teffychan Lilith Uchiha

Enquanto Konoka estava ansiosa para comemorar o dia dos namorados com Setsuna, a outra garota temia essa data. Porque, no dia dos namorados, garotas presenteavam rapazes com chocolates. Mas elas eram duas garotas. Será que era mesmo uma boa ideia duas meninas comemorarem aquela data?


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Capítulo Único - A Prova de um Amor Verdadeiro

14 de fevereiro. A data mais esperada pela maioria dos japoneses. Até mesmo pelas estudantes da Academia Feminina Mahora. E embora ainda fosse véspera do dia dos namorados, as alunas estavam muito agitadas com aquela data tão aguardada. É claro que, sendo uma academia feminina, as meninas não tinham a quem presentear, a não ser o seu estimado professor de inglês, que meio que tinha virado brinquedo delas por ser um menino-prodígio que se formou muito cedo e agora dava aulas para garotas mais velhas do que ele. Mas havia outras duas garotas que estariam celebrando esse dia, e não por causa de seu professor. Não que não gostassem dele, mas porque, depois de enfrentar alguns obstáculos e por relutância de uma das partes, diga-se de passagem, as duas finalmente estavam namorando.

Konoka tagarelava sobre que tipo de chocolate deveria preparar, sem dar chance de sua colega de quarto responder. Estava evidentemente animada com aquela data.

— Acho que eu deveria fazer chocolate meio-amargo. Setchan adora eles— Konoka falava, andando de um lado para o outro, ansiosa— Mas não pega bem dar chocolate meio-amargo de presente no dia dos namorados, não acha? Eu poderia colocar um recheio cremoso… talvez de morango… não, não, acho que a Setchan é alérgica a morangos…
— Konoka— Asuna levantou-se da cama e segurou as mãos da amiga, fazendo-a parar de andar. O que foi um alívio, a garota já estava deixando Asuna tonta— Acalme-se. Tenho certeza de que a Setsuna vai gostar de qualquer coisa que você fizer.
— Mas e se não ficar bom…?— Konoka falou insegura.
— Está brincando? Você é uma das melhores cozinheiras que conheço!— Asuna exclamou— Sei que a Setsuna vai gostar do presente porque foi você quem fez, independente de como fique o sabor. Então pare de se preocupar tanto, está bem?
— Certo! Obrigada Asuna— Konoka sorriu de volta, agora mais confiante— Então, eu preciso começar a preparar alguma coisa logo. Mas não vou fazer nada de morango, só para garantir…
— Falando nisso, você já sabe o que ela vai fazer?— Asuna perguntou.
— Como assim?
— Acha que a Setsuna também vai te dar chocolates?— elaindagou— Se me lembro bem, as notas dela não são lá muito boas nas aulas de culinária… não que eu possa falar dos outros, as minhas são bem piores do que as dela— Asuna coçou atrás da cabeça sem graça— Mas ela vai fazer chocolates assim mesmo? Ou vai retribuir no White Day?
— Na verdade nós não conversamos sobre isso— Konoka confessou.
— Sério?— Asuna arregalou os olhos, percebendo tardiamente que poderia estar estragando uma possível surpresa— Bem, então é melhor deixar para lá, certo? Concentre-se no chocolate, você só tem até amanhã…
— É final de semana, então ainda tenho tempo— Konoka interrompeu, atravessando o pequeno quarto— Vou procurar a Setchan. Até mais tarde.

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Setsuna andava pelo pátio da escola, vazio àquela hora, sem rumo definido. Não sabia o que fazer. Geralmente se esquecia de quando era o dia dos namorados e só percebia quando via a agitação de suas colegas de classe. Mas, pela primeira vez na vida, ela se lembrou sozinha. Provavelmente porque estava namorando agora. Mas ainda se perguntava se deveria mesmo comemorar aquela data. Quer dizer, tinha poucos meses que ela e Konoka estavam juntas. Isso sem falar que elas eram duas garotas. Não que isso fosse um problema realmente, Konoka havia aceitado seus sentimentos e a surpreendeu quando disse que a amava há muitos anos, mas tinha medo de dizer algo e Setsuna se afastar dela. Suas amigas também não pareciam se importar com isso, nem mesmo os professores. Mas algo naquela data ainda a perturbava.

Ah, sim… era a tradição.
A tradição dizia que, no dia dos namorados em 14 de fevereiro, as garotas devem presentear os rapazes com chocolates. E, no dia 14 março, conhecido como White Day, os garotos retribuem o presente das meninas. Mas havia o detalhe de que as duas eram garotas. E nenhuma delas poderia retribuir o presente no White Day.
Setsuna repentinamente começou a odiar aquela tradição.

— Setchan!— uma voz doce chamou ao longe, despertando-a de seus pensamentos. Quando Setsuna se virou, viu Konoka correndo na direção dela.
— Milady… o que aconteceu?— Setsuna perguntou quando Konoka se aproximou o suficiente para escutá-la. A garota arquejava, com as mãos apoiadas nos joelhos, tentando recuperar o fôlego.
— Você… anda rápido… demais— Konoka reclamou ofegante.
— Desculpe, eu só estava…
— Não importa!— Konoka interrompeu, voltando a sorrir agora que tinha se recuperado— Setchan, o que quer fazer amanhã?
— Amanhã?— Setsuna recuou um passo— Então você está mesmo pensando em comemorar o dia de amanhã…
— Ah, então você lembrou esse ano!— Konoka riu ao se lembrar de como a garota sempre ficava atordoada ao ver a agitação das amigas naquela data até perceber que era dia dos namorados— Bem, eu ficaria ofendida se você não lembrasse— ela fez um beicinho, tentando provocar Setsuna, mas não funcionou. Em seguida desistiu de tentar fazer charme e segurou a mão da garota entre as suas— Ei, Setchan, que tipo de chocolate você quer? Eu pensei em fazer meio-amargo, como você gosta, mas não combina com o dia dos namorados, não acha? Eu cheguei até a pensar em colocar algum recheio dentro, mas aí tiraria a graça do chocolate… pensei em fazer algo com recheio de morangos… Setchan, você é alérgica a morango?
— Não sou alérgica— Setsuna puxou a mão de volta, pensando na forma mais delicada de colocar seus pensamentos em palavras sem magoar Konoka— Milady… acha mesmo que devemos comemorar o dia de amanhã?
— Como assim?— o sorriso de Konoka começou a murchar— Nós estamos namorando, não estamos? Por que não deveríamos comemorar?
— Sim, é claro que estamos!— Setsuna apressou-se a dizer— É só que… Milady, se você me der chocolates amanhã, não fará sentido eu te dar chocolates também…
— Ah! Não me diga que você começou a fazer alguma coisa?— Konoka exclamou.
— Não, não é isso!— Setsuna falou rapidamente. Droga, ela não tinha entendido. Como iria dizer aquilo para Konoka sem magoá-la? Era praticamente impossível!— O que eu quero dizer é que… bem, nessa data as garotas dão chocolate para os rapazes, e no White Day os garotos retribuem o presente, não é? Nós não poderemos fazer isso, Milady.
— Pare de me chamar de Milady, quantas vezes vou ter que pedir? Você não é mais apenas minha guarda-costas, é minha namorada— Konoka lembrou, soltando um suspiro— Tem razão, eu tinha esquecido desse detalhe. Então, por que você não me dá alguma coisa no White Day?
— O que?
— Você não quer?— Konoka estranhou. Achou que assim seria tudo mais simples— Tudo bem, eu te dou alguma coisa no White Day então, e você fica com os chocolates.
— Mil… Konoka, você não está entendendo— Setsuna passou a mão pelos cabelos negros, aflita— Estou dizendo que talvez não devêssemos comemorar o dia dos namorados. Porque nessa data as meninas dão chocolate para os garotos. E também não sei se deveríamos comemorar o White Day, porque nessa data, osgarotos retribuem os presentes das meninas. Mas nós… somos duas garotas. Não faz sentido.
— Então também não faz sentido você estar namorando outra garota, Setchan— Konoka respondeu simplesmente. Não parecia triste ou zangada. Sua voz estava completamente vazia. Apenas seus olhos a denunciavam. Era evidente que queria chorar, mas estava lutando ao máximo para segurar as lágrimas.
— Não foi isso que eu quis dizer— Setsuna murmurou, sentindo a culpa por ter magoado Konoka daquele modo como uma facada em seu peito— Eu só não entendo. Não sei se isso está certo… essas datas parecem terem sido feitas exclusivamente para garotos e garotas presentearem uns aos outros, por isso não sei se devemos mesmo comemorar esse dia. Quero dizer, e se alguém rir da gente? E se rirem de você, Milady? Jamais me perdoaria se te fizesse passar vergonha…
— Você nunca me faz passar vergonha. Setchan, você é a pessoa mais importante para mim, e eu me orgulho muito de ter você ao meu lado— ela acariciou o rosto da menina com delicadeza— Você é minha amiga de infância, minha guarda-costas e minha namorada. Como eu poderia sentir vergonha de você?
— Não sei… eu posso fazer alguma besteira sem querer…
— Besteira você está fazendo agora. Pensando essas coisas— Konoka censurou— Não há nada de errado em um casal comemorar o dia dos namorados, mesmo sendo um casal de meninas! Eu estava conversando com a Asuna agora a pouco sobre isso, e ela não viu problema nenhum.
— Verdade, Milady?— Setsuna surpreendeu-se.
— É claro. Agora pare de pensar bobagens, ouviu?— Konoka respondeu, inclinando-se para frente e roubando um rápido beijo dela, que fez Setsuna corar— E pare de me chamar de Milady também!— ela pediu de novo, dando meia-volta e correndo de volta para o alojamento.

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Era incrível como Konoka sempre conseguia livrar Setsuna de suas preocupações. A garota parecia ter o dom de fazer com que Setsuna esquecesse dos problemas ao seu redor e se sentisse em paz. Ela tinha razão. Que mal havia em comemorar o dia dos namorados? Elas estavam namorando afinal, certo? Nada mais justo do que passar aquela data juntas, ainda mais depois de todos os anos que passou reprimindo seus sentimentos por Konoka.

Setsuna passou tanto tempo preocupando-se com o dia de amanhã que esqueceu que tinha deixado seu livro de inglês na sala de aula. Seria difícil pegá-lo de volta amanhã, as amigas certamente fariam baderna e ela mesma estaria ocupada. Dirigiu-se para a sala de aula para pegar o livro de volta, e surpreendeu-se ao ouvir vozes no interior da sala. As aulas já tinham terminado horas atrás, não esperava encontrar alguém ali. Se perguntou se deveria entrar assim mesmo ou se não devia interromper, quando ouviu parte da conversa e reconheceu a voz de Asuna. Aproximou-se em silêncio, encostando-se na parede perto da porta.

— Eu já disse que é uma péssima ideia!— Asuna exclamou.
— Mas por que essa relutância toda? É dia dos namorados afinal— Ayaka respondeu— É uma data que deve ser comemorada!
— Isso é só uma desculpa esfarrapada, Representante— Asuna repreendeu a Representante de Classe— Não percebem que é uma estupidez?
— Não precisa falar assim— Nodoka soou magoada.
— Desculpe— Asuna percebeu tardiamente que poderia estar ferindo os sentimentos de alguém— Eu só quero dizer que não acho uma boa ideia insistir nessa história de preparar chocolates.
— E por que não? É o que se faz no dia dos namorados, certo?— Ayaka lembrou.
— Bem, sim, mas nesse caso em particular… eu realmente não acho que é o melhor a se fazer…
— Vou ter que concordar dessa vez— Chisame pronunciou-se. Ela ainda se perguntava porque estava lá, junto daquelas garotas tolas, ao invés de estar em seu quarto atualizando seu blog— É uma péssima ideia preparar chocolates só porque é dia dos namorados. Na verdade é completamente ridículo. Será que não percebem o quanto isso é estúpido?
— Não é estúpido! As garotas preparam chocolates para as pessoas de quem gostam nessa data…— Nodoka respondeu, mas ela geralmente não era boa em ganhar discussões. E era muito difícil discutir com Chisame.
— Sim, garotas geralmente presenteiam os rapazes por quem estão apaixonadas— Chisame rebateu— Mas o que vocês estão dizendo não faz o menor sentido.
— Chisame, acho que você está exagerando um pouco…— Asuna começou, mas era tarde. Quando aquela garota começava a falar, era difícil fazê-la calar-se.
— Não estou não— Chisame interrompeu— Eu já esperava que a Representante pensasse dessa forma, mas até você, Nodoka? Será que não tem vergonha?
— Olha aqui, você não estraga o meu shipp!— Haruna intrometeu-se— E pare de reclamar tanto, Chisame. Eu sei qual é a verdade aqui— ela disse em tom acusador— A verdade é que você está com inveja.
— Inveja?— a garota repetiu— Inveja de que?
— Inveja por não ter alguém para presentear no dia dos namorados, é claro!— Haruna falou como se aquela fosse uma verdade absoluta.
— Há! Essa foi a coisa mais ridícula que já ouvi em toda minha vida!— Chisame exclamou— A única verdade aqui é que vocês são malucas por acreditarem mesmo que essa história do chocolate é uma boa ideia.
— Óbvio que é uma boa ideia!— Ayaka falou— Se você não quer preparar chocolates para ninguém é assunto seu, mas não critique a vida dos outros.
— Na verdade eu tenho que concordar com ela, essa é uma péssima ideia, Representante— Asuna falou— Para início de conversa, se alguém quer dar chocolates de presente no dia dos namorados para outra pessoa, precisa no mínimo saber cozinhar decentemente. A Konoka, você sabe, é uma ótima cozinheira.
— Ah, é verdade. Eu já provei os biscoitos dela na aula de culinária uma vez, são realmente ótimos— Natsumi concordou.
— Sim, exatamente— Asuna continuou— Mas, se uma pessoa que não sabe cozinhar tentar fazer chocolates caseiros… bem, esse é só um dos problemas.
— O que, você acha que a Setsuna vai dar chocolates para a Konoka?— Ayaka perguntou, entre confusa e surpresa— Bem, as notas dela realmente não são muito boas nas aulas de culinária… embora as suas sejam piores— ela lançou um olhar de reprovação para Asuna, que fez uma careta. Ela queria poder discutir, mas não tinha argumentos nesse caso.
— Eu achei que a Konoka é quem daria chocolates para ela— Natsumi também soou confusa.
— Ah, sim. A Konoka certamente vai acabar preparando chocolates para ela— Chisame concluiu— Assim como é certeza que você vai dar chocolates para o Kotaro, não é?
— Eu não vou!— Natsumi negou depressa demais— Quero dizer, ainda não decidi…
— Essa é mais uma tolice— Chisame resmungou— Não entendo porque você se preocupa tanto com aquele garoto rebelde…

Aquilo foi mais do que suficiente para que Setsuna enxergasse a verdade. Que suas colegas de classe só estavam fingindo que aceitavam seu relacionamento com Konoka, enquanto riam delas pelas costas. Que achavam aquilo ridículo. Que era um absurdo duas garotas namorarem.

"— Você nunca me faz passar vergonha. Setchan, você é a pessoa mais importante para mim, e eu me orgulho muito de ter você ao meu lado".

As palavras de Konoka retornaram a sua mente e a atingiu em cheio. Konoka pensava que Setsuna jamais a faria passar vergonha, mas foi isso que ela tem feito esse tempo todo. Konoka não se importaria mais com ela quando soubesse da vergonha que a estava fazendo passar.

Bem… talvez ela não precisasse saber.

Aquilo doeria muito. Doeria mais em Konoka, mas era melhor do que deixar a garota continuar sendo humilhada daquele jeito. Correu para longe da sala de aula antes que se arrependesse da decisão que havia tomado.

Instantes depois de Setsuna virar no corredor, a porta da sala se abriu.

— O que houve Asuna?— Nodoka chamou do interior da sala.
— Eu pensei ter ouvido um barulho aqui fora— ela respondeu, olhando de um lado para o outro no corredor deserto— Acho que foi só impressão— ela concluiu, fechando a porta.

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Era tudo fingimento. Lógico que era. Setsuna foi tão tola… como ela pode acreditar que todos aceitariam tão bem duas meninas namorando? É claro que achariam aquilo estranho. A classe toda estava falando mal das duas pelas costas há sabe-se lá quanto tempo. E ela ainda tinha arrastado Konoka para o meio daquela humilhação… jamais poderia se perdoar por isso.

Precisava acabar com isso. Era o único jeito de se redimir. Planejava fazer isso amanhã, porém lhe ocorreu que seria extremamente cruel fazer isso justo no dia dos namorados. Mas talvez perdesse a coragem até lá. Enquanto caminhava de volta para o próprio alojamento, ainda pensando no que fazer, encontrou Konoka no pátio outra vez. A garota não parecia tão eufórica quanto antes, e ficaria menos ainda depois que ouvisse o que Setsuna iria dizer. Isso se ela conseguisse, é claro.

— Setchan— ela chamou— Eu estava pensando…
— Milady— Setsuna interrompeu, o que não era de seu feitio— Preciso te dizer uma coisa importante. Acho que realmente… não devemos fazer aquela coisa toda sobre o dia dos namorados.
— O que?— Konoka exclamou— Setchan, ainda está pensando nisso? Já disse que não tem nada de mais…
— Não falo apenas sobre o dia dos namorados— ela disse, sentindo seu coração doer com o que estava prestes a falar— Estou falando… sobre essa coisa toda— ela fez um gesto amplo com as mãos— Duas garotas namorando… talvez não tenha sido uma boa ideia no fim das contas.
— Você… não gosta de mim?— Konoka murmurou estarrecida. Sentiu lágrimas começarem a brotar no canto dos olhos.
— Gosto— Setsuna não poderia negar aquilo nem que quisesse— Te amo mais do que qualquer coisa. Mas… meu dever é te proteger, e isso sempre estará acima dos meus desejos pessoais. E não falo apenas da sua segurança, mas também de te proteger de passar vergonha e sofrer humilhações desnecessárias.
— Mas do que você está falando?
— Eu fui até a sala de aula pegar meu livro que tinha esquecido… droga, esqueci de pegar o livro de novo!— ela deu um tapa na própria testa, só percebendo isso agora— Enfim… algumas das garotas estavam lá. A Asuna, a Representante de Classe, Nodoka, Chisame… elas estavam conversando sobre amanhã. E sobre como…— ela fez uma pausa. Será que deveria contar o que tinha ouvido para Konoka? Aquilo só a magoaria ainda mais— Bem… elas basicamente estavam criticando a nossa relação…
— O que elas disseram exatamente?— Konoka perguntou— Pare de tentar me proteger tanto. Eu consigo aguentar.
— Você quer a verdade?— Setsuna perguntou e, quando a menina assentiu, ela suspirou antes de prosseguir— Elas estavam conversando sobre como era ridículo comemorarmos essa data. Asuna disse várias vezes que era uma péssima ideia, e Chisame concordou com ela, dizendo que achava um absurdo e que deveríamos ter vergonha por pensar assim… a Representante comentou que eu não deveria te dar chocolates, já que minhas notas na aula de culinária não são muito boas… bom, eu não tenho argumentos para discutir isso, cozinhar nunca foi o meu forte— ela admitiu. Sentia a dor em seu peito aumentar a cada palavra que dizia, mas precisava contar a verdade para Konoka. A garota tinha razão, ela não era mais uma criança e merecia ao menos saber o verdadeiro motivo do rompimento— Elas estavam começando a criticar a Natsumi porque ela provavelmente vai preparar chocolates para o Kotaro quando eu fui embora. Não aguentei ouvir o resto.
— Todas… falaram isso mesmo? Até a Asuna?— Konoka murmurou incrédula. Setsuna assentiu tristemente— Mas elas… pareciam estar tão contentes por nós… elas só estavam fingindo? Estavam mentindo o tempo todo?
— É o que parece — Setsuna respondeu sem encará-la— Nunca me importei muito com o que dizem sobre mim, mas não quero que fiquem falando mal de você pelas costas por minha causa. Por isso… acho melhor acabar com tudo. Sinto muito— ela deu meia-volta.
— Setchan, espe…— Konoka interrompeu a frase pela metade ao ver que a (ex)namorada já estava a metros de distância. Às vezes se esquecia de como ela era veloz. Konoka desistiu de tentar reprimir a dor que sentia e deixou que as lágrimas rolassem livremente por sua face.

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Todos estavam sentindo o estresse pré-dia dos namorados e enfrentando as conturbações daquele dia, fossem elas grandes ou pequenas. Após muito discutir, Asuna percebeu que não conseguiria convencer as amigas e deu-se por vencida. Retornou para o alojamento, resmungando consigo mesma, apenas para encontrar Konoka esparramada na cama, chorando como uma criança.

— Konoka?— ela chamou, fechando a porta atrás de si e caminhando até a amiga— Konoka, o que aconteceu?
— O que aconteceu?— ela repetiu, tirando o rosto do travesseiro para encarar Asuna. Tristeza e frustração misturavam-se em seu rosto manchado de lágrimas— Aconteceu que a Setchan terminou comigo. Na véspera do dia dos namorados!
— O que?— Asuna exclamou incrédula — Mas como assim? A Setsuna te ama mais do que qualquer outra pessoa… tem certeza disso, Konoka?
— Não tem como ficar em dúvida quando se leva um fora, Asuna— ela respondeu amargamente, fazendo Asuna se sentir idiota.
— Céus, nem sei o que dizer… sinto muito…
— Não, não sente— Konoka interrompeu, sentando-se na cama. Ela não deu chance de Asuna discutir. Já estava farta de mentiras, de pessoas escondendo as coisas dela. Por causa de tantos segredos tinha perdido a pessoa que mais amava— Pode parar com essa farsa, Asuna. Eu já sei que você nunca aceitou de verdade o nosso namoro.
— Ei, do que está falando?— Asuna colocou-se de pé, ofendida— Escute, sei que está chateada por ter terminado com a Setsuna, mas não coloque a culpa em mim.
— Não é apenas sua culpa, é culpa de todas vocês! Da classe inteira!— Konoka levantou-se também— A Setchan me contou. Ela ouviu vocês conversando hoje na sala de aula. Sobre como achavam ridículo prepararmos chocolate no dia dos namorados. Que não deveríamos comemorar essa data. É o que você acha, não é? Que é um absurdo duas garotas namorarem. Setchan acha que está me protegendo se afastando de mim para evitar esses comentários maldosos. Ela terminou comigo por culpa sua! Por culpa de todas vocês!— ela empurrou Asuna com força e voltou a chorar.

Konoka não era muito forte na verdade. Em se tratando de força física, Asuna ganhava de lavada, mas ela deixou-se ser empurrada, se isso ajudasse a aliviar um pouco da frustração da garota. Aparentemente não tinha funcionado. Konoka continuava aos prantos, enxugando as lágrimas com as costas das mãos, mas era inútil, novas lágrimas escorriam por sua face logo após ela enxugá-las. Asuna queria abraçá-la, consolá-la, mas provavelmente apanharia se chegasse perto. Lentamente, começou a entender o que tinha acontecido. Lembrou que tinha ouvido um barulho no corredor enquanto conversava com as amigas. Então nãofoi apenas impressão sua no fim das contas, Setsuna estava lá. E pelo jeito tinha entendido tudo errado, o que resultou no pior dia dos namorados que alguém poderia ter. Asuna precisava consertar aquela confusão e depressa, antes que fosse tarde demais Ela sentou-se na mesa da escrivaninha e esperou pacientemente até que o choro de Konoka cessasse.

— Sabe, às vezes eu chego a lamentar o fato da Setsuna ser tão certinha— Asuna disse como quem fala do tempo— É típico dela pensar que se afastando de você vaiconseguir te proteger de boatos maldosos que a envolva também. Suponho que ela também deva ter ficado preocupada com o dia dos namorados, porque tem o lance de os garotosretribuir o presente no White Day e, bem… ela é muito apegada a tradições para simplesmente te dar um presente e ignorar o fato de que vocês duas são garotas— ela suspirou e olhou para Konoka, que ainda a encarava com raiva nos olhos— Se ela decidiu espiar, deveria ter escutado a conversa até o fim. Não era de vocês que estávamos falando, e sim do Negi.
— Do Negi?— Konoka exclamou confusa.
— Sim— ela confirmou— A Representante, a Nodoka, a Haruna, e… bem, várias meninas da classe querem dar chocolates para ele amanhã. Eu estava dizendo que não é uma boa ideia. Primeiro, porque ele é nosso professor. Segundo, porque ele pode até ser um garoto-prodígio, mas ainda é mais novo do que a gente. No fundo, acho que as meninas só querem atormentá-lo. Chisame foi a única que concordou comigo. Ela também acha que essa é uma ideia ridícula. Embora tenha exagerado um pouco no discurso que ela fez.
— Então vocês não estavam falando da gente?— Konoka perguntou — Vocês… não acham estranho a gente namorar?
— Claro que não! Estranho foi vocês terem demorado tanto para começarem a namorar— Asuna riu da pergunta da amiga.
— Setchan é muito tímida. E muito apegada às regras— um ínfimo sorriso formou-se nos lábios de Konoka ao pensar na garota.
— Então namorar uma garota é contra as regras?— Asuna perguntou.
— Para a sociedade em geral… acho que sim. Pelo menos é o que a Setchan pensa.
— Dane-se a sociedade. Nosso mundo é cheio de magia e muito melhor do que ela— Asuna balançou a mão como se as pessoas que não aprovavam o namoro das duas (e que elas nem sequer sabiam se existiam) fossem irrelevantes— De qualquer forma, é nisso que dá ouvir a fofoca pela metade. Se ela decidiu escutar a conversa atrás da porta, então deveria ter ouvido até o final. Daí ela saberia que vocês são o maior shipp da Haruna atualmente, e que meio que fizemos uma aposta para saber se ela vai te dar chocolates amanhã ou se vai retribuir no White Day… ai, droga, não era para eu ter contado isso! Esqueça o que eu disse!— Asuna pediu, arrancando uma risada da amiga— Bom… eu realmente pensei ter ouvido alguém no corredor, mas não pensei que fosse ela… lamento por todo esse mal-entendido. Vou falar com a Setsuna e explicar o que aconteceu.
— Não precisa— Konoka disse quando a amiga fez menção de se levantar— Deixe que eu mesma cuido disso. Obrigada, Asuna.

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No fim das contas Konoka decidiu preparar chocolates. Não fez meio-amargo, nem de morango, e sim chocolate branco. Tinha passado a manhã cozinhando, e também preparou giri-choco para as amigas e para Negi, então acabou demorando mais do que esperava. Só conseguiu tempo para procurar Setsuna depois do almoço. A garota não estava em seu alojamento, mas Konoka também não esperava encontrá-la ali realmente. Seria muito fácil. Mas o campus era enorme. E também havia o bosque na parte de trás. Se a garota tivesse decidido ir treinar, Konoka jamais a encontraria lá. Tentou falar com as outras meninas que também treinavam artes marciais, porém nenhuma delas tinha visto Setsuna naquele dia. Já estava quase desistindo quando se lembrou de um lugar que ainda não tinha visitado.

Konoka costumava visitar o Clube de Kendô antes das duas começarem a namorar, apenas para observar Setsuna treinando. E não se enganou. Lá estava ela, treinando com a espada, como sempre fazia quando estava frustrada com alguma coisa ou tentando esquecer seus problemas. Nesse caso, as duas coisas.

— Treinando sozinha no dia dos namorados, Setchan? Parece um pouco triste, não?— Konoka adentrou o local, fazendo a garota paralisar no meio de um golpe. Ela abaixou a espada, os olhos arregalando-se ao ver Konoka ali.
— Milady… o que está fazendo aqui?— Setsuna indagou, sem saber como reagir.
— Fiz para você— ela estendeu uma caixa com formado redondo embrulhando com papel cor de rosa e uma fita vermelha. Antes que Setsuna pudesse recusar, ela disse— São giri-choco. Fiz para as outras meninas da classe também. Mesmo que não estejamos mais namorando, você ainda é minha amiga de infância, não é?
— Sim… tem razão— Setsuna aceitou o presente, pegando o embrulho com delicadeza— Muito obrigada— ela sentou-se perto da entrada do clube, que tinha vista para um jardim com crisântemos, e abriu o embrulho. Eram chocolates brancos no formato de corações. Konoka sentou-se ao lado dela em silêncio.
— Estão deliciosos— Setsuna falou depois de provar um. O chocolate derretia em sua boca e não era nem muito doce e nem muito amargo. Tinha um sabor perfeito— Você é mesmo uma excelente cozinheira, Milady. Acho que nunca conseguirei chegar nem perto…
— Fico feliz que tenha gostado— Konoka sorriu— Mas não fale desse jeito. Você é boa em várias outras coisas que eu não sou. É forte, corajosa e fiel aos seus ideias… às vezes até demais.
— Como assim?
— Você sabia que várias meninas da classe prepararam chocolates para o Negi?— Konoka contou— A Asuna me falou que estava tentando convencer as garotas a não fazerem isso, já que ele é mais jovem do que nós e provavelmente ainda é imaturo para lidar com isso… até a Chisame ajudou, disse que era uma péssima ideia preparar chocolates para ele, porque o Negi é nosso professor e tudo o mais, e que achava que aquilo era um absurdo. Mas parece que não funcionou. As meninas usaram a desculpa de serem apenas giri-choco e prepararam chocolates assim mesmo.
— Milady… quando exatamente essa conversa aconteceu?
— Ontem de tarde. Na sala e aula— Konoka virou-se para encará-la— Foi essa conversa que você ouviu, Setchan?— ela perguntou e a garota acenou com a cabeça lentamente, sem conseguir acreditar no que ouvia— Parece que elas estavam falando do Negi, e não de nós. Ah, mas a Asuna disse que elas falaram da gente também. A Representante estava se perguntando se eu daria chocolates para você, ou se seria ao contrário.
— Eu ouvi essa parte— Setsuna contou— Não tem como eu preparar chocolates, sou péssima nisso…
— Por isso eu me encarreguei dessa parte— Konoka sorriu— Eu também dei chocolates para o Negi. Giri-choco— ela deixou bem claro— Parece que a Chisame também achou essa ideia ridícula. Ela pensou que você ficaria com ciúmes.
— Na verdade eu já imaginava que você faria isso. O professor Negi não é apenas o nosso professor, ele é nosso amigo— Setsuna respondeu simplesmente.
— Que bom que ela se enganou— Konoka riu— Depois elas começaram a discutir sobre qual de nós prepararia o chocolate, e parece que fizeram uma aposta também… e, segundo a Asuna, por algum motivo o assunto mudou para a Natsumi e elas começaram a interrogar a coitada, perguntando se ela faria chocolates para o Kotaro.
— Ela fez, não é?
— Sim— Konoka confirmou— Enfim, depois de muita discussão, a Asuna desistiu de tentar convencê-las. Então o Negi deve estar sendo perseguido por no mínimo metade da classe nesse exato momento.
— Eu deveria ter imaginado que elas armariam alguma coisa para o professor Negi— Setsuna murmurou— Sinto muito, Milady.
— Sente muito por ter escutado a conversa metade ou por ter terminado comigo?— Konoka perguntou.
— Apenas a segunda coisa, na verdade— Setsuna admitiu— Mesmo se elas estivessem falando de nós, eu deveria ter enfrentado o problema de outra forma. Não deveria ter te deixado. Será que… eu posso considerar esses chocolates como honmei-choco? Vou te dar alguma coisa no White Day.
— Essa era a ideia desde o começo— Konoka respondeu, segurando o rosto da garota com uma das mãos e beijando-a.

Setsuna só teve tempo de deixar a caixa de chocolates ao lado dela antes de abraçá-la e retribuir o beijo. Sentiu Konoka enlaçar seu pescoço com uma das mãos enquanto a abraçava pelas costas com a outra, trazendo-a para mais perto de si. Ela sentiu o rosto esquentar e o coração bater mais forte como sempre acontecia quando estavam juntas. Setsuna ficava inebriada com o cheiro de Konoka, seu gosto, seu toque… tudo nela parecia aguçar seus sentidos e ao mesmo tempo a fazia desejar perder-se nas sensações que Konoka lhe causava.

A sensação era recíproca. Konoka estremeceu ao sentir a mão da namorada enlaçar sua cintura e um calor invadir seu peito, derretendo toda a frieza e angústia que havia se acumulado ali no dia anterior e que agora parecia que nunca tinham existido. Sentiu cócegas no pescoço quando Setsuna começou a afagar os cabelos dela e a brincar com as mechas castanhas. Seu coração batia tão forte que parecia que ia saltar pela boca a qualquer momento, mas ela não dava a mínima para isso agora. Só o que importava é que estava com Setsuna de novo. Que podia ficar ao lado dela, sentir o gosto dela, e que não deixaria que ninguém as separasse novamente.

Exceto o oxigênio. Maldito oxigênio que não permitia que beijos durassem para sempre! Infelizmente ele era necessário, então, por mais que não quisessem, elas tiveram que se separar.

— Acho que é tolice perguntar depois disso, mas… somos namoradas de novo, Setchan?— Konoka indagou após recuperar o fôlego, só para ter certeza.
— Mas é claro!— Setsuna exclamou, estranhando aquela pergunta— Quero dizer, se você ainda me quiser…
— Lógico que quero, sua boba— Konoka deu um peteleco na cabeça dela— Só é uma pena que o dia dos namorados tenha acabado assim. Que desperdício…
— O dia ainda não acabou, Milady. Venha comigo— Setsuna levantou-se, segurando a mão de Konoka. A garota perguntou para onde estavam indo, mas Setsuna disse apenas que era surpresa e não falou mais nada.

Konoka só descobriu cerca de meia hora depois a desvantagem de morar em um colégio interno. Por melhor que fosse o lugar, era muito diferente da cidade, onde havia lojas, restaurantes, cinemas, e todo o tipo de coisas a qual elas geralmente não tinham acesso. É claro que, geralmente, duas alunas não teriam permissão de sair assim sem problemas do colégio apenas para ir passear, mas elas disseram que Negi tinha dado permissão. E o professor certamente estava ocupado demais para negar, o que era uma sorte para elas.

Era de tarde, então elas não poderiam visitar tantos locais assim, mas foram a todo tipo de lugar que puderam. Visitaram uma loja de roupas, onde Konoka ficou encantada. Ela cismou em comprar um conjunto de saia de pregas amarelo e uma blusa da mesma cor com rendas para Setsuna, mas a garota negou veementemente. Ela nunca sentiu-se confortável usando saia. Só vestia diariamente porque era uma peça obrigatória do uniforme escolar, e ainda assim usava short por baixo. Por fim, decidiram escolher alguma roupa para Konoka primeiro. Elas encontraram um vestido rosa claro de mangas curtas e saia com pregas que Konoka adorou logo de cara e foi experimentar. Setsuna disse que a esperaria do lado de fora, mas Konoka insistiu para que ela entrasse no provador, com a desculpa de que precisava de ajuda com o zíper, que fechava atrás.

Esse era o problema de namorar outra garota. Ou vantagem. Depende do ponto de vista. Não havia como evitar situações assim. Konoka colocou o vestido e jogou os longos cabelos para a frente para que Setsuna pudesse fechar o zíper para ela. A garota encarou as costas da namorada durante alguns instantes, tentada a tocar aquela pele macia. Se perguntou se Konoka fazia aquelas coisas de propósito, para provocá-la. Por fim abanou a cabeça, como se isso pudesse afastar aqueles pensamentos e fechou o vestido. Konoka virou-se de frente para ela.

— Como estou Setchan?— ela perguntou. As mangas do vestido caía levemente sobre os ombros e a saia rodada ia até a metade das pernas. O tecido claro combinava perfeitamente com o ar angelical de Konoka.
— Está linda, Milady— Setsuna sorriu, ajeitando uma mecha de cabelo dela que caía por cima de um de seus ombros.
— Então vou levar esse— Konoka bateu palmas feliz— E você? Vai levar aquele conjunto que te mostrei?
— Ah, não… aquilo realmente não combina comigo— Setsuna negou rapidamente.
— Mas você precisa levar alguma coisa!— Konoka insistiu— Já sei. Você vai acabar levando alguma coisa masculina de novo, não é?
— Foi só uma vez! E eu entrei na sessão masculina por engano…— ela lembrou-se da vez em que as duas foram fazer compras com as amigas e acabaram se separando na loja. Setsuna acabou pegando qualquer coisa que achou legal só para dizer que comprou alguma coisa. Apenas quando voltaram para o alojamento da escola foi que Asuna lhe disse que tinha comprado uma camisa masculina. E a loja não aceitava trocas nem devoluções.
— Mas você ficou linda com aquela camisa mesmo assim— Konoka riu, lembrando-se da ocasião também— Anda, vamos procurar alguma coisa para você. Vou cuidar para que você não se perca e acabe indo parar na sessão masculina de novo, pode deixar.

Setsuna comprou alguma coisa da sessão feminina dessa vez, e não foi o conjunto amarelo que ela tanto detestou. Comprou uma blusa azul-clara com mangas compridas, que Konoka ainda achava muito masculina, mas que tinha um lacinho de enfeite na gola, então Setsuna não entendia o motivo da reclamação.

Quando saíram da loja, foram até uma lanchonete perto dali e pediram um sorvete para cada uma. Konoka pediu um de creme e Setsuna de morango, provando de uma vez que não tinha nenhuma alergia a morangos. Em certo momento Konoka abocanhou a colher com sorvete da garota antes que Setsuna pudesse comê-lo, arrancando uma reclamação dela.

— Eu só peguei um pouquinho. Não seja egoísta— Konoka falou de modo infantil.
— Não estou dizendo que não quero dividir, mas eu já usei essa colher…
— Você está pensando que isso foi um beijo indireto?— Konoka indagou, começando a rir— Setchan, nós já nos beijamos várias vezes. Isso não faz sentido.
— Eu sei, mas… por algum motivo, ainda é embaraçoso— Setsuna não tinha argumentos para se defender. Konoka estava certa, elas já tinham se beijado antes, não havia motivo para ter vergonha disso. Mas não conseguia evitar de se sentir constrangida.
— Certo, então vamos deixar as coisas equilibradas. Vou te dar um pouco do meu sorvete também— Konoka encheu a colher com uma generosa porção do próprio sorvete e levou na direção de Setsuna— Diga "ahh"…
— Milady, pare com isso… as pessoas estão olhando…— Setsuna pediu, terrivelmente embaraçada.
— Então é melhor você comer logo, assim elas param de olhar— Konoka aconselhou, e Setsuna acabou comendo o sorvete. Provavelmente não era tão bom quanto parecia, mas qualquer coisa que Konoka lhe oferecesse parecia ter um sabor divino.

Konoka finalmente parou de provocá-la e a deixou continuar comendo seu sorvete em paz. Isso durante dois minutos. Ela já estava na metade do próprio sorvete quando não se aguentou mais de curiosidade e decidiu perguntar:

— Setchan, como descobriu esse lugar?
— Como assim?— ela falou sem entender— Fica praticamente do lado da loja onde estávamos…
— Não estou falando apenas da lanchonete— Konoka interrompeu— Quero dizer… tudo— ela fez um gesto amplo com os braços— Nós raramente saímos do colégio. Como você sabia sobre essas coisas na cidade?
— Ah, isso— Setsuna começou a remexer o próprio sorvete com a colher, repentinamente sem jeito— Bem, na verdade não é muito difícil sair do colégio quando se possui experiência em batalhas e habilidade com a espada como a minha— Setsuna contou, o que deixou Konoka impressionada— E também… depois de conversarmos ontem de manhã, antes de ouvir a conversa das meninas… eu fiquei me perguntando se deveria te dar alguma coisa no dia dos namorados também. Mas sou terrível em cozinhar qualquer coisa. Então… achei que seria uma boa ideia te levar para sair em um encontro— ela tinha se encolhido tanto quando terminou a frase que poderia muito bem ter se fundido com a cadeira.
— Setchan— Konoka segurou as mãos dela por cima da mesa, fazendo a garota encará-la. Como Konoka imaginou, seu rosto estava terrivelmente corado— Foi uma ótima ideia a que você teve.
— Mesmo…?
— Sim!— Konoka alargou o sorriso— Aposto como ninguém nunca pensou em dar isso de presente no dia dos namorados antes e ficou só na antiga tradição do chocolate. Deveríamos fazer isso mais vezes.
— Fico feliz que tenha gostado. Porque ainda falta uma coisa— Setsuna deixou algumas moedas em cima da mesa e puxou Konoka pela mão outra vez, sem dizer aonde iam.

Já era noite lá fora. As duas passaram por um parque onde havia uma pequena aglomeração de pessoas. Konoka imaginou que alguma coisa iria acontecer ali, um tipo de apresentação talvez, mas elas passaram direto. Ela perguntou o motivo, mas Setsuna apenas continuou caminhando e a levou até um prédio mais afastado que parecia abandonado perto de um beco. Konoka começou a ficar receosa. Por que Setsuna a tinha levado para um prédio abandonado em um lugar deserto?

— Setchan… o que estamos fazendo aqui?
— Você já vai ver— ela tomou Konoka em seus braços subitamente, carregando-a como uma Princesa, fazendo a garota soltar uma exclamação de surpresa— Vamos, Milady.

Setsuna começou a subir no prédio pelas escadas de incêndio, sem usar a escada de fato. Sequer subia pelos degraus, apenas saltava de um andar para o outro, dois de cada vez. Quando chegou no terraço, colocou Konoka no chão com delicadeza.

— Por que viemos até aqui?— Konoka indagou— Se queria me mostrar alguma coisa, poderíamos ter ficado no parque.
— Eu sei. Lá era mais bonito— Setsuna concordou— Mas daqui temos uma visão melhor. Veja— ela indicou o céu e Konoka acompanhou o olhar dela.

O céu noturno estava iluminado por corpos celestes que passeavam por ele, como peixes com cauda brilhante nadando em um vasto oceano. Uma chuva de meteoros.

— Que lindo…— Konoka murmurou, sem tirar os olhos do céu. Um sorriso crescente iluminou seu rosto, a luz dos meteoros refletida em seus olhos castanhos.
— É verdade— Setsuna desviou os olhos para a garota ao seu lado por um momento. Os meteoros eram lindos, mas nenhum deles eram tão brilhantes quanto o sorriso de Konoka.
— No que está pensando, Setchan?— Konoka perguntou. Sabia que a garota a estava encarando mesmo que ainda estivesse observando o céu.
— Ah… nada de mais— Setsuna voltou a observar o céu— Só que… seu sorriso brilha mais do que qualquer um desses meteoros, Milady.
— Então me deixe continuar sorrindo. Não se afaste de mim outra vez, Setchan— Konoka pediu, segurando a mão dela.

Konoka tinha razão, como sempre. Era algo tão simples, que Setsuna demorou tanto a entender… se queria realmente proteger Konoka, não poderia fazer isso de longe. Tinha que fazer isso estando ao lado dela. Não apenas por sua segurança, mas também por sua felicidade. Setsuna amava ver o sorriso de Konoka. Ela deveria manter aquele sorriso, protegê-lo, e não deixá-lo se apagar. E, para isso, bastava ficar ao lado dela. Que era a coisa que Setsuna mais queria na vida. Ela entrelaçou seus dedos com os de Konoka, sentindo o coração muito mais leve.

— Não vou me afastar. Nunca mais.



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Notas Finais:


Essa história também foi postada no Nyah! Fanfiction e no Spirit.

Feb. 14, 2020, 7:36 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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