLAU NASO

FLAMINIO FÁVERO

VICTOR BRECHERET

ANITA MALFATTI

MÁRIO GRACIOTTI

CONDE FRANCISCO MATARAZZO JÚNIOR

FRANCISCO PATI

SUD MENUCCI

FRANCISCO MIGNONE

MENOTTI SAINATTI

HERIBALDO SICILIANO

TERESA DI MARZO

BIANCO SPARTACO GAMBINI

ITALO HUGO


SAN VINCENZO È L'VLTIMA COLONIA DE' PORTOGHESI: E PERCHE È IN VN PAESE LONTANISSIMO, VI SI SOGLIONO CONDENNARE QUEI, CHE IN PORTOGALLO HANNO MERITATO LA GALERA, Ò COSE TALI.

GIOVANNI BOTERO.


Le relatione

universali. In Brescia. 1595.


ESTA É A PÁTRIA DOS NOSSOS DESCENDENTES

CONDE FRANCISCO MATARAZZO.


Discurso de saudação ao Dr. Washington Luís.

São Paulo. 1926

ARTIGO DE FUNDO

Assim como quem nasce homem de bem deve ter a fronte altiva, quem nasce jornal deve ter artigo de fundo. A fachada explica o resto.

Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram

notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.

Brás, Bexiga e Barra Funda é o órgão dos ítalo-brasileiros de São Paulo.

Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas xingaram de tristes: as três raças tristes.

A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de "mostrar suas vergonhas". A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta se enamoraram das moças "bem gentis" daquela, que tinham cabelos "mui pretos, compridos pelas espadoas".

E nasceram os primeiros mamalucos.

A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente. Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, munibandas, macumas.

E nasceram os segundos mamalucos.

E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil. O colosso começou a rolar.

Então os transatlânticos trouxeram da Europa outras raças aventureiras. Entre elas uma alegre que pisou na terra paulista cantando e na terra brotou e se alastrou como aquela planta também imigrante que há duzentos anos veio fundar a riqueza brasileira.

Do consórcio da gente imigrante com o ambiente, do consórcio da gente imigrante com a indígena nasceram os novos mamalucos.

Nasceram os intalianinhos.

O Gaetaninho. A Carmela.

Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes.

E o colosso continuou rolando.

No começo a arrogância indígena perguntou meio zangada:


Carcamano pé-de-chumbo

Calcanhar de frigideira

Quem te deu a confiança

De casar com brasileira?


O pé-de-chumbo poderia responder tirando o cachimbo da boca e cuspindo de lado: A brasileira, per Bacco!

Mas não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se. Prosperou.

E o negro violeiro cantou assim:


Italiano grita

Brasileiro fala

Viva o Brasil

E a bandeira da Itália!


Brás, Bexiga e Barra Funda, como membro da livre imprensa que é, tenta fixar tão somente alguns aspectos da vida trabalhadeira, íntima e quotidiana desses novos mestiços nacionais e nacionalistas. É um jornal. Mais nada. Notícia. Só. Não tem partido nem ideal. Não comenta. Não discute. Não aprofunda.

Principalmente não aprofunda. Em suas colunas não se encontra uma única linha de doutrina. Tudo são fatos diversos. Acontecimentos de crônica urbana. Episódios de rua. O aspecto étnico-social dessa novíssima raça de gigantes encontrará amanhã o seu historiador. E será então analisado e pesado num livro.


Brás, Bexiga e Barra Funda não é um livro.


Inscrevendo em sua coluna de honra os nomes de alguns ítalo-brasileiros ilustres este jornal rende uma homenagem à força e às virtudes da nova fornada mamaluca. São nomes de literatos, jornalistas, cientistas, políticos, esportistas, artistas e industriais. Todos eles figuram entre os que impulsionam e nobilitam neste momento a vida espiritual e material de São Paulo.


Brás, Bexiga e Barra Funda não é uma sátira.

30 de Junio de 2020 a las 13:48 0 Reporte Insertar Seguir historia
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