lara-one Lara One

STORY LINE: Por vários anos, ele tentou provar a verdade e sempre usou do bom senso. Hoje, ele sabe demais. Sabe a verdade. Sabe que não passa de um híbrido, de um bode expiatório, agora sem utilidade alguma, que deve ser eliminado. Já sofreu muito nas mãos do inimigo. Foi torturado por homens e alienígenas. Por vezes, quase viu sua parceira morrer. Viu seu filho ser levado covardemente, sem poder reagir. Ele sabe que quem estiver a seu lado corre perigo. Mas agora, Mulder quer vingança. Ele não tem mais nada a perder. Ele agora sabe que foi uma experiência. Mas o que só Mulder sabe e o inimigo não, é que algumas vezes, a experiência pode não dar o resultado previsto...


Fanfiction Series/Doramas/Soap Operas For over 18 only.

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S04#27 - BLOOD

"... Depois amarrou Isaac e o colocou no altar, em cima da lenha. Em seguida pegou a faca para matá-lo. Mas nesse instante, lá do céu, o Anjo do Deus Eterno o chamou (...) Porque você fez isso e não me negou seu filho, o seu único filho, eu juro pelo meu próprio nome – diz o Deus Eterno – que abençoarei você ricamente. Farei que os seus descendentes sejam tão numerosos como as estrelas do céu ou os grãos de areia da praia do mar; e eles vencerão os inimigos. Todas as nações do mundo serão abençoadas por meio dos seus descendentes, pois você fez o que eu mandei."

Gênesis 22.9-11, 16.1



INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

[Som: Better Than Ezra – One More Murder (CD X-Files The Album)]

[Fade out (tela escura abrindo-se)]

Estrada Secundária 114 - Utah – 11:14 P.M.

Mulder abaixa a faca lentamente. O reflexo do luar na lâmina deixa entrever o sangue que dela escorre e cria uma pequena poça no chão.

Sua mão começa a grudar no cabo da faca. Isso lhe causa enjoo e ele solta a faca, sem desviar o olhar do corpo que ele acabara de destruir.

O barulho da faca ao cair no chão o retira de seu estado de estupor e ele deixa escapar o ar que não sabia estar prendendo em seus pulmões. Respira profundamente, quase saboreando a noite fria, como se ela, agora,tivesse um sabor especial. O sabor da morte.

Mulder não sente remorso pelo que fez. Ao contrário, combate um desejo cadavez mais intenso de matar ainda mais o homem que jaz sem vida no asfaltomolhado, sustentando um crachá do FBI no peito. Mas ele não pode fazer isso, não mais do que já fez.

Sua vingança havia se consumado completamente, e seu ódio havia encontradouma via de fuga através da lâmina afiada, que, enfim, rasgou a carne,perfurou os órgãos internos, interrompendo os caminhos tão conhecidos dosangue no corpo daquele homem.

O sangue, antes fonte de vida, agora não passa de sujeira no chão, na faca e nas roupas e mãos de Mulder.

Não há mais nada a fazer ali. Precisa deixar aquele local o mais rápidopossível. Apesar da escuridão protegê-lo, escondendo seus atos, ele sesente vulnerável. A noite não pode esconder seu ódio. O ódio que ele queria, de certa forma, esconder de si mesmo.

Esse sentimento que, apesar de não lhe ser desconhecido, jamais havia sidotão bem expresso.

Mulder percebe que, finalmente, encontrou uma maneira de aplacar seu ódio.Deixa escapar um sorriso ao pensar nisso. Seu ódio não pode ser aplacado. Nada dará fim a esse sentimento.

Antes ele havia lutado contra isso, mas agora, tendo sido derramado oprimeiro sangue, tão vermelho quanto sua ira, Mulder aceita seussentimentos. E seu destino.

A ele já não importa a suposta amoralidade de suas ações. Eles odestruíram, roubando aos poucos, pequenos pedaços de sua alma e humanidade. E ele havia visto todo o processo de mutilação. Havia sido testemunha, alémde vítima de seu próprio terror.

E o pior, havia também sido testemunha impotente da dor de Scully. Que o matassem, o mutilassem, mas jamais a tocassem novamente. Ele não permitiria mais tamanha afronta. Havia deixado que eles agissem, e com isso havia perdido um bem precioso.

Mulder não está mais disposto a perder. Agora é o momento de pegar devolta, a qualquer custo, o que lhe foi roubado.

Com um último olhar para o corpo desfigurado, Mulder se vira. A fraca luz da noite ilumina seu rosto, estranhamente sereno. O rosto de quem acaba de encontrar o caminho da paz.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

48 HORAS ANTES...

Residência dos Eninger – Tooele – Utah - 4:19 P.M.

Scully sai da casa. A mulher a acompanha até o carro. Bobs na cabeça, avental, uma típica dona de casa. Aparência nervosa.

SRA. ENINGER: - Então...

SCULLY: - Senhora Eninger, lamento muito, mas este não é um assunto da competência do FBI.

SRA. ENINGER: - Mas eu pensei que... Tem certeza?

Scully olha pra ela. Desvia sua atenção para as crianças brincando no jardim. Olha para a mulher.

SCULLY: - Poderia afastá-las do jardim?

A mulher vira-se e grita:

SRA. ENINGER: - Ei, crianças! Quero todos dentro de casa e agora!

MENINA: - Mas mãe...

SRA. ENINGER: - Já pra dentro! (SORRI) Sabe como são as crianças...

As crianças entram emburradas. Scully olha pra ela, com um sorriso.

SRA. ENINGER: - Bom, se diz isto... Afinal, eu sou só uma dona de casa... A senhora é uma cientista.

SCULLY: - Não precisa se preocupar com isto.

SRA. ENINGER: - Bem... Se eu tivesse estudado mais e não fosse apenas dona de casa (RI DE SI MESMA) ... Com certeza eu não teria feito este equívoco...

SCULLY: - (RINDO DE SI MESMA) Acredite, ser dona de casa é o sonho de muita mulher cientista.

Um caminhão de dedetização encosta à frente do carro de Scully. Scully olha pro caminhão. Olha pra mulher aflita, que amassa o avental com as mãos.

SCULLY: - Eles resolverão seu problema.

SRA. ENINGER: - (DESCONFIADA) Mas não acha realmente estranho que as formigas estejam agredindo as pessoas?

SCULLY: - Não houve relatos de formigas agredindo pessoas. Senhora Eninger, os pesquisadores americanos demonstraram que as formigas lava-pés apresentam atração pelo campo elétrico, o que explica os constantes ataques a aparelhos eletrodomésticos. Embora estes estudos tenham sido realizados em cabines de alta tensão, tal fato também ocorre em locais com baixa corrente elétrica, como, por exemplo, em semáforos, causando problemas no trânsito.

SRA. ENINGER: - Mas e o velho toca-disco do meu marido?

SCULLY: - As formigas carpinteiras têm causado sérios danos a aparelhos de som. Invadem a caixa e constroem ninhos sobre o motor do disco ou na região de controle do braço que contém a agulha. Além de aumentarem a umidade, liberam secreções, dentre elas, o ácido fórmico, e acabam, rapidamente, inutilizando o equipamento. Invadem, ainda, videocassetes, geladeiras, televisores, fornos de microondas, pequenas centrais telefônicas, aparelhos telefônicos, microcomputadores e máquinas de lavar roupas.

SRA. ENINGER: - É, eu achei um ninho delas na máquina ontem...

SCULLY: - Relaxe, não há nada de anormal. Fatores climáticos também afetam estes insetos. Talvez explique o porquê desta 'invasão' de formigas.

SRA. ENINGER: - Desculpe tê-la incomodado. Mas fiquei preocupada... E me lembrei do nome do seu parceiro numa revista chamada Mistérios do Desconhecido e achei que vocês poderiam me ajudar.

SCULLY: - Mantenha doces guardados na geladeira e não deixe as crianças no jardim. O ninho está lá.

Scully entra no carro. A mulher ajeita os bobs na cabeça. Os dedetizadores descem do caminhão. Ela aponta para o jardim.

SRA. ENINGER: - Por ali, e é um ninho grande!


Apartamento de Mulder – 7:49 P.M.

Câmera de aproximação pelo banheiro. A banheira cheia de água. Mulder emerge, puxando os cabelos pra trás. Pega a toalha e sai enrolado. Sobe na balança. Olha pra baixo. Sorri.

[Som da porta de entrada batendo]

Scully entra no banheiro. Mulder desce da balança.

MULDER: - Perdi 5 quilos.

SCULLY (OFF): - ... Siga a minha dieta, precisa de vitaminas.

MULDER: - O que havia por lá?

SCULLY: - Besteira. Apenas besteira. As formigas não estavam agredindo a população de Utah, Mulder. Era um caso isolado e nada que um bom exterminador de formigas não resolva. E acho que não somos exterminadores de formigas.

Mulder enxuga os cabelos.

SCULLY: - Melhorou?

MULDER: - Nada que a água não resolva... Gostaria de ter ido com você. Mas eles tinham que me mandar pra aquele caos.

SCULLY: - Ouvi pelo rádio. Mataram o sequestrador.

MULDER: - (INDIGNADO) Scully, ele era outro Duane Barry! Só queria que acreditassem nele. E sabe do que mais? Ele disse que as formigas estavam invadindo a casa dele. Não acha estranho?

SCULLY (OFF): - Alguma teoria?

Mulder olha pra cima. Olha pra ela. Aproxima-se de seu ouvido.

MULDER: - (COCHICHA) A velha teoria, Scully. A que você sabe. Elas estão reagindo a alguma coisa que está as perturbando. E você sabe do que falo.

O celular de Scully toca. Ela atende.

SCULLY: - Scully... Sim, senhor. Estamos indo.

Scully desliga.

SCULLY: - Skinner.

MULDER: - (INCRÉDULO) Agora?

SCULLY: - Urgente. Não me parece coisa boa.

MULDER: - Vai ver há formigas nas calças dele.

Ela dá um sorriso.

SCULLY: - Coloque a roupa Mulder, antes que eu acabe perdendo meu juízo e seja desobediente ao chefe.

Scully sai do banheiro. Mulder vai pra frente do espelho. Observa-se. Passa a mão no rosto bem mais magro. Respira fundo. Apoia-se no balcão. Fica cabisbaixo.


FBI - Gabinete do Diretor-Assistente – 9:40 P.M.

Krauft, o homem de olhar rude e frio levanta-se do sofá, encarando Mulder. Ostenta no peito um crachá do FBI. Skinner de pé ao lado de Mulder, sente-se constrangido. Kersh olha pra Mulder como se visse um louco. Krauft, rispidamente, ergue o dedo apontando pro rosto de Mulder.

KRAUFT: - (GRITA) Doze horas. Marque bem no seu cronômetro. Em menos de doze horas estará assinando seus papéis de demissão. E sabe bem qual o motivo.

MULDER: - (IRRITADO) Eu não podia negociar com ele da maneira como vocês sugeriram! Ele tinha uma bomba! Ele era um sujeito perturbado, com sérios distúrbios mentais, causados pelas vozes que escutava e pelas formigas que...

Kersh abaixa a cabeça, disfarçando o riso. Mulder olha pra ele como se o fuzilasse com os olhos.

KRAUFT: - (GRITA) Eu não quero saber da sua opinião, agente Mulder. Contrariou ordens do FBI e procedimentos de conduta!

MULDER: - (GRITA) Se eu tivesse feito isto antes, nem Duane Barry tinha morrido e eu teria a prova nas minhas mãos!

KRAUFT: - (GRITA) Prova? Dos seus malditos homens verdes? Esta é a última vez que você colocou o nome da nossa instituição em jogo. Por sua loucura, quase 20 pessoas morreram nas mãos de um sequestrador maníaco.

Mulder esmurra a mesa. Olha com indignação.

MULDER: - (GRITA) Por minha loucura elas conseguiram sair vivas daquele lugar, diretor!

Skinner percebe que Mulder está se alterando. Toca no ombro de Mulder.

SKINNER: - Mulder...

Mulder solta-se de Skinner e sai porta à fora, enfurecido. Passa por Scully, que está sentada na recepção.

SCULLY: - Mulder...

Ele vira-se pra ela e aponta com o dedo em riste.

MULDER: - (IRRITADO/ AOS GRITOS) Eles querem sua versão! A sua maldita versão científica! Mesmo que eu seja o expert em comportamento psicológico, eles querem a sua versão como médica legista pra um caso onde não há mortos!

Ele sai furioso, batendo a porta. Scully abaixa a cabeça, constrangida, magoada. Mulder vai pro corredor. Coloca as duas mãos na cabeça, numa fisionomia de quem sente alguma dor.


12:11 A.M.

Mulder sai do elevador, caminhando em direção a sala de Skinner. Cabisbaixo, mãos no bolso. Krauft sai da sala de Skinner. Passa por ele sem olha-lo. Mulder ergue a cabeça e o acompanha com os olhos.

Neste instante Mulder fecha os olhos. Um caleidoscópio de cores vivas e intensas passa por seu cérebro, misturado a sons de vozes desconhecidas, que ele não consegue entender uma palavra, como se lhe sussurrassem algo ao mesmo tempo. Mulder abaixa a cabeça, escorando-se na parede. Scully sai da sala de Skinner.

SCULLY: - Mulder?

Mulder ergue a mão, num gesto pra que ela se cale.

MULDER: - Estou bem...

Mulder vira-se pra ela. Olha pra todos os lados. Olha nos olhos de Scully.

MULDER: - Aconteceu de novo.

SCULLY: - ... (MAIS PREOCUPADA AINDA)

MULDER: - Scully, precisamos conversar. Fora daqui.

1:13 A.M.

Mulder para o carro na estrada deserta. Scully está tensa. Olha pra ele.

SCULLY: - E se estiver errado, Mulder?

MULDER: - Não estou. Sei o que está acontecendo.

SCULLY: - Mulder, eu... Eu estou confusa, eu não posso conceber a ideia de...

Ele liga o rádio bem alto.

[Som: My Dark Life – Elvis Costello e Bryan Eno]

Scully suspira.

SCULLY (OFF): - Mulder, qual será a diferença entre você e o inimigo se agir deste jeito?

Ele aumenta o volume. Não se pode ouvir suas vozes, apenas a música. Mulder fala algo com Scully. Ela se altera. Começa a gritar com ele. Ele grita com ela, esmurrando o volante do carro. Scully põe as mãos na testa, descendo-as lentamente pelo rosto. Mulder discute com ela, com os olhos brilhando de ódio. Scully não o reconhece. Discute com ele. Mulder fala alguma coisa rispidamente. Scully esmurra o painel do carro e abre a porta, furiosa. Sai pra fora. Bate a porta do carro. Caminha pela estrada a passos largos e irritada. Beiço enorme. Mulder a segue.

MULDER: - Scully...

Ela vira-se pra ele, erguendo as mãos num gesto de incredulidade.

SCULLY: - (GRITA/ RAIVA) Eu reluto em aceitar isso!

Mulder a segura pelos pulsos, olhando em seus olhos. Scully olha para ele. Percebe que o nariz dele está sangrando.

MULDER: - Acha justo o que fizeram comigo? Acha justo o que fizeram com você? E o que fizeram com nosso filho?

SCULLY: - Mulder, não pode agir como um vingador implacável!

MULDER: - (INDIGNADO/ GRITA) O que há com você???

Ele solta as mãos dela, a empurrando. Ela olha pra ele, assustada. Ele coloca as mãos na cintura e vira-se de costas pra ela, olhando pra paisagem escura.

MULDER: - (AOS GRITOS) Eu tenho medo de dormir à noite, porque eles vão voltar! Eles voltam sempre! (QUASE CHORANDO) Eles voltam sempre... (VIRA-SE PRA ELA) Você criou uma redoma invisível ao seu redor e finge que não vê nada e que está protegida! Você não sabe de nada, Scully! E agradeça por isso!

Ela olha pra ele, magoada. Ele limpa o sangue que escorre do nariz com um lenço de papel.

MULDER: - (APONTA FRENETICAMENTE PRA CABEÇA OLHANDO PRA ELA COM RAIVA/ AOS GRITOS) Não foi o seu cérebro que eles esmiuçaram retirando pedaços! Não é a sua cabeça que dói todos os dias e que processa um cálculo matemático rapidamente mas é incapaz de dizer o nome do jornal que está lendo! Não é o seu corpo que expele objetos metálicos através da pele! Você não sabe o que é dor!

SCULLY: - (INCRÉDULA/ O QUESTIONANDO COM OS OLHOS) Eu não sei o que é dor? (RI) Não... (MAGOADA/ AOS GRITOS) Eu não sei o que é dor... (GRITA) Eu quase morri de câncer, eu sei muito bem o que é dor!

Mulder abre os braços, como quem se entrega.

MULDER: - ... Eu estou cansado.

Ele abaixa a cabeça.

MULDER: - ... Agora que descobri a verdade, acha mesmo que posso simplesmente deixá-la de lado? Eu passei minha vida toda buscando essa verdade! Sem nunca me questionar dos motivos! Eu morreria por isso! E agora eu digo que acredito no destino, Scully. Porque agora eu sei o meu destino. Se eu não tomar a espada em minhas mãos, quem o fará? Ainda não percebeu isso? Ou vai continuar fingindo? Eu fui atrás da verdade absoluta! E agora eu sei que a verdade absoluta é que andou atrás de mim!

Scully começa a ficar mais nervosa. Mulder ergue a cabeça e olha pra ela.

MULDER: - (SÉRIO) Se quer seguir minha jornada, vem. Se quiser me abandonar agora, que eu mais preciso de você, sinta-se livre pra fazer isso. Não vou condená-la e nem odiá-la. Me diga se está ou não comigo. Se estiver, vamos fazer o que eu disse, porque eu provei da felicidade e quero tê-la. A qualquer preço. Se não estiver comigo, eu realmente esqueço de tudo e sigo sozinho. E você vai embora. Mas não tente me parar. Eu nunca sei pra onde vou e nem pra onde correr. Eu só sei que quero ir com você. Mas isso não é minha decisão.

SCULLY: - ... (NERVOSA)

MULDER: - Sinto muito, Scully. Não vou deixar a minha estrada pra seguir o seu atalho. E sinto, mas eu nunca poderia ocultar isso de você. Jamais mentiria pra você, Scully. Mesmo que você tema o monstro que estou me tornando.

SCULLY: - (INDIGNADA) Como pode ter a certeza de que eles são o que pensa que são? Que eles estão fazendo o que você pensa que estão fazendo?

Mulder fica em silêncio. Então olha pra ela.

MULDER: - Eu também posso ler os pensamentos deles, Scully. Mas eles não sabem disso.

SCULLY: - ???

MULDER: - O que fizeram comigo só serviu pra ativar mais ainda alguma coisa adormecida. E quando eles descobrirem esse elo, virão me buscar. Porque eu sou o único na Terra que sabe disso. Nem os homens que fizeram coisas contra nós suspeitam.

Mulder volta pro carro. Senta-se no banco, abaixa a cabeça sobre o volante. Scully senta-se no banco do carona. Desliga o rádio. Perde o olhar ao longe, segurando algumas lágrimas. Fecha os olhos.

SCULLY (OFF): - ... Eu não tenho essa certeza, Mulder. Você não a quis me dar. Eu só tenho fragmentos perdidos e uma dor que eu só consigo superar porque tenho você.

Mulder respira fundo. Olha pra ela.

MULDER: - Scully...

Ela ergue o rosto, olhando pra ele. Mulder pega nas mãos dela e as segura com força. Olha em seus olhos.

Flashes passam pela cabeça de Scully, rapidamente, mostrando a abdução de Mulder, as dores que ele sentia, a cena em que retiram seu filho de dentro dela, tudo sob o olhar de Mulder, como se ela visse as cenas com os próprios olhos dele e sentisse sua dor.

Scully solta as mãos de Mulder rapidamente e começa a chorar. Olha pra suas mãos. Percebem que estão vermelhas, como se estivessem ligeiramente queimadas. Mulder vira-se pra janela, segurando as lágrimas. A saliva tranca em sua garganta. Ele contém o ódio e ao mesmo tempo sente pena de si mesmo e da parceira.

MULDER: - ... Eu não queria te mostrar isso. Nunca quis confirmar essa verdade, Scully, mesmo que você já soubesse dela... A de que eu não sou um homem comum... O que você viu são as lembranças que carrego todos os dias e que estão me consumindo lentamente.

O ódio toma conta de Scully. Ela segura as lágrimas. Respira fundo, olhando pela janela do carro.

SCULLY: - Mulder...

Mulder vira-se olhando pra ela. Ela continua a olhar pela janela, os olhos dela brilham com as lágrimas que segura.

SCULLY (OFF): - (ENGOLINDO A SALIVA, COMO SE FOSSE O ÓDIO) ... Serei sua retaguarda... Começamos isto, e... eu não vou desistir agora... Por nós dois, pelo nosso filho. Pelo nosso direito de ser feliz. Não há como lutar contra Deus. Não há.

Scully olha pra ele. Cerra os punhos com ódio.

SCULLY (OFF): - Nós faremos justiça, Mulder. Pouco me importa os métodos. Eu estou realmente decidida. E ciente dos riscos, de que um de nós pode morrer. Mas o que ficar vivo vai seguir adiante sem olhar pra trás. Este é o nosso juramento. Eu não vou perder mais nada na minha vida! O que você decidir eu farei. Seguirei você como uma cega, não questionarei mais nada. Você sabe o que faz, eu não.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - (DECIDIDA/ GRITA) Não! Eu não vou questionar nada!

MULDER: - ...

SCULLY (OFF): - Eu farei o que me pedir, Mulder... Eu vou seguir o destino conforme ele vier. Farei a minha parte. Eu sei que posso fazer. Se não pudesse, eu não estaria grudada a você, não teria o conhecido e muito menos me apaixonado por você. Se isto faz parte do plano maior, quem sou eu para atrapalhar?

Mulder olha pra ela com ternura. Ela olha nos olhos dele. Sorri.

SCULLY (OFF): - E não me condene por isso... Eu sou folgada, não sou? Eu confio cegamente em você e se agora o futuro do nosso relacionamento exige uma prova, eu a darei. Faça. Eu apoio você. Estou do seu lado. Você nunca mentiu pra mim. Eu te devo isso. E se só você pode fazer, pelo menos terá a certeza de que tem aqui a sua amiga, a sua amante, a sua mulher, o seu ponto de fuga. Se não posso ajudar com meus conhecimentos científicos e como profissional, posso ajudá-lo com o meu abraço e minha compreensão de mulher. Porque eu sou sua mulher, Mulder. E esta é a verdade. E eu não vou mais lutar contra isso.

Os dois seguram fortemente as mãos um do outro, num gesto de cumplicidade. Encostam suas testas, derrubando lágrimas.


Apartamento de Mulder – 7:51 A.M.

[Som: My Weakness – Moby]

Scully olha pra Mulder. Ele observa os resultados da tomografia. Num impulso, pega uma caixa de fósforos e os queima na lixeira. Scully está séria. O observa.

MULDER: - Quero outra opinião médica, Scully. Essa não me serve.

Mulder sai porta à fora. Scully senta-se no sofá. Fecha os olhos, angustiada.

Corte.

Marita Covarrubias observa o apartamento de Mulder através de um monitor, com escutas nos ouvidos. O Homem das Unhas Bem Feitas aproxima-se.

HUBF: - O que estão fazendo?

MARITA: - Não sei. Mas há algo errado. Estão nervosos. Acho que nossas suspeitas estão certas.

HUBF: - Há meses que se comportam assim. Continue vigiando. Ligue as escutas do carro. Quero vigia em todos os lugares, não desgrude seus olhos e ouvidos deles.


BLOCO 2:

Gabinete do Diretor-Assistente – 8:29 A.M.

Krauft atira a pasta de papéis sobre a mesa de Skinner.

KRAUFT: - Saiba que a partir de agora, eu estarei aqui, no seu encalço. Está protegendo Mulder e isso é contra as regras de conduta. Portanto, meu caro diretor-assistente, a primeira que você deixar picando, eu vou encaçapar.

SKINNER: - ...

KRAUFT: - Tem o dossiê dele aí. E prepare a demissão do agente Mulder. O Bureau não precisa mais dos serviços dele.

SKINNER: - Vai substituir Mulder por um agente que nem experiência tem no campo da paranormalidade? Esse cara só sabe lidar com crimes comuns!

KRAUFT: - Quem se importa com paranormalidade?

SKINNER: - E a Scully?

KRAUFT: - Ela fica. (DEBOCHADO) Mas na primeira besteira que cometer, eu a mando diretamente pro Alaska, investigar fenômenos paranormais na imigração de pinguins!

Krauft sai da sala de Skinner batendo a porta. Skinner olha pra pasta de papéis.

SKINNER: - (SUSPIRA) Doggett... Quem é esse sujeito?


Arquivos X – 10:13 A.M.

Mulder sai do prédio do Bureau. Scully atrás dele.

SCULLY: - Mulder...

Ele vira-se.

MULDER: - Viu o que Skinner falou. Nem ele pode fazer nada sobre isto e eu acredito.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (INDIGNADO) Aquele sujeito novo vai estar sentado na minha mesa... Acha que vai confiar nele? Sabe quem é? Suas intenções reais? Pra quem realmente trabalha?

SCULLY: - ... Saio do FBI antes disso.

MULDER: - O cerco está se fechando contra mim, Scully. Ele vai pra lá porque eu estou fora! Não entendeu ainda? (GRITA) Estou fora! Adeus pro Mulder! Pt saudações! Mulder já era! É hora de coisa nova no porão!

SCULLY: - Mulder, precisa se acalmar.

Ele sai caminhando até a cabine telefônica.

MULDER: - Vou, eu vou me acalmar. Agora mesmo. Dei minha vida por aquele departamento, minha vida está lá em cada pasta de Arquivo X, em cada canto daquela sala! Não é justo que me substituam por outra pessoa!

Scully o segue, mas não consegue acompanhar os passos dele. Dá uma corridinha. Mulder entra na cabine telefônica. Retira o fone do gancho. Apoia-o no ombro. Puxa a carteira. Retira um papel. Começa a discar.

SCULLY: - Mulder... Não faz isso...

MULDER: - (IRRITADO) Não me impeça!

SCULLY: - Não quero que se humilhe de novo...

MULDER: - Não estou me humilhando. Eu preciso de ajuda e vou fazer qualquer coisa pra permanecer naquela sala. Ele me deve um favor.

Scully abaixa a cabeça. Mulder segura o fone na mão.

MULDER: - (SECO) Sou eu, Mulder.

Scully olha pra ele.

MULDER: - Estão me retaliando no FBI. Em menos de doze horas, estarei fora... Um sujeito chamado Doggett entrará no meu lugar... Sabe que seus amigos me querem fora daqui.

Mulder fica em silêncio. Scully o observa. Percebe o nariz dele sangrando.

MULDER: - (ENFURECIDO/ GRITA) Eu não estou pra brincadeiras! Quem não está comigo está contra mim!

Scully arregala os olhos, assustada. Mulder, nervoso, passa as mãos nos cabelos.

MULDER: - ... Vou te falar algo sobre lealdade. Lealdade é inseminar o óvulo de uma mulher sem a permissão dela, implanta-lo e depois lhe roubar o filho, com a desculpa de protege-lo e me entregar aos aliens em troca da vida dele! Se fosse uma criança comum você teria se importado? (DEBOCHADO) Ou ficou com medo do Senhor Deus e estava tentando ajudar nos planos Dele? (RI) Pois Ele foi mais esperto e pegou a criança antes de você! E isto está deixando você maluco e os seus ex-amiguinhos também!

Scully morde os lábios.

MULDER: - Apoio? (RI) Claro que é seguro! Estou numa cabine telefônica ou acha que sou burro? Vai menosprezar a minha inteligência agora? ... (OLHA PRA SCULLY) ... Não, não há ninguém comigo. Deixe Scully fora disso, ela está lá dentro tentando convencer o sujeito de que devo ficar no FBI... Isso é entre eu e você.

Scully olha pra ele, nervosa.

MULDER: - ... (RAIVA) Eu já disse que estou pronto! Mantenha-me no FBI e vai ter o que sonhou a vida toda. Essa é a troca. Também tenho um interesse em comum em encontrar essa criança. (RI) ... Eu pouco me importo com essa criança! Eu não quero mais é ver a Scully chorando pelos cantos!

Mulder olha pra ela. Scully olha pra ele. Mulder volta as atenções para o telefone. Scully, nervosa, cruza os braços e dirige sua atenção para a rua.


Corta para o outro lado da rua. Na porta de um café, Garganta Profunda observa Scully. Scully olha pra ele, incrédula. Ele dá as costas e entra no café. Scully disfarça e olha pra outras pessoas. Mulder bate o telefone no gancho. Sai da cabine enfurecido.

MULDER: - Preciso resolver uma coisa. Não se preocupe. Não sei a que horas voltarei.

Mulder olha pra ela. Lhe sorri amavelmente.

MULDER: - ... Você agora pode colocar a segunda letra da palavra vitória no seu dicionário, enquanto escuta Simple Red. E eu jurei que vou completar a palavra.

Ele sai andando às pressas e entra no carro. Scully o acompanha com os olhos. Então atravessa a rua rapidamente.

Corte.


Scully entra no café. Procura com os olhos, entre as pessoas. O garçom aproxima-se.

GARÇOM: - Senhora? Sua companhia já a espera. Acompanhe-me por favor.

Scully segue o garçom até uma mesa bem discreta, ao fundo do ambiente. Garganta Profunda olha pra ela, enquanto larga um copo de chá gelado sobre a mesa. Levanta-se e puxa a cadeira. Scully senta-se.

GARÇOM: - Deseja algo, senhora?

SCULLY: - Chá gelado.

O garçom sai. Scully coloca as mãos sobre a mesa, nervosa. Olha pra Garganta Profunda com raiva.

SCULLY: - Pensei que fosse mais um delírio do Mulder.

GARGANTA PROFUNDA: - Algumas vezes precisamos desaparecer.

SCULLY: - (REVOLTADA) Como o meu filho?

GARGANTA PROFUNDA: - Agente Scully, tem motivos de sobra pra me odiar. Eu concordei porque no momento me parecia o mais correto a se fazer.

SCULLY: - Sabe onde ele está?

GARGANTA PROFUNDA: - (SUSPIRA DESANIMADO) Infelizmente não.

SCULLY: - (REVOLTADA) Tolice a minha perguntar, como se você fosse responder alguma coisa a meu favor sem me cobrar algo em troca...

GARGANTA PROFUNDA: - Sei a dor que está sentindo...

SCULLY: - (AMASSANDO A TOALHA DA MESA COM A MÃO/ CONTENDO O ÓDIO) Você não sabe de nada.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

SCULLY: - O que quer comigo? Não se expôs por nada, não é assim que funciona?

GARGANTA PROFUNDA: - Algumas coisas precisam ser ditas e eu não estou aqui oficialmente. Por isso preciso falar com você, não com Mulder. Preciso de você, agente Scully.

SCULLY: - Perde seu maldito tempo se pensa que eu vou cair como uma idiota nas armações suas e daquele homem.

GARGANTA PROFUNDA: - Ele não sabe que estou aqui... Mulder corre perigo.

SCULLY: - Não. Todos correm perigo, menos o Mulder. Afinal, precisam da experiência viva, não é mesmo? Mulder é indispensável.

GARGANTA PROFUNDA: - Os cemitérios estão repletos de gente indispensável, agente Scully.

O garçom aproxima-se. Eles param de falar. O garçom serve o chá e se afasta. Scully olha pra Garganta Profunda.

SCULLY: - Espero que nunca passe pelo que estou passando.

GARGANTA PROFUNDA: - Pensei várias vezes em dizer a vocês onde estava seu filho. Mas seria um erro se o fizesse. 'Aqueles homens' o levariam.

SCULLY: - No entanto, alguém, que não foi 'aqueles homens', o levou. E como pode saber se o tomariam ou não? Aliás, eu começo a desconfiar de que vocês não sabem de nada. Trabalham apenas com suposições. Eu quero saber o paradeiro do meu filho! Pelo menos pode me dizer se está vivo ou morto?

GARGANTA PROFUNDA: - Acha que se eu soubesse onde seu filho está não tentaria negociar isto com você?

SCULLY: - ... Por que voltou dos mortos?

GARGANTA PROFUNDA: - Porque as coisas estão se complicando. Quem está decidindo tudo não tem competência pra isto.

SCULLY: - Alex Krycek?

GARGANTA PROFUNDA: - (SORRI) Não. Ele é apenas um peão manipulável no tabuleiro. Falo das peças maiores.

SCULLY: - O que quer me dizer?

GARGANTA PROFUNDA: - Que estão perdidos. Aquele Lorde Inglês não sabe pra onde está os levando. E eles precisam daquele homem pra continuar... Ele precisa voltar ao consórcio, não entendeu? Eles não o querem por lá, mas ele precisa voltar. Estou observando sem que saibam, mas fico nervoso com o que vejo. O caos está iniciando. Os alienígenas não dizem mais nada, aquele maldito Caçador desapareceu misteriosamente e aquele Lorde Inglês dita ordens sem nexo algum ali dentro. E parece que Krycek está adorando a confusão e está acatando as ordens do inglês.

SCULLY: - E o que tenho a ver com isso? (DEBOCHADA) O 'Mister Fumaça' precisa da minha autorização para voltar?

GARGANTA PROFUNDA: - ... Ele está morrendo. Por isso se afastou.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Não está me pedindo para ajudar aquele desgraçado que arruinou minha vida. Está?

GARGANTA PROFUNDA: - (PREOCUPADO) Temos a cura. Mas não temos a pessoa que vai manipular isto.

Scully sorri, balançando a cabeça negativamente. Olha pra ele.

SCULLY: - Não confiam em ninguém, não é mesmo? Agora sentem na pele o que eu e Mulder sentimos a vida toda. São vítimas de vocês mesmos... Como o mundo dá voltas! (SORRI) Bem que sempre acreditei em justiça!

GARGANTA PROFUNDA: - ...

SCULLY: - ... E por que confiariam em mim?

GARGANTA PROFUNDA: - Porque você é honesta.

SCULLY: - Honesta... (RI) Quem diria que vocês são capazes de perceber virtudes que não têm.

Scully olha pra ele. Percebe que está nervoso.

GARGANTA PROFUNDA: - Ele está morrendo. E ele é de vital importância.

SCULLY: - ...

GARGANTA PROFUNDA: - Não estou oferecendo nada em troca, estou pedindo.

SCULLY: - E por que eu deveria ajudar?

GARGANTA PROFUNDA: - ... Não deveria. Mas eu não sabia mais a quem recorrer. Agente Scully, não peço que trabalhe pra nós. Peço apenas que nos ajude.

SCULLY: - E se eu ajudar? Então ele se levantará novamente e começará a tramar tudo de novo. Então eu terei trazido o monstro de volta à vida. É isso?

GARGANTA PROFUNDA: - (ENGASGANDO) ... Exatamente.

SCULLY: - Por que eu traria o monstro de volta à vida?

GARGANTA PROFUNDA: - Porque algumas vezes, agente Scully, os monstros são necessários.

Garganta Profunda estende o braço até outra cadeira e pega um embrulho de papel pardo, lacrado com fita colante. Coloca sobre a mesa.

GARGANTA PROFUNDA: - Não sabe a existência disto. Eu o tomarei de volta mais tarde. Se alguém souber que lhe entreguei isto, com certeza minha morte não será fictícia desta vez.

SCULLY: - O que é isso?

GARGANTA PROFUNDA: - A regra do jogo, agente Scully. A justificativa para que você pense no que estou pedindo.

SCULLY: - ...

GARGANTA PROFUNDA: - Um fragmento de uma verdade.

SCULLY: - ... (DEBOCHADA/ IRRITADA) Cansei dessa verdade, senhor sei lá o quê.

GARGANTA PROFUNDA: - Pense bem depois de ler isso. Eu a encontrarei.

Garganta Profunda levanta-se e sai. Scully olha pro embrulho. Inspira profundamente, colocando as mãos no rosto.


Imediações da Base Aérea de Wright - Patterson – Ohio – 4:13 P.M.

Mulder estaciona o carro no acostamento da rodovia. Desce. Encosta-se no carro, cruzando os braços. Observa a estranha montanha que lhe chamara a atenção há mais de um ano atrás, pouco antes de ser abduzido. Fecha os olhos.


Arquivos X - 4:41 P.M.

Scully está sentada, olhando pra mesa vazia de Mulder. Sua atenção volta-se para o embrulho que ela não tem coragem de abrir. Skinner entra na sala. Repara a fisionomia de preocupação dela. Olha para o pacote.

SKINNER: - O que é isso?

SCULLY: - Um presente que chegou pelo correio da tia do Mulder que mora na Filadélfia. São figos.

SKINNER: - Há algo errado, Scully?

SCULLY: - Não, senhor.

SKINNER: - Onde está Mulder?

SCULLY: - Foi pra casa. Estava cansado.

Scully levanta-se. Abraça-se em Skinner, derrubando lágrimas. Skinner a abraça.

Ela lentamente, sem Skinner perceber, leva a mão até o bolso do terno dele. Retira alguma coisa. Afasta-se.

SCULLY: - Me desculpe.

SKINNER: - (SUSPIRA) ... Não sei o que está acontecendo, Scully. Mas saiba que você tem um amigo aqui.

Skinner sai. Ela senta-se. Enche os olhos de lágrimas e começa a chorar, debruçada sobre a mesa.


Imediações da Base Aérea de Wright - Patterson – Ohio – 10:51 P.M.

[Som: Better Than Ezra – One More Murder]

Mulder sentado dentro do carro. Faróis apagados. Luzes apagadas. Ele observa atento o carro que vem na direção oposta. O carro passa pelo carro de Mulder e ele pode perfeitamente reconhecer Krauft. Mulder liga o carro e o segue, de faróis apagados. Seu semblante denota uma frieza desconhecida.


FBI - Arquivos X – 10:54 P.M.

[Som: The X-Files Theme – Mark Snow]

Scully entra na sala. Verifica se a porta está trancada. Olha pra suas mãos. Segura nelas uma chave, onde se pode ler perfeitamente 'A.D. Skinner'. Ela guarda a chave no bolso. Desliga as luzes, deixando apenas o abajur ligado. Senta-se na cadeira de Mulder. Com um ar de decisão, ela desembrulha aos poucos o pacote.

Scully vê surgir entre os papéis do embrulho um livro, com a capa de um material semelhante a aço. Sobre ele, uma enorme carta escrita de próprio punho, num papel envelhecido. Ela toma a carta nas mãos.

BILL MULDER (OFF): - ... Fox, talvez eu esteja morto quando você achar este caderno. O mantive por anos escondido de todos, como uma maneira ter algo para negociar se minha vida fosse ameaçada. Mas se você estiver lendo isto, sinal de que minha tentativa foi frustrada.

SCULLY: - (ATENTA) ...

BILL MULDER (OFF): - Há algumas coisas que jamais disse a você. Uma delas é como você foi concebido. Nunca me perdoarei por isto. Talvez justifique o carinho que eu tinha por você e porque sempre o protegi. Você era meu favorito. Não espero nunca que me perdoe, meu filho... Se você achou esta, achará meus relatórios sobre sua concepção. Vai achar junto deste relato, o caderno preto. E vai achar dentro dele a chave e o endereço do local onde estão meus relatórios sobre a sua concepção.

Scully olha pro pacote mas não vê o caderno. Ergue o estranho livro metálico, bem mais leve do que aparenta ser. Vê o caderno preto. Pega-o. Sacode-o, mas não acha chave ou bilhete algum. Scully larga o livro sobre a mesa e volta a ler a carta.

BILL MULDER (OFF): - Há um alto comando nos bastidores da história. Verdadeiros governos ocultos que decidem o nosso destino sem o nosso conhecimento. Pegue o caderno preto.

Scully segura o caderno preto. Continua a ler.

BILL MULDER (OFF): - Nele há uma lista de assuntos proibidos para a imprensa. É de alcance mundial, não levando em consideração o regime político dos países. Todos os governantes possuem uma cópia desse caderno. Ele transcreve algumas ordens contidas no livro de metal, que infelizmente, eu não sei quem o mantém em segurança. Meu filho, eu apenas vi este livro uma única vez. Mas dou-lhe minha palavra de como ele existe.

Scully olha pro livro de metal. Seu semblante denota desconfiança.

SCULLY (OFF): - Eles nunca entregam a verdade por completo. Acharam os escritos de Bill Mulder e resolveram entregar junto com o livro que escondiam, tomando o cuidado de esconderem a chave... Mas por quê? Por que agora? E por que pra mim e não pro Mulder?

Scully volta a ler a carta.

BILL MULDER (OFF): - Esses homens mantém reuniões estritamente limitadas a seus adeptos, e sigilo absoluto a respeito das cerimônias e dos rituais onde se manifestam os símbolos que esta sociedade se atribui. As finalidades das sociedades secretas são as mais variadas, desde políticas, filosóficas, religiosas, espirituais e até criminosas. Elas formam uma pirâmide de três degraus. No primeiro degrau, de mais fácil acesso, se encontram os homens considerados úteis. No segundo degrau, o acesso é mais selecionado e seus adeptos desempenham papéis importantes, influenciando no plano nacional e internacional. É nesse degrau que estão os conspiradores do Sindicato das Sombras ou Consórcio, que você já deve conhecer. No cimo da pirâmide estão as sociedades secretas superiores, que agem por trás dos bastidores. Eles detêm todos os assuntos internacionais importantes.

Scully coloca a mão sobre os lábios, lendo a carta.

BILL MULDER (OFF): - Ninguém sabe a verdade completa de tudo, Fox. Isto vem há milênios, desde a época em que o homem surgiu sobre a Terra. Portanto, meu filho, não tente encontrar uma única verdade, pois elas vão cedendo lugar a outras no decorrer da história. Espero que receba isto na hora certa. Sei que quando isto chegar às suas mãos eu já estarei morto há muito tempo. Na verdade eu sabia que isto aconteceria. Eu fui um homem do primeiro degrau. E aquele homem fumante, que agora você deve saber quem, sentiu-se ameaçado por eu saber seu mais alto segredo: Suas origens.

Scully cerra as sobrancelhas.

BILL MULDER (OFF): - Fox, desconfie de tudo e de todos. E use contra ele um segredo que nem ele sabe. Mas na hora certa. Você pode obter as provas facilmente disto. Antes de você nascer, precisávamos de uma cobaia. As experiências não podiam fugir de nosso controle. Precisamos dar nossas famílias para conseguir salvar o mundo. O vírus se transmutava rápido. Foi minha, a melhor tese sobre um híbrido humano-alienígena. Eles vinham tentando isto desde a Segunda Guerra Mundial, mas sem muito sucesso. A única forma de resistir a raça invasora era criar uma raça de seres humanos mais próximos de Deus. Ou seja, Fox: áreas do cérebro que nós não temos ativadas, precisariam ser ativadas. Era a resistência.

Scully está estarrecida.

BILL MULDER (OFF): - Fox, as explicações disto você encontrará nos meus relatórios. Eu fiz todo o processo de fecundação num laboratório. Mas eu não sabia que era você. Não sabia que haviam inseminado em sua mãe a minha experiência. Nós, envolvidos no projeto, cederíamos os genes. Quanto menos pessoas envolvidas, mais segurança teríamos no projeto F.O.X: Fetus On X- perience.

SCULLY: - Seus... (FECHA OS OLHOS/ DERRUBANDO LÁGRIMAS) Seus cretinos!


BLOCO 3:

Scully continua a ler a carta.

BILL MULDER (OFF): - Hoje tenho as minhas dúvidas quanto ao material que manipulei. Não posso ter certeza se o óvulo era de sua mãe e se foram os meus genes colocados ali. Mas você descobrirá. Por isso pegue meus relatórios e os leve a alguém de confiança para fazer uma análise da cadeia genética. Eu nunca tive essa coragem. Poucos dias antes de sua irmã ir, já havíamos combinado tudo. Você iria, você era a experiência. Mas ele descumpriu o acordo me afastando de todos sob ameaça. Então, meu filho, o bêbado que você sente raiva, era apenas um homem desesperado pela perda da filha. A filha que eu tinha certeza que era minha.

Scully fecha os olhos.

BILL MULDER (OFF): - Aquele fumante era a experiência zero. Por isso o escolheram para liderar. Nem ele sabia disso. Quando lhe sugeri a verdade, foi como se tivesse o golpeado diretamente no coração, se é que ele tem coração. Mas nunca a confirmei, deixei-o na suspeita, era a minha vingança. Este homem foi colocado no topo da liderança por um único motivo: raciocínio e genes. Ele tem um raciocínio acima do normal. O pai dele, um miserável traidor russo, doou seus genes para a experiência zero em troca de alguns tostões pra comprar bebida. O governo soviético e americano estava bancando a experiência com os alemães fugitivos da Segunda Guerra e consequentemente, forçaram o pai dele a largá-lo num orfanato, longe das atenções. O acordo feito entre os nossos predecessores era de que ele ficaria aqui, como cidadão americano, mas os russos o manteriam sob vigilância, com agentes da KGB infiltrados no consórcio. Por isso ele não tem uma vida, Fox. Seu destino vil já havia sido traçado.

Scully abaixa a carta. Põe a mão na testa, nervosa. Começa a ler novamente.

BILL MULDER (OFF): - Os russos estavam adiantados nisto, por isso nos aliamos. Ele tem genes alienígenas mais desenvolvidos do que os nossos. Mas Fox, nem ele tem essa certeza. E nisso, eu estou vingado. Porque essa verdade eu sei. E deixo-a pra você, Fox. Use-a a seu favor. Fui um ingênuo, na mão desses homens. Não cometa o mesmo erro se vierem a te usar. Não duvide que não colocarão uma mulher ao seu lado com o único intuito de fazerem o mesmo: procriar seus genes. Se você viesse a ter um filho com uma mulher comum, esta criança seria um problema para os alienígenas. Teria imunidade ao óleo negro. Mas não seria paranormal. Usamos dois soldados da marinha para experimentos genéticos, alguns anos depois que você nasceu.

Scully começa a tremer. Apóia o cotovelo sobre a mesa e a mão entre os cabelos, por sobre o rosto. Olha pra carta, desesperada.

BILL MULDER (OFF): - Mas não levamos a operação adiante, então não sei que efeitos poderia ter ocasionado naqueles marinheiros. Acredito que alguma percepção extra sensorial mínima, mas que possa afetar seus descendentes. Mais tarde, soubemos que um deles teve 4 filhos. Duas eram meninas. Se por acaso você viesse a ter um filho com uma dessas meninas, essa criança teria imunologia total contra o vírus e seria absolutamente uma bomba ambulante de paranormalidade. Seria portadora natural disso e não manipulada como você foi. Portadora por pai e mãe. Eu sinceramente não posso calcular os efeitos genéticos que implicariam nessa criança, mas especulo que ela não seria uma criança normal e temo que fosse até mesmo uma máquina assassina, um alien perfeito. Tome cuidado, Fox. Se alguém descobrir isso, pode querer propositalmente usar você e uma daquelas meninas para obter o que querem.

Scully coloca as mãos no rosto. Derruba lágrimas nervosas. Olha pra carta.

BILL MULDER (OFF): - O que tenho de concreto com base em meus estudos é que a terceira geração desta nova raça, ou seja, seus descentes Fox, seriam dotados de poderes paranormais. Você possui disfunções genéticas que no momento em que forem ativadas vão causar um certo dom de clarividência. É na região da glândula pineal, entre a coluna vertebral e o cérebro. Desativamos esta região em você, pois logo no início você já apresentava dons que nos assustavam. Você não tem lembranças concretas de sua infância, pois elas foram apagadas propositalmente para que você não mostrasse seus dons diante das pessoas. Fox, eu não sabia. Quando pegaram você, eu descobri tarde demais que haviam feito isso... Sua mãe te entregou a eles, confiando que seria para o seu bem. Ela tinha medo, Fox, porque com um ano você já sabia falar muita coisa e nos assustava descrevendo coisas que não conseguíamos ver. Tenho receio de que algum fator possa ativar sua paranormalidade novamente. E tenho medo do que você pode vir a ser. Porque não temos nenhum registro das consequências disto. Apenas sei que uma super ativação além do normal pode fazer com que você desenvolva algum tumor. Seu cérebro não pode suportar além do grau normal de paranormalidade. Pode afetar sua sanidade mental e leva-lo à loucura. Mas deixo isto pra você. Eles não sabem disso. Se tentarem ativar a paranormalidade naquele homem, ele não terá resistência e criará um tumor. Assim como se tentarem em você.

Scully solta a carta sobre a mesa. Coloca as mãos no rosto. Olha por entre os dedos para o livro metálico. Pega-o. Mãos nervosas e trêmulas. Ela abre o livro e percebe que as folhas também parecem com metal, porém mais finas como um papel. Há vários desenhos estranhos dentro do livro e letras completamente desconhecidas. Ela coloca os óculos e começa a analisa-los.

[Fade in (tela escura fechando-se)]


[Som: Better Than Ezra – One More Murder]

[Fade out (tela escura abrindo-se)]

Estrada Secundária 114 – Utah – 11:14 P.M.

Mulder abaixa a faca lentamente. O reflexo do luar na lâmina deixa entrever o sangue que dela escorre e cria uma pequena poça no chão.

Sua mão começa a grudar no cabo da faca. Isso lhe causa enjoo e ele solta a faca, sem desviar o olhar do corpo que ele acabara de destruir.

O barulho da faca ao cair no chão o retira de seu estado de estupor e ele deixa escapar o ar que não sabia estar prendendo em seus pulmões. Respira profundamente, quase saboreando a noite fria, como se ela, agora, tivesse um sabor especial. O sabor da morte.

Mulder não sente remorso pelo que fez. Ao contrário, combate um desejo cada vez mais intenso de matar ainda mais o homem que jaz sem vida no asfalto molhado, sustentando um crachá do FBI no peito. Mas ele não pode fazer isso, não mais do que já fez.

Sua vingança havia se consumado completamente, e seu ódio havia encontrado uma via de fuga através da lâmina afiada, que, enfim, rasgou a carne, perfurou os órgãos internos, interrompendo os caminhos tão conhecidos do sangue no corpo daquele homem.

O sangue, antes fonte de vida, agora não passa de sujeira no chão, na faca e nas roupas e mãos de Mulder.

Não há mais nada a fazer ali. Precisa deixar aquele local o mais rápido possível. Apesar da escuridão protegê-lo, escondendo seus atos, ele se sente vulnerável. A noite não pode esconder seu ódio. O ódio que ele queria, de certa forma, esconder de si mesmo.

Esse sentimento que, apesar de não lhe ser desconhecido, jamais havia sido tão bem expresso.

Mulder percebe que, finalmente, encontrou uma maneira de aplacar seu ódio. Deixa escapar um sorriso ao pensar nisso. Seu ódio não pode ser aplacado. Nada dará fim a esse sentimento.

Antes ele havia lutado contra isso, mas agora, tendo sido derramado o primeiro sangue, tão vermelho quanto sua ira, Mulder aceita seus sentimentos. E seu destino.

A ele já não importa a suposta amoralidade de suas ações. Eles o destruíram, roubando aos poucos, pequenos pedaços de sua alma e humanidade. E ele havia visto todo o processo de mutilação. Havia sido testemunha, além de vítima de seu próprio terror.

E o pior, havia também sido testemunha impotente da dor de Scully. Que o matassem, o mutilassem, mas jamais a tocassem novamente. Ele não permitiria mais tamanha afronta. Havia deixado que eles agissem, e com isso havia perdido um bem precioso.

Mulder não está mais disposto a perder. Agora é o momento de pegar de volta, a qualquer custo, o que lhe foi roubado.

Com um último olhar para o corpo desfigurado, Mulder se vira. A fraca luz da noite ilumina seu rosto, estranhamente sereno. O rosto de quem acaba de encontrar o caminho da paz.


FBI - Arquivos X – 12:22 A.M.

[Som: The X-Files Theme – Mark Snow]

Scully observa o livro metálico aberto, virando-o em várias posições, pois o reflexo das folhas contra a luz, machuca seus olhos. Mas ela não consegue entender uma só palavra. Cada vez que observa uma palavra, dependendo do ângulo ela se torna um desenho ou aparece em outra língua.

Scully percebe um vulto pela claridade vinda por debaixo da porta. Rapidamente pega o livro, o caderno e a carta e coloca-os dentro de sua pasta. Levanta-se. Puxa a arma e caminha em direção a porta. Coração acelerado. Medo nos olhos. Ela observa a sombra que parece se afastar. Scully coloca a mão sobre a maçaneta e gira-a bem devagar. Espia. Percebe Krycek saindo pelas escadas. Scully fecha a porta lentamente. Respira ofegante. O celular toca. Ela dá um sobressalto. Retira rapidamente o celular do bolso, atendendo-o.

SCULLY: - Scully.

MULDER (OFF): - ...

SCULLY: - Alô?

MULDER (OFF): - ...

Ela olha pro visor. Aproxima novamente o telefone da orelha.

SCULLY: - Mulder?

MULDER (OFF): - ... (FORA DE SI) S... Scully... E-eu fiz.

Ela fecha os olhos. Abre-os, enquanto morde os lábios de preocupação.

SCULLY: - Mulder, onde você está?

MULDER (OFF): - Num motel... chamado Green... numa cidadezinha próxima ao deserto do Colorado.

SCULLY: - Mulder, estou indo.

MULDER (OFF): - Scully...

SCULLY: - Fala.

MULDER (OFF): - ...

SCULLY: - ...

MULDER (OFF): - E-eu... Eu preciso de você...

Ela escuta o barulho do telefone desligando. Guarda a arma e o celular. Pega a pasta e sai rapidamente, fechando a porta atrás de si.

Corte.


Motel Green -Utah- 12:40 A.M.

Mulder observa a banheira cheia de água.

Mulder entra lentamente na banheira. A água quente quase causa desconforto, mas em poucos segundos a sensação desagradável é substituída por um leve calafrio na espinha.

Por breves instantes, ele chega a se sentir bem. A dor que comprime sua têmpora não desaparece totalmente, mas a sensação da água quente envolvendo seu corpo é mais forte.

Mas ele sabe que logo a situação será invertida. Seria tolo se não soubesse, tendo passado por tudo aquilo tantas vezes.

Lentamente, se deita na banheira e mergulha completamente na água quente. Prende a respiração por alguns instantes e fica atento aos seus próprios sentidos.

Sua pele já se habituou à temperatura da água. Os sons deixam de existir, assim como qualquer dor. Seus olhos fechados mal percebem a pouca luz do banheiro.

Restam a ele somente a água e sua própria dor.

Essa última, no entanto, vai se esvaindo aos poucos, dando-lhe alívio. Mas seu ar em breve se exaurirá e ele terá que retornar à superfície.

Mulder sabe que, ao abrir seus olhos, ao deixar que os sons invadam seus ouvidos e que o ar do ambiente esfrie sua pele, a dor retornará sem piedade.

Ele tem certeza de que, se ficar tempo suficiente embaixo d'água se livrará da dor. Mas seus pulmões começam a queimar, ansiando por oxigênio. Seu coração bate mais rápido, a ponto de Mulder ouvir suas batidas.

Ele decide, então, colocar a cabeça fora d'água somente o suficiente para respirar. Assim que o faz, imerge novamente, em busca da sensação de paz que provara momentos antes.

Da superfície leva consigo o leve odor de sabonete, a sensação do vapor quente a sua volta, a parca luz filtrada pela janela, e uma lembrança da dor que o persegue.

A cada retorno à superfície, para sua busca por ar, Mulder volta a sentir pontadas da dor que ameaça dominá-lo.

A paz antes conquistada em breve se esvai. A água perde seu calor envolvente, deixando uma sensação de abandono e tristeza.

Enfim, dominado pelos elementos, Mulder deixa a água e inspira o ar já frio do banheiro.

Tremendo de frio, Mulder pega uma toalha, esperando que, ao secar-se, o frio desapareça. Quanto à dor, já não espera mais nada.


FBI – 4:21 A.M.

Skinner sai do elevador, vestido de jeans desbotado, camiseta e jaqueta de camurça bege. Vários agentes reunidos no corredor. Kersh olha pra Skinner.

SKINNER: - O que está havendo por aqui? Por que me chamaram à uma hora dessas?

KERSH: - Recebemos uma informação do escritório de Utah. O diretor Krauft foi assassinado.

SKINNER: - O quê?

KERSH: - Encontraram seu corpo numa rodovia próxima a Base Aérea de Wright-Patterson.

SKINNER: - ... Alguma pista?

KERSH: - Ninguém viu nada, diretor. E os cactos não querem confessar.

Os agentes riem discretamente. Skinner comprime os lábios e olha irritado pra Kersh.

SKINNER: - O que quer de mim?

KERSH: - Saber onde está o agente Mulder.

SKINNER: - Em casa.

KERSH: - Não, ele não está. Para a sua surpresa, checamos os voos para Utah. E o nome de Mulder estava entre os passageiros.

SKINNER: - (PERDENDO A COMPOSTURA) Não está me dizendo que Mulder matou Krauft! Acho que a pergunta aqui é o que Krauft fazia em Utah perto de uma base militar!

KERSH: - Estou apenas dizendo que Mulder foi ameaçado por Krauft e que faria qualquer coisa pra encontrar a sua verdade. E se alguém interferisse em seu caminho?

SKINNER: - (SORRINDO) Ora, você deve estar brincando. Mulder jamais faria uma coisa dessas contra um colega!

KERSH: - Aposta sua alma nisso?

Skinner encara Kersh, sem nenhuma dúvida estampada no rosto.

SKINNER: - (CONVICTO) Aposto o meu pescoço e a minha vida como Mulder jamais mataria um ser humano que não fosse em defesa própria.

KERSH: - Já disse o que eu queria ouvir, senhor Skinner. Em defesa própria.

Kersh vira-se para os agentes.

KERSH: - Juntem-se ao pessoal de Utah. O agente Mulder é considerado procurado pelo FBI. Tomem as devidas precauções, ele está armado e é um sujeito perigoso.

SKINNER: - Você não tem o direito de...

KERSH: - Interfira na minha ordem, Skinner. E vamos ver quem continua sentado na cadeira de diretor assistente. Já que Krauft está morto, Carter subirá a posição dele. E agora, você e sua dupla estão ferrados aqui dentro.

Kersh sai. Skinner cerra os punhos. Caminha até sua sala. Procura a chave no bolso. Não a encontra.

SKINNER: - Que diabos! Acho que esqueci a chave no paletó!

Skinner vai até a gaveta da secretária e pega a cópia. Entra na sala. Passa as mãos no rosto.

SKINNER: - Armaram pro Mulder de novo. Mais uma mentira! Agora vão acusa-lo injustamente de assassino...

Skinner senta-se. Abre a gaveta da escrivaninha. Faz uma fisionomia de surpresa. Retira uma pasta, observando-a curioso. É um Arquivo X. Skinner abre a pasta.

SKINNER (OFF): - Eninger... Utah...

Skinner percebe uma ordem de viagem.

SKINNER (OFF): - ... Autorizo os agentes Mulder e Scully a seguirem viagem para Utah... Assinado... (ESPANTADO) Diretor-Assistente Skinner... Mas eu não autor...

Skinner ergue a cabeça. Levanta-se, saindo às pressas com a pasta. Aproxima-se de Kersh que está no corredor conversando com os agentes.

SKINNER: - Ok. Ok. Eu vou confessar.

Kersh olha pra ele.

SKINNER: - Mulder e Scully foram enviados por mim para investigarem um caso em Utah.

KERSH: - Por que não nos disse logo?

SKINNER: - Porque era uma investigação altamente secreta. Se a informação da ida deles vazasse, teríamos sérios problemas.

Kersh aponta pra ele.

KERSH: - Não vai safa-los com isto. Quero ver a data no carimbo da permissão.

Skinner entrega o papel. Kersh olha. Skinner sorri.

SKINNER: - Ontem. Portanto, os dois foram pra lá a meu mando. Isso não incrimina Mulder.

Kersh olha-o com a sede de quem queria ferra-lo, mas não foi desta vez. Skinner dá um sorriso cínico, mesmo não entendendo como aquela pasta foi parar ali. Volta pra sua sala. Fecha a porta e respira aliviado. Então olha pro cinzeiro. Ao lado dele um maço de Morley. Skinner fecha os olhos.

SKINNER: - O desgraçado voltou. Isso é obra dele!


Motel Green – Utah – 5:38 A.M.

Scully entra no quarto.

SCULLY: - Mulder?

Ela olha pras roupas dele atiradas no chão, sujas de sangue. Escuta o barulho do chuveiro. Caminha até o banheiro. O vapor toma conta do ambiente. Ela aproxima-se lentamente e abre a cortina do box. Mulder está sentado, nu, dentro da banheira cheia, encolhido debaixo do chuveiro. A água cai por sobre sua cabeça. Ele ergue a cabeça, olhando pra ela, com os olhos vermelhos de quem esteve chorando por um bom tempo. A pele enrugada, mostrando evidências de que talvez ele tenha passado a noite dentro da água. Scully muda sua fisionomia de preocupação para piedade. Ele olha pra ela, como quem pede consolo.

MULDER: - E-eu... Eu o matei.

Scully tira os sapatos e entra na banheira. Agacha-se ao lado dele e o abraça, confortando-o.

SCULLY: - Você fez o que devia, Mulder. Você só fez o que devia.

Ela percebe a água avermelhada que escorre manchando sua blusa. Olha pra Mulder. O nariz dele está sangrando. Ela segura-o pelo rosto.

SCULLY: - Mulder, olha pra mim.

Ele olha pra ela.

SCULLY: - Sente alguma dor?

MULDER: - Minha cabeça... Vai explodir.

Ela desliga o chuveiro.

SCULLY: - Mulder, precisa ficar dentro da água. Faça pressão oposta. Eu não sei porque mas isto funciona com você.

MULDER: - ... (CHORANDO)

SCULLY: - Mulder eu vou descobrir o que fizeram com você. Eu sou a sua ciência, não sou? A sua médica? Mulder, me escuta, não entra em transe! (DESESPERADA) Mulder, não entre em transe! Concentre-se na água!

MULDER: - ... (ELE FECHA OS OLHOS)

SCULLY: - Dentro da minha bolsa. Garganta Profunda me entregou um livro. Acho que deveria pedir aos pistoleiros pra analisarem de que tipo de metal ele é feito.

MULDER: - ...

SCULLY: - É na glândula pineal, Mulder. Aquilo que você falava de terceiro olho. Mulder, você tinha razão. Nós temos o chamado terceiro olho. Ou seja, nós todos temos paranormalidade. Ela não é um dom! É uma função do cérebro! Talvez a real função da glândula pineal que tanto a ciência procura!

MULDER: - ... (TONTO)

SCULLY: - Mulder, está me ouvindo?

MULDER: - (MEIO ABOBALHADO) Tô...

SCULLY: - Mulder, seu pai Bill me deu as respostas! Eles fizeram errado! Eles não sabiam! Ativaram além do que você poderia suportar! (RI, NERVOSA) Como o Fumacinha fez! Mulder, a resposta está aí!

MULDER: - ...

SCULLY: - É isso! Mulder, é isso! Se eu tivesse em mim 1/3 da atividade cerebral nessa região que você tem, eu teria enlouquecido! Se você já tinha ativado naturalmente 1/3 a mais do que eu e ativaram o dobro, isto justifica porque você sente dores! (ELA RI/ INCRÉDULA) Mulder, os loucos nos sanatórios que veem coisas e falam com mortos são mais normais do que nós!

MULDER: - (SORRI/CANSADO) ...

SCULLY: - De alguma maneira a água faz uma espécie de contra-pressão e normaliza suas funções cerebrais deixando seu cérebro em funções normais.

MULDER: - ... Me sinto como se... estivesse dentro do útero materno... Nas minhas origens...

Scully volta pro quarto. Mulder mergulha na banheira.

[Som da porta quebrando-se]

Mulder ergue-se na banheira. Escuta os gritos de Scully.

MULDER: - (GRITA) Scully!!!!!!!!!

Mulder salta da banheira rapidamente, se enrolando na toalha e correndo pro quarto. A porta está destruída. A bolsa de Scully sumiu. Mulder pega a arma e sai pra fora. Vê a limusine preta tomar a estrada. O desespero se estampa no rosto dele.

MULDER: - (CHORANDO) Não... (GRITA) De novo não!!!!!!!!!!!! Scully!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mulder corre até o carro e tenta ligá-lo. O carro não funciona. Mulder se desespera, olhando pra estrada, olhando pra ignição. Sai do carro. Abre o capô e percebe fios cortados. Mulder apoia-se no carro. Escorrega o corpo até o chão e começa a chorar.


BLOCO 4:

Base Aérea de Wright-Patterson - 10:29 P.M.

Scully sai por uma porta. Roupas cirúrgicas. Garganta Profunda vem atrás dela. Scully passa as mãos nos cabelos, indignada. Coloca as mãos na cintura e olha pra ele.

SCULLY: - Se queriam minha ajuda poderiam tê-la obtido de uma maneira mais civilizada. Quem garante que eu teria colaborado se não quisesse?

GARGANTA PROFUNDA: - Teria colaborado de qualquer maneira, agente Scully. Não tinha outra alternativa.

SCULLY: - Ele não sabe que você foi atrás de mim. Manterei minha boca calada se negar que eu estava com Mulder naquele telefone público. Este é o acordo.

GARGANTA PROFUNDA: - Então temos segredos a guardar um com o outro. Negociou com o homem certo, agente Scully.

Scully olha pra ele com indignação.

SCULLY: - Afinal, pra que serve aquele chip? É uma cura pro câncer?

GARGANTA PROFUNDA: - Sem respostas, agente Scully. Vou chamar um motorista para leva-la de volta ao motel.

Ela anda de um lado para outro, indignada.

SCULLY: - (INDIGNADA) Sem respostas... Isso é muito convincente. Fiz meu trabalho, salvei aquele cretino e o que recebo é um 'sem respostas, agente Scully?' O que está acontecendo por aqui?

GARGANTA PROFUNDA: - Por que quer saber se aquele chip cura tumores cerebrais?

SCULLY: - Por nada. Apenas curiosidade.

Garganta Profunda acena para um soldado. O soldado aproxima-se.

GARGANTA PROFUNDA: - Ele vai leva-la de volta.

Scully aproxima-se de Garganta Profunda e olha pra ele com desprezo.

SCULLY: - Vamos conversar novamente. Acredite.

O soldado pega Scully pelo braço. Ela se solta dele. Dá um último olhar de raiva pra Garganta Profunda.

SCULLY: - Se ele sentir dor, lhe deem o anestésico.

Scully sai, num rompante, de cabeça erguida. Garganta Profunda lança um olhar de admiração pra ela. Abaixa a cabeça e acena negativamente, enquanto a ruiva agente desaparece pelo corredor.


Dois dias depois...

Apartamento de Mulder – 11:29 P.M.

Câmera de aproximação pelo banheiro. Escuta-se o barulho do chuveiro. Mulder olha-se no espelho. Passa as mãos no rosto magro. Olha pra sua roupa. Percebe que as calças estão ficando grandes pra ele. Mulder perde o olhar para o espelho, numa fisionomia de seriedade. Lentamente ele ergue a mão segurando a máquina de cortar cabelos. Scully sai do chuveiro. Olha pra ele, com piedade.

SCULLY: - Mulder... Tem certeza?

MULDER: - (SORRI CANSADO) Tenho.

Ela se aproxima, abraçando-o por trás, recostando sua cabeça nas costas dele. Fecha os olhos.

MULDER: - Faz isso pra mim?

Ela se solta dele. Afasta a franja da testa dele, olhando-o com amor.

SCULLY: - Mulder, não...

MULDER: - (TENTANDO SE CONSOLAR/ SORRINDO) Cabelos crescem de novo, Scully.

Ela sorri pra ele ternamente. Pega a máquina.

MULDER: - Scully, você já leu Zero - A História do Terrorismo?

SCULLY: - Não.

MULDER: - Este livro relatava a existência desses governos ocultos, como manejavam o terrorismo, sobrepujando grupos econômicos poderosos, cujo papel secundário limitava-se apenas ao financiamento. Depois da publicação, fatos estranhos começaram a acontecer: misteriosos emissários compravam estoque desses livros, até a falência da Wingate, uma das sólidas editoras do mercado Londrino. E por fim, a morte inexplicável do autor, meses depois... E o sumiço da existência desse livro em qualquer fonte de pesquisa na web.

SCULLY: - ...

MULDER: - Joana D'Arc, por exemplo. Numa época em que todas as mulheres eram excluídas de qualquer atividade política, todas as portas, até as mais fechadas se abriram pra ela. É fácil explicar isto através da santidade. Mas e por que não pelo fato de que talvez, Joana tenha sido apoiada e ajudada pela intervenção de uma sociedade secreta?

SCULLY: - Isso tem fundamento...

MULDER: - Toda vez que algo ou alguém parece obstacular o determinismo cíclico da evolução do mundo, a ação dos governos invisíveis se faz presente. Atentados políticos, mortes inexplicáveis, gente que desaparece. Os atentados políticos da história: Kennedy, Martin Luther King, Lennon, Guevara, e por que não Hitler?

SCULLY: - E as respostas estavam naquele livro metálico...

MULDER: - Alguns grupos espirituais tem uma atividade temporal definida, ligados a esses governantes ocultos. O Opus Dei é um deles. Richelieu, Benjamin Disraeli, o primeiro ministro da rainha Vitória, Lênin. Conde de Saint Germain, Napoleão Bonaparte... Saint-Yves apregoava a Sinarquia do Império, uma sinarquia universal e especula-se que estava ligado aos governantes ocultos. A Sinarquia tinha uma estrutura hierárquica, essencial para o sistema e que era resumida em seu símbolo: um triângulo em quatro níveis, mostrando no interior um olho e cujo vértice coincide com a extremidade de uma estrela de 5 pontas. E nós vemos muitos símbolos na história: a cruz gamada nazista, o yin yang...

SCULLY: - Observando a história percebemos de um lado o equilíbrio, a ordem harmoniosa, a organização sintética, Mulder.

MULDER: - E de outro lado, o caos completo, a desorganização, a desagregação, Scully. Eu sabia que essa continuidade de eventos não pertencia ao acaso. As forças caóticas estão obedecendo a diretrizes detalhadas, sob a orientação desses governantes invisíveis... Que seguem a ordem do universo... Minha cabeça tá doendo. Vou parar de falar... (DEBOCHADO) E faz esse corte direito, não quero parecer um débil mental! Você não tinha taras por carecas?

SCULLY: - (TRISTE) Fiz aquilo, Mulder. Acho que 'fumei' mais do que devia na sala do Skinner.

MULDER: - (SUSSURRA) Eu fiz. Você não sabe de nada.

Scully liga a máquina.

Corta para o chão. As mechas de cabelo de Mulder caem aos poucos.


FBI – Washington D.C. – 8:07 A.M.

Mulder e Scully descem do elevador. Mulder com os cabelos cortados rentes à cabeça, quase careca. Agora sim sua fisionomia magra e doente não passa desapercebida. Os agentes no corredor olham todos pra ele. Mulder finge que não percebe. Scully carrega um envelope grande na mão.

MULDER: - Nenhuma palavra sobre o que conversamos e o que aconteceu em Utah. Negue tudo.

Os dois entram no gabinete de Skinner. Skinner vem ao encontro deles. Lança um certo ar de intriga ao ver o aspecto de Mulder, mas, discretamente desvia o olhar, evitando embaraça-lo.

SKINNER: - O que está havendo? Onde se meteram? Kersh está como uma hiena tentando agarrar a carcaça de vocês!

MULDER: - Estávamos em Utah, investigando um Arquivo X.

SKINNER: - Não poderiam ter avisado?

MULDER: - Sabe que se eu disser qualquer coisa aqui, o mundo todo acaba sabendo.

SKINNER: - Que Arquivo X?

SCULLY: - Formigas, senhor. Mas na verdade não era um Arquivo X. Perdemos nosso tempo.

SKINNER: - Formigas?

SCULLY: - Sim, formigas. Estão se comportando estranhamente, senhor. Mas verifiquei que há uma certa atividade climática influenciando. Nada de anormal.

Skinner passa a mão na careca, aflito.

SKINNER: - Mataram Krauft. Em Utah. Sabem se havia alguma ligação entre Krauft e essas formigas?

Scully disfarça, olhando pra um quadro na parede.

MULDER: - Eu fiquei sabendo da morte de Krauft. E não há ligação alguma. Talvez tivesse ido pra nos espionar.

SKINNER: - E jogaram a culpa em você.

MULDER: - (INDIGNADO) Acha que eu mataria Krauft? Skinner, é você mesmo? Está duvidando da minha integridade moral?

SKINNER: - Sei que não faria isso, Mulder. Você é louco, mas não chegaria a tal ponto. Mas querem culpar alguém. De preferência você.

MULDER: - Pois eu não fiz nada de errado! E não terão provas pra me incriminar!

SKINNER: - Mulder, quem fez o serviço era um profissional. Não deixou digitais, nada. E o bizarro de tudo: o corpo de Krauft desapareceu.

Scully olha pra Mulder. Olha pra Skinner. Mulder não parece surpreso.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Como assim 'desapareceu'?

SKINNER: - Sumiu do necrotério. Alguém sumiu com ele. Alguém quer encobrir alguma coisa. Acho que aqueles homens estão por trás disso.

MULDER: - Você ainda acha? Eu tenho certeza. Quem matou Krauft foi alguém do sindicato.

SCULLY: - Senhor, algum deles está tentando ocultar o trabalho de outro cretino da organização. Mataram Krauft, sumiram com o corpo e jogaram a culpa em Mulder. Isto é óbvio. É sempre assim.

Scully disfarça o olhar. Skinner olha pra eles.

SKINNER: - Quero abrir uma investigação sobre isto. Estão encarregados do caso. Quero que descubram o que está acontecendo, por que mataram Krauft e quem o fez. Quero a cabeça do desgraçado aqui na minha mesa.

MULDER: - Faremos isto. Não é, Scully?

SCULLY: - Claro, Mulder.

SKINNER: - (PREOCUPADO) Tomem cuidado. A cabeça de Mulder está a prêmio. E agora é o Kersh quem está no encalço de vocês. Carter subiu para o cargo de Krauft e com isso, Kersh agora tem proteção aqui dentro. Sejam espertos.

MULDER: - (AMEAÇADOR) Eu sei bem como me livrar do Kersh e do Carter se eles me aprontarem alguma. Acredite. Agora eu sei bem como me livrar de entulho humano.

Mulder sai porta à fora. Scully caminha até a porta, cabisbaixa.

SKINNER: - Agente Scully?

Ela para, segurando um suspiro. Fecha os olhos.

SKINNER: - Scully?

Scully abre os olhos. Vira-se pra Skinner.

SCULLY: - Sim, senhor?

SKINNER: - Scully, Mulder está doente?

SCULLY: - Não, senhor.

Scully aproxima-se da porta. Skinner a interpela.

SKINNER: - Scully...

SCULLY: - ...

SKINNER: - Sou seu amigo. Só quero ajudar.

Scully olha pra ele, derrubando lágrimas. Nervosa. As mãos começam a tremer. Skinner olha assustado pra ela.

SCULLY: - (SEGURANDO AS LÁGRIMAS) Não me peça pra falar, eu não vou conseguir fazer isto.

SKINNER: - Scully...

Scully fecha os olhos. Respira fundo, sem olhar pra Skinner. Entrega o envelope que segurava nas mãos.

SCULLY: - São os exames de Mulder.

SKINNER: - Scully... Isto...

SCULLY: - Não me pergunte nada, senhor... Por favor...

SKINNER: - Por que Mulder não me disse isto antes?

SCULLY: - Ele me pediu segredo. Não queria que sentissem pena dele. Que se preocupassem com ele.

Ela abaixa a cabeça. Começa a chorar.

SKINNER: - Scully... Eu... Eu sinto muito.

SCULLY: - ... (CHORANDO/ CABISBAIXA)

SKINNER: - Há algo que possamos fazer?

SCULLY: - ... Ele está com um tumor no cérebro. Houve algum tipo de lesão durante a abdução e originou um tumor que está crescendo e afetando as faculdades mentais de Mulder. A quimioterapia e a radioterapia não estão ajudando mais... Não é curável.

SKINNER: - (TRISTE) Eu... Eu não consigo acreditar nisto.

SCULLY: - ... (FECHA OS OLHOS/CHORANDO)

SKINNER: - Eles podem ter a cura. Posso tentar negociar isto, Scully...

SCULLY: - Eles não têm a cura pra esse tipo de câncer, senhor... E o tratamento que Mulder está fazendo se mostra ineficiente. Os médicos disseram que é só uma questão de tempo.

SKINNER: - E você, o que diz?

SCULLY: - ... Que é só uma questão de meses.

Skinner fecha os olhos. Olha pra ela com piedade.

SKINNER: - ... Querem alguns dias fora para...

SCULLY: - Não, senhor. Mulder precisa trabalhar. É o que o mantêm vivo, é a esperança que ele tem de encontrar o nosso filho. Não o tire daquele porão. Ele morreria mais depressa.

Skinner olha pro envelope em suas mãos. Cerra o punho.

Corte.


Local Desconhecido - 8:29 A.M.

Marita Covarrubias, com fones no ouvido, em frente a um monitor de vídeo observa a sala de Skinner pelo monitor. Scully fala alguma coisa, chorando. Skinner aproxima-se e a abraça. Scully afasta-se, saindo da sala, chorando, como quem tirou um peso das costas.

Marita retira os fones de ouvido. Pega o telefone e liga.

MARITA: - ... Sou eu. Eu sei que me pediu pra ligar quando acontecesse algo de muita importância... Aconteceu... Mulder está morrendo... Sim, de um tumor cerebral. Era isso que eles estavam escondendo de nós durante este tempo todo. E há algo errado. Scully implantou provas na sala de Skinner. Culpando você.


Rua 46 Este – Nova Iorque – Uma semana depois...

O Canceroso pega o maço de cigarros do bolso. Retira um cigarro e bate a ponta dele contra o maço, num sorriso cínico e debochado.

CANCEROSO: - O que aprecio em vocês é a forma como se desesperam. Tentam se livrar de mim, mas quando estão perdidos, pedem minha ajuda.

O Canceroso leva o cigarro até a boca. O acende. Dá uma tragada, soltando a fumaça com a cabeça erguida.

CANCEROSO: - Estão perdidos. Completamente perdidos.

Krycek está nervoso. O Homem das Unhas Bem Feitas mantém sua calma, desconfiado. Marita parece tão confusa quanto Krycek.

KRYCEK: - Não temos a vacina. Não temos nada. E os alienígenas estão em silêncio. Isso me assusta.

HUBF: - Precisamos da criança.

O Canceroso olha pra ele, debochado.

CANCEROSO: - Posso tentar localizar esta criança. Os métodos de vocês não são nada confiáveis.

KRYCEK: - O que tem em mente?

CANCEROSO: - Sabe o que tenho em mente. Deixem Mulder em paz. Já temos o que queríamos.

HUBF: - Você sabotou nossos planos. Você destruiu os clones. E agora isto!

O Homem das Unhas Bem Feitas aponta para um homem em pé no fundo da sala que não podemos ver o rosto.

CANCEROSO: - Pra que serviriam os clones? Não é mais fácil e rápido disseminar a vacina entre a população como fizemos antes com a varíola?

HUBF: - Os clones são necessários. A criança é necessária. Essa criança é altamente paranormal e não deve mais existir ou afetará os nossos planos! Ela precisa morrer!

CANCEROSO: - Sabem minha opinião.

Eles ficam em silêncio. O Canceroso traga novamente soltando a fumaça, num sorriso cínico.

CANCEROSO: - Perguntem ao novo membro do nosso Consórcio. O que ele acha disto? Já que forçou sua esposa a fazer coisas sem questioná-lo.

Corta para a janela. Câmera lenta, subindo pelos pés do homem parado na frente da janela. Aos poucos, ele se vira, revelando que é Mulder. Fisionomia séria, diferente.

MULDER: - (FRIO) Peguem a criança.

KRYCEK: - (INCRÉDULO) E quanto a Scully?

MULDER: - Ela nunca desconfiou de nada. Deixem ela fora disto. Entrego meu filho, mas quero a minha cura. E quero a proteção dela. A garantia de que não a tocarão. Ou não farei mais nada pra ajudar vocês. Um dedo nela e eu desisto, deixando vocês na mão.

HUBF: - Eu só quero saber agora quem matou nosso homem no FBI. Por que mataram Krauft?

O Canceroso olha pra Mulder, num sorriso debochado. Olha pra HUBF.

CANCEROSO: - Quando eu disse que havia um alienígena infiltrado entre nós, vocês simplesmente tentaram se livrar de mim. Alguém aqui está trabalhando sozinho.

O Canceroso olha pra Krycek. Olha pra Marita. Eles todos se entreolham, com exceção de Mulder, que está cabisbaixo.

CANCEROSO: - Eu mandei Mulder matar Krauft.

HUBF olha pra ele. Todos olham pra Mulder, incrédulos. Mulder ergue a cabeça rapidamente, olhando pro Canceroso, com uma fisionomia de questionamento.

CANCEROSO: - Algum idiota inglês aqui queria tirar Mulder do FBI e usou Krauft pra isso. Mulder agora é o nosso homem chave lá dentro. Todas as distorções necessárias serão passadas a Mulder.

HUBF: - Você está louco!

KRYCEK: - Quem estiver comigo, me siga. Eu não vou ficar aqui ouvindo esse velho cretino dizer besteiras boca à fora. Estávamos muito bem sem você! Eu não confio no Mulder!

CANCEROSO: - E quem confia em alguém aqui dentro?

Krycek sai porta à fora. Marita sai atrás dele, indignada. O Homem das Unhas Bem Feitas os segue. Mulder olha pro Canceroso.

MULDER: - Por que mentiu pra eles sobre Krauft? Por que disse que me mandou matá-lo se não o fez?

CANCEROSO: - Porque acho que você sabe de alguma coisa que eu não sei. Por isso matou Krauft.

MULDER: - Ele ia me tirar do FBI. Eu não podia correr o risco. Por isso culpei você, deixando aquele maço de cigarros na mesa da sala do Skinner e o Arquivo X de Utah.

CANCEROSO: - Não foi você quem fez isso. Foi ela.

MULDER: - Me esqueci que você tem 'olhos' por aí, não é? Tá certo, foi ela. Mas tive de mentir muito pra que ela o fizesse. Ela não sabe da nossa relação. Nem que estou trabalhando pra você. E prefiro que assim seja. Não quero perder a Scully. Se ela souber que estou desviando provas e matando gente, ela vai me deixar.

CANCEROSO: - Acha que vai conseguir mentir pra uma mulher por muito tempo?

MULDER: - Eu tenho meus métodos, senhor Spender.

Os dois se olham cinicamente. O Canceroso retira um chip do bolso e coloca sobre a mesa.

CANCEROSO: - É isto o que quer?

Mulder olha para o chip.

CANCEROSO: - É seu. Pegue-o.

MULDER: - ...

CANCEROSO: - Devo isto à sua parceira. Ela me salvou.

MULDER: - ... Tudo na vida é uma troca pra você, não é mesmo? Olho por olho, dente por dente... Um mercado negro de favores.

Mulder pega o chip. Joga-o na lixeira. Olha pro Canceroso com revolta.

MULDER: - Isto não é uma troca. Só quero descobrir o que aconteceu com essa criança e dizer pra Scully. Fazer justiça com minhas mãos e depois morrer em paz, dignamente. Eu quero sangue. Muito sangue! E isso você pode me oferecer.

Mulder abre a porta e sai. O Canceroso olha para a lixeira. Acende outro cigarro.



TO BE CONTINUED...


14/02/2001


Aug. 13, 2019, 1:45 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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