Ela gostava-gostava de você. Ela sorria quando você chegava e inventava motivos para te abraçar. Ela caminhava ao seu lado e te refutava quando você dizia "sou burro e nunca vou tirar nota boa". Ela gostava-gostava de você e nem mesmo disfarçava o rubor nas bochechas toda vez que você estava perto, porque ela gostava-gostava de você. Ela te confessou que gostava-gostava de você, e você disse que "amor não é pra mim". Agora você a vê feliz, mas chora porque gosta-gosta dela.

Fiquei presa nessa tua hipnose. Nessa que nossa vida era perfeita desde que tivéssemos amor; que o perfume diferente que tinha no seu corpo era normal; que você chegar tarde em casa estava ok. Tudo podia ser consertado na conversa. Fiquei presa nessa tua hipnose de que quem ama perdoa tudo. Todavia, garoto, o amor deixa de ser amor quando se torna unilateral. Escapei da tua hipnose, rompendo as amarras desse relacionamento que só me destruiu. Escapei de você, garoto, e dessa tua hipnose.

'Se eu for embora, você vai me esperar?' 'Você não vai a lugar algum' 'Mas e se eu for?' 'Se você for, eu vou junto' 'E se você não puder ir?' 'Eu te espero' 'Promessa?' 'De mindinho' Ele esticou o dedo e entralaçou ao dedo do garoto deitado ao seu lado, o coração batia devagar como que para guardar a promessa bem fundo no peito. Alisou os cabelos cacheados escuros como a noite, um tocar de lábios selou a jura de amor.

Era fácil enxergar a alegria que brilhava nos olhos infantis, era mais fácil ainda entender o motivo. De mãos dadas andando pelo mercado, a criança falava alegremente sobre assuntos aleatórios com sua avó, que ouvia atentamente e sempre esboçava uma resposta. No coração leve de menina a felicidade tornou-se tangível, e ela planejava apenas jogar dominó no chão da sala da vovó enquanto ela costurava um fuxico. 'Vó, faz bolinho de chuva hoje?' Nada era mais gostoso do que aconchego na casa de vó.

Você perguntou a sua mãe como saberia que seu amor havia chegado, ela havia te dito que seu coração avisaria. Você não acreditou, mas agora se pegava sonhando acordado com aquele sorriso. O amor chegou para você, de sorriso solto e palavras bobas. O amor chegou para você e te pediu ajuda com matemática, você colocou a mão sobre o peito e sentiu o coração descompassado. Você soube que o amor chegou, como sua mãe havia te dito. Ass: seu anjo da guarda

Era sempre a mesma história: voltar da escola debaixo do Sol de fim de tarde enquanto saltava alegremente na rua. Eram momentos tão solenes e bobos que a mente infantil apenas guardava na memória para quando mais velha pudesse se recordar e sorrir. Colhia as florzinhas na calçada e montava um buquê, estendia para a mãe em felicidade genuína. Recebia um sorriso afável que brilhava no rosto adulto. Era sempre a mesma história e era bom que fosse assim.

'Eu tenho medo de não sair dessa..' Ajeitou-se no sofá e puxou o cobertor azul celeste até a altura de seu pescoço. 'Vai dar tudo certo.. cê vai ver' Ela o confortou como sempre fez. 'E se não der?' Podia ver que os olhos já marejados brilhavam em angústia. 'Se não der.. Eu vou estar aqui com você? tá?' 'É justamente por isso que tenho medo.. De você ficar só..' Ela afagou de leve a cabeça que continha apenas um esboço da linda coroa de cachos que antes caiam nos ombros. 'Jamais ficarei só.'

Sempre tive orgulho de você, de sua resiliência e sua força de vontade. De quando você chorava no banho e antes de dormir dizia a si mesmo "eu vou superar", porque eu sempre acreditei que você conseguiria. Então por que agora você perdeu as forças? Por que está deitado com o olhar vazio? Levante-se e lute como sempre fez! Continue sendo bravo como sempre foi! Não se permita esmorecer, mostre para si e para o mundo do que você é feito. Eu acredito em você, então, também acredite em si mesmo.

Dia dos namorados era o momento de levantar cedo, se arrumar e ir até a floricultura do bairro. Escolhia sempre o mesmo ramalhete de violas tricolores, a flor que representa a saudade e amor duradouro, perfeitas para a ocasião. Passou pelo campo aberto e bem cuidado, a grama sempre muito bem cuidada trazia uma beleza singular. A brisa bagunçava os poucos cabelos que ele ainda tinha, e que ela riria se visse. Abaixou-se e deixou as flores próximas a lápide. - Feliz dia dia dos namorados, amor.