lara-one Lara One

Você está cansado de receber correntes por e-mail e as odeia? Pois saiba que algumas vezes, nem sempre é aconselhável ignorá-las. Ignore apenas a existência da chamada Pasta Verde. Ela pode criar muita confusão circulando nas mãos erradas...


Fanfiction Series/Doramas/Soap Operas For over 21 (adults) only.

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S06#06 - MURDEROUS MALE GOATS

(Bodes assassinos)


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

[Som: Village People – In The Navy]

Escritório de recrutamento da USA Navy – Washington D.C. – 8:21 A.M.

Alguns marinheiros se ajeitam em suas cadeiras para o início do dia de trabalho. Uns passam pelos outros, se cumprimentam, ajeitam os papéis sobre as mesas, ligam computadores. Bill Scully, numa farda branca, segurando o quepe debaixo do braço, sai do elevador e passa entre eles. Os oficiais se levantam rapidamente prestando continência. Bill ergue a mão num 'dispensados'. Eles se sentam. Bill bate à porta do escritório.

Close na porta: 'Lt. Lester – Recrutamento e Seleção'

O tenente Lester sentado à frente do computador, farda branca. Ao ver Bill levanta-se. Faz continência.

LESTER: - Estávamos o esperando, major.

BILL: - Dispense formalidades, tenente.

Os dois trocam um aperto de mão. Bill senta-se.

LESTER: - Fez boa viagem, Scully?

BILL: - Sim, mas sabe o quanto detesto vir pra Washington.

LESTER: - Não gosta de estar no centro das autoridades?

BILL: - Eu não gosto da sensação de encontrar meu cunhado do FBI com uma arma numa esquina correndo atrás de alguma autoridade aos gritos de 'conspirador'. Aquele democrata comunista reacionário antipatriótico e bichão. Onde estão os papéis?

Lester entrega uma pasta. Bill levanta-se.

LESTER: - Vai ficar nos alojamentos?

BILL: - Sim. Sabe onde me encontrar. Tenho duas inspeções a fazer hoje.

Os dois trocam continência. Bill abre a porta. O soldado Clayton, chapéu de marinheiro, uniforme impecável, está à porta. Presta continência. Bill retribui e sai. Clayton entra, guiando um carrinho e dirigindo-se pra pilha de caixas a serem despachadas. Lester leva a caneca à boca, olhando para a tela do computador. Começa a ler os e-mails. Arregala os olhos, quase derrubando o café sobre as pernas.

LESTER: - ... O que é isso? ... (RINDO) Se você não mandar essa mensagem para 5.096 pessoas nos próximos 5 segundos, você vai ser atacado por um bode maluco e então atirado do topo de um prédio em um monte de bosta...

Clayton sorri. Coloca a última caixa no carrinho.

LESTER: - (RINDO) Essa gente não tem mais nada pra fazer, soldado... O sargento Hills já chegou?

CLAYTON: - Não vi o carro dele no estacionamento, senhor.

LESTER: - Quando o vir, diga-lhe que eu quero o pescoço dele esta manhã.

Clayton sai, empurrando o carrinho. Fecha a porta. Passa assoviando por entre os outros soldados, olha pras pernas da oficial que está de pé conversando com outra, olha para o elevador gritando um 'segura!'. O baixinho gordo numa farda de marinheiro segura o elevador. Clayton entra empurrando o carrinho.

Corta para fora do prédio. Clayton sai do prédio empurrando o carrinho até a van com o símbolo da marinha estacionada na rua.

Som de vidros de janelas se espatifando na calçada.

Close no corpo de Lester que cai sobre a van.

VINHETA DE ABERTURA: Se você não mandar esta fic para 300 pessoas em dois segundos, você será atirado de um prédio em cima de um monte de fitas da oitava e nona temporadas de AX e será devorado por bodes velhos e assassinos vindos da Fox!!!!



BLOCO 1:

FBI - Gabinete do Diretor – 12:14 P.M.

[Som: Donna Summer – Hot Stuff]

Mulder entra na sala, ajeitando o terno. Para catatônico. Carter dançando, com a gravata amarrada na testa, camisa aberta, enquanto rega as samambaias com um regador de plástico pequeno, repleto de figuras de flores.

MULDER: - ... O senhor me chamou? Algum... problema?

CARTER: - (DANÇANDO) Nenhum, relaxe.

MULDER: - (DEBOCHADO) É pra relaxar?

Mulder começa a dançar, afrouxa a gravata, tira o paletó, arregaça as mangas da camisa observando Carter dançando e molhando as plantas. Os dois falam enquanto dançam.

CARTER: - (DANÇANDO) Agente Mulder houve um suposto suicídio de um tenente da marinha, hoje cedo, há 4 quadras daqui num escritório de recrutamento.

MULDER: - (DANÇANDO) Fiquei sabendo... Senhor, não vai conseguir molhar isso tudo com esse seu regador tão pequeno...

CARTER: - (DANÇANDO) Deixe meu regador em paz! Nada como manter o ambiente com bastante energia... Estou seguindo seus conselhos e levando uma vida mais relaxada.

MULDER: - (DANÇANDO) Isso é importante. Tem que relaxar pra levar, é regra. Por exemplo, eu tive que relaxar quando você inventou a oitava e me...

Os dois param ao mesmo tempo, na parte da letra que diz: 'Hot Stuff'. [Fazem a coreografia de um gesto obsceno puxando os braços duas vezes contra o corpo como no filme Full Monty] Voltam a dançar normalmente.

CARTER: - (DANÇANDO) Não seria problema nosso, seria problema da marinha. Mas alguns agentes estavam tomando café ali perto. Uma viatura da polícia também viu. Até a polícia militar chegar, o FBI e a polícia civil prestaram apoio. Houve uma certa confusão sobre jurisdição, entre polícias...

MULDER: - (DANÇANDO) A vítima era da marinha, o corpo estava sobre via-pública, mas caiu de um prédio do governo...

CARTER: - (DANÇANDO) Depois de uma cena patética entre três polícias brigando no meio da rua, com pontapés militares, rosquinhas policiais voando e sobretudos federais se rasgando, acabou que um juiz interveio e o crime ficou conosco. Por um detalhe: Um e-mail.

MULDER: - (DANÇANDO) E-mail?

Skinner entra na sala. Fecha a porta. Para, catatônico.

SKINNER: - ... Desculpe... Porta errada. Aqui é a academia de balé...

CARTER: - (DANÇANDO) Estou falando ao agente Mulder sobre o caso. Aproxime-se Walter.

MULDER: - (DEBOCHADO/ DANÇANDO) É 'Walter', relaxe.

Skinner ergue os ombros e se aproxima dançando. Os três dançando e conversando.

CARTER: - (DANÇANDO) Depois de ouvir alguns depoimentos, o juiz achou que por direito, um crime envolvendo uma suposta ameaça por e-mail seria jurisdição do FBI. Como o endereço do e-mail é um Hotmail e não de algum provedor militar...

MULDER: - (DANÇANDO) É um e-mail civil, portanto militares não podem agir. É federal.

CARTER: - (DANÇANDO) Como e-mails podem vir de toda a parte, não significa que seja de Washington.

MULDER: - (DANÇANDO) Então não pertence ao distrito policial local. É federal.

SKINNER: - (DANÇANDO) A CIA logicamente argumentou que o e-mail pode ter vindo de qualquer lugar do mundo e então seria jurisdição deles, mas como chegaram atrasados e não viram nada para variar, perderam força de coação. Então a justiça nos...

Os três repetem a coreografia de um gesto obsceno puxando os braços duas vezes contra o corpo. Voltam a dançar normalmente.

CARTER: - (DANÇANDO) Como o e-mail pode ter sido de outro estado, enviado por qualquer cidadão, então é um crime federal, ficou tudo a nosso favor. E-mail civil mais jurisdição nacional, igual a FBI. E como o e-mail envolve uma situação estranha: Arquivos X.

MULDER: - (DANÇANDO) Acredita em assassinato?

CARTER: - (DANÇANDO) É a hipótese mais provável.A vítima recebeu ameaças por e-mail.

SKINNER: - (DANÇANDO) Não seriam bem ameaças.

CARTER: - (DANÇANDO) Poderia se dizer que foram piadas de mal gosto... Minhas samambaias não estão lindas?

MULDER: -(DANÇANDO) Seu talo está meio caído...

SKINNER: - (DANÇANDO) Ameças daqueles e-mails de correntes.

MULDER: -(DANÇANDO) Qual o nome da vítima?

SKINNER: - (DANÇANDO) Tenente John Lester.

CARTER: - (DANÇANDO) Então, Skinner, empurro esse pepino oficialmente no seu...

Os três param ao mesmo tempo, repetindo a coreografia anterior. Voltam a dançar normalmente.

CARTER: -(DANÇANDO) Colo.

MULDER: - (DANÇANDO) Já tentou cultivar 'escadinhas-do-céu'? São parecidas com as samambaias, mas os talos não ficam caídos. Fez rinçagem no cabelo novamente?

CARTER: - (DANÇANDO) Gostou?

MULDER: - (DANÇANDO) Lhe cai bem...

Kersh entra na sala.

Os três param ao mesmo tempo, repetindo a coreografia anterior. Voltam a dançar normalmente.

Kersh arregala os olhos e sai de fininho.

SKINNER: -(DANÇANDO) Mulder, como sou seu chefe, agora empurro o caso no seu...

Os três param ao mesmo tempo, repetindo a coreografia anterior. Voltam a dançar normalmente.

MULDER: - (DANÇANDO) Isso é injusto, porque o FBI só me...

Os três param ao mesmo tempo, repetindo a coreografia anterior. Voltam a dançar normalmente.

CARTER: - (DANÇANDO) Vai encontrar um breve relatório do caso sobre minha mesa. O caso agora é seu e da agente Scully. Prioridade nele porque o tenente Lester era um amigo meu.

MULDER: - (DANÇANDO) Tem amigos na marinha, diretor?

CARTER: - (DANÇANDO) Já servi na marinha. Bons tempos. Adoro qualquer coisa que envolva o mar.

MULDER: - (DANÇANDO) Sei. E 'serviu' muito na marinha?

CARTER: - (DANÇANDO) Cinco anos.

Skinner segura o riso. Mulder olha pra mesa e vê a Pasta Verde. Aproxima-se dançando. Pega a pasta, levando junto sem querer uma revista. Sai da sala dançando. Passa pela secretária. A secretária ergue a cabeça incrédula. Skinner sai atrás de Mulder, dançando também. Os dois param ao mesmo tempo, repetindo a coreografia anterior. Saem pro corredor, dançando. A secretária põe as mãos na cabeça.

SECRETÁRIA: - Estou vendo coisas. Vou parar de fazer hora extra e pedir transferência!


Arquivos X – 1:48 P.M.

Victoria dormindo no carrinho, perto das caixas de papeis. Mulder sério, compenetrado, lendo o relatório da Pasta Verde. Ajeita os óculos. Scully entra na sala com outra pasta. Coloca sobre a mesa dele. Mulder nem percebe.

SCULLY: - Nossa! Quanta atenção em cima de um papel. (DEBOCHADA) Se fosse um jornal eu diria que era a seção esportiva ou 'quadrinhos' de recados de acompanhantes.

Mulder estende a folha. Scully pega a folha, séria, compenetrada. Começa a ler. Vai esboçando um sorriso que tenta segurar mas não consegue. Solta aquela risada de Gillian. Mulder olha sério pra ela. Scully segura o riso.

SCULLY: - (LENDO/ RINDO) Um amigo é alguém que está sempre ao seu lado. Um amigo é alguém que gosta de você mesmo você sendo horrivelmente feio. Um amigo é alguém que finge que gosta de você mesmo achando que você deveria ser atacado por um bode maluco e então ser atirado do topo de um prédio num monte de bosta. Agora, passe isso adiante, senão você será comido por bodes selvagens...

Scully desata a rir. Mulder olha sério pra ela.

SCULLY: - (LENDO) Este e-mail é super legal! Ele começou pela Microsoft para testar seu programa de rastreamento de e-mails, porque, você sabe, uma empresa de software hi-tech grande como a Microsoft sempre manda seus programas novos e importantes para todos os idiotas que sabem operar um computador, certo? E além do mais, eles fizeram uma parceria secreta com a Disney, que concordou em perder milhões de dólares para dar para todo mundo que ler este e-mail, uma viagem totalmente grátis para a Disney! Então, passe isso para todos que você conhece, mesmo que você perca todos os seus amigos porque eles estão cansados de receber de você cartas-correntes, e você ainda têm a chance de ir para Disney! E, caso você não mande esta carta, a Microsoft vai mandar seus bodes assassinos para destruir sua casa e comer sua família!!!

Scully escora-se na mesa, tendo um acesso de riso. Continua lendo.

SCULLY: - (LENDO) Mande para todos os seus amigos para iluminar o dia deles, assim como iluminou o seu! Se você não mandar, bodes possuídos pelo demônio vão se mudar para sua casa e comer todas as suas meias, fazendo você pensar que alguma coisa está errada com sua máquina de lavar, porque suas meias sempre desaparecem. Mande esse e-mail para todo mundo que você conhece, senão os bodes assassinos irão copular na sua cama.

Scully solta os papéis, começa a se abanar com as mãos de tanto rir. Mulder está sério.

MULDER: - Vou fazer você engolir esse riso rapidinho.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, o que vamos fazer? Investigar bodes assassinos possuídos pelo demônio?

Mulder olha pra ela. Pega a pasta.

MULDER: - Vamos circular por Washington. Temos um suposto assassinato. Um cara caiu de um prédio.

SCULLY: - Ótimo! (RINDO) Assim eu visito o apartamento da Ellen, (RINDO) antes que ela mande bodes assassinos atrás de mim!

MULDER: - Sem graça.

SCULLY: - Quem deu esse caso pra nós?

MULDER: - Carter.

SCULLY: - (RISADAS ALTAS) Só podia! Ele está se vingando legal de você!

MULDER: - (SÉRIO)

SCULLY: - Certo Mulder. Vou pegar Victoria e... Aí vamos... (RINDO) Investigar... (RINDO) Esses tais bodes demoníacos. Enquanto isso, você podia fazer um favor pra mim.

MULDER: - (INVOCADO) Que favor?

SCULLY: - Vá até a farmácia e compre doses de vacina anti-rábica, caso sejamos mordidos por algum bode no caminho e podia também aproveitar e comprar um pouco de feno. Nunca se sabe, posso precisar disso pra amansar algum bode. Vai que um bode morda você e você acabe se transformando num bode com crachá do FBI? Ahn? E armado, o que é pior ainda!

Mulder sai da sala batendo a porta. Scully se rola de rir contra a mesa. Mulder abre a porta.

MULDER: - E eu ouvi isso!

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Quer rir? É? É isso que você quer fazer?

SCULLY: - (RINDO) Mulder, é que... (RINDO) Você é hilário!

MULDER: - (SÉRIO) Gosta de rir, né Scully?

SCULLY: -(RINDO) Gosto de rir de você, Mulder!

MULDER: - (SÉRIO) Que tal rir comigo?

SCULLY: - (RINDO MAIS ALTO)

MULDER: - (SÉRIO)

SCULLY: - (OLHA PRA ELE RINDO/ APONTA PRA ELE) E essa cara sua de sério... Fica pior ainda!

MULDER: - Que tal me deixar fazer você rir de outra coisa que eu tenho, além da minha cara? Ahn? Quem sabe não sejam bodes. E eu possa me transformar num cavalo em época de acasalamento. Já pensou?

Scully fica séria. Mulder sai da sala num ar de deboche.

SCULLY: - (BEIÇO) Aiii!!!! Não gostei dessa piadinha não. Me deu até tremelique! Que medinho!


Escritório de recrutamento da USA Navy - 2:21 P.M.

Mulder parado na janela, observa para baixo. O soldado Clayton e uma secretária, sentados. A secretária amassa um lenço nas mãos, fazendo 'snif snif' com o nariz, inconsolada. Scully anda de um lado para outro.

SCULLY: - Ele tinha inimigos?

SECRETÁRIA: - Não. Ele era uma pessoa incrível! (SECA AS LÁGRIMAS COM UM LENCINHO) Quando meu cachorrinho morreu... (CHORA DESCONTROLADA) Ele foi o único que me deu apoio! Pobrezinho do Mike Tyson... Ele era um...

SCULLY: - Um boxer?

SECRETÁRIA: - Não, um basset.

Mulder olha debochado pra Scully. Scully ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - E onde está o sargento Hills que trabalhava diretamente com ele?

SECRETÁRIA: - Ele tinha uma viagem marcada em sua agenda para Tampa. (ASSOPRA O NARIZ FORTEMENTE CONTRA O LENÇO)

Mulder olha incrédulo pra Scully. Acena negativamente com a cabeça e olha pela janela, apoiando as mãos na estrutura.

SECRETÁRIA: - Ele tinha compromissos em Tampa. Precisava testar novos recrutas para ensaios de guerra em alto mar. Ia fazer avaliação do desempenho físico deles.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sei. Todos os marinheiros gostam de ir pra Base Naval de Tampa... Tampar alguma coisa...

SECRETÁRIA: - Mas se está suspeitando do sargento Hills... Nunca! Ele é uma grande alma, muito iluminado. Até já esteve na Índia. Foi fazer uma viagem ao interior de si mesmo. Para descobrir sua essência.

MULDER: -(DEBOCHADO) Agora entendi porque Carter tem obsessão pela Índia...

CLAYTON: - Ele não tinha inimigos aqui dentro. A marinha é uma grande família, agente Scully. Deve saber disso.

MULDER: - Disse que depois que ele leu o e-mail, aconteceu o que descrevia a corrente.

CLAYTON: - Sim, senhor.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Não. Ele foi atirado ou se atirou pela janela, Mulder. E isso não significa que o fato tenha alguma relação com uma corrente idiota da internet!

Clayton e a secretária se entreolham. Observam Mulder e Scully.

MULDER: - Não acha que é coincidência demais o fato de Lester ter literalmente voado pela janela depois de ler algo como 'você vai ser atacado por um bode maluco e então atirado do topo de um prédio em um monte de bosta...'

SCULLY: - Onde está o bode então? Não vejo nenhuma pegada de bode no carpete. A polícia percorreu quarteirões inteiros atrás de suspeitos e não encontrou nenhum bode. E a coisa de ser atirado num monte de... Dessa coisa aí, não aconteceu também!

MULDER: - Como não aconteceu? Você não quer ver as evidências, Scully! Tudo faz sentido e se encaixa. Lester caiu sim em um monte de bosta.

SCULLY: - ???

MULDER: - Desde quando van é carro? E ainda van da marinha? Resta descobrir quem foi o bode que o atirou em cima de uma bosta de veículo. Isso se não foi o bode do seu irmão.

Scully sai da sala bufando. Mulder dá um sorrisinho vencedor.


Arquivos-X – 2:59 P.M.

Scully senta-se na cadeira de Mulder e pega a Pasta Verde. Começa a ler.

SCULLY: - Eu não acredito que uma droga dessas seja considerado relatório! Tinha que vir do Carter mesmo!

Scully abre a gaveta de Mulder pra colocar a pasta. Arregala os olhos, debochada. Pega a revista.

SCULLY: - Hum... Interessante literatura que o Mulder está guardando nessa gaveta agora... O que deu nele?

Mulder entra na sala. Scully levanta-se, escondendo a revista atrás de si.

MULDER: - Fez a necropsia?

SCULLY: - Ainda não. Estou esperando a marinha liberar o corpo.

Mulder senta-se. Começa a mexer no laptop. Scully se aproxima debochada.

SCULLY: - Desde quando?

MULDER: - Desde quando o quê?

SCULLY: - Mulder, ainda compra revistas com mulheres nuas?

MULDER: - Claro que não. Você não gosta.

SCULLY: - Ótimo. Mas tem algo que quer me contar que eu não sei?

MULDER: - Eu? Nada. Você disse: Mulder, não compre mais revistas com mulheres nuas. E eu não comprei.

SCULLY: - Sei. Mas eu não falei nada sobre revistas com homens nus, é isso?

MULDER: - (PÂNICO) ...

Mulder abre a gaveta. Procura algo. Scully sacode a revista na frente dele.

SCULLY: - Diga que comprou isso pra mim. (RINDO) Ou você está com curiosidade de comparar o 'piu-piu' dos outros com o seu, ou anda se excitando com bundinhas peludas e peitos musculosos?

MULDER: - (ENFEZADO) Me dá essa droga aqui! Isso não é meu! Veio junto com a Pasta Verde!

SCULLY: - Sei. Aproveite a promoção do FBI: pegue um relatório e ganhe totalmente grátis uma revista gay! Vamos lá freguesia, a oferta tem estoque limitado!

MULDER: - (PÂNICO) Você não está pensando que eu compraria isso... Logo você pensar isso, Scully? Isso não é meu!

SCULLY: - É Mulder, desculpe. Esqueci que tudo o que tem na sua gaveta nunca é seu. Isso é apenas uma revista que não é sua, como as fitas que não são suas...

MULDER: - (PÂNICO) Scully, essa droga tava na mesa do Carter! Eu peguei com o relatório! Me diz como vou devolver isso pra ele? Ahn? Sem criar algum tipo de retaliação pro meu lado. Se por verdades públicas eu já fui demitido daqui, imagina por verdades particulares do diretor!

Scully num ar de deboche e revide de muitos anos acumulados, folheia a revista.

SCULLY: - Eu não devolveria. Se fosse você daria de presente pra mim. (DEBOCHADA) Hum... Victor Racek... Será que é um garoto russo? Lábios grossos, olhos castanhos, músculos bem trabalhados, um belo peito peludo, braços bem torneados com veias bem delineadas... Uma bunda redondinha... Oh! Depiladinho! Uau! 21 cm de puro tesão? Minha nossa, isso sim é um homem! Vou te levar pro banheiro pra gente brincar um pouquinho.

MULDER: - (ENCIUMADO) Scully ponha essa droga no lixo agora!

SCULLY: - (PROVOCANDO) Não vou por no lixo. Vou por na porta do guarda-roupa! Que homem!

Mulder se levanta e fica ao lado dela olhando a revista.

MULDER: - (ENCIUMADO) Que cara mais feio e sem graça! É um palito ambulante, e só pela cara dele já se diz que é viado! Isso aí é jeito de um homem se portar? Com a bunda arreganhada desse jeito? Até brocha ele é!

SCULLY: - E que bunda! Brocha? Como pode chamar uma ereção dessas de invisível? Algo tão rijo, perfeito... Anatômico...

MULDER: - (ENCIUMADO) Eu consigo melhor do que isso e maior do que isso aí!

Mulder arranca a revista das mãos dela. Põe na lixeira. Scully pega de volta, rindo.

SCULLY: - Mulder, sério. Você vai devolver pra Carter porque ele vai notar que isso sumiu e vai ligar com você ter pegado sem querer. E vai ficar sem jeito.

MULDER: - Não quero constranger ninguém Scully. Como vou chegar lá em cima com essa revista e dizer: Ei, diretor, isso estava em sua mesa? Com que cara ele vai ficar? É muito chato isso, particular demais e nem o Carter merece uma situação assim. E se duvidar, ele me expulsa do Bureau sob qualquer pretexto por ter vergonha de que eu sei disso. Tá vendo por que guardei? Preciso pensar numa maneira de devolver sem que ele perceba. Mas sinceramente não estou com tempo pra pensar nisso agora.

SCULLY: - Mulder, mas não deixe essa revista em sua gaveta. Vai que você esquece e a faxineira curiosa abre a gaveta e encontra? Em um dia o FBI todinho vai olhar debochado pra você, Mulder.

MULDER: - Tá, deixa isso de lado, agora a prioridade é o caso. Peguei uma lista de nomes de pessoas ligadas a Lester e vou falar com elas. E um deles é seu irmão. (PIDÃO) Não quer interrogar Bill? Hum?

SCULLY: - Não. Essa é sua parte. Eu vou ficar aqui aguardando a liberação do corpo pra fazer a necropsia. Vou pensar numa maneira de devolvermos isso sem que Carter perceba nada.

Mulder sai da sala. Scully olha pra revista. A coloca dentro da Pasta Verde.

SCULLY: - Hum... Quando Mulder entregar isso, retira furtivamente a revista e a coloca na mesa. Carter nem vai perceber.


Delegacia de Polícia – 3:43 P.M.

O delegado Norris, um gorducho alto, de bigode e cabelos grisalhos, comendo rosquinha, olhando pela janela. O policial ao lado dele tomando café.

NORRIS: - Não admito nunca perder uma jurisdição pra aqueles engravatados federais que cheiram a Calvin Klein 'importado' pelos chicanos da 5ª Avenida em Nova Iorque. E além do mais, eles estão devendo ainda a reforma do banheiro desse distrito, quando dois agentes malucos resolveram sair do piso diante da privada instalando o caos na minha delegacia!

O policial passa por ele e entrega uma pasta. O delegado olha pro policial.

NORRIS: - Quero que você pegue um grupo de homens e dê algumas voltas por aí. Justificativa: estamos fazendo ronda, nosso trabalho. Se virem algum bode, tragam pra delegacia. Quero esfregar caca de bode na cara daqueles federais. Se tem uma coisa que consegue estragar o meu dia é qualquer coisa que me lembre Hoover.

O policial se afasta. O delegado morde a rosquinha com raiva.

NORRIS: - (RESMUNGANDO) Federais...

Corta para o sujeito que entra com calças jeans e uma jaqueta de couro, revelando ser Alex Krycek. O delegado olha pra ele.

KRYCEK: - Delegado Norris?

NORRIS: - Se for da financeira do cartão de crédito da senhora Norris, ele saiu.

KRYCEK: - (ESTENDE A MÃO) Detetive Checov. Vim transferido da polícia de Nova Iorque.

Norris olha pra pasta. Olha pra ele.


BLOCO 2:

FBI - Gabinete do Diretor - 4:48 P.M.

Mulder entra receoso. Carter sentado à sua mesa.

MULDER: - O senhor me chamou?

CARTER: - Chamei sim. Alguma novidade?

MULDER: - Ainda não. A agente Scully foi necropsiar o corpo de Lester e eu falei com algumas pessoas... Falta o irmão da Scully...

Carter levanta papéis procurando alguma coisa sobre a mesa. Mulder já entrando em pânico tenta disfarçar.

CARTER: - Tem algum compromisso hoje à noite?

MULDER: - (PÂNICO) E-eu?

CARTER: - Sim você. Não estou vendo mais ninguém nessa sala.

MULDER: - (PÂNICO) Bem eu... Eu... (INSIGHT) Tenho um jantar com meu cunhado lá em casa, para interrogá-lo... (COM O PÉ JÁ NA PORTA) O senhor queria... falar mais alguma coisa, porque estou com pressa... Tenho muito trabalho...

CARTER: - Não, não. Pode sair.

Mulder sai rapidamente, fechando a porta atrás de si. Escora-se na porta, soltando o ar dos pulmões num alívio. A secretária olha pra ele.

SECRETÁRIA: - Algum problema, agente Mulder?

MULDER: - (ALIVIADO) Não...

CARTER: - (GRITA) Agente Mulder!!!!!!!

Mulder faz cara de pânico. Olha pra secretária sinalizando que ele já foi embora. A secretária não entende. Mulder respira fundo e entra na sala.

CARTER: - Que bom que ainda está aí. Feche a porta. Quero lhe mostrar uma coisa.

MULDER: - (PÂNICO)

Carter se aproxima de Mulder. Leva à mão às calças. Mulder arregala os olhos. Carter põe a mão no bolso e retira uma medalha.

CARTER: - Sabe se isso realmente traz sorte?

MULDER: - (AINDA ASSUSTADO) É um amuleto?

CARTER: - Está se tornando um pra mim. Tem me trazido sorte. Ganhei da minha mulher.

MULDER: - (RESPIRA ALIVIADO) Ah! O senhor é casado!

CARTER: - Ela me disse que isso é uma moeda romana...

MULDER: - É parece bem antiga. Só isso, senhor?

CARTER: - É, pode ir.

Mulder, de frente para Carter, vai se afastando de costas. Vira-se rapidamente pra porta, agarrando a maçaneta.

CARTER: - Espere agente Mulder.

MULDER: - (PÂNICO)

Carter se aproxima e leva a mão à calça de Mulder. Mulder, apavorado, fecha os olhos. Carter ergue o fio de linha.

CARTER: - Tinha um fio em suas calças.

MULDER: - (TENSO) Obrigado.

Mulder abre a porta e sai correndo. A secretária o acompanha com os olhos.

SECRETÁRIA: - Que sujeito mais estranho. Não nega o apelido mesmo.


Residência dos Mulder - 7:21 P.M.

Na cozinha, Victoria sentada na cadeirinha com um babeiro ao pescoço, boca suja de sopinha. Brinca com a colher. Scully morde o dedo, em pé ao lado da pia, olhando pra Mulder, enquanto segura o riso.

SCULLY: - Você não está falando sério.

Mulder em pé, com a mão apoiada na porta, nervoso.

SCULLY: - Carter te convidou pra sair? Ele passou a mão no seu traseiro?

MULDER: - É, não sei se passou, mas usou a desculpa de um fio de linha solto!

SCULLY: - Ora Mulder... Não o culpe, você tem um traseiro muito apetitoso. Quem resistiria?

MULDER: - Scully não brinca com isso! Estou sendo assediado sexualmente no emprego! Pelo meu chefe! O que eu vou fazer?

SCULLY: - Hum... Quer sinceramente minha opinião, Mulder?

MULDER: - (BEIÇO) Quero.

SCULLY: - Durma com o Carter. Peça seus cartões de crédito e me dê todinhos pra eu ir gastar no shopping. Enquanto você trabalha, eu me divirto.

MULDER: - Senso de humor ferino esse seu não é? É porque não é você quem está passando por uma situação dessas!

SCULLY: - Mulder, por favor! Aja como adulto! Carter nem disse e fez nada que pudesse ser catalogado como assédio.

MULDER: - Ele passou a mão na minha bunda!

SCULLY: - Não! Ele tirou um fio de linha da sua calça e isso é instintivo.

MULDER: - Ele tem revistas gays! Que mais provas você precisa?

SCULLY: - (DEBOCHADA)E o que isso prova? Você tinha vídeos de sexo nas gavetas e na cama nem é o artigo que eu pensava.

MULDER: - (PÂNICO) ...

SCULLY: - Relaxe, Mulder. Carter não é gay. Você disse que ele tem uma mulher, não é? Então ele não é gay.

MULDER: - (ALIVIADO)

SCULLY: - Ele é bissexual.

MULDER: - (PÂNICO)

SCULLY: - Mulder, simplesmente se Carter se aproximar de você e disser alguma coisa, diga seu ponto de vista, oras. Diga que não gosta disso, seja sincero. Do jeito que você está agindo parece até que está fugindo de um monstro. Está sendo preconceituoso.

MULDER: - Eu não sou preconceituoso. Mas nunca me senti numa situação dessas!

SCULLY: - Mulder, cada um opta por sua sexualidade. Como você também optou. É só dizer que não é sua 'praia' e sair fora disso. Pronto. É uma atitude de respeito, tanto sua por dizer o que pensa, e dele, se quer ser respeitado também. Não fica nem feio pra ele que tentou e nem feio pra você. Quando você não quer alguma coisa, você não fala com a pessoa e diz que não? Nesse caso é a mesma coisa.

MULDER: - Não é, não.

SCULLY: - Ah, então o problema é que você está em dúvida se quer ou não.

MULDER: - Scully, você tirou pra folgar em mim hoje não é? Isso! Aproveite e se vingue dos meus anos de sacanagem! Eu tô dizendo que o problema é que Carter é o chefão! Entende?

SCULLY: - E se fosse o Skinner?

MULDER: - (PÂNICO) Por que diz isso? Sabe algo de Skinner que não sei?

SCULLY: - Mulder, quer se acalmar? Estou apenas fazendo uma suposição. E se fosse... O Chuck então? Ele não é chefe seu. Como agiria?

MULDER: - (INCRÉDULO) Chuck é gay?

SCULLY: - Mulder!!! Desisto, com você não dá pra conversar. Não é o fato de Carter ser seu chefe. É o fato dele ser gay. Então é preconceito.

MULDER: - ... É medo.

SCULLY: - Medo do quê, Mulder? Ele não é um monstro!

MULDER: - (IRRITADO) Você fala assim porque não está na minha situação.

SCULLY: - Tá bom. Se fosse eu. Supondo que eu tenha sido assediada por uma chefe. O que eu faria? Simplesmente diria a ela que eu sou hetero. Sem chances. E sairia com a cabeça erguida dignamente sem ofender ninguém.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mais calmo? Quanto nervosismo por nada!

MULDER: - E se eu disser isso e ele me retaliar no Bureau? Esse é o meu medo! Consegue entender o que estou tentando dizer?

SCULLY: - Aí sim, Mulder. Aí ele estaria sendo um hipócrita e pra isso existem leis. Se ele fizesse isso você o processaria por assédio sexual e pronto.

MULDER: - Que coisa linda todo mundo me olhar no Bureau e dizer: Lá vai o Estranho, ele está processando o diretor por assédio... Sabia que Mulder era estranho mesmo!

SCULLY: - Mulder! Depois sou eu quem coloca o carro na frente dos bois. Tome um banho, Bill deve estar chegando... Aliás não entendi porque você convidou Bill pra jantar aqui. Você convidando Bill? Estamos sendo gentis?

MULDER: - (IRRITADO) Não. É que eu tinha que arrumar algum pretexto pra não sair com o Carter, caso ele resolva aparecer aqui pra conferir se eu realmente falei a verdade de estar ocupado hoje à noite. Ou acha que eu convidaria o idiota do seu irmão por amizade?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Mulder... (VINGATIVA) Relaxe. O fato de Carter ter passado a mão no seu traseiro me deu uma dica. Que talvez Carter não seja passivo, seja ativo. Ou talvez os dois... Hum, não... Ele me parece mais passivo... E daí? Afinal você gosta de sexo anal mesmo. Não tem diferença alguma.

MULDER: - (PÂNICO) Você me dá medo, Scully!


Arredores de Washington - 7:47 P.M.

Krycek sentado na direção da viatura, lendo um papel. Norris sentado ao lado dele.

KRYCEK: - (LENDO) Olá, e obrigado por ler esta carta. Tem um garoto faminto em Baklaliviatatlaglooshen que não tem braços, não tem pernas, não tem pais e não tem bodes. A vida deste menino pode ser salva, porque cada vez que você mandar essa mensagem, um dólar será doado para o Fundo Baklaliviatatlaglooshenense para Garotos Pernetas, Manetas, Órfãos e sem Bodes. Lembre-se, nós não temos nenhuma maneira de contar quantas cartas foram mandadas e isso é tudo bobagem, então, mande para 5 pessoas nos próximos 47 segundos. Ah, um lembrete - se você mandar acidentalmente para 4 ou 6 pessoas, você morrerá instantaneamente.

Norris e Krycek riem.

NORRIS: - E isso é a história toda. Esse maldito e-mail cheio de gracinhas. Agora eu quero achar esse maldito bode pra lavar a honra dos meus homens... Quer donuts?

KRYCEK: - Não, obrigado...

NORRIS: - Bodes... Acredita que os federais trabalham com a hipótese desse bode do e-mail ter cometido o assassinato? Não seria mais provável um homem? Em que mundo eles vivem? Perfume fajuto e uísque falsificado degeneram o cérebro! A gravata aperta o pescoço fazendo o sangue não subir pra cabeça os deixando burros! Pra eles tudo sempre é mais complicado. Sim, tem que ser, para chegarem de peito estufado e dizer: FBI. Agente puta-que-pariu do FBI. Sabe o que significa FBI? Bureau Federal dos Imbecis. Mas eu sei de quem é a culpa. Ah eu sei! Daquela bicha intrometida que senta na diretoria deles agora. Aquele viado rinçado que toma café com o presidente e pratica surf com garotinhos marombeiros... Eu sei que eles rastreiam o rádio da polícia. Claro que fazem isso. Como chegariam junto conosco se a vítima nos chamou? Se o caso é bom, eles se apoderam.

KRYCEK: - (RINDO) Não gosta deles, não é mesmo?

NORRIS: - (INDIGNADO) Conhece algum policial que goste? Quem toma os tiros? Quem fica ajudando as vítimas? Quem sempre chega primeiro? Nós! E quem leva o caso e as honras todas? Eles! Maldito FBI! Se eu pudesse colocaria eles todos na rua tomando tiros como a gente, salvando gatinhos de árvores, tentando abrir algemas de amantes entalados em banheiras de motel e acudindo donas de casa que esqueceram as chaves no balcão do supermercado.

KRYCEK: - Na nossa profissão não devemos descartar o improvável, delegado.

NORRIS: - (OLHA PRA ELE/ INCRÉDULO) Onde esteve esse tempo todo, Checov? Ah! Esqueci, você é tira de Nova Iorque. Mas aqui em Washington os crimes são reais e não praticados por bodes, fantasmas ou alienígenas... Me diga o que fazia em Nova Iorque. Havia também bodes assassinos possuídos pelo demônio?

Krycek segura o riso.


Residência dos Mulder - 8:36 P.M.

Mulder abre o vinho, olhando contrariado para Bill que está sentado à mesa. Scully, sentada, serve o irmão.

SCULLY: - Por que não me ligou dizendo que estava em Washington? Fiquei chateada por isso. Até parece que não quer me ver.

BILL: - (OLHANDO ATRAVESSADO PRA MULDER) Sabe que não é isso, Dana. Seria uma curta estadia. Não queria incomodar você.

MULDER: - (INQUISITIVO) Qual seu grau de relacionamento com a vítima?

SCULLY: - Mulder! Vamos jantar primeiro. Depois falamos de trabalho.

Mulder senta-se. Leva a garrafa de vinho até o copo de Bill, olhando maquiavelicamente para a farda branca do mesmo. Scully percebe a intenção e pega a garrafa da mão de Mulder, servindo o vinho. Mulder senta-se, desconsolado.

SCULLY: - Então? Tem certeza de que quer ficar no alojamento? Poderia ficar aqui em casa, mais à vontade...

MULDER: - Ele tem certeza sim.

Scully olha pra Mulder o censurando. Bill olha pra Scully.

BILL: - Agradeço seu convite, Dana. Mas não ficarei muito tempo.

MULDER: - (VINGADO) Ah ficará sim! Enquanto não resolvermos isso você é suspeito e não pode deixar a cidade.

SCULLY: - Mulder!

BILL: - Está dizendo que eu matei um colega, Lunático? Eu não mataria um colega. Sabe bem quem eu mataria se pudesse.

MULDER: - Ainda não me disse que grau de relacionamento tinha com o tenente Lester.

SCULLY: - Mulder!

BILL: - Deixe, Dana. Lester era apenas um conhecido. Nos encontramos algumas vezes em festas oficiais.

MULDER: - E em festas não oficiais?

Scully lança um olhar de incredulidade pra Mulder.

BILL: - Não há festas não oficiais na marinha, Lunático. Isso nós deixamos para os engravatados do FBI que adoram gritar pegando em armas.

Scully segura o riso. Mulder se levanta. Agarra Bill pelo pescoço. Bill fica sem reação, surpreso.

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Não me impeça, estou interrogando um suspeito!

SCULLY: - Ele não é suspeito algum! Ele é o meu irmão!

Mulder se afasta. Bill olha incrédulo pra Mulder.

BILL: - O que ele tem? Ficou mais maluco do que é?

Mulder anda ao redor da mesa como num interrogatório.

MULDER: - Que horas saiu da sala da vítima? Para onde foi depois disso? Qual sua ligação com bodes? Tem e-mail pelo Hotmail? Hein? Vamos confesse. Se confessar, posso conseguir um acordo por cooperar com a polícia e redução de pena.

SCULLY: - Mulder!!!!!!!


Pistoleiros Solitários - 2:31 A.M.

Frohike, com uma bandana na cabeça, ergue-se da cadeira.

FROHIKE: - Bodes? Como assim bodes estão atacando a população?

Byers se aproxima. Escora-se no balcão.

BYERS: - Há algum tempo atrás recebi denúncias de experiências militares com bodes. Faz sentido.

FROHIKE: - Mas bodes na marinha? Não seria mais sensato peixes? Bodes são animais da terra. Devem ser experiências do exército.

LANGLY: - E se fossem gaivotas? Seriam da marinha ou da força aérea?

MULDER: - (INCRÉDULO) Como eu consigo aturar vocês em todos esses anos?

Byers lê o e-mail impresso num papel.

BYERS: - (LENDO) Se você receber um e-mail intitulado "Badtimes", apague-o imediatamente. Não o abra! Aparentemente este é bravo. Ele não vai apenas apagar tudo que estiver no seu HD, mas também vai apagar todos os disquetes, CD-ROMs, Zip Disks e DVDs num raio de 20 metros de seu computador.

Langly abaixa a cabeça sobre os braços morrendo de rir.

BYERS: - Ele vai desmagnetizar todos os seus cartões de crédito, mudar sua senha no banco, estragar o tracking do seu videocassete e vai usar campos harmônicos sub-espaciais para arranhar todos os CD's que você tentar ouvir. Ele vai mudar a temperatura do seu refrigerador para que seu sorvete derreta e seu leite talhe, e ele vai programar a discagem automática do seu telefone para que ele só ligue para sua sogra! Muito cuidado! Passe isso para todos os seus amigos, parentes, vizinhos, família, inimigos, encanadores, lixeiros, acionistas, médicos, advogados, e quaisquer conhecidos! É para o próprio bem deles! Obrigado!

FROHIKE: - Podemos tentar rastrear esse e-mail se tivermos acesso ao computador do sujeito que o recebeu.

MULDER: - Os hackers do FBI já tentaram.

LANGLY: - O FBI tem hackers?

MULDER: - É extra-oficial, não ouviram isso.

FROHIKE: - Mas tem certeza de que se trata de um bode? Já trabalhou com a hipótese de se tratar de alguma seita religiosa ligada ao demônio? Afinal bodes...

MULDER: - Trabalho com essa hipótese também. Chequei todos os registros, mas não temos seitas demoníacas por aqui.

O celular de Mulder toca.

MULDER: - Agente Mulder... (OLHA PRA FROHIKE) Quando? Estou indo.

Mulder desliga. Olha para eles.

MULDER: - O FBI rastreou uma ligação da polícia próxima a um bairro militar. Uma mulher chamou os policiais. Havia um bode em seu quintal.

Os pistoleiros se entreolham.


Residência dos Gilmont – 3:29 A.M.

Mulder estaciona o carro. Scully desce, fisionomia de quem acordou há pouco. Os dois passam pela viatura da polícia e dos bombeiros. Movimento de bombeiros pela rua e policiais. A mulher vestida num robe, conversa com um policial que está de costas. Mulder puxa a credencial.

MULDER: - FBI, agentes Mulder e Scully.

O policial se vira, revelando ser Krycek. Krycek ergue o distintivo.

KRYCEK: - Detetive Pavel Checov, da homicídios.

Mulder e Scully olham pra ele, incrédulos.

MULDER: - 'Pavel Checov'? Sua 'mãe' não poderia ter sido mais criativa?

KRYCEK: - E quanto a sua mãe, 'Fox Mulder'?

Mulder põe a mão na cara. Scully segura o riso.

KRYCEK: - Estava explicando à senhora Gilmont que este bode pode ter ligação com um assassinato.

MULDER: - Como sabe disso, senhor Sulu? Almirante Kirk... Desculpa, é Alferes Checov. Me referi ao tripulante errado da Enterprise.

KRYCEK: - Lamento, agente Mulder. Mesmo com a jurisdição federal, estamos colaborando na busca do FBI.

Mulder e Scully se entreolham. A mulher olha pra eles.

SRA. GILMONT: - Mas eu não chamei o FBI! É só um bode!

MULDER: - Bodes são problema do FBI, senhora.

SRA. GILMONT: - Sério?

MULDER: - O FBI resolve muitos bodes. Onde viu a criatura? Pode descrevê-la?

SRA. GILMONT: - Bem... Era um bode... Branco, tinha chifres, uma barbicha e estava no jardim comendo minhas begônias... Já havia comido todas as margaridas...

MULDER: - Tem certeza de que era um bode? Não era uma cabrita?

Scully abaixa a cabeça, incrédula com a situação.

SCULLY: - Não acredito que estou às 3 da manhã discutindo sobre o sexo de um bode... Isso é só um pesadelo, logo vou acordar e rir disso tudo...

Scully afasta-se de Mulder, acenando negativamente com a cabeça. Puxa o celular e disca.

KRYCEK: - Os bombeiros e alguns homens da polícia estão varrendo o quarteirão.

MULDER: - Sabe se algum vizinho cria bodes?

SRA. GILMONT: - Não! Não há bodes por aqui, isso é uma área residencial, por isso fiquei assustada! E o safado comeu todas as minhas flores, as cuecas do meu marido, algumas camisas do varal e estava comendo também o capacho da porta. Sabe como são bodes, eles comem tudo que veem pela frente.

Mulder puxa Krycek pra perto de Scully.

MULDER: - O que pensa que está fazendo?

KRYCEK: - Procurando um bodinho...

MULDER: - Eu devia denunciá-lo, sabia?

KRYCEK: - Mulder, que lugar melhor do que estar na polícia pra obter informações? E além do mais eu odeio ficar o dia todo sem fazer nada! Vou terminar barrigudo e contando piada sem graça, casado com uma mulher que se chama Mary e usa bobs na cabeça e tendo um cão chamado Butcher!!!

MULDER: - (INCRÉDULO) Forjou fichas falsas? Um dossiê inteiro falso? Até da academia de polícia?

KRYCEK: - Com direito a formatura com honras e méritos. Seus amigos malucos que colocaram meu nome no sistema.

SCULLY: - Isso não é perigoso?

KRYCEK: - Não. E se me chatearem com perguntas no distrito, eu ainda espalho o boato de que sou oficial da corregedoria disfarçado.

Mulder põe as mãos na cabeça.

MULDER: - Eu não acredito! Não pode desfilar por aí com um distintivo da polícia! Você nem é policial!

KRYCEK: - Mas já fui agente do FBI. E se o FBI, que tem alto grau de observação nunca implicou com meu sobrenome russo, acha que os idiotas da polícia vão perguntar? Tem tanto russo nesse país! Além do mais, fui transferido de Nova Iorque. E jamais negaria minha descendência russa. Tenho orgulho dela.

MULDER: - Mas Pavel Checov? Você me fez criar nojo de Jornada nas Estrelas! Perdi a ilusão!

KRYCEK: - Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve.

MULDER: - (DEBOCHADO) Essa foi a cantada que passei pra levar Scully pra cama.

Scully ergue as mãos em reprovação. Afasta-se.

MULDER: - Aonde vai?

SCULLY: - Pra Quântico. O corpo de Lester acaba de chegar.

MULDER: - Me mantenha informado.

SCULLY: - Farei melhor do que isso. Vou encontrar provas de que vocês dois andam vendo televisão demais e vou expedir um mandado de prisão. Assim a sociedade vai respirar mais tranquila sem dois loucos soltos na cidade procurando por bodes demoníacos e tripulantes da Enterprise!


BLOCO 3:

4:23 A.M.

Mulder e Krycek andando de carro, observando as ruas.

MULDER: - Nenhum bode até agora... Preciso de café.

KRYCEK: - E eu de rosquinhas...

Mulder o encara.

KRYCEK: - Hábito de policial. Estou me acostumando.

Mulder para o carro no estacionamento da lanchonete.

KRYCEK: - Que informação você quer?

MULDER: - Sobre o assassinato de hoje de manhã. Ando tão paranoico que já estou ligando isso ao governo. Há alguma ligação do Sindicato com bodes?

KRYCEK: - Sim. Tem muito bode velho sentado naquelas cadeiras.

Mulder lança um olhar de deboche. Entrega a Pasta Verde. Sai do carro. Fica de costas, observando atento pra todos os lados. Krycek pega a Pasta Verde. Abre-a. Olha pra Mulder, desconfiado. Mulder presta atenção nas pessoas que passam.

KRYCEK: - (INCRÉDULO/ SÉRIO) O que quer me dizer com isso? É o que... Estou pensando?

MULDER: - (SEM OLHAR PRA KRYCEK) Claro que é. Quero saber a verdade. Então, qual sua resposta?

KRYCEK: - (CONSTRANGIDO) Mulder... Eu... Tem certeza de que quer realmente saber?

MULDER: - Não vim aqui pra ficar de papo furado com você. Vamos lá, fala logo o que tem pra dizer.

KRYCEK: - Acho isso uma situação meio constrangedora...

MULDER: - A verdade é constrangedora, Rato.

KRYCEK: - (TENTANDO SER GENTIL) Sei... Imagino como deve ser pra você admitir isso mas... Olha... Não me leve a mal... Eu não sei dessa verdade. Lamento muito te dizer isso, mas... Não é nada com você, eu que não curto esse tipo de coisa.

MULDER: - Que coisa?

KRYCEK: - ... Certo. Assunto esquecido e não falamos mais nisso.

MULDER: - Como assim? Eu quero falar!

KRYCEK: - (INCRÉDULO) ... Mas aqui? Num lugar desses? Scully sabe?

MULDER: - Claro que ela sabe.

KRYCEK: - E... Ela aceita isso de boa?

MULDER: - Logicamente não. Ela nunca aceita nada. Por isso vivemos brigando.

KRYCEK: - Olha, se precisa de um amigo, eu posso ouvir você, mas não...

MULDER: - Que amigo? Eu não preciso de amigo! Eu quero saber o que você sabe sobre isso? Acha que o Sindicato...

KRYCEK: - Acho que não. Pelo menos, Mulder, eu nunca fui assediado quando estava trabalhando com eles. E aqueles velhos lá parecem que gostam de mulheres bonitas e não de pernas cabeludas. Não creio que o Fumacinha goste de rapazes malhados e bem dotados. E como eu te disse, se isso é uma cantada, me desculpe, mas eu...

MULDER: - (INCRÉDULO) Do que está falando?

Krycek ergue a revista gay que Scully colocou de volta, dentro da Pasta Verde. Mulder arregala os olhos em pânico. Entra no carro.

MULDER: - Mas como essa droga foi parar aí de novo?

KRYCEK: - Sabe, sempre achei estranho esse seu jeito delicado... Quase 8 anos com uma mulher como a Scully e nada... Mas é legal saber que um outro homem acha a gente interessante. Isso aumenta o ego. Mas como eu disse...

Mulder puxa a revista.

MULDER: - Dá isso aqui, seu imbecil. Que interessante o quê! O que você pensou? Eu estou falando do relatório!

KRYCEK: - ... Desde quando você compra esse tipo de publicação, Mulder? Quer falar sobre isso?

MULDER: - (IRRITADO) Era só o que me faltava mesmo! Rato tira e psicólogo! Eu mato aquela libélula faceira rinçada que me colocou nessa!!!!!


Residência dos Mulder - 7:39 A.M.

Mulder, dormindo sentado no sofá, ainda vestido. Boca aberta. Scully entra. Tira o casaco. Ao ver Mulder, aproxima-se sorrateiramente da orelha dele.

SCULLY: - (GRITA) Béééééééééééé!!!!!

Mulder dá um pulo ficando em pé, tentando se localizar. Scully olha debochada pra ele e vai pra cozinha. Mulder a segue. Scully liga a cafeteira.

MULDER: - (INVOCADO) Você anda muito engraçadinha... Agora deu pra pegar no meu pé!

SCULLY: - Eu sou engraçadinha. E não é no seu pé que eu queria pegar... Quer saber do que Lester morreu?

MULDER: - Diga. Alguma evidência de ataque antes da morte?

SCULLY: - Não. Ele morreu mesmo de fraturas interiores e expostas por causa da queda. O cérebro e órgãos internos foram esmagados com o impacto. Mas há um detalhe que você vai amar.

MULDER: - (ESFREGA AS MÃOS) Diga, minha cientista preferida. Mostre que sou doido e estou errado.

SCULLY: - Não está errado. Mas isso não exime o fato de que você não seja doido. Havia presença de pelos na roupa da vítima. Análise feita pelo FBI: pelos de animal caprino. E tem mais: de uma raça não americana. É um cabrito montês.

MULDER: - Cabrito montês? Mas de onde raios veio um cabrito montês?

SCULLY: - Forrester me disse...

MULDER: - (ENCIUMADO) Quem é Forrester?

SCULLY: - O agente das análises químicas...

MULDER: - (ENCIUMADO) Forrester é? Quanta intimidade... Cadê o Chuck?

SCULLY: -Fazendo curso na Alemanha. Bem, Forrester me disse que provavelmente este animal provém dos Alpes Suíços.

MULDER: - Sei. E trouxe chocolate com ele?

SCULLY: - Não. Mas numa revista sobre criação de animais eu consegui dados de que a marinha americana possui fazendas para recreação de seus membros... Onde criam...

MULDER: - (SORRI) Bodes!

SCULLY: - Exato. Bill me confirmou e disse que uma destas fazendas... Se localiza na Virginia. Achou seu bode, Mulder?

MULDER: - Vamos até a fazenda!

SCULLY: - A notícia ruim é que... Não podem entrar civis. E nem mesmo que argumentemos que estamos investigando... Não nos deixarão entrar em propriedade militar. Mas a boa notícia é que eu tenho um irmão na marinha.

MULDER: - Eu te amo. Amo até mesmo o Bill!

SCULLY: - Mas a outra péssima notícia é que ele se recusa a obter qualquer favor pra você, visto que você é uma pessoa grosseira e muito mal educada com ele.

MULDER: - (PÂNICO) E pra você?

SCULLY: - Eu? Eu já estou dentro. Vai haver uma festa e Bill me levará como companhia. Até que enfim vou me divertir! (DEBOCHADA) Agora você... Lamento muito, Mulder... Mas esse é o preço da sua falta de educação com as pessoas.

MULDER: - (DESAFIADOR) Eu entro. Quer apostar quanto?

SCULLY: - Mulder, eu sei que você sempre dá um jeito de invadir propriedades proibidas. Mas desta vez, a polícia militar inteira estará na festa. Não vai conseguir chegar perto da cerca. E mesmo que entrar, será jogado pra fora por uma escolta de marinheiros armados.

MULDER: - Aposta o quê como eu entro e fico?

SCULLY: - Hum... O que sugere como aposta?

MULDER: - Deixa eu ver... Você vai ter que fazer um strip-tease pra mim... Não... Quero algo mais ousado... Algo mais rude e selvagem.

SCULLY: - Vai perder, Mulder. Nem precisa tentar ser criativo. E como vai perder, juro que vou comprar aquela roupa sexy de couro que eu falei e vou acorrentar e chicotear você inteirinho naquela cama. E ainda você vai ter que ficar implorando piedade. É algo bem rude e criativo pra você?

MULDER: - Ok. Topo. Sem problemas. Mas se eu ganhar, você vai ter que se vestir de coelhinha, ser completamente vulgar e me deixar transar com você nas posições mais doidas e inusitadas! Vou transar feito um tarado ensandecido até deixar você estirada e sem forças. E olha que eu ando no atraso ultimamente. Não me provoque.

SCULLY: - Apostado.

MULDER: - (CONVENCIDO) Eu se fosse você já ia comprar a roupa de coelhinha... E aproveite e compre também muita pomada pra assadura. Afinal de contas, eu sempre estou certo. Sou Mulder, o 'the best'.

SCULLY: - Coitado! Já está com caquinha de bode na cabeça!


Pistoleiros Solitários – 9:29 A.M.

Frohike põe as mãos na cintura, encarando Mulder com o rosto completamente erguido.

FROHIKE: - Invadir uma propriedade militar?

LANGLY: - Não vai ser coisa fácil.

MULDER: - Precisamos fazer isso.

FROHIKE: - Precisamos? Nós não precisamos não. Você é que precisa! Afinal de contas...

LANGLY: - O bode é seu.

MULDER: - Tá legal. Agora eu tô sozinho nessa, vocês pulam fora e me deixam com um bode nas mãos.

BYERS: - Você está bodeado, Mulder. Como vamos entrar em uma propriedade da marinha, com vários militares, segurança reforçada, sem sermos reconhecidos?

LANGLY: - (COÇANDO O QUEIXO) Tenho uma ideia...

Todos olham pra ele.

MULDER: - (DEBOCHADO) Por isso estou sentindo um cheiro estranho no recinto... Langly está pensando.

LANGLY: - Uma vez vi num filme que os caras entravam numa festa como penetras... Davam um pau na banda e se vestiam como os músicos... No caso a banda era Mexicana...

FROHIKE: - Está doido? Eu nem sei tocar corneta!

MULDER: - (DEBOCHADO) E chifre? Sabe tocar chifre? Aposto que flauta você toca muito bem.

FROHIKE: - Deixo isso pra você Mulder, que tem uma mulher como a Scully em casa e prefere passar a noite falando de bodes com os amigos.

MULDER: - A ideia de vocês é besta! Com certeza a banda da marinha vai estar lá e tocando todas do Glenn Miller!

LANGLY: - Podemos conseguir algumas fardas e nos passarmos por marinheiros...

BYERS: - E podemos usar aquele nosso simulador de som... Um de nós fica do lado de fora, dentro do furgão, emitindo a fita da música e... Podemos chamar Krycek pra ajudar.

Frohike põe as mãos no rosto.

FROHIKE: - Isso sim vai dar bode! E dos grandes!


9:48 P.M.

A estrada nada iluminada e a Kombi de Frohike estacionada.

(Tema do seriado SWAT)

Mulder desce, seguido por Frohike, Langly, Byers e Krycek, vestidos de marinheiros.

LANGLY: - Sempre quis ter uma roupinha de marinheiro, desde criança, mas minha mãe nunca comprou...

Mulder olha atravessado pra Langly.

FROHIKE: - Seguinte. Fiquei sabendo que terão um show especial apresentado por alguns comediantes. Não sei que droga de show é, mas tenho certeza de que em última instância, se a coisa ficar feia, todo mundo aqui sabe contar piada.

MULDER: - Vamos fazer o combinado. Quando o ônibus chegar, nós acenamos. Rendemos os caras, pegamos as roupas do show se tiverem, e tomamos o lugar deles. Lá dentro, nos espalhamos e procuramos pelos bodes.

FROHIKE: - Eu não sei como me deixo convencer a me meter nessas loucuras do Mulder! Vê se eu tenho cara de comediante!

KRYCEK: - Eu não sei porque, mas isso não tá me cheirando bem... Eu só sei piadas muito bagaceiras e sobre americanos. E outra: eu não fico bem de branco com esse chapeuzinho de viado!

MULDER: - Para de reclamar, Rato! Isso caiu em você como luva!

KRYCEK: - Mas não sou em quem carrega revista gay no meio de relatórios do FBI.

Os Pistoleiros olham incrédulos pra Mulder. Mulder cerra o punho.

MULDER: - Mais uma piadinha sobre isso e um olho roxo no atrevido!

Um ônibus antigo passa por eles, todo pintado com motivos psicodélicos. Byers começa a acenar. O ônibus para adiante. Eles se aproximam do ônibus.

A porta do ônibus se abre.

Close no motorista barbudão e musculoso, vestido de motoqueiro, com correntes pela roupa, tatuagem de coração no braço e com óculos ray-ban.

MOTORISTA: - (SORRI) Algum problema, marinheiros?

BYERS: - N-nosso carro estragou... Pode nos dar uma carona?

MOTORISTA: - (OLHANDO PRA ELES/ ACENA COM A MÃO OS CONVIDANDO) Subam aí, rapazes!

O motorista pisca o olho. Byers sobe no ônibus, receoso. Os outros ficam do lado de fora.

[Som: Village People – Macho Man]

Corta para a parte traseira do ônibus. Ao fundo, um cartaz cor-de-rosa enorme colado no ônibus: 'Village People Cover' e quatro caras sentados, um vestido de índio, outro de operário, um de cowboy. O sujeito vestido de policial tira os óculos escuros e pisca pra Byers. Byers olha pra trás, pra Mulder e os outros.

BYERS: - Mulder, tem certeza de que este é o ônibus certo?


Colônia de Férias da USA Navy – 10:01 P.M.

[Som: Orquestra de Glenn Miller - Moonlight Serenade]

A banda tocando jazz. Casais dançando. Oficiais com as esposas. Scully, num vestido de gala, dançando com Bill, em traje de gala da marinha.

Corte.


10:02 P.M.

Mulder vestido de marinheiro dirigindo o ônibus. Krycek, de motoqueiro. Byers de operário. Langly de índio e Frohike vestido de cowboy.

FROHIKE: -(INDIGNADO) Ótimo! Esse foi o melhor plano que eu já vi! Que decadência!

Corta para os caras do cover, sentados na parte de trás do ônibus, amordaçados e amarrados, só de cuecas. Mulder esmurra o volante.

MULDER: - Eu não acredito! Com tanto show nesse mundo, e eles resolvem contratar justo um cover do Village People? Viu o que eu falo sobre militares? Isso é praga da libélula rinçada do Carter!

KRYCEK: - Parece perseguição! Eu não devia ter entrado nessa loucura de vocês! Se algum desses caras da festa der em cima de mim eu arrebento a soco!

FROHIKE: - (DEBOCHADO) Não se preocupe. Diga que você tem compromisso e se agarre no Langly. Um índio louro... Que furada!

MULDER: - O que você tá reclamando, Rato? Tá acostumado a usar calça de couro e jaqueta de couro!

KRYCEK: - É, "Popeye", mas não com correntes e esse maldito quepe gayzão na cabeça! Vou meter esses óculos na cara, pra não ser reconhecido mesmo!

Langly cruza os braços, erguendo a mão.

LANGLY: - Haw! Mim ser índio!

KRYCEK: - Eu sabia que ia dar alguma coisa errada. Eu sabia! Mulder e suas ideias!

Byersajeita o cinturão de ferramentas. O capacete com lanterna. Olha pras calças jeans justas e rasgadas no traseiro.

BYERS: - Até que eu fiquei legal de operário... Só não tô gostando desse ar-condicionado nas calças...

MULDER: - (INDIGNADO) Que viadagem em que a gente se meteu!!!! Se algum de vocês contar isso algum dia diante de amigos comuns numa rodada no boliche, eu juro que atiro pra matar! Imagina o que minha filha pensaria do pai dela vestido desse jeito!

Frohike ajeita o colete e o laço na cintura.

FROHIKE: - Se sobrar um tempo, laçarei alguma marinheira. Já que nos metemos nessa, vamos adiante. Espalhem-se por aí.

MULDER: - Isso. Espalhem-se por aí, no meio de um monte de marinheiros, vestidos com essas roupas super discretas!

KRYCEK: - Aviso pra vocês: melhor se locomoverem sempre com o traseiro nas paredes.

LANGLY: - Ainda acho que deveríamos ter ficado de fardas brancas...

FROHIKE: - Pra nos descobrirem? Viu a identidade desses caras! São civis!

MULDER: - Tudo isso por causa de um maldito bode! Estou começando a achar que aquela corrente de e-mail é maldita mesmo!

BYERS: - Só espero que tenhamos sequestrado o ônibus certo...

Mulder para o ônibus na portaria. Um marinheiro enorme, com uma prancheta, falando ao rádio. Outros dois igualmente grandes ao lado dele.

MARINHEIRO: - Não, eu não vi os recrutas da divisão 5 de Nova Iorque que vão dançar 'Cantando na Chuva'... (OLHA PRO ÔNIBUS/ INCRÉDULO) Vieram num ônibus da marinha? Tem certeza? ... Bem, tem um ônibus aqui, mas... Cantando na Chuva tem índio e motoqueiro? Não sabe? ... Quantos são? Cinco? Ah, então é esse mesmo. Já os encontrei.

O marinheiro bate na porta do ônibus.

MARINHEIRO: - O que estão fazendo parados aí? O sargento quer o pescoço de vocês! Sigam reto até os fundos do prédio!

Corte.


10:05 P.M.

Fundos do prédio. Eles descem do ônibus. Alguns marinheiros vão puxando e empurrando eles em direção a entrada do palco. Eles balbuciam tentando voltar, mas não são bem sucedidos. Saem no palco. O apresentador olha pra eles.

APRESENTADOR: - (SORRINDO) Senhoras e senhores, enquanto a banda faz um pequeno intervalo, teremos um show encenado pelos recrutas da Divisão 5 de Nova Iorque, em homenagem e respeito a todos os colegas da marinha...

Os cinco se entreolham. O marinheiro DJ que está na cabine de som esfrega os olhos. Observa. Dá de ombros e puxa um disco.

MARINHEIRO DJ: - Cada uma... Tinham que ser de Nova Iorque mesmo!

As luzes se apagam. Luzes coloridas se acendem no palco, em cima dos cinco. Todos no salão olham pro palco, aguardando em silêncio e expectativa. Eles se entreolham.

MULDER: - (PÂNICO) Conhecem o ditado 'ajoelhou tem que rezar'? Pois é hora de pagar as nossas penitências!

[Som: Village People - In the Navy]

Toda a Marinha presente ali fica parada, catatônica.

Corta para Bill que conversa com um Almirante, ao lado de Scully. Bill vira-se pro palco, mas volta a atenção para o Almirante. Arregala os olhos, se dando conta. Vira-se novamente, incrédulo. Olha pra Scully.

BILL: - Almirante, nos dá licença?

GENERAL: - Claro. Foi um prazer revê-la, Dana. Seu pai sempre foi motivo de orgulho para todos nós bem como seu irmão. Dois grandes homens. Mande lembranças à sua mãe. Diga-lhe que a Marinha sempre estará de portas abertas para a família Scully. E quando tiver um tempo, apareça para um almoço. Traga seu marido, que deve ser um homem extremamente sério e responsável, visto que você é uma Scully.

Scully sorri. Bill a puxa discretamente pelo braço.

BILL: - Diga que estou bêbado.

SCULLY: - Por quê?

BILL: - Porque acho que estou vendo seu marido lunático todo abichalhado, vestido de marinheiro e imitando o Village People em cima daquele palco... E debochando da Marinha com essa música de viado!

SCULLY: - (CATATÔNICA) Eu... Não... Acredito!

BILL: - Me diga que não é ele. Me diga que não é ele. Negue que o conhece ou a santa imagem da nossa família vai pro beleléu! Eu posso ser exonerado! Nosso pai deve estar se revirando no caixão!!! Esse lunático me paga, ah, ele me paga!


Hospital de Maryland – 11:39 P.M.

Scully de braços cruzados no corredor, anda de um lado pra outro em frente ao ambulatório. Cara de poucos amigos.

Mulder, Krycek e os Pistoleiros saem do ambulatório. Olhos roxos, braços enfaixados, bandagens na cabeça, curativos. Scully para na frente deles.

SCULLY: - (IRRITADA) Ótimo. Um ótimo plano, Mulder. Ir com seus companheiros de hospício num baile de classe, com altos oficiais da marinha e dublar o Village People, debochando deles? O que queriam? Aplausos? Saldo da confusão toda: clube completamente quebrado, cadeiras e mesas destruídas e um comandante querendo saber qual o comandante de vocês para expurgá-los num submarino direto para o Oriente Médio! E bode que é bom... Nada. A não ser o tremendo bode que vocês arrumaram no meio de mais de 200 marinheiros enfurecidos com garrafas na mão querendo matar vocês!

Mulder agarra Byers pelo pescoço.

MULDER: - Eu sabia que era o maldito ônibus errado!!!!!!!!!!!!!!

BYERS: - A ideia não foi minha, foi do Langly!

Eles começam a brigar com Langly que se esconde atrás de Scully. Langly tem esparadrapo até na armação dos óculos.

SCULLY: - (IRRITADA) Eu nem quero saber de quem foi a ideia imbecil. Admito, estavam todos umas gracinhas rebolando lá em cima, mas seria mais interessante se fosse num clube de mulheres, embora com certeza não tirariam nem pra cerveja! Eu pelo menos fingi que não conhecia vocês para não macular a reputação do meu irmão nas forças armadas e a memória do meu pai. Agora, Mulder... Em casa a gente conversa. E quanto a vocês, não falem nada. Se abrirem a boca, eu juro que não me responsabilizo pelas consequências. Vocês não estavam procurando bode? Pois conseguiram.

Scully sai puxando Mulder pela orelha.


Residência dos Mulder – 12:38 A.M.

Mulder entra na casa, ainda vestido de marinheiro, levando tapa de Scully por todos os lados. Scully furiosa.

SCULLY: - O que pretendia? Ahn? Manchar o nome da minha família? As lembranças do meu pai? O posto do meu irmão? Fala Mulder! (GRITA) O que você quer?????

MULDER: - (PIDÃO) Sexo está fora de cogitação?

Scully voa pra cima dele e ele corre. Persegue Mulder ao redor do sofá.

SCULLY: - Seu cachorro miserável, seu criador de confusão!!!!!! Vem aqui, Mulder! Agora! Vem aqui!

MULDER: - Pra apanhar? Acha que tô doido?

SCULLY: - Eu devia saber que você ia aprontar alguma coisa! E quer saber do que mais, seu intrometido arrogante? Eu mesma verifiquei a história toda dos bodes, não precisava você ter ido até lá criar confusão!!!!!!

MULDER: - ... (PIDÃO) A...u...

Scully se acalma. Senta-se. Mulder se aproxima, olhando pra ela com ar de pidão. Senta-se ao lado dela.

MULDER: - Acho que... Esqueci o chapeuzinho de marinheiro no hospital.

Mais tapas. Ele se encolhe. Scully para.

SCULLY: - Eu descobri que os bodes da marinha são bodes mesmo e não cabritos monteses. E pra dizer a verdade, os bodes foram transferidos para outro complexo, bem longe de Washington!

MULDER: - Foram pra Tampa? Deram ao menos uniformes novos ou foram só promovidos a sargentos?

Scully se atira em cima dele aos tapas. Mulder se encolhe. Scully se afasta.

SCULLY: - Cretino!

MULDER: - (PIDÃO) Au!

SCULLY: - ... (SEGURA O RISO) Bodes... Eu vou mostrar pra você que não tem bodes nessa história toda!

MULDER: - Eu quero ver. Já estamos na página 37 dessa fic e até agora ninguém sabe nada sobre esses bodes... Bode que é bom, até agora nada! Só tem bode pro meu lado. Só isso, pra variar!

SCULLY: - Porque você só cria confusão ao seu redor, Fox Mulder! Você com suas teorias alopradas sobre correntes de internet, envolvendo seus amigos doidos nisso tudo... Vamos dormir. Amanhã temos trabalho a fazer. E fique fora desse caso dos bodes! Eu vou resolver isso sem sua ajuda.

MULDER: - (DESAFIADOR) Ah vai? Então tá certo. Você tenta do seu jeito que eu vou tentar do meu. E veremos quem tem razão nisso. Continua valendo aquela aposta.

SCULLY: - (DESAFIADORA) Ok. Que seja como você quer.

MULDER: - (PIDÃO) ...

SCULLY: - (SÉRIA) O que foi, Mulder?

MULDER: - (PIDÃO) Sexo ainda está fora de cogitação?

Scully se levanta. Ergue a cabeça e sobe as escadas. Vira-se pra ele, debochada.

SCULLY: - Sexo? Com você? Um marinheiro? Tem marinheiros demais na minha família, Mulder. E depois... Não quero comer peixe hoje.

Scully sobe as escadas rindo.


BLOCO 4:

1:19 A.M.

Mulder sai do banheiro, com as calças do pijama. Scully com a camisa do pijama dele, penteando os cabelos. Os dois se olham debochados. Scully ergue a sobrancelha. Senta-se na cama. Pega uma revista. Mulder a observa, parado em pé no quarto. Ela olha maquiavelicamente pra revista.

SCULLY: - (LENDO/ DEBOCHADA) Simpatia para seu homem nunca virar viado... Um: ir a meia noite a um galinheiro e roubar a maior galinha... Dois: no dia seguinte, arrancar uma pena do rabo da galinha e colocar na carteira dele.

Mulder olha pra ela debochado.

SCULLY: - Três: deixe-o carregar a pena pelo resto de sua existência. Explicação cientifica: "quem tem pena do rabo, nunca vira viado"!

Mulder pula pra cima dela, mas ela se ergue rapidamente, e ele cai no colchão.

SCULLY: - Raposa... Raposa nada! Você pertence é ao gênero 'fronhan mordedoriums'!!!!!

MULDER: - (OLHAR LIBIDINOSO) É? Tem certeza???

SCULLY: - Ah, Mulder, admita você não é homem!

MULDER: - Você está tão engraçadinha ultimamente, Dana Scully. Quem não é homem aqui? Hein?

SCULLY: - Você, oras. Ultimamente só chega em casa e dorme. Quando não trabalha tá só na companhia de um bando de homens. Depois, encontro uma revista gay na sua gaveta que você jura ser do Carter. No lanche da tarde, você vai tomar chá comigo e pede torta de banana. Pra finalizar, de noite, encontro você dançando Village People pra uma platéia de 200 marinheiros... Não sei, Mulder, estou seriamente preocupada. As evidências estão todas aí, 'macho man'.

MULDER: - Vou te mostrar quem não é homem aqui.

SCULLY: - Ah! Vai mostrar nada! Você só fala, fala, vira o traseiro na cama e dorme. Não cumpre com suas obrigações de marido.

MULDER: - Como não? Cortei a grama final de semana passado.

SCULLY: - E daí? Quem falou nessas obrigações? Estou falando de outras. Das mais importantes, as 'obrigações noturnas'. Artigo Primeiro: Todo marido deve estar disposto na hora do 'faz-me rir'. Parágrafo único: O marido que não estiver disposto deve ser considerado elemento de sexualidade altamente suspeita.

MULDER: - (PÂNICO) De onde tirou isso?

SCULLY: - Código de legislação marital by Dana Scully. Você não cumpre suas obrigações fundamentais.

MULDER: - Ah, não cumpro é?

SCULLY: - Não. Portanto você não é homem!

MULDER: - Eu vou te mostrar quem não é homem...

SCULLY: - Mostra!

MULDER: - Olha que eu mostro.

SCULLY: - Se for o que estou pensando, mostrar a arma não significa nada. Continua não sendo homem se nem usa a arma que tem!

Mulder olha pra ela, num ar maquiavélico. Scully olha pra ele o questionando, debochada. Mulder a empurra contra a parede, abrindo a roupa dela à força, erguendo suas pernas.

MULDER: - Quem não é homem aqui hein?

SCULLY: - (RINDO) Você!

MULDER: - Quem não usa a arma aqui hein?

SCULLY: - (RINDO) Você!

MULDER: - Scully, não blasfema... Você vai se dar mal com o tamanho do calibre...

SCULLY: - De que adianta o tamanho do calibre se nem atira nada?

MULDER: - Olha que atira...

SCULLY: - Atira nada! Isso tá enferrujado por falta de uso! Nem é mais uma Magnun 44! Já tá mais pra carabina!

Mulder a joga na cama. Scully começa a rir. Mulder se atira em cima dela, erguendo o casaco do pijama de Scully, passando as mãos pelas pernas dela.

SCULLY: - Sai, sai, seu monstro enorme! Mulder, você tá me esmagando! Vai apelar pra violência, florzinha?

MULDER: - Vou te mostrar quem é florzinha aqui...

SCULLY: - (RINDO) Para!

MULDER: - Ah, não sou homem, é?

SCULLY: - Não! Sua libélula! Você não gosta de mulher!

MULDER: - Ah, não gosto é?

SCULLY: - (RINDO) Não! Sai de cima de mim, sua bichinha!

MULDER: - Quem não é homem aqui hein?

SCULLY: - Você!

MULDER: - Quem?

SCULLY: - (GRITA) Ai!!!!!!!!

MULDER: - Quem não é hein?

SCULLY: - Você! ...

MULDER: - Não sou é?

SCULLY: - (AOS GRITOS) Ai, Mulder! Admito! ... Estou completamente errada! ... Obtive provas! ... Científicas! ... Ai, Mulder!

MULDER: - Convenceu-se de que sou homem?

SCULLY: - Se a resposta for sim e isso significa que você vai parar com a brincadeirinha... (GRITA/ AOS RISOS) Não! A resposta é não! Eu não me convenci ainda! Sou totalmente ignorante e teimosa, Mulder! Vai Mulder! Me convence, me convence com mais força! Seja firme em seus argumentos, Fox Mulder!!!!!!!!!!!


FBI - 5:49 P.M.

Mulder sentado à frente de Carter e Skinner na sala de reuniões.

MULDER: - E até agora... Só consegui isso. Pelo de bode e alguns hematomas causados por marinheiros furiosos. Uns vinte marinheiros grandalhões, peludos e fedorentos vieram pra cima de mim ao mesmo tempo!

Carter com o cotovelo apoiado na mesa.

CARTER: - (SUSPIRA) ...

Skinner e Mulder olham incrédulos pra Carter. Scully entra na sala, com a Pasta Verde. Olha para Carter.

SCULLY: - Peço permissão aos meus superiores para dar meu parecer científico sobre este caso, se é que eu posso me fazer ouvir, porque desde então ninguém ainda me deixou falar sobre o assunto.

CARTER: - Permissão concedida.

Mulder olha pra ela, incrédulo. Scully senta-se, ajeitando os papéis. Séria.

SCULLY: - O tenente Lester foi realmente assassinado, não cometeu suicídio.

MULDER: - Disso já sabemos!

SCULLY: - Baseados em que evidência?

CARTER: - No e-mail ameaçador dos bodes.

SCULLY: - Isso é uma evidência questionável, se me permite dizer, senhor. Entretanto... Concordo que foi assassinato, baseada na simples evidência de que se Lester tivesse saltado do prédio para se suicidar, teria aberto a janela. Como havia presença de vidros na calçada, quem se suicidaria se atirando por uma janela fechada?

Skinner sorri feliz. Mulder mete as mãos no rosto, como quem pergunta: como não me toquei disso antes?

SCULLY: - A necropsia revelou pelos de animal caprino nas roupas da vítima.

MULDER: - Está vendo?

SCULLY: - Uma breve verificada no apartamento da vítima me forneceu a informação de que Lester tinha um casaco feito de pele de cabra. As análises laboratoriais mostraram que o pelo do casaco e o encontrado na vítima eram os mesmos. Portanto, os pelos se soltaram do casaco para a farda, dentro do guarda-roupa, e é perfeitamente plausível que aconteça.

Mulder morde os lábios. Olha para Scully. Fisionomia de incredulidade. Skinner fecha os olhos num sorriso de admiração.

SCULLY: - Enquanto meu parceiro e o diretor trabalhavam enfocados no e-mail e na forma do assassinato, eu trabalhei enfocada nas circunstâncias em que a vítima estava inserida. Lester tinha 40 anos de idade, 20 anos em exercício militar, era tenente e pelo meu conhecimento das forças militares, supus que talvez estivesse para receber alguma promoção. Estava certa. Interroguei todas as supostas pessoas que se sentiriam ameaçadas pela nova posição do tenente Lester e cheguei a três suspeitos.

Skinner olha pra Mulder como quem diz: 'Que seria de mim sem Scully?'

SCULLY: - (RETIRA TRÊS FOLHAS DA PASTA) Aqui estão eles. Verificando mais particularmente os hábitos de vida destas pessoas, todas as três tinham um único tipo de rixa com Lester, o suficiente para querê-lo morto. Motivo: O tenente Lester era homossexual. E todos nós aqui dentro podemos supor o preconceito que existe quanto a isso na sociedade, e podemos supor mais ainda, dentro da Marinha. E pelo que sei, a Marinha considera isso, não formalmente, mas extra-oficialmente, como motivo de demissão imediata sem nenhum direito.

Os três arregalam os olhos olhando pra Scully.

SCULLY: - Os três suspeitos foram amantes da vítima e chegaram a cargos mais altos dentro da Marinha. Lester ao lado deles poderia implicar suas reputações e acredito que talvez Lester, tenha usado de chantagem com um deles para conseguir a promoção. Portanto, senhores, eu vou falar com estes três suspeitos e obter novas informações. Antes disso eu gostaria de ter uma palavra em particular com o diretor, se ele não se opõe. O assunto não é referente ao caso.

Mulder olha em pânico pra Scully.

SKINNER: - Ótimo trabalho, agente Scully.

Skinner se levanta e espera Mulder. Como Mulder não levanta, Skinner o puxa. Os dois saem da sala. Scully olha para Carter.

SCULLY: - Serei direta e sucinta no assunto, senhor, para não constrangê-lo. Embora não sou pessoa de julgar ninguém, talvez o senhor sinta-se constrangido por não conhecer minha natureza pessoal.

Scully retira a revista de dentro da pasta. Empurra sobre a mesa em direção à Carter. Carter fica corado.

SCULLY: - O agente Mulder pegou isso sem querer de cima da sua mesa, junto com o relatório. O guardou por receio de entregar ao senhor, não querendo embaraçá-lo. Tomei a iniciativa de devolvê-la. Apenas peço que tome mais cautela quando deixar alguma coisa dessas em seu gabinete. Porque assim como foi Mulder quem pegou por engano, poderia ter sido outra pessoa de não tão boa compreensão. Pessoas de má fé podem esperar uma oportunidade para usar isto contra o senhor e sabemos que existem pessoas mesquinhas e preconceituosas que jamais tolerariam este fato vindo de um diretor do FBI, cargo muito almejado.

Scully se levanta. Carter olha pra ela.

CARTER: - ... E-eu...

SCULLY: - Não fale nada, senhor, não se justifique porque sua vida pessoal não diz respeito a ninguém aqui dentro, apenas ao senhor. Isto não muda em nada meu respeito e minha admiração pelo senhor e nem mesmo o respeito e admiração de Mulder. De nossa parte, não vimos isto e não nos importamos em nenhuma hipótese com seus gostos pessoais. Caso encerrado e jogado no arquivo morto.

Scully aproxima-se da porta. Olha pra Carter, embaraçado. Sorri.

SCULLY: - Bom dia senhor. Espero poder lhe trazer em breve, novidades sobre o caso.

CARTER: - Agente Scully...

Scully olha pra ele.

CARTER: - Eu tinha desconfiança de que Lester poderia estar envolvido em algo assim, porque éramos amigos e sei que Lester usava disso contra seus companheiros... Tenho certeza de que suas suposições estão certas. Omiti isso porque dizer que eu sou amigo dele implicaria em...

SCULLY: - ... Senhor... Quando o sábio aponta para a lua, o tolo olha para o dedo. Não agiu certo ao omitir esta informação desde o início, mas é perfeitamente compreensível sua atitude dentro das circunstâncias.

CARTER: - Eu detesto discriminação, sei que sou uma pessoa sem preconceitos, agradeço a sua discrição desse fato, mas tem uma coisa.

SCULLY: - Que coisa?

CARTER: - Essa revista não é minha. Ela veio dentro da pasta direto do gabinete da Marinha.

Scully morde os lábios e sai de fininho fechando a porta. Carter fica olhando pra porta, admirado.

CARTER: - ... Homem de sorte esse Mulder... Muita sorte!


Arquivos X – 6:34 P.M.

Scully entra na sala. Mulder sentado, cabisbaixo, brincando com um lápis.

SCULLY: - Já liguei pra mamãe, Victoria está bem... Então? Vamos comer alguma coisa?

MULDER: - (SEM OLHAR PRA ELA) Eu sei que exagerei dessa vez. Fui atrás do que acreditava, como sempre, mas estava errado. Me meti em confusão, beirei ao ridículo, quase manchei a reputação militar da sua família. A minha reputação eu nem ligo, nunca foi boa mesmo. O Estranho... É, sou o estranho que faz coisas estranhas. Até dançar Village People... Peço desculpas por sua família.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (SEM OLHAR PRA ELA) Há muitos anos atrás, quando você entrou aqui neste porão pra ser a minha parceira, a confiança entre nós não era grande. Mas mesmo assim éramos profissionais e dividíamos um com o outro, todas as nossas descobertas sobre uma investigação. Entretanto, hoje, o que vi lá em cima foi uma pessoa que simplesmente deu um relatório de investigação que o parceiro desconhecia, um relatório caixa 2. Tradução disso: Como responsável direto pelos Arquivos X o que senti lá em cima foi que minha parceira de trabalho fez uma investigação paralela e me ocultou fatos relevantes propositalmente com o intuito de puxar o meu tapete na frente dos meus superiores, me colocando no patamar de insano, louco e incompetente. Não sei se a intenção era me queimar na frente da diretoria, mas nem quando você não acreditava em mim, você foi tão baixa profissionalmente. Se isso deixa você satisfeita, Skinner me deu uma bronca que saí tonto do gabinete dele. Obrigado, parceira. O diretor assistente me afastou do caso. O caso é todo seu agora. Parabéns.

Mulder se levanta. Sai da sala. Scully fecha os olhos.


Delegacia de Polícia - 7:08 P.M.

Krycek, sentado, digita algo no computador. Mulder aproxima-se, desatinado. Senta-se de frente pra Krycek. Krycek olha pra ele.

KRYCEK: - ... Eu ia fazer uma piada sobre a noite de ontem e aquela enfermeira que cuidou da gente, mas visto a sua cara de quem levou um tombo, melhor ficar quieto.

MULDER: - ... Estou fora do caso.

KRYCEK: - (INCRÉDULO) Como assim?

MULDER: - ... Eu não sei o que vim fazer aqui, eu podia ter ido de encontro aos meus amigos, mas eu não conseguia atinar pra que lado eu devia correr...

KRYCEK: - Fico feliz que não me considere um dos seus amigos. Seus amigos são completamente loucos.

Krycek se levanta. Pega a jaqueta.

KRYCEK: - Levanta daí, Mulder. Vamos tomar um ar.

Corta para o alto do prédio da delegacia. Mulder e Krycek sentados no chão, apoiados com as costas na amurada, segurando canecas de café.

KRYCEK: - ... Tudo bem, se não quer falar o que houve, não fale.

MULDER: - É particular demais... Eu... (PÕE AS MÃOS NO ROSTO) Nem sei mais o que pensar.

KRYCEK: - Bom, eu estou no caso. Não oficialmente, porque a polícia está fora dessa como você sabe. Se quiser me ajudar, vamos nessa. Porque esses bodes...

MULDER: - Não há bodes. Aí é que está toda a questão. Fatos recentes foram ocultados, nos fazendo correr o dia todo em vão, ainda na direção dos bodes.

KRYCEK: - Então o Sindicato está nisso?

MULDER: - Não. Quem ocultou os fatos foi Scully.

KRYCEK: - (INCRÉDULO) Com que objetivo?

MULDER: - Não quero pensar nisso.

KRYCEK: - ... Lamento, Mulder... Entendo essa sua cara de quem foi empurrado do topo de um prédio em cima de um monte de bosta.

Mulder sorri. Krycek olha pra ele e sorri. Os dois começam a rir juntos. Krycek põe a mão no ombro dele.

KRYCEK: - Vamos, Mulder. Algumas vezes é preciso rir da desgraça própria. Deve ter sido um mal entendido da sua parte.

MULDER: - Não foi. Tanto que ela ficou calada quando eu disse tudo. Eu só não sei se Scully está furiosa com o Mulder do FBI ou com o Mulder de casa. Agora misturar os dois é covardia... E o pior de tudo é que as coisas estavam tão bem com a gente e de repente ela muda como num clique. Eu não consigo mais entender. É assim, de uma hora pra outra, as atitudes, o humor, tudo muda.

Krycek se levanta.

KRYCEK: - Mulder, quem entende as mulheres? Ahn? Se você se importa com elas, você é um ciumento obsessivo. Se você deixa-as livres, você não gosta realmente delas. Levanta daí. Me diz o que ela descobriu e vamos atrás disso.

MULDER: - Não é legal fazer isso, você sabe. Estou fora do caso.

KRYCEK: - Eu não estou reconhecendo você, Mulder. Há algum tempo atrás, isso não diria nada pra você. Você simplesmente ia continuar investigando por sua conta.

MULDER: - ... E também não é legal fazer isso, pegar as descobertas dela e sair por aí me metendo no que ela descobriu e tirando o mérito dela.

KRYCEK: - Ah! E é legal ela fazer isso com você? Me diz? É legal? Tudo bem, Mulder, não quero me meter na vida de vocês dois. Faça o que quiser. Mas eu vou continuar nesse caso e você podia pelo menos me ajudar, e ninguém saberia disso. Menos ainda Scully. Depois se quiser contar a ela, conte.

Mulder se levanta.

MULDER: - Eu digo pra você o que ela descobriu e você siga o que achar melhor. Mas estou fora disso. Não está na minha natureza ser um cínico com a pessoa com quem vivo.


Residência dos Mulder – 9:24 P.M.

Mulder sentado na cozinha dá sopinha pra Victoria. Victoria o observa. Vira o rosto não querendo mais. Mulder tira o prato da frente dela e coloca sobre a mesa. Limpa o rosto de Victoria. Victoria estende a mão pra colher.

VICTORIA: - Dah!

Mulder entrega a colher pra ela. Victoria brinca com a colher. Mulder olha pro nada.

MULDER: - Sabe, Pinguinho... Você me acha um cara muito louco? Você acha que eu sou uma pessoa muito ruim?

VICTORIA: - Nah!

Mulder sorri. Olha pra ela.

MULDER: - Eu não sei se você me entende ou se só responde automaticamente a qualquer coisa que soe como pergunta...

VICTORIA: - Nah!

MULDER: - Eu sei que exagerei. Mas eu acreditava na coisa dos bodes. Achava que havia alguma coisa paranormal nisso tudo, mas... Estava errado. Algumas vezes a gente erra. O que é doloroso não é o erro, mas é o fato da pessoa do seu lado saber que você está errado, ter provas disso e não dizer nada para convencê-lo. Se ela tivesse me dado àquelas provas hoje, eu teria seguido o rumo correto das investigações. Mas ela as ocultou o dia todo, me deixando correr atrás dos bodes. Ocultou assim como aquele homem ocultava provas de mim. Ou pior do que ele. Porque ele as ocultava pra salvar a minha vida e ela as ocultou pra servir minha cabeça!

VICTORIA: - ...

MULDER: - Eu vou dizer uma coisa pra você, minha filha. Ultimamente eu tenho vontade de sair correndo dessa casa, ir embora e nunca mais voltar. A única coisa aqui dentro que me segura é você. Porque se você pudesse ir comigo, se você fosse apenas minha, eu já tinha arrumado nossas coisas e dado o fora daqui. Sinceramente, tem dias que a sua mãe está me dando nojo!

Mulder levanta-se. Segura as lágrimas. Victoria olha triste pra ele. Mulder a toma nos braços.

MULDER: - Vem, vamos brincar um pouco. Depois vou colocar você na cama e te contar histórias...

Mulder vai pra sala. Coloca Victoria no tapete. Pega alguns brinquedos e bonecas e senta-se de frente pra ela. Victoria põe as mãos sobre as pernas e abre um sorriso fechando os olhinhos. Mulder sorri.

MULDER: - Só você mesmo pra alegrar a minha vida. O que vamos fazer, hein?

Victoria revira os brinquedos, atenta. Mulder a observa, num sorriso. Victoria olha pra ele.

VICTORIA: - Pa... pa... pa!

Mulder arregala os olhos e um sorriso.

MULDER: - Você... Me chamou de papai?

VICTORIA: - (RINDO/ BATENDO NAS PERNAS) Papa!

Mulder derruba lágrimas. Completamente emocionado. Beija Victoria.

MULDER: - Eu digo que você anima a minha vida. Ouvir essa palavra era tudo que eu mais precisava pra me sentir feliz hoje.

Victoria pega a Barbie. Entrega pra Mulder.

MULDER: - Ah! Eu fico com a Barbie...

VICTORIA: - Mama!

MULDER: - Mama já vai chegar.

VICTORIA: - Nah! Mama!

MULDER: - ???

Victoria entrega a raposinha pra Mulder.

VICTORIA: - Papa!

MULDER: - Ah, peraí... Eu fico com a Barbie ou a raposa?

VICTORIA: - Nah!

Victoria pega a boneca que ganhou de Meg. Entrega pra Mulder.

VICTORIA: - Nenê!

Mulder observa-a. Coloca os bonecos no chão. Olha pra ela.

MULDER: - Mama... Papa... Nenê. Nós três?

Victoria bate palmas. Mulder sorri.

MULDER: - Entendi. Você tá dizendo que devemos ser uma família sempre. Só que algumas vezes, filhinha, você fica tão magoado que fica cego de raiva.

Victoria pega um bichinho de borracha. Coloca-o entre Mulder e Scully.

MULDER: - (OBSERVANDO) Quem é esse?

VICTORIA: - Iço!

Mulder olha incrédulo pra ela.

MULDER: - Esse tal 'iço'... Ele tá tentando separar a mamãe do papai?

Victoria bate palmas, pulando. Mulder observa o boneco.

MULDER: - O 'iço'... O 'iço' seria o ódio?

Victoria olha pra ele. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Sim?

VICTORIA: - ... im!

Mulder se cala. Scully entra.

VICTORIA: - Mama!!!!!

Scully sorri. Fecha a porta. Larga a bolsa no sofá. Senta-se ao lado deles. Beija Victoria. Olha pra Mulder.

SCULLY: - ... Eu quero dizer que... Que foi hoje pela manhã quando descobri estes fatos novos... Pensei em dizê-los à você. Mas não o fiz e não sei porque eu fiz isso. Não espero que possa entender, porque não há motivo algum pra que eu tenha feito isso. Apenas fiz. E só depois de fazer é que me dei conta do erro que cometi.

MULDER: - ... Encontrou o assassino?

SCULLY: - Não. Os três passaram no detector de mentiras. Estamos novamente perdidos. Skinner arquivou o caso e o entregou à polícia da Marinha. É problema deles. O FBI não vai gastar mais um tostão com a investigação.

MULDER: - ... Era um bom caso...

SCULLY: - ... Mulder... Pode perdoar uma atitude impensada?

Mulder olha para Victoria. Olha para o boneco. Olha pra Scully.

MULDER: - E quando eu deixei de te perdoar, Scully? ... Eu perdoo você. O perdão é algo que se pode dar várias vezes. Mas um dia... A gente também pode cansar.

Mulder se levanta. Pega Victoria nos braços e sobe as escadas. Scully suspira, desatinada. Olha para a bolsa. Senta-se no sofá. Abre a bolsa e retira um papel. Pega o telefone e disca.

SCULLY: - ... Meu nome é Dana Scully. (OLHA PARA AS ESCADAS) Gostaria de marcar uma consulta com o Dr. Patterson... (ENCHE OS OLHOS DE LÁGRIMAS) Aguardo... (MURMURA PRA SI) Aguardo todo o tempo do mundo, antes que eu perca o homem que eu amo...


Delegacia de Polícia – 11:47 P.M.

O faxineiro limpa o corredor com o esfregão. Vai recuando. O delegado Norris em sua cadeira, checando relatórios. Krycek sentado em sua mesa, termina de digitar seu relatório. Abre os e-mails.

KRYCEK: - ... (RINDO) Não acredito...

NORRIS: - O que aconteceu, Checov?

KRYCEK: - (RINDO) Acabo de receber um e-mail igual aquele.

NORRIS: - (RINDO) Então cuidado. Os bodes vão pegar você.

Norris ri. Leva a mão à caixa de donuts. Krycek observa a tela do computador.

KRYCEK: - (LENDO) Olá! Esta corrente existe desde 1897. Isto é absolutamente incrível, pois naquela época não existiam e-mails e crianças de 8 anos que inventavam correntes. Então, funciona da seguinte maneira: Passe para 15.067 pessoas nos próximos 7 minutos ou alguma coisa horripilante acontecerá com você, como aconteceu com essas pessoas...

Norris ri. Krycek desliga o computador rindo. Levanta-se. Pega a jaqueta.

KRYCEK: - Boa noite, delegado.

NORRIS: - Tem esposa, Checov?

KRYCEK: - Não. Mas tenho algumas cervejas e um jogo de futebol me esperando.

NORRIS: - Siga meu conselho: compre um cachorro.

Corta para a rua escura. Foco nas duas patas caprinas que se aproximam. Foco se ergue mostrando a alta criatura peluda, de aparência de um bode, com chifres enormes e o rosto de demônio.


X

20/06/2001

Sept. 15, 2019, 8:27 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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