O corpo dele era fluído, tão leve quanto o mais puro sentimento que ele experimentava sempre que despertava com sol quente das rotineiras manhãs de Ílium. A adaga cortava o ar, enquanto os movimentos sutis dançavam contra a brisa suave.
De fato, o talento que ele possuía era, sem dúvidas, notável.
Não se esperava menos do futuro governante de um grande Reino. Não se esperava menos de Jimin.
Claro, todos nascemos com um grande fardo, nascemos com um propósito, embora, talvez, demorássemos a descobrir qual grande objetivo nos é cabível. O Príncipe sabia que o fardo dele era matar e proteger.
Em um lugar onde nem tudo é o que aparenta ser, algumas pessoas nasceram com os destinos traçados, e vieram ao mundo para servir as forças maiores e manter o frágil equilíbrio que se mantem sobre uma linha tênue entre o certo e o errado.
A ideia que nos é desde cedo construída nos engana, fazendo-nos pensar que não é difícil diferencia-los, mas tudo é uma questão de perspectiva.
O papel de algumas coisas pode facilmente se inverter, ou chegar a um ponto que a diferenciação entre eles é inexistente. A que ponto o certo pode virar errado e vice e versa?
Sabe-se que a muito tempo uma guerra eclodiu entre o reino das trevas e o reino do sol. O motivo? Algo tão simples e ao mesmo tempo extremamente complexo, que uns chamam de doença enquanto outros o denominam como cura. É ridículo como um sentimento pode fazer com que as pessoas queiram mover mundos em favor a ele. A perspectiva sobre o amor, ao que parece, também pode facilmente ser alterada dependendo de quem conta a história.
O Reino das Trevas obtinha a parte obscura da história, enquanto o Reino do Sol entonava cânticos de vitória que eram cantados ao redor de fogueiras e comemorados mesmo após milênios.
Em suma, O Rei Jeon Jae-Hwa era frio, sádico, impiedoso. Era dono de todas as características que um governante corrupto possuía. Seu território era o mais afastado de todos os continentes, e o contato entre outros reinos era quase nulo.
Uma vez, uma fada de um reino oposto, por acidente, acaba indo parar em seu castelo. Park Jihye era seu nome.
Ela literalmente brilhava e aquecia. Ela era fogo enquanto Jae-Hwa era gelo. Os fios do destino, novamente brincando com os opostos como se fossem meros objetos, fizeram um sentimento puro reluzir entre os corações dos dois.
Dizer que o Rei dormiu como um vilão e acordou como um mocinho seria beirar a hipocrisia, entretanto é certo dizer que a essência De Jae-Hwa mudou com os sentimentos que passou a nutrir por Park Jihye. Ele já não era mais tão frio quanto antes, e o olhar dele se tornou mais zeloso e cuidadoso para com seu povo.
Todavia, assim como a balança deve se manter sempre igual para os dois lados, a essência de Park Jihye já não era mais tão limpa quanto antes.
Jihye achou esquisito o fato de que, mesmo sem relações exteriores, tudo se mantinha estranhamente farto e abundante, e com a esperteza que possuía, descobriu o que mantinha o reino em pé e o que o fazia ser tão poderoso. Uma pedra negra, mais tarde nomeada como obsidiana, era o que fazia o território prosperar. Ela tramou por noites a fio, desejando sentir o poder em suas mãos, sonhando em como seria a sensação de almejar um objeto tão corrupto e proibido. Certa noite, depois de tanto planejar, ela roubou a pedra e voltou para seu reino. Aquele de luz e calor, que crescia com um poder limpo.
Enquanto um dos extremos entrava em declínio, o outro se tornava cada vez mais poderoso. Jihye o comandava utilizando a obsidiana.
O reino antes do sol e do calor, agora também pertencia as sombras.
A grande questão é que Jimin é o atual portador da obsidiana, seu sangue era puro e ele era forte o bastante para usar seu poder. Porém com um furo tão grande deixado por seus antepassados, seu futuro domínio logo, logo entraria em colapso.
O furo tinha nome e sobrenome, e de acordo com relatos, possuía também um sorriso sacana e olhar conquistador, porém Park Jimin ainda não avia tido a honra de conhecer o homem que jurava restituir seu reino quebrado a milênios atrás.
Então o príncipe iria atrás de Jeon Jungkook, rasgaria a garganta dele com as unhas se assim fosse necessário, e protegeria o que era seu por direito.
Um filete de suor escorreu de seu rosto. Os braços e as pernas queimavam devido ao esforço. Porém ele não se importava, e o mundo era pouco mais que um sussurro quando a adaga finalmente encontrava seu destino exatamente no pequeno ponto em que ele marcara na árvore vários metros à frente.
— Bela mira — Taehyung parece surgir do nada. O rapaz era como um gato sorrateiro, dificilmente se deixava ser visto ou escutado.
— Tenho treinado — Jimin o responde ao tempo em que se vira para o irmão e encara os olhos castanhos do mesmo. A pele bronzeada demais para quem vivia em meio a neve era bastante chamativa, assim como todo o conjunto de traços esculturais que emolduravam o belo rosto do príncipe mais novo — Aconselho que faça o mesmo.
— Não nasci para duelos e guerras como você, irmão. Bem sabes que prefiro os estudos. Não desejo ter minhas mãos e minha alma manchadas com sangue de inocentes.
— No entanto se move com suavidade e empunha espadas como um maldito bastardo. Está desperdiçando seus dons com tolices românticas e baboseiras que a corte manipula tão bem — Taehyung era um estudioso, nascera assim, entretanto era obrigado a seguir todos os caprichos de seu pai, que fielmente acreditava que a força bruta era, sem dúvidas, a única forma de manter tudo sob controle, e foram esses mesmos caprichos que obrigaram Taehyung ter a leveza de um assassino frio.
— Palavras nem tão sabias para um futuro rei — o mais novo entrava em um território perigoso, ele sabia.
— E o que sabes sobre governar quando nem mesmo consegues educar seu alazão? Vê tudo isso? — Jimin olha ao redor com admiração — Tudo foi conquistado com a maldade que não se aprende em livros. Nem mesmo uma espada fora empunhada. Apenas o poder de palavras bem pensadas e a paciência de uma rainha nos permitiram herdar a riqueza que se vê em nosso continente.
— E do que adiantou conquistar apenas neve e barro se sussurros proféticos nos dizem que esse lugar ira desmoronar e se ruir até que reste apenas pó? A falta de honestidade não compensa, irmão. Em algum momento o acerto de contas chega, e nem sempre é um valor com o qual podemos arcar.
— Patético — Jimin bufa — Por isso as habilidades com espadas e a força bruta são essências, as profecias não irão se cumprir se o medíocre do heroizinho aclamado estiver a sete palmos abaixo do chão. Um cenário que farei questão que se concretize.
— E como pretende realizar tal feito se não tem autorização para sair do pátio do castelo? — O acastanhado pergunta com visível curiosidade.
— Darei meu jeito — responde de forma vaga, porém decidido. Taehyung o conhecia bem para saber que um plano muito bom se desenvolvia na mente fechada do irmão.
— Será caçado. Sabe que seu ato poderá ser entendido como traição, não é?
— Qualquer decisão tomada pela corte será revogada quando eu trouxer a cabeça de Jungkook para ser exposta em frente aos portões de nosso castelo.
— Não se arrisque tanto, Jimin. As florestas tem mais riscos do que você imagina.
— Já tomei minha decisão. Poderá ir comigo, se assim desejar — Jimin sabia que o irmão não aceitaria, ele era politicamente correto demais para ir contra as leis e protocolos imposto. Além disso, era de conhecimento do loiro que o coração do irmão pertencia a uma bela camponesa, e onde ela estivesse, Taehyung estaria também. Entretanto, mesmo assim ele precisava tentar, pois apesar de não demonstrar, amava Taehyung demais para simplesmente virar as costas para ele.
— Sabe que se eu pudesse eu iria, certo? — sua voz soa ressentida, não passando de um sussurro rouco.
— Eu sei — ele sussurra de volta enquanto seus braços rodeiam o irmão em um abraço apertado e fraternal — eu te amo, Taehyung. Saiba, caso eu não voltar, que você foi o único que me fez suportar todos esses anos nesse inferno. Cuide bem da yong-sun.
— Eu também te amo, irmão. Vá em busca de seu caminho.
E assim, Jimin se virou e saiu. O sangue fluindo de acordo com a agitação que se encontrava em seu peito. Os passos o guiando para onde ele encontraria seu destino.
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