—- "Vocês poderiam demonstrar se importar e se esforçarem pra chegar, sabe? Que nem vocês faziam antes..."
Seu coração gelou ao quase clicar no botão de enviar acidentalmente, e depois de um suspiro longo, a apagou.
"Está tudo bem, eu me acostumei a jantar sozinha."
E isso era verdade. Depois que seus pais mudaram de horário e Taro começara a sair e chegar tarde, Hanako passou a ficar mais sozinha depois da aula. Foi difícil no começo, claro, não podia mais contar sobre seu dia e as milhares de coisas legais que havia feito para seus pais e muito menos ouvi-los falar sobre os seus. E quanto a Taro? Nem pensar, a única conversa longa que teve com ele fora a um mês atrás, antes de acharem o corpo de Osana enterrado perto do clube de jardinagem.
Era sexta-feira, 22:00 horas, e fazia 15 minutos que a havia preparado a comida que mal havia tocado. A casa estava mergulhada num silêncio tão profundo que parecia estar prestes a explodir. O relógio podia ser ouvido da outra sala, exercendo seu único trabalho.Tick, tack, tick, tack, é torturante.
Hanako queria mais que tudo virar a mesa com um chute e destruir todas as janelas com aquele relógio só pra não ter que lembrar que seu irmãonãoestava lá como tinha prometido, que ele nunca mais iria voltar para casa exibindo seus dentes branquinhos com aquele sorriso enorme, que ele nunca mais iria lhe abraçar e dizer o quanto ela ficara pesada depois de seu aniversário.
Porque uma parte dele havia morrido com Osana.
Não estava na escola quando o corpo dela fora encontrado, mas ele sim, ele viu tudo.
O que sobrara da pele que lembrava ser macia e com cheiro morango agora estava verde e fedia demais. Os ossos dos braços estavam pra fora, e as pernas estavam quebradas ao meio. Era um mar de sangue e vermes, que estavam por todo seu corpo. A pior parte era o rosto, pálido, podre, horrível. Os olhos, que eram oque Taro mais gostava em Osana estavam tão revirados que só uma parte das pupilas eram visíveis. Os enormes cabelos ruivos estavam secos e sujos de terra, assim como o uniforme e suas mais amadas meias que não estavam tão fofas como antes. Saiam tantos germes de sua boca e narinas que nem os próprios policiais conseguiram ver por muito tempo. Aquela não era Osana, não era asuaOsana.
Quando chegou em casa, jurou que aquilo fora a pior coisa que já vira em toda a sua vida, e daria qualquer coisa para não ter visto.
Hanako estava prestes a realmente virar a mesa naquele relógio se não fosse o ranger da porta na sala de entrada. Ela, que estava quase caindo em cima do prato, imediatamente arrumou a postura e se ajeitou na cadeira. Sorriu, aliviada, Taro não havia feito nenhuma besteira e agora estava em casa, seguro, mas seu sorriso sumiu ao perceber que ele não veio sozinho.
— Hanako! - ele sorriu - Desculpe demorar, essa é a Ayano, minha namorada.
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