luan_the_laun Luan Souza

Há incêndios que queimam, unicamente, por dentro. Outros, que o fazem, exclusivamente, por fora.


Cuento No para niños menores de 13.

#árvore #incêndio #relato #fogo #chamas #conto #oneshot #drama #crônica
Cuento corto
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I

Ontem, eu queimei mais uma árvore.


Não houve pena, remorso, flores ou choro. Não fiz questão em apreciar e, faria tudo novamente, se pudesse.

Pus-me ao banco de trás, ajeitei a janela de modo a estar entreaberta, acendi um Dunhill e fumei. Há cem metros de distância da pista, a árvore e o tabaco apostaram uma corrida à entropia. Pobres troncos, acometidos às chicotadas do tempo, queimaram de forma tão mais medíocre quanto em vida. O tabaco estava fadado a vencer.

E queimou por inteira, da amarfanhada base, aos encarquilhados troncos, às amarrotadas folhas de tonalidade oleosa. Quarenta e seis minutos, foi o suficiente. A oitava árvore, em três semanas, retornara ao pó. Mas, dessa vez... foi diferente.

Nenhuma alma deu-se, sequer, à tentativa de desvanecer as chamas. Nem os já exauridos bombeiros das três primeiras queimadas, nem os exasperados moradores das quatro últimas. Cinquenta e quatro carros, vinte e três motocicletas, doze caminhões, cinco ciclistas. Passaram todos, sem desacelerar. A primeira árvore, execrada ao silêncio, morta em soledade.

Exceto... por um, esse, de pés e torso pelado, de cristalino e encantado olhar, era um menino. Apareceu por volta do minuto vinte e sete, mantendo uma das mãos suspensas e, a outra, na boca, sendo mordida, babada e, resistindo à tentativa de não ser devorada. Não devia ter mais de oito anos.

Paralisou-se à beira de uma valeta, pouco mais de vinte metros da pista e, permaneceu, estático. Tempo suficiente passou até tornar-se claro, não estava absorto em devaneios ou idéias infantis. Estava atônito, aficionado na obra esculpida por Gaia e, finalizada por mim. Hipnotizado diante à madeira dando luz ao carvão, nas brasas em desespero... no morto-marrom renascendo através do vivo-vermelho. Estava em catarse.

Um leve transtorno me assolou os nervos e, me pus no direito de acender outro Dunhill. Esperei.

Um, dois, três, quatro minutos, ainda estático. Refleti se, talvez, devesse buzinar ou berrar o menino. Mas, não.

Seis minutos e, então, vindo de uma das casas à beira da pista, uma voz feminina. Gritou um nome inaudível à minha distância e, semelhante a um sopro no ouvido, o menino despertou. Parecia assustado, piscou várias vezes, observou o asfalto e, ainda em dúvida, permaneceu parado. Novamente, a voz, ainda inaudível para mim, mas não tanto para ele. Moveu o corpo para os lados, pondo-se a aterrissar de volta à realidade e, replicou: Já vou, mãe!

Antes de desaparecer à minha visão, enquanto corria à casa, o testemunhei, uma última vez, virando-se, ainda rápido na corrida, para apreciar os momentos finais entre ele e a árvore. Não sei se estava certo em considerar patético ou poético.


Exatas 21h43, foi quando tive a certeza de que nada viria salvar a árvore. As últimas raízes tornaram-se pó, o mesmo fim ao meu maço. Cinquenta e quatro carros, vinte e três motocicletas, doze caminhões, cinco ciclistas e... uma criança. Passei o dia pensando à respeito e, tomei uma decisão...


É a última árvore que queimo.

20 de Mayo de 2020 a las 01:41 0 Reporte Insertar Seguir historia
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Fin

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