artemisiajackson Artemísia Jackson

Naruto sentia-se privilegiado por ser capaz de viver num mundo além das telas, capaz de provar além de meras curtidas ou visualizações.


Fanfiction Not for children under 13.

#sns #cute #romântico #au #tecnologia #crítica #metáforas
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Capítulo único

Naruto observava os amigos ao seu redor, sentindo-se mais sozinho do que jamais se sentira.

Todos estavam entretidos nas telas de seus celulares, vidrados em um mundo virtual e completamente esquecidos do mundo real. O "encontro de amigos" nada tinha de interação verdadeira entre os que ali estavam.

"Deveriam ter chamado de encontro para trocar memes" – pensou o Uzumaki com seus botões, enquanto observava Hinata rir de algo que Kiba lhe mostrava, pedindo para que ele mandasse logo para ela - fosse lá o que fosse.

Irritado, o Uzumaki inspirou profundamente, olhando ao redor. O parque no qual se encontravan era belíssimo, e devido a primavera, estava cercado de flores por todos os lados – nas árvores, na grama e nos arbustos – e estas coloriam o cenário de modo alegre e irreverente.

Até a grama estava em perfeito estado, ostentando uma bela cor de verde vivo, assim como as folhas das árvores. O céu era de um azul intenso, sem nuvens e com um sol suave que já descia para se pôr, deitando-se preguiçosa e vagarosamente no horizonte.

Em resumo, fazia uma tarde linda, digna de ser pintada por Da Vinci – e ninguém se importava, ninguém sequer olhava. Aparentemente, os celulares tinham imagens melhores em suas telas.

Incapaz de aguentar aquilo por mais um segundo que fosse, Naruto levantou-se, despedindo-se com um alegre e sonoro "tchau", que mal foi respondido.

Deixando os "zumbis" de lado, o jovem Uzumaki pôs-se a andar pelo parque, observando as pessoas ao seu redor. Constatou que as poucas ali presentes eram tão zumbis quanto seus amigos, exceto por uma alma solitária que lia embaixo de uma grande árvore.

"Nossa, ainda existe gente que lê! Devo estar sonhando." – exclamou mentalmente para si mesmo.

Aproximou-se lentamente e foi com grande desânimo que descobriu quem era a alma solitária; Sasuke Uchiha, um ser que Naruto julgava ser o mais antipático e arrogante do mundo.

Mesmo assim, era o único que não estava pendurado no celular. Valia a pena tentar uma conversa, nem que fosse apenas para irritar Sasuke. Qualquer interação era válida, desde que fosse no mundo real.

Com esse pensamento, Naruto se aproximou, ficando em frente ao Uchiha. Este último sequer ergueu o olhar, tão compenetrado estava em sua leitura.

— Uau! Não sabia que as pessoas ainda liam!

– o Uzumaki exclamou para chamar-lhe atenção.

— O que você quer, perdedor? – indagou Sasuke, sem sequer se dar ao trabalho de encarar o jovem a sua frente.

Naruto trincou os dentes. Odiava aquele apelido – que nascera em meio a uma briga do Uzumaki com o Uchiha na escola.

— Nada, bastardo. – devolveu na mesma moeda, tratando-o pelo adjetivo que usara na última discussão.

Sentou-se ao lado de Sasuke na grama, sem se preocupar com o olhar hostil que recebeu em resposta.

O Uchiha finalmente fechou o livro, convencido que não teria paz para lê-lo com Naruto ao seu lado. O encarou e sorriu desdenhoso ao perguntar:

— Cadê seus amiguinhos? Cansaram de você?

O Uzumaki suspirou descontente, apontando para o grupo do outro lado do parque. Seus amigos ainda estavam vidrados nas telas de seus celulares. Vendo a cena, Sasuke compreendeu.

— Bando de idiotas – resmungou, subitamente irritado.

Não que o Uchiha se importasse com o que as pessoas faziam. Pouco se lixava para todos eles. Mesmo assim, achava revoltante ver as pessoas vagando como zumbis pelas ruas.

E mesmo não sendo a pessoa mais altruísta do mundo, Sasuke começava a assustar-se com a atual conduta de todos – os problemas que antes comoviam a população, agora nada mais eram que alvo de memes, piadas virtuais ou posts hipócritas que nada tinham de empáticos, muito pelo contrário; só tinham um único propósito, o qual era repercutir, fossem com visualizações, curtidas ou mesmo descurtidas.

Isso sem falar da burrice, que se alastrava como uma praga. As pessoas, acostumadas a terem respostas com um clique ou toque, tinham agora preguiça de pensar. Assim sendo, não exercitavam seus cérebros, consequentemente atrofiando-os.

Obviamente, haviam exceções, mas poucas. E a interação real era quase nula, uma vez que as pessoas achavam mais interessante manter contato com desconhecidos que moravam do outro lado do mundo.

A tecnologia havia criado escravos dependentes que não enxergavam nada além de redes sociais, futilidades e entretenimento. Aquilo que um dia fora bom e ajudara o homem acabava por escravizá-lo mais e mais.

Parecia bem clichê, mas a pior coisa dos clichês é que na maioria das vezes ele é bem real e só se torna digno de tal título porque é frequentemente visto na vida das pessoas.

Pensando nisso tudo, Sasuke suspirou e encarou Naruto de soslaio. Aquele sol que iluminara a vida de tanta gente com sua alegria e vivacidade agora parecia triste e sem brilho. O jovem Uzumaki não parecia mais o mesmo de antes.

Como o ser social e carente que era, sentia mais do que nunca a falta de relações concretas com as pessoas.

— Você também está perdido nesse mundo, Sasuke? – perguntou de repente, encarando o Uchiha com intensidade. – Também sente que não faz parte dessa merda, essa loucura?

Longos minutos de silêncio se instalaram após a pergunta. Os dois jovens se encararam intensamente durante esse período, e Sasuke evitou falar para fazer o momento durar. Sentia-se atraído pelo céu daquele olhar, pelos sentimentos intensos que dele transbordavam.

— Sim. – sussurrou enfim, ainda perdido nos olhos de Naruto. – Sinto que não faço parte desse mundo, e tô feliz assim, porque essa desgraça de alienação não me interessa.

Naruto sorriu, e mesmo sem querer, Sasuke sorriu de volta. Porém, o sorriso do Uzumaki foi sumindo aos poucos enquanto ele voltava seu olhar para os arredores.

— As pessoas não sabem mais o que é amar... – comentou, depois de um longo momento de silêncio.

— Por isso eu não posso lamentar; nunca soube e nem quero saber o que é isso. – Sasuke respondeu.

— Um dia você vai saber, querendo ou não. – Naruto comentou, dando de ombros.

— E quem vai me ensinar? Você, perdedor? – o Uchiha sorriu cínico enquanto observava as bochechas alheias corarem. – Acha mesmo que eu não percebi nada?

— Não sei do que você tá falando. – o loiro respondeu, fingindo-se de sonso.

Sasuke riu e se aproximou do rosto do Uzumaki, demorando-se em seu olhar. Estava a aproximadamente um palmo de distância da boca alheia quando voltou a se pronunciar.

— Não adianta se fazer de bobo. Eu sei que sua implicância comigo sempre foi bem mais do que inveja ou ciúmes do meu bom desempenho em tudo que faço. Era sua tentativa inútil de fingir que não tinha algo a mais. Seus olhos podem parecer azuis como o céu, mas isso não impede que sejam tão transparentes quanto a água cristalina.

Naruto sentiu as bochechas esquentarem ainda mais. Maldizia-se mentalmente por ser ruim em esconder sentimentos.

— Duvido que você consiga me ensinar a amar – Sasuke continuou. – Mas você pode tentar. Eis aqui sua chance, perdedor.

Dito isso, o Uchiha aproximou-se ainda mais, quase colando as bocas deles. Seus olhos brilhavam com diversão – além de oferecerem um convite explícito.

Convite esse que Naruto não pôde recusar. Ter Sasuke assim tão próximo era tentação demais para ele. Assim sendo, o Uzumaki cobriu a pouca distância que os separava, unindo as bocas em um selar suave que logo se tornou algo a mais.

Sasuke havia pedido passagem, e esta logo lhe foi cedida. As línguas se entrelaçaram de modo frenético, enquanto as bocas se pressionavam afoitamente.

Naruto sentiu borboletas voando em seu estômago a medida que os lábios frios e existentes de Sasuke buscavam o seus. A noção de tempo e espaço fugiu-lhe da mente – nada mais importava naquele momento.

Curiosamente, Sasuke sentia algo parecido – o que era bem estranho, pois o jovem jamais sentira aquilo com outras pessoas.

Verdade fosse dita: o Uchiha queria Naruto tanto quanto o próprio Naruto o queria. Só faltava para Sasuke admitir aquilo para si próprio.

Não que fosse amor, obviamente – pelo menos ainda não. Mas era um sentimento diferente que os embalava de modo agradável e de certa forma arrebatador.

Os jovens se separaram por uns instantes, no intuito de recuperar o fôlego. Mas tal separação durou pouco, pois logo ambos se enroscavam novamente, desejando mais daquele sentimento bom e viciante.

E em meio a todos aqueles zumbis alienados, Naruto e Sasuke eram os únicos que experimentavam contatos e sensações reais.

E mesmo lamentando pelo atual estado das pessoas, Naruto não podia deixar de agradecer por ser privilegiado, capaz de viver num mundo além das telas, capaz de provar além de meras curtidas ou visualizações, e acima de tudo, capaz de ser livre da escravidão imposta pela Inquisição dos tempos modernos.

March 7, 2020, 1:57 a.m. 2 Report Embed Follow story
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The End

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Artemísia Jackson Afogando as mágoas na escrita!

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Donna Dan Donna Dan
Que saudade do mundo além das telas! Espero que esse momento que estamos vivendo faça as pessoas valorizarem mais o contato real depois que isso passar! Esse é um dos meus muitos desejos pro mundo pós-coronalipse! Linda história, Chase! Você sempre arrasa <3
March 22, 2020, 22:48

  • Artemísia Jackson Artemísia Jackson
    Pós -Coronalipse é uma ótima definição, sua criatividade é incrível. Que bom que tu gostou, eu amo tanto essa história! Faço do seu desejo meu também, espero que o mundo valorize mais o contato e o diálogo tete a tete. Obrigada por ler e comentar, tu é maravilhosa <3 March 29, 2020, 23:12
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