lara-one Lara One

O que estava confuso na mente de vocês agora fica claro. Há algum tempo, nossos dois agentes têm mentido e enganado a todos, inclusive seus amigos. Será que Mulder e Scully passaram para o lado do Fumacinha? Por que mentiriam? E durante tanto tempo? O que os dois poderiam estar escondendo de todos, desde o final da quarta temporada? Dedicado a todos os shippers. Eu espero muitas lágrimas.


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S05#16 - RECONSTRUCTION

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in (tela escura)


Cinco meses antes...

HOMEM (OFF): - Prontinho. Está dentro. Mas não significa que serão bem sucedidos. É preciso um milagre pra que isto aconteça.

SCULLY (OFF): - Eu acredito em Deus. Eu acredito em milagres. A vida é um milagre.

A tela abre-se com uma luz muito forte. Não se vê nada. Apenas se escuta a voz das personagens.

SCULLY (OFF): - (RINDO) Reconhece minha alma? ... Não, não tenha medo. Sou eu... Vem pra mim. Eu te aceito como prometi que aceitaria... Me dá sua mão, meu amor.

MULDER (OFF): - (RINDO) Sim... Estou aqui. Vem pra nós, vem.

A luz vai diminuindo a intensidade até revelar outra luz mais forte, amarelada, ao fundo. Duas silhuetas adultas caminhando de costas, indo em direção à luz. Entre elas, a pequena silhueta de mãos dadas. Desaparecem na luz.

[Fusão]


O sol nasce por trás das montanhas. Um brilho de vida.


[Batidas de um coração]


[Som: Creed – With Arms Wide Open]


Scully dorme dentro do carro, sentada no banco. Mãos sobre a barriga. No painel do carro o bilhete anexado: ligar Frohike sobre Gárgulas.


Mulder sentado na grama, derrubando lágrimas enquanto observa o imenso vale lá embaixo. Fecha os olhos, abaixando a cabeça. As mãos em oração e a correntinha que era do filho entre os dedos.


Well I just heard... The news today... It seems my life... Is gonna change...I close my eyes... Begin to pray... Then tears of joy... Stream down my face...

(Bem, eu acabei de ouvir as notícias de hoje.Parece que minha vida vai mudar.Fechei meus olhos, comecei a orar, então lágrimas de felicidade desceram rosto abaixo).


Mulder ergue a cabeça olhando para o céu em lágrimas de gratidão.

With arms wide open...Under the sunlight...Welcome to this place...I'll show you everything...With arms wide open...With arms wide open...

(De braços bem abertos sob a luz do sol, bem-vindo à esse lugar.Vou te mostrar tudo de braços bem abertos...De braços bem abertos)


Mulder levanta-se. Perde o olhar para o vale.

Well I don't know... if I'm ready...To be the man I have to be...I'll take a breath... I'll take her by my side...We stand in awe, we've created life...

(Bem, eu não sei se estou preparado pra ser o homem que tenho de ser.Vou respirar fundo, trazê-la pro meu lado.Ficamos maravilhados, acabamos de criar vida).


Mulder num sorriso abre os braços, erguendo o rosto para o céu, derrubando lágrimas.

With arms wide open... Under the sunlight... Welcome to this place... I'll show you everything... With arms wide open...Now everything has changed... I'll show you love... I'll show you everything...With arms wide open... Wide open

(De braços bem abertos sob a luz do sol, bem-vindo à esse lugar.Vou te mostrar tudo de braços bem abertos.Agora tudo mudou.Vou te mostrar o amor.Vou te mostrar tudo.Com os braços bem abertos.Bem abertos)


VINHETA DE ABERTURA: THE TRUTH HAPPENS EVERYDAY


BLOCO 1:

Época Atual...

West Virgínia - 11:47 P.M.

Chuva forte. O carro estaciona perto da cabine telefônica. Faróis acesos. Tempestade. Mulder, de sobretudo, desce às pressas do carro, debaixo da chuva. Corre até a cabine telefônica.

Mulder todo molhado, água escorrendo pelo rosto, pega o fone e revira o bolso das calças catando algumas moedas apressadamente. Coloca as moedas no telefone. Disca. Aguarda, tremendo de frio. Olha para todos os lados. A chuva cai cada vez mais forte. Ele sorri.

MULDER: - Eu... (DERRUBA LÁGRIMAS) Estou morrendo por dentro... (ENCOSTA-SE NA CABINE COM AS COSTAS) Não... Não chora... Eu sei, eu também estou com saudades, são três semanas longe de você e eu não estou mais acostumado a viver só... (FECHA OS OLHOS) ... Eu amo você também... (SORRI) Sim, estou me alimentando direitinho... E você? Como está você e o nosso filho? ... (SORRI) Eu sei, estou perdendo... Mas é por um bom motivo... Sério? (DERRUBA LÁGRIMAS) Eu quero ver isso.

Mulder abre os olhos.

MULDER: - Scully, não chora, me escuta... Eu sei que isto é necessário e... Acho que agora eu realmente descobri que estou acostumado com você... Eu não posso mais viver sem você. Sabe, tem sido difícil acordar sozinho, eu estava tendo que dormir com os pés pra fora do lençol, (SORRI) porque não tinha mais pra onde desviar o calor deles... Eu adoro seus pezinhos frios! Então voltei a dormir no sofá... O pior de tudo é que percebi agora que o sofá não é tão confortável como a cama... (RI) Não! Eu juro! Não comprei nenhuma revista pornô... Não, não estou assistindo nenhuma fita daquelas que não são minhas... Meu café da manhã tá horrível. Também, quando a gente não treina, acaba esquecendo... Até o Cookie recusou a torrada hoje de manhã. Olhou pra mim com uma cara como quem diz: cadê a mulher desta casa, seu inútil! O pior é que a dona da floricultura me encontrou na calçada e perguntou porque não busco mais rosas... Disse que eu sou o melhor cliente dela... (SORRI) E é chato e sem graça ir para aquela sala vazia no porão... Mas pelo menos eles estão pensando que estou sofrendo porque levaram você... Mas cada lágrima é sincera, porque é de saudade... Não, não houve retaliação, estou bem... (DISFARÇA) Não, ninguém me machucou, não tocaram em mim... Scully, não se preocupe comigo, tudo funcionou como deveria funcionar. Olha, eu tenho que desligar, preciso fazer um serviço... Eu tomarei cuidado. Cuide-se você... Talvez depois de amanhã. Estou esperando ficar seguro... Sim, eu sei. Dói. Eu tenho vontade de sair correndo pra você, mas eu preciso ser forte... Temos muito a perder, lembra-se? ... (TRISTE) Não chora Scully... Em breve estarei aí do seu lado... E quando isto tudo terminar, vamos viver a vida que merecemos... E eu estarei sempre ao lado de vocês. (FECHA OS OLHOS) Eu te amo... Me deixa falar com ele...

Mulder fica de olhos fechados, num sorriso.

MULDER: - Pinguinho, é o papai... Eu tô com saudades de você. Cuida bem da mamãe tá? Não dá trabalho demais pra ela. Eu te amo.

Mulder abre os olhos. Sorri.

MULDER: - Amo você Scully. Fica com os anjos, porque eu sei que eles estão aí tomando conta de vocês.

Mulder desliga o telefone. Dá um sorriso cansado. Sai da cabine, correndo na chuva. Entra no carro. No rosto uma vontade de sorrir está expressa. Mas ele se contém, olhando para o painel do carro.


1:28 A.M.

[Som: Simple Minds – Don't You Forget About Me]

A chuva cai fina. O trem parado no terminal ferroviário. Nenhuma identificação nos três contêineres de cargas. Nenhum movimento.

Corta para o carro estacionado à distância. Faróis desligados. A alguns metros apenas um poste, com iluminação fraca. Dentro do carro, Krycek dormindo no banco do carona. Mulder vigia a ferrovia, em silêncio. Permanece com as roupas molhadas. Come sementes de girassol, pensamento longe.

MULDER (OFF): - Mentira, hipocrisia... Nunca fui homem de fazer isso. Mas é pela sobrevivência da minha família.

Krycek continua dormindo. Mulder olha pra ele. Volta a olhar para a ferrovia.

MULDER (OFF): - Tudo isto começou há um bom tempo atrás, quando tiraram meu filho. Eu não entendia no início. Ouvia aquelas vozes, ouvia os avisos de que não adiantava resistir porque estava escrito que teria que acontecer e aconteceria por um bom motivo. Eu não via nada. Estava cego. Meu ódio e a escuridão em que vivia, não me deixavam ver a verdade.

Mulder percebe o homem engravatado que caminha até o trem e verifica os contêineres. Mulder leva uma semente de girassol à boca.

MULDER (OFF): - Implantaram chips em meu corpo, me tornaram quase estéril, arruinaram minha vida. Então você me ergueu das cinzas com o seu amor e sua fé, mesmo caída e sem forças, você segurou tudo sozinha. Mas eu pude ver a luz do dia novamente. E percebi que cometeram um erro. Acionaram o que não deveriam ter sido acionado... Me tornei um paranormal. Eu ganhei um canal de comunicação direta com o que você chama de 'Deus'. Recepção e transmissão de mensagens... Essa faculdade apenas desaparece quando eu fico muito tenso e agitado. Quando algo me afeta os nervos, eu me bloqueio por completo. Por isso preciso de sangue frio. Ou não posso ler os pensamentos deles. Não posso evitar com antecedência os golpes baixos.

Krycek revira-se no banco, dormindo. Mulder continua a observar o homem.

MULDER (OFF): - Algo aconteceu comigo. Eu não estava preparado para ter um filho. Nunca liguei pra isso. Eu odiava a mim mesmo, ao meu pai, por que eu iria querer perpetuar meus genes desgraçados num inocente? ... Mas quando você disse que talvez eu nunca mais pudesse ter filhos, então eu caí em mim. Ele não seria só meu filho, ele teria metade de você. E quanto mais de você eu tivesse ao redor de mim, mais eu amava a mim mesmo. Você me ensinou valores que eu desconhecia, sentimentos que eu nem podia imaginar que fossem reais... Agora eu sentia o valor que uma família me trazia, a felicidade que eu desconhecia... Era tarde demais. Eu havia provado o gosto do melhor, e não queria ser apenas mais um turista na vida. Eu tentaria. Tentaria tudo.

Mulder fecha os olhos.

MULDER (OFF): - Por algum tempo sofri indo a médicos para saber quais as chances que eu tinha. O desespero foi tão grande, a ponto de deixar você sozinha na casa de praia da Ellen e ir definitivamente ao último médico. Mas ele concordou com os outros: 'Chances mínimas, Mulder. Você foi exposto à radiação, afetou sua produção de espermatozoides. É baixa demais. Via normal é impossível. Talvez possamos fazer isto por fertilização artificial. Mas a percentagem de sucesso é muito pequena. Se sua esposa está disposta a retirar alguns óvulos, talvez em 10 consigamos um fertilizado'... Essa foi a opinião unânime entre os melhores especialistas... Dez? Não. Você não tinha 10 para jogar fora comigo. Você tentou desesperadamente qualquer tratamento para tentar produzir mais óvulos. Então chegou aos hormônios. Não. Me lembro de ter pego aquela maldita caixa cor de rosa, retirado a ampola de hormônios e jogado na privada. Eu não deixaria você adquirir um câncer novamente ingerindo hormônios sintetizados, passando por injeções e toda a série de tentativas que não são confiáveis. Você ainda tinha dois óvulos. E eu atrapalhava a sua única chance... Me lembro de ter dito: Scully, tenha seu filho com alguém que possa te dar um. Isso não vai afetar o amor que sinto por você. Pelo menos você terá o filho que tanto deseja. Então você me disse: terei um filho com você. Senão criarei gatos, cachorros e papagaios. Mulder, não é mais uma questão de ter um filho. Mas de ter um filho seu.

Mulder sorri.

MULDER (OFF): - Por muito tempo eu não acreditei em destino. Menos ainda em milagres. Até que você me fez falar com Deus. Então eu entendi. E agora eu acredito, eu recebi um milagre. Dois óvulos. Uma chance em mil de que pudesse dar certo. Num processo de fertilização in vitro, você deve usar pelo menos três óvulos para ser bem sucedido com um. Não tínhamos isso tudo. Ou arriscávamos os dois de uma vez, ou apenas um por vez. Entrei em pânico. Se falhasse, eu conviveria eternamente com a culpa de ter tirado sua única chance... Então eu ouvi as vozes que me diziam: está predestinado a dar certo. Ninguém tocará nos teus. Quando entendi a verdade, eu falei pra você e expus meu plano. Sua reação foi negar. Você tinha medo de tentar de novo. Medo de perder de novo...

O homem pega um rádio. Fala alguma coisa. Mulder puxa a arma e engatilha.

MULDER (OFF): - Eu ainda lembro que tinha medo, desconfiava de tudo isso. Desconfiava daquele anjo negro que me dava avisos e dizia verdades na minha cara... E eu tão idiota não as entendia... Ficava catando teorias espíritas... Precisei ter minha paranormalidade ativada para entender... Então aquele sujeito Saul Watkins cruzou meu caminho. Sim, eu estava com câncer. Quando entendi o que Watkins queria dizer sobre roubar meu destino, ergui meus olhos aos céus e agradeci por isto. Ele estava roubando meu destino de morrer de um câncer fatal que estava se desenvolvendo em meu cérebro. Era o único jeito dele conseguir morrer. E roubando o seu destino de ficar viúva. Aquilo serviu pra que eu acordasse. Então decidimos que era a hora. Eu sabia que teria a ajuda do que você chama de Deus, e que eu entendo por Criador. Ele quer um filho nosso. Do jeito Dele. Deve ter a alma certa reservada pra isso. Ele quer porque é preciso. Ou nosso planeta vai subsistir a outras raças. Ele só quer defender o que Ele criou. E deve ter seus motivos pra isso.

Mulder abre a porta do carro. Coloca a arma dentro das calças e caminha até o homem. Este ao vê-lo, surpreende-se. Mulder mostra a credencial.

MULDER: - Agente Mulder, FBI. O que carregam aí dentro?

HOMEM: - Petróleo.

MULDER: - De que tipo?

HOMEM: - (SORRI NERVOSO) Como de que tipo? Petróleo, algo fóssil.

MULDER: - Me confirme: fóssil significa algo que estava enterrado debaixo da terra?

HOMEM: - ???

MULDER: - Vivo ou apenas 'adormecido'?

HOMEM: - Ora, fósseis são fósseis, como poderiam estar vivos?

MULDER: - Não acredito em você. Se há petróleo aí, abra.

Mulder puxa a arma e aponta pro homem.

HOMEM: - Tudo bem não é petróleo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Estou em dúvida. Abra.

HOMEM: - (NERVOSO) Eu não vou abrir essa coisa!

MULDER: - Te dou duas escolhas: Ou abre ou te mato.

O homem leva a mão até o terno. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Faz essa besteira e vai criar asas rapidinho.

O homem para. Ergue as mãos.

MULDER: - Pra onde estão levando isso?

HOMEM: - Massachussets.

MULDER: - Pra fazer o quê?

HOMEM: - ... (RECEOSO)

MULDER: - (FURIOSO/ COLOCANDO A ARMA NO NARIZ DO HOMEM) Pra fazer o quê?

HOMEM: - ... (RECEOSO) Xarope infantil.

Mulder abaixa a arma. O homem olha assustado pra ele.

MULDER: - ... Quer dizer que eu sou um pacato cidadão trabalhador deste país. Um pai de família. Então chego em casa e minha esposa olha pra mim e diz: nosso filhinho está gripado. Aí vou até a farmácia, compro um xarope e inocentemente dou pra criança algo que vai matá-la e por consequência, introduzo uma praga na minha família, que poderá matar todos. Daria isso pro seu filho?

HOMEM: - ...

MULDER: - (GRITA FURIOSO) Daria?

HOMEM: - N-não.

MULDER: - O que acha que devo fazer com pragas como você? Deixar ir embora para voltarem ao serviço sujo? Levá-lo preso e depois descobrir que você sumiu? Procurar você, mas, você não tem registro nos arquivos... Sempre a mesma mentira... Ah, eu cansei!

Mulder aponta a arma na cabeça do homem.

MULDER: - Tem filhos?

HOMEM: - N-não.

MULDER: - Sorte deles.

HOMEM: - Mas tenho mulher!

Mulder estoura a cabeça do homem com um tiro.

MULDER: - Agora não tem mais. Ela ficou viúva.

Krycek sai correndo do carro. Olha pro chão.

MULDER: - Detesto que mintam pra mim.

KRYCEK: - (ARREGALA OS OLHOS)

MULDER: - Não gosto de assassinos de crianças.

Mulder guarda a arma na cintura. Sobe num contêiner. Krycek olha pra ele assustado.

KRYCEK: - O que vai fazer?

MULDER: - Me dá a bomba agora. Não temos tempo.

Krycek corre até o carro. Enquanto isso Mulder ergue a tampa do contêiner. Enfia o braço pra dentro. Retira a mão cheia de óleo negro. As gotículas começam a entrar em sua pele. Mulder puxa um frasco do bolso e enquanto vigia Krycek vai guardando uma amostra. Fecha e coloca no bolso rapidamente. Krycek aproxima-se. Alcança uma das bombas pra Mulder.

KRYCEK: - Vou colocar nos outros. Temos que ser rápidos antes que a cavalaria de Strughold chegue. Programe para cinco minutos.

Krycek corre até o outro contêiner. Mulder arma a bomba. Observa Krycek armar as outras.

Corta para os carros que se aproximam. Mulder ergue a cabeça.

MULDER: - Krycek!

Os carros param. Os homens descem atirando. Mulder e Krycek revidam. O tiroteio começa. Mulder salta do contêiner, arrastando-se pra debaixo do trem. Krycek arrasta-se até ele.

KRYCEK: - Merda Mulder! Merda! Temos quatro minutos pra dar o fora daqui!

MULDER: - Me dá cobertura!

Mulder sai debaixo do trem e corre. As balas vão tinindo perto dele. Mulder se atira para baixo de outro trem, sujando-se de lama. Chama Krycek num gesto. Krycek afirma com a cabeça. Mulder começa a atirar contra os homens. Krycek nervoso rola pelo chão, saindo de baixo do trem e corre agachado. Atira-se no chão e rola pro lado de Mulder.

MULDER: - Vamos continuar revidando os tiros. Quando faltar 30 segundos pra explosão, caímos fora. Ou eles vão sacar a armadilha.

Os dois continuam atirando.

Corte.


Mulder e Krycek correm pelo meio do mato alto, sujos de lama.

[Som de explosão]

A fumaça negra invade os céus. Os dois param de correr, ofegantes. Olham pra trás. Mulder começa a rir.

KRYCEK: - Mulder... Acha que o Canceroso vai destruir todo óleo negro da Terra? É ingênuo de pensar isso?

MULDER: - Sei que ele está em guerra com Strughold. Mas não sou ingênuo. Você e ele continuam sendo uns canalhas. No momento estou gostando disso porque são menos perigos expostos pras pessoas. Mas não duvide que quando isso acabar, eu me voltarei contra vocês novamente. É apenas uma aliança de interesses entre inimigos.

KRYCEK: - Você consegue ser mais cretino do que eu.

MULDER: - Interesses particulares, Krycek. Não tem moral para me julgar.

Mulder ajeita o sobretudo. Rosto suado e sujo de lama. Começa a caminhar. Krycek o segue.

KRYCEK: -... Quando isso acabar, vou continuar caçando você e seu filho feito animais. Sabe disso.

MULDER: - Eu sei disso. Esqueceu que posso ler pensamentos?

Krycek para. Olha pra Mulder, nervoso.


Rua 46 Este – New York – 11:29 A.M.

O Canceroso sentado na poltrona. Pernas cruzadas. Fuma, observando Krycek. Marita está sentada. Krycek senta-se.

MARITA: - A mãe de Scully esteve no apartamento dele ontem. Mulder pediu que ela levasse embora as coisas de Scully. Ela levou, vai doar pra alguma instituição. Ele está se desfazendo de lembranças. Chorou feito criança quando Margaret foi embora.

CANCEROSO: - Como Meg está?

MARITA: - Falou que não se conforma com a perda da filha. Mas que pelo menos sabe que a filha foi feliz. Pediu que Mulder não contasse aos irmãos de Scully. Ela prefere esperar mais um pouco antes de dar a notícia à família. Disse que está abatida com isso tudo e que realmente vai tomar coragem e fazer uma viagem com as amigas para pensar em como contar sobre Scully para a família.

CANCEROSO: - E você, Krycek? O que houve na ferrovia?

KRYCEK: - Ele matou a sangue frio.

CANCEROSO: - Ótimo. Isso me prova que está disposto mesmo a permanecer conosco.

KRYCEK: - Ele me disse que está nisso por interesse próprio.

CANCEROSO: - Deixe-o provar o gosto do sangue, do dinheiro e do poder. Scully se foi e agora começo a pensar que isto é bom. Ele nunca mais vai querer ser um agentezinho. Mulder recusou o pagamento?

KRYCEK: - Não. Ele está aceitando seu dinheiro sujo.

CANCEROSO: - (SORRI) Compramos Mulder. Eu disse que todo homem tem um preço... Está atento ao que ele faz?

KRYCEK: - Sempre. Está se comportando.

CANCEROSO: - E sobre Scully? Ele diz algo?

KRYCEK: - Enquanto vigiamos, ele fica parado, perdido em lembranças. Algumas vezes chora. Deduzo que pense nela... Ele não sabe onde está a criança. Está perdido como nós.

CANCEROSO: - O messias genético... Precisamos achar o garoto.

KRYCEK: - Nenhuma pista. Só sabemos que é menino e chama-se Moses. Moisés.

CANCEROSO: - Não foi registrado, pode ter qualquer outro nome agora. Mas o departamento de adoção está de olho. Podemos levar um tempo, mas vamos encontrar o menino.

KRYCEK: - A história se repete... Por que 'Deus' é burro? Um menino novamente como messias! Só que dessa vez por questões genéticas.

CANCEROSO: - Deus é sexista.E a proteína sintética de Strughold?

KRYCEK: - Obtive informações de que já está sendo distribuída, disfarçada em corante artificial para alimentos. Funciona melhor e não deixa pistas, como o leite em pó. Nosso informante disse que ataca apenas o cromossomo Y. Não causa efeito em meninos acima de 2 anos de idade. Mas pode comprometer fetos masculinos em desenvolvimento.

CANCEROSO: - Aquele nazista do Strughold pensa que é Herodes... Se ele também está atingindo mulheres grávidas, deve pensar na hipótese de que estamos com Scully, tentando inseminá-la novamente para ter outro menino. E quer matar o filho deles, que ainda é pequeno. Strughold não quer correr riscos. Vai envenenar o país inteiro pra matar essa criança.


FBI – Arquivos X – 6:34 P.M.

Mulder com a fisionomia cansada. Pálpebras quase fechando. A cabeça pende pra frente num cochilo, mas ele desperta. Skinner entra. Mulder olha pra ele, tonto de sono e cansaço.

SKINNER: - Mulder, você não veio esta manhã.

MULDER: - Pois é... Durante a madrugada fui fazer uma festinha com um amigo num trem. Pela manhã fui resolver o caso que me designou. Nem almocei. (BOCEJA) Faz menos de uma hora que cheguei e fui aprontar o relatório.

SKINNER: - ... Mulder, não fique louco. Olhe pra você! Está um bagaço! Vá pra casa, tome um banho e durma.

Mulder pega o relatório da impressora e entrega para Skinner.

MULDER: - Aqui. Terminei as investigações. (BOCEJA) O relatório sobre a suposta criatura do cemitério: Inconclusivo.

A porta se abre. Diana entra. Ao ver Skinner, perde a graça. Skinner ao vê-la, fica incrédulo.

DIANA FOWLEY: - Fox... Como está?

MULDER: - (SORRI) Oi!

DIANA FOWLEY: - Então, recebeu meu recado?

MULDER: - Sim. Seria um ótimo final de semana, mas você sabe que ele não nos quer juntos... Vamos evitar por hora...

Skinner olha incrédulo pra Mulder. Diana sai, fechando a porta. Skinner arregala os olhos.

MULDER: - Não me chame nesse final de semana. Se perguntarem por mim, fui me divertir.

SKINNER: - Mulder, eu não acredito que...

Mulder abre a porta e sai. Skinner abaixa a cabeça.


Corta para a frente do prédio do FBI.

Mulder sai rapidamente. Olha para todos os lados. Acena pra um táxi. Entra rapidamente.

MULDER: - Aeroporto.

Corte.


Movimento intenso de pessoas pelo saguão do aeroporto. Mulder mistura-se a elas, observando pra todos os lados. Então sai por outra porta e toma um táxi.

MULDER: - Virgínia.

Corte.


O táxi para. Mulder paga o motorista e desce. O táxi parte. Mulder olha atento para todos os lados. Caminha, atento. Afrouxa a gravata. O cansaço está exposto no rosto. Mulder dobra a esquina. Sobe a pequena rua de ladeira.

MULDER (OFF): - Fiquei por meses insistindo... Depois de ouvir tudo o que eu tinha pra lhe dizer, tudo o que eu havia planejado, que estaríamos sozinhos aqui contra todos eles, mas que se algo nos ameaçasse realmente, 'Deus' interviria... Sua crença, sua fé, sua razão... Todas elas se chocaram, mas o seu amor por mim e pelo nosso filho foi maior. Você concordou. E aceitou me deixar agir por minha conta. Porque afinal, eu podia tripudiar o inimigo usando os meus dons. Você sempre confiou em mim. Sua confiança em mim me transformou num homem de verdade. Eu precisava agir como um homem. Eu protegeria vocês dois.

Mulder abre um sorriso. Então começa a correr.

Corte.


Mulder entra pela porta dos fundos da casa. Percebe a mesa servida com um prato. Caminha até a sala.Olha para o sobretudo em cima do sofá. Na lapela ainda está o crachá do FBI com o nome Diana Fowley. Mulder sorri. Sobe as escadas rapidamente, tirando o paletó. Entra no quarto.

O quarto iluminado apenas pelo abajur. Mulder tira a gravata e a camisa. Olha em direção a cama num sorriso. Tira os sapatos.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não me olhe assim com espanto. Você me chamou. Achei melhor responder ao seu apelo...

Scully sentada na cama, olha pra ele sorrindo entre lágrimas, enquanto segura o edredom contra o corpo até a altura do pescoço. Mulder pula na cama ao lado dela, a abraçando. Scully o abraça também, derrubando lágrimas e rindo de felicidade. Os dois trocam beijinhos rápidos. Mulder aproxima o nariz do pescoço dela.

MULDER: - Hum... Cheirinho de canela... Cheirinho de Scully... Que saudade! Há três semanas eu não sei o que é cheirinho de Scully! Hum...

Mulder aspira o perfume dela. Scully encolhe o pescoço sentindo cócegas.

SCULLY: - Mulder... Oh, meu Deus, você está horrível!

MULDER: - (BOCEJA) Ah não, apenas um dia difícil.

SCULLY: - Eu senti tanto a sua falta... Mulder, eu...

Mulder a beija. Ela corresponde. Mulder solta os lábios dela. Olha em seus olhos.

MULDER: - Eu te amo.

SCULLY: - (SORRI) Mulder... Está cansado...

MULDER: - Hum, quero um abraço... Tô sofrendo.

SCULLY: - (SORRI) Fecha os olhinhos.

MULDER: - Não. Primeiro eu quero fazer aquela coisinha que eu não faço há três semanas.

SCULLY: - (RINDO) Mulder...

MULDER: - Ah, deixa vai... Deixa. Quero ver o quanto você está redonda, sua comilona.

SCULLY: - (RINDO) Agora não preciso dar pretextos mentirosos pra comer muito.

Os dois trocam um beijo. Mulder puxa o edredom de cima dela.

Close na barriga de Scully que já se pronuncia bem maior, transparecendo a gravidez pela camisola. Mulder sorri. Passa a mão pela barriga de Scully, com os olhos cheios de lágrimas. Beija-a.

MULDER: - Oi Pinguinho! (SORRI) Puxa, você cresceu!

Scully sorri. Mulder recosta-se contra Scully, afagando sua barriga. Fecha os olhos. Scully afaga os cabelos dele.

MULDER: - Uma vez eu e sua mãe fomos designados pra resolver um caso muito sinistro. O cara alimentava-se de fígado humano e podia esticar-se feito o homem borracha.

SCULLY: - Hum... Lembro disso. Eugene Tooms.

MULDER: - Scully então entrou no carro e trouxe um sanduíche. Ela era caidinha por mim, sempre foi...

SCULLY: - (RINDO) Seu pai é muito convencido!

MULDER: - Eu disse que se tivesse chá gelado era amor. Mas era cerveja sem álcool. O que deduzi que era o começo da paixão.

SCULLY: - (RINDO) Mulder, você tá cansado...

MULDER: - Eu sei, mas Pinguinho tá sem histórias faz três semanas.

SCULLY: - Pinguinho está dormindo. E você precisa dormir.

Eles olham um pro outro sorrindo.

MULDER: - (SORRINDO) Não tá dormindo não... Ele se mexeu. Deu oi para o papai.

SCULLY: - Hora dos dois irem dormir. Se não quem não dorme sou eu. Ficam aí tagarelando a noite toda... Ai!

Mulder começa a rir.

MULDER: - Chutou você?

SCULLY: - (RINDO) Teimoso feito o pai!

MULDER: - Tá bom Pinguinho, hora de dormir. Amanhã te conto outra história. Hoje preciso falar com sua mãe.

SCULLY: - Vou esquentar o jantar pra você.

MULDER: - Não, estou sem fome. Quero ficar com você aqui... (BOCEJA) Hum... Tão bom estar em casa, sem fingimentos, sem escutas, sem falar com meu filho olhando pro peixe...

Mulder se aninha contra o corpo dela. Fecha os olhos.

SCULLY: - Mulder... Como estão as coisas?

MULDER: - Ah eles caíram feito patinhos. Engoliram tudo.

SCULLY: - Mulder, não é perigoso você vir aqui?

MULDER: - Não, tomei dois táxis... Conseguiu entrar no laboratório?

SCULLY: - Consegui. Usei a credencial de Diana Fowley que você me deu.

MULDER: - Peguei amostras do óleo negro. E tenho mais dinheiro pra você depositar pra fazer a vacina.

Scully afaga os cabelos dele. Mulder fecha os olhos, recostado na barriga dela, abraçado a ela.

SCULLY: - Está se alimentando direito? Tomando as vitaminas?

MULDER: - Sim. Mas não posso parecer saudável. Você sabe. Não posso engordar.

SCULLY: - E o Cookie?

MULDER: - Tá depressivo. Vou ter que inventar alguma coisa pra sumir com ele de lá e trazer pra você. O cachorro tá sentindo falta de vocês.

SCULLY: - Tadinho. E o peixe?

MULDER: - (SONOLENTO) Tá falando do peixe que nada no aquário ou é o código pro seu filho?

SCULLY: - (RI) Claro que do peixe do aquário. O Pinguinho tá nadando aqui dentro, mas ele eu sei que está bem. Sem códigos agora.

MULDER: - Eu não sei. O peixe se entocou e não sai mais. Scully, nada mais funciona sem você.

SCULLY: - Mulder, durma. Você está cansado. Amanhã nós conversamos.

Scully ajeita o edredom sobre ele. Ajeita-se na cama e envolve os braços em Mulder, o puxando contra seu peito. Mulder fala sonolento, de olhos fechados. Scully afaga os cabelos dele.

MULDER: - Hum... Como eu senti falta disso... Não pare...

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - É tão bom... Preciso disso... Tô tão cansado... É o único momento em que eu recobro minhas forças... Scully, eu senti dores de cabeça de novo. Mas não tão fortes.

SCULLY: - Precisou ir pra água?

MULDER: - Não. Bastou pensar em água... Mas é preciso Scully... Não posso tirar esse chip agora. Menos ainda o do nariz. (DEBOCHADO) Como é que vou sangrar na frente deles e fingir que estou morrendo de câncer?

SCULLY: - Mulder... Eu fico pensando que até isso nos ajuda... Suas dores são por causa desse chip que ativou sua paranormalidade, acima do que pode suportar... Durma Mulder.

Mulder se ajeita contra ela, abraçado em sua barriga. Scully apaga a luz.

MULDER (OFF): - Saul Watkins... O homem que levou meu câncer que acabaria se manifestando. Mas convinha que esse câncer 'ficasse'. Eu aprendi muito com a mentira deles durante todo esse tempo. Aprendi que uma verdade escondida entre duas mentiras é algo convincente. Aprendi que pra se esconder alguma coisa, basta deixá-la exposta debaixo dos olhos. E fiz. Deixei você exposta. E menti que estava com câncer. Tinha essas dores a meu favor. Precisava convencer eles disso. Tinha que atrair as atenções todas pra mim e não pra você. Não pensei duas vezes e cortei meus cabelos, comecei a fazer dieta, como se fosse uma dieta pra doente... Na verdade, eu precisava emagrecer, ter a aparência de um homem que vai morrer... Quando sua barriga começasse a se pronunciar, você estaria apenas com estresse devido aos nervos, descontando na comida, preocupada com minha morte. Quando não desse mais para esconder, eu tiraria você do jogo, pra bem longe. Eu dizia pra você que sabia o que fazer. No entanto, eu não sabia. A única coisa que sabia é que o destino se encarregaria de largar as oportunidades. Bastava eu vê-las. Confiei cegamente nisto. E não me decepcionei. A casa... Sua abdução... Tudo veio na hora certa, como se fosse um plano maior. Acho que isso se chama ter fé.

Scully beija-lhe a testa. Mulder sorri.

MULDER (OFF): - Eu entraria no jogo deles. Os faria pensar que estava atrás do meu filho, e que aceitaria tudo só pra encontrá-lo. Mentira. No meio deles eu saberia o que tramavam e protegeria você e ao mesmo tempo tomaria as informações necessárias pra evitar a invasão. Sabia que não seria fácil, eles continuariam nos espionando... Foram quase 5 meses de gravidez que não demos uma pista sequer a eles da nossa felicidade dentro daquele apartamento ou do bureau. Quando estávamos fora do apartamento ou dos locais vigiados, podíamos curtir nosso filhinho. A única coisa que demos a eles foi uma falsa tristeza, uma falsa busca por um filho... Os afastamos convenientemente da verdade, nos fingindo de bobos. Foi duro nos primeiros meses. Olhávamos um pro outro e sabíamos que estávamos representando uma novela. Mas quando as luzes se apagavam, eu tocava sua barriga, segurando as minhas lágrimas. Não podia falar com meu filho e dizer o quanto eu o amava. Mas eu sei que ele sabe. Ele percebe tudo ao seu redor.

Mulder afaga a barriga de Scully.

MULDER (OFF): - Ele nos salvou várias vezes dos perigos. Me libertou de um espírito maligno. Nada que tocar em você com intenção de machucá-la, consegue sair ileso. Ele defende você. União com seu corpo. União com meu espírito. Uma trindade absoluta. Nosso elo de ligação. Eu só tive a certeza de que ele é mais especial do que eu pensava. Como você também percebeu quando começava a pressentir coisas. Só que a verdade absoluta disso tudo você ainda entende pouco ou tem medo de entender... Eu sei, eu temi quando entendi essa verdade.


BLOCO 2:

Residência dos Palmer – 11:48 P.M.

Close do quadro do anjo na parede. Ele segura uma espada nas mãos, afastando cobras. Da sua outra mão, exala uma luz, protegendo um bebê. Abaixo o nome 'Gabriel'.

Corta para George que assiste o noticiário, com uma long neck de cerveja na mão. Nancy ao lado dele, bobs nos cabelos, sentada no sofá e falando ao telefone.

NANCY: - Eu vi sim. Não, Mary Ann, eu vi. Ela passa o dia todo trancada dentro de casa... Agora tem uma empregada. A mulher é que sai pra fazer compras. Uma senhora velha... Marido? Que marido???? Eu disse pra você que ele devia ser casado! Eu vi a aliança na mão dele e ela não tem aliança! Está aí a prova! Ela é amante de um grã fino. Sim, ele tem uma pose, sempre bem alinhado...

George olha com o rabo dos olhos pra Nancy, indignado.

NANCY: - Pensa comigo: que marido recém casado deixaria a mulher por três semanas sozinha? Que recém casados nada! Ela é amante dele. Aposto com você que a esposa dele está desconfiada e por isso ele não está vindo mais... Estão dando um tempo... Claro que tentei! Levei uma torta de sorvete, mas quem abriu a porta foi a empregada. Como deixam esse tipo de gente morar num bairro de integridade moral como o nosso?

GEORGE: - Dá pra fofocar da vida alheia mais baixo? Eu quero ouvir as notícias.

Nancy o fulmina com os olhos. Volta a atenção para o telefone.

NANCY: - Pela pose dele deve ser médico...

GEORGE: - (IRRITADO) Nancy, pelo amor de Deus, quer deixar essa pobre gente aí do lado em paz? Eles não incomodam ninguém!

NANCY: - Pois é, você tem razão! Um absurdo esse tipo de coisa... Mary. Mary Watkins é o nome dela.

GEORGE: - Nancy...

NANCY: - Mas se alguma baixaria acontecer, eu mesmo faço o comitê pedir para ela se mudar daqui. Não queremos mulheres desse tipo na redondeza... Tá certo. Ligo pra você depois.

Nancy desliga. George suspira, levando a cerveja à boca.

TV (OFF): - ... Esta tarde o FBI divulgou a foto de uma agente federal desaparecida. Pedimos a atenção da população. Se alguém souber do paradeiro da agente Dana Scully...

O quadro de Gabriel despenca da parede distraindo a atenção deles da TV. Nancy dá um pulo aos gritos. George olha pra trás.

GEORGE: - Como essa coisa caiu?

NANCY: - Não sei, você não pregou direito! Vá buscar a vassoura!

George vai buscar a vassoura, enquanto Nancy agacha-se e pega o quadro nas mãos. Na televisão a foto de Scully aparece com um número de telefone embaixo. Mas eles não veem. Nancy olha para o quadro.

NANCY: - Pobre do anjo Gabriel. Despencou da parede! Como você caiu daí???

GEORGE: - Foi um aviso divino pra você morder sua língua e deixar essa gente em paz! Sua velha fofoqueira!

George joga a vassoura no chão. Ela fica quieta, faz o sinal da cruz, dá um tapinha na boca e junta os cacos de vidro.


2:47 A.M.

Mulder levanta-se da cama. Scully acorda-se.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Perdi o sono.

SCULLY: - Quer tomar alguma coisa?

MULDER: - Não... (SORRI) É a empolgação de estar em casa.

SCULLY: - Aonde vai?

MULDER: - Ver o que você fez no quarto do júnior.

Scully sorri e levanta-se empolgada. Veste as pantufas e o robe. Os dois saem do quarto, parando em frente à porta com uma figura enorme de ursinho. Mulder sorri.

MULDER: - ... E o que é isso?

Mulder segura o sapatinho rosa pendurado na porta.

SCULLY: - Lembra-se? Presente do Papai Noel. É pra dar sorte.

Mulder sorri. Abre a porta do quarto. Arregala os olhos.

Close do quarto amarelinho, todo decorado. Papéis de parede com ursinhos. Vários bichinhos de pelúcia. Mulder segura as lágrimas.

MULDER: - Ficou lindo.

SCULLY: - Gostou? Só falta o móbile. Mas não consegui pendurar.

Mulder entra no quarto. Observa. Senta-se na cadeira de balanço.

MULDER: - Devia ser decoradora... Gostei dessa cadeira. Dá pra segurar o bebê enquanto vigio a janela.

SCULLY: - Mulder, por favor. Sem neuras.

MULDER: - Eu até pensei em forjar minha morte e fugir com você e o bebê, mas eles vão nos achar. Mas tudo bem. Eu nunca mais vou pregar meus olhos.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (SORRI) Senta aqui, senta.

Scully senta-se no colo dele.

MULDER: - Estou revivendo toda a loucura pela qual passamos até chegar aqui...

Scully sorri. Abraça-se em Mulder, apoiando a cabeça no ombro dele.

SCULLY: - Mulder... De tudo isso um fato não sai da minha cabeça todas as noites. O dia em que conseguimos a concepção.

MULDER: - Scully, eu não achava que conseguiríamos. Quando você descobriu aquela clínica do seu ex-colega de faculdade... A primeira coisa que pensei foi: não podemos deixar isso fugir de nossas mãos. Não confio em ninguém. Sabe como sou paranoico.

SCULLY: - Sei, por isso topei fazer o processo. Nem eu confiaria, Mulder.

MULDER: - (SORRI) Bem no dia que Frohike e os rapazes precisavam de mim... Gárgulas... Acho que de certa forma, Gárgulas protegem crianças mesmo... Mas sinceramente eu não tinha cabeça, tava muito nervoso. Não podia adiar mais.

SCULLY: - Você levou horas pra conseguir.

MULDER: - E você levou mais algum tempo... Deus, que tensão nervosa... O dia todo naquela clínica! Ainda posso ver nós dois naquela angústia.

Corte.


FLASH BACK:

Os dois curiosos observam o tubo de ensaio pelo microscópio. Mulder morde os lábios, na expectativa. Scully afasta-se com a cadeira, numa fisionomia de tristeza e frustração. Põe as mãos no rosto. Mulder olha pra ela, entristecido.

SCULLY: - Perdemos um óvulo, Mulder. Não fecundou.

Mulder se cala. Aproxima-se da janela, com os olhos cheios de lágrimas.

MULDER: - Scully, arranje um doador. Não arrisque. Nada disso vai influenciar, eu já te disse.

SCULLY: - Ainda temos uma chance.

MULDER: - Não. É a sua última chance! Scully, pelo amor de Deus! Não faz essa besteira!

Scully olha pra ele decidida.

SCULLY: - Se Deus quiser, Mulder, nós vamos conseguir.

MULDER: - Eu não posso ver você fazendo isso. Desista. Scully, me escuta. Acho que aquele anjo desgraçado mentiu pra nós!

SCULLY: - Não. Eu quero um filho seu. Se não for seu eu não quero.

MULDER: - Scully, seja racional agora, por favor! Não vai fazer diferença se for meu filho ou de outro cara! A gente continua junto, eu vou aceitá-lo como se fosse meu e...

O celular de Mulder toca. Mulder desliga.

SCULLY: - Não. Eu quero que seja um Mulder. Você mesmo me disse uma vez que os genes dos Mulder preenchem os requisitos necessários, tirando a questão da propensão à miopia.

Ele sorri cansado.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Portanto não vou correr riscos com outros genes.

MULDER: - Scully... Eu não posso ver você fazer isso. Olhar pra sua cara de tristeza novamente...

Mulder aproxima-se da porta. Abre-a. Scully o acompanha com os olhos.

SCULLY: - Ótimo. Perca o momento da concepção do seu filho.

Mulder fica parado. Scully o observa. Mulder fecha a porta. Olha pra ela.

MULDER: - Saiba que se isso não der certo... Nunca mais vou poder olhar pra você de novo.

SCULLY: - Se isto não der certo, adotamos um bebê. Ou é só nosso, ou então que seja totalmente de outros. Mas só meu não tem negociação.

MULDER: - Scully... Pensa bem. Se não der certo você vai viver o resto da sua vida perguntando pra si mesma: e se eu tivesse tentado com outro homem?

SCULLY: - Outro homem? Eu não quero o filho de qualquer um! Posso estar exigindo demais da sorte, mas não me serve. Mulder, se hoje estamos aqui tentando isso foi porque você me deu isto! Se não fosse por você eu nunca teria tido nem a chance de tentar! Portanto, eu devo isso a você! Ele tem que ser seu filho! É você que eu amo! Eu não vou ficar remoendo dúvidas. Se não der certo, então não era pra dar certo.

MULDER: - Acha que vai dar certo? Scully havia três óvulos aí dentro! Dois não fecundaram! Esse daí também não vai.

SCULLY: - Que pessimismo, Mulder.

MULDER: - Claro, eu devia ter desconfiado! Só podiam ter algum problema pra eles terem me dado isso tão fácil. Scully, acho que te dei um presente de grego!

SCULLY: - Não. A única coisa que você me deu foram três filhos na primeira noite... Hum... Geralmente na primeira noite a gente não costuma ganhar três filhos de uma vez...

MULDER: - Scully, estou falando sério. Eu não devia ter te convencido... Foi irracional... Isso não vai dar certo.

SCULLY: - Que coisa feia, Mulder... E não chame meus óvulos de 'isso'. Eles são bonitinhos.

Scully senta-se à mesa. Observa pelo microscópio.

SCULLY: - Hum, estou olhando seus espermatozoides e tentando achar algum vivo. Eles ferraram mesmo com você naquela abdução, Mulder... Mas existem algumas possibilidades, preciso escolher o melhor deles...

MULDER: - Isso é constrangedor. Quer outra amostra? Mas vai ter que me ajudar de novo, porque tô uma pilha de nervos e tá ficando difícil fazer isso.

SCULLY: -O pai é quem dita o sexo... Se quiser posso escolher o sexo.

MULDER: - Não. Não temos chances e ainda quer escolher o sexo?

SCULLY: - Hum, não me aterei a isso, caso dê certo, prefiro ficar na expectativa.

MULDER: - O que está fazendo?

SCULLY: - Analisando seus espermatozoides. São bonitinhos!

MULDER: - (INDIGNADO) Que situação degradante!

SCULLY: - Hum... Mulder... Acho que preciso de mais. Aqui não tem nada aproveitável.

MULDER: - Ai não... Scully, de novo? Pela terceira vez? Eu não vou conseguir! Já foi uma tristeza conseguir das outras vezes e...

Ela sem tirar os olhos do microscópio estende a mão entregando pra ele um recipiente de plástico.

SCULLY: - Vamos, Mulder. Faça a sua parte.

MULDER: - Me pergunto todo o dia: será que sou homem mesmo? Nunca vou poder fazer aquelas piadinhas cretinas de 'ah, eu consegui a façanha', 'acertei o tiro'...

Scully sem tirar os olhos do microscópio.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Deixe as piadinhas cretinas de lado. Prefiro que acerte o tiro dentro desse pote.

MULDER: - Isso acaba com a masculinidade de um homem, sabia?

SCULLY: - Acaba nada, macho man. Deixe sua masculinidade pra mim depois da meia noite, nu, debaixo do meu lençol. Não poder ter filhos não significa que não pode praticar o exercício de fazê-los. Você ficou light. Mas não diet. Ainda temos chances.

MULDER: - Como pode fazer piadas disso?

SCULLY: - Alguém aqui tem que rir. Vai Mulder. Pega esse pote. Se precisar de uma ajudinha, me chame de novo.

MULDER: - Já é constrangedor ter que fazer isso num pote de plástico!

Scully levanta-se.

SCULLY: - Impressionante! Você não faz nada sem a minha presença! Nada! Tudo é: Scully, me ajuda aqui! Scully, onde está isso, onde está aquilo!

MULDER: - (BEIÇO)

SCULLY: - Vamos lá, Mulder. Eu te ajudo. Não quero você se inspirando em outras mulheres.

MULDER: - Não vai dar certo.

SCULLY: - Vai sim. Mulder, eu preciso de um bem forte, assim, com porte de atleta, ok? Sei que você vai conseguir. Capricha Mulder! Acerta o tiro dessa vez! Caso contrário, não vai poder fazer suas piadinhas masculinas e cretinas.

Corte.


[Som: Simple Red – For Your Babies]

Os dois sentados no laboratório, olheiras enormes. Scully toma café, olhando para a mesa. Mulder levanta-se. Anda de um lado pra outro, nervoso, mãos nos bolsos. Scully olha pra ele, tentando desviar sua atenção.

SCULLY: - ... Mulder, se não relaxar vai acabar caindo morto aí no chão! Por que não me deixa sozinha e vai até Nova Iorque ver o que os Pistoleiros querem? Hum?

MULDER: - Eu não tenho cabeça. Não consigo relaxar.

Mulder suspira. Scully olha para o relógio. Aproxima-se do microscópio.

MULDER: - Impressionante... O que vou dizer para o meu filho? Sua mãe fez tudo. Ela até se inseminou! Eu só assisti!

Scully olha pelo microscópio.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Não, é sério! Eu não sirvo pra nada mesmo!

SCULLY: - Mulder...

Scully começa a chorar. Mulder fica em pânico. A abraça.

MULDER: - Scully, vamos sair daqui e eu caso com você agora e adotamos um bebê. Você vai superar isso.

SCULLY: - (CHORANDO) Deu certo!

Mulder corre pro microscópio, nervoso.

MULDER: - O que eu deveria estar vendo aqui? Eu não entendo nada disso...

SCULLY: - O nosso filho Mulder. Você está vendo o nosso filho.

Scully se aproxima dele. Mulder afasta-se e olha pra ela, derrubando lágrimas. Os dois ficam atordoados, sentimentos que se confundem.

MULDER: - (CHORANDO) Deus, como uma coisinha desse tamanho vira uma criança?

SCULLY: - (CHORANDO) O milagre da vida, Mulder.

MULDER: - (CHORANDO) Tem uma criança ali... Ela é nossa...

SCULLY: - (CHORANDO) Sim... Ela é o pedacinho de nós dois, Mulder.

MULDER: - (CHORANDO) ... Por que estamos chorando?

SCULLY: - (CHORANDO) Por que temos um filho!

MULDER: - (PREOCUPADO) E agora?

SCULLY: - Vou colocá-lo dentro de mim. Mas preciso de um médico para não correr riscos.

MULDER: - (NERVOSO) Scully, tem que ser rápido... O pobrezinho deve estar ali com frio...

SCULLY: - (SORRI ENTRE LÁGRIMAS) Não Mulder... Ele não sente frio.

MULDER: - (PREOCUPADO) Como você sabe? Ele tá ali naquela mesa! Abandonado, sozinho...

SCULLY: - (COMEÇA A RIR) Mulder...

Mulder corre para o microscópio novamente.

MULDER: - Pinguinho, sua mãe já vai resolver esse problema tá? Não fica nervoso.

Scully começa a rir da bobeira de Mulder. Ele está tenso, nervoso, agitado.

MULDER: - Scully para de rir e vem cuidar da criança!

SCULLY: - Mulder... Até que enfim você acertou o tiro.

Mulder sorri, mas torna a chorar novamente. Os dois se abraçam.

Corte.


TEMPO PRESENTE:

Scully sentada no colo dele ri alto. Mulder olha pra ela debochado.

MULDER: - Pode rir, Scully. Mas acertei o tiro. Num pote de plástico, mas acertei!

Os dois riem alto.

SCULLY: - Mulder, precisava ver sua cara de bobo... Correndo de um lado pra outro, parecia que havia um incêndio e gritando comigo: vamos mulher!

Mulder abaixa a cabeça rindo de vergonha. Scully levanta-se. Estende a mão pra ele.

SCULLY: - Vem, papai. Vamos dormir. Pinguinho e mamãe estão com frio.

Mulder sorri. Segura na mão dela e levanta-se.


3:46 A.M.

Mulder dormindo. Scully se revira na cama. Acende a luz do abajur. Senta-se. Mulder acorda-se, olhando pra ela.

MULDER: - (PREOCUPADO) O que foi?

SCULLY: - Nada.

Mulder senta-se assustado.

MULDER: - Scully... Você está sentindo alguma coisa?

SCULLY: - ... Não... Eu... Eu tô com fome.

MULDER: - Vou buscar algo pra você. Pode ser uma maçã?

SCULLY: - ... Pode.

Mulder levanta-se e sai do quarto correndo. Scully coloca as mãos nos quadris e se espreguiça. Inclina o pescoço de um lado pra outro. Levanta-se. Vai pro banheiro. Mulder entra esbaforido no quarto, segurando a maçã.

MULDER: - Scully???

SCULLY: - Estou bem Mulder! É só a minha bexiga que não me dá folga!

Ele sorri. Senta-se na cama. Ela sai do banheiro. Senta-se ao lado dele. Mulder lhe entrega a maçã. Ela olha pra maçã.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - ... Não era bem isso o que eu queria.

MULDER: - Quer um sanduíche?

SCULLY: - Não... Deixa pra lá...

MULDER: - Scully me diz o que você quer que eu preparo pra você.

SCULLY: - ... Sabe preparar sushi?

MULDER: - (INCRÉDULO/ GRITA) Sushi????

SCULLY: - (RECUA ASSUSTADA/ FAZENDO BEIÇO) ...

MULDER: - (PÂNICO) Você quer sushi às 4 da matina??? Olha pra minha cara e me diz se eu tenho cara de japonês!

SCULLY: - (MANHOSA) Esquece... Coisas de mulher grávida.... Desejos... Pinguinho quer sushi... Mas deixa...

MULDER: - ... (CULPADO)

SCULLY: - (MANHOSA) Esquece, vai dormir. Você está cansado.

Mulder suspira. Levanta-se. Começa a vestir a roupa.

SCULLY: - Aonde vai?

MULDER: - Tentar encontrar um japonês que prepare sushi às 4 da madruga, nem que tenha de ameaçá-lo com a arma na cabeça! Antes que meu filho nasça com escamas!!!


4:33 A.M.

Mulder entra esbaforido no quarto, segurando uma embalagem com letras japonesas. Scully abre um sorriso.

SCULLY: - (EMPOLGADA) Sushi???

Ele afirma com a cabeça, mal consegue respirar. Entrega a embalagem pra ela. Scully abre e começa a devorar. Mulder cai de costas na cama.

SCULLY: - Quer sushi?

MULDER: - Não.

SCULLY: - Hum... Peixe! Peixe cru, que delícia!!!

Mulder levanta-se da cama com as mãos na boca e corre pro banheiro.

SCULLY: - Quer sushi, Mulder?

MULDER: - Ai meu Deus, eu vou morrer! Blerggggggghhhh!

SCULLY: - Tá bom... Eu como sozinha...


9:28 A.M.

Scully entra na cozinha. De robe e pantufas. Coloca a bandeja sobre a mesa.

SCULLY: - Não tive coragem de acordá-lo. Está cansado. Esparramado na cama, de bruços, de boca aberta e chega a suspirar. Pobrezinho! Sabe Deus o monte de trabalho que deve ter tido ontem e ainda tirou tempo pra ficar acordado e falar comigo... E buscar sushi.

Margaret descasca alguns legumes. Olha pra ela incrédula.

MARGARET: - Sushi??? Bem que eu vi uma correria no meio da madrugada, mas não quis me intrometer. Dana, você fez o pobre do Fox ir buscar sushi??? De madrugada???

SCULLY: - Hum... Eu tava com vontade... (SORRI) Nem acreditei que Mulder viria. Deixei a mesa servida, mas não acreditava...

MARGARET: - Confesse Dana. Que homem faria o que ele está fazendo por você?

SCULLY: - (SUSPIRA) Nenhum. Penso que é amor demais.

Scully olha pela janela.

SCULLY: - Que chuva! Está congelando lá fora.

MARGARET: - Adoro o outono.

SCULLY: - (FECHA OS OLHOS) Adoro o cheiro do frio. Mãe, quero ver se hoje retiro das caixas, todas as minhas coisas que você trouxe do apartamento do Mulder.

Scully pega um pacote sobre a pia. Começa a retirar as frutas e colocá-las numa cesta.

SCULLY: - Mãe, sabe que... Eu andei meio perdida. Não acreditava que essa loucura iria dar certo. Mas agora estou mais confiante... (SORRI) Sabe, parece que tudo conspira a nosso favor. Até minha barriga crescia pouco, espalmada, o que dava pra esconder melhor... Hum... Mamão... Estou com desejo de comer mamão!

MARGARET: - Desejo é psicológico...

SCULLY: - Não é. E quero chocolate também.

MARGARET: - Dana...

SCULLY: - (MANHOSA) Ai, me deixa comer o que eu quiser! Senão o menino vai nascer de boca aberta!

Margaret vira-se pra ela.

MARGARET: - Duas coisas erradas. Primeiro: não vai nascer de boca aberta não. Segundo: deveria ter pintado o quarto de cor de rosa porque não é um menino.

Mulder está parado na porta, de robe e pijama, olhando pra elas.

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu disse, mas ela não me escuta.

MARGARET: - Bom dia, Fox! Descansou? (OLHA PRA SCULLY A CENSURANDO) Ou o sushi não deixou você fazer isso?

Mulder aproxima-se e beija Margaret na testa.

MULDER: - Descansei Meg. O sushi não atrapalhou não. Pra quem está acostumado a acordar no meio da madrugada pra encontrar alienígenas, encontrar sushi foi fácil... E você? Como vai seu cruzeiro? Está se divertindo nas Bahamas?

MARGARET: - Hum, está bom, mas confesso que estou descascando batatas nesse barco furado que vocês me arranjaram.

MULDER: - (RINDO) Meg que coisa feia... Uma senhora, mãe de família, respeitável, mentindo... Como pôde fazer uma coisa dessas? Mentir pro meu pai descaradamente.

Margaret aponta a faca pra Mulder.

MARGARET: - Eu mataria aquele desgraçado se ferisse um de vocês!

MULDER: - (PÂNICO) Uh! Mãe da Scully mesmo... Agora sei por quem a baixinha puxou. Fato comprovado!

SCULLY: - (SORRI) Quer maçã?

MULDER: - Já me oferece pecado de manhã cedo? Olha que eu aceito!

Os dois trocam um beijo. Mulder pega a maçã. Aproxima-se de Margaret. Fica espiando o que ela faz.

MULDER: - O que vai sair daí, mãe?

MARGARET: - Um prato muito especial.

MULDER: - Hum... Comida de mãe! Adoro comida de mãe.

Mulder pega um pedaço de cenoura e põe na boca. Margaret bate na mão dele.

MULDER: - Au!

MARGARET: - Sai! Detesto criança na cozinha.

Scully ri. Mulder puxa a cadeira e senta-se.

MULDER: - Então quais as novidades aqui no universo feminino?

SCULLY: - Preciso de um homem.

MULDER: - Oba!

SCULLY: - Pra pendurar o móbile.

MULDER: - Sabia que vinha alguma coisa por trás disso...

Margaret começa a rir.

MULDER: - Tudo bem, eu faço qualquer coisa pela Scullyzinha.

SCULLY: - Mulder, para com isso. Eu odiaria ver sua frustração se nascer um menino. Também desconfio que seja menina, mas e se for um menino?

MULDER: - Não vai ser menino. É a minha princesinha.

MARGARET: - Ele está certo. Enfim chegou a hora de pendurar calcinhas no varal da família Scully.

MULDER: - Imagina comprar um monte de bichinhos de pelúcia pra ela? Eu não vou saber dizer não.

MARGARET: - Vestidinhos, lacinhos... Ai... Minha netinha... Minha única netinha, filha da minha filha e ainda por cima filha do Fox... Vai ser amada demais por essa avó coruja!

SCULLY: - Meu Deus! Isso vai ser um pesadelo! Vocês dois fiquem afastados da minha filha ou vão estragar a criança!

MARGARET: - Só se for de amor.

SCULLY: - Nem tentem mimar. Alguém tem que educar por aqui.

MARGARET: - Ora eu mimei vocês a vida toda e nem por isso vocês escapavam do castigo.

SCULLY: - Mas vocês dois olham pra minha barriga parecendo dois vampiros!

MULDER: - Você está linda... Sabia?

SCULLY: - Ah não estou não. Minhas pernas já começaram a doer. Meus seios estão inflando e eu não saio mais do banheiro. Daqui à pouco caminho feito uma pata!

MULDER: - Ora Scully, pior sou eu que até agora tive todos os enjoos por você!

MARGARET: - Sério?

SCULLY: - Sim. Viu que marido bom? Eu fico grávida e ele enjoa.

MULDER: - Vai rindo, mas é sério. Meg, nunca vomitei tanto na vida quanto ontem, com aquele maldito cheiro de peixe cru! Vivo com o estômago revoltado! Em compensação isso serve até pra ajudar a pensarem que estou fazendo quimioterapia... Tenho que cortar o cabelo de novo...

SCULLY: - Mulder, para! Não exagera!

MULDER: - Eu tenho que ser convincente. Não posso arriscar.

MARGARET: - Mas precisa se alimentar, Fox.

MULDER: - Eu tô me alimentando. Mas evito as coisas que eu gostava... Em compensação, a Scully come todas elas! Essa gulosa!

SCULLY: - Invejoso!

MULDER: - Quero meus sanduíches entupidos de maionese de novo.

SCULLY: - Hum... Maionese... Que delícia!

MULDER: - Tá vendo? Ainda debocha da minha cara!

SCULLY: - Hum, tadinho... Mamãe, você pode fazer o favor de ir à lavanderia hoje? O terno do Mulder mais parece uma roupa do exército da salvação. Tem até areia nos bolsos! Acho que andou rolando no chão. Se foi com alguma baranga...

MULDER: - Foi. Com a Diana Fowley.

Ela faz cara de nojo.

SCULLY: - Tá bom Mulder, vou fingir que creio... E por falar nisso, aposto que você está empolgado, não é cachorro?

MULDER: - Eu? Ela é que está empolgada, achando que eu sou um pobre viúvo sofredor.

SCULLY: - E você tá adorando, né?

MULDER: - Bem, confesso que tô adorando saber que estou enganando ela. Scully, eu sei que você detesta essa parte do plano mas...

SCULLY: - Eu? Olha Mulder, já foi o dia em que eu sentia ciúmes daquela coisa feia, que eu me achava a pior das mulheres... Agora sinto é pena daquela pobre infeliz! Ela não tem chances com você. Sei disso. Confio no meu taco e confio em você. Porque se eu perder a confiança, Mulder, já sabe! É pra sempre!

MULDER: - Uau! Como estamos convencidas!

SCULLY: - Eu sou folgada, te disse... Ai, eu... Eu vou deitar um pouco. Minhas pernas estão doendo.

MULDER: - Quer massagem?

SCULLY: - Não. Só uns 15 minutos e já melhora. Vou tomar um banho quente e me deitar um pouquinho.

Scully sai da cozinha. Mulder olha pra Margaret.

MULDER: - Como ela está?

MARGARET: - Na primeira semana chorava direto. Aí consegui fazê-la esquecer um pouco com a coisa de arrumar o quarto do bebê. Depois ela começou a montar o laboratório no sótão para pesquisar essa vacina... Pelo menos ela tem trabalho, não se sente um fardo.

MULDER: - Não quero que ela fique nervosa. Quero que ela tenha uma gravidez tranquila. O pior já passou. Posso vir pra cá todos os dias...

MARGARET: - Vai se matar assim, Fox.

MULDER: - Ah, eu resisto.

Margaret senta-se. Olha pra ele.

MARGARET: - Obrigado.

MULDER: - Por quê? Eu que deveria estar agradecendo você por estar aqui do nosso lado, cuidando da Scully, corroborando nossa mentira e arriscando sua pele.

MARGARET: - Não, eu me sinto útil, coisa que não mais me sentia. Me faz bem ajudar vocês dois. Dana é a única filha que me resta e sinto orgulho de saber que estou fazendo parte do momento mais lindo da vida dela... Mas quero agradecer você, Fox. Por amar minha filha da forma como a ama. Nunca pensei que Dana pudesse encontrar alguém. Muito menos alguém tão bom pra ela quanto você.

MULDER: - (SORRI) Eu tento, Meg. Mas eu não faço tudo o que deveria fazer.

MARGARET: - Você faz e não sabe disso...

Mulder sorri. Levanta-se.

MULDER: - Ok, mãe. Acho melhor ir tomar um banho, fazer a barba porque a tarde vai ser cheia: hoje tem lamaze, tem médico, tem exames... E sabe Deus o que mais ela vai inventar de querer no meio da madrugada.

MARGARET: - Fox, isso é dengo de grávida. Até você chegar, ela não tinha desejos na madrugada. Quer chamar sua atenção.

MULDER: - (SORRI) Me deixe mimá-la um pouquinho. Ela merece. Já sofreu demais. Agora é a minha vez de segurar as pontas.

Mulder sai da cozinha. Margaret volta aos seus afazeres.


BLOCO 3:

11:06 A.M.

Mulder sai da banheira, enrolado numa toalha. Aproxima-se da pia. Olha-se no espelho. Passa a espuma de barbear no rosto. Fisionomia séria. Começa a fazer a barba.

Scully deitada nua na cama, dormindo. Mulder sai do banheiro e para na porta. Olha pra ela e sorri. Segura o aparelho de barbear. Cruza os braços. Recosta-se na porta e a admira num sorriso. Fala consigo mesmo.

MULDER: - Duplamente linda... Incrivelmente perfeita... Indiscutivelmente maravilhosa... (SUSPIRA) Estou num estado de graça completo... Parece que até tenho asas, porque flutuo olhando pra você, assim, grávida... Você gera vida ao seu redor por natureza... Ver você assim é como admirar a obra de algum pintor renascentista de valor incalculável... Nada abstrato com cores berrantes... Nenhuma natureza morta... Apenas vivamente iluminada como um anjo de pureza absoluta... Sem nenhuma mácula...

Mulder sorri. Entra no banheiro.

Scully abre os olhos e um sorriso.

Mulder olha-se no espelho. Continua a fazer a barba. Percebe pelo reflexo do espelho que Scully se aproxima num sorriso, vestindo um robe. Cruza os braços e escora-se na porta.

MULDER: - Hum... Só um banho e um cochilo? Cheguei a ouvir seus roncos!

SCULLY: - (SORRI/ FELIZ) Como é? 'Duplamente linda, incrivelmente perfeita, indiscutivelmente maravilhosa'? Anjo???

MULDER: - Isso não vale! Você não pode ficar ouvindo as confidências de uma pessoa pra si mesma. Que coisa feia! Me pegou no flagra.

SCULLY: - Deveria dizer mais coisas assim, Mulder. Acredite, me sinto no Monte Olympo quando as escuto.

MULDER: - Besteira! As divindades lá invejariam você. Pobre do Narciso!

Scully sorri. Mulder larga o barbeador. Senta-se na borda da banheira. Olha pra ela.

MULDER: - Você está preocupada. Eu posso sentir isso.

Scully senta-se ao lado dele.

SCULLY: - Estou. Porque eu sabia que ficaríamos longe por algumas semanas. Mas agora me preocupo com você. Mulder, você está carregando tudo nas costas.

Mulder envolve o braço nela.

MULDER: - (DEBOCHADO) E daí, você está carregando o meu filho!

SCULLY: - Mas você está cansado, Mulder! Eu pelo menos estou em casa, o dia todo. Você acha que vai conseguir passar a semana toda entre FBI e sindicato e nos finais de semana vir até aqui, escondido e ainda fazer o papel de pai e marido?

MULDER: - Quem disse que virei só nos finais de semana? Eu vou fugir pra cá na semana também! O que fizemos agora foi só pra não levantar suspeitas. Eu te disse que quando não houvesse riscos, começaria a maratona.

SCULLY: - Mulder, pelo amor de Deus! Eu me sinto culpada por isso.

MULDER: - Olha pra mim.

Scully olha pra ele.

MULDER: - Só mais quatro meses. Quatro meses passam rapidinho. E o único alívio que eu tenho é quando venho pra casa e passo a ser pai e marido. Isso me conforta. Não me faz perder mais nenhum minuto dessa gravidez.

SCULLY: - Mulder... Não mente pra mim, não tenta me animar.

MULDER: - Eu estou sendo sincero, Scully. Ambos sabíamos que não seria fácil. Até poderia ser se eu te deixasse e só viesse aqui quando nosso filho estivesse pra nascer. Mas Scully, eu não quero perder nada disso. É o nosso filho. Nosso único filho pra sempre. Da outra vez eu passei um sufoco enorme! Eu duvidava da criança, de você, eu não queria aceitar... Quando aceitei, passei sua gravidez tentando te proteger numa neurose que nem me sobrava tempo pra curtir nada. Dessa vez não. Eu não estou nenhum pouco preocupado. Estou tranquilo. E quero curtir essa barriga que tá ficando enorme, quero babar você, te mimar, te adorar... Me deixa fazer isso.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Lembra-se do que Watkins falou, que isto deveria vir por amor e não por vingança. Entendi agora. Se tivéssemos feito nosso filho por uma vingança, não estaríamos curtindo nada. Scully, eu tenho férias vencidas. Posso tirá-las. Acredite, já falei com Skinner. E ele vai resolver isso porque está com pena de mim.

SCULLY: - Mulder, não acho justo mentirmos pro Skinner.

MULDER: - Eu sei Scully. Mas aquela sala tem olhos! Não é que não confie nele, mas eu quero protegê-lo... Scully, já envolvemos Meg nessa armação toda. Quanto menos gente envolvida melhor. Porque você sabe que ao final disso a retaliação vai ser feia. Portanto, estamos mentindo sim para os nossos amigos. Mas pra salvá-los. Quanto menos souberem, melhor pra eles.

SCULLY: - Mulder, acho melhor fugirmos daqui uma semana antes dela nascer. Você tem razão.

MULDER: - 'Dela'?

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - Tudo bem, se você quer isso, minha morte já está armada. A gente foge, temos identidades falsas, vendemos isso aqui e começamos do zero. Scully, eu não tenho mais nada na vida a não ser vocês duas. Eu vou até o inferno por isso!

SCULLY: - ... Mas não quero que se acabe.

MULDER: - Não estou me acabando. Aqui é onde eu relaxo, me entende?

SCULLY: - Tem certeza?

MULDER: - Absoluta. Agora vai, me deixa fazer a barba que eu quero pendurar aquele móbile ainda de manhã. Temos médico hoje.

SCULLY: - (SORRI) ... Quatro meses... Em quatro meses tudo vai acabar.

MULDER: - Tá vendo? Agora relaxa, curte seu filho e pare de arranjar problemas na sua cabeça. Eu não pedi pra você ser apenas minha mulher e deixar que eu fosse homem pra você? O que Yoko falou? Hein? Já esqueceu? Eu não preciso da sua racionalidade científica agora. Nem do seu profissionalismo. Só da sua compreensão e isto é só essa mulher dentro de você que pode me oferecer.

SCULLY: - Tá bom. Mas me deixa terminar a barba pra você?

Scully levanta-se e pega a espuma de barbear. Coloca na palma da mão. Senta-se no colo dele. Esfrega as mãos e começa a aplicar a espuma no rosto dele.

SCULLY: - Hum... Assim, lambuzando você todinho... Não é chantili, não se empolgue.

MULDER: - (RINDO) ... Você vai ter troco, Scully... Me aguarde.

SCULLY: - Hum, você só fala, fala, fala... Quero ver depois se não vai perder o tesão por mim.

MULDER: - Perder o tesão por você? Se nem com você nesse estado eu perco o tesão, imagina depois...

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Agradeça que não podemos mais ter filhos, porque se pudéssemos... Você nunca mais ia enxergar seus pés!

Scully sai do colo dele. Mulder levanta-se. A coloca sobre a pia, num esforço. Ela abaixa a cabeça e sorri.

MULDER: - Puxa... Ou estou ficando fraco demais ou você virou um chumbo.

SCULLY: - Hum, é seu filho. Vai ser grandão como o pai.

MULDER: - Pobrezinha de você... Tem certeza de que não prefere cesariana?

SCULLY: - Não. As mulheres da família Scully são boas parideiras.

Mulder começa a rir.

SCULLY: - Para porque vou acabar te machucando... Mulder, temos um assunto sério pra conversar.

MULDER: - Eu sei... O parto.

SCULLY: - Quem está ficando neurótica sou eu, Mulder. Não confio em ninguém. Não quero perder meu filho novamente. Tenho medo de que o tirem de mim. Se eu perder essa criança, eu acho que fico louca.

MULDER: - Eu sei e nem quero arriscar. Ainda não mudei de ideia. Isso é entre eu e você. O combinado foi que Meg voltaria pra casa algum tempo antes pra não levantar suspeitas.

SCULLY: - Ela quer me ajudar nisso. Mas Mulder, eu... Eu tive um pressentimento estranho... Acho que é melhor você fazer isto. Eu sei que ela é a minha mãe, mas se por ventura algo der errado... É você quem quero ali do meu lado. Porque você pode proteger nosso filho.

MULDER: - Se algo der errado, eu tenho um plano armado. Eu te disse pra confiar em mim. Ninguém vai tirar essa criança de você.

SCULLY: - Mulder, preciso que você seja forte. Não pode vacilar. Não tem mistério, porque o maior trabalho será meu mesmo.

MULDER: - Estou lendo muita coisa sobre parto. Preciso apenas que você me ensine detalhes. Eu só tenho medo de não saber pegar o bebê.

SCULLY: - Podemos treinar com uma boneca.

MULDER: - Quero me sentir seguro pra isto. Tenho medo de errar alguma coisa.

SCULLY: - Não vai errar. Eu posso instruir você no momento.

MULDER: - (SORRI) Hum... Pelo menos vou ser um pai completo. Ajudei a colocar ele aí, vou ajudar a tirá-lo.

SCULLY: - (SORRI) Tá, fica quietinho ou vou machucar você.

Mulder ergue a cabeça.

SCULLY: - Nunca se machuca quando faz isso?

MULDER: - (DEBOCHADO) Algumas vezes quase tiro a minha pintinha.

Scully sorri. Eles olham-se nos olhos.

MULDER: - Não pode imaginar o quanto eu estou louco por você...

SCULLY: - Sério?

MULDER: - Sério...

Scully envolve a mão no pescoço dele. Ficam se olhando nos olhos. Scully segura o rosto dele com as mãos. Aproxima os lábios dos dele. Mulder coloca a mão no rosto dela. Scully coloca a língua na boca de Mulder. Eles trocam um beijo de desejo.


2:19 P.M.

Mulder e Scully sentados na sala de espera. Mulder com o braço envolvido em Scully. Scully com o olhar ao longe, brincando com um bichinho de pelúcia.

MULDER: - Sabe quem me mandou um e-mail?

SCULLY: - Quem?

MULDER: - Ivan e Joan. Nasceu um garotão, com três quilos, chamado Kevin.

SCULLY: - (SORRI) Como eles estão?

MULDER: - Estão bem. Pensando em comprar uma casa. Mas Ivan não quer me vender a Kombi.

O médico abre a porta. Um senhor velho, simpático.

DR. MANDELL: - Ora quem está aqui... A minha grávida preferida!

Scully sorri. Os dois levantam-se. O médico vem recebê-los.

DR. MANDELL: - Como tem passado Dana?

SCULLY: - Bem.

DR. MANDELL: - E o senhor?

MULDER: - Ela está melhor do que eu.

DR. MANDELL: - Com certeza. (SORRI) Homens grávidos são mais propensos a distúrbios. Venham, entrem por favor.

Mulder segura a ficha nas mãos. O médico lhe entrega um pote de comprimidos. Segura o outro na mão.

DR. MANDELL: - Vitaminas. São naturais, não há nenhum componente químico nelas. Dana deve tomá-los como complementação alimentar.

MULDER: - Certo. Mas estou preocupado com ela. Está abusando de chocolates. Fica alegando que é desejo.

DR. MANDELL: - ... Bem, não deve abusar muito. Mas não precisa evitá-los por completo. Sabe, Mulder, há muito tempo atrás, também atendi certa mãe que não era fácil de convencer a largar os chocolates. Também argumentava que era desejo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah, eu imagino!

DR. MANDELL: - E eu dizia: não precisa largar os chocolates. Mas não me convença dessa coisa de desejos. Isso é psicológico. Mas ela era muito teimosa, sabe? Então depois que nasceu aquela pequena ruivinha, com uns fiapinhos de cabelo...

Mulder olha pra Scully e sorri.

MULDER: - Ela tinha sardas?

SCULLY: - Mulder!

DR. MANDELL: - Não. (RINDO) Mas não cresceu muito... Me lembro que tinha uma pele branquinha feito gesso. Portanto, não se preocupe, Mulder. Essas coisas de desejos são normais com as mulheres da família Scully... Meg também as teve.

O médico aproxima-se de Scully que está sentada. Coloca o aparelho de pressão em seu braço.

DR. MANDELL: - Vamos medir sua pressão Dana... Mulder, pode ajudar aqui?

MULDER: - É só ficar apertando?

DR. MANDELL: - É mas pare de apertar quando eu disser.

Scully observa a barriga. O médico coloca o estetoscópio.

DR. MANDELL: - Ok, Mulder... Hum, está normal... Dana por favor, tire a roupa e coloque este roupão aqui.

Scully levanta-se. Começa a tirar a roupa. O médico retira o estetoscópio dos ouvidos e olha pra Mulder.

DR. MANDELL: - Então você é o marido da Dana... Sabe que me sinto orgulhoso por ser médico da família. Ver as gerações passando por minhas mãos...

MULDER: - Profissão que eu não tenho estômago. Odiaria ser médico... Acho que estamos ocupando muito do seu tempo...

DR. MANDELL: - Não, hoje é sábado, vocês são o último casal que atendo... E não tenho pressa de chegar em casa. Os netos só chegam depois das cinco...

Scully aproxima-se do médico.

DR. MANDELL: - Vamos ouvir o coração desse pequenino... (COLOCA O ESTETOSCÓPIO) E sua mãe, Dana, como está?

SCULLY: - Hum, Meg está bem.

DR. MANDELL: - Ainda bonita?

SCULLY: - Muito.

DR. MANDELL: - E viúva?

SCULLY: - (SORRI) Desista, Dr. Mandell. Ela não pensa mais em arranjar um marido. Alega que agora tem que curtir os netos.

DR. MANDELL: - Diga a Meg que eu continuo viúvo, curtindo meus netos também. E que uma boa companhia pra jantar não vai fazer diferença alguma. Podemos curtir os netos juntos enquanto jantamos.

Mulder sorri.

DR. MANDELL: - Hei, Mulder... Quer ouvir o coração do seu filho?

Mulder olha emocionado pro médico. O médico sorri.

DR. MANDELL: - Venha aqui. Coloque isso no ouvido. Vai ouvir direitinho...

Mulder aproxima-se. Scully olha pra ele. Mulder dá um sorriso. Scully o observa. Mulder enche os olhos de lágrimas.

MULDER: - Eu... (SORRI) Scully, estou ouvindo o coração dele! Nossa... Bate rápido... Acho que é mais um fã dos Ramones...


2:46 P.M.

Scully deitada observa o médico fazer o exame. Sorri.

SCULLY: - Esse aparelho faz cócegas na barriga.

DR. MANDELL: - Me desculpe, mas ainda estou esperando o modelo mais novo de ultra-som que encomendei... E com esse frio não deve ser muito interessante ficar com gel na barriga... Sua barriga cresceu bastante em um mês, Dana.

Mulder olha atento pra tela. Scully olha pra ele num sorriso.

MULDER: - Acho que até o bebê começou a se sentir livre pra fazer isso.

DR. MANDELL: - Sabem que crianças percebem a situação a sua volta. Me lembro do meu filho. Ainda era a época em que mulher grávida ganhava demissão da empresa, não existiam essas leis que existem hoje... Embora sabemos que nem sempre funcionam... Mas ela segurou uma gravidez até 5 meses sem mostrar a barriga. Quando ela saiu da empresa, parece que o menino estufou!

MULDER: - (SORRI) Filhos conspiram com os pais.

DR. MANDELL: - É, conspiram... Com certeza.

SCULLY: - Como o bebê está?

DR. MANDELL: - Ótimo! Estão vendo? Perfeitinho!

MULDER: - Ele está de lado?

DR. MANDELL: - Fetos se reviram muito. Mulder, pegue aqui. Faça você mesmo o exame.

Mulder desliza o aparelho sobre a barriga de Scully. Com a outra mão aponta pra tela num sorriso.

MULDER: - É o pezinho?

DR. MANDELL: - Sim.

Mulder começa a rir. Scully ri olhando pra ele, com os olhos brilhando.

MULDER: - (ORGULHOSO) Olha o tamanho do pezinho do meu filho! Não, se for menino, ele não vai conseguir jogar basquete!

DR. MANDELL: - (RINDO) Não se engane. Ele vai crescer.

SCULLY: - Então posso ficar tranquila?

DR. MANDELL: - Deve ficar tranquila. O bebezinho de vocês está ótimo. Até diria que melhor do que vocês dois. É uma gravidez normal, sem riscos. Querem saber o sexo?

SCULLY: - Não.

Mulder olha pra ela surpreso. Entrega o aparelho ao médico.

MULDER: - A curiosa Scully???

SCULLY: - Mulder, você mesmo disse que não quer saber, então não quero também. Basta ter a certeza de que está bem. Ou mudou de opinião?

MULDER: - Não mudei não. Embora a curiosidade esteja aguçada...

SCULLY: - A minha também. Por isso não olhei pra tela.

DR. MANDELL: - Podem pensar. Estraga a surpresa, mas pelo menos vocês já compram o enxoval certo.

MULDER: - Pouco adianta, ela é apressadinha. Já comprou tudo mesmo... Se você quer saber, Scully, eu saio daqui. Eu não quero.

SCULLY: - (SORRI) Nem eu. Deixa assim.

DR. MANDELL: - Ok, Dana. Vamos limpar essa bagunça de gel. E vou deixar vocês dois irem pra casa curtir o bebê.


4:18 P.M.

Mulder fecha a porta. Margaret sai da cozinha.

MARGARET: - Então?

MULDER: - Quer saber do seu neto? Ele está ótimo.

MARGARET: - Não viram o sexo?

MULDER: - Não. Melhor que seja na surpresa.

SCULLY: - Eu menti. Olhei pra tela... E como médica... (RI) Mas não conto!

Scully sobe as escadas correndo, rindo. Mulder olha incrédulo pra Margaret.

MULDER: - Tá vendo? Dá pra confiar nela?

MARGARET: - (DISFARÇANDO) Hum... Bem... E...

MULDER: - (RINDO) Eu sei o que mais quer saber, Meg. Dr. Mandell te mandou lembranças.

MARGARET: - (ENVERGONHADA) Ora Fox!

MULDER: - Tá doidinho pra jantar com você. É, Meg, você está arrasando corações.

MARGARET: - Por que ela subiu feito uma louca? Já disse pra não subir essas escadas correndo! Que menina teimosa!

MULDER: - Implicou que precisa tomar banho por causa do gel.

MARGARET: - Eu vou sair, preciso resolver algumas coisas.

Margaret pega uma sacola sobre o sofá e sai. Mulder sobe as escadas correndo.


6:23 P.M.

Mulder, de calças jeans e camiseta branca, parado no quarto do bebê. Mãos na cintura. Observa o móbile desconfiado.

MULDER: - Não... Não ficou torto não... Scully, vem aqui ver isso!

Silêncio. Mulder faz uma fisionomia de desconfiança. Sai do quarto. Entra no quarto deles. Sorri.

Corta para Scully deitada numa cadeira, cochilando, com as mãos na barriga.

MULDER: - (RINDO) Ehhhh... Que vida mansa! Nenhuma preocupação... Da próxima vez eu fico grávido.

Scully se acorda. Olha pra ele e sorri.

SCULLY: - Hum, me pegou no flagra.

MULDER: - Claro que não pode ter sono de noite. Fica cochilando o dia inteiro!

SCULLY: - Hum... Tô com preguicinha.

MULDER: - (DEBOCHADO) Se quiser sushi de novo, me avisa que já vou buscar.

SCULLY: - (SORRI) ... Vem aqui vem.

Mulder aproxima-se dela. Ajoelha-se ao lado da cadeira. Apoia a cabeça na cadeira. Com uma das mãos afaga os cabelos de Scully. Com a outra, desliza os dedos pela barriga, acariciando-a. A admira. Scully sorri.

MULDER: - Sério. Me diz o que é. A mãe nunca erra, e você já viu e eu confesso que tô curioso...

SCULLY: - Não vi não, Mulder. Mas eu acho que é uma menina. Sempre achei. Só pintei o quarto de amarelo por via das dúvidas.

MULDER: - (SORRI)... Sabe que fico feliz. Sempre achei que você merecia uma filha. Uma companheira. Afinal, seu sonho sempre foi ser mãe. Nada mais justo. Me lembro da sua relação com Emily... Você estava tão feliz por aquela menina... Você enchia a boca pra dizer minha filha... Nada mais justo que o destino lhe desse uma garotinha. Uma companheira. Meninas são mais amáveis, companheiras...

SCULLY: - E você? Já pensou que será nossa única filha? E você não vai ter um garoto pra ser seu companheiro.

MULDER: - Ah, tudo bem. Eu a ensino a jogar basquete. Quem sabe ela será campeã da liga feminina? Coração forte ela tem.

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - Eu não canso de admirar... Olhar pra vida que está dentro de você. Uma vida tão frágil, que depende de nós dois. Do seu corpo e da minha proteção... (SORRI) Nessas horas eu tenho a certeza de que isto é o certo. Tudo isso é por amor. Sacrificamos a nós mesmos por amor a ela.

SCULLY: - Preço alto pra se ter um filho... Mas muito pouco quando eu o sinto se mexer. Então me conforto, sabendo que toda essa mentira que armamos é apenas em defesa de uma vida.

MULDER: - Muitas vidas, Scully... Afinal, só nosso bebê vai poder nos dar uma vacina que aniquile com o vírus... Sabe... Tem umas coisas que me vêm à cabeça... Não vai rir?

SCULLY: - Claro que não.

MULDER: - Fico pensando algumas vezes... Eu sou homem, eu não sinto a emoção que você sente de ter uma vida dentro de você. Mas eu sinto algo diferente desde que você ficou grávida.

SCULLY: - (SORRI/ CURIOSA) Sente? O que você sente?

MULDER: - Paz. É estranho, mas perto de você ou longe de você... Me basta lembrar dela que eu sinto paz... É como se estivéssemos ligados, sabe? Talvez por um cordão umbilical invisível.

SCULLY: - Eu sabia que você viria. Você não me deu certeza, mas eu sabia.

MULDER: - Como sabia?

SCULLY: - Ela me disse. Passou o dia agitada. Era como se pulasse dentro de mim dizendo: mamãe, papai está chegando.

Mulder enche os olhos de lágrimas.

MULDER: - Ela sabe quem eu sou?

SCULLY: - Claro que sabe, Mulder. Ela adora quando você me toca, sua voz, seu cheiro, ela sente sua presença... Bebês pressentem as coisas, escutam tudo. Sabe, eu... Eu sei que você está querendo me preservar, me escondendo coisas. Mas machucaram você.

MULDER: - Não, eles não me tocaram...

SCULLY: - (TRISTE) Tocaram sim, Mulder. Posso te dizer o dia e a hora. Foi um dia depois de eu ter ido, durante à tarde.

Mulder olha pra ela assustado.

SCULLY: - Entrei em pânico. Ela se agitava dentro de mim. Minha gengiva começou a sangrar do nada e eu sentia dores de dente indescritíveis. Uma tristeza se abateu vinda de dentro de mim, assim, do nada... E um sentimento estranho de ódio.

MULDER: - ... (ASSUSTADO)

SCULLY: - Portanto, não minta. O radarzinho aqui dentro de mim me diz tudo o que você sente. No meio da noite me diz que você está triste. Algumas vezes me diz que você está em perigo. Em outras cochila tranquila, me dizendo que tudo está bem.

MULDER: - ... (LAGRIMAS) E como ela está hoje?

SCULLY: - Tranquila. Desde ontem. É como se a sua presença aqui indicasse descanso. Ela nos tem juntos, entende? Sabe que aqui o pai dela não corre perigo.

Mulder sorri. Scully começa a cantarolar, acariciando a barriga.

SCULLY: - ... You are my sunshine, my only sunshine...

(Você é meu raio de sol, meu único raio de sol)

Mulder começa a cantar com ela, alisando sua barriga.

SCULLY & MULDER: - You make me happy when skies are gray... You'll never know, dear, how much we love you... Please don't take my sunshine away...

(Você me faz feliz quando o céu está nublado. Você nunca saberá, querida, o quanto eu te amo. Por favor, não leve meu raio de sol para longe.)

Os dois começam a rir.

MULDER: - Acho melhor não viciar ela em cantigas pra ninar.

SCULLY: - Já está viciada.

MULDER: - Puxa vida, estamos acostumando mal essa criança!

Os dois riem. Scully se levanta.

SCULLY: - Você, Mulder! Você acostuma mal! Afaste-se da minha barriga. Está corrompendo nosso bebê! Vamos, levanta daí.

Mulder arrasta-se de joelhos até ela. Beija-lhe a barriga. Scully começa a rir.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que é?

SCULLY: - (SORRI) Eu amo você.

Mulder levanta-se. Olha nos olhos dela.

MULDER: - Só quero te ouvir dizer uma coisa: que está tranquila assim como eu estou.

SCULLY: - Eu estou tranquila. Nas nuvens. Em paz. Feliz. Rindo de boba.

Os dois se abraçam. Mulder beija-lhe a testa. Scully apoia o rosto no peito dele. Mulder empurra o bumbum pra trás. Scully começa a rir.

MULDER: - (DEBOCHADO) É Scully... Está ficando difícil fazer isso. Acho que tem alguém entre nós dois...


BLOCO 4:

7:34 P.M.

Scully de costas pra Mulder, camisa aberta. Mulder abraçado nela, com as mãos em sua barriga. Os dois fazendo careta. Mulder começa a rir.

SCULLY: - Para!

MULDER: - Não dá pra evitar! Exercícios de respiração incluem caretas?

SCULLY: - Sim!

MULDER: - Meu Deus... Agora sim eu justifiquei meu apelido de estranho. Parecemos dois alienígenas aqui!

SCULLY: - (RINDO) Para Mulder!!!

MULDER: - Ah eu não quero mais fazer isso! Deita ali.

SCULLY: - Pra quê?

MULDER: - Eu te ajudo a fazer isso, mas deitado! Tô com dor nas costas.

Scully se deita de costas na cama. Começa a praticar os exercícios de respiração. Mulder olha pra ela rindo. Deita-se ao lado dela e coloca a mão sobre sua barriga.

MULDER: - Você tá uma gracinha, sabia?

SCULLY: - (RINDO) Para!

MULDER: - Ah, Scully... Olha pra mim! Minha mãe nunca ficou fazendo beicinho e respirando pela boca e eu estou vivo aqui, muito bem de saúde! Você parece meu peixe, a Molly 3!

Ela começa a rir. Ergue-se tirando a camisa. Deita-se novamente.

SCULLY: - Mas facilita o parto. Cria um autocontrole...

MULDER: - Ah que baboseira! Faz isso na hora do parto.

SCULLY: - E você é tão criativo pra dar nome aos peixes!

MULDER: - Ah deixa a Molly 3 em paz! Quer saber? Posso dizer uma coisa?

SCULLY: - Diga.

MULDER: - Vou te mostrar o que é bom pra mulher grávida, pra facilitar o parto, a gestação e tudo o mais. Deixa a criança tranquila e feliz.

Ele tira a camisa. Scully começa a rir.

MULDER: - Não, não é o que está pensando, sua tarada.

Mulder deita-se com a cabeça na barriga de Scully. Ela inclina o pescoço para trás. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Carinho. Ela precisa é de carinho, não de lamaze e sabe o que mais essa gente fica inventando. Olha os índios! Ninguém fazia essas palhaçadas e as crianças nasciam fortes e saudáveis. Aliás, mais fortes e saudáveis do que nascem hoje.

SCULLY: - Como você é espertalhão, Mulder. Agora sabe do que um bebê precisa?

MULDER: - Sei. Meu filho precisa de amor, de carinho e de tranquilidade. Não de beiço de peixe.

SCULLY: - (RINDO) Não mesmo. Mulder, tem outras coisas e ... ai!

MULDER: - (ERGUE A CABEÇA/ CURIOSO) O que foi?

SCULLY: - Me chutou.

MULDER: - Bem feito! Pinguinho não tá gostando dessa coisa de beiço de peixe! A gente tem tão pouco tempo pra ficar juntos, curtindo e vem você com exercício de respiração? Minha filha não vai te dar trabalho. Eu sei disso. Ela me prometeu.

SCULLY: - Quer saber?

MULDER: - Hum?

SCULLY: - (REVOLTADA) Odeio esses exercícios! Prefiro fazer estes aqui, pra controlar a respiração.

Scully o agarra devorando os lábios dele. Mulder arregala os olhos. Scully o solta. Mulder olha pra ela debochado.

MULDER: - É, pode ser que facilite a respiração pra você, mas me deixou com falta de ar... Mas tudo bem, eu prefiro estes também.

Mulder levanta-se. Senta-se atrás dela. Scully reclina-se contra ele. Mulder envolve as mãos em sua barriga.

MULDER: - Vou te mostrar do que minha filha gosta.

SCULLY: - Hum... O que ela gosta?

MULDER: - A Scullyzinha gosta de carinho do papai. E de historinhas...

SCULLY: - (RINDO) Não, Mulder!

MULDER: - Ao invés de ficar aí perdendo tempo com essas palhaçadas deveria conversar com ela...

SCULLY: - Mas eu converso com ela. Conversamos as duas a noite toda... Eu falo e ela me responde...

MULDER: - (SORRI) Ei, filhinha, você gosta disso não é? Como está aí dentro? Tô doidinho pra ter você nos meus braços aqui fora. Não é um mundo muito justo, sabe? Mas viver é bom. Você vai adorar ver borboletas e passarinhos. O sol pela manhã batendo na janela do quarto...

SCULLY: - (FECHA OS OLHOS SORRINDO) O cheiro da grama em dias chuvosos... As flores coloridas... O vento e o farfalhar das folhas no outono...

MULDER: - E vai amar olhar pra cara da sua mãe imitando peixe.

SCULLY: - (RINDO) Mulder! Filha, você vai adorar a cara de pânico do seu pai. Ele espalha farelos pela casa, não sabe cozinhar, acorda sempre esbarrando nos móveis, come sementes de girassol feito um papagaio... E o nariz dele é enorme!

MULDER: - (RINDO) Ah é assim? Filha, sua mãe é louca. Completamente louca. Ela pode estar vendo uma coisa na frente dela, mas ela insiste que não vê. Teimosa feito uma mula. E outra coisa: ela é baixinha e invocada.

SCULLY: - E seu pai, filha? Ele é maluco! Ele vê uma coisa e sai achando que é o que viu. Teimoso feito um bode!

Batidas na porta.

SCULLY: - Entra!!!

Margaret entra no quarto.

MARGARET: - Estou atrapalhando alguma coisa?

MULDER: - Graças à Deus está. Não aguento mais esses exercícios de imitar peixe! Peixe de dia e de noite! Quando não imita peixe me faz sair correndo na madrugada atrás de um!

Margaret começa a rir. Mulder levanta-se da cama.

MULDER: - Meg você imitava peixe quando estava grávida?

MARGARET: - Nunca.

MULDER: - E isso fez o parto ficar mais difícil?

MARGARET: - Não tive partos difíceis. O Bill foi o que demorou mais. Dana por exemplo só me deu contrações e quando cheguei ao hospital ela nasceu. Missy quase que nasce no meio do caminho. Charles também.

MULDER: - Tá vendo? Escute sua mãe.

Mulder olha pra parede.

MULDER: - Ei. Cadê o quadro da Yoko?

SCULLY: - Tirei.

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - Ora Mulder... Mamãe está aqui e...

MARGARET: - Por acaso é aquele quadro que está escondido na lavanderia?

Scully fica vermelha.

MULDER: - (INCRÉDULO) Você colocou um quadro nosso, feito por Yoko Ono na lavanderia?

SCULLY: - Mãe, você não viu aquela foto... Diz que não...

MARGARET: - Eu vi. Bonito. (PENSATIVA) Por que nunca tive a ideia de fazer isso com seu pai?

Mulder começa a rir.

MULDER: - Grande Meg! Acho que você é minha mãe. Scully combina mais com a velha Teena.

Scully levanta-se fazendo beiço e veste um robe. Mulder olha debochado pra ela.

MULDER: - Beiço de novo? Já vai começar a imitar peixe?

SCULLY: - Não me provoque, Mulder.

MARGARET: - Bem... Eu vim aqui chamá-los pra jantar. Tem mousse pra você Fox.

MULDER: - Oba!

SCULLY: - (MAGOADA) E eu?

MARGARET: - Fiz um de chocolate pra você. Não pode comer coisas cítricas demais.

SCULLY: - (BEIÇO)

MARGARET: - E pode fazer o beiço que quiser. Eu sou sua mãe. Tive quatro filhos e sei do que estou falando. Você está muito mimada.

SCULLY: - Ai mãe... Até parece que eu sou a sua nora. (BEIÇO) Você faz todas as vontades do Mulder e não faz as minhas.

MARGARET: - Vamos Dana. Hora de legumes e verduras pra você. E chega de beiço de peixe. Hora de alimentar minha neta.

Mulder abaixa a cabeça rindo. Scully atira um travesseiro nele.

MULDER: - Au!

SCULLY: - Mas mãe... Não estou com fome...

MARGARET: - Está sim. E vou fiscalizar cada garfada que você der. Hoje não tem 'ai, não estou com fome'. Mas espaço pro chocolate você encontra. Vamos, chispe pra cozinha. Ou vou ter que pegar o chinelo.

MULDER: - Uhu!

MARGARET: - E você também Fox. Se não comer pelo menos dois pratos de comida, eu juro que vou colocar os dois de castigo. Crianças crescidas...

MULDER: - Hum... Acho melhor jantarmos. Mamãe tá brava. E eu não quero ficar sem televisão.

SCULLY: - (RINDO) Nem eu!


10:39 P.M.

Mulder de óculos deitado na cama, lendo um livro sobre parto. Scully sentada ao lado dele, comendo mousse e lendo uma revista.

SCULLY: - (LENDO) Escute isso: Durante o período de gravidez, a gestante produzirá tanto estrogênio quanto uma mulher não grávida poderia produzir em 150 anos. Um dos efeitos do crescimento dos níveis de estrogênio durante a gravidez é o aumento do fluxo de sangue, especialmente na área pélvica. Este fator, que normalmente ocorre somente durante o excitamento sexual, torna os terminais nervosos sensoriais supersensíveis, resultando em rápida excitação.

Mulder larga o livro e olha pra ela.

SCULLY: - (LENDO) A mulher, desta forma, pode passar a achar o sexo bem mais excitante e satisfatório que antes de engravidar. Esta sexualidade acentuada é principalmente consequência dos altos níveis de hormônios. Isso te convence?

MULDER: - É que eu tenho medo de machucar você. Ainda mais agora...

SCULLY: - (LENDO) A mulher pode fazer amor sempre que quiser, desde que não seja com muito rigor e que não haja razões médicas para se privar dele. Sexo na gravidez é muito prazeroso e ajuda a prepará-la para o nascimento do bebê, mantendo os músculos pélvicos fortes e flexíveis. Durante a relação sexual, o feto fica muito bem protegido pelo líquido amniótico, pela placenta e por uma mucosa que fecha o colo do útero. Não existe qualquer perigo de machucar o bebê.

Scully fecha a revista. Olha pra ele.

SCULLY: - Então? Agora se convenceu de que não há riscos de se fazer sexo numa gravidez normal?

MULDER: - Tem certeza?

SCULLY: - Mulder, Mulder... É de admirar tanta preocupação com seu filho. Mas e comigo? Hum? Vamos fazer assim: nada de exercício de peixe... (SORRISO SACANA) Mas em compensação preciso treinar minha musculatura pélvica... Aposto que este era o segredo das índias!

Mulder olha pra ela debochado.

MULDER: - Scully... Você é uma menina muito má, sabia?


9:22 A.M.

Mulder dentro da banheira. Scully entre as pernas dele. A espuma cai pra fora da banheira. Scully brinca com a esponja. Mulder fica brincando com as mãos na barriga dela, tentando afastar a espuma.

MULDER: - O que parece?

SCULLY: - Hum... (RINDO) Uma ilha!

MULDER: - (SORRI) Cercada pelo mar...

Mulder beija-a no rosto.

MULDER: - Você tá muito bonitinha com essa barriga enorme, sabia?

SCULLY: - Mulder... Precisamos pensar num nome.

MULDER: - É... Mas como você disse eu sou péssimo pra nomes. Você escolhe.

SCULLY: - Não, não é justo! Você também tem parte nisso.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sério?

SCULLY: - Seu bobo! ... Hum... Se for menina?

MULDER: - (DEBOCHADO) Mary Lou, Bob Joe, Sarah Lee?

SCULLY: - (RINDO) ... Deus! Isso é horrível!

MULDER: - (RINDO) Não sendo Samantha qualquer coisa é lucro.

SCULLY: - E se for menino? Hum?

MULDER: - (SUSPIRA) Contanto que você não o batize de Fox ou Willian, nomes desgraçados e completamente azarados. Sou supersticioso.

SCULLY: - Por que acha que eu faria isso?

MULDER: - Porque mulheres têm mania de fazer homenagens aos pais e é por isso que tem tanto Bill, Will, Junior, Paul e John e sei lá mais o quê! ... Scully... Não me interprete mal, ok? É nosso único filho. Fox é a sigla de uma experiência. Willian o nome de um pai que não tive. Um cara que me traiu a vida toda. Que ajudou aqueles desgraçados. Que me abandonou... Porque se ele me amasse quando tivesse se divorciado, teria ficado comigo. Mas não. Ele não ficou. E não foi pela minha mãe que ele fez isso.

SCULLY: - ...

MULDER: - Se fizer isso vai me soar como um desaforo da sua parte. Porque você me conhece e sabe que eu não ficaria feliz com isso. Enaltecer meu nome no meu filho não seria homenagem. Seria como me dar de bandeja a minha culpa. E nós sabemos que encerramos a desgraça. Não a traga novamente. Isso seria uma brincadeira de muito mau gosto comigo. Completamente incoerente com tudo o que passamos.

SCULLY: - Olha pra mim.

Eles olham-se nos olhos.

SCULLY: - Mulder, eu tenho consciência com você, ok? Sou eu! Lembra? Dana Scully! E eu sei que você odeia seu nome! Sei que seus pais eram uns canalhas... Eu nunca o colocaria no seu filho.

MULDER: - Ufa! Olha, Scully... Bryan até é pensável.

Scully começa a rir. O beija.

SCULLY: - Mulder... Outro assunto polêmico: batismo.

MULDER: - Sem problemas, faça isso na sua tradição religiosa. Caso seja um garoto, ele vai até nos agradecer por isso. Circuncisão é crime!

SCULLY: - (RINDO) Ok... E padrinhos?

MULDER: - ... Não sei.

SCULLY: -Eu tenho uma pessoa especial para madrinha. Mas eu queria que você escolhesse o padrinho.

MULDER: - Penso no Girafão... Se ele nos perdoar depois de tudo isso... Estamos ocultando e mentindo pra ele... Mas Skinner merece levar o título. No final das contas essa brincadeira entre nós começou por culpa dele! Ele que arque com as consequências.

SCULLY: -(RINDO) Verdade! Skinner merece.

Mulder apoia o queixo no ombro dela. Fecha os olhos, num suspiro. Scully recosta-se mais contra ele. Fecha os olhos, num sorriso.


8:24 P.M.

[Som: Simple Red - For Your Babies]

A chuva cai lá fora. A música tocando.

Mulder sentado na cama. Scully entre as pernas dele. Mulder passa suavemente o creme pela barriga de Scully. Scully o ajuda.

MULDER: - Sabe de uma coisa?

SCULLY: - O quê?

MULDER: - Estou adorando brincar de casinha. Nem quero pensar que amanhã o inferno começa e com ele, a representação teatral do pobre Mulder sofredor. Acho que vou trocar de profissão e vou virar ator ao final disso. Mas...

MULDER: - (CANTANDO) Anyway the four winds that blow... They're gonna send me sailing home to you... Or I'll fly with the force of a rainbow... The dream of gold will be waiting in your eyes...

(Não importa a direção que os quatro ventos soprem, eles vão me levar navegando para casa, para você. Ou eu voarei com a força de um arco-íris. O sonho de ouro estará esperando em seus olhos)

SCULLY: - Vem aqui, Mulder. Me deixa aliviar esse fardo.

Mulder sorri com meiguice. Deita-se ao lado dela. Scully o envolve nos braços. Mulder olha para ela. Coloca uma das mãos no rosto dela. Scully olha pra ele. Mulder faz expressões com o rosto como se estivesse cantando com o pensamento.


Her faith is amazing... The pain that she goes through contained in the hope for you... Your whole world has changed... The years spent before seem more cloudy than blue...

(A fé dela é impressionante, a dor que ela suporta, contida na esperança por você. Seu mundo todo mudou, os anos anteriores parecem mais nebulosos que tristes...)


Scully sorri.

In many ways your baby's controlling... When you haven't laid down for days... For the poor no time to be thinking... They're too busy finding ways...

(De diversas formas o seu filho está no controle, quando que você está há dias sem descanso. Para os pobres não há tempo para ficar pensando. Eles estão ocupados demais encontrando caminhos...)


MULDER: - (CANTANDO) You know I'd do most anything you want... Hey I, I try to give you everything you need... I can see that it gets to you...

(Você sabe que eu faria quase qualquer coisa que você quisesse, ei, eu, eu tento te dar tudo o que você precisa. Eu vejo que isso te impressiona...)

SCULLY: - I don't believe in many things but in you... I do...

(Eu não acredito em muitas coisas, mas em você, eu acredito)

Scully deita-se na cama. Olha pra ele.

Mulder sorri. A abraça com força. A cala num beijo profundo. Os dois olham-se nos olhos. Sorriem.


8:45 P.M.

Ainda na cama, Mulder pega uma revista. Começa a ler. Scully fecha os olhos recostada nele.

MULDER: - ... Scully, posso perguntar uma coisa?

SCULLY: - Claro.

MULDER: - Você, assim, grávida, nunca sentiu por mim uma certa aversão?

Scully olha pra ele.

SCULLY: - Aversão? Mulder, quanto mais pertinho você fica, mais eu gosto! Por que a pergunta? O que está lendo?

MULDER: -Sobre gravidez. Algumas mulheres ficam com aversão ao marido.

SCULLY: - (SUSPIRA NUM SORRISO) Não é o meu caso. Pra dizer a verdade, é bem o oposto. Você que tá fugindo de mim, com medo de machucar nosso filho, enquanto eu tô me sentindo num fogo só!

MULDER: -Cruzes, mulher! Se antes era um incêndio, imagina então agora. Eu tô com medo de não dar conta do recado, acredite!

SCULLY: - (RINDO) Ah você dá conta.

MULDER: - Aqui. Uma matéria sobre a interação dos pais com os bebês... Ah! Eu sabia! Esqueça o beiço de peixe. Ela precisa é de palavras e de amor.

Scully fecha os olhos, se aconchegando nele. Afaga a barriga com carinho.

SCULLY: - Ela sabe que tem amor. Que é desejada. Que tem uma mãe que largou sua carreira por ela. E um pai que não dorme para protegê-la. Sabe Mulder... Eu falo tantas coisas pra ela. E sempre pergunto: Você me ama? Você não vai embora? Eu não sei dos mistérios da vida, não sei se acredito que você seja o filho que perdi voltando pra casa. A ideia é bonita, mas eu não acredito em reencarnação.

MULDER: - E o que ela diz?

SCULLY: - ... (SORRI) Ela se mexe.

Mulder sorri. Larga a revista. Apaga a luz. Deita-se. Scully vira-se.

Mulder beija-a no rosto. Envolve o braço nela, colocando a mão sobre sua barriga. Eles fecham os olhos.


9:31 P.M.

A luz suave do poste, que entra pela janela, ilumina a barriga de Scully.

Close na mão de Mulder sobre sua barriga. Scully, dormindo, coloca sua mão sobre a mão de Mulder.

Lentamente entra no foco, a pequena mãozinha iluminada que pousa sobre a mão de Scully.


X


05/06/2001

Aug. 20, 2019, 3:24 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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