lara-one Lara One

Pode o amor superar as barreiras do Inferno? Mulder viajará em dimensões paralelas, num mundo medieval, entre a loucura e a dor, em busca de Scully. The Gold Coin conseguirá seu intento? O amor versus o ódio. Que vença o sentimento mais forte entre os homens.


Fanfiction Series/Doramas/Soap Operas Not for children under 13.

#x-files #sobrenatural #mulder #scully #x #378
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S07#01 - HELL - PARTE II

(Nota da autora: Aconselho a ouvir as músicas durante a leitura, basta clicar no link em cada uma delas.)


"Quem conhece a dor conhece tudo".

Dante Alighieri


"Põe-me como um selo sobre teu coração, como um selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte; o zelo do amor é tenaz como o inferno; as suas lâmpadas são lâmpadas de fogo e de chamas".

Cântico dos Cânticos 8:6


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

[Som: Denean - To the Children]

[Flash Back: Cena de Missing – Parte I – Segunda Temporada]

Mulder e Scully na cama. Ela lê a Bíblia. Ele, deitado com a cabeça no ventre dela.

SCULLY: - "Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor..."

Ele começa a rir. Ergue-se e deita no ombro dela.

MULDER: - Gosto dessa parte aqui... Onde está... Ah! "Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme".

SCULLY: - ... "De noite busquei em minha cama aquele a quem ama a minha alma..."

MULDER: - "Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não há mácula... Que belos são os teus amores, irmã minha! Oh, esposa minha! Quanto melhores são os teus amores do que o vinho! E o aroma dos teus bálsamos do que o de todas as especiarias..."

SCULLY: - (RINDO) "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que, se achardes o meu amado, lhe digais que estou enferma de amor".

MULDER: - (RINDO) "Favos de mel emanam dos teus lábios, ó minha esposa! Mel e leite estão debaixo de tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano"...

SCULLY: - "... Ele traz a bandeira entre os dez mil... As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como colinas de ervas aromáticas; os seus lábios são como lírios que gotejam mirra"...

MULDER: - (RINDO) "Os teus seios são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios"...

Mulder olha pra ela. Ela fecha a Bíblia e continua recitando de memória.

SCULLY: - "As suas mãos são como anéis de ouro... o seu ventre como alvo marfim... suas pernas como colunas de mármore... O seu falar é muitíssimo suave... Sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém"...

Mulder bate palmas. Ela ri. Coloca a Bíblia sobre a cômoda.

SCULLY: - Sabe quais as palavras mais lindas deste livro, Mulder? "Não acordeis, nem desperteis o meu amor, até que queira."

[Fade to black - Tela escura]

ECO DA VOZ DE SCULLY: - "Não acordeis, nem desperteis o meu amor, até que queira..."


📷


[Fade up - Tela abre]

[A música continua]

Penumbra. Mulder caído ao chão, desacordado. Ao lado dele, a espada.

MULDER (OFF): - Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não há mácula...

Mulder abre os olhos. Estende a mão e pega a espada. Levanta-se. Olha para o alto. Escuridão que não se detecta o fim. Mulder observa o lugar. Olha para o chão.

O chão coberto de rostos humanos, presos por uma camada fina de gelo, fisionomias de pavor e medo, imóveis.

Há uma porta de ouro no meio do nada, com uma tocha a cada lado da porta. Mulder corre na direção da porta. Passa a mão na porta que reflete sua imagem. Vê atrás de si dois pares de asas. Mulder olha para trás atordoado, sem ver nenhuma asa. Empurra a porta com as duas mãos. Entra em um corredor escuro, iluminado por tochas nas paredes. A porta se fecha atrás dele.

Mulder caminha rapidamente, angustiado. Aperta o passo, nervoso. Chega ao fim do corredor.

Paisagem vermelha, o chão parece coberto de centelhas de sangue. Céus e horizonte vermelho. Nada se detecta. Mulder dá o primeiro passo pisando no solo.

Corte.



📷


Quando Mulder pisa ao solo está em roupas medievais, numa armadura de cavaleiro. Mulder olha para seu corpo, sem entender nada.

[Som de cavalos]

Mulder olha para trás. A caverna desapareceu. Está no meio do deserto vermelho. Perdido, sem saber para onde ir, ele fecha os olhos.

MULDER (OFF): - Quem conhece a dor conhece tudo... Quem conhece a dor conhece tudo... Eu sei o caminho. Eu conheço a dor. Eu posso senti-la dentro de mim.

Mulder começa a correr.

MULDER: - (GRITANDO) Scully!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Residência dos Mulder – 6:11 P.M.

Close no jornal sobre a mesa de centro, com a foto de Mulder e Scully abaixo da manchete: "FBI abre inquérito para investigar ex-agentes desaparecidos".

Meg desce as escadas. Baba sai da cozinha levando uma caneca de café para Krycek, que está sentado no sofá, tenso.

MEG: - Ela dormiu, mas ainda está com febre. Está delirando, pobrezinha.

KRYCEK: - Delirando como? Victoria está dizendo alguma coisa?

MEG: - Coisas de criança.

KRYCEK: - Que coisas?

Batidas na porta. Baba abre a porta. Skinner entra com dois agentes.

MEG: -Nenhuma notícia?

SKINNER: - Lamento muito, senhora Scully.

KRYCEK: - Não vão encontrá-los. Logo depois que Mulder caiu, a terra se fechou sobre eles.

MEG: -(ENCHENDO OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Acha que estão mortos?

KRYCEK: - Depende do que considera morte. Eles atravessaram alguma dimensão entre a Terra e o inferno. Eu não acho que estão mortos.

SKINNER: - Há dois dias que os dois estão desaparecidos, sem nenhuma pista ou nenhuma informação. A única testemunha que temos é você e uma criança de cinco anos!

KRYCEK: -(INCRÉDULO) Não está dizendo que não acredita em mim?

Skinner aproxima-se de Krycek. Pega Krycek pela jaqueta, o encarando.

SKINNER: - Acho melhor começar a contar o que sabe.

KRYCEK: - Eu não acredito! Acha realmente que estou por trás disso? Pensa, aeroporto de mosquito! Se eu tivesse algo a ver com isso não teria trazido a menina pra vocês!

SKINNER: - Melhor abrir sua boca, porque não faço ideia do que está tramando. Numa situação dessas, aonde só você estava lá, eu realmente não sei mais o que pensar.

Skinner puxa as algemas.

KRYCEK: -(NERVOSO) Não pode me prender!

SKINNER: - Quer passar alguns dias algemado na minha varanda outra vez? Acho que está sentindo saudades dos velhos tempos!

KRYCEK: -(DESESPERADO) Skinner, você pirou! Não pode me prender! Eu não fiz nada, e aquelas coisas escuras estão atrás de mim! Eles vão me matar! Coin disse que me pegaria!

Skinner algema Krycek. Os agentes o levam pra fora. Krycek tenta se soltar e grita por ajuda.

MEG: - Isso é necessário, senhor Skinner?

BABA: - Meu Deus, mas até quando vão culpá-lo pelas coisas que fez no passado? Krycek não tem nada a ver com isso! Eu sinto isso!

SKINNER: - Eu preciso de provas, não de sensações.

Skinner sai. Baba olha pra Meg.

BABA: - E eu sinto que isso é apenas o começo... Melhor avisar a Barbara.

Corte.


[Som: Angels of Venice – Night Spirits]

Mulder caminha pelo deserto vermelho, a espada na cintura. Mantém o elmo debaixo do braço. Cansado, olha para o horizonte sem fim.

A nave triangular dourada flutua no ar, emitindo uma luz sobre a árvore de copa verde viva, contrastando com a paisagem vermelha. As luzes da nave, azuis e lilás, piscam em sequência.

Mulder se aproxima com medo. As luzes da nave param de piscar. Alguma coisa é descida pela luz. A nave parte tão rápido que deixa apenas um risco colorido de quebra de espaço-tempo.

Mulder olha para o chão. Percebe um lindo cavalo branco amarrado na árvore. Se aproxima com curiosidade. O cavalo relincha, assentindo a cabeça e raspando o chão árido com um dos cascos. Mulder passa a mão nele. Observa o longo pano branco debaixo da sela. Há o desenho de uma cruz toda em ouro, como um brasão. Mulder sorri, fazendo carinho no cavalo.

MULDER: - Você sabe aonde está minha Scully?

[Som de cascos de cavalos]

Mulder vira-se rapidamente. O cavaleiro com o elmo cobrindo-lhe a cabeça, sobre um cavalo branco, puxa as rédeas e o animal ergue-se nas patas traseiras. Ele segura na mão uma balança. Mulder olha para o pano branco debaixo da sela. Um brasão igual, com a cruz dourada.

CAVALEIRO DA JUSTIÇA: - Pelo juízo com que julgam serão julgados. Com a medida que medem serão medidos. Mataram pela espada, morrerão pela espada. Tomas a tua direção e não penses quando precisares usar a lâmina. Mas não a use contra o senhor deste reino. Sua cabeça pertence ao nosso Senhor.

O cavaleiro dispara com o cavalo, sumindo no nada. Mulder então coloca o pé no arreio, completamente desajeitado. Tenta subir, mas escorrega. O cavalo relincha. Mulder tenta de novo. Sobe no cavalo, que não reluta, sendo dócil.

MULDER: - Sabe pra onde vamos?

O cavalo dispara quase deixando Mulder cair.

MULDER: - (PÂNICO) Eu nunca andei a cavalo!!!!!!!!!!!!!!!

O cavalo continua correndo. Mulder firma as mãos nos arreios. Surpreende-se consigo mesmo.

[Acentuação da música]

Aos poucos, Mulder mantém-se firme sobre o cavalo e cavalga como um cavaleiro que domina a arte de equitação. O cavalo corre muito, deixando as longas crinas voarem. Mulder solta as mãos dos arreios e abre os braços. Fecha os olhos num sorriso.



📷


FBI – Sala de Interrogatórios – 8:13 P.M.

Krycek sentado na cadeira, olha para o copo plástico sobre a mesa. A lâmpada começa a piscar. Krycek se levanta, com medo. Bate na porta, diversas vezes, com as palmas das mãos.

KRYCEK: - (GRITA/ NERVOSO) Alguém aí!!!!!!!! Me ajude!!!!!!!!!!

O Agente do FBI abre a porta.

AGENTE: - O que está havendo?

KRYCEK: -(TENSO) Eles estão aqui! Eu sei que eles estão aqui! Vieram me pegar!

AGENTE: - (OLHA PELA SALA/ SORRI) Não tem ninguém aqui.

KRYCEK: - Você não pode vê-los! Mas eu sei que estão aqui. Eles não podem com a luz! Eles se escondem e nascem das sombras!

AGENTE: - (DEBOCHADO) Quem são eles? Vampiros? Quer que eu chame a Buffy?

KRYCEK: - Seu idiota! São aquelas coisas da Nova Ordem!

O Agente do FBI fecha a porta, rindo. Krycek passa as mãos nos cabelos. Torna a bater na porta, desesperado.

KRYCEK: -(ASSUSTADO) Seu desgraçado, não me deixe morrer aqui!!!!!! Eles estão aqui, vão tomar o meu corpo!!!!!!!

A luz continua piscando. Se apaga. Apenas a luz do poste da rua penetra através da pequena janela com grades. Krycek recua contra a porta.

KRYCEK: - (DESESPERADO/ AOS GRITOS) Skinner!!!!!!!!!! Me tire daqui!!!!!!!!!!!!!!!

Foco no chão, no canto escuro. A sombra escura começa a se mover pelo chão. Vai se expandindo e crescendo como uma bola orgânica negra, transparente como fumaça, com rachaduras que revelam uma substância vermelha pulsante e viva.

[Som de sussurros indecifráveis de vozes grotescas]

Olhos aterrorizados de Krycek, que faz o sinal da cruz.

A bola de sombra explode, soltando diversos demônios alados que voam pela sala.

KRYCEK: - (AOS GRITOS/ BATENDO NA PORTA) Socorro!!!!!!!!! Alguém me ajude!!!!!!!!!!!!!

Todos voam pra cima de Krycek, que se agacha, arrastando-se pra baixo da mesa, aos gritos de pavor. O Agente do FBI abre a porta. Os demônios voam pra cima dele. O primeiro o atinge, entrando rapidamente em seu peito, num soco. Os outros demônios voam de volta à sombra, desaparecendo no chão.

Krycek olha aterrorizado para o Agente, que tem os olhos fechados. Ele então abre a boca. Da sua boca sai uma leve e fina fumaça de energia, colorida como a aura, que voa pra fora da janela. O Agente abre os olhos. Respira fundo, num sorriso. Olha para a sala, como quem estava morto e agora ressuscita. Então percebe Krycek.

AGENTE: - Algum problema?

KRYCEK: - (APAVORADO) ...

AGENTE: - (SORRI) É muito bom respirar de novo e estar num corpo material...

O Agente sai fechando a porta. Krycek coloca os braços na frente do rosto, aos gritos.

Corte.


Mulder sobre o cavalo. Se aproxima do arco de entrada da aldeia. Abaixa-se para passar pelo arco. Puxa as rédeas. O cavalo para.

A praça principal de uma aldeia da idade média. Um poço. Carroças de feno. Porcos e galinhas circulam por ali. Uma bigorna e um martelo ao lado de uma fornalha revelando ser o estabelecimento do ferreiro.

Pilhas de moedas de ouro jogadas pelos cantos e espalhadas pelo chão. Alguns carneiros dormem sobre elas. O ouro é tanto que parece não servir pra nada.

Mulder observa a aldeia. Desce do cavalo. O trás pelas rédeas. Aproxima-se do poço. Olha para dentro, está vazio. Mulder suspira. Olha ao redor de si, nenhum movimento. Então vê Scully, em um vestido medieval de camponesa, alimentando os porcos. Mulder sorri apaixonado. Os cabelos ruivos dela, trançados e longos, lhe realçam as costas nuas.

MULDER: - Scully!!!!!!!!

Scully vira-se. Assustada, deixa os grãos caírem ao chão com a bacia de madeira. Segura o vestido e corre para uma das casas. Mulder não entende nada. Ela fecha a porta, com medo. Mulder bate. Ela abre uma fresta da porta, olhando pra ele com receio.

MULDER: - Scully?

SCULLY: - ... Não sou a dama que procuras, cavaleiro. Me chamais por um nome que não é o meu.

MULDER: - (SORRI) Scully, sou eu, o Mulder.

SCULLY: - Não vos conheço, senhor. Por favor, vá embora.

ANCIÃO: - Quem procuras, jovem cavaleiro?

Mulder vira-se. Olha para o velho que o fita. Atrás dele alguns camponeses e camponesas. Todas as camponesas têm o rosto de Scully. Mulder fica incrédulo, confuso e desatinado.

ANCIÃO: - O que quereis de nós, senhor?

MULDER: - Procuro uma mulher. Ela é... Esqueça.

ANCIÃO: - Temos muitas mulheres. São do seu agrado? Por algumas moedas poderão fazer-lhe feliz.

MULDER: - ... Onde estamos?

O ancião olha pros outros. Todos riem. Então olha pra Mulder.

ANCIÃO: - Não sabeis aonde estamos, cavaleiro? Quem sois vosso senhor? O que habita no castelo?

MULDER: - Eu não sei a quem se referem. Eu... Eu vim de longe.

ANCIÃO: - De quão longe, cavaleiro? A quem servis? Todo cavaleiro serve ao um senhor. Quem é vosso senhor?

Mulder não sabe responder. O ancião olha para o cavalo. Ao ver o brasão branco com a cruz dourada, corre e cai de joelhos aos pés de Mulder. Os outros fazem o mesmo. Mulder recua alguns passos sem entender nada.

ANCIÃO: - Levai-nos convosco, cavaleiro. Por favor, levai-nos convosco para o seu reino!

MULDER: - E-eu...

ANCIÃO: - Por favor, cavaleiro, eu vos suplico! Daremos em troca todas as mulheres que sejam do vosso agrado, mas levai-nos convosco para o reino de onde viestes, onde o fardo certamente é mais leve e o jugo mais suave.

O cavalo relincha. Mulder olha para o cavalo, que está nervoso. Mulder fica desconfiado. Olha para a cruz no brasão. Lembra-se de Gabriel.

MULDER (OFF): -Pense com o coração...

Mulder fecha os olhos. Então os abre, olhando para aquelas pessoas. Mulder fica em estado de pavor.

As pessoas disformes e ajoelhadas ao chão. Rostos e corpos desfigurados, em roupas maltrapilhas, com pequenos vórtices negros saindo de suas testas. Mulder recua.

ANCIÃO: - Levai-nos nobre cavaleiro, por favor!!!!! Vos imploro! Levai-nos daqui para o reino de onde viestes!!!

MULDER: -(ACENA NEGATIVAMENTE COM A CABEÇA/ RECUANDO) Eu não posso levar vocês...

Mulder sobe no cavalo. O cavalo dispara para fora da aldeia. O ancião olha para o céu. Grita em pavor. Uma enorme pedra achatada cai sobre ele, o esmagando.

THE GOLD COIN (OFF): - Traidor. Assim que me agradece o que te dei em vida?

Os outros correm para suas casas, assustados.


FBI – Sala do Diretor-Assistente Skinner – 9:11 P.M.

Barbara sentada, braços cruzados, pernas cruzadas e um beiço de irritação. Skinner entra, empurrando Krycek pra dentro de sua sala. Krycek algemado. Barbara se levanta, irritada.

BARBARA: - Não pode fazer isso com ele, Skinner! Não pode tratá-lo desse jeito feito um marginal! Você não tem prova alguma contra o Alex!

KRYCEK: - Barbara, se acalma tá? Estamos todos nervosos com o que aconteceu...

SKINNER: -É. Eu não tenho nenhuma prova contra você. Não posso mantê-lo preso, embora eu gostaria muito.

BARBARA: - Olha aqui, Skinner...

KRYCEK: - Barbara! Chega, ok? Vamos nos acalmar e pensar no que falar antes que nos magoemos, ok?

O agente do FBI entra. Krycek olha pra ele e recua com medo. O agente tira as algemas de Krycek. Lhe dá um sorriso e sai. Barbara estranha a reação dele.

KRYCEK: -(NERVOSO) Ele não é ele!

SKINNER: - O que está falando? Eu acho que você precisa de um tratamento mental, porque não diz nada com nada, está cada vez mais perturbado, e quem me garante que nessa loucura não tenha matado Mulder e Scully?

KRYCEK: - E por que eu faria isso? Skinner, você não está vendo o que está acontecendo! Aquele cara não é mais o mesmo!!! Precisa acreditar em mim!!!

BARBARA: - Era o que me faltava, agora o chama de louco? Vamos, Alex. Vamos embora! Eu não disse pra você parar de se importar demais com os outros, porque quem vai ficar na pior ao fim de tudo somos nós? Você morto e eu viúva! Olha aqui, Skinner, eu entendo que esteja sofrendo pela perda da Scully e do Mulder, mas nós também estamos! Isso não dá a você o direito de acusar e ofender o Alex! Porque na hora do pega pra capar, é o Alex quem toma tiros na linha de frente! Vamos embora, Ratoncito...

SKINNER: - Escute sua mulher e vá embora. E deixe oAgente Taylor em paz, ele é uma ótima pessoa, é até cristão se você quer saber.

KRYCEK: - (REVOLTADO) O inferno é cheio de boas intenções! Os cristãos e religiosos são os primeiros que eles pegam! Quando vai acreditar em mim? Eles são da Nova Ordem, Skinner! Suas almas estão vagando por aí, porque aquilo que está dentro deles deveria estar no inferno! Eles usam discursos humanistas, mas no fundo ajudam nos planos do demônio! Ele quer conquistar a Terra, Skinner! São soldados dele fazendo o serviço sujo!!!!!

SKINNER: - Alex Krycek... Eu não sei que seita você anda frequentando, mas seu discurso religioso está me dando nos nervos! Vou soltá-lo, mas isso não significa que não vou segui-lo feito um predador! Você matou Mulder e Scully e eu vou provar isso! Eu nunca deveria ter dado ouvidos ao Mulder...

Barbara abre a boca pra falar, mas Krycek se adianta.

KRYCEK: - (ANGUSTIADO)Eu sei que está com raiva, entendo que seu primeiro suspeito seja eu, mas eu não sou mais o cara que eu fui! Eles não estão mortos! Skinner, pelo amor de Deus, você precisa acreditar em mim! Temos que voltar lá e tentar encontrar a entrada! Mulder e Scully estão presos em algum lugar!

Skinner abre a porta. Krycek suspira. Barbara puxa Krycek pela mão e sai. Krycek olha pra Skinner.

KRYCEK: - Sei que não confia em mim. Mas vou dar um aviso de amigo: Tome cuidado. Nunca mais apague a luz...

Corte.


📷


Mulder cavalga por um bosque lúgubre e em trevas. Observa as árvores e plantas secas, figuras grotescas de animais e homens fundidos às árvores. Moedas de ouro espalhadas por todo o lugar.

MULDER: - Se isso é o inferno... Eu pensava que o inferno fosse um lago de fogo...

Mulder continua cavalgando. O Salteador #1 pula de uma das árvores em cima de Mulder, o derrubando do cavalo. Toma o cavalo e desaparece entre o bosque. Outros dois agarram Mulder. Um terceiro desata a bainha de sua espada.

MULDER: - Me soltem!!!!!

SALTEADOR #2: - Quanta riqueza carregais, cavaleiro! Não tendes vergonha de não reparti-la com vossos irmãos?

MULDER: - Querem mais ouro ainda? Tem ouro espalhado por tudo! Eu é que sou pobre!

SALTEADOR #4: - Oh! Ele tem riquezas e não sabe! Acha que a riqueza que queremos é ouro? Ouro não é riqueza.

O salteador #3 abaixa-se para pegar a espada. Não consegue. Os outros riem. Ele tenta incansavelmente erguer a espada, suor lhe escorre da testa, mas não consegue levantá-la do chão nem por um milímetro.

SALTEADOR #3: - "Peso" demais para um cavaleiro carregar.

MULDER: - Quem são vocês?

SALTEADOR #2: - És realmente um nobre? Obrigado a defender até a morte o vosso senhor, vossa fé e a honra de vossa dama? Não vejo lealdade alguma e coragem física em vós, que deveriam ser as principais virtudes de um cavaleiro.

Mulder se desvencilha deles. Levanta-se. Pega a espada. Os salteadores se entreolham.

SALTEADOR #3: - Como consegues erguer esta espada?

MULDER: - Ela não é pesada.

O salteador #2 pula em Mulder, caindo por cima dele o esganando.

SALTEADOR #2: - Ainda ousas agir de ironia conosco?

O salteador #1 aproxima-se trazendo o cavalo pelo arreio.

SALTEADOR #1: - Deixai este nobre cavaleiro em paz. Não viram o selo que carrega? Não é deste reino.

O salteador #2 afasta-se de Mulder. Mulder levanta-se, olhando indignado pra eles.

MULDER: - Onde estamos?

SALTEADOR #4: - Não sabeis onde estás?

Eles começam a rir.

SALTEADOR #3: - Bem vindo ao inferno!

SALTEADOR #1: - Quem é seu senhor? Certamente não é um bom senhor, pois não me pareces um cavaleiro. Cavaleiros não perdem seus cavalos. Vós não sabeis equitação e certamente também desconheceis o manejo de armas.

O salteador #1 toma as mãos de Mulder, as observando.

SALTEADOR #1: - Não tem mãos de quem foi escudeiro algum dia. Não passastes a vida servindo ao seu senhor, nem fostes um criado doméstico limpando as armas e caçando, para depois adquirir os conhecimentos de um homem de guerra. Não possuis feridas, nem cicatrizes e certamente jamais correstes uma quintana, galopando em grande velocidade em direção a um boneco de madeira e cravando-lhe a lança entre os olhos.

MULDER: - Quem é você?

SALTEADOR #1: - Eu fui um cavaleiro. Quem és tu?

MULDER: - Mulder.

SALTEADOR #1: - Que nome estranho para um cavaleiro. És do oriente?

MULDER: - Não sou do oriente.

Corte.


Mulder sentado à beira da fogueira com os salteadores. Eles assam um faisão.

SALTEADOR #1: - Falais de um modo estranho. O que fazeis aqui?

MULDER: - Procuro por uma dama.

SALTEADOR #3: - Conheço várias mulheres. Mas não creio que alguma delas seja uma dama.

Os salteadores riem.

SALTEADOR #4: - O que esta dama tem de especial, cavaleiro? É mulher de seu senhor?

MULDER: - Não. É a minha esposa.

SALTEADOR #1: - Roubaram-lhe a esposa? Vingarás tua honra pela espada?

MULDER: - Eu não vingarei minha honra. Eu quero apenas minha mulher de volta.

SALTEADOR #3: - Sabeis quem a tomou?

MULDER: - O chefe de vocês.

SALTEADOR #1: - Chefe? O que quereis dizer com isto, cavaleiro?

MULDER: - O senhor deste reino, que não é o meu senhor.

Eles se levantam.

SALTEADOR #1: - Aconselho-vos a desistir, cavaleiro.

MULDER: - Sabeis onde ele está?

SALTEADOR #1: - Ele mora no castelo, mas jamais conseguirás lutar contra ele. Seu exército é infinito.

MULDER: - O meu exército é muito mais infinito.

SALTEADOR #2: - E onde está vosso exército? Vejo aqui apenas um homem que não parece forte o suficiente para derrubar um exército com apenas uma espada.

MULDER: - Meu exército está aqui (BATE NO PEITO).

SALTEADOR #4: - Podeis nos falar sobre vosso reino? É um reino de abundância, prosperidade e o sol nasce todos os dias?

MULDER: - Eu não sei. Eu venho da Terra.

SALTEADOR #3: - Como podeis vir da Terra se estamos na Terra?

MULDER: - ???

SALTEADOR #2: - Ninguém vem da Terra até aqui carregando o selo do reino superior.

Mulder se levanta.

MULDER: - Onde fica o castelo?

SALTEADOR #1: - Dai-nos vossa riqueza que lhe daremos a informação que necessitas.

MULDER: - Eu não tenho riqueza! Como podem querer além de tanto ouro que já tens?

SALTEADOR #2: - Dai-nos vosso amor e perdão. Esta é a riqueza verdadeira.

MULDER: - Não é do meu amor e do meu perdão que necessitam. Primeiro devem perdoar a si mesmos e amar a si mesmos.

Eles se entreolham.

SALTEADOR #1: - Segues o bosque e atravesses o pântano. Após uma longa jornada passarás por um mosteiro. Aconselho-vos que descanse por lá, pois terás uma jornada mais longa ainda. Atravessarás o Vale da Morte e então verás o castelo sobre as montanhas de sangue.

Mulder monta o cavalo.

MULDER: - Por que me ajudam?

SALTEADOR #1: - O inferno está cheio de boas intenções, cavaleiro... Sabeis se vos falei a verdade ou vos falei uma mentira? (SORRI) A dúvida será vosso tormento.

Mulder toma a estrada do bosque. Os salteadores o acompanham com os olhos.

SALTEADOR #1: - Ele jamais voltará. Está sozinho como uma gazela perdida, espreitada por lobos.

SALTEADOR #4: - (RINDO) Mas e a promessa que a igreja nos fazia em vida? Não há naquele reino nada do que ouvimos falar sobre união, justiça e amor. Estão abandonados à própria sorte, como nós. Talvez piores do que nós.

[Som de cavalos]

Os salteadores olham para o outro lado.

Quatro cavaleiros passam a galope rápido. O primeiro carrega uma trombeta. O segundo segura uma balança. O terceiro carrega uma taça e traz atrás de si um cavaleiro sem cavalo, que nada carrega. O primeiro cavaleiro volta. Os outros seguem. O primeiro cavaleiro então freia o cavalo, que ergue as patas da frente. Os salteadores se assustam.

SALTEADOR #2: - (MEDO) O Mensageiro!!!!!!!!! A trombeta!!!!

Eles saem correndo por entre o bosque, assustados e em pavor.

Corte.


[Som: Emílio Santiago e Verônica Sabino - Tudo Que se Quer (All I Ask of You)]

Mulder cavalga pelas margens do pântano. O cavalo galopa lentamente. Mulder olha para a paisagem morta. Abaixa a cabeça, derrubando lágrimas.

MULDER (OFF): - Eu vou encontrar você, Scully. Eu disse um dia, que se preciso fosse, eu iria ao inferno pra salvá-la. Pois aqui estou, e nem que leve a eternidade toda, eu vou encontrar você.

Mulder seca as lágrimas. Começa a cantar mentalmente.

MULDER (OFF): - ... Olha nos meus olhos, esquece o que passou. Aqui neste momento, silêncio e sentimento. Sou o teu poeta, eu sou o teu cantor. Teu rei e teu escravo, teu rio e tua estrada...

SCULLY (OFF): - Vem comigo, meu amado amigo, nesta noite clara de verão. Seja sempre o meu melhor presente. Seja tudo sempre como é. É tudo o que se quer...

MULDER (OFF): - (SORRI/ PROCURANDO ELA COM OS OLHOS) Leve como o vento, quente como o sol. Em paz na claridade, sem medo e sem saudade...

SCULLY (OFF): - Livre como o sonho, alegre como a luz. Desejo e fantasia, em plena harmonia...

MULDER (OFF): - Eu sou teu homem, sou teu pai, teu filho. Sou aquele que te tem amor. Sou teu par, o teu melhor amigo. Vou contigo seja aonde for. E onde estiver estou...

SCULLY (OFF): - Vem comigo, meu amado amigo...

MULDER E SCULLY (OFF): - Sou teu barco neste mar de amor. Sou a vela que te leva longe...

SCULLY (OFF): - Da tristeza...

MULDER (OFF): - Eu sei, eu vou...

SCULLY E MULDER (OFF): - E onde estiver estou...

Corte.


📷


[Som de prantos e gemidos]

Mulder, assustado, freia o cavalo. Observa atento, para todos os lados. Vê pessoas que se erguem de dentro da lama do pântano. Mulder recua com o cavalo. Um dos homens aponta pra ele.

HOMEM NA LAMA: - O que procuras no inferno, cavaleiro que brilha como a luz que fugiu de nós?

MULDER: - Procuro por uma dama.

HOMEM NA LAMA: - Encontrarás mais damas aqui do que prostitutas e vadias. Viestes de tão longe para buscar uma dama? O quão rica é esta nobre?

MULDER: - Ela não é uma nobre, não tem ouro e nem riquezas.

HOMEM NA LAMA: - Então por que buscais uma dama que não tem seu peso em ouro, nem poder, nem dinheiro, nem servos e nem castelo?

MULDER: - Ela tem a maior de todas as riquezas: Seu amor.

HOMEM NA LAMA: - Não há damas assim no inferno, meu senhor. Buscais no lugar errado.

MULDER: - Estou muito longe do mosteiro?

HOMEM NA LAMA: - Algumas léguas adiante.

MULDER: - Por que vive dentro dessa lama?

HOMEM NA LAMA: - Porque sou sujo, meu senhor. Porque habitei no melhor castelo, bebi o melhor vinho, dormi com as melhores damas e neguei aos que de mim precisavam.

MULDER: - E não se arrepende?

HOMEM NA LAMA: - Não, meu senhor. Por quão suja é esta lama e por quão sujo sou, não me arrependo do que fiz. Haverá garantias na vida, cavaleiro, de que terás outra chance de possuir o mundo depois que morreis? Eu possuí e quem me dirá que poderia possuir agora, se tivesse feito diferente?

Mulder olha pra eles com piedade. São muitos, que se confundem com o lodo. Mulder segue cavalgando, sumindo entre as árvores mortas.

Corte.


[Som: Era – Don't go Away]

Um mosteiro medieval.

Cansado, Mulder desce do cavalo. O puxa pelas rédeas, entrando no pátio do mosteiro. Alguns monges trabalham na lavoura de plantas secas. Eles desviam a atenção para Mulder. Ao verem o brasão estampado no pano do cavalo, olham-se nervosos. Um deles então solta a enxada e corre até Mulder.

MONGE: - Seja bem vindo, cavaleiro. Buscais pousada e alimento?

MULDER: - Eu procuro uma dama.

MONGE: - É hábito dos monges dar pousada e alimento aos viajantes. Por favor, descanse um pouco.

Um outro monge aproxima-se, tomando a rédea do cavalo.

MULDER: - Não...

MONGE: - Cuidaremos de vosso cavalo, senhor. Entre e ceie conosco.

Mulder olha para o mosteiro medieval. Então segue o monge, mantendo a mão sobre a espada.




BLOCO 2:

A imensa sala, com uma longa mesa de tábua, repleta de vinhos, queijos, pães, frutas e carnes variadas. A lareira acesa. Mulder observa a arquitetura gótica, boquiaberto.

MONGE: - Sente-se, senhor. Um pouco de comida e vinho não fazem mal a homem algum.

MULDER: - Isso aqui é de verdade? Uau! Eu sempre quis entrar num lugar desses...

MONGE: - (SORRI) Manifesta-se de maneira estranha, cavaleiro. És um viajante de longe, posso perceber.

MULDER: - O que fazem aqui? São monges copistas? Copiam livros proibidos pela Igreja?

MONGE: - Plantamos, meu senhor. Também copiamos livros. Mas não os proibidos. Os proibidos contém a verdade.

MULDER: - O que plantam, se nada cresce nesse solo?

MONGE: - Plantamos nossas culpas, senhor. Nos alimentamos delas.

O monge puxa uma cadeira. Mulder senta-se, impressionado com a qualidade dos móveis de madeira pura. O monge lhe serve vinho numa taça de ouro. Mulder observa a taça, num sorriso de quem observa uma obra de arte.

MONGE: - Um bom vinho é um refresco para a alma.

MULDER: - ... (IMPRESSIONADO)

MONGE: - Experimente. Nós mesmos fazemos nosso vinho.

Mulder percebe as moedas espalhadas pelo lugar.

MONGE: - A bebida é um prazer, senhor.

MULDER: - Pela conotação disso, eu não poderia beber. Mas pela sua gentileza em oferecer o que tem, de bom grado, eu aceitarei beber em sua taça.

MONGE: - Vos providenciarei um quarto, cavaleiro.

MULDER: - Não, eu não vou passar a noite... Se é que é noite, não faz dia por aqui?

Mulder vira-se para trás. O monge sumiu. Mulder olha para a escadaria.

MULDER: - Pra onde ele foi?

O monge surge por trás de Mulder que toma um susto. Então senta-se à mesa.

MULDER: - São tão hospitaleiros assim? Não imaginava que a Igreja Católica medieval fosse tão hospitaleira.

MONGE: - É hábito dos monges, senhor. Doamos abrigo aos viajantes. Alguns nobres como o senhor, sempre nos agradecem com presentes. O que justifica o ouro que vês por aqui. Mas não o ouro que vês nas igrejas e nos dedos dos monsenhores e bispos. Este ouro vem às custas da política.

MULDER: - Por que está aqui no inferno, padre? Pensei que padres não viessem para o inferno. Vocês são homens de Deus e por diversas vezes ouvi dos cristãos católicos dizerem que eram o povo escolhido de Deus.

MONGE: - Achais que padres não têm pecado, ilustre cavaleiro? Nós também matamos inocentes, mentimos, roubamos. A cruz pode ser a pior e a mais mortal espada que um homem pode carregar. Porque temos o conhecimento e o ignoramos por livre-arbítrio. A proporção de culpa de um instruído é inversamente proporcional a culpa de um leigo.

MULDER: - Mas e as orações? Não rezava, não se arrependia?

MONGE: - A oração, nobre cavaleiro, é ação e não palavras. De que vale o discurso de um homem, se a sua mão não se estende? Mais lhe valia se fosse cortada! O maior pecado diante dos olhos do Senhor é não amar ao próximo.

MULDER: - Me pareceu amar o próximo, quando me estendeu a mão e ofertou comida e repouso.

MONGE: - Encontrarás aqui neste reino homens com diversos pecados, meu senhor. E todos os pecados, desde o roubo até o assassínio, tem em sua consequência uma só: não amar o próximo. Portanto, não encontrarás aqui nenhum homem que tenha amado o seu próximo.

MULDER: - ...

MONGE: - Se não ama vosso próximo, como quereis amar a Deus? Perguntaram um dia a alguém, se havia ateus verdadeiros. Você acredita, respondeu ele, que haja cristãos verdadeiros? Como pensar que as idéias religiosas são essencialmente moralizadoras, quando se vê que a história dos povos cristãos é tecida de guerras, de matanças e de suplícios? Isto é amar ao próximo? Talvez ateus sejam mais dignos.

MULDER: - ...

MONGE: - Vi seu selo e seu escudo. Sua espada e seu cavalo. Se o convidei para pousar é porque tenho intenções de agradar-lhe e obter boa visão deste meu ato aos olhos de seu Senhor, como forma de sair daqui. Portanto, não o ajudei por boa vontade, mas com interesse. Alguém neste lugar aqui é inocente, nobre cavaleiro? Veja esta mesa. Um dos sete pecados capitais e não surpreender-se-á se, até acordar amanhã, não vereis os outros seis.

Corte.


📷


Mulder deitado numa cama de madeira. Observa o quarto.

MULDER: - Até agora não vi ninguém neste lugar que não mereça estar aqui. E também não consigo entender porque eu não merecia estar aqui...

[Risadas de mulheres e padres]

Mulder senta-se na cama.

MULDER: - Padres... O que soa pecado não é a falta de castidade. Mas prometer castidade e não cumprir.

A porta abre-se lentamente.

Mulder pula da cama e ergue a espada. Scully entra. Cabelos presos, num vestido da época, onde os seios saltam para fora do decote. Segura um copo e uma jarra de vinho, completamente embriagada. Olha marotamente pra Mulder, que levanta-se da cama num sorriso.

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Quem?

MULDER: - (DESANIMADO) ... Esquece. Não é ela. Se fosse, carregando vinho e nesse estado, estaria falando em diminutivos...

SCULLY: - Posso ser quem quiseres que eu seja, cavaleiro. (OLHA PRA ESPADA) Estou aqui para dar-lhe diversão de vosso agrado.

Mulder percebe o olhar de Scully para a espada. Coloca a espada na bainha, mantendo a mão sobre ela.

MULDER: - Olha... Senhorita, eu não quero nenhuma diversão.

SCULLY: - (MAGOADA) Não sou de vosso agrado, cavaleiro?

MULDER: - Você é... Quer dizer, você não é... Não, não é isso o que eu quero dizer... Eu me sinto como Dante, em a Divina Comédia, perdido no inferno atrás da minha Beatrice.

SCULLY: - Também não conheço esta dama, meu senhor.

MULDER: - Definitivamente, não é a Scully... (DEBOCHADO) Bom, pelo menos um dia eu vi algo que se parecia com a Scully me chamar de "seu senhor"...

SCULLY: - Tendes um senso de humor um tanto peculiar, meu senhor...

Ela se aproxima de Mulder, entregando-lhe o copo de vinho e percorrendo a mão sobre sua roupa.

MULDER: - Moça, não me leve a mal, mas eu não estou a fim disso, certo? Bebida e luxúria num lugar desses não me soa muito bem.

SCULLY: - O que procureis no inferno, senão isto? Encontrarás todos os prazeres aqui, cavaleiro. Permita-se.

MULDER: - Acho melhor não me permitir não...

Mulder abre a porta.

MULDER: - Por favor, moça... Tenha uma boa noite.

SCULLY: - Me recusas como mulher? Sinto-me triste, senhor.

MULDER: - Não é nada com você, eu que estou cansado.

Ela sorri e sai. Mulder fecha a porta, tenso. Escora-se na porta com as costas.

MULDER: - Estou começando a ficar com medo desse lugar. Todas as mulheres aqui são iguais a Scully sob meus olhos... O que será que ele trama?


Cemitério Hills -Virgínia –5:04 P.M.

A família Scully ao redor do túmulo, observando os dois caixões vazios. Meg com o olhar perdido, olhos em lágrimas. Will segura a mão da avó, chorando. Charles ao lado de Tara e Bill. Baba com Victoria no colo. Byers com o braço sobre Susanne. Barbara e Krycek abraçados, ao lado dos Pistoleiros. Ellen e Skinner. Langly vê Samantha, mais afastada, olhando em lágrimas para o túmulo, de mão dada com o filho. Langly inclina-se pra Frohike.

LANGLY: - (SORRI) Ela voltou da Flórida.

FROHIKE: - É, voltou. E tire esse sorriso da cara, porque se Mulder souber que você e a irmã dele andaram se divertindo enquanto você a levava pra Flórida, ele vem te assombrar pro resto da vida!

Langly faz o sinal da cruz, assustado.

LANGLY: - Mas a gente só conversou e bebeu juntos!

O Canceroso ao longe, escorado na porta da limusine, vestido de negro, observa a cerimônia, fumando nervosamente.

Skinner em pé, mãos sobrepostas na frente do corpo, cabisbaixo. O padre se afasta.

SKINNER: - Eu... Nada do que disser poderá confortar o coração dos familiares e amigos presentes aqui... Dois meses se passaram sem nenhuma resposta, e eu sinto não poder dar o conforto a todos vocês de... Enterrarem os corpos deles... Eu conheci Mulder e Scully, e por diversas vezes, eles me salvaram. Não vou falar sobre todas as qualidades que eles tinham, pois eram muitas. Em nós fica a dor dessa perda desumana e cruel. Que seus exemplos de vida e de caráter permaneçam dentro de nós e... da pequena Victoria, que... carrega um pouco de cada um dos dois. Que esta lápide sirva como uma lembrança de... (TIRA OS ÓCULOS SECANDO AS LÁGRIMAS) ... Uma lembrança de duas pessoas que deixarão saudades em nossas vidas.

Corte.


Meg se aproxima da lápide. Victoria de mão dada com ela. Meg observa incrédula.

MEG: - Não posso acreditar... Não quero acreditar... Meu coração de mãe não aceita isso... Meus dois filhos...

O Canceroso se aproxima, apagando o cigarro. Segura duas rosas vermelhas, as colocando sobre o túmulo.

CANCEROSO: - ... Lamento sua perda, senhora Scully.

MEG: - ... Lamento a sua também, senhor Spender.

CANCEROSO: - ... Quem cuidará da menina?

MEG: -(SEGURA AS LÁGRIMAS) Estou tentando a guarda dela.

O Canceroso entrega um lenço para Meg. Meg aceita. Seca as lágrimas. O Canceroso alterna o olhar entre Meg e Victoria, que o fita curiosa.

CANCEROSO: - Só quero que saiba que se precisar de algo para Victoria...

MEG: - Agradeço, senhor Spender. Mas não precisarei.

CANCEROSO: - Eu... Eu posso me aproximar dela?

Meg o olha com receio. O Canceroso agacha-se, olhando para Victoria. Lhe sorri.

CANCEROSO: - Ela tem os mesmos olhos enigmáticos de Mulder...

MEG: - (SEGURA AS LÁGRIMAS) ... Tem sim.

CANCEROSO: - Parece que estou olhando pra ele... E tem o sorriso de sua filha... Olá.

VICTORIA: - (TÍMIDA) Olá!

CANCEROSO: - (SORRI) ...

VICTORIA: - Quem é você?

O Canceroso, num ar de culpa, abaixa a cabeça.

MEG: - Ele é alguém que conheceu seus pais.

Victoria lança um olhar para a echarpe de Meg. A echarpe voa. Meg acompanha com os olhos, a echarpe que voa pela grama.

MEG: - Oh meu Deus... Como aconteceu isso?

Meg sai atrás da echarpe. Victoria encara o Canceroso.

VICTORIA: - Eles não morreram. Sabe disso não é?

CANCEROSO: - (INTRIGADO) E onde eu posso encontrá-los?

VICTORIA: - Não pode. Mas eles vão voltar. Primeiro meu papai tem coisas pra fazer.

CANCEROSO: - Coisas?

VICTORIA: - Sim.

CANCEROSO: - E onde eles estão?

VICTORIA: - Num outro mundo, muito muito triste.

CANCEROSO: - Quem disse isso a você?

VICTORIA: - Ele.

Victoria aponta para a lápide. O Canceroso nada vê. Meg aproxima-se com a echarpe.

MEG: - Despeça-se deste senhor, Victoria. Precisamos ir embora.

Victoria não tira os olhos do Canceroso. Ele sente-se mais culpado.

VICTORIA: - Tchau, vovô!

Meg sai com Victoria. O Canceroso permanece agachado, de olhos fechados. Victoria segue caminhando e olhando pra ele.

MEG: - Ele falou que é seu avô?

VICTORIA: - Não. Mas eu sei. Ele me deu uma caixinha de música quando eu era bebê. Eu me lembro.

MEG: - ??? Melhor ficar longe dele. Ele é uma pessoa muito má.

VICTORIA: - Não é não, vovó. Ele apenas nunca teve amor.

Meg olha pra ela. Cala-se. As duas seguem andando.

O Canceroso fita a lápide, intrigado. Mas nada vê. Dá as costas, cabisbaixo e volta para o carro.

Corta para a lápide. Aos poucos se revela a imagem dos pés sobre ela. Gabriel, agachado sobre a lápide. Acompanha o Canceroso com os olhos.

Corte.


📷


[Som: Era - Enae Volare Mezzo]

Mulder desce do cavalo. Olha para o fosso largo e profundo à sua frente. Ergue os olhos para as densas muralhas de pedras e as altas torres do castelo medieval. Cercas vivas, estacas pontiagudas fincadas no solo. Uma seteira protege o acesso à ponte levadiça.

MULDER: - (GRITA) Scully!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A ponte do castelo começa a descer. Mulder recua com o cavalo. Grossas correntes sustentam a ponte. Mulder desembainha a espada. Sobe na ponte, dirigindo-se para o castelo. Entra pelo corredor sombrio, com várias estátuas femininas que o decoram.

Corte.


[Música continua]

Mulder entra no castelo. Sai no pátio.

Há uma aldeia. Casebres de camponeses, oficinas e alojamentos de artesãos, celeiros, estábulos, fornos e o moinho. Um poço, uma fonte e tendas de comerciantes. Moedas de ouro por todos os lados, como material sem valor.

Mulder ergue os olhos e ao fundo, percebe a segunda muralha do castelo.

Corte.


[Música continua]

Mulder avança com a espada em punho. Então escuta risos. Percebe uma escada.

Mulder aproxima-se da escada. Sobe os degraus lentamente, observando atento todos os lados, com a espada em punho. Sai no segundo pátio do castelo.

Uma imensa praça se revela aos olhos dele, com muitas pessoas nuas que bebem, riem e fazem sexo. O local todo é coberto de moedas de ouro, luxo e riqueza. Alguns banham-se no dinheiro.

Mulder passa entre eles, sem desgrudar os olhos da segunda muralha do castelo.

As pessoas ao chão passam as mãos pelas pernas de Mulder, o chamando. Mulder se desvencilha e segue andando, com o olhar fixo na muralha, que se revela mais baixa que a primeira.

O fosso, paliçadas, torres, parapeitos, portas e pontes. Uma cidade fortificada.

Mulder então começa a correr e toma a segunda ponte de acesso, saindo em outro pátio, o pátio superior.

Várias construções: alojamentos de guarnição militar, cozinhas e cisterna. Protegido por uma outra muralha, o torreão, a morada e núcleo militar da fortaleza.

Mulder mede com os olhos os 30 metros de altura da construção circular. Olha para a escada que dá acesso a única porta. Então entra.

No parapeito dentado no alto da muralha, The Gold Coin inclinado, observa Mulder.

Corte.


📷


Mulder empurra a grossa porta de metal negro, com figuras grotescas e aldravas enormes. Entra no salão do castelo.

A lareira enorme acesa. Uma longa mesa posta com castiçais. Tapeçaria e vitrais. Móveis de madeira de lei, chão de pedras. Cortinas com mais de 10 metros de altura. Velas e candelabros. Uma larga e alta escadaria ao fundo, com duas gárgulas de vigia em cada pilar do corrimão.

THE GOLD COIN: - O ofício de um cavaleiro é defender seu senhor, a fim de manter a justiça entre os seus vassalos.

Mulder o procura com os olhos.

THE GOLD COIN: - Se o povo ou algum homem se opõe aos mandamentos do rei, devem os cavaleiros ajudar o seu senhor. Portanto, é mau cavaleiro aquele que mais ajuda o povo do que o seu senhor, não cumprindo com o ofício pelo qual é chamado cavaleiro.

Coin levanta-se da poltrona em frente a lareira. Segura na mão uma taça de ouro e pedras preciosas, que se contrastam com o anel de rubi em seu dedo.

MULDER: - Não sirvo a você. Onde está Scully?

THE GOLD COIN: - (ERGUE A SOBRANCELHA) Como vou saber?

MULDER: - Seu desgraçado, eu quero a minha mulher de volta!

Coin aproxima-se da mesa, pegando um gomo de uva e levando à boca.

THE GOLD COIN: - (BOCA CHEIA) Sim, não vivo na graça. Algum problema nisso? (ABRE OS BRAÇOS) Não vivo melhor do que qualquer um? Adoro viver bem. (PIDÃO) Pelo menos sou honesto e admito.

MULDER: - Pra quê tantas muralhas, se abriu a porta ao inimigo?

THE GOLD COIN: - Inimigo? (SORRI) Não considero você inimigo. Você nem está a altura de um inimigo... (APONTA PRA ELE) Você é um nada.

Coin serve mais vinho na taça.

THE GOLD COIN: - O considero mais como um mortal impertinente. Um mosquito. Um nada que pensa que sabe tudo. Sente-se, você é meu convidado. (ESTENDE SUA TAÇA) Beba um pouco do meu vinho.

MULDER: -(IRRITADO) Eu não quero o seu vinho! Eu quero a Scully!

THE GOLD COIN: -(DEBOCHADO) Me digas o que bebes e te direi quem és.

MULDER: - (O OBSERVA) Qual é a sua real aparência? Você vive usando rostos de atores de Hollywood!

THE GOLD COIN: - (SORRI COM O CANTO DA BOCA) Tudo o que posso dizer é que sou o anjo mais lindo que Ele criou. O mais belo e perfeito de todos. Não me verá usar uma aparência feia. Contudo, jamais revele seu verdadeiro rosto a um macaco.

MULDER: -Isso é o inferno?

Coin deixa a taça sobre a mesa. Caminha pelo salão, mãos para trás, algumas vezes olhando para Mulder.

THE GOLD COIN: - Talvez sim, talvez não. Mas se for o inferno... Gostou? Lhe agrada? Tento manter meu reino em ordem. Em breve ampliarei meus domínios. Já estou conquistando a Terra.

MULDER: - Por que o inferno é medieval? Por que a Idade Média foi considerada a idade das trevas pela falta de questionamento, teorias e de progresso?

THE GOLD COIN: - Medieval? (SORRI) Hum... Talvez por que combine com a decoração? Não... O inferno é o que você quer que ele seja, Mulder. Ele pode ser medieval para medievais. Moderno para modernos. Romântico para românticos. Futurístico para futuristas... Não há tempo por aqui. O tempo aqui se mede diferentemente da Terra. Quantos dias você está aqui? Dois? Três? Algumas horas? Na Terra já se passaram meses!

Mulder começa a ficar nervoso e angustiado. Coin continua ironizando, andando pela sala e gesticulando quando fala.

THE GOLD COIN: - Já enterraram vocês... Foi uma cerimônia modesta, família e amigos... Ah! O cachorro nem sentiu sua falta!

MULDER: - (FECHA OS OLHOS) Estamos mortos...

THE GOLD COIN: - Não seja dramático, Mulder. Vocês não estão mortos, contudo, uma vez no inferno, ficarão aqui para sempre, aguardando o dia que o Tirano chama de Dia da Tribulação. E que eu chamo de Dia da Minha Vitória.... Engraçado, pra Ele tudo é uma denominação para os humanos... Dia da tribulação... Dia do perdão... Dia da redenção... De quem? Dele? Não, de vocês. Ele só desconta em vocês. Numa obsessão eterna. Algumas vezes até sinto pena de vocês humanos... Mas nada que uma taça de vinho não resolva.

MULDER: - Como consegue manter almas aqui sem que elas se arrependam de suas culpas?

Coin senta-se. Estende a mão para a outra poltrona. Mulder senta-se.

THE GOLD COIN: - Viu algo para se arrepender aqui? Lhes falta algo?

MULDER: - Luz.

THE GOLD COIN: - Luz? Ora, Mulder... Com tantas coisas você reclama da falta de luz? Existem velas e você não precisa se incomodar com a conta no final do mês! Basta imaginar o que precisa e terá. O que você quer, você têm. Viu algum mendigo por aqui?

MULDER: - Ladrões.

THE GOLD COIN: - Por hobby, pois não têm a necessidade de roubar. Eles têm comida em fartura. Eles têm dinheiro em fartura, luxúria e prazeres. Agora pense, quem é o mentiroso? Eu ou Ele? Quem não cumpre o que promete? As almas que se venderam a mim não podem se queixar. Tudo o que prometi eu dei a elas, tanto na vida quanto na morte. Que senhor imbecil ofereceria riquezas a seus súditos e depois as tiraria? Pensa mesmo que quem acredita em mim, quando morre, vai para um lugar fedorento, quente e sórdido? São meus súditos, não vou destratá-los.

MULDER: - Você dá a eles por interesse próprio. Como disse o monge, que boa ação fazeis quando não fazes pelo simples gesto de fazer, mas com interesses próprios?

THE GOLD COIN: - Mulder, meu macaco confuso... Até Deus tem interesses. O que imaginava ser o inferno? Um lago de fogo como diziam os profetas em suas escrituras? Não, Mulder. O céu é bem pior. Pobre e triste. (CARA DE PIDÃO) E não tem concerto de rock.

MULDER: - Como posso saber, se não conheço o outro lado da moeda? De que vale tanto ouro aqui se não há utilidade pra ele?

THE GOLD COIN: - Quanta ingratidão! Eu dou a eles o que sempre gostaram de ter em vida. Não queriam ouro? Estão cheios de ouro agora!!!

Coin sorri. Tira a moeda do bolso. Observa a moeda como quem a analisa.

THE GOLD COIN: - Todos os homens só têm uma certeza: a morte. O que vem depois, nenhum deles têm o conhecimento. Temos aqui ateus, ecumênicos, cristãos protestantes e católicos, judeus, islâmicos, hindus, budistas, espíritas, bruxas... Todas as religiões e crenças, Mulder. Pessoas que passaram suas vidas acreditando em Deus. Pessoas que nunca tiveram uma resposta desse Deus. (OLHA PRA MULDER) Ele nunca os aliviou de suas dores nem os ajudou com seus problemas. Então, tudo o que fizeram foi desacreditar Dele.

MULDER: - ...

THE GOLD COIN: - Apostaram em mim, sem a certeza do que seria depois da morte. Se Deus existia mesmo ou era lenda. Perderam algo por não acreditar Nele? Não. Morreram e estão aqui, desfrutando das coisas pelas quais lutaram sobre a Terra e que Ele chama de pecado!!!

Coin levanta-se. Mulder o acompanha com os olhos.

THE GOLD COIN: - Pecado? Que pecado é esse que Deus fala? Ele falou realmente? Será que Deus falou tudo o que consta num livro que profetas humanos bêbados ou em sonhos descreveram? Ouviu isso da própria boca de Deus? Pecado? Depois da destruição de Sodoma e Gomorra, quando a mulher virou sal, Ló trepou com suas filhas sob a desculpa de procriar a raça! Isso não seria pecado agora? Antes não era?

MULDER: -As filhas de Ló o embebedaram achando que era o fim do mundo e dormiram com seu pai. Deus abominou tal atitude, tanto que elas geraram duas tribos diferentes, os moabitas e os amonitas, ambos os piores inimigos dos israelitas. Deus não aprovou. Contudo, Ele não interferiu porque temos livre-arbítrio. Deus não vai contra as leis, ou você apontaria o seu dedo sujo o acusando de tirania. Ou estou errado e ainda não entendi o jogo?

THE GOLD COIN: - Ah, pensei que não se interessasse nesses assuntos. Mas não me culpe por isso, pois tudo que não dá certo sempre é culpa minha! (ESMURRA A MESA) Me deixem em paz, eu tenho uma guerra pra vencer! Você sabe realmente se Moisés recebeu mandamentos ou inventou isto para ser líder do povo judeu? Interesses, Mulder. Interesses. Como o corte do seu prepúcio não significa nada além de método de higiene antiga, numa época em que homens por falta de higiene pegavam doenças sexuais e ficavam estéreis, não ajudando em nada a procriar as tribos de Israel! Método que judeus idiotas conservam até hoje como "um ritual ancestral de purificação divina". Mutilar seu pau prova a Deus que você é digno Dele?

MULDER: - Não. A circuncisão do coração, dos sentimentos, essa sim é a necessária.

THE GOLD COIN: - Culturas antigas sem questionamentos das origens do mito. Homens cegos. Conceitos errôneos, como um joguinho infantil do telefone sem fio. Até chegar ao último interlocutor a mensagem está completamente distorcida! Centenas de séculos de mensagens distorcidas, Mulder! A verdade nunca esteve tão longe de vocês quanto agora e ficará mais longe ainda!

MULDER: - ...

THE GOLD COIN: - Eu digo o que é pecado, Mulder! É dar a vida. Isso é o maior pecado diante deste universo!!!! Dar a vida e não zelar por ela. Diga-me como pai: sua filha em desespero, cheia de problemas e você simplesmente lhe viraria as costas como Deus faz com vocês? Ele não é pai de vocês, é apenas um cientista louco e um maldito rei tirano!!! Acredite em mim, eu o conheço pessoalmente.

MULDER: - (DESCONFIADO) Você está me tentando, é isso? Eva deu ouvidos a você e agora vejo como conseguiu enganá-la. Você é bem convincente.

THE GOLD COIN: - Se você visse sua filha chorando, doente, com fome, sem ter aonde morar, sem esperança nenhuma, pedindo com os olhos cheios de fé pelo seu nome e dizendo (ERGUE OS BRAÇOS) "Pai ajuda-me, não suporto mais a aflição"... O que faria? Ficaria surdo? Indiferente? Deixaria para ela um manual de instrução chamado bíblia, escrito por homens, dizendo que o sofrimento redime? Para que ela tenha paciência, carregue seu fardo, que o reino dos céus é dos pequenos, dos perseguidos, dos que sofrem! Isso é indiferença! Me diga Mulder, conhece o reino dos céus para querê-lo?

MULDER: - ... Não.

THE GOLD COIN: - Então por que vive uma vida de miséria e sofrimento em nome Dele que não liga? Esperando por um reino que você nem sabe se é melhor que o inferno ou a Terra? Se o pensamento dele é humildade, acha que viverá lá em cima como rei? Não, Mulder! Viverá como camponês, como vassalo. Porque lá existe apenas um rei, Ele! Que nada divide, por isto fui jogado em seu planeta! Mas no meu reino, vós todos sois reis! Todos os rejeitados por Ele, porque tiveram a ousadia de questionar seus métodos como eu questionei!!!

Coin aproxima-se de Mulder.

THE GOLD COIN: - O que eu sou para os homens senão um mito? Vocês judeus e cristãos começaram a distorcer meu nome e o real significado dele! Todas as malditas sete igrejas, que tem seus sete castiçais de punição as esperando! Punição, sempre a punição. Ele apenas pune, não protege! Telefone sem fio, Mulder. O que eu sou para você? Ahn? O que é o demônio, Mulder?

MULDER: - Você é um ser de outro planeta, um alienígena como dizemos. Com poderes superiores, por questões genéticas. Outra raça. Não tente o engodo religioso comigo, minha visão quanto a você não é nada religiosa! Se você sangra, pode morrer.

THE GOLD COIN: - Eu digo o que eu sou!!! (BATE NO PEITO COM ORGULHO) Eu sou o dissidente! O dissidente, Mulder! O único soldado que teve a coragem de acusar o rei! E por isto eu fui jogado aqui! Porque Ele sabe que eu estava certo! Ele me deu a beleza perfeita! Ele me criou! Ele me jogou aqui com o propósito de me usar para testar vocês, seus imbecis!!! É esse o meu papel na Terra! Testar as cobaias Dele! Para Ele verificar se vocês são inquiridores ou são servos mansos! Cordeiros, lembra? A bíblia chama vocês de cordeiros! São apenas carneirinhos, Mulder! E sabe por que ele quer testar isso? Qual o destino dos cordeiros?

MULDER: - O reino dos céus.

THE GOLD COIN: - Sim. O reino dos servos! E qual o destino dos inquiridores? O inferno! Pois quem questiona tudo jamais será servo, Mulder! Jamais Ele vai querer alguém que se erga novamente contra Ele! Ele quer apenas os mansos! Já não leu isso em algum lugar?

MULDER: - (ACENA NEGATIVAMENTE A CABEÇA) ... Seu conhecimento me soa muito interessante, mas eu não quero saber mais nada sobre o seu ponto de vista da verdade. Você usa do seu conhecimento superior para ludibriar e convencer. Você distorce as coisas a seu modo, de acordo com o que convém a você. Por isso você é o pai da mentira.

THE GOLD COIN: - Por que não quer a verdade, se a estou dando de graça a você?

MULDER: - Ela é demais pra minha cabeça entender. Eu sou um macaco, não sou? E quem me garante que devo acreditar em você, se não ouvi o lado Dele? Jamais tiramos conclusões do todo quando ouvimos apenas um lado da história!

THE GOLD COIN: - (SORRI CÍNICO) Sabe que estou certo, Mulder. Sabe como Gabriel fala com você, sempre debochado e arrogante. Eu sou educado. Gabriel é um anjo infeliz que só traz mensagens e carrega a morte em suas mãos. Um maldito carteiro! Já ouviu as coisas que ele falou sobre seleção genética. Eu não sou seletivo, Mulder. Meu reino é de quem o quiser, mas não dos fracos e nem dos servos. Meu reino é dos fortes, dos que pensam, dos que querem viver bem. Fique comigo. Preciso de homens como você. Não acredite naquele que canta a vitória antes do tempo em velhas escrituras. (CERRA O PUNHO) Eu posso vencê-lo.

MULDER: - Por que então cumpre as profecias que estão na bíblia, se sabe que elas conduzem à sua derrota?

Coin aproxima-se dele. Mulder ergue a espada. Coin sorri.

THE GOLD COIN: - Deixe-me mostrar como idiotas altruístas como você terminam...

Coin pega a taça. Mostra a Mulder. Mulder olha para o vinho avermelhado.

Fusão de imagem.


Mulder parado sobre um monte. Olha para as muralhas distantes da cidade. Vira-se de costas. Então olha para o grosso tronco da cruz de madeira cravado ao chão e os pés sobrepostos e atravessados por um grosso prego de ferro. Ele não consegue olhar pra cima. Derruba lágrimas, olhando para as gotas de sangue que caem na terra. Coin aproxima-se dele, olhando para cima.

THE GOLD COIN: - Pensei que não acreditasse Nele.

MULDER: -(CABISBAIXO/ PERTURBADO) Eu nunca duvidei Dele. Eu duvido das religiões. Não teste a minha fé!

THE GOLD COIN: - Por que não olha pra Ele, Mulder? Hum? Tem medo? Não temas, estou com você.

MULDER: - (CABISBAIXO) Não sou digno de olhar pra Ele.

THE GOLD COIN: - É apenas um alienígena que nasceu aqui por inseminação artificial numa virgem. Grande e inexplicável feito para a época, mas agora, ciência corriqueira.

MULDER: -(CABISBAIXO) Mas é um alienígena que se importa conosco! Que desceu aqui pra nos ensinar a sermos melhores e o que fizemos? O matamos!

THE GOLD COIN: - Mulder, Mulder...Estúpidos altruístas e cheios de compaixão acabam assim. E de pensar que tudo o que Ele fez foi dar palavras de conforto, curar doentes, fazer milagres... Até pão Ele deu! Andava por aí, nada tinha que lhe pertencesse, dormia ao relento e acolhia os sem esperança. Terminou desse jeito. Você precisava estar lá quando aconteceu...

MULDER: - (CABISBAIXO) Ele foi traído. Como alguém pôde traí-lo, depois de ver com os próprios olhos tudo o que Ele fez?

THE GOLD COIN: - Era de se esperar que fosse traído. Basta você ser bom, partilhar o que tem, dar esperança, ser alguém muito querido e... Pronto. Alguém sempre vai encontrar alguma coisa contra você para destruí-lo. No caso Dele, foi por política entre judeus e romanos. Sempre, Mulder. É sempre alguém próximo de você que o trai. Sempre haverá quem diz ser seu amigo, mas o entrega aos seus inimigos. Esses são os meus preferidos... Os que sorriem pra você e por trás o ferram diante dos outros.

MULDER: -(CABISBAIXO/ DERRUBANDO LÁGRIMAS) ... Eu sei como é isso. Eu sei como é ser traído e ser motivo de piada para os outros.

THE GOLD COIN: - Surrado e açoitado. Vítima de escárnio e deboche. Se todos eles soubessem o pecado maior que cometeram diante dos céus. Mataram o filho do criador! (RINDO) Nem eu teria feito melhor! Eu que sou o diabo não me atreveria a tanto!

MULDER: - (CABISBAIXO) ... Ele amava muito, seu coração era apenas amor.

THE GOLD COIN: - Amor? Humanos... Adoro vocês! Quer insulto maior do que o terem crucificado? Ainda pedem piedade depois disso? Sabe o peso dessa madeira toda, Mulder? Arrastada no ombro desde aquelas muralhas lá atrás? Sabe a dor de cada martelada, rasgando-lhe a carne com o ferro? Tudo isso para provar que vocês mereciam uma chance? Tudo isso por amor? Que idiota! Ele calava seus gritos, pois até se arrependeu da idiotice que estava prestes a fazer, pedindo para o Pai afastar Dele o cálice da morte! Mas Ele teve tempo para pensar, enquanto ficava pendurado aí e sua vida como homem se esvaía do corpo material a que não estaria mais preso em poucas horas.

Mulder fecha os olhos.

THE GOLD COIN: - Acha que tive algo a ver com isso? Não, Mulder. Eu não tive, foram seus amados semelhantes pelos quais você luta agora e por quem Ele lutou que o entregaram e o pregaram aí! Eu tentei dissuadi-lo por 40 dias no deserto! Mas ele foi tolo e não me deu ouvidos!

Fusão de imagem.


Mulder abre os olhos e percebe estar sentado numa pedra, no meio de um rio de sangue. Coin ao lado dele. Coin continua tentando Mulder.

THE GOLD COIN: - Quando o governante viu seu único filho pedindo para nascer no planeta de suas criaturas, não apoiou. Imagine você, que tem apenas uma única filha. Sabe a riqueza disto. Mas Ele queria vir aqui ensinar a vocês coisas que não sabiam. Ele amava vocês. Não podia permitir tanta cegueira espiritual, pois Ele como todas as raças superiores sabem que a riqueza não é material, mas espiritual, pois é o que sobra de toda a vida quando deixa sua matéria: energia.

MULDER: - (OLHA PRA ELE) ...

THE GOLD COIN: - Um princípio básico da Física que vocês aprenderam com outros povos do espaço, mas ignoram. O que diferencia a evolução dos seres deste universo é um sentimento chamado amor. Ele é a célula mater que carrega a informação da energia diferenciando um ser de uma criatura. Se estacionário, pode vir a evoluir, depende única e exclusivamente de quem o possui. Mas a sua ciência não aceita nada que seja fora da existência dos olhos, mal sabendo vocês que existem milhares de sentidos e a ciência de vocês é limitada! E mal sabem vocês o que é o amor.

MULDER: - ...

THE GOLD COIN: - Quando soube que Gabriel estava na Terra para dar a notícia, eu não quis acreditar no que aquele maluco estava fazendo: nascer aqui... Padecer na pele de um macaco para provar ao seu Pai que vocês eram dignos de misericórdia.

MULDER: - Você presenciou tudo?

THE GOLD COIN: - Eu estou aqui desde que a experiência deu certo. Eu vi todas as coisas que sua espécie é capaz de fazer. E eu os ajudei quando me chamavam. Nada faço sem me solicitarem. E Ele sabia que, mesmo que viesse, eu ainda estaria aqui. Ele sabia que seria traído. Fazia parte do plano que fosse. Conhecia bem o final da história.

MULDER: - (DESCONFIADO) Por que você me fala essas coisas?

THE GOLD COIN: - Porque eu quero fazer você entender que nada e nem ninguém merece seu sacrifício. Você não pode mudar o mundo. Nem Ele conseguiu! Me dê sua filha, Mulder. Eu a tornarei o que você jamais sonhou. Não a deixe morrer numa cruz. Seja um pai de verdade e diga que ela não está em juízo perfeito. As pessoas não merecem compaixão e preocupação.

MULDER: - Minha filha não vai terminar assim!

THE GOLD COIN: - Sabe o futuro, Mulder? Sabe o que aguarda sua amada Victoria? O destino de serva. Ela vai morrer traída por alguém. Vai sofrer, ser humilhada... Passar sua vida inteira lutando contra nós, como você passou sua vida, obcecado com a verdade. Ela vai viver no mundo da Nova Ordem. Se estiver no lado errado, ela vai sofrer e Ele lá em cima, não ligará pra isso, vai achar lindo e bater palmas. Não deixe que aconteça, Mulder. Se você ama sua filha, não vai querer o sofrimento dela.

MULDER: - Você pode ficar me tentando que eu não vou ceder!!!




BLOCO 3:

Mulder em pé, no castelo. Não mais vestido na armadura, mas em roupas medievais da nobreza. Coin, vestido semelhantemente, aproxima-se de uma mesinha com um tabuleiro de xadrez. Move uma peça contra o inimigo invisível.

THE GOLD COIN: - (SORRI) Toda guerra tem um propósito. A aposta são vocês.

MULDER: - O que é o homem no universo além de uma criação experimental e uma aposta num jogo entre criadores e dissidentes?

THE GOLD COIN: - Servos eternos. Ou rebeldes eternos. Livre arbítrio, Mulder. Escolha o seu exército. É uma aposta.

MULDER: - Me diz qual o sentido da vida então!!!

THE GOLD COIN: - Quer ouvir isso do diabo? Nenhum. A vida não tem sentido! E sabe qual a verdade que doerá mais? Vocês são imortais. Não podem desistir de existir. Essa é a dor maior: a existência. Não há liberdade pra vocês, Mulder. Não podem mudar o que querem. A existência não é opção de vocês. Podem suicidar-se, mas jamais deixarão de existir. E poderia ter sido diferente...

Mulder senta-se na poltrona, em choque. Coin coloca a mão sobre o seu ombro.

THE GOLD COIN: - Meu caro Mulder, a verdade é um cavalo de Troia. Você jamais saberá o que pode sair de dentro dela. E é uma arma que mata a esperança de uma crença tão arraigada. A esperança dos homens de serem mais do que são na Terra. De terem a justiça merecida. E eu lamento muito que tentei mostrar isso aos seus antepassados, mas a árvore da sabedoria dava frutos suculentos demais para cérebros tão pouco desenvolvidos.

MULDER: - Você é sedutor, simpático e atrai por isso. Eu não consigo odiar você. Não o admiro, mas o respeito. Eu penso que a serpente não representa propriamente o inimigo, mas antes um agente de evolução não previsto. Foi o primeiro sinal da existência do livre arbítrio e da possibilidade de escolha do caminho. Seu castigo foi maior que o da mulher. Pois ela foi seduzida por você. Seduzida pelo conhecimento. Por uma informação que interferiu na evolução planejada. Você e seu reino são sim um agente de evolução. Você faz o verdadeiro serviço sujo.

THE GOLD COIN: - ... Pensei que Gabriel fizesse.

MULDER: - Gabriel é apenas o mensageiro entre os mundos. O que tem a chave deles. A serpente é o símbolo da energia vital retirada do corpo, permanecendo o cadáver, mas que a ela subsiste, indestrutível. Foi também símbolo da razão e da imortalidade, do combate e do bom gênio. O ouroboros representado pela serpente que morde a própria cauda: eternidade, pela impossibilidade de se auto-devorar totalmente. Você representa a unidade da matéria, portanto, nada do que usar como argumento, me convencerá no espírito.

Mulder se levanta. Olha nos olhos de Coin, sem medo. Ele ainda o tentando com sabedoria.

THE GOLD COIN: - Se foi permitido a você ter forças para erguer essa espada, por que não fica comigo e a usa a favor dos seus semelhantes homens? Eu não posso erguer essa espada, o peso dela é muito grande para mim.

MULDER: - Porque o peso dessa espada é o peso do jugo dos homens. Você não quer carregá-la, quer tomá-la e destruí-la, porque não pode erguer o peso do sangue dos inocentes. Como você bem falou, até Deus tem interesses.

THE GOLD COIN: - (SORRI) Você é realmente fruto da genética angelical da hierarquia superior como eu sou. Tem sabedoria para conversar comigo. Mas não tem astúcia e conhecimento para lidar com isso.

MULDER: - Talvez não tenho astúcia como você. Mas tem certeza de que não tenho o conhecimento? (DEBOCHADO) Como não tenho conhecimento, se foi você quem nos deu? Fomos expulsos do paraíso por isto. Não está feliz por agora eu usar dele contra você?

THE GOLD COIN: -(IRRITADO) Seu macaco arrogante...

MULDER: - Eu sei que o interesse de Deus sobre os homens resume-se numa única palavra: amor. Eu não preciso dessa espada, nunca precisei. Ela não me pertence, pois sou apenas um homem, não posso julgar com justiça. Mas como todos os homens, eu tenho uma arma contra você: o amor.

THE GOLD COIN: - (GRITA) Besteira!!!

Coin desvia os olhos, vira o rosto ressentido, num beiço e olhar de ódio.

MULDER: - (FERINO) Você pode tentar transparecer amor, mas há muito você esqueceu o que é o amor. Porque onde há amor, há perdão. Onde há perdão, há humildade. E onde há humildade, há esperança. E você é apenas um pobre anjo ressentido e magoado por um engano próprio: que Deus não mais o ama. E orgulhoso o suficiente para não pedir perdão.

Coin afasta-se de Mulder. Fica perturbado. Põe as mãos nas orelhas.

MULDER: - (GRITA) Você não quer ouvir isto, não é mesmo? Você jogou fora seu posto de comando no exército Dele quando sentiu algo que não deveria ter sentido: ciúmes! O ciúme mata o amor! Foi o que matou você! Você sentiu ciúmes da criação, que teve a chance de ser eterna como vocês. Não era justo! Nós éramos macacos, vocês seres superiores dotados de inteligência infinita! Por que ele deveria se preocupar mais conosco do que com vocês? Você ficou com ciúmes, Lúcifer!!! Sim, porque tudo o que você mais queria era ficar ao lado Dele!

THE GOLD COIN: - (GRITA) Para!!!

MULDER: - (FERINO) Você sabe o fim disto tudo, mas sabe também que cairá de joelhos diante Dele e chorará feito um filho abandonado! Mas se perguntou se Ele não quis que fosse assim? Tem certeza de que você escolheu isto? Ou Ele fez com que escolhesse, para usá-lo a favor de nós? Você é apenas um agente da evolução humana! E Ele deu essa missão a você porque o ama! Porque o achou digno do posto!

Coin pega a taça de vinho. Bebe-a. Atira-a contra a parede. Olha com ódio para Mulder. Os olhos de Coin parecem chamas.

THE GOLD COIN: - (GRITA) Foda-se você, Ele, o amor e todos os humanos!!!

MULDER: - O reino dos céus é de quem o quiser. Sabe por quê? Porque o Senhor a quem sirvo, tem muitas riquezas, para nos mostrar que não há necessidade do que se comprar. Nada falta. Não é um reino material. A única necessidade do espírito é o amor e a luz. O que você não pode dar. Tolos são os homens que aqui estão iludidos com você, presos a necessidades terrenas. Vendo com os olhos de homem-matéria, seu inferno é o melhor reino. Vendo com os olhos de homem-espírito, seu inferno nada me diz, a não ser que é parecido com a Terra. E se a Terra não é um reino de felicidade, por que um reino semelhante seria?

THE GOLD COIN: - E você é um pobre homem iludido pelo seu próprio engano. Prega o espírito e procura a matéria. Não entende agora, mas vai ter o entendimento disto em breve.

Mulder puxa a espada. Coin recua.

MULDER: - Onde está Scully?

THE GOLD COIN: - Tem olhos e não vês? Ouvidos e não escutas? Fala do amor e não enxerga teu próprio peito?

Mulder avança com a espada. Coin desvia. Mulder acerta a mesa, que racha-se. Vira-se para Coin.


📷


[Som: Era - Enae Volare Mezzo]

Coin pega uma espada na parede. Aponta para Mulder, o desafiando.

THE GOLD COIN: - Quer lutar contra o demônio, não é? Seu arrogante, eu sou um general!!! Estamos aqui, cara a cara, venha me pegar!!!

Mulder avança em cima dele. Os dois lutam a golpes de espada pelo salão. As lâminas quando se tocam produzem som de metais pesados e faíscas. Coin é bem mais ágil.

THE GOLD COIN: -Eu existo bem antes do princípio do mundo e você, um mero macaco ousa me desafiar? Acha que sua inteligência é superior a minha? Perdeu sua própria mulher e nem consegue encontrá-la! Pobre alma perdida! Não é à toa que eu a peguei primeiro, pois você tem razão: nada como o ciúme! Ele mata! Scully se identificou comigo, Mulder. E deve estar em algum lugar do meu reino, implorando a ajuda do marido estúpido que não consegue nem protegê-la!

Mulder começa a lutar com dificuldades. A espada lhe pesa nas mãos.

THE GOLD COIN: -Acha que pode comigo, não acha? Você não pode! Coisa abominável criada pelos homens!!! Você é um monstro, como sua própria amada disse. Um monstro genético! Aberração, ela falou. Você é uma aberração como a sua filha!!!

A espada pesa mais ainda. Mulder mal consegue erguê-la, num esforço e pânico visíveis.

THE GOLD COIN: -Você é mais criatura que qualquer outro macaco sobre a Terra! Você é um monstro amaldiçoado que gerou outro monstro amaldiçoado! Por sua culpa Scully sumiu! E por sua culpa, sua filha morrerá juntando o seu sangue na espada que carrega!

Mulder deixa a espada cair ao chão. Tenta pegá-la, mas não consegue erguê-la. Coin mira a ponta da espada no peito de Mulder, o acuando contra a parede.

THE GOLD COIN: - Não sabe quantos eu matarei se cravar isso em seu peito?

MULDER: - (NERVOSO) ...

Coin continua jogando a culpa de Mulder contra ele mesmo.

THE GOLD COIN: - Não, você não sabe. Porque diz que sou agente evolutivo, mas não se pergunta porque Deus deixou você cair aqui. Não se pergunta, Mulder? Será que Ele não usou Scully para punir você? Ele não se importa com vocês! Deixou a desgraça se abater sobre sua vida! Você duvidou dela, Mulder. Quando eu a tomei, você acreditou que ela havia dito aquelas coisas por vontade própria. Você merece o inferno por isto! Deus não ama vocês, Ele pouco se importa e por isso mesmo nada fez pra evitar que caíssem aqui!!!

Coin abaixa a espada. Pega Mulder pelo pescoço, com uma das mãos, o erguendo contra a parede.

THE GOLD COIN: - Por que veio até aqui se não tem forças contra mim? Acha que munido de uma espada como essa vai me derrotar? Não foi dado a você permissão de me matar! Não está em suas mãos a justiça dos homens, seu verme petulante! Se há algo que odeio de verdade são vermes petulantes que me encaram como se fossem iguais ou superiores a mim, eu Lúcifer, o general dos exércitos Dele! Tenha humildade, maldito macaco, eu existo há bilhões de anos, sou de uma civilização muito mais adiantada que a sua, seu fedelho metido!!!

MULDER: - Eu não quero matar você. Eu não quero fazer justiça. Eu quero apenas Scully de volta.

THE GOLD COIN: - Como posso dar pra você algo que não está comigo?

MULDER: -(DESESPERADO) Por favor, me diga aonde ela está!!!

THE GOLD COIN: - Vamos fazer um acordo. Me dê sua filha e terá Scully de volta.

MULDER: -(ANGUSTIADO) Eu não posso dar a minha própria filha!!!

THE GOLD COIN: - Então não terá sua mulher. Escolha. Scully ou Victoria. É fácil. Vamos, escolha.

MULDER: - Entendi. Você me enfraquece e a espada me foge das mãos. Então me mata! Mas não vou entregar a minha filha pra você!

THE GOLD COIN: - Scully está no inferno. Você vai ter que ficar aqui para procurá-la. Cada dia da sua vida vai buscar por ela. Por toda a eternidade. Pois onde ela está, você jamais suspeitará. E terá que habitar comigo aqui. E não terá descanso na busca, porque o inferno é a repetição!!!

Mulder desvencilha-se dele e pega a espada. Coin joga Mulder contra a mesa. Mulder desaparece no nada.

[Fade in - Tela escura]


[Vozes que sussurram]

[Som: Era - Enae Volare Mezzo]


[Fade up - Tela abre]

Penumbra. Mulder caído ao chão, desacordado. Ao lado dele, a espada.

MULDER (OFF): - Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não há mácula...

Mulder abre os olhos. Estende a mão e pega a espada. Levanta-se. Olha para o alto. Escuridão que não se detecta o fim. Mulder observa o lugar. Olha para o chão.

O chão coberto de rostos humanos, presos por uma camada fina de gelo, fisionomias de pavor e medo, imóveis.

Há uma porta de ouro no meio do nada, com uma tocha a cada lado da porta. Mulder corre na direção da porta. Passa a mão na porta que reflete sua imagem. Vê atrás de si dois pares de asas. Mulder olha para trás atordoado, sem ver nenhuma asa. Empurra a porta com as duas mãos. Entra em um corredor escuro, iluminado por tochas nas paredes. A porta se fecha atrás dele.

Mulder caminha rapidamente, angustiado. Aperta o passo, nervoso. Chega ao fim do corredor. Então cai de joelhos e aos prantos ao ver novamente o deserto vermelho.

THE GOLD COIN (OFF): - Eu não disse que o inferno é a repetição?

MULDER: - (GRITA/ DESESPERO) Nãoooooooooo!!!!!!!!! De novo não!!!!!!!!!!!!


Hospital Memorial – Virgínia – 4:19 P.M.

Meg aproxima-se do balcão da recepção. Victoria de mão dada com ela. A enfermeira preenche papéis.

MEG: -Boa tarde. Eu procuro por Charles Spender.

A enfermeira ergue os olhos curiosos.

MEG: -Meu nome é Margareth Scully.

ENFERMEIRA: - É parente?

MEG: -Amiga da família.

ENFERMEIRA: - Um momento, por favor.

A enfermeira se afasta da recepção, olhando pra Meg com indiferença. Victoria observa o aquário.

VICTORIA: - Olha quantos peixinhos, vovó! Coloridos!

DRª SUSAN: - Senhora Scully?

Meg olha para a médica baixinha e ruiva que se aproxima estendendo a mão.

DRª SUSAN: - Sou a Dra. Susan Lewis.

MEG: -(SEGURA AS LÁGRIMAS) Desculpe, você me lembra alguém.

DRª SUSAN: - Espero que seja alguém de quem goste.

MEG: -(SEGURA AS LÁGRIMAS) Alguém de quem eu sinto muita falta.

Susan olha para Victoria. Sorri, inclinando-se pra frente.

DRª SUSAN: - Olá mocinha! Tenho algo pra uma menina bonita aqui...

Susan tira um chocolate do bolso do jaleco. Entrega pra Victoria. Ela pega, sorrindo.

MEG: -Como se diz?

VICTORIA: - Obrigada.

Susan sorri. As duas saem caminhando pelo corredor. Victoria as segue, olhando curiosa para a médica.

DRª SUSAN: - É amiga do senhor Spender?

MEG: -Eu sou a sogra do filho dele.

DRª SUSAN: - Fico feliz de vir até aqui, senhora Scully. Tentamos contatar parentes e amigos, mas não encontramos ninguém... Eu praticamente adotei o senhor Spender como um amigo, todos os dias eu venho ler alguma notícia para ele, conversar alguma coisa... Mesmo que ele esteja sedado diariamente, pois não há outro jeito de aliviar sua dor. Tento afastar a solidão que deve estar sentindo, pois diversas vezes o flagrei chamando pelo nome Fox, pedindo perdão ao filho. Eu não sei o que houve entre ele e seu filho, mas seja qual o problema, não entendo porque um filho abandonaria o velho pai desenganado num leito de hospital.

MEG: -Drª Susan... O filho dele faleceu há alguns meses.

DRª SUSAN: - Lamento muito, Sra. Scully. Quando ele entrou aqui nos disse que não tinha quem se preocupasse com ele, nem família ou amigos. Na situação em que está, é realmente muito triste não ter pessoa alguma que se importe com ele.

MEG: -O que houve com o senhor Spender?

DRª SUSAN: - Há dois dias atrás sofreu duas paradas cardíacas. Precisamos fazer uma intervenção cirúrgica e colocar duas pontes safenas. Mas ele não está reagindo como esperávamos. Em parte por causa do tumor.

MEG: -Tumor?

Susan para em frente ao quarto. Afasta-se com Meg. Victoria abre o chocolate, ouvidos colados na conversa.

DRª SUSAN: - Pensei que soubesse. Há um ano ele está se tratando de um tumor alojado em seu cérebro, e infelizmente fumar não está ajudando muito. É um tumor já em estágio muito avançado. Não podemos remover cirurgicamente, há muitos riscos e por causa da idade...

MEG: - ... Eu...

DRª SUSAN: - Preciso ser honesta quanto a situação do senhor Spender. Tudo o que temos são esperanças. Ele está muito fraco e não reage mais ao tratamento. Tem delírios, chama por pessoas que não conseguimos encontrar... Realmente, senhora Scully, agradeço que tenha vindo, pois é muito triste uma pessoa acabar os dias de sua vida sozinha e abandonada num quarto de hospital.

Victoria olha para a porta. Sem que elas percebam, Victoria empurra a porta.

Corte.


Victoria entra no quarto.

O Canceroso deitado, de olhos fechados. Aparelho de respiração na traqueia. Aparelhos por todo o lado. Victoria aproxima-se da cama.

CANCEROSO: - ... Não tenham pena... de mim. Eu mereço isto. Tenho como sair dessa, há cura e recursos, mas não quero. Me deixem morrer em paz.

Victoria empurra a cadeira. Sobe nela. Olha para o Canceroso. Ele abre os olhos. Surpreende-se.

CANCEROSO: - ... Você? Como me encontrou?

VICTORIA: - ... Você está dodói.

CANCEROSO: - Estou pagando minha dívida... É justo.

O Canceroso fecha os olhos. Sente a pequenina mão sobre a sua.

VICTORIA: - Você não vai morrer, vovô. Meu anjinho não vai levar você.

CANCEROSO: - ...

VICTORIA: - Ele mandou dizer que você precisa se arrepender em vida, que você terá uma chance. Não entendi nadinha.

CANCEROSO: - ... Eu entendo...

Victoria leva a mão ao coração dele e outra à cabeça. Fecha os olhos.

Residência de Margareth Scully – 9:20 P.M.

Victoria na frente da TV, sentada no chão. O canal fora do ar, ela observa o movimento dos pixels. O telefone toca. Meg sai da cozinha. Troca o canal pra um desenho. Atende o telefone. O canal da TV volta para o canal fora do ar.

MEG: -(AO TELEFONE) Alô? ... Sim, quem é? ... Ah, senhor Krycek... Sim, você estava certo. Estive no hospital, o senhor Spender está lá mesmo e está morrendo... Sim, ela está bem, assistindo televisão... Voltou lá? Descobriu alguma coisa? ... (SUSPIRA) Espero que consiga, senhor Krycek... Obrigada por tudo o que está fazendo... Boa noite.

Meg desliga. Perde o olhar num ponto de fuga, enchendo os olhos de lágrimas. Então volta pra cozinha. Victoria continua olhando pra televisão fora do ar.

VICTORIA: - (SORRI) Sim... Mas eu não devo fazer isso.

Meg na cozinha, lavando a louça.

VICTORIA: - Tá... Mas eu não vou levar uma bronca?

Meg fica curiosa. Volta pra sala. Victoria assistindo o canal fora do ar. Meg a observa.

VICTORIA: - ... Não estou entendendo.

MEG: -Filha, com quem está falando? Algum amigo imaginário?

VICTORIA: - Com meu anjinho, vovó.

MEG: -(SORRI) Está rezando? De frente pra TV?

VICTORIA: - Não. Tô falando com meu anjinho.

MEG: -E onde está o seu anjinho?

VICTORIA: - (APONTA PRA TV/ SORRINDO)

Meg fica nervosa. Senta-se ao lado dela, tentando ver alguma coisa na tela.

MEG: -O que o seu anjinho está dizendo?

VICTORIA: - Que eu preciso ir pra minha casa.

MEG: -Mas a casa da vovó também é sua casa.

VICTORIA: - Não, essa não é a minha casa.

MEG: -(SUSPIRA) Vamos dormir, já está tarde. Vou subir e arrumar sua cama.

Meg sobe as escadas. Victoria desvia os olhos para a porta.

Corte.


Mulder em frente ao castelo. Olhar de ódio. Avança em direção ao castelo.


Residência de Barbara Wallace - 9:23 P.M.

Barbara calada, tomando chá com torradas no balcão da cozinha. Baba sentada ao lado dela. Krycek desliga o telefone. Baba olha pra ele.

KRYCEK: - É. Garganta não mentiu. O Fumacinha tá nas últimas. A cura ele tem, só não quer...

BABA: -Vai ver cansou das maldades e desistiu de tudo mesmo. E Victoria?

KRYCEK: - Está assistindo televisão. Eu tô preocupado.

BABA: - Imagina eu. Se Meg ficar com a custódia dela, como vamos protegê-la? Os Scully vão vender a casa. Bill já me avisou pra arrumar outro emprego... Ele nem sabe que já tenho outro na agência do Mulder. Acho que vou pra lá e tocar os negócios até eles voltarem.

BARBARA: - Tem um quarto pra você nessa casa. Pode trazer suas coisas. Não vai dormir na agência pro resto da vida. Pode morar com a gente. Com sorte, algum dia, talvez, quem sabe, Deus é pai né, milagres acontecem, eu precise de uma babá nessa casa com o seu talento.

Krycek disfarça, servindo um chá. Baba segura o riso.

BABA: - Agradeço, mas até venderem a casa, ainda tenho tempo. Eu sei que Mulder e Scully vão voltar, mas os Scully não acreditam.

BARBARA: -(IRRITADA) Bill Scully não acredita! Ui!!! Eu tô irritada!!! Hoje sou eu quem quer matar um!!!

Barbara se levanta num ímpeto e atira a caneca na pia. A caneca se quebra. Krycek olha pra ela com olhos arregalados, assustado.

BARBARA: - (IRRITADA)Primeiro aquele imbecil do Skinner acusando meu noivo de ser responsável pelo sumiço deles e ofendendo na cara dura o meu Ratoncito! Depois esse idiota do irmão da Scully dizendo que não haveria velório na casa dos Mulder, porque a família deles eram os Scully. Pode isso?

KRYCEK: - Barbara...

BARBARA: -(IRRITADA) Me deixa falar, Ratoncito! Você engole sapo demais! Eu não tenho sangue de barata não, eu sou latina, eu rodo o vestido, levanto o salto e faço o maior barraco! Mulder não tem amigos e nem família? Ninguém que se importe com ele? Mulder não é nada? Falta de respeito, sabia? Samantha nem ficou na casa do irmão, foi pra casa do Frohike com o filho! Eu também não ficaria!!! Quem aquele militar pensa que é pra se achar dono do campinho? Bem que Mulder dizia mesmo que o sujeito era um pé no saco! E ainda levou Victoria pra ficar com a Meg, sem nem perguntar pra Baba se podia! Agora a menina tá lá, sem segurança alguma, chance perfeita pro Coin atacar!!!

KRYCEK: - Malyshka, ela não é nossa filha, não somos parentes, não podemos arrumar briga com a família da Scully, todos estão sofrendo e perdidos...

BARBARA: - Ah, você vive defendendo os outros que não tão nem aí pra você, cara pálida! Eu não levo desaforo pra casa, mas não levo mesmo! Vamos entrar com o pedido de adoção!

BABA: - Não tem chances, Barbara. Que juiz vai tirar a neta de uma avó e entregar para estranhos? Vocês nem são padrinhos dela. Skinner teria mais chances.

BARBARA: - Eu tô nervosa! Eu sei que ela está bem cuidada, a mãe da Scully é um amor. Mas ela não tem como defender a neta dessa coisa toda que a gente tá acostumada a encarar! E o Alex não pode ficar vigiando a casa a noite toda, quando é o pior momento, ele tem que trabalhar... A não ser que eu e você, Baba...

KRYCEK: -Tira essas ideias malucas da sua cabeça, ok? A gente vai dar um jeito. Temos uma reunião hoje. Depois vou falar com o Skinner...

BARBARA: - (IRRITADA/ AOS GRITOS) Mas não vai mesmo! Não quero ter que ir novamente até o FBI tirar você de lá e nem quero mais ouvir o Skinner ofendendo você ou eu vou lustrar aquela careca dele a tapas!!!

KRYCEK: - (IRRITADO) Você não entende, Malyshka! Eu fiz muita merda, não posso condenar Skinner por não acreditar em mim!

BARBARA: - (IRRITADA/ AOS GRITOS) Ah, certo! Então quando você tiver 80 anos de idade e sumir algum cachorro na vizinhança, o culpado será você porque fez muita merda quando era mais jovem? Ah, por favor Alex! Pra mim chega!

Baba cruza os braços observando os dois, segurando o riso.

KRYCEK: - Malyshka, por favor, isso não é hora, tá? Baba, desculpe por isso...

BARBARA: - (IRRITADA/ AOS GRITOS) É hora sim! Até parece que Baba nunca viu briga de casal! Tem coisas que você nunca entende, Ratoncito! Uma delas é que você é gente e merece respeito, você deixa as pessoas pisarem em você por culpas de coisas que já se foram! A realidade agora é outra! Se alguém me ofendesse na sua frente, você ficaria calado, colocando panos quentes em cima? Ahn? Claro que não, você sairia na porrada! É assim que me sinto quando alguém ofende você na minha frente! Porque eu te amo! Eu sei quem você é, sei a pessoa em que se transformou e ninguém mais tem o direito de acusar você das merdas que acontecem, só porque num passado já bem distante, você fazia coisas erradas. E o pior de tudo é que olham pra você com mais desdém do que olham para o maldito Spender, o verdadeiro culpado de tudo, o capeta em pessoa! Você era apenas um bode expiatório e acabou com a fama de demônio nessa história toda!

Barbara sai da cozinha, furiosa. Baba olha pra Krycek.

BABA: - O pior de tudo é que ela tem razão, Alex. Ter humildade não significa ser humilhado.

KRYCEK: - ... É. Mulder me diz isso, mas de uma maneira menos passional. A Barbara desce do salto quando está furiosa.

BABA: - Me coloco na pele da Barbara. Nenhuma mulher gosta de ver seu homem sendo humilhado. Isso dói, sabia? Se não acredita em mim, vou te contar o que acontece quando alguém humilha o Mulder na frente da Scully. A baixinha vira um ninja e não importa quem seja, até o Bill já levou nas orelhas por fazer isso. Se Scully estivesse aqui e ouvisse o que Bill falou sobre Mulder não ter família e ninguém, pode apostar que ela daria um safanão nele daqueles bem dados.

KRYCEK: - Vou falar com a nanica. Hoje ela acordou com a macaca.

Baba se levanta.

BABA: - Fale. E depois atravessem a rua pra nossa reunião emergencial. Os Pistoleiros já devem estar chegando. Vou lá, adiantar um café pra nós.


10:11 P.M.

[Som: Collide – Wings of Steel]

Victoria corre pela calçada escura, vestida de pijamas e pantufinhas. Olha para todos os lados, com medo. A cidade vazia. Nenhum movimento na rua.

Victoria diminui o passo. Para. Olha assustada para o lado.

Um beco, iluminado por apenas um poste.

Movimento de sombras pelo chão. Vão se expandindo e crescendo como uma bola orgânica negra.

[Som de sussurros indecifráveis de vozes grotescas]

Victoria arregala os olhos. A bola de sombra explode, soltando diversos demônios alados. Victoria recua.

[Som de asas]

Vemos a sombra projetada na parede, de asas enormes, que joga-se sobre os demônios. O sangue que espirra na parede.

Sons de navalhas, carne cortada.

Victoria vira-se de costas, levando as mãozinhas ao rosto. A mão masculina suja de sangue, toma a mãozinha dela. Ela olha pra cima.

VICTORIA: - (SORRI) Obrigada, meu anjinho!

Os dois saem caminhando pela calçada. O foco sobe revelando Gabriel de costas, que caminha segurando a mão de Victoria, vestido num sobretudo negro, deixando um rastro de sangue pelo chão. Ele e a menina desaparecem no nada.

Corte.


Mulder entra no salão. Coin está sentado na poltrona, bebendo vinho. Mulder avança sobre Coin. Ele desaparece. Mulder o procura com os olhos. Ele está no alto das escadas.

THE GOLD COIN: - Repetição. Lembra-se?

Mulder aproxima-se das escadas. Os dois gárgulas de pedra tomam vida. Abrem as imensas asas e grunhem em direção a Mulder. Mulder recua. Coin começa a rir.

THE GOLD COIN: - Quem não serve a mim é meu inimigo.

Um vento sopra arremessando Mulder pra fora do salão. Mulder cai no pátio do castelo. Levanta-se. Vira-se para trás. Diversas pessoas armadas de espadas, lanças, facas, arcos e armas medievais.

Coin surge no parapeito dentado no alto da muralha. Abre os braços.

THE GOLD COIN: - Vocês querem luz: eis a luz. Tirem os pedaços dele. Ao que me der a espada dele, dar-lhe-ei a chance de voltar à vida na Terra.

As pessoas avançam sobre Mulder. Mulder recua. O número de pessoas é de milhares. Mulder acena negativamente com a cabeça.

MULDER: - Tô perdido... Sentei no lado errado do estádio...

Um deles parte pra cima de Mulder com uma espada. Mulder acerta a espada nele. O homem cai ao chão, desintegrando-se. Os outros recuam, com medo. Mulder olha incrédulo para a espada. Ninguém tem coragem de se aproximar. Mulder ri.

MULDER: - (GRITA) Entendi!!!! Isso aqui mata a alma! É por isso que você tem medo!!!!

Coin estende a mão para baixo. Mulder começa a levitar, olhando pra baixo apavorado. Levita até a altura onde Coin está. Coin olha em seus olhos.

THE GOLD COIN: - Me enchi de você, mosquito chato!

Coin abre os braços. O vórtice de vento sai do chão, tomando forma e ficando maior. Mulder olha para o vórtice abaixo dele. Milhares de pessoas esqueléticas dentro dele.

Coin estende a mão fechada.

THE GOLD COIN: - Quer Scully de volta? (GRITA) Então vá buscá-la em todas as dimensões do inferno!!!

Coin sorri. Abre a mão.

MULDER: - (GRITA) Nãooooooooooooo!!!!!!!!!

Mulder cai no vórtice, desaparecendo entre milhares de almas ali dentro.


Residência dos Mulder – 10:17 P.M.

Victoria e Gabriel param em frente a casa. Victoria olha pra cima.

VICTORIA: - Você tá muito cansado, anjinho. Veio de tão longe!

Victoria estende os braços. Gabriel se agacha, de costas para a câmera. Victoria abraça-se nele. Beija-o. Entra correndo no jardim.

Gabriel levanta-se. Olha para cima. Um facho de luz o cobre e ele desaparece na luz.

Victoria vai para os fundos, entrando pela passagem do cachorro. Corre até a sala. Baba assiste TV. Ao vê-la, leva um susto.

BABA: - Victoria? O que está fazendo aqui? Onde está a vovó?

VICTORIA: - Papai... Mamãe... Eles estão lá fora.

Baba corre abrindo a porta. Não vê nada. Olha para Victoria a questionando.

VICTORIA: - (AFLITA) Eles estão lá fora!

Baba se aproxima dela. Victoria se abraça em Baba.

BABA: - Fica calma, tá bom? O que está tentando me dizer?

VICTORIA: - Não sei... (COMEÇA A CHORAR) Eu só sei que eles estão lá fora. O anjinho me disse.

Baba afaga os cabelos dela.

BABA: - Vou ligar pra sua avó, ela deve estar aflita. Depois a Baba vai fazer um chocolate quente pra você, tá bom? E vamos dormir juntinhas.

Baba sorri, a abraçando forte.

Corte.


Mulder se acorda. Ergue o rosto. Está caído no meio do asfalto, segurando a espada. Suas roupas são comuns ao século 21.

Mulder levanta-se. Está em Washington. Mas a cidade está vazia. Carros parados na rua. Nenhuma vida. Mulder olha pra cima. Nenhum céu, apenas escuridão. Mulder então começa a derrubar lágrimas. Corre pela rua deserta.

MULDER: - (DESESPERADO) Scully!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Corte.


[Som: Collide – Wings of Steel]

Mulder corre pela rua. Entra em uma loja, tudo vazio e destruído. Mulder sai. Caminha desanimado. Para no cruzamento.

A densa neblina que se aproxima pela rua em direção a ele. Mulder fica parado. A neblina passa por sobre ele. Mulder não consegue ver nada.

[Som de asas batendo]

Mulder olha pra cima, assustado. Ergue a espada. Um golpe seco de um demônio alado o pega por trás. Mulder vira-se. Percebe mais demônios alados voando em sua direção.

[O som das asas é perturbador e assustador]

Mulder começa a correr, enquanto acerta alguns golpes de espada, tentando se defender. A neblina passa por ele completamente. Mulder acompanha com os olhos a neblina que segue pela rua. Olha pra sua roupa rasgada e alguns ferimentos. Então olha para o outro lado e começa a correr.

Corte.


📷


Mulder sai do elevador do FBI. Aproxima-se da porta dos extintos Arquivos X. Mulder entra. Fecha a porta atrás de si. Móveis velhos empilhados e quebrados. Caixas de papéis. Mulder sai.

O ambiente do lado de fora da sala agora está escuro.

[Som da respiração tensa de Mulder]

Mulder abre a porta dos Arquivos X novamente. Entra. Fisionomia de espanto ao ver que o ambiente mudou. Não há mais nada ali dentro. Mulder começa a rir, insano.

MULDER: - ... O que... Está acontecendo?

A criatura grotesca de asas e manto negro ao fundo da sala. Olhos vermelhos. Observa Mulder.

Mulder, assustado, recua. Abre a porta e sai. O ambiente está claro novamente. Mulder olha pra porta dos Arquivos X. Abre-a de novo, com receio, procurando a criatura. Apenas caixas e móveis velhos como antes. Mulder leva as mãos ao rosto.

MULDER: - Não, você não vai me enlouquecer... (GRITA/ ANGUSTIADO) Não vai!!!!!!!!!!!!

Mulder aperta o botão do elevador. A porta se abre. Mas não há mais um elevador. Apenas o poço do elevador. Mulder, receoso espia para baixo.

SCULLY (OFF): - Mulder!!!

MULDER: - (SORRI) Scully??? (TENSO) Scully!!!!!!!!!

Mulder ajoelha-se no chão, tentando ver Scully no poço negro.

THE GOLD COIN (OFF): - Não vai desistir dessa busca inútil?

As mãos gigantescas com garras negras o puxam pelos pulsos pra dentro do poço. Mulder grita. A porta do elevador se fecha.

Eco do grito de Mulder.

Corte.


Mulder, ofegante, ferido e cansado, continua correndo pela rua. Dobra a esquina, está na rua da sua casa.

Ele tira forças do nada, entrando no jardim. Para. Toma ar e corre, empurrando a porta. Sobe as escadas rapidamente. Entra no quarto.

Quarto vazio. Mulder corre para o quarto de Victoria. Vazio. Mulder se desespera.

MULDER: - (GRITA) Scully!!!!!!!!!!!!!

Na cozinha, Baba deixa a xícara cair. Fica tonta.

BABA: - Não estou me sentindo bem. Acho que essa história toda com a Victoria me deixou nervosa.

Baba vai pra sala. Senta-se no sofá e pega uma revista. Mulder desce as escadas. Baba olha pras escadas.

Mulder fica parado na escada, olhando pra todos os lados. Baba olhando pras escadas.

MULDER: - Onde está todo mundo?

Baba se levanta. Passa através de Mulder e sobe as escadas.

Nenhum dos dois percebe o outro.

Dimensões de tempo diferentes, no mesmo espaço. O inferno é a repetição.


10:46 P.M.

Mulder anda de um lado pra outro, dentro do quarto, angustiado.

Corta pra sala.

Baba anda de um lado para o outro, observando o teto da sala. Frohike a observa, desconfiado. Skinner escorado na escada, cabisbaixo. Krycek, sentado no sofá, pensativo. Barbara sentada ao lado dele, com os dedos enlaçados nos dedos dele, numa cara de poucos amigos. Ellen serve chá. Langly, sentado na poltrona de Mulder, segura o boneco do capitão Kirk. Susanne olha pra ele. Byers a seu lado, embala a filha.

LANGLY: - Ele adorava Star Trek... Uma vez fomos numa convenção juntos... Comprei esse boneco pra ele...

SUSANNE: - (SORRI) Vocês eram muito amigos.

LANGLY: - (SORRI) Ele quem me deu essa camiseta dos Ramones... Já tá puída, mas eu não tiro nunca. Mulder era um cara legal. É um cara legal. Eu acredito que vamos achar um jeito de abrir aquele portal e tirá-los de lá.

BABA: - Minha experiência com portais é fechá-los. Não sei como abri-los. Posso tentar encontrar alguém que faça isso.

BARBARA: -E funcionaria?

BABA: - Não sei. Mas podemos tentar.

FROHIKE: - (OLHA PRA BABA) Meg vai vender a casa... Aonde vai ficar?

BABA: -Tá falando comigo?

FROHIKE: - É. Acho que é você quem mora aqui.

ELLEN: - Posso arrumar um apartamento pra Baba.

KRYCEK: -Se ferrou, baixinho!

Frohike encara Krycek. Krycek começa a rir. Ergue a cabeça. Olhos inchados. Levanta-se, segurando as lágrimas.

KRYCEK: - (REVOLTADO) Sabem de uma coisa. De todos aqui dentro, eu é quem não deveria estar desse jeito por causa daquela louca e daquele idiota!

Todos olham pra ele. Krycek vai pra cozinha, perturbado. Barbara vai atrás dele.

FROHIKE: - O que deu no russo?

SKINNER: - ... Estou uma pilha de nervos, porque tenho as mãos atadas e nem sei por onde começar a procurá-los!Eu acho que julguei Krycek erroneamente de novo...

BABA: - O respeitem. A vida brincou com eles.

FROHIKE: - Como assim?

BABA: - (SORRI) Algumas vezes as almas se desesperam demais para voltar a vida. Mulder foi uma delas... Se tivesse esperado, não teria nascido na família errada...

FROHIKE: - ???

BABA: - Eles eram para serem irmãos. Almas velhas, que se conhecem de outras vidas e têm forte apego. Agora carregam essa eterna luta inconsciente, um culpando o outro, por algo que não compreendem.

Frohike e Skinner se entreolham. Susanne ajeita a roupinha da bebê. Byers sorri. Langly olha pra eles.

LANGLY: - Acho que ela dorme demais.

SUSANNE: - É um bebê.

LANGLY: - Julie Modesky Fitzgerald Byers...

FROHIKE: - (DEBOCHADO) Pensei que a batizariam de Marilyn Monroe em homenagem ao pai.

Corta para a cozinha.

Krycek escorado na pia, observa pela janela. Barbara se aproxima, abraçando-o pelas costas.

BARBARA: - ... Ainda a ama, não é mesmo?

KRYCEK: -(INCRÉDULO) A Scully?

BARBARA: - (DEBOCHADA) Não, o Mulder!

KRYCEK: -(IRRITADO) Barbara, por favor! Você hoje está com a macaca, não sei o que andou misturando naquele chá! Eu não quero falar sobre isso... Você vai rir de mim.

BARBARA: - Não vou rir de você, Ratoncito.

KRYCEK: -Vai sim. Já tá até fazendo piadinha.

BARBARA: - (SEGURA O RISO) Sente falta do Mulder, não é mesmo?

KRYCEK: -... Sinto. Não tenho mais com quem conversar, conspirar e brigar. Quem vai me irritar com piadinhas bestas agora? Ahn? Aqueles idiotas lá na sala? Eles nem sabem contar piadas!

BARBARA: - ... Pensei que ainda sentisse algo por Scully.

KRYCEK: -Como você é boba, sabia? Scully não faz o meu tipo e ela não sabe dançar salsa.

Barbara sorri. Krycek vira-se pra ela e a abraça.

Mulder passa por eles na cozinha. Cookie começa a uivar, acompanhando Mulder com os olhos. Krycek olha pro cão.

KRYCEK: - O que esse cachorro tem?

Mulder passa através de Cookie, voltando pra sala. Sobe as escadas, desanimado e triste. Baba olha para as escadas.

BABA: - (FECHA OS OLHOS) Tem algo estranho aqui.

FROHIKE: - O que está sentindo?

Krycek e Barbara entram na sala. Baba olha para o teto da sala.

BABA: - E-eu não sei... Talvez seja uma impressão, só isso.

SKINNER: - Que tipo de impressão?

BABA: - Eu não sei explicar... Sinto presenças nessa casa.

KRYCEK: - Tá legal, agora você vai dizer que Mulder e Scully estão assombrando a casa.

BABA: - Não... Não é ela. É ele, mas é ela... E-eu não sei dizer... Não faz sentido... É como se eu... Se eu sentisse ele, mas ela está junto... Esqueçam. Estou estressada. Melhor arrumar minhas coisas. Bill ligou, vai fechar a casa e levar as coisas de Victoria. A casa já está à venda.

KRYCEK: -Eu compro a casa com tudo dentro e você fica, deixa tudo como está. Não podemos vender a casa deles! Eles vão voltar! É o lar deles! Eles batalharam tanto por isso, é injusto!

ELLEN: - E se eles não voltarem?

KRYCEK: - Eles vão voltar. Eu acredito nisso. Eu sei que Mulder deve estar procurando Scully. Ele só vai voltar quando encontrá-la. E Mulder nunca desistirá dessa busca, como nunca desistiu de buscar a irmã dele.

LANGLY: -E se ele cansar e desistir?

KRYCEK: - Langly, você nunca se apaixonou de verdade. Ele não vai desistir de procurar a garota dele. Agora entendo o Mulder. Se fosse eu, também não desistiria de procurar a minha.

Barbara olha apaixonada pra ele. Baba desce os óculos por sobre o nariz e segura o riso.

FROHIKE: - Nem eu.

Baba fica séria e faz careta pra Frohike.




BLOCO 4:

Residência dos Mulder - 2:38 P.M.

Meg puxa Victoria que se agarra na escada, chorando e aos gritos. Baba segura as lágrimas, nervosa.

MEG: - (ANGUSTIADA) Filha, vamos pra casa da vovó.

VICTORIA: - (CHORANDO) Nahhhhhh!!!!!!!!!!!!!!

MEG: -Não podemos mais ficar aqui!

VICTORIA: - (CHORANDO) Eu quero o meu papai e a minha mamãe!!!

MEG: -(PÕE A MÃO NO ROSTO/ QUASE CHORANDO) Deus! Como ela sente falta deles!

BABA: - (INTERMEDIANDO) Krycek já garantiu que paga o que pedirem, isso foi resolvido, a venda da casa está garantida. Só me dê algum tempo aqui com Victoria, eu a convencerei de ir com a senhora.

MEG: -Eu não vejo necessidade.

BABA: - Não está vendo que ela está sofrendo? É a casa dela, os pais dela. Ela perdeu tudo o que tinha, é lógico que não esteja assimilando mais mudanças. É apenas uma menininha, Meg. Pense na confusão que está a cabecinha dela.

Meg olha ternamente pra Victoria, que sentadinha nas escadas, chora baixinho e soluçando.

MEG: -Pensei que ela gostasse de mim.

BABA: - Ela ama a senhora.

MEG: -Ela gosta de você. Por isso não quer ir comigo, por isso fugiu lá de casa... Você cuidou dela. É normal que seu apego seja mais com você e Mulder, do que com a minha família.

BABA: - (TRISTE) ... Meg... Infelizmente a vida foi assim. Não pode condenar que ela seja tão mais apegada ao pai do que é a mãe. Mas isso não diz que ela não sente falta da mãe dela também. Não julgue os sentimentos de uma criança pelas concepções de um adulto.

MEG: -Cuide dela. É um pedaço da minha filha que está nela. Victoria é tudo o que me resta da Dana. É meu tesouro mais precioso... Espero que a convença.

BABA: - (SORRI) Ela é meu tesouro também, Meg. Eu daria minha vida por ela.

Meg beija Victoria e vai embora. Baba senta-se na escada, ao lado da menina.

BABA: - Tá legal, bruxinha. Estamos sozinhas agora... Eu sei porque não quer sair daqui. Tem algo aqui. Algo que eu não sei e que você sabe, mas não entende. É criança demais pra compreender tantas coisas.

Victoria se abraça em Baba. Baba sorri, afagando os cabelos dela.

BABA: - Não chora, hum? Temos uma a outra. Somos amigas. Eu sei que não vou suprir a falta que você sente dos seus pais. Eu também sinto falta da minha filhinha.

Victoria enxuga as lágrimas. Olha pra Baba.

VICTORIA: - Você tem uma filhinha, Baba?

BABA: - Tenho.

VICTORIA: - E por que ela não mora aqui com a gente?

BABA: - Porque alguém a levou de mim.

VICTORIA: - Os homens maus, Baba?

BABA: - Sim. Os homens maus.

VICTORIA: - Ah pobrezinha dela, Baba! (ENCHE OS OLHINHOS DE MAIS LÁGRIMAS) É tão triste estar longe do papai e da mamãe...

BABA: - (OLHOS EM LÁGRIMAS) E é triste estar longe da nossa filhinha.

VICTORIA: - Você vai ser a minha mamãe. Eu vou ser a sua filhinha. Eu vou cuidar de você, Baba.

Baba sorri entre lágrimas. Victoria começa a mexer nos cabelos rastafáris de Baba.

BABA: - E eu vou cuidar de você, minha bruxinha.

VICTORIA: - Quando crescer vou pegar esses homens maus! Eles nunca mais vão roubar filhinhas ou mamães. Eu vou lutar contra eles!

BABA: - (SORRI) ...

VICTORIA: - É pela espada, pela justiça e pela verdade.

Baba olha pra ela, assustada.

BABA: - Ei, acalme-se... De onde tirou isso?

VICTORIA: - Meu anjinho disse pra mim.

BABA: - Esse seu anjinho é meio nervoso, não? Vamos lá pra cozinha. O Cookie deve ter roído as cadeiras de fome.

VICTORIA: - Eu dou comida pro Ikito e pra Nine. Você dá comida pro Cookie e pra Molly.

BABA: - É... É uma divisão justa.

Victoria corre pra cozinha aos pulos. Baba apóia o rosto na mão, num sorriso.

VICTORIA: - Vem Babinha!!!!!!!!

BABA: - Já estou indo criança. (SORRI) Já estou indo.

Mulder parado no alto da escada. Olhar perdido. Senta-se na escada, desatinado. Põe as mãos no rosto.

MULDER: - Onde estão vocês? Levaram todo mundo?


4:38 P.M.

Na cozinha, Baba serve chocolate nas pequenas xícaras de plástico. Victoria coloca o bolo sobre a mesa. A raposa sentada na cadeira. Uma boneca de olhos azuis e ruiva na outra.

VICTORIA: - Deixa que eu sirvo o nosso chocolate.

BABA: - Você vai derrubar o bule da sua mãe. Sente-se aí.

Victoria senta-se.

BABA: - (SEGURA O RISO) Eu sirvo os convidados. Eu sou a anfitriã.

VICTORIA: - O quê que é isso?

BABA: - Anfitriã?

VICTORIA: - Humhum.

Victoria cruza os braços sobre a mesa e apóia o queixo neles, esperando resposta.

BABA: - Anfitrião é a pessoa que dá a festa.

VICTORIA: - Essa xícara é pequena pro Fox. Ele é esganado.

BABA: - Conheço bem o "Fox". Sei o quanto ele adora chocolate.

VICTORIA: - Bota bem "pouquinhozinho" pra Kathy. Beeemmmm pouquinho!

Baba olha pra boneca. Percebe o crucifixo de Scully no pescoço dela. Olha pra Victoria num olhar terno.

BABA: - Eu já sei. A Kathy não quer muito chocolate porque ela tem que manter a forma.

Victoria sorri afirmando com a cabeça.

VICTORIA: - Me ajuda a arrumar o cabelo da Kathy? Ela tem um cabelo tão lindo!

BABA: - Eu acho a Kathy muito bonita.

VICTORIA: - Eu também. Ela é linda! Eu queria ter a cor dos cabelos dela... Vamos trocar o vestido, a Kathy tem que ficar mais bonita ainda. (RINDO) Ela vai namorar!

BABA: - Mas a Kathy já namora? Mas Kathy, sua namoradeira...

VICTORIA: - Claro! Ela tá apaixonada pelo Fox. Mas ele não sabe!

BABA: - Normal. Fox é um bobalhão, nunca vê as coisas. E eles já se beijaram?

VICTORIA: - Nahhh! Não pode beijar ainda, Babinha! Eles não se casaram!!!!

Baba sorri. Mulder entra na cozinha, carregando a espada. Victoria vira-se para a porta da cozinha. Fecha os olhos. Sorri. Baba senta-se. A observa. Mulder passa pela cozinha, saindo pela porta dos fundos.

BABA: - O que foi?

VICTORIA: - Papai acaba de passar por aqui. O cheirinho dele...

BABA: - (ASSUSTADA) O que você falou?

VICTORIA: - Papai tá aqui Baba.

BABA: - ... Eu... Eu devo estar mais maluca do que você, que é apenas uma criança... Mas eu também sinto a presença daquele judeu sovina aqui dentro. Escuto os passos dele. Igual quando ele caminhava no sótão nas madrugadas, quando sua mãe tinha ido embora... Me deixava nervosa... Passos lentos e pesados... Sem rumo... Perdido. Louco atrás dela.

VICTORIA: - Sente o cheiro da mamãe? ... É o cheirinho dela. Cheiro de canela.

BABA: - Você sente isso?

Victoria afirma com a cabeça.

BABA: - Você acha que eles morreram e estão aqui com a gente?

VICTORIA: - Nah... Eles não morreram. Mas estão aqui com a gente.

BABA: - E o que estão fazendo?

VICTORIA: - Papai tá perdido procurando a mamãe. Ele não sabe, tadinho, que eles não estão nesse mundo.

BABA: - Diz uma coisa pra Baba. Você consegue vê-los?

VICTORIA: - Só o papai. Você acredita em mim, Baba?

BABA: - Claro meu amor. É claro que eu acredito em você.

VICTORIA: - Tem gente que não acredita em mim.

BABA: - Eles não sabem das coisas que você vê. Você tem um talento especial que muito pouca gente tem. Não fique triste com eles.

VICTORIA: - Você também tem.

BABA: - É por isso que somos amigas. Podemos falar essas coisas uma com a outra.

VICTORIA: - Baba, o Fox já bebeu tudinho. Ele quer bolo.

Baba sorri. Corta uma fatia de bolo.

BABA: - Impressionante, Fox, como você é guloso!

Corte.


📷


[Som: Collide – Wings of Steel]

Mulder caminha pela rua deserta gritando pelo nome de Scully. A neblina vem se aproximando por trás dele. Mulder então corre, fugindo da neblina. Para no cruzamento. Olha para os lados. Mais neblina que se aproxima do cruzamento, como se o estivessem cercando. Mulder ergue a espada em posição de luta. Caminha de costas.

MULDER: - (GRITA) Venham desgraçados! Venham me pegar!!!!!!!!!

Mulder vai recuando, nervoso. A neblina se aproxima e junta-se no cruzamento. Vem em direção a ele. Mulder fecha os olhos. A neblina passa por ele.

Os demônios alados o atacam aos bandos. Mulder começa a derrubá-los com a espada. Alguns fogem, feridos. Outros voltam. Mulder leva alguns golpes de surpresa. Cai ferido ao chão. A espada longe dele. Mulder arrasta-se tentando alcançar a espada. Os demônios pousam sobre ele lhe rasgando a roupa e a pele, feito aves de rapina famintas. Mulder grita. Alcança a espada. Mas não consegue mais reagir, coberto por demônios.

Fusão.


Mulder caído no chão que agora é pedra. Arrasta-se com dificuldades, ferido. Está novamente no pátio do castelo. Percebe o vestido longo à sua frente. A mão que se lhe estende. Mulder segura na mão dela. Ela o ajuda a levantar-se. Mulder sorri, derrubando lágrimas. Scully lhe devolve o sorriso. Mulder se abraça nela. Ela o envolve nos braços. Beija-lhe a testa, limpando-lhe o rosto. Os dois se perdem um no olhar do outro. Mulder aproxima os lábios a beijando suave. Scully coloca a língua em sua boca, num beijo lascivo, o devorando. Mulder arregala os olhos. Se afasta dela. Desembainha a espada.

MULDER: - (GRITA) Você não é a Scully!!!!!!!!!

SCULLY: - Mulder, o que está dizendo?

MULDER: - Deixa de ser covarde, desgraçado!!! Se quer me torturar faça um jogo limpo!!! Sei diferenciar amor de desejo!!!

Ela se afasta, transformando-se num tipo de bruxa velha que começa a rir e dispara correndo. Coin se aproxima de Mulder, surgindo do nada.

THE GOLD COIN: - Então, Mulder... Não há saída daqui. Vai ficar do meu lado, ou vai continuar tomando o meu tempo?

Mulder fica pensativo. Então começa a rir. Coin não entende. Mulder aumenta o riso, quase insano.

THE GOLD COIN: - Do que está rindo?

MULDER: - (RINDO) É isso. Agora eu entendi... Mas você... Você não. Estou tomando o seu tempo.

THE GOLD COIN: - ???

MULDER: - Entendi... (RINDO) Eu entendi o que aquele anjo sarcástico queria que eu fizesse aqui! Entendi porque eu tinha que descer até o inferno!

THE GOLD COIN: - (SORRI) Está começando a enlouquecer, Mulder. É a primeira sensação que se tem quando se chega ao inferno. Quer um quarto no meu castelo ou prefere morar na aldeia?

Mulder continua rindo, vingado. Coin sente-se irritado. Dá as costas, voltando para o castelo.

MULDER: - Pra onde vai?

THE GOLD COIN: - (DEBOCHADO) Com certeza não vou procurar a Scully. Você tem a eternidade inteira para fazer isso por aí.

MULDER: - Estava escrito.

THE GOLD COIN: - Está delirando, Mulder.

MULDER: - Fazia parte do plano. Scully e eu o cumprimos sem saber.

THE GOLD COIN: - Não diz nada com nada, Mulder.

MULDER: - O que tem feito ultimamente, senão me torturar?

Coin para. Vira-se lentamente, arregalando os olhos. Mulder continua rindo. Coin aproxima-se dele com fúria. Mulder aponta a espada. Fica sério.

MULDER: - Espero que tenha ao menos subido no alto da torre do seu castelo. Ou preferiu rir e se divertir, sentado e bebendo vinho, enquanto me observava sofrer?

Coin cai em si. Olha para a torre. Entra correndo no castelo. Mulder senta-se na escadaria, rindo alto. Coin na amurada, leva a mão à testa e procura enxergar o horizonte.

MULDER: - (GRITA) Quer saber? O sofrimento de alguém sempre serve aos propósitos divinos! Deus tem razão! Você não! Cordeiros, lembra? Você mordeu a isca!

Coin cerra os punhos, observando o horizonte.

THE GOLD COIN: - Desgraçados!!!!!!!!! Isso foi uma jogada suja!!!!!

Na entrada do pátio, o primeiro cavaleiro, montado num cavalo negro, carrega um trompete de ouro. Retira o elmo da cabeça. É Gabriel.

GABRIEL: - Saudações cordiais ao senhor deste reino e aos seus súditos. Trago uma mensagem do Senhor que habita no outro extremo.

Gabriel desce do cavalo. Aproxima-se da ponte e olha para a torre.

GABRIEL: - Desça daí, Lúcifer! Venha lutar de igual pra igual.

THE GOLD COIN: - Você? Lutar? (COMEÇA A RIR) Vai dar com esse trompete na minha cabeça?

GABRIEL: - (DEBOCHADO) Pensei em fazer uma serenata pra você, até compus uma música: Oh, você roubou e comeu meu coração, rasgou meu peito, me jogou no chão. Me transformou em cinzas, mas como a fênix levantei, e depois o seu traseiro eu chutei...

Mulder abaixa a cabeça rindo.

GABRIEL: - Desça daí, "Johnny" boy! Ou eu vou subir. Tenho um recado pra você do Chefe!

THE GOLD COIN: - Por que me importuna, Gabriel? Eu não quero saber de recados! Ele que desça aqui e fale comigo, cara a cara, olho no olho! Siga adiante, continue caminhando, "Walken boy", anda!

O segundo cavaleiro entra, carregando a balança. Ergue-a.

CAVALEIRO DA JUSTIÇA: - Sua traição ainda pesa, irmão. Pelo peso dela serás medido.

THE GOLD COIN: - (HISTÉRICO E NERVOSO) Rafael? O que é isso? Invasão? Fora do meu reino!!! Fora!!! Xô!!!!!!!!!!

O terceiro cavaleiro entra, segurando o livro.

CAVALEIRO DA VERDADE: - Aqui está a verdade dos homens, que nem você, ou qualquer criatura sobre a Terra, é digna de abrir.

THE GOLD COIN: -Retirem-se, bárbaros sanguinários! Ele não tem coragem de vir até aqui? Precisa mandar os capangas dele?

Gabriel senta-se na escadaria, ao lado de Mulder. Lustra o trompete com o casaco, indiferente.

GABRIEL: -Quando parar de discutir, eu vou fazer o meu trabalho. Tenho toda a eternidade... Não se apresse, bonitão. Pode ir lá dentro ajeitar o cabelo, trocar de roupa, tomar um café e fumar um cigarro, que eu não tenho pressa... Ah, o meu é com bastante creme e açúcar!

O quarto cavaleiro entra a pé, desarmado. O cavalo de Mulder, ao vê-lo, corre em sua direção. O cavaleiro retira o elmo, mostrando ser Miguel. Coin, debochado, faz continência.

THE GOLD COIN: - Ah!!!!! Quem está aqui? Miguel querido! Agora completou o quarteto das malditas Tartarugas Ninjas! Eis o incompetente maior dos quatro! Um general que não consegue proteger as portas de um planetinha bárbaro!!!!!

GABRIEL: - (DEBOCHADO) E ele poderia ser o maior incompetente dos cinco, se você estivesse conosco ainda!

Miguel olha pra Gabriel, incrédulo.

MIGUEL: - Dá pra você se limitar aos recados?

Miguel se aproxima de Mulder.

MULDER: - Creio que essa espada, assim como o cavalo, pertençam a você. Ela é pesada demais pra mim.

Mulder olha fixamente pra Miguel.

MIGUEL: - Quê? O que foi? Nunca viu um anjo antes?

MULDER: - Por que vocês todos usam a aparência de atores de filmes?

GABRIEL: - Pra agradar o Mr. Alberthi? Ele é dono de Hollywood!

MIGUEL: - (OLHA PARA COIN) Recebeu a mensagem?

THE GOLD COIN: - Que mensagem? O que tramam contra mim, vocês que eram meus irmãos?

GABRIEL: - (LEVANTA-SE/ LUSTRANDO AS UNHAS) Vamos ser racionais. Cala a boca e me escuta, anjinho bonitinho, mas ordinário. Acha que seríamos os cavaleiros do apocalipse se fôssemos burros? Pensa que não estamos há dez passos adiante de você? Adicione a linha inédita: Agora é pela espada, pela balança e pela verdade. Vim até aqui pra dizer que nosso exército tomou as fronteiras da Terra enquanto você ficava brincando de pega-pega com o Mulder.

Coin cerra os punhos, sentindo-se traído. Olha para Mulder. Estende a mão e o arremessa contra a parede escura do castelo. Mulder desaparece, levando a espada consigo.

THE GOLD COIN: - A batalha apenas começou. Como sentem-se perdendo o seu bode expiatório?

GABRIEL: -Ele vai sair daqui, Lúcifer. Ele tem a chave.

Coin fecha os olhos, irado. Esmurra a amurada.

THE GOLD COIN: - Eu venci! Ele jamais encontrará Scully! Ele vai sentir ódio de vocês por não ter uma recompensa! Ele será meu, como tantos outros homens!!!

GABRIEL: - Ele vai encontrar. É um bom aluno. Ele presta atenção nas minhas aulas.

MIGUEL: - Se voltar a tocar um dedo nele, na mulher dele ou na filha dele... A lâmina daquela espada vai parar direto no pescoço dos seus soldados. Porque você será a minha sobremesa, com dia e hora marcados. Fui claro?

GABRIEL: - Mude seus planos. Ou vai matar seus soldados desnecessariamente.

THE GOLD COIN: - Como podem permitir isso tudo outra vez? Permitiram que eles tivessem alma como nós. Agora permitem que tenham genes despertos como nós? O que é aquela criança? Ahn? O que intencionam com ela?

MIGUEL: - Que criança? Algum de vocês sabe do que o Lulu está falando?

GABRIEL: -Não faço a mínima ideia, ele late e rosna muito mais do que morde.

THE GOLD COIN: - (IRRITADO) Bando de cínicos! Traidores! Desprezíveis! (COSPE NO CHÃO) Irmãos ingratos, família desunida! Vocês são a escória angelical!

Os quatro cavaleiros sobem em seus cavalos. Saem do castelo. Coin olha pro alto, com ódio.

THE GOLD COIN: -Rei Tirano, isso ainda não acabou!!! Não acabou, está me ouvindo?

Um vento começa a soprar e a fazer voar os cabelos de Coin. Ele abre os braços.

THE GOLD COIN: -(SORRI DEBOCHADO) Você acha que me enganou? Não. Agora eu tenho certeza de que se eu tocar naquela coisinha híbrida você vai ficar furioso e isso me diz que ela é mais do que eu pensava. Você pode ter vencido essa batalha, limitando totalmente a entrada dos meus recursos nesse planeta. Mas a vitória dessa guerra será minha!

Coin se aproxima da parede escura do castelo e desaparece nas trevas.



[Som: Denean - To the Children]

Céu escurecido. As nuvens se movem rapidamente projetando sombra ao chão.

Uma paisagem de ervas rastejantes e pedras. Mulder caído ao chão e ferido. Movimenta a mão, agarrando as ervas. Ergue a cabeça olhando pra cima. Olha para o lado. Há uma porta no meio do campo.

Mulder abaixa a cabeça contra o chão. Morde o indicador, segurando o choro.

MULDER: - Eu procurei o inferno inteiro e não encontrei você... Mas eu vou encontrar. Não vou desistir de você, Scully. Eu não vou sair daqui sem você.

Mulder senta-se no chão. Envolve os braços nas pernas. Olha para as montanhas escuras ao longe. Abaixa a cabeça, fechando os olhos e chorando.

SCULLY (OFF): - O que foi?

MULDER (OFF): - ... Nada. Só estou admirando o mar.

SCULLY (OFF): - ... Está com medo de mim... Tudo bem, é compreensível. Eu só quero que saiba que não estou falando coisas vãs pra você.

MULDER (OFF): - Mas é difícil pra alguém que foi machucado acreditar nas coisas. Eu quero acreditar em você. Sabe que eu moveria céus e terra por você. Eu iria até o inferno por você.

SCULLY (OFF): - Não precisaria ir ao inferno por mim. Quando quiser me encontrar, eu estou dentro do seu coração, que é onde eu tenho o meu porto seguro.

Mulder abre os olhos, derrubando lágrimas. Sorri. Levanta-se, coloca a espada na cintura e cambaleando se aproxima da porta. Não há fechadura. Mulder então empurra a porta.

MULDER: - (SORRI/ CHORANDO) Ela nunca esteve longe. Ela estava aqui o tempo todo, com sua força e fé, ajudando e protegendo você, seu cego, tolo e idiota.

Mulder sai num deserto. Há duas portas diante dele, no meio do nada. Uma aberta. Outra fechada com uma fechadura.

Mulder coloca a mão dentro da camiseta e puxa um cordão, com o crucifixo que Scully lhe dera, e a chave que ele colocou junto, dada por Gabriel. Desata o cordão e olha para a chave em sua mão. Aproxima-se da porta fechada e coloca a chave na fechadura. A chave cai. Mulder tenta encontrá-la, mas não consegue ver aonde a chave caiu. Ele olha para a porta aberta. Indeciso, com medo. Então aproxima-se. Entra.

Quando Mulder sai do outro lado, cai de bruços no chão arenoso. O corpo dele começa a tremer em convulsão. Mulder desmaia.

Foco na mão dele. Lentamente a mão delicada e frágil de Scully sai de dentro da mão de Mulder.

Aos poucos, a alma dela ergue-se de dentro do corpo dele. Ela cai ao lado dele. O corpo começa a se materializar. Scully, cansada e trêmula, procura a mão de Mulder com a sua. A agarra com firmeza, enlaçando seus dedos nos dedos dele. Scully fecha os olhos, num sorriso.

Corte.


[Som continua: Denean - To the Children]

Ambiente de azul intenso. Mulder carrega Scully desacordada, em seus braços, caminhando sobre a água, sem afundar. Percebe a escada no meio do nada e a luz que projeta-se no alto da escada. Mulder sobe as escadas, cansado.

Corte.


[Som continua: Denean - To the Children]

Mulder caminha pelo deserto. Scully ainda desacordada, em seus braços. Mulder sobe uma duna de areia. Chega ao topo, sem forças. À sua frente surge uma escada florida que leva até as nuvens. Mulder observa a praia à frente. Alguns pescadores empurram barcos para o mar.

Foco nas ondas que banham os pés descalços de um homem, na beira da praia. Foco sobe pelo homem de costas, numa longa túnica simples, com capuz na cabeça. Cestos de peixes ao redor. As crianças fazem festa, puxando a túnica dele. Ele corre atrás delas rindo. Elas disparam pela praia, rindo alto. Ele para. Volta a atenção aos pescadores.

Mulder desce a duna, cansado e ofegante.

O homem caminha pela beira da praia, em direção ao poço, em frente a escada florida que leva até as nuvens. Ele senta-se na borda do poço.

Mulder tenta apressar o passo, mas não consegue, se arrasta. Chega mais perto. Os pescadores o observam. O homem permanece de costas, sentado na beira do poço. Mulder coloca Scully ao lado do poço.

MULDER: - (CANSADO) Senhor, pode me dizer aonde estou?

HOMEM: - (SEM SE VIRAR) Tinhas a chave da porta da Terra, mas a perdestes. Como saístes do inferno?

MULDER: - A porta não tem fechadura. Creio que quem deseja sair de lá consegue. Mas talvez não queiram sair.

HOMEM: - Por que entrastes neste mundo?

MULDER: - A porta estava aberta.

HOMEM: - E assim ela permanecerá aberta. Ela nunca se fecha.

MULDER: - ... Quem é você?

HOMEM: - Espero almas para guiá-las.

MULDER: - Preciso de um pouco de água para a minha esposa.

HOMEM: - Não é permitido beber deste poço a nenhum andarilho.

MULDER: - Preciso de água. Ela está desmaiada.

HOMEM: - Tendes algo a me oferecer em troca de um copo de água?

MULDER: - Não.

HOMEM: - Então nada posso fazer.

MULDER: - Não entende? Peço apenas um pouco de água!

HOMEM: - Farei um trato. Dê-me de coração o que tem de maior riqueza contigo e te darei a água que salvará tua esposa.

MULDER: - (SORRI/ DESANIMADO) Estou no inferno ainda... Sempre a mesma coisa de pedir algo em troca. Meu senhor, nada tenho de maior riqueza do que o amor da minha esposa.

HOMEM: - Que seja. Dar-te-ei a água que quiseres e darás tua esposa para mim.

MULDER: - Não posso fazer isso.

HOMEM: - Queres água para salvar tua esposa. Então terás a água, mas depois disto perderás a esposa. Ou então não terás água e a perderás do mesmo jeito. Preferes vê-la morta a vê-la longe de ti?

Mulder olha pra Scully que quase não respira. Derruba lágrimas.

MULDER: - Como posso dar um ser humano?

HOMEM: - O dizes bem. Mas ela está morrendo.

MULDER: - Senhor, ela é tudo o que eu tenho. É minha única riqueza.

O homem vira-se pra ele, sem mostrar o rosto.

HOMEM: - Vejo que tens uma espada. Dá-me a espada e dar-te-ei a água. Assim salvarás tua esposa.

MULDER: - Também não posso dar a espada. Ela não me pertence. Como eu posso dar o que não me pertence?

HOMEM: - Dei-te uma escolha. A espada ou a esposa.

MULDER: - Por que queres a espada?

HOMEM: - Por que tu a queres?

Mulder olha pra Scully. Olha para a espada. Enche os olhos de lágrimas.

MULDER: - ... Lamento, senhor. Mas não posso entregar a espada.

HOMEM: - Um objeto vale mais que tua mulher?

MULDER: - Não. Mas esta espada me foi confiada. Ela não me pertence. Eu não posso entregar o que será a justiça de tantos em nome da minha própria felicidade.

HOMEM: - Esta espada pertence ao teu senhor?

MULDER: - Sim.

HOMEM: - E quem é o teu senhor?

MULDER: - Não o conheço.

HOMEM: - E mesmo sem o conheceres entregas tua única riqueza em nome dele?

MULDER: - Sim.

HOMEM: - Cavaleiro, e se eu disser que vocês dois estão mortos?

MULDER: - ... (FECHA OS OLHOS)

HOMEM: - Estás vendo aquela escada que termina nas nuvens? Ela leva ao paraíso. Toda alma deve beber desta água para entrar no paraíso. Apenas um de vocês dois poderá entrar. O outro vagará no inferno. Pode tomar a água para ti e salvar-te.

MULDER: - (SORRI) Eu não faria isso. Dê a água a minha mulher e a leve para o paraíso.

Mulder olha pra Scully, derrubando lágrimas. Beija-a na testa, afagando seu rosto.

MULDER: - (SORRI) Eu te amo... E te amarei por toda a eternidade.

Mulder afasta-se, evitando olhar pra trás, com o coração doído, mas feliz por Scully.

HOMEM: - Cavaleiro, tens certeza de que não conheces teu senhor?

MULDER: - Não o conheço. E nem ele me conhece.

HOMEM: - Mas não fostes tu que aos seis anos ajoelhava-se ao lado da cama pedindo para teus pais não brigarem? Não fostes tu que dissestes: perdi minha fé, quando tua irmã foi levada? Que perdoastes o teu pai e o teu maior inimigo? Que mal fecha os olhos à noite sabendo da sina de tua filha? Que entregastes tua esposa para defender a espada de teu Senhor? Não és tu que renegou tua própria salvação em nome do amor? Não fostes tu que chorastes numa igreja olhando nos meus olhos e dizendo: Senhor, eu não sei rezar?

Mulder para. Vira-se, incrédulo.

HOMEM: - Poderias salvar-te, mas salvastes o teu próximo. Entregastes o que mais amava em nome do mundo. Provaste com o maior sacrifício que poderias fazer, o quanto és soldado fiel do teu Senhor. Pegues a água que quiserdes e leve tua esposa contigo. Em verdade eu te digo que quem vem até mim e bebe da água de meu poço e ama a meu Pai acima de todas as coisas terrenas, estará comigo e eu estarei com ele por toda a eternidade.

Ele toca a cabeça de Scully. Scully abre os olhos confusa. Ele estende um copo de madeira para Mulder, revelando a chaga profunda em sua mão. Mulder olha pra ele, enchendo os olhos de lágrimas. Cai de joelhos. Ele afaga a cabeça de Mulder com ternura.

HOMEM: - Filhinho, dai de beber a tua esposa. Filhinha, zele por este homem e sejas honrada em nome do amor dele, que é fiel e de caráter. Este é o meu reino, que é o vosso reino e o reino dos justos. Descansem da dura jornada antes de seguirem para vossa casa, acompanhados dos anjos de meu Pai. Um milagre maior vos espera para trazer milagres maiores ainda. Assim eu digo e assim vos será dado, pois tendes na fronte o nome da verdade, que é o meu nome, e quem pelo meu nome se sacrifica, pelo meu nome terá sua recompensa.

[Fade to black. Tela escurece]


[Fade up. Tela abre]

Victoria em sua cama, dorme ao lado de Baba. Baba afaga os cabelos dela. Victoria se acorda, sentando na cama.

BABA: - O que foi?

Victoria sorri pulando da cama. Sai do quarto correndo. Baba levanta-se e a segue. Vê a porta do quarto dos pais aberta. Entra.

Victoria observa Mulder e Scully caídos ao chão e desacordados. Mulder segura Scully nos braços, ela abraçada nele. Baba leva as mãos ao rosto, chorando.

BABA: - É um milagre... (OLHA PRA CIMA) Um milagre!!!


TO BE CONTINUED...

IN HEAVEN...



📷


"Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por amor do reino de Deus, que não haja de receber no presente muito mais, e no mundo vindouro a vida eterna".

Lucas 18:29-30




11/04/2003

March 25, 2020, 10:23 a.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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