Notas Iniciais: Essa oneshot foi escrita para um desafio do Nyah, cujo tema é: Fetiches.
Essa história é derivada da minha longfic "Gênio Infame, Dama Mordaz" (postada nesse site também). Recomendo a leitura para entender melhor essa aqui ♥
O foco aqui é o casal Howard Stark & Maria Carbonell (futura Maria Stark) e um certo fetiche que ele tem pelos tornozelos dela.
Imagem de capa do Pinterest, fiz apenas a edição.
Boa leitura ♥
***
É um mistério cada vez maior como eu, exímio conhecedor das mulheres e habituado a tê-las me seguindo feito um séquito, ando tão intrigado com uma delas em especifico. Maria Carbonell, a nova contratação da mansão Stark e uma dama incrivelmente mordaz.
É verdade que seu olhar sempre desaprovador direcionado a mim, o nariz empinado e a língua cortante feito navalha me irritam profundamente durante nossos embates, mas eles também me encantam de um jeito que eu, mesmo sendo um GÊNIO, não sou capaz de compreender. Isso para não mencionar os delicados tornozelos que a ninfa possui. Essa foi a primeira parte do seu corpo na qual coloquei meus olhos e a que anda me tirando mais o sono desde então.
Essa não! Acabei de mencioná-los... Droga, Howard! Uma vez que me lembro dos tornozelos, é muito difícil afastá-los da minha cabeça. Para não dizer impossível...
Inquietude semeada, mexo-me na espreguiçadeira à procura de uma posição mais confortável. Ao mesmo tempo, fecho mais o meu roupão favorito, a fim de conter o estranho arrepio que se espalhou por meu corpo ao pensar na feiticeira de tornozelos perfeitos. Estou prestes a bebericar mais um pouco do drink preparado por Jarvis e deixado na mesa ao meu lado há alguns minutos, quando eu a vejo. Do outro lado da piscina. Maria.
O uniforme de arrumadeira balança suavemente em seu corpo pelo efeito da brisa que percorre o jardim. A luz do Sol vespertino lança novas nuances de loiro aos fios impecavelmente ajeitados em um penteado comportado. A vontade de bagunçar o cabelo de Maria e sentir a maciez dos fios entre meus dedos faz meu estômago afundar de um jeito muito esquisito, como se eu estivesse com uma fome anormal.
Sem conseguir resistir, abaixo os óculos de sol para ter uma visão melhor dos sapatos que ela usa. Não necessariamente deles, claro, mas é por eles que começo. O verniz avermelhado em contraste com a pele clara dos pés de fada faz aquele arrepio voltar. E as fivelas prateadas dão um ar delicado aos tornozelos já exuberantes de Maria. Ao invés de frio, o que sinto agora é um calor incômodo. Ainda assim, bom de um jeito inexplicável.
Enquanto a arrumadeira limpa com uma flanela as espreguiçadeiras do outro lado, mexo-me mais uma vez na minha. Mais uma vez, dominado pela inquietude misteriosa que Maria anda despertando em mim.
Maldição... O que está acontecendo comigo?
Com um esforço, desvio o olhar. Determinado a afastar sua bela e perturbadora imagem da minha cabeça, coloco os óculos de volta, bebo o drink de uma vez e fecho os olhos com força. O corpo inteiro tenso. O coração, palpitando sem razão lógica.
É quando ouço um grito e me levanto num pulo, alarmado por saber exatamente de onde veio o som. Um som agudo que faz o meu peito se encolher numa reação ainda mais incomum.
Do outro lado da piscina, Maria se senta um tanto desengonçada na espreguiçadeira mais próxima e leva a mão livre da flanela ao tornozelo direito. Engulo em seco e, num instante, corro para lá.
— O que aconteceu, raio de sol?!
Ela ergue o rosto com uma careta. A princípio, imagino que seja por eu ter deixado o apelido escapar — prometi não chamá-la mais assim, apenas de Srta. Carbonell —, porém, logo entendo que não se trata disso. Maria faz essa cara de limão azedo porque está com dor.
Abaixo-me diante dela por puro instinto e, admito, movido por uma preocupação intensa. O desejo de cuidar dela é mais do que irresistível, é uma necessidade essencial. Preciso que ela fique bem, preciso afastar seja lá o que for que lhe causou essa dor.
— O que foi que houve com você? — reformulo a pergunta, tentando não pensar em como nossa proximidade me perturba, atiçando um calor assustador dentro de mim. Devo estar enlouquecendo.
— Alguma coisa me picou. Uma abelha, eu acho...
Respiro aliviado. Uma abelha. Só uma abelha. Maria não vai morrer por causa de uma mera picada de abelha, certo? A menos, é claro, que ela seja alérgica ao veneno...
A simples hipótese se transforma numa certeza sombria na minha mente a mil e, quando dou por mim, já segurei e trouxe a perna dela para junto do meu corpo assentado.
— Sr. Stark! — ela, claro, protesta. — O que pensa que está fazendo?!
Possivelmente, salvando a sua vida. Tenho vontade de dizer, porém não consigo balbuciar uma mísera palavra agora. Não quando tenho o tornozelo de Maria sobre o meu joelho ainda úmido do último mergulho na piscina e posso ver — e tocar — a perfeição da natureza que sustenta seu lindo corpo.
— Seu patife atrevido! Me solte agora mesmo ou eu juro que...
Olho feio para ela. Ou tento, pelo menos. Seja como for, Maria se cala. Em seguida, faz uma nova careta e tenta mexer a perna por instinto.
— Eu preciso tirar o ferrão — aviso a ela. — Não vai parar de doer enquanto ele estiver aí.
E você pode estar correndo risco de vida! Não digo isso porque não quero alarmá-la e também porque é melhor me manter calmo para tudo dar certo.
Preocupado, envolvo a pele macia com a mão e abaixo o rosto para analisar melhor o cenário. Dessa vez, Maria não protesta. Talvez surpresa demais com a aproximação, não diz ou tenta nada. Acompanho enquanto seus poros dilatam sob a respiração rente à sua pele e sinto seu corpo se empertigar na espreguiçadeira. Eu lhe lançaria um sorriso masculino muito satisfeito agora, se a situação não pudesse ser grave para ela.
— Arde tanto... — Maria reclama, com a voz meio embargada.
— Eu sei que arde.
Entretanto, ao confessar isso, não estou falando do ferrão da abelha, e sim do que ando sentindo. E tenho a impressão que talvez Maria saiba exatamente o efeito que desperta em mim.
Afasto tal pensamento e me concentro no problema. Tento puxá-lo entre as unhas. Infelizmente, não consigo, pois está muito enterrado sob a pele. Ergo o olhar para Maria, num pedido silencioso por permissão para tentar outra coisa. A única coisa a se fazer agora.
Ela leva apenas alguns segundos para adivinhar minha ideia. Então, seu olhar dardeja, desconcertado. Ela engole em seco, ainda chocada. Contendo uma nova careta, enfim aquiesce com um meneio de cabeça.
— Argh... Faça de uma vez!
A essa altura, eu já fiz. Fechei os olhos e aproximei meus lábios do tornozelo picado sem pensar duas vezes. Mesmo que não seja essa a intenção no momento, é impossível não saborear a maciez da pele quente e macia em minha boca e não me envolver pelo sabor de Maria. Ela é doce. Feito trufas de framboesa. Minhas favoritas.
Mesmo de olhos fechados e com o rosto colado em seu tornozelo inebriante, consigo sentir Maria nesse momento. Por completo. A coluna endireitando-se mais, a tensão viajando em cada pedacinho do seu corpo, a respiração fora de ritmo enquanto ela observa, atordoada, a execução do meu plano. Um plano ousado e com um ar tão íntimo que me desconcerta na mesma medida.
Maria estremece quando enfim consigo livrá-la do maldito — ou seria bendito? — ferrão. E só porque seria errado me aproveitar do momento, solto-a em seguida, apoiando o pé dela no chão com cuidado e ignorando um tremor misterioso e inconveniente nas minhas mãos.
Quando ergo a cabeça e reencontro seus olhos, o que vejo neles me surpreende. E me atinge em cheio. E me aquece por inteiro. Maria não parece brava ou constrangida. Algo puro e intenso reluz no seu olhar cravado em mim. É nítido que ela luta para entender o que exatamente sentiu e ainda está sentindo, e essa imagem é simplesmente encantadora.
— Obrigada — consegue dizer, longos e deliciosos instantes depois.
Dessa vez, não contenho um sorriso enviesado e uma provocação:
— Foi um prazer lhe ser útil, raio de sol.
Ela sorri de um jeito rendido.
Como se isso já não fosse assaz chocante, Maria me surpreende ao levantar o outro pé e me lançar um olhar de desafio irresistível.
— Uma abelha te picou nesse também? — questiono, mesmo ciente de que não é o caso.
Maria morde o lábio inferior e, por um instante, eu sinto que posso entrar em combustão.
— Por que você não descobre por si só, patife?
Sem questionar mais nada, aceito a onda de sorte de bom grado. Então, trago o segundo tornozelo para junto dos meus lábios e beijo toda a sua extensão. Muito devagar, aproveitando cada centímetro, o calor envolvente e o sabor doce da pele que minha boca reverencia. Depois, volto para o primeiro tornozelo e faço o mesmo ritual de adoração. E, só para o outro não ficar com ciúme, retorno para ele.
É o paraíso. Simplesmente o paraíso.
— Sr. Stark...
Ao ouvir o chamado rouco do raio de sol, olho em sua direção, sem soltar os tornozelos que tanto mexem comigo.
— Howard — corrijo, num tom malicioso. — Me chame de Howard, mulher.
Parecendo confusa, Maria franze o cenho.
— O quê?
Antes que eu pense no que dizer, ouço de novo:
— Sr. Stark?
Só que o som não saiu de sua boca. É a voz de Maria, porém seus lábios não se moveram para formar tais palavras. De repente, começo a me questionar se ela me chamou da primeira vez ou se eu pensei ter ouvido.
— Sr. Stark?
Ora essa! O que diabos está acontecendo aqui?
De súbito, abro os olhos. Através das lentes escuras, vejo a dama mordaz a uma distância segura de mim. Maria encontra-se em pé diante da espreguiçadeira, sobre a qual estou esparramado. E onde eu peguei no sono, claro!
Maldição...
— O senhor está bem?
Desnorteado e tomado por uma frustração dolorosa, respondo na defensiva:
— Melhor impossível!
Inquieto pela presença dela e pela lembrança perturbadora do sonho com ela, mexo-me um pouco. Ou muito. Não sei ao certo. Ora! Muito ou pouco, não importa!
— Desculpe por tê-lo acordado. — Maria aperta a flanela entre as mãos, parecendo desconfortável. — É que o senhor estava fazendo uns barulhos estranhos, gemendo de um jeito... esquisito e eu pensei que fosse um pesadelo.
Sentindo-me um pouco melhor ao ouvir isso, sorrio torto para ela e ouso me arriscar:
— Ficou preocupada comigo, Carbonell?
E numa reação que não me surpreende nenhum pouco, ela endireita a postura e esclarece de maneira firme:
— Como eu ficaria com qualquer pessoa em tal situação.
Firme e com a irritante petulância. Coisas que me atingem de um jeito negativo, fazendo com que eu me sinta um bobo por ter sonhado com ela e por sentir tamanho fetiche pelos belos tornozelos que a natureza lhe deu.
— Foi um pesadelo — minto, ressentido com toda a situação. — Horrível, se quer saber. Tinha uma abelha e...
— Uma abelha?! — Maria ri. Não por maldade ao que parece, mas simplesmente porque parece ter ouvido algo muito engraçado e não resistiu. — O senhor teve medo de uma simples abelha?
Não é engraçado ser a piada nesse caso e, buscando preservar o meu orgulho, incremento a mentira de maneira defensiva e apressada:
— Uma abelha enorme! Mutante! Fruto de uma experiência mal-sucedida no meu laboratório! Aliás, era disso que eu estava com medo, de falhar como cientista, não da abelha em si.
De nada adianta. Continuo me sentindo um idiota. Ainda mais porque é nítido que Maria se esforça para não rir do relato.
Contrariado, tudo que posso fazer é encerrar essa conversa humilhante.
— Foi um pesadelo perturbador. Acho que devo agradecê-la por ter me acordado, Carbonell.
Ainda há diversão em sua voz quando ela responde:
— Não por isso, Sr. Stark.
Ficamos em silêncio, olhando um para o outro não sei por quê. É como se nenhum de nós conseguisse desviar o olhar por um longo instante.
Fazendo um esforço, enfim consigo romper o encanto e ordeno da forma mais natural e educada que consigo:
— Pode pedir ao Jarvis para me trazer outro drink?
Se Maria fica magoada com o convite para me deixar sozinho, não demonstra.
— Claro. Agora mesmo.
Eu não devia, mas simplesmente não consigo resistir a uma última espiada em seus tornozelos quando ela se afasta, caminhando, graciosa e desafiadora como sempre, rumo à mansão.
De repente, Maria olha para trás e me pega em flagrante. Fica sem graça, como se não esperasse me encontrar olhando para ela. Ou como se pretendesse me olhar uma última vez também. Por que ela fez isso, eu não sei, já que não me suporta e não faz a menor questão de esconder.
Antes que eu pense em soltar algum gracejo, Maria desvia do meu olhar e apressa o passo. Então, ajeito-me pelo que deve ser a milésima vez na maldita espreguiçadeira. Suspiro, sentindo-me perdido, muito frustrado e ainda mais inquieto.
No sonho, eu não fui picado por abelha alguma. Ainda assim, alguma coisa continua ardendo dentro de mim.
Ardendo demais.
Thank you for reading!
We can keep Inkspired for free by displaying Ads to our visitors. Please, support us by whitelisting or deactivating the AdBlocker.
After doing it, please reload the website to continue using Inkspired normally.