Estava amanhecendo, o sol despertava preguiçosamente entre as colinas inundando os vales com seu brilho, quando os gritos ecoaram pelos corredores vazios do castelo. Gritos de dor, de agonia e sofrimento. As empregadas agitadas, andavam apressadamente enquanto carregavam vasilhas com água, alguns panos limpos e outros ensanguentados. O rei estava inquieto, caminhando de um lado para o outro. Os gritos cessaram, alguns segundos de um perturbador silêncio e então um choro ecoou pelo palácio. Sem conter a emoção o rei correu para dentro do quarto. Sua esposa suava. Mesmo com gritos e gemidos que se pareciam com animais sendo abatidos e estranhas caretas de dor a rainha continuava linda. Ela segurava duas lindas criaturinhas roxas igual berinjelas, com olhos azuis como águas cristalinas.
— Duas? — Foi a primeira reação do rei.
A parteira apenas sorriu, feliz por ter trago mais duas crianças ao mundo.
— Elas são lindas. — A voz doce e suave, ninguém que visse a rainha seria capaz de dizer que ela estava dando a luz a alguns minutos atrás.
— A primogênita se chamará Celine. — Anunciou o rei, com um olhar orgulhoso. Ele segurava sua pequena herdeira nos braços.
— E a mais nova, será Clarisse.
A rainha retirou seu colar e o colocou gentilmente no pescoço de sua primogênita, como uma forma de diferencia-las. Esse foi o segundo privilégio que Celine teve sobre Alyne. O primeiro foi ser primogênita e consequentemente ser a herdeira, a preferida, a mais amada. Mas a vida de privilégios e regalias de Celine não iria durar muito.
*
[2 anos depois]
— Você não deveria estar em pé.
— Eu estou bem querido, não se preocupe.
George fez algo parecido com uma careta e segurou a mão de sua esposa. Duas grandes portas se abriram. O povo os saudou com gritos e aplausos. Pétalas de flores dançavam no ar. Todo o reino estava comemorando a apresentação oficial de um herdeiro.
— Povo de Astrea. — A voz do Rei soa forte e imponente. — Dois anos atrás nosso reino foi agraciado com duas princesas. — Ele fez uma breve pausa — Hoje lhes apresento sua herdeira, Celine. — A pequena bebê foi levada para frente e recebida calorosamente com uma explosão de aplausos e comemorações, Celine era pequena demais para entender o que aquilo significava, mas ela nasceu para isso, então Celine abriu um lindo sorriso e conquistou o coração de seus futuros súditos. Com um simples gesto o Rei trouxe o mais próximo do silêncio que era possível. — E a segunda princesa, Clarisse . — Outra empregada da um passo a frente, apresentando o segundo bebê. Clarisse não era tão carismática quanto sua irmã, ela chupava o dedo e escondia o rosto atrás dos cabelos de sua empregada. Mas o povo a aceitou bem, achando sua timidez fofa.
O dia foi tomado por comemorações e festividades. As ruas de Astrea estavam lotadas de pessoas, dançando, bebendo, comerciando e acima de tudo, comemorando.
O reino inteiro estava vulnerável. Distraído com festas. Ninguém notou os estrangeiros encapuzados. Ninguém notou quando se aproximaram dos portões do palácio e ninguém pareceu notar quando entraram também.
*
— Invasores! — Gritou um dos sentinelas antes de ser nocauteado.
A noticia logo percorreu pelo palácio. Invasores. Dezenas de guardas se aglomeraram na entrada do palácio, na inútil tentativa de impedir que mais rebeldes entrassem. Mas como já foi dito, era inútil. Os guardas estavam despreparados, alguns estavam bêbados, afinal, era uma festa. Quem espera um ataque rebelde durante uma festa? O rei deveria esperar. Deveria estar preparado para isso. Mas não estava. E pagou um preço alto por seu descuido. Sua filha, Celine, a herdeira do trono foi sequestrada de seu berço de ouro, apenas dois anos depois de nascer. Separada de seu destino, de sua coroa e de sua família.
Após meses incansáveis de buscas o rei com muita relutância anunciou que sua amada herdeira estava morta. Mal sabia ele que estava cometendo um erro.
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