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Único, assim como a alma de Luke

He is behind me, my Demon.

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Luke corria pela mata densa desviando-se do que conseguia identificar na escuridão e tropeçando e esbarrando naquilo que não conseguia. Todos os músculos do seu corpo pareciam em chamas, e temia que suas pernas lhe falhasse a qualquer momento. Não podia parar, não quando ele estava o perseguindo.

O rapaz se sentia como um animal acuado e indefeso que, por sua natureza, não tinha escolha a não ser fugir do seu predador. Como um coelho tolo que foge de uma astuta raposa, pensou em meio a lufadas de ar.

A visão se tornou turva com as lágrimas que se acumularam em seus belos e assustados olhos castanhos, e Luke se reprimiu, não podia começar a chorar, a sua prioridade era sobreviver a ele e então depois poderia até mesmo se afogar em seu próprio choro. Porém, as cenas que presenciara a poucos instantes lhe vindo à mente não faziam sua situação menos difícil, aquilo o marcou, um trauma para toda a sua vida. Afinal, ver sua família ser morta e desmembrada na sua frente, sem que pudesse fazer nada, não era algo que se esquecesse de uma semana para outra.

E tudo era culpa do demônio, aquele desgraçado! Não sabia como um dia pode amá-lo tanto como amou, ou talvez soubesse bem e se negava a crer. Ele, que se apresentou a si como Damon, o cativou na primeira troca de olhares com seu rosto belo e cabelos escuros, sem contar aqueles olhos verdes que possuíam um brilho insano onde havia se perdido tantas vezes que perdera a conta.

Um amor como o que cultivou por ele não se dissolve em um piscar de olhos, e por isso, mesmo depois de toda a atrocidade feita por Damon aos seus familiares, lhe roubando as vidas como se não fosse nada, uma parte de Luke ainda queria acreditar que aquele com quem fez tantas juras de amor não era um demônio sanguinário manipulador. Aquela pequena parte esperançosa esperava que os braços dele o rodeassem pelos ombros e com um beijo carinhoso em seus cabelos dissesse, com aquela típica voz suave para lhe passar calma, que tudo ficaria bem e lhe enxugasse as lágrimas. Mas isso era um sonho, um delírio, a realidade cruel e amarga que o fazia engolir em seco e tremer desesperadamente era a em que Damon o queria morto e não desistiria de realizar isso.

Luke sentiu sua visão escurecer e sua cabeça pesar, os pulmões queimavam como se estivessem em combustão, soube na hora que precisava parar ou então acabaria desmaiando, sendo seu fim. Se apoiou em um tronco quebrado de uma árvore, buscando fôlego desesperadamente, e somente quando tudo ao seu redor parou de girar percebeu o silêncio ensurdecedor na floresta, o que não significava nem de longe algo bom. "Quando a floresta se cala, é porque a um predador à espreita" se lembrou das palavras que seu pai lhe dissera certa vez em um acampamento de final de semana que passaram juntos.

Vamos, se acalme e respire fundo!

Repetia em sua mente, sabendo que tinha de recuperar as forças e correr dali o mais rápido que desse, não podia abusar da sorte ao relento. Mas os planos do rapaz foram frustrados quando seus joelhos estremeceram e ele foi ao chão, seus ombros pareciam pesar mais do que o normal, todo seu corpo aliás. Nesse momento as lágrimas retornaram seguido de soluços, suas mãos se agarram em seus cabelos, os puxando com raiva.

Luke sentiu um nó se firmando em sua garganta, e não se privou de despencar no abismo que era sua dor. Sua vida havia mudado tão drasticamente dentro de algumas horas. Era feliz, tinha uma família carinhosa e que aceitava sua orientação sexual e um namorado incrível, mas de repente toda aquela felicidade se transformou em dor misturado ao sangue de seus pais e irmã. E seu namorado se mostrou uma criatura das mais perversas histórias de terror, um demônio que queria a ele, queria sua alma por motivos que não conseguia supor serem suficientes.

Uma mão gélida agarrou-lhe o braço fazendo seu momento de "paz" se acabar junto de um frio que lhe correu pelo corpo que se pôs a tremer ainda mais. Sabia quem era e o que ele trazia junto de si. Trazia seu fim, sua morte. Luke queria voltar a correr, mas suas pernas não se mexeram, apenas fez um único movimento que pareceu ser o mais difícil de todos: levantou o rosto para ter o vislumbre do homem parado ao seu lado, com suas orbes verdes transbordando toda a malícia em meio ao breu. E de repente seus olhos se tornaram rubros como sangue e um sorriso insano lhe enfeitou os lábios

Encarando o rosto do homem que um dia tanto amou distorcido em loucura Luke viu seu mundo girar mais uma vez e as pálpebras se tornarem como chumbo. A escuridão o envolveu em seus braços de uma só vez, o fazendo repousar para o gran finale que o aguardava.


Aos poucos Luke sentiu sua consciência retornar junto de seus sentidos, mesmo que ainda meio atordoados. Abriu seus olhos vendo por alguns minutos apenas figuras escuras distorcidas, tentou levantar um dos braços, mas a única coisa que conseguiu foi uma ardência na pele, e só então, ainda meio grogue, que olhou para baixo e o desespero que o inundou ao se ver amarrado das mãos aos pés em uma cadeira de madeira o fez acordar de vez para a situação atual. As recordações de tudo o que ocorrerá antes de desmaiar lhe vieram à mente, e enquanto as revivia, tentou se soltar das amarras, mas a única coisa que conseguiu foi deixar sua pele vermelha e ardente.

Uma risada cínica se sobrepôs ao silêncio, chamando a atenção do rapaz para um ponto em específico onde a luz amarelada da lâmpada não alcançava, o fazendo estremecer por completo. Parou de se mexer, até mesmo de respirar em reflexo, quando se juntando a risada um par de olhos escarlates brilhou na escuridão e logo então sons pesados de passos fecharam a cena.

Fuja, Luke! Você terá o mesmo fim que sua família!

Aquelas palavras eram a única coisa que conseguia pensar, a racionalidade sendo substituída pelo medo. E mesmo que não adiantasse de nada, Luke voltou a tentar se soltar, dessa vez com mais ânsia e pressa, arrancado sangue de seus braços pelo atrito com as cordas, mas isso seria o de menos se continuasse ali, a mercê da morte.

Saindo da escuridão para a luz, o ser que pensou um dia conhecer bem e que lhe foi tão familiar, podia ser visto claramente. Damon tinha suas roupas banhadas em sangue, assim como seus contornos.

"De um passo e as asas serão arrancadas." Ele começou em um tom melodioso "Dê dois passos e as tripas somem." Um sorriso macabro estampou-se em sua face "Dê três passos e você será um banquete para a morte!"

Ele se aproximou devagar até estar cara a cara com o rapaz que estava amedrontado ao ponto de nem respirar. Ah, Luke. Suspirou. Como ficava ainda mais lindo assustado. Sua alma era tão pura, que fazia Demon salivar em desejo. Ah, como havia sonhado com esse momento. Devorar a alma de seu amado, apreciando o sabor que só ela teria.

"Não gaste seu pouco tempo procurando por respostas, meu amor." Damon roçou seu nariz ao de Luke, vendo-o se encolher e uma mistura de medo e confusão instaurar-se em seus olhos castanhos.

"D-Damon....Por que?" Luke murmurou, foram as únicas palavras que seu estado lhe permitiu falar.

"Por que?" O outro riu como se aquilo fosse uma piada da qual só ele entendia a graça. "Oras meu querido, porque eu sou um demônio. E sabe, nunca se deve confiar em um demônio. "

Damon se afastou e Luke o seguiu com os olhos vendo-o mergulhar novamente no canto escuro da sala, e quando voltou a luz, havia algo em suas mãos: uma cabeça. Mesmo com todo o sangue e a face desfigurada, reconheceu de imediato; os cabelos ruivos não deixaram dúvidas.

"Mãe!" As lágrimas já desciam pelos olhos de Luke. "Eu te odeio! Você é um monstro!" Luke sentia raiva, queria socar aquele rosto bonito de Damon até desfigura-lo, assim como ele havia feito com sua mãe.

"Me odeia? Sério?" O tom debochado era evidente na voz do homem sem alma. "Não minta para você mesmo, Luke. Você me ama, sabe disso."

O demônio jogou a cabeça que estava em mãos no chão e com os olhos fixos nos de Luke passou uma perna de cada lado da cadeira, sentando-se no colo do, até antes, namorado.

"Sua alma será uma das melhores que terei em séculos. Você deveria ficar feliz com isso, meu amor."

Envolveu seus lábios contra os dos de Luke, sentindo já a fragrância da alma que almejava a tempos. Enfim a teria! Depois de anos a espreita, seu banquete estava servido.

Aquele beijo envolveu Luke de uma forma estranha. Era suave, calmo; paralisou todos os seus sentidos e emoções do momento. Mas por outro lado, era algo como um "adeus" e tinha um gosto salgado - provavelmente por conta de suas lágrimas. O maldito demônio sabia como o envolver.

E mesmo sentindo sua vida esvaziar-se aos poucos, Luke não interrompeu o beijo. Aquilo era como um vício - e como todos os vícios - não se é fácil abandonar.

Aos poucos o coração foi parando de pulsar, a vida se foi e somente um cadáver do que um dia foi Lukei restou.

"Você foi um belo banquete, meu Luke" O demônio sussurrou.

N/A:
Eu não sei se alguém se lembra, mas essa estória já foi postada lá em 2018 como fanfic na categoria Naruto. Resolvi reescreve-la para original e mudar umas coisinhas, espero que tenha ficado bom hahahana

Esse pequeno trecho : "De um passo e as assas serão arrancadas. Dê dois passos e as tripas somem. Dê três passos e você sera um banquete para a morte!" Foi retirado do anime Karneval ( aliás, vejam, é muito bom! )

Feb. 2, 2020, 3:31 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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awnthony ⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝙋𝙇𝙐𝙎 𝙐𝙇𝙏𝙍𝘼! -'ღ'- ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ também estou no wattpad e spirit fanfics com o mesmo user.

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