Esse capítulo se passa antes de Katsumi e Kirsten se conhecerem.
Kirsten, uma ômega, vai "sair do armário" para sua mamãe beta, Lucrécia.
Espero que gostem!
OBS: Kirsten trabalha como alquimista para o rei (o alfa William Maximova) e Lucrécia é a costureira real.
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Kirsten estava suando frio.
Após alguns anos do término de sua adolescência, finalmente falaria abertamente com sua mãe, Lucrécia, sobre sua preferência sexual. Lucrécia era uma mulher bondosa e compreensiva, criou Kirsten com muito amor e competência mesmo sendo viúva, mas isso não deixava a ômega menos insegura.
Sua mãe ainda era uma beta comum vinda de um círculo familiar inteiramente beta, e habituada a conviver apenas com relacionamentos heterossexuais ao seu redor. Logo, mesmo que ela dissesse entender que sua filha, por ser uma mulher ômega, priorizaria alfas acima do gênero, não encurtava a grande distância entre o que era dito e o visto.
A ruiva encarou longamente a xícara de chá sobre a mesa de centro, esperando a cor vermelha da garra-de-dragão - uma flor comum nos jardins do castelo - fazer efeito na água quente.
Por fim, Lucrécia retornou do banheiro após seu banho demorado. Seus cabelos loiros estavam
úmidos e soltos e ela trajava sua camisola habitual. A rotina de mãe e filha consistia após longas jornadas de trabalho durante o dia no castelo e, após o jantar, estavam liberadas para voltar à sua ala e ter seus momentos de rotina - tais como higiene pessoal - antes de dormir.
— Ah, o chá está com um cheiro ótimo! - Lucrécia exclamou, sentando confortavelmente no sofá à frente da poltrona em que a filha estava sentada.
Pegou sua xícara, começando a bebericar o líquido ainda quente, mas interrompeu seu ato ao ver o olhar pensativo de Kirsten, perdido no nada.
— Querida? Seu chá vai esfriar.
— S-sim! Desculpe, eu... - Kirsten voltou a realidade, apressando-se em começar a beber de sua xícara.
— Teve um dia cheio, não? - Lucrécia sorriu amavelmente, afagando o joelho da mais nova.
— É, hm, mais ou menos. Acho que andei exigindo mais da minha mente do que o normal hoje. - a Helewise mais nova sorriu sem graça, tentando achar a melhor oportunidade para chegar ao ponto que queria com sua progenitora.
— Não me admira que William esteja cheio de elogios para você durante o jantar, ultimamente. - Lucrécia provocou, com segundas intenções em seu tom.
— C-como assim? - Kirsten corou. Não era habituada a ouvir elogios sobre seu trabalho, normalmente.
— Ah, sabe como é. Ser a costureira real tem lá suas vantagens. - a beta deu de ombros e Kirsten logo soube que a mãe estava se referindo às fofocas na cozinha.
— Claro, esqueci disso. - Kirsten riu sem graça.
— E bem, eu ainda não entendo completamente sobre todo esse negócio de alfas e ômegas, embora eu esteja cercada por eles e até trabalhe para eles! - Lucrécia começou, com um tom mesclado entre espanto e admiração. - Meu marido e minha filha são ômegas, mas enfim, o que quero dizer é... Ômegas se atraem por alfas, não?
Kirsten ergueu seus olhos do chá para encarar os azuis da mãe. Se bem a conhecia, já podia prever o que a Helewise mais velha diria, e boa coisa que não era.
— Sim, geralmente.
— Pois diga, minha filha... - Lucrécia olhou aos arredores do cômodo, como se procurasse as palavras certas para dizer o que queria. - Você, como ômega... Não se interessa por William, que é um alfa?
Bingo.
Ao mesmo tempo que agradeceu por sua própria mãe ter abordado o assunto que queria chegar desde o princípio, amaldiçoou mentalmente por não ser nem de longe da forma que desejava.
— Então, minha mãe... Era sobre isso que eu queria falar com a senhora hoje a noite.
— Ah, então eu sabia! Você tem uma paixão secreta por William, não tem? A intuição de uma mãe está sempre cert-
Antes que Lucrécia continuasse com seu tom orgulhoso, Kirsten pôs sua xícara sobre a mesa e pôs ambas as mãos nos joelhos da mãe à sua frente, para interrompê-la. Após a cabeça baixa por alguns segundos e perguntas confusas da parte da costureira, a jovem alquimista ergueu os olhos azuis, lacrimejados.
— Eu... Não, mamãe. É impossível que eu me apaixone por William, ou por qualquer outro homem, mesmo que seja um alfa, porque... - ela não soube continuar.
Durante boa parte de sua vida nunca realmente havia se questionado a que tipos de alfas se
sentia atraída, até ter sua mestra de magia Simena Ghrun - e seu primeiro caso, coincidentemente. Ela não amava Simena, mas a apreciava e admirava, sentia-se atraída por ela. E mesmo depois de três anos, não podia evitar se sentir-se atraída por mulheres alfas, mesmo que não tenha tido outros casos além de Simena.
— Porque eu... Não gosto de homens. Não consigo.
A voz de Kirsten saiu com dificuldade enquanto ela engolia o choro, receosa pela reação de sua mãe. Eram apenas as duas no mundo, e Lucrécia mesma já disse explicitamente - como alguns minutos atrás - sobre não compreender os genes alfa e ômega em totalidade. E se sua mãe, que sempre fora um poço de compreensão e amor, não a compreendesse naquele momento mais
crucial, sobre algo imutável em sua vida?
Entretanto, todas as suas inseguranças foram pausadas ao sentir a mão gentil da mais velha sobre sua cabeça.
— Ah filha, sinto muito por ter tirado conclusões precipitadas. Acredito que a magoei supondo coisas entre você e William, não? - a voz da beta emanava calor maternal.
Kirsten soltou as lágrimas ainda mais, não evitando de abraçar o tronco da mãe com força enquanto soluçava.
— N-não, eu... Não magoou, mãe.
— Sei que magoei, olhe como você está soluçando... Eu confesso que já tinha minhas suspeitas, embora você nunca tenha realmente se apaixonado por alguém. Nunca a vi com ninguém, pelo menos.
Kirsten engoliu em seco, mas agradeceu à... ciência? Por sua mãe não saber sobre o caso que ela e Simena tiveram. Por ela, aquilo continuaria oculto para sempre.
— B-bom, eu não estou chorando pelo que a senhora disse. Eu só... Não esperava que... -
Kirsten se afastou, secando o rosto com as mãos.
— Diga-me, querida. Por quê eu me incomodaria por qual sexo minha filha se atrai se, sendo um ou uma alfa, poderei ter netos do mesmo jeito?
A expressão de Kirsten congelou por um momento.
E se ela se apaixonasse por uma mulher beta?
Sua mãe estava ok com tudo desde que fosse uma mulher alfa, logo ela poderia engravidar e ter uma família do modo convencional, sem precisar recorrer a adoção ou até mesmo alquimia, ao que parecia.
Suspirou profundamente e forjou o melhor sorriso que poderia para sua progenitora. Ela já havia tido sua vivência e, querendo ou não, tinha idade mais avançada que a sua, pedir para que entendesse possibilidades seria, talvez, demais.
— Sim, realmente, você está certa, minha mãe. - Kirsten balançou a cabeça, sorrindo em conformidade e sentando-se ao lado da mãe no sofá.
— Eu a amo, querida. Muito. Você me lembra tanto seu pai, mas tanto... - foi a vez do olhar de Lucrécia marejar, perdendo-se no canto da sala, onde havia uma mesa com um retrato de Kenneth com ela e uma Kirsten bebê. - Mesmo que você fizesse algo que fosse contra tudo que acho certo, eu não seria capaz de renegá-la.
O peso nos ombros de Kirsten cedeu e ela repousou a cabeça no ombro da Helewise mais velha sem mais receios, sentindo todo o amor maternal que a beta possuía por si transbordar pelo ambiente.
— Obrigada, mamãe.
— Sempre estarei aqui, meu amor. - Lucrécia sorriu, beijando o topo da cabeça da ruiva.
Gracias por leer!
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