“Hospital… Hospital…”.
A palavra ecoava em sua mente, desde que recebeu a ligação. Por isso um turbilhão de emoções o tomava, mas continha-se. Avisou à secretária que não retornaria, entrou no elevador e logo chegou à garagem. Os faroletes da caminhonete piscaram quando o alarme foi desligado no controle remoto. O rapaz entrou na caminhonete e deu partida, de imediato, o motor rugiu como uma fera faminta, e, em seguida, ronronou, aguardando o próximo comando.
Abaixo do capô, peças artesanalmente confeccionadas e bem reguladas, que geravam 800 cavalos de potência. O rapaz pisou na embreagem e engatou a transmissão, pisou o pedal do acelerador e, sobre o capô, o blower abria e fechava as entradas, acompanhando a aceleração, empurrando o ar para baixo e aumentando a queima de combustível. Abaixou a alavanca do freio-de-mão, enquanto soltava o pedal da embreagem, e a energia era transferida para as rodas, fazendo com que o veículo se movimentasse.
Saiu da cobertura da garagem e ganhou as ruas nubladas e chuvosas, mas de trânsito tranquilo para o horário das 20 horas. Contudo sua preocupação naquele instante era chegar ao seu objetivo.
“Meu Deus, e agora? O que fazer?”
Mesmo que, meses atrás, tivesse se preparado mentalmente para a situação, agora, que o momento chegara, sentia certo temor pelo futuro. Guiava calmo pelas alamedas, com o barulho do motor demonstrando impetuosidade.
“Como chegou a tudo isso?”, pensou ao parar em um semáforo com a luz vermelha.
Ali, como um lampejo, a sua mente voltou alguns verões, mostrando-lhe toda a história, tão cristalina quanto os pingos d’água que caíam sobre o para-brisa…
—|—
ARCO 1: APRENDIZADO
—|—
Anos antes…
Como era final de ano letivo, véspera de provas, a escola estava lotada. Estava na hora do intervalo e, como de costume, os alunos rumavam para a lanchonete. Não diferente, o rapaz serviu-se e sentou-se em uma das mesas, próximo às janelas, onde espaços vazios sobravam.
De um lado, a refeição; do outro, a revista automotiva aberta. Era apaixonado por carros e suas inovações tecnológicas, sendo assim, sempre que possível, mantinha contato com o tema. Lia? Não! Devorava livros e artigos que mencionassem qualquer coisa sobre o assunto. Era o que fazia naquele momento, quando algo rolou no chão ao seu lado. Aquilo, de coloração clara, chamou sua atenção. Ele suspendeu a leitura sentindo o toque em seu tênis. Abaixou-se procurando o que seria, quando a encontrou, amarelada, atrás de seu pé:
— Uma laranja, disse, segurando-a.
Então o pedido:
— Pode me devolver?
O tom de voz era agradável, ele virou-se para a direção de onde vinha. Ali viu a garota em pé, num vestido azulado e com sandálias marrons. O rosto mostrava singela beleza e ela possuía bom porte físico. O cabelo claro, um pouco bagunçado, contrastava com a postura e o olhar firmes. A jovem aguardava que ele a obedecesse.
— Uma fruta que se move sozinha… — Analisou. — Aonde chegaremos com tanta tecnologia?
A garota sorriu e ele também.
— Escapou-me, nada mais — ela disse, com candura.
— É claro. — Sorriu, devolvendo-lhe a laranja.
— Obrigada!
Pensou que talvez fosse esse o contato mais direto que tivera com uma garota durante todo o tempo em que cursou o 2º grau. Bem, ao menos com uma que chamasse sua atenção. Ficou tão impressionado com o acontecido que se esqueceu de se apresentar, e quando se deu conta, ela já lanchava numa mesa um pouco distante. Por isso animou-se.
“Quem sabe será um ano diferente?”
Gracias por leer!
Podemos mantener a Inkspired gratis al mostrar publicidad a nuestras visitas. Por favor, apóyanos poniendo en “lista blanca” o desactivando tu AdBlocker (bloqueador de publicidad).
Después de hacerlo, por favor recarga el sitio web para continuar utilizando Inkspired normalmente.