— Isso é causo dele, muié! — Causo nada, aposto que é verdade… As donas de casas escutaram o barulho da lata de lixo caindo na rua, correram para suas respectivas casas ao verem o homem passar falando sozinho. Ele cumprimentou-as, sorridente, e entrou em sua própria casa solitária e silenciosa. As mulheres correram para seus “zaps” para terminarem a fofoca. “Por isso vive falando sozinho?” “Ele jura que é um soldado de um tal messias. E que tem um chip que manda mensagem na cabeça.” “Será, muié?

Sofria, aquilo nascia sem controle nenhum, queria paradigma, caiu em paradoxo. Um oxímoro indesejável. Consumia sem combustível, acabando tudo com nada. O controle em suas mãos tão ilusório quanto o conteúdo que jurava ver no prato. "Só mais um pouco, um pouco" o estômago gritava. Porém o cérebro só expulsava.

"Mas neve não cai pra cima?!" A criança indagava, vendo na tela a paisagem branca de algum país estrangeiro, as roupas frias das pessoas ali pareciam desconfortáveis. O adulto desligou a televisão e levou a criaturinha indignada para janela de vidro fechada, apontando plumas brancas que voavam com o vento de agosto, num chão tão branco quanto a TV. "Eu já disse meu amor, são painas, e não abre a janela!" Tarde demais, a casa foi invadida por plumas e risadas.

Foi comprar cigarros, e não voltou. E o isqueiro se perdeu, porque ninguém usava, era jogado de canto a canto, indesejado. "Mas ele nem fumava." O problema era que ele não lembrava.

Quando me disse que no meu singular não existe plurais, com aqueles doces fonemas, tudo que pude fazer foi sorrir. Pedi a conta, indo embora, e fingi, que eu sabia conjugar, concordando meu sujeito com você.

Pegou seu chapeuzinho, daqueles de papelão mesmo, ajustou a cordinha com diligência. Desgostou do que viu no espelho e quase jogou fora. Aí lembrou que nele dava para carregar docinhos, sorriu escondido e ignorou o elástico que embolava nos cabelos. "Mas podia mesmo ter sido chapéu da Tv Colosso... Barbie idiota." Olhou o crepom em cima da mesa, odiava bala de coco, mas gostava daquelas voltinhas coloridas no papel, ia pegar uns escondidos, mas um olhar zangado vigiava tudo ali. — Só na festa!

— Mas foi ela que me ensinou a voar! — Claro, querido!Mas nem por isso você precisa pintar o cabelo de azul.  A mão suada da mulher apertou a pequenina da criança e entraram no asilo. O amor naquele sorriso valeu todo dinheiro da tinta, a idosa abria os braços para um caloroso abraço sacudindo uma cabeleira também azulada. — Vó! ‘Cê nem acredita no golpe que...     — Shiu, vamos ali pegar o Piccolo!  O enfermeiro de roupa verde saiu correndo, podia jurar que velha era um super saiyajin mesmo.

— Vó! Vó! Me ensina a voar de novo? — Claro querido! A criança foi erguida do chão entre risadas. A luz pela janela refletia os cabelos grisalhos coloridos num tom roxo claro indefinido. — Mãe, já falei pra não usar meu xampu tonalizante! O Enzo não acredita mais que você é supersaiyajin! A velha mostrou a língua em tom de deboche e continuou a brincadeira.