Terminada a sua escolha do produto, Gilbert Beilschmidt foi para o caixa da farmácia. Havia uma fila de três pessoas à sua frente e depois que entrou, mais duas ficaram atrás dele. Ora olhava os produtos atrás do atendente, ora assistia ao jogo de beisebol que passava na tevê ao lado da câmera de segurança do estabelecimento.
Quando chegou a sua vez, ele estendeu um pacote azul escuro para o jovem do caixa e este passou a mercadoria na máquina, contabilizando o preço. Enquanto o alemão abria a carteira para tirar o dinheiro necessário, ouviu um outro rapaz rir um pouco ao guardar sua compra numa sacola.
Assim que pagou o caixa, olhou fundo nos olhos no rapaz risonho que deu um passo para trás, assustado com os olhos profundamente irados e vermelhos do homem albino.
Em poucos minutos, ele saiu da farmácia e foi para o carro, guardando o pacote no porta-luvas.
Suspirou um pouco ao pegar o celular e depois de discar o primeiro número, ouviu umas batidas no vidro da janela. Assim que Gilbert virou os olhos, viu dois homens sorrindo e acenando para ele com os mesmos pacotes azuis escuros em mãos.
“Valeu pela dica! Você é incrível, cara! Mito!” – diziam, ainda que ele não pudesse ouvir suas vozes.
O alemão deu um sorriso amarelo e acenou de volta, vendo eles se separarem em diferentes caminhos. Todo mês era a mesma coisa e sempre conseguia dar um jeito de ajudar outros na mesma situação que ele. Não era para menos, já estava virando um expert no assunto – por mais inútil que fosse este talento.
Infelizmente, sua esposa Elizabeta parecia ter a estranha capacidade de ficar com febre na mesma época em que entrava “naqueles dias” e isto o forçava a fazer algumas coisas, como ir para alguns lugares e comprar coisas que definitivamente não eram para ele. Depois de um tempo, já estava acostumado com isso.
-Alô, Eliza? – chamou.
-Gil? – ouvindo a voz fraca da mulher seguida de uma fungada – Conseguiu comprar certo? Porque da última vez você comprou absorventes grandes demais para mim e eu... snif... me senti dentro de uma fralda.
-Eu comprei certo, ok? Tamanho médio, com abas, espaçoso e com aquele negócio lá de conter melhor o sangue e ser confortável. Tudo dentro dos conformes.
Um espirro acompanhou o “obrigado” da húngara.
-Gil, você é o cara – disse Elizabeta.
-Eu sou o cara – Gilbert piscou para seu retrovisor e fez uma arma com o dedo indicador, sua habitual pose para fazer-se de conquistador e às vezes, arrancar uma risada da amada – Já estou voltando, amor. Tente não morrer antes de eu chegar.
-Vou tentar. Te amo, Gilbert!
-Eu também te amo, Eliza!
A ligação encerrou e ele ligou o motor do carro, colocando o celular de volta no bolso do casaco.
As palavras de seu pai, que se tornaram seu bordão pessoal em casos como aquele, eram bastante claras e repetiram-se em sua mente enquanto dirigia: homens covardes vão para a balada, homens corajosos vão para a farmácia comprar o absorvente da esposa quando ela está mal para receberem em troca uma piscada e os dizeres de “Você é o cara, amor.”
Fim.
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