effyzztein Manuela

A humanidade de Clyde sempre fora algo bastante discutido entre os superiores da tripulação, contudo, ninguém jamais pensou que duraria tão pouco.


Horror Gothic horror For over 18 only.

#southpark #Dah2 #Desafio--Aprendi-Algo-Hoje #Cryde #craig-tucker #clyde-donovan #Phone-Destroyer #romance
Short tale
0
4.0k VIEWS
Completed
reading time
AA Share

whats the matter with your head?;

O clima estava frio naquela parte da nave, mais do que se lembrava que ela normalmente era.

Não um frio que te fazia envolver as laterais do corpo com os braços para se aquecer, ou que tremia seus dentes freneticamente um contra o outro dentro da boca, era algo mais leve, apesar de incômodo, uma friagem que tocava seu pescoço e arrepiava todos os seus pelos, deslizava para dentro da camisa e te fazia arquear as costas em desconforto, como uma mão esquelética, algo que ele não era capaz de sentir, mas detectar.

Temperaturas muito fortes não eram comuns numa espaçonave, todavia, isso não o chamou tanto a atenção.

Os pés mal faziam barulho quando tocavam o chão, talvez pela falta dos habituais sapatos pesados do uniforme e da maneira calma, sem nenhuma pressa, com que se movimentava pelo corredor deserto.

Pelos cantos dos olhos, sem interromper a caminhada, ele viu os grandes e pequenos astros reluzindo na janela que ocupava toda a parede do corredor, lentamente se movendo como uma bela paisagem distante, observando-o de volta, na mesma intensidade. O passatempo que mais o acalmava depois de uma estressante missão para fora da espaçonave era observar os planetas e meteoritos passeando por fora da janela, gloriosos e magníficos, aclarando tudo que havia em volta, cheios de mistérios não descobertos, cheios de vidas desconhecidas, cheios de tudo que ele sempre sonhou em explorar. Era ainda mais relaxante quando tinha o luxo de flutuar ao lado deles. Sem o capacete - porque ele não respirava, não era orgânico -, e podia observá-los como se estivesse de fato dentro de seus próprios sonhos fantasiosos.

Não seria surpreendente se ele decidisse simplesmente desistir de continuar andando apenas para satisfazer sua vontade de babar em cima do vidro, contudo, Craig era um homem focado, e pela primeira vez em muito tempo, ele desviou o olhar, mantendo-o firme em seu caminho, ignorando a luminosidade ao seu lado com uma indiferença que certamente ofenderia os planetas se estivessem realmente o encarando de volta.

Foi devido aos passos silenciosos que Clyde não moveu um músculo quando Craig adentrou o vestiário masculino. Ele estava de costas para a porta do local, sentado em um dos bancos de azulejo, com as costas bem inclinadas para a frente, mostrando as ondulações da espinha em suas extremidades. Diferente do Tucker, ele sim era orgânico. Tinha órgãos e músculos trabalhando por baixo da pele, oxigênio entrando e saindo dos pulmões, um coração bombardeando sangue, tudo funcionando para garantir-lhe vida.

Ele era um dos poucos humanos que ainda estavam vivos na tripulação.

Ele vestia apenas a bermuda que usava como pijama, e a toalha estava largada ao seu lado, provavelmente mal usada, já que a pele ainda estava úmida e o cabelo molhado pingando e grudando no pescoço. Os dedos pálidos da destra podiam ser vistos entre os fios do cabelo castanho, puxando-os como se estivesse contendo um impulso muito forte, contorcendo-se dentre eles, e o único som que podia ser ouvido no ambiente inteiro era sua respiração pesada.

Algo dentro de si dizia que ele estava assim há tempo demais, e Craig sentiu-se terrível.

— Clyde? - chamou-o, soando monótono, embora estivesse realmente preocupado.

Ele se perguntou se deveria ter tido uma entrada menos silenciosa quando viu o outro homem imediatamente levantar-se como se tivesse ouvido um grito bem ao lado da orelha. Clyde se virou para ele, no mesmo instante, com o rosto coberto de surpresa e terror, provavelmente esperando que fosse Kenneth pronto para lhe dar uma bronca por ficar tanto tempo num lugar vazio, mas se suavizou e deu espaço para um leve sorriso quando percebeu que estava com mais sorte do que nunca estivera.

— Ah, oi Craig… - Ele respondeu, com a voz muito mais vaga e morta do que a sua própria, o total oposto do que realmente era.

— Porque você não veio jantar? - perguntou, ainda parado no mesmo lugar, o observando de longe. Clyde hesitou um ponto antes de responder. Os dedos arranharam levemente o queixo em nervosismo, marcando-o.

— Eu estava sem fome.

— Você, sem fome? - brincou, mostrando uma falsa descrença, e o amigo dera uma suave risada.

— Vai se fuder - ele respondeu, e Craig moveu levemente um dos cantos da boca em um sorriso acolhedor.

Chegava a ser engraçado comparar o total de vezes que o homem expressava o mínimo de um sentimento de alegria com outras pessoas e o quanto expressava-as com Clyde.

Enquanto todos estavam habituados a vê-lo apático, centrado apenas completar seus objetivos e sendo curto e direto ao trocar palavras com alguém, sendo mais prestativo do que o restante de seus colegas de trabalho, ele era o total oposto ao lado dele. Ria com uma naturalidade que parecia não ser dele, falava com mais frequência do que com qualquer outro e era tão divertido que não parecia ser a mesma pessoa que intimidava metade da tripulação com seus olhares sombrios. Os sorrisos eram genuínos, puros, e a melhor parte era que todas essas ações eram totalmente naturais perto dele, e Craig nem mesmo as notava.

O silêncio prevaleceu por longos segundos quando Craig se sentou ao lado dele, expulsando aos poucos o clima confortável que se estabeleceu entre ambos e dando espaço a um terrível desconforto. O que ele deveria falar agora? Era Clyde quem sempre tirava aleatoriedades para discutir, Craig só o acompanhava e eventualmente fazia comentários, não o contrário, e mesmo que se conhecessem o suficiente para não terem momentos como aquele, ele se sentia perdido. Queria saber o que dizer para ajudar o amigo naquele estado, mas ao mesmo tempo, achava que se simplesmente não tocasse no assunto, ele ficaria bem. Se apenas ignorasse os olhares tortos, as piadas de mal gosto, o respeito sendo perdido, e a forma fria com que o capitão passou a tratá-lo desde então, tudo iria se resolver. O problema iria embora, evaporar, desaparecer, mas, é claro, é muito fácil falar do que realmente fazer.

Ligeiramente, Craig notou que ele parecia muito mais acabado de perto, para completar a semana incrível que estava tendo. Não cansado, exatamente, mas aflito, sobrecarregado, agoniado.

O peito subia e descia num ritmo incomum para alguém que não andava fazendo muitos exercícios físicos. Havia marcas e arranhões fundos sobre a pele exposta, tendo um número ainda maior na região do pescoço. As mãos não paravam de se mover nem por um segundo, uma hora alisando o braços, outra apenas estalando os dedos.

Havia algo muito errado acontecendo ali.

— Hey, eu acho que tenho algo aqui que você vai gostar - ele finalmente soltou, assim que concluiu que não aguentava mais permanecer daquela forma e pegando o primeiro assunto que lhe surgira em mente.

Ele sabia que não deveria estar andando com uma coisa tão preciosa como aquela nos bolsos, principalmente naquele horário, onde os robôs da limpeza eram acionados para escoltar todos os cantos da nave e revistar qualquer um que se encontrasse fora dos dormitórios, e sabia ainda mais que caso fosse pego mostrando aquilo para outra pessoa muito provavelmente terminaria com sua cabeça sendo colocada numa bandeja de ouro, mas, convenhamos, desde quando Craig se importava com alguma coisa?

— O que? - Clyde perguntou, com a curiosidade começando a ser instigada. Uma característica humana que permaneceu dentro dele mesmo depois de longos anos.

Craig deu um sorrisinho provocativo antes de tirar do bolso um aparelho retangular e estranhamente colorido. Pequeno o suficiente para caber no próprio bolso, mas que ainda ocupava a mão inteira. Haviam botões redondos nas laterais do objeto, e uma entrada minúscula e redonda ao lado esquerdo. Tentava associá-lo a qualquer objeto tecnológico que já tivesse visto passeando nas mãos de alguém, ou dentro da própria cabine de comando, e pensar também em alguma utilidade para aquela coisa estranha e aparentemente velha, mas o único pensamento que aparecia em sua mente era que aquilo definitivamente não deveria estar nas mãos deles.

— Craig, que negócio é esse? - ele perguntou, assim que percebeu que tirar suas próprias conclusões não seriam suficientes.

— Pra ser sincero, eu também não sei exatamente - admitiu - mas quando aperta aqui, ele começa a tocar músicas - pressionou o dedo indicador sobre um dos botões coloridos, e de fato, uma melodia estranha e envolvente preencheu o vestiário, ecoando entre as paredes - viu só?

“haail (haail), what's the matter with your head, yeah”

- Ah, espera, eu sei o que é isso... é um walkman! Eu não vejo um desses há anos, onde foi que você pegou?

— Só curte a música, cara.

“Hail (hail), what's the matter with your mind and your sign an-a, oh-oh-oh”

A música continuou tocando por aquele aparelho, lentamente o envolvendo e fazendo-o balançar a cabeça no ritmo dela, coisa que Craig já estava fazendo desde que ela começara as primeiras notas. A batida o lembrava vagamente das músicas que ouvia na Terra, quando ainda era jovem e pensava que o mundo era totalmente dele. Faziam-no querer dançar, se mexer da forma mais estranha que conseguisse, mas, em contraparte, ainda havia um vestígio dos sentimentos ruins que estavam o dominando antes de Craig chegar, e estranha sensação de agonia que esteve embrulhando-lhe o estômago.

Como se tivesse lido sua mente, o amigo em questão se levantou do seu lado num pulo, e de um segundo para outro já estava se movimentando num ritmo ridículo que definitivamente não era o mesmo que o da música no meio do cômodo.

A primeira vista, Clyde apenas conseguiu estranhar aquele comportamento. Craig não era tão divertido quanto ele estava demonstrando naquele momento ao ponto de dançar sem vergonha alguma, para falar a verdade, até hoje ele sempre duvidou que o homem fosse capaz de se divertir em uma atividade que não envolvesse tiros ou mortes, todavia, essa estranheza foi logo se dissipamdo quando concluiu que ele só estava fazendo aquilo para fazê-lo se sentir melhor - e conseguindo lindamente.

"Cause you're fun, and you're mine, and you look so divine. "

- Você está dançando tudo errado! - Clyde exclamou, o tom de voz ficando cada vez mais vivo. Tudo conforme o planejado.

- É exatamente assim que o capitão fez quando ninguém estava olhando - o outro retrucou, sem parar de se mexer.

- Isso é do capitão?!

Craig fechou os olhos, como se não tivesse o ouvido falar, e começou a dançar com muito mais entusiasmo que antes.

- "Come and get yooour loooove! ~"

Com isso, Clyde soltara a risada que esteve reprimindo por muito tempo dentro da garganta.

Ele esteve tentando o máximo evitar problemas nos últimos dias com muito mais esforço do que em todos os anos que serviu para aquela tripulação, porém, vendo o quanto Craig estava se esforçando, apenas por ele, Clyde começava a se perguntar se isso era mesmo o que ele queria fazer. Se divertir com a única pessoa que ainda acreditava nele depois do que aconteceu, aproveitar um dos raros momentos em que ninguém estava debochando de suas capacidades, ou, fugir de tudo e esperar agonizando pelo que ele sabia que viria?

- Você vai ficar parado aí, idiota? - Craig berrou, e realmente soaria ameaçador se não estivesse girando que nem um idiota enquanto a música ainda tocava. - Vem dançar!

" Come and get yooour loooove "

E não foi preciso mais nenhuma palavra para Clyde esquecer a briga interna que estava tendo e voar para o lado do melhor amigo, tão rápido quanto um piscar de olhos, e se mexer o máximo que podia.

Se qualquer outra pessoa entrasse naquele exato momento no vestiário masculino, da área sul, veria uma cena que jamais imaginaria o braço direito do capitão, o homem mais intimidante e assustador daquele lugar inteiro, se submetendo.

A música não era lá a melhor opção para se requebrar numa pista de dança imaginária, todavia, aquele momento continuava divertido, mesmo sem a melhor trilha sonora.

"Come and get your love"

Por minutos que pareciam uma eternidade - oque não era um problema -, Clyde esqueceu de tudo de ruim que estava acontecendo consigo. Sentiu-se novamente no tempo em que visitava karaokês de sua cidade natal e passava a tarde inteira cantando e balançando a cabeça loucamente junto aos amigos terráqueos. Sentiu-se melhor do que sequer imaginaria que iria se sentir desde o que acontecera, e tudo graças à Craig, o cara que supostamente botava medo em todo mundo da tripulação, e agora estava dançando como uma criança numa festa de aniversário.

Numa fração de segundos, no curto espaço de tempo em que os olhos azuis encontraram os castanhos, Craig dera o sorriso mais vivo que Clyde já vira em todos aqueles anos naquele rosto, e foi exatamente isso que o fez aproximar as bocas, num impulso tão rápido e repentino que não lhe dera tempo para raciocinar se aquilo deveria mesmo ser feito, e beijá-lo com, talvez, pressa demais.

Craig, apesar de surpreso, por sua vez, deslizou uma das mãos até o pescoço do humano e aproximou mais os corpos, ansiando pelo contato dele, e aprofundando o beijo que há tempos esteve sonhando em experimentar. A música foi lentamente diminuindo, até parar por completo.

O beijo era rápido e quente, possuindo todo o desejo de ambos que fora reprimido por tanto tempo. Honestamente, Craig não esperava que Clyde fosse retribuir seus sentimentos um dia, ou pelo menos, não enquanto ele insistia em agir como um predador no cio ao redor de uma robô de batalha de aparência feminina que não demonstrava muito interesse em nenhum tipo de ser vivo exceto pelos alvos que era designada à eliminar, mas agora, quando finalmente suas bocas estavam se completando no ritmo mais perfeito que já conseguira num beijo, ele não conseguia conter a enorme onda de êxtase que dominava seu corpo. Porra, ele queria mais, muito mais que isso.

Ele poderia até dizer que conseguia sentir seu coração batendo contra as costelas mecânicas. O coração que não tinha mais a obrigação de bombardear o sangue em suas veias, que não batia há décadas, talvez séculos.

Os braços de Clyde envolveram seu pescoço. O toque era firme e preciso, aproximava-o o máximo que podia. Ele se sentia flutuando, que nem quando observava os astros fora da nave.

Pena que não durou muito mais que vinte segundos.

O aperto em seus braços começou a ganhar uma firmeza incômoda, assim como todo o resto de seu corpo, o suficiente para lhe causar dor se fosse um humano igual à ele. Clyde o empurrou contra os armários, causando um baque tão alto que podia ser ouvido do lado de fora. No mesmo instante, o outro homem se despertou de seu estado sonhador e o encarou em completo choque, ainda não acreditando que aquilo havia acontecido num período tão curto de tempo.

- ...Clyde? - o chamou, recebendo o silêncio como resposta - Você está bem, cara? Eu fiz--

- Eu sou tão idiota - ele finalmente soltou, se afastando do homem. As feições novamente foram cobertas por pânico, e Craig se sentiu dez vezes mais confuso.

- O que...?

- Eu só tinha um dever, uma única obrigação... era tão simples e... mesmo assim... - ele abraçou os próprios braços tentando acalmar-se, se afastando cada vez mais de Craig, perdendo o foco da visão a cada passo que dava, sentia que estava prestes à desmaiar - eu não tive a capacidade de cumprir!

- Clyde... - ele o chamou, calmo demais para uma situação como aquela, se aproximando aos poucos do amigo com os braços estendidos na frente do corpo, enquanto tudo que o outro fazia era se afastar cada vez mais. Craig sabia exatamente o que fazer. Já havia lidado com seus momentos de pânico antes, principalmente nos primeiros anos de amizade, quando Clyde só tinha dezesseis anos e tinha ataques de pânico constantes só por lembrar que seu planeta estava morrendo - Me escuta, você precisa se acalmar, ok?

- Não! - ele gritou, retrucando. Craig jurou que qualquer um que passasse por perto daquele corredor poderia ouvi-los conversando ali dentro - Você não entende, eles vão me mandar de volta! Eu perdi o pouco do respeito que eu consegui ganhar aqui, cara, essa foi a minha última chance, eu vou voltar para a Terra!

- Clyde, você sabe que isso é impossível - ele respondeu, com toda paciência possível, não sabendo ao certo se tinha certeza de suas palavras, mas se esforçando para não piorar a situação que já estava muito crítica.

- Esses caras já fizeram tudo que eu considerei impossível e insano um dia como se fosse caminhar na porra de um parque, não fale essas coisas como se eu fosse um idiota, porque é exatamente isso que todo mundo vem fazendo depois daquela porra de... urgh! - ele gritou ainda mais alto, as lágrimas começavam a ameaçar cair de seus olhos, e já não olhava mais diretamente para Craig. Ele não fazia parte dos tolos que diziam "homens não choram, homens não sentem", mas ele sempre sentia o orgulho sendo ferido quando o fazia na frente de alguém.

Craig estremeceu da cabeça aos pés ao lembrar-se do que ele estava falando.

- Porra, aquilo era o básico que eu deveria saber... e eu não prestei atenção... Craig, aquilo era a porra do básico...

"Realizar missão o mais rápido possível. Evitar comunicar-se com outros tripulantes e manter o máximo de silêncio. Focar apenas no objetivo. Não se aproximar de lugares suspeitos. "

- Eu odiava aquela voz falando na minha cabeça todo dia, eu... não via motivo nenhum para repetirem aquela merda tantas vezes... quando todo mundo já parecia ter absorvido a mensagem... - ele corria os olhos para todos os lugares daquele vestiário, frustrado, perdido, confuso, assustado - eu mutei o aparelho sonoro, quando não tinha ninguém olhando... caralho, como eu sou um idiota!

- Olha, Clyde, é completamente normal você se irritar com aquela voz de atendente de telemarketing, até eu me...

- Não é "completamente normal"! - ele forçou as aspas com os dedos, e o encarou como se ele tivesse dito a coisa mais absurda que já tivesse ouvido em toda a sua vida - que porra, Craig, você tem noção do que isso me causou?

- Clyde...

- Aquela COISA poderia ter me matado!

Novamente, memórias que não queria lembrar piscaram em sua mente.

- Eu ainda sinto aquelas... patinhas... correndo em cima de mim...

Um flash piscou na frente de seus olhos. A vaga memória de Clyde se aproximando de algo semelhante à um ovo gigante, depois, outro flash, o ovo se abrindo lentamente num processo nojento e gosmento, revelando um interior completamente vazio.

- Aquela... coisa, se arrastando para dentro da minha boca, dentro da minha garganta...

Algo pulou para fora, Clyde gritou.

- Eu... não consigo parar de pensar nisso, nem por um segundo.

A criatura se prendendo em seu rosto, depois disso, tudo que se lembrava era o sentimento agonizante de desespero que dominou cada fibra de seu ser.

- Nem por um mísero--

- Clyde, já chega! - Craig bradou, tão alto quanto Clyde esteve fazendo nos últimos segundos, usando o mesmo tom de voz que usava para intimidar outras pessoas - Eles já tiraram esse bicho de dentro de você, você deveria se sentir grato por ter sido socorrido antes dele botar ovinhos no seu estômago! Ele está morto, você está salvo, você não precisa mais...

Mas Clyde não estava mais lhe ouvindo.

Uma dor indescritível atingiu seu estômago inexplicavelmente, não havendo nada o atravessando, ou que pudesse machucá-lo ao redor. A sensação inesperada o forçara a se agachar e contorcer o corpo, fazendo com que suas pernas perdessem o equilíbrio e o jogassem para frente, caindo sobre o vidro do divisor dos chuveiros e quebrando-o, causando o maior barulho que passara por aquele banheiro, e o fazendo ecoar para fora dele. Agora, era uma questão de tempo até alguém chegar para verificar a origem do barulho.

A única coisa que Craig conseguiu fazer foi permanecer estático, em choque, completamente perdido e sem ter ideia do que estava acontecendo, antes de se aproximar tão rápido quanto uma equipe de resgate, sem saber o que fazer para acabar com aquela dor do amigo. Os gritos de Clyde começaram a arrastar-se para fora de sua garganta. Gritos agoniados, estridentes, que se estendiam por mais tempo do que alguém era capaz de aguentar e lentamente se tornando em um guincho inumano, algo que atormentaria sua cabeça para o resto de sua vida.

Ele se debatia num ritmo frenético, os membros dobravam para direções que não deveriam dobrar, os olhos revirados, brancos como papel, enquanto um filete escuro de sangue escorria de seu nariz. Não, sangue não, sangue humano não era branco.

Craig foi se afastando, lentamente, embora tudo que mais quisesse no mundo era ficar e abraça-lo, ao perceber que não tinha mais nada a se fazer por ele.

Não, isso estava errado, a criatura tinha sido removida.

Da onde Craig parou, ele não podia mais ver o que estava acontecendo, a não ser a silhueta borrada que a longa parede de vidro separando a área dos chuveiros da dos o vestiário formava da forma bizarra com que os membros do amigo se contorciam e se batiam freneticamente.

Até que, simplesmente, parou, e então o alarme de alerta de perigo começou a apitar por todos os cantos da nave, piscando em vermelho e preto.

O que ele tinha feito de errado?

O silêncio aterrorizante dominaria o ambiente se não fosse pelo alarme irritante explodindo em seus ouvidos.

Craig se perguntou se aquilo significava que ele estava morto, e apenas o pensamento daquilo fez com que o peito se inundasse com o sentimento horrível de perda. O coração, que não existia mais, e estava batendo por um motivo totalmente diferente a apenas alguns minutos atrás, se apertou, e ele sentiu uma imensa vontade de chorar, por mais que não houvesse lágrimas para derrubar. Sua resposta veio logo em seguida.

Uma silhueta esguia se ergueu atrás da janela decorativa, fazendo com que uma sombra assustadora surgisse em sua frente. A cabeça possuia um formato longo, os membros eram esquiléticos e compridos, alto demais para denominar aquilo como um humano, o que continuava acreditando que era até a criatura avançar contra a janela e lançar todos cacos de vidro para cima de si.

Craig nunca temeu a morte em todos aqueles anos que viveu, afinal, ele poderia ser consertado facilmente caso saísse danificado de uma missão ou batalha. E se caso seu corpo não pudesse ser salvo, sem problemas, ele poderia ser inserido em outro corpo mecânico novinho em folha, mais resistente e velóz que o corpo interior. O que de fato o fez tremer de medo ali, não era a morte certa que o esperava, mas o fato de que Clyde agora estava morto, para sempre, e nenhum conserto, corpo, ou chip poderia trazê-lo de volta.

April 24, 2020, 1:10 a.m. 0 Report Embed Follow story
0
The End

Meet the author

Manuela nao sei escrever fodase

Comment something

Post!
No comments yet. Be the first to say something!
~