_pat __Pi

Preste atenção, eles estão por toda parte. Andam de dia, distribuem sorrisos e gestos de gentileza, mas é puro egoísmo. É tudo um teatro. Mostre à eles o sol e os verá se consumindo, a si mesmos, sob a luz que a tudo revela. Foi o que aconteceu com Aline. música: Teatro dos Vampiros - Legião Urbana


Short Story All public.

#conto #sobrenatural #vampiro #aline #diadasbruxas #halloween
Short tale
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Capítulo Único

“Sempre precisei de um pouco de atenção

Acho que não sei quem sou

Só sei do que não gosto

E destes dias tão estranhos

Fica poeira se escondendo pelos cantos

Este é o nosso mundo

O que é demais nunca é o bastante

E a primeira vez é sempre a última chance”



Aline abriu a porta e protegeu os olhos com a mão. O dia estava claro, claro demais para que seus olhos suportassem. O sol brilhava intenso e quente e sua pele ferveu. Um passo para trás e ela estava salva sob a sombra do interior da casa.

Que dia era esse? – Aline olhava para fora e não entendia. Todos os outros dias eram cinzentos e confortáveis, ela podia sair sem preocupação e caminhar pelas ruas livremente. Mas agora estava presa dentro de casa, queria sair e caminhar, mas estava claro e quente demais.


“Ninguém vê onde chegamos

Os assassinos estão livres, nós não estamos

Vamos sair mas não temos mais dinheiro

Os meus amigos todos estão procurando emprego

Voltamos a viver como há dez anos atrás

E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas”



Aline acordou assustada e pulou da cama indo direto para a janela e abrindo as cortinas com brutalidade. Sorriu aliviada, foi só um sonho, apenas um sonho. O dia estava cinzento e ideal para uma caminhada.

Abriu a porta e saiu, colocando um pé depois do outro, ainda assustada e com receio de que o que sentira durante o sonho se concretizasse naquele momento. Olhou para o céu e seus olhos se maravilharam. Não tinha sol, não tinha luz.



“Vamos lá, tudo bem eu só quero me divertir

Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir

Já entregamos o alvo e a artilharia

Comparamos nossas vidas

Esperamos que um dia

Nossas vidas possam se encontrar”



Aline não fechou a porta, apenas colocou-se a caminhar devagar admirando a paisagem e sorrindo para os que passavam por ela. Bom dia! Como vai? Tudo bem? Aline distribuía sorrisos e acenos, apertava uma ou outra mão. Deu um abraço em um velho corcunda e o ajudou a atravessar a rua.

O velho agradeceu e continuou a andar curvado para baixo. Aline seguiu para o lado oposto, sentia-se orgulhosa, valente e invencível. O sorriso estampado no rosto encantava a cada um que olhava para ela e sorriam de volta.

- Oi, - Alguém a parou no meio da travessia de um cruzamento – o que está fazendo aqui fora?



“Quando me vi tendo de viver

Comigo apenas e com o mundo

Você me veio como um sonho bom

E me assustei

Não sou perfeito

Eu não esqueço”



- Estou caminhando. – Aline respondeu desconfiada – Quem é você?

- Não sou nada, - Alguém respondeu – nada que importe.

Um carro buzinou e ela se assustou, correndo para o outro lado. Alguém continuou a caminhar ao lado dela, calado. Aline olhava para ele vez ou outra e já não tinha o sorriso no rosto. Não tinha mais os olhos voltados para frente e não via os que passavam por ela e a saudavam.



“A riqueza que nós temos

Ninguém consegue perceber

E de pensar nisso tudo, eu, homem feito

Tive medo e não consegui dormir

Vamos sair mas não temos mais dinheiro

Os meus amigos todos estão procurando emprego

Voltamos a viver como há dez anos atrás”



- Para onde você vai?

- Eu? – Aline perguntou confusa – Eu não sei.

Ela nunca pensou para onde ir, ela apenas ia. Curtia os dias cinzentos que a camuflavam entre os humanos. Faziam com que ela parecesse humana e ela gostava disso. Sentia-se confortável sob a desfaçatez dos sorrisos frios e ensaiados.

- Você tem um guarda chuva?

- Tenho. – Aline parou e se virou para Alguém – O que você quer?



“E a cada hora que passa

Envelhecemos dez semanas

Vamos lá, tudo bem eu só quero me divertir

Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir

Já entregamos o alvo e a artilharia

Comparamos nossas vidas

E mesmo assim, não tenho pena de ninguém”



- Veja. – Alguém apontou para cima e Aline gritou.

Diante da realidade que a rodeava, o dia claro, muito claro, o sol brilhando forte e quente. Tudo estava vazio, ninguém para conversar nem cumprimentar. Aline se abaixou encolhendo-se sobre si mesma.

A pele ardendo em chamas invisíveis, os olhos cegos pela luz do dia.

- Por quê? – ela gritou rouca.

Sua boca estava seca e oca e não saiam mais palavras gentis. Aline apertou os olhos e eles sangraram ódio, um caldo escuro e mal cheiroso. Seus ouvidos não ouviam mais nada que não fosse seu próprio barulho interno.



"E destes dias tão estranhos

Fica poeira se escondendo pelos cantos

Este é o nosso mundo

O que é demais nunca é o bastante

E a primeira vez é sempre a última chance”



- Porque Aline, - Alguém se abaixou e ergueu o rosto dela – você ainda está sonhando com dias melhores.



“E mesmo assim, não tenho pena de ninguém”

Oct. 31, 2019, 3:19 a.m. 3 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

__Pi π “333 metade do diabo que eu sou” .Não é o crítico que importa.

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Post!
Maxuel  A.A Maxuel A.A
gostei da abordagem do conto!
November 20, 2019, 23:52

  • __Pi __Pi
    Muito obrigada! Seja bem vindo! November 21, 2019, 21:35
~