lara-one Lara One

Mulder foi abduzido. Scully tenta desesperadamente fugir do país com seu filho. Ela poderá salvá-lo do caos que se prenuncia? O que estarão fazendo com Mulder? Pode ele suportar a verdade que se concretiza diante de seus olhos? A verdade que tanto buscou e tinha medo de acreditar? A briga pela posse do filho de nossos agentes começa. Quem será o vitorioso?


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S03#22 - VERITAS VOS LIBERABIT – PARTE I

“Alguns perdem a fé porque o céu mostra tão pouco. Mas outros perdem a fé porque o céu mostra demais.”

(Pe. Thomas, no filme Anjos Rebeldes, de Gregory Widen)


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Câmera subjetiva. (o espectador vê pelos olhos do personagem)

[Ambiente claro e difuso.]

Câmera objetiva. (o espectador vê a cena fora da visão do personagem)

[Mulder, deitado numa mesa retangular, nu, com apenas um lençol por sobre seu corpo. Ele olha pro teto do ambiente nada nítido ao seu olhar. Há presenças ao seu redor, mas ele não as distingue. Mulder olha pro teto, sem mexer as pálpebras, como se estivesse morto, de olhos abertos. Olhar vazio, ao longe. Triste. Alguém aproxima-se e pega seu braço. Injeta uma agulha enorme. Mulder não reage. Continua imóvel.]

MULDER (OFF): - Não há dor física. Há apenas a dor espiritual. Podem me furar o quanto quiserem... Não importa. Nada disso importa mais.

Mulder continua olhando pra cima.

Câmera subjetiva. A agulha desce por sobre sua testa, lentamente. Mulder não consegue fechar os olhos, como se as pálpebras estivessem coladas. O corpo não reage, apenas o pensamento parece vivo.

MULDER (OFF): - Não, isto não dói... Acho que estou fora de mim...

A agulha penetra pela testa dele. Mulder continua imóvel.

MULDER (OFF): - (RESIGNADO) Quantas vezes ainda farão isso? ... Eu não sei. Só o que sei é que o fazem sempre... como uma tortura eterna, que não tem fim... Não sei quanto tempo estou aqui, não sei onde estou e quem são eles. Mas sei o objetivo disso...

A agulha sobe, saindo da testa dele.

MULDER (OFF): - Frases vêm à minha cabeça, mas eu não sei de onde elas vêm... “Uma chance que nenhum de nós esperava, sequer sonhava. Depois de tantos anos tentando desenvolver uma raça humana compatível com a alienígena.” “Ele é o nosso salvador, imune a próxima virose do apocalipse. Ele é o herói. O que seria o destino de um herói?”... “Estamos forçando o próximo passo para a evolução do homem. Estamos fazendo o trabalho de Deus. Sem essa imunização todos morreriam. Continuarei de agora em diante pelo Mulder...” “Um pai tem grandes esperanças em seu filho. Mas nunca sonha que ele vá mudar o mundo. Tenho tanto orgulho desse homem. Da profunda capacidade que ele tem para sofrer.” “Eles acham que o que ele tem vai matá-lo. Mas na verdade, ele nunca esteve tão vivo.”

Câmera objetiva. Mulder consegue fechar os olhos. Continua ouvindo vozes em sua cabeça.

MULDER (OFF): - “Tentei fazê-lo dissuadir do seu caminho. Mas não está em mim. É algo que não tenho poder, sua vida, seu próprio destino.” “Eu lhe dou uma escolha: vida ou morte.” “A criança é o pai do homem.” “Se entrar em contato com ela, ela entrará em perigo.” “Percebi que se o FBI ou a máfia não o matasse, alguém o mataria.”

Mulder abre os olhos.

MULDER (OFF): - (GRITA) Eu quero que eles parem! Eu quero que eles parem!

Lágrimas correm dos olhos dele. Ele consegue piscar os olhos, demonstrando que agora sente dor física. Grita. Alguém aproxima-se e injeta uma substância no braço dele.

MULDER (OFF): - (ÓDIO) Posso não saber onde estou, mas eu te escuto, desgraçado. Sinto o cheiro da sua fumaça pelo ar... (GRITA) Isso dói! Manda eles pararem com isso! Eu não posso mais aguentar!

VINHETA DE ABERTURA: THE TRUTH IS IN YOURSELF


BLOCO 1:

O Canceroso caminha por um corredor, fumando um cigarro. Krycek está parado ao lado de uma porta. O Canceroso pára a sua frente.

KRYCEK: - Os alienígenas terminaram suas tarefas. Agora é com os nossos pesquisadores.

CANCEROSO: - Ótimo.

KRYCEK: - Não sairei daqui enquanto não tiver a certeza absoluta de que não estarei fora da situação.

CANCEROSO: - O que quer mais, Alex Krycek? Não entreguei meu filho pra vocês?

KRYCEK: - Sabe que ficarei aqui porque quero ter a certeza de que levarei o feto.

CANCEROSO: - Está encarregado de monitorar a operação. Vai levar o feto.

KRYCEK: - Não confio em você. Você escondeu Mulder por tanto tempo! Você quer mais é que morramos todos, porque é egoísta e covarde. Eu não vou servir de comida pra alienígenas.

CANCEROSO: - ...

KRYCEK: - Vou ficar de olho no processo. Se me trair, eu abrirei o bico sobre o muito que sei de você. Não tente me testar, você não me conhece. Scully já sabe a verdade.

CANCEROSO: - Ela sabe apenas o que você achou conveniente contar a ela. Não deveria ter dito sobre Mulder.

KRYCEK: - Por quê? Eu preferia que ela tivesse abortado essa criança, seria muito mais fácil de conseguir a vacina. Esse feto será a chance que temos de descobrir a vacina e como ativar partes desativadas do cérebro humano. É a única forma de resistir ao caos. E lembre-se: está mais perto do que pensávamos.

CANCEROSO: - ...

KRYCEK: - Pensa que eu quero entregar tudo aos alienígenas? É isso o que pensa?

CANCEROSO: - Penso que depois disso, você nunca mais conseguirá dormir à noite.

O Canceroso dá as costas e continua caminhando pelo corredor.

KRYCEK: - (GRITA) Você é quem nunca mais vai poder dormir à noite! Você entregou seu filho! Você mentiu pra ele a vida toda!

O Canceroso continua caminhando.


Corta pra Mulder na mesa de estudos. Olhos abertos.

MULDER (OFF): - Um dia você acorda e percebe que tudo à sua volta foi uma ilusão...

Mulder continua estático.

MULDER (OFF): - É tão fácil ser corajoso quando a vítima está presa e anestesiada... Vítima... Não, não sou uma vítima. Sou uma cobaia... A verdade é esta. Não sou nada, não passo de uma experiência bem sucedida, mantida em segredo por muitos anos. Não sou um homem. Sou meio humano, meio alienígena. Se todos pensamos que somos humanos, estamos errados. Somos todos alienígenas. Todos provemos daquela célula mater. E eu, em maior proporção. Um dia você acorda e pensa que é um ser humano, que está vivo, no topo da cadeia alimentar e que o sol despontará no horizonte todos os dias... Mas nunca se questiona como veio parar neste mundo. De onde veio e pra onde vai. Mas quando toma a consciência da verdade, você percebe que não é nada. É apenas uma experiência... Na melhor das hipóteses, acaso do destino.

O olhar de Mulder fica perdido no vazio.

MULDER (OFF): - Apenas uma experiência... se estamos aqui nesse planeta é porque alguém nos criou. E esse alguém não é onipotente e onipresente. Você está abandonado à própria sorte. E se as coisas que dizem, que quando você morre voltará a vida? Sabemos se isto não é apenas uma ilusão? Uma ilusão, uma crença que nos deixaram para que sigamos as regras, pensando em sermos recompensados? ... Agora sei disso. Estão fazendo comigo o que fazem com animais de laboratório... Minha dignidade foi embora. Eles me tiraram isso. (ÓDIO) Sou apenas um animal, uma matéria prima. Um animal jogado aqui, sendo pesquisado, explorado e torturado com objetos pontiagudos... Eles vem vindo novamente.

Câmera subjetiva. (passando a sensação de abdução ao espectador, como se ele próprio estivesse na mesa)

Presenças ao redor dele, nada nítidas. Alguém aproxima-se dele. Começa a passar uma substância incolor por seu corpo, como se fosse uma cola. Outro se aproxima e ergue a cabeça de Mulder. Coloca um aparelho em seu queixo.

MULDER (OFF): - (NERVOSO) Não... Eles vão fazer isso de novo...

Mulder continua estático. Olhando pra cima, sem mexer as pálpebras.

MULDER (OFF): - Um animal... Tudo é uma ilusão. Você não é dono nem da sua alma. Nem dos seus pensamentos... Você não tem liberdade. O céu e o inferno te colocam limites e ter limites significa que o homem não é livre...

Outro aproxima-se dele. Coloca uma espécie de agulha por dentro de sua narina esquerda. Mulder continua sem reagir. Olhos abertos.

MULDER (OFF): - (MEDO) O pior é que você vê tudo. Na maioria das vezes, não sente dor. Mas vê tudo. Eu não sei quem são, não consigo distinguir nada. Não sei se são homens, se são alienígenas... Mas sei que não vão me matar. A não ser que o façam por acidente. Eles precisam de mim.

A agulha é retirada. Eles saem da sala. Uma luz intensa toma conta de tudo.

MULDER (OFF): - Só queria saber se você está bem. É só o que me importa. Eu não posso me desligar, isso é como um sonho, onde você está acordado e não consegue sair dele. Pra aliviar minha dor, eu penso em você... é quando consigo sair do meu corpo. Pensar em você me deixa aliviado. Me deixa sentindo que tudo isso não é nada, se eu sair vivo e voltar pra você... Se isto poupar a vida do nosso filho, meu sofrimento será uma bênção... Suportarei tudo por vocês dois. Mas algo me diz que tudo isto não vai evitar que o levem, que te machuquem, Scully.

A luz vai ficando mais fraca.

MULDER (OFF): - Eu espero que não consigam roubar nosso filho. Apesar de que você nunca acreditaria, que o que fizeram com você, agora estão fazendo com outras mulheres. Eles estão inseminando óvulos com meus genes e implantarão nelas, como fizeram com você. E eu sou o pai de todas aquelas crianças... Como você é mãe de todas as Emilys... Eles não se importam com sua dignidade. Aqui você é apenas um animal. Um doador genético. E pouco se importam com o destino dessas crianças. Elas serão apenas cobaias... Sinto essa luz que queima meu corpo... é algum tipo de radiação, porque eles se afastam e me deixam sozinho na sala...

A luz se dissipa. Mulder consegue sair do transe. Grita de dor. Alguém entra na sala e injeta algo nele. Ele continua gemendo até cair em transe de novo.

MULDER (OFF): - (DESESPERADO) Estão me machucando, Scully! Tiram pedaços do meu corpo. Eles estão me explorando dos pés à cabeça, como uma criatura desconhecida. Scully, eu preciso de você! Scully, me ajuda!!! Eu não quero acreditar nessa verdade!!!


Motel Sacramento – Sacramento – Califórnia – 3:22 P.M.

Scully entra no quarto. Larga as chaves do carro sobre a cama e atira um envelope de radiografias. Entra no banheiro. Pega a necessaire. Retira uma pinça cirúrgica. Olha-se no espelho. Ergue o nariz. Coloca a pinça dentro do nariz e fecha os olhos.

Close das gotas de sangue que caem lentamente dentro da pia.

Scully puxa a pinça, retirando um chip do nariz. Olha-o contra a luz. Coloca-o na pia. Limpa o nariz com um pedaço de papel higiênico. Pega o chip e volta para o quarto. Senta-se à mesa e pega um envelope, colocando o chip dentro. Fecha o envelope. Pega a mala que está sobre o sofá e a sacola do bebê. Sai do quarto às pressas.

Corta para fora do motel. Scully atira a mala dentro do carro e a sacola também. Caminha até uma caixa de correio. Coloca o envelope. Aproxima-se de um telefone público. Entra na cabine. Revira o bolso, retirando moedas. Disca. Aguarda.

SCULLY: - ... Langly? Langly, sou eu, Scully. O Frohike está aí? ....... Frohike, eu confirmei! Estou enviando pelo correio, ok? Sabe pra onde mandá-lo.... Sim, estou bem. Tem notícias de Mulder? (FISIONOMIA DE DESAPONTAMENTO) ... Frohike, eu estou indo pro lugar combinado. Quando chegar, entrarei em contato... Não, fiquem tranquilos, eu estarei segura... Cuidem-se também.

Scully desliga. Volta pro carro, olhando pra todos os lados. Entra. Dá a partida e sai cantando os pneus, fugindo.

Corte.


Câmera objetiva.

Mulder continua de olhos abertos, imóvel. Há um médico americano, ao lado dele. O Canceroso entra na sala.

CANCEROSO: - Como está o processo?

MÉDICO: - Já coletamos o material necessário e todos já receberam sua parte no processo... Estão inseminando os óvulos... Retiro o material cerebral dele?

O Canceroso olha pra todos os lados. Não vê ninguém.

CANCEROSO: - Faça, assim que estiver sozinho. Não quero um incidente internacional por aqui.

O Canceroso olha pra Mulder.

CANCEROSO: - Ele nos escuta?

MULDER (OFF): - (ÓDIO) Claro que te escuto desgraçado! Eu sempre te escuto!

MÉDICO: - Não, ele não pode nos escutar.

CANCEROSO: - Ele sente dor?

MÉDICO: - Não, está anestesiado.

MULDER (OFF): - Desgraçado, eu queria poder sair daqui e matar você, lentamente, pra você sentir o que é dor!

O médico sai da sala. O Canceroso inclina-se sobre Mulder. Olha pra ele, com indiferença.

CANCEROSO: - Sei que não pode se mexer e que não pode fechar os olhos. Mas sei que está me escutando.

MULDER (OFF): - Queria que escutasse meus pensamentos, seu miserável!

CANCEROSO (OFF): - Sabe se eu não os escuto? Deve estar me odiando neste momento, mas isto é um ato de proteção.

O Canceroso acende um cigarro.

MULDER (OFF): - Proteção do quê? Você me joga nas mãos deles, me deixa ser torturado e diz que isto é um ato de proteção? O quê você está protegendo? Seus interesses?

CANCEROSO: - Foi a única maneira que achei pra evitar o que não quero. Você se jogou nessa mesa e entregou seu filho quando confiou em Krycek. Não foi a mim que entregou. Foi a sua própria família. O Sindicato já desconfiava de você. Eu estaria aí hoje, se o transplante tivesse dado certo. Eu teria outros meios de fazer uma vacina. Eu teria suas células cerebrais. Eu ia me sacrificar por você! Mas seu senso irresponsável, sua busca pela verdade... (RAIVA) Espero que agora você esteja feliz em saber que esta é a verdade.

O Canceroso retira uma seringa do bolso e injeta algo em Mulder.

CANCEROSO: - Continuará imóvel, mas vai distinguir o que vê. Espero que esteja satisfeito em ver a verdade, Mulder. Eu te dou a verdade. A verdade que eu quis evitar que soubesse, pra não jogar você na lama como me jogaram.

MULDER (OFF): - ... Blasfêmia! Você mente, Canceroso. Mente tanto que nem sabe mais qual é a verdade!

CANCEROSO: - ... Sua parceira está desatinada tentando achar você. Mas ela confia em mim.

MULDER (OFF): - Se tocar na Scully, eu mato você!

CANCEROSO: - Ela foi mais sensata. Você não é sensato. Mas não o culpo. Isso é de família. Meu pai, aquele desgraçado, era outro insensato, que fez a mulher fumar como uma louca, e a matou de nervosismo com as besteiras que fez. E me parece que você vai matar sua mulher também, nessa busca insensata.

MULDER (OFF): - ... Eu só queria sair daqui pra mostrar a minha insensatez! Eu juro que se sair dessa, eu te mato! E nada vai me impedir de apertar aquele gatilho!

CANCEROSO: - Eu disse que éramos iguais, Mulder. Ou você acha que eles pegam qualquer um pra ser o cabeça do consórcio deles? Você é um desgraçado, Mulder. Sua arrogância não lhe deixa ver a verdade. Agora veja, e espero que se farte dela como num banquete. Você nunca me deu ouvidos. Você só acredita em coisas boas, Mulder. E muitas vezes precisamos fazer o mal para salvar muitos.

MULDER (OFF): - Não vai me convencer. Eu não tenho pena de você!

CANCEROSO: - Eles pegam sempre quem tem algo a perder. Ou quem tem algo a dar. Eu e você somos os últimos, Mulder.

MULDER (OFF): - ??? O que está me dizendo?

CANCEROSO: - Entenda se quiser. A verdade está aqui. E se tiver olhos, agora vai descobrir e se lamentará o resto de sua vida por ter descoberto essa verdade.

MULDER (OFF): - ...

CANCEROSO: - Muitas coisas que pensa sobre você são mentiras. E também o pouco que sabe sobre mim. Não sabe quem é, Mulder, e não sabe o que Bill Mulder fez com seu cérebro, bem antes de dizer suas primeiras palavras! Ou acha que ele seria burro de nunca descobrir que você não era filho dele? Acha que eu não me vingaria pelo que Bill fez com sua mãe e com você? Por que acha que ela se divorciou? Por causa da Samantha? Era seu nome que estava na lista. Eu troquei você por sua irmã! Eu me vinguei! Ela nunca entendeu isso. Nunca me perdoou e nunca aceitou você, a aberração, como seu filho. Sua mãe foi uma cobaia e eu também! Nos usaram, sem nosso conhecimento!

MULDER (OFF): - ...

CANCEROSO: - Eles sabiam quem eu era. Eles me ofereceram este lugar. Me questionei a cada segundo de minha juventude sobre o motivo de me escolherem.

MULDER (OFF): - ...

CANCEROSO: - Como você se questiona hoje. Bill iria revelar tudo sobre você, Samantha foi a maneira de obter seu silêncio. Eu o jurei de morte. Até que ele resolveu abrir a boca pra você. Agora você sabe, Mulder, o que é matar pra proteger um filho. (ÓDIO) O que é mentir. O que é levantar um dedo contra seu filho, à contragosto, pedindo à Deus que nada aconteça com ele! O que é mantê-lo perto de você, como forma de tomar conta dele. Mesmo sabendo que a qualquer momento, algo pode falhar e você pode perdê-lo.

Mulder está incrédulo, derrubando lágrimas.

CANCEROSO: - Mas isso não redime a minha culpa. Eu optei pela vingança. Opte pelo esquecimento. Ou nunca mais fechará seus olhos à noite. Porque a verdade dói, Mulder. Eu sei disso.

O médico entra na sala. O Canceroso lhe dirige um olhar.

CANCEROSO: - Tire o chip de localização do nariz dele. Não precisaremos mais disso.

MULDER (OFF): - Desgraçado! Então foi assim que me pegou! Armou tudo pra me monitorar!

MÉDICO: - Precisamos mexer em seu cérebro.

CANCEROSO: - ... (FRIO) Faça o que tem que ser feito.

MULDER (OFF): - (MEDO) Não!!! Pelo amor de Deus, isso de novo não!!!

MÉDICO: - Temo que ele não irá resistir a uma outra cirurgia.

CANCEROSO: - Faça o que tem que ser feito.

O Canceroso sai. Mulder fica gritando em pensamentos.


Aeroporto Internacional de Los Angeles – 7:18 P.M.

Scully sentada, aguardando o voo. Olhar ao longe.

SCULLY (OFF): - Não sei se estou sendo leal com você, Mulder. Agora que precisa de mim, eu o abandono à própria sorte... Mas, pela primeira vez, estou ouvindo minha voz interior.

Scully afaga a barriga, com carinho.

SCULLY (OFF): - Ontem à noite vi você, num sonho. Estava perdido por entre uma neblina, e um enorme abismo nos separava. Você gritava que eu devia ir embora e salvar nosso filho... Mulder, não sei se esta é a hora, mas eu estou aprendendo a ser menos racional e mais intuitiva. Tudo pra salvar você e o nosso filho. Tenho tido presságios estranhos, onde vejo que ele não chega a nascer. Ultimamente, tenho tido sonhos em que vejo um anjo vestido de branco, o mesmo das visões que tenho. Ele sempre leva essa criança entre suas asas... Mas eu não vou arriscar que o tirem de mim. Sei que deve estar sofrendo, Mulder, eu sinto a sua dor como se fosse minha. Não sei explicar, é algo que nunca senti antes... Sinto agulhas em minha pele, sinto calafrios... Quando fecho meus olhos, lembro-me detalhadamente das coisa que fizeram comigo. Mulder, estou com medo. Medo por você... é como se eu estivesse conectada com você, sentindo o que você sente... na mesma sintonia...

O nariz de Scully começa a sangrar. Ela retira um lenço da bolsa. Os olhos enchem-se de lágrimas.

SCULLY (OFF): - Sinto dor... Estão te machucando. Eu sei.

[Fusão]


Mulder continua deitado. Imóvel. Olhos abertos. Retiram um chip do nariz dele e o sangue começa a escorrer. Os olhos verdes estão sem brilho. O aparelho de batimentos cardíacos mostra apenas uma linha reta. Os médicos começam a gritar.

MÉDICO: - O coração dele parou!

Um dos médicos retira a pinça que mantinha dentro da cabeça de Mulder. Pega o desfibrilador.

MÉDICO 2: - Afastem-se!

Mulder abre os olhos. Percebe que está ao lado da mesa cirúrgica, observando o seu corpo. Vê os médicos tentando reavivá-lo. Mulder observa, triste, indiferente. Dá as costas pra sair da sala. Passa através da porta.

Há um laboratório enorme. Mulder passa por entre cientistas, sem ter sua presença notada. Vê várias caixas de vidro, com uma substância verde líquida. Há fetos dentro delas, todos catalogados com números, em estágios diferentes de crescimento. Mulder se desespera. Há alienígenas trabalhando com homens do governo. Mulder derruba lágrimas. Vê o Canceroso aproximando-se dele. Mulder avança no Canceroso, mas sua mão transpassa o corpo dele. Mulder olha pra mão, incrédulo. O Canceroso parece pressentir algo e vira-se. Olha pra Mulder. Mulder olha pra ele.

CANCEROSO: - Veritas vos liberabit. A verdade vos libertará.

Mulder fecha os olhos.


Aeroporto de Los Angeles – 7:33 P.M.

Scully continua sentada, olhando para o monitor de embarque a sua frente.

Corta para as pessoas que caminham no saguão do aeroporto. Mulder, em espírito, passa por entre elas e caminha em direção à Scully. Ajoelha-se e toca a mão dela, derrubando lágrimas. Scully não o vê.

MULDER (OFF): - Preciso de você... Preciso da sua ajuda... Eles precisam de nós dois, Scully. Somente nós dois poderemos fazer justiça. Vá e afaste nosso filho do caos. Eu te espero. Eu te esperaria por toda a eternidade... Agora vejo que não posso desistir. Preciso suportar isso. Preciso sair vivo.

Scully olha pra direção de Mulder, erguendo as sobrancelhas, mas não vê nada. Fica cismada. Fecha os olhos e aspira o ar.

SCULLY: - Mulder?

Mulder sorri entre lágrimas. Scully fica boquiaberta. De olhos fechados, derrubando lágrimas, ela murmura, com a mão sobre os lábios, espantada.

SCULLY: - Deus, eu sinto você aqui!

MULDER: - ...

SCULLY: - ... eu te amo... volta pra mim...

Mulder passa a mão pelos cabelos dela. Olha-a com ternura. Beija-a na testa. Scully continua de olhos fechados, como se o sentisse. Mulder levanta-se. Fecha os olhos.

Corte.


Câmera subjetiva.

Mulder abre os olhos, já em seu corpo. Grita sentindo dor.

MÉDICO 2: - Ele voltou! Está acordado, precisamos sedá-lo!

Eles injetam algo no soro. Os olhos de Mulder permanecem abertos, mas ele não mexe mais as pálpebras.


BLOCO 2:

Apartamento de Scully – 9:59 P.M.

A porta abre-se lentamente. Krycek entra com mais dois homens. Puxa a arma. Indica a direção do quarto. Eles entram na penumbra. Krycek aponta a arma pra cama e acende a luz.

Eles têm uma surpresa. Sobre a cama de Scully, apenas o chip. Krycek abaixa a arma, furioso.

KRYCEK: - Ela não está aqui! Droga!

Um dos homens vê o chip e o pega. Entrega pra Krycek. Krycek observa-o.

KRYCEK: - Maldito desgraçado! Ele a estava monitorando!

Krycek coloca o chip no chão e o esmaga com o pé. Sai do quarto furioso.


Base Aérea de Wright-Patterson – 10:03 P.M.

O Canceroso entra na sala. Há vários aparelhos de monitoramento. Um soldado olha pra ele.

SOLDADO: - Senhor, perdemos a localização.

CANCEROSO: - Como assim?

SOLDADO: - Simplesmente sumiu do nosso radar.

O Canceroso respira fundo. Sai da sala. Há um general aproximando-se pelo corredor. O Canceroso olha pra ele.

CANCEROSO: - Feche todos os aeroportos, estações de trem e coloque homens nas rodovias. Ela sumiu. Quero que espalhe a foto dela por todos os cantos desse país.

O Canceroso sai às pressas, nervoso.


Sede dos Pistoleiros Solitários – 4:56 A.M.

Frohike anda de um lado pra outro. Langly olha pra ele.

LANGLY: - Nada.

FROHIKE: - Estou começando a ficar preocupado com ela. Não deveria ter dado ouvidos. Deveria ter ido junto.

Batidas na porta. Frohike e Langly se entreolham.

FROHIKE: - Não abra. Já devem ter descoberto que ela não está em casa.

Byers observa a porta, assustado.

SCULLY: - (GRITA) Ei, sou eu!

Os três se entreolham. Frohike abre a porta. Scully entra. Os três olham surpresos pra ela.


7:23 A.M.

Scully e Skinner sentados à mesa. Os Pistoleiros em pé, ao redor. Scully coloca a pasta com o nome de Mulder sobre a mesa.

SCULLY: - Recebi isso de Krycek.

SKINNER: - O que é?

SCULLY: - Relatórios sobre Mulder. A verdade, senhor.

SKINNER: - Krycek entregou a verdade pra você?

SCULLY: - Não o endeuse, ele não tem boas intenções. Tentou me fazer acreditar que o que gero em mim é uma aberração. Em vista desses dados, essa criança é uma anomalia genética. E ela o é.

SKINNER: - Scully, o que está tentando me dizer?

SCULLY: - Mulder é diferente de nós, senhor. Ele tem partes do cérebro ativadas, que em nós estão desativadas.

SKINNER: - Mulder é um híbrido humano-alienígena?

SCULLY: - Não, senhor. Mulder é mais humano do que nós.

SKINNER: - Como assim?

SCULLY: - De acordo com os estudos que fiz, todos nós temos essas partes, mas estão desativadas. Mulder foi uma experiência genética. O que confirma que há muitos tempo eles tinham conhecimento daquela nave que estava na África, senhor. Eles sabem o mapeamento genético, mas sabem também o que cada gene faz. Claro que isto ainda não foi revelado. Ativaram os genes de Mulder e isto deu certo.

SKINNER: - Mas se o Fumacinha sabia disso, por que não usou Mulder antes?

SCULLY: - Senhor, tenho aqui os dados de Gibson. Gibson é outra experiência genética. Acredito que aquele homem tenha mentido sobre a data da descoberta e entregou Gibson pra não entregar Mulder.

SKINNER: - (INCRÉDULO) Acha que ele o protegeu?

SCULLY: - Sim. Acho que fui colocada nos Arquivos X como forma de contestação para proteger Mulder. O jogo era esse, senhor: Mulder quer mostrar a verdade e acho que isto o levaria a se entregar. Melhor que ele nunca chegasse perto da verdade. Que a ciência o impedisse.

SKINNER: - Está me dizendo que tudo o que aconteceu até agora foi por uma boa causa?

SCULLY: - Não digo isso, senhor. Não sei as intenções daquele homem. Mas sei que protegia Mulder e agora tenho certeza disso. Como tenho certeza da importância dessa criança pra eles. Eles a querem pra desenvolver algum tipo de vacina contra doenças desconhecidas provindas de alienígenas. Como essa criança é portadora natural disso, ao contrário de Mulder que teve implantado alguns genes ativadores, ela é a resposta do que eles querem. Essa criança é filho de Mulder.

Scully levanta-se. Está tensa e abatida.

SCULLY: - Eles me fizeram ficar cega e acreditar que isto era natural. Implantaram um óvulo fertilizado em mim. Na verdade, aquela confusão toda de me substituírem por uma clone, foi para afastar Mulder da verdadeira intenção. Não queriam me matar. Me queriam pra gerar essa criança. Não posso saber com certeza se este óvulo era meu. Mas acredito que seja.

Scully olha pra Byers. Byers coloca um chip sobre a mesa.

BYERS: - Este é um chip de fabricação japonesa. O obtemos através de um amigo. Scully tinha um igual a este, colocado por eles em seu nariz. Nós deixamos o chip verdadeiro no apartamento dela.

SKINNER: - Scully, acha que deveria ter retirado o chip?

SCULLY: - Senhor, o chip estava em meu nariz, provocando sangramento, para que eu pensasse que estava com câncer, desviando minhas atenções de uma gravidez questionável. Quando descobri isto, fiquei com medo de tirá-lo. Com medo de ter o câncer de volta e causar danos ao meu bebê. Mas isso era o que eles queriam. Isso me impediria de abortá-lo. Se desconfiasse, eles temiam que eu o mataria.

FROHIKE: - Isso é um chip de localização, não tem função alguma. Eles monitoravam Scully por ele, pra não perderem a criança de vista.

SKINNER: - Desgraçados!

SCULLY: - Senhor, por isto eu vou embora. Preciso fugir com meu filho ou eles o tomarão de mim. Estou muito preocupada com Mulder, mas sei que ele gostaria que eu fizesse isso. Resolvi voltar e deixar isto em suas mãos. Aqui está a verdade, senhor. Através disto, poderá expor esses homens. E fazer justiça às pessoas que morreram por causa dessa verdade.

Scully segura as lágrimas.

SCULLY: - Se ficar, nada poderei fazer, a não ser perder meu filho. Se for embora, eu o salvo. Em qualquer situação, eu não tenho poderes pra encontrar Mulder e o trazer de volta. CGB Spender me disse que nada de mal irá acontecer a Mulder. Que é melhor eu cuidar do meu filho. E eu quero acreditar nele, senhor, em vista das coisas que descobri, isto me parece lógico. E me parece ser mais sensato ir embora. Deixarei meu filho em segurança e voltarei depois para encontrar Mulder. Porque mesmo que não seja meu filho em sangue, ele é meu filho porque está dentro de mim.

Skinner levanta-se. Frohike olha pra ele. Skinner olha pra Scully.

SKINNER: - Vamos, Scully. Eu encontrarei Mulder.

SCULLY: - Não vai encontrá-lo, senhor. Mas pode conseguir expor esses homens.

SKINNER: - Não acredite nisto. Pegue suas coisas e eu vou te levar embora daqui, pra um lugar seguro. Cuide de seu filho e de você. Deixe Mulder comigo.

Scully levanta-se.

SCULLY: - Obrigado, senhor.

SKINNER: - Não me agradeça. Preciso dessa pasta, Scully. É a única chance de trazer Mulder de volta.

FROHIKE: - Vai ameaçá-los?

SKINNER: - Vou lidar com eles da maneira que eles sabem negociar. Scully, arrume suas coisas. Volto pra te pegar.

Scully entrega a pasta pra ele. Skinner sai. Scully olha pra Frohike.

FROHIKE: - Tem certeza? Não pode ter essa criança sozinha. Precisa de alguém por perto.

SCULLY: - Não quero envolver mais ninguém. Sozinha eu chegarei mais longe. Sei me cuidar.

FROHIKE: - Langly, traga os dispositivos de localização.

BYERS: - Estão programados fora da faixa do governo. Estamos usando a faixa de um satélite meteorológico brasileiro. Até o governo americano descobrir, será muito tarde.

FROHIKE: - Ótimo. Se você sumir no meio do caminho e não contatar conosco, vamos te procurar porque algo aconteceu. Vou pegar suas malas, Scully. Dê o fora daqui antes que o pior aconteça.

Scully olha pra eles.

SCULLY: - Se eu tinha um chip comigo, aposto que Mulder tinha um também.

BYERS: - Vamos verificar sistemas, Scully. Há muitos satélites ‘desativados’ que devem estar monitorando o paradeiro de Mulder. Assim que descobrirmos algo, entraremos em contato.

Scully olha pro chip. Byers senta-se na frente do computador.

BYERS: - Ok, acessando dados de satélites americanos pela décima vez...


FBI – Gabinete do diretor – 5:21 P.M.

Skinner, sentado, olha pro diretor. O diretor lê os papéis.

DIRETOR: - Sinto, Walter.

Skinner levanta-se. Está completamente irritado. Desafiador.

SKINNER: - Ainda bem que sente. Porque se acontecer algo de ruim a Scully, vai sentir muito mesmo.

DIRETOR: - O que quer que eu faça?

SKINNER: - Acho que deve pensar no que tem em suas mãos. Acho que deve refletir e ver o que meus agentes estão tentando dizer há anos aqui dentro. Se existe justiça, acredito que é nossa função fazê-la.

DIRETOR: - ...

SKINNER: - Ou quero minha demissão do Bureau. Porque entrei aqui pra fazer justiça, não pra ser objeto de manipulação. Sei que não tem nada a ver com isso, senhor, mas estou cansado de ter dois agentes naquele porão que fazem de tudo pra mostrar que estão ocultando informações a nós, mas que nunca conseguem provas. (INDIGNADO) Aí está a prova. A maior delas. Esse grupo sabia das experiências com o genoma humano bem antes que eu nascesse! Tem fotos deles, tem assinaturas, nomes, tem a descrição do processo de concepção do agente Mulder. E tem o selo federal nisso, se quiser me contestar e assinaturas do alto escalão do governo e do exército americano.

DIRETOR: - ... Walter, acha que eu não sei?

SKINNER: - ???

DIRETOR: - Acha que eu não sei que há assuntos confidenciais do governo? Pensa que não tenho pilhas de dados de investigações de pessoas desaparecidas e que nunca mais foram encontradas? Dados de manipulação genética com cidadãos americanos. Não sei o que isso tudo envolve, e confesso, só sei que não é nossa jurisdição.

Skinner está irritadíssimo.

SKINNER: - Se o senhor sabe disso e deixa por isso mesmo, eu vou fazer a minha parte.

DIRETOR: - Walter... Tem uma bomba em suas mãos. Acho que não preciso dizer que morrerá por isso.

SKINNER: - Agora, precisará me demitir do meu cargo, porque eu não calarei minha boca.

DIRETOR: - Sabe que não pode vencer esses homens.

SKINNER: - Sei que não posso recostar minha cabeça no travesseiro à noite e dormir em paz, sabendo que pessoas inocentes como Mulder e Scully estão sendo usadas, numa conspiração governamental para encobrir a existência de alienígenas!

DIRETOR: - Já viu algum alienígena, Walter?

SKINNER: - Não. Mas se os meus agentes viram, eu acredito. Porque só confio neles aqui dentro.

O diretor levanta-se.

DIRETOR: - Não vou demiti-lo, Walter. Você é um bom assistente. E sei que não tem poder algum para expor nada. Vai ficar como Mulder, gritando aos quatro ventos e ninguém dará ouvidos. Se eu desse ouvidos à você, também ficaria aqui gritando aos quatro ventos. Entende o que estou dizendo? Entende que isto tudo é uma bola de neve morro abaixo?

SKINNER: - O senhor conhece a fábula da formiga? Pois sabe que uma formiga pode ser pisoteada. Mas várias formigas podem devastar uma plantação.

DIRETOR: - Walter, espere a hora certa e poderá devastar a plantação. Não é o momento.

SKINNER: - Não entrei para o FBI a fim de esperar. Afinal de contas, somos a justiça desse país.

DIRETOR: - Não somos um bureau de justiça, Walter. Somos um bureau de investigação. O que não significa que temos de expor as descobertas e muito menos fazer justiça. Sabe quantas cabeças inocentes rolaram nas mãos de Hoover, durante a Lei Seca. Sabe quantas pessoas ele levou para Alcatraz, acusadas injustamente. Sabe qual era o objetivo de Edgar Hoover ao fundar o FBI. Os anos passam, as pessoas passam, Walter. Mas as fundações ficam.

SKINNER: - Pelo amor de Deus! O que estou pedindo é proteção para uma das nossas agentes! Não entende? Ela sacrificou-se vindo até aqui pra nos dar isto! Podemos expor esses homens! Podemos mostrar que agiram sob o conhecimento do governo! Tem até as assinaturas de Truman, Eisenhower, Johnson, Carter Jr. e Nixon nesse papel!

DIRETOR: - Eu sei. E tem a de Edgar Hoover também. Portanto, Walter, siga meu conselho. Arquive esta pasta nos Arquivos X, vá pra sua sala e atenha-se a seus relatórios.

Skinner pega a pasta. Sai da sala, desconsolado.

O diretor pega o telefone.

DIRETOR: - (SÉRIO/ IRRITADO) Srta. Watson, quero agora, aqui na minha mesa, a pasta dos agentes Fox Mulder e Dana Scully. Quero dados completos desde o nascimento deles, família, o que fazem nas horas de lazer e até a marca de xampu preferido! E relatórios sobre as investigações deles nos Arquivos X, desde o início desse maldito departamento... Convoque uma reunião com a diretoria, sem diretores-assistentes presentes. E faça uma comunicação interna. O Departamento dos Arquivos X estará fechado para auditoria interna até ordem contrária. Tranque a porta, coloque seguranças. Nenhum papel sairá lá de dentro. Entendeu? Ninguém entra ali. Ninguém!


Câmera subjetiva.

Mulder abre os olhos. Vê nitidamente alguns seres acinzentados, ao redor da mesa. Um deles passa um aparelho, semelhante a uma caneta, por sobre o corpo de Mulder. Mulder percebe alguns médicos, humanos, ao fundo da sala. Tenta se localizar onde está. Vê a porta ao fundo. Lembra-se do que há atrás dela e fica mais angustiado.

MULDER (OFF): - Não sei onde estou, mas sei que trabalham juntos. Escuto alguns barulhos, tento me localizar. Parece que estou perto de algum lugar onde há aviões.

Mulder olha pra aliança em seu dedo.

MULDER (OFF): - Estou preocupado com você. Fuja, Scully. Saia correndo, esconda-se deles. Me esqueça. Salve o nosso filho e estará salvando a mim mesmo. Confio em você, sei que é racional. E a razão é a única coisa que nos salvará agora.

Um médico se aproxima dele.

MÉDICO: - Está acordado.

O médico injeta novamente uma agulha no braço de Mulder.

MULDER (OFF): - Não posso fechar meus olhos. Eu não queria ver a verdade? Agora parece que a verdade quer que eu a veja. E eu preferia ficar de olhos fechados... Estou perdendo meus movimentos novamente, meus sentidos. Mas ainda sinto esta aliança em meu dedo. Ela é a tua presença que eu desejo. Ela é o símbolo da tua força. E eu resisto. Resisto por você. Por nosso filho... Preciso sair daqui... Eu preciso proteger vocês!


BLOCO 3:

6:15 P.M.

Scully sentada num banco da igreja. Olhos inchados de chorar. Ela olha pra um pequeno altar.

SCULLY (OFF): - Só peço que o proteja. Sinto que estão o machucando. Eu já não sei mais quem você é, mas eu acredito em você, porque nunca me desamparou. Porque Deus tentou me dizer que tudo era um milagre para me poupar das coisas ruins que me fariam. Proteja meu filho desses homens. Não peço por mim, peço por ele. Proteja Mulder e nosso filho. O coração humano é capaz de maldades terríveis, mas eu... eu não consigo conceber que Deus é mau. O meu Deus não é mau, ele é justo, ele é bom e ele me ampara. E se ele é alienígena, mesmo assim, ainda confio nele.

Scully seca as lágrimas com um lenço.

SCULLY (OFF): - Vir aqui me conforta. Me deixa mais leve. Sei que sofreu como sofro agora e que deve ter sofrido muito mais ao ver o que fizeram com seu filho.

Close do altar. Há uma imagem de Maria.

SCULLY (OFF): - (DESESPERADA) Por favor, não deixe que façam mal ao meu filho. Sabe a dor de uma mãe. Sabe seu desespero. Sabe que ela faria qualquer coisa pra defender seu filho. Seu único filho. Me diga o que devo fazer. Me dê uma luz. Eu já não sei mais pra que lado eu corro. Temo por meu filho e pelo meu marido. Se fugir com meu filho, não estarei abandonando o homem que amo? Se ficar, não estarei sendo egoísta e arriscando meu filho? Me mostre o caminho, por favor. Eu já não entendo mais nada.

Scully derruba lágrimas.

SCULLY (OFF): - Algumas vezes, uma voz me diz para aguardar e esperar, que tudo será feito. Escuto essa voz me dizer que é vontade de Deus que meu filho seja entregue. Mas meu coração de mãe não quer entregar seu filho. Você também teve de optar por isso? Enquanto gerava Jesus, já sabia que o matariam? ... Isso dói, dói fundo na alma! Não quero me comparar à você, eu não sou digna. Nem gero dentro de mim o filho de Deus. Mas a minha dor é grande. E não sei se devo partir. Talvez Deus tenha um propósito para essa criança. Mas eu não quero perder meu filho. Eu não sou iluminada como você era, porque eu não consigo aceitar essa perda. Me deram ele só para tirá-lo de mim? Por que eu? Por que Mulder?

Scully abaixa a cabeça e chora.

SCULLY (OFF): - Sinto que Deus me pede para deixar tudo em suas mãos. Mas... e-eu tenho medo. Confio em Deus, mas eu quero o meu filho!

Margaret aproxima-se. Senta-se ao lado de Scully.

MARGARET: - (PREOCUPADA) Filha, o que está acontecendo?

SCULLY: - ...

MARGARET: - Recebi seu recado. Vim até aqui o mais rápido que pude. Dana, qual o problema?

Scully abraça-se em Margaret e chora. Margaret afaga-lhe os cabelos.

MARGARET: - Dana? O que há, minha filha?

SCULLY: - ... Vamos sair daqui.

Scully levanta-se, enxugando as lágrimas. As duas saem da igreja. Scully pára e olha pra ela, derrubando lágrimas. Segura o rosto de Meg em suas mãos.

SCULLY: - Mãezinha, eu vou embora daqui.

MARGARET: - (PREOCUPADA) Embora? Mas pra onde? O Fox sabe disso?

SCULLY: - ... Sabe. Mãe, eu ligarei pra você, mas não posso dizer onde estarei.

MARGARET: - Mas Dana, você volta antes do bebê nascer? Eu queria estar com a minha única filha num momento tão importante da vida dela.

Scully segura as mãos de Meg.

SCULLY: - ... Não, mãe. Queria que estivesse comigo, mas não pode ser assim.

MARGARET: - Dana, mas...

SCULLY: - Não me pergunte nada, mãe. Eu preciso ir. Quero que fique tranqüila, que não se preocupe...

MARGARET: - Como posso não me preocupar? Por que está indo viajar? Parece que está fugindo de alguém!

Scully beija-a na testa.

SCULLY: - Mãe, eu amo você. Eu queria muito que estivesse comigo na hora que meu filho nascesse. Você mais do que qualquer pessoa merecia estar ali. Mas eu preciso ir, mãe. Não posso te dizer pra onde e nem porquê. Mas eu preciso.

Margaret percebe o desespero nos olhos da filha.

MARGARET: - ... Vai me ligar dando as boas novas? Eu queria trocar a primeira fralda, dar o primeiro banho...

SCULLY: - (SORRI) Vou ligar. Terá muitas fraldas e banhos, pode ir se acostumando com a ideia.

MARGARET: - Não se assuste, partos não são difíceis. Nós, as mulheres da família Scully, costumamos ter partos fáceis. E não deixe de amamentá-lo. É besteira dizer que isso deixa os peitos caídos. Crianças precisam de leite.

SCULLY: - (SORRI) Tá, vou me lembrar disso.

As duas se abraçam. Meg segura as lágrimas. Scully também. As duas se olham nos olhos.

SCULLY: - Mãe, eu te amo.

MARGARET: - Amo você também, Dana. Tome cuidado.

Scully desce as escadas da igreja. Vira-se e olha pra Meg. Meg acena pra ela, chorando. Scully derruba lágrimas e entra num carro. Skinner está ao volante. Scully abaixa a cabeça, não conseguindo secar as lágrimas que insistem em rolar por seu rosto.

SKINNER: - Está bem, Scully?

SCULLY: - ... Hum hum. Eu ficarei melhor. Vamos embora.

O carro parte. Meg acompanha com os olhos, secando as lágrimas com as mãos, preocupada.


Residência de Margaret Scully – 12:16 P.M.

Margaret, sentada à mesa, almoçando sozinha.

MARGARET (OFF): - ... Sei que já fiz a minha parte. Sei que tive filhos, meu marido... Mas falta algo dentro de mim, algo que me deixa profundamente angustiada... Quando as crianças cresceram, nós prometemos que cuidaríamos de nós dois, que teríamos tempo, viajaríamos juntos e aproveitaríamos todas as coisas que deixamos pra trás, por sacrifício aos filhos... Mas você foi embora. A Dana está precisado tanto de um pai. Acho que está com problemas, mas ela nunca confia em mim... Se estivesse aqui, ajudaria sua filha.

Meg derruba lágrimas. Levanta-se, coloca o prato na pia.

MARGARET (OFF): - Não sei o que está acontecendo, mas pressinto que eles correm perigo.

Meg vai pra sala. Liga TV e senta-se no sofá. Pega o tricô que estava fazendo.

MARGARET (OFF): - ... Neste momento de impotência é que gostaria de ter você aqui, do meu lado. Da segurança que eu tinha, porque você sempre defendeu nossos filhos. Sempre foi um pai amoroso.

Meg olha pra foto de Willian num quadro.

MARGARET (OFF): - Nunca imaginei essa situação na minha vida, Will... que um dia você partiria... antes de fazermos tudo o que prometemos fazer, porque deixamos a vida para trás, por nossos filhos. Quando chegou o momento, você partiu... me sinto sozinha. Faço compras sozinha, almoço sozinha... Eu sempre fui acostumada com gente, muita gente. Tive uma família grande. Agora estou aqui, só, tecendo uma roupinha pro filho da Dana e do Fox. Não que eu não queria fazer isso, mas eu gostaria de estar fazendo isso ao seu lado. Eu queria estar aqui tecendo enquanto alguém estivesse do meu lado, tirando os nós da linha. Alguém que também tenha a sede de viver coisas que jamais viveu.

A campainha toca. Meg levanta-se. Larga o tricô sobre o sofá.

MARGARET: - Não convidei ninguém pra jogar biriba...

Meg abre a porta. Ergue as sobrancelhas.

MARGARET: - Pois não?

O Canceroso olha pra ela. Sorri, simpaticamente.

CANCEROSO: - Senhora Scully? Sua filha se encontra?

MARGARET: - Não, a Dana não está aqui... Quem é o senhor?

CANCEROSO: - Me desculpe, sou o pai do Mulder.

Meg dá um sorriso.

MARGARET: - Entre, por favor, senhor Mulder. É um prazer conhecê-lo.

O Canceroso sorri. Entra.

CANCEROSO: - Não vou tomar seu tempo. Precisava conversar com a Dana.

MARGARET: - Tempo? Acho que está brincando. Tenho tempo de sobra. Gostaria de um chá, um café? Sente-se por favor.

CANCEROSO: - Não, obrigado. Vejo que está fazendo tricô.

MARGARET: - Pro nosso neto. Coisas de avó.

O Canceroso senta-se. Meg pega o tricô.

MARGARET: - A Dana foi viajar.

CANCEROSO: - Ela disse pra onde iria?

MARGARET: - Não quis me dizer. Sei lá, me deixou nervosa, depressiva. Acordei hoje pensando um monte de besteiras na cabeça. Acabei até divagando.

CANCEROSO: - Entendo a tristeza dela, senhora Scully.

MARGARET: - Ah, sem formalidades. Todos me chamam de Meg.

O Canceroso pega o novelo de lã. Meg olha pra ele.

CANCEROSO: - (SAUDOSO) Posso desembaraçá-lo? Algumas vezes tenho vontade de viver coisas que nunca vivi na vida...

Meg sorri, erguendo as sobrancelhas.

MARGARET: - Senhor Mulder, tem certeza de que não quer uma xícara de chá?

Corte.


Câmera subjetiva.

Mulder acorda-se. Observa seu corpo. Os médicos tentando reavivá-lo de novo. Ele sorri, em lágrimas.

MULDER (OFF): - Posso sentir você. Sei o que está fazendo. Ainda bem que me deu ouvidos, pelo menos uma vez na vida, sua baixinha teimosa...

Mulder olha pra aliança em seu dedo.

MULDER (OFF): - Eu não sei mais no que pensar. Só posso desejar que consiga salvar nosso filho e que vocês dois sejam muito felizes... Eu tenho medo de voltar, Scully. Se voltar, eles poderão chantagear você com algo do tipo: seu filho ou eu. Não, não quero te colocar numa escolha impossível. Viu, como também sou folgado? (SORRI) Eu tenho certeza do teu amor. Do nosso amor. E o amor, Scully, é mais forte que a morte. Cuida dele pra nós. Eu sempre estarei ao lado de vocês. Sempre. Olharei por vocês dois das estrelas.


2:11 P.M.

Margaret e o Canceroso sentados na sala. Ele toma um café, fumando um cigarro. Ela olha pra ele.

MARGARET: - Consegui parar de fumar com muito sacrifício. Mas fico tentada.

CANCEROSO: - Quer um?

MARGARET: - ...

O Canceroso oferece um cigarro. Meg o pega. Ele acende pra ela.

MARGARET: - Bom, você estava falando dos filhos. Filhos são assim mesmo, senhor Mulder. Ah, desculpe, senhor Spender. Preciso me acostumar.

CANCEROSO: - Como lhe disse, coisas complicadas, Meg. Jovens costumam fazer as coisas sem se preocuparem com as conseqüências.

MARGARET: - Também fui inconsequente, senhor Spender. Mas tudo vale pelos filhos, não?

CANCEROSO: - Com certeza, Meg. Pena que os filhos muitas vezes não entendam os motivos dos pais. Eles vêem sempre o pior em tudo.

MARGARET: - A Dana é teimosa. Ela nunca me dá ouvidos e depois, quando se machuca, bate na minha porta pedindo ajuda.

CANCEROSO: - (SORRI) Fox tem feito isso também. Mas eu tenho sido um pouco mais severo com ele.

MARGARET: - Parecem duas crianças crescidas.

CANCEROSO: - São duas crianças crescidas. Mas percebo que sua filha fez o Fox ficar um pouco mais esperto... Ela deu uma vida que meu filho não tinha. O que não posso condená-lo, porque puxou a mim. Não somos homens de vidas comuns.

MARGARET: - São homens fortes, de personalidade forte.

CANCEROSO: - Acho que sim.

MARGARET: - Meu marido era assim. Teimoso como uma mula. Acho que a Dana carrega a imagem do pai com tanto amor, que sempre vai precisar de um homem forte do lado dela. Acredito neles, senhor Spender.

CANCEROSO: - Também acredito neles, Meg. Mulder não vê muitas vezes as coisas que faço por ele. Sua filha já me parece um pouco mais sensível. Gosto da sua menina, eu sempre acreditei nela. Mas eu sou o vilão da história. Isso me torna alguma coisa.

MARGARET: - Por que o Fox age assim com o senhor? Ele nunca fala do senhor.

CANCEROSO: - No fundo, acho que ele tem raiva de como as coisas aconteceram na vida dele. Ele me odeia. Espera que eu possa reparar os erros do passado, mas, assim como você, Meg, eu sei que erros do passado nunca serão corrigidos. A idade nos ensina a ter sabedoria para conviver com os erros. Se não fosse assim, acabaríamos todos malucos, remoendo o as dores do caminho que nunca tomamos.

MARGARET: - É, senhor Spender. Os filhos nunca sabem o que se passa na cabeça dos pais. Nunca sabem as coisas que temos de fazer pra protegê-los. Acham que somos ‘velhos e ultrapassados’.

CANCEROSO: - (PENSATIVO) Sempre fui um homem atraído por uma causa, eu era um rapaz ambicioso, queria ser escritor, queria sentir o gosto do poder. Não, não valeu a pena. Meu sonho morreu, a realidade me embruteceu. As coisas que fiz me dão vergonha. Mas alguém tinha de fazê-las. Que fosse eu, então. Pelo menos confio em mim. Sei até onde posso ir. Eu arrisquei tudo para proteger meu filho... Paguei seus estudos em Londres. Não queria expô-lo. Queria protegê-lo, como quem protege a única coisa importante que tem na vida. O meti em encrencas, eu sei, mas sempre planejando para que ele não se machucasse. Ele chegou onde está porque merecia, porque é um homem competente. Mas ele não sabe as coisas que fiz para que ele chegasse tão longe. E nunca saberá. (SORRI) O melhor pra ele é que nunca saiba mesmo.

MARGARET: - ... (OLHA-O COM PIEDADE)

CANCEROSO: - (RELEMBRANDO) Nunca aparecia, eu me esquivava. Mas mandava correspondência por ‘outras fontes’. Alguns me traíram. Se Mulder tem problemas hoje, não pode me culpar. Ele não ouviu meus conselhos, ele mesmo entregou sua vida nas mãos do inimigo. E eu lhe juro, Meg, que faço o impossível para tentar tirá-lo das encrencas em que se mete.

MARGARET: - Não entendo muitas coisas, senhor Spender, porque eles não me contam. Mas o senhor tem algo a ver com o governo? A Dana me diz que alguns homens do governo querem matá-la. Fizeram coisas contra ela...

CANCEROSO: - Senhora Scully, tudo é complexo demais para ser dito. Espero que mantenha nossa conversa em segredo. Não vai ajudar em nada, meu filho está cego e Dana também. A senhora é mãe, sabe como isso é.

MARGARET: - Sei.

CANCEROSO: - Um dia a verdade virá a tona. Só posso contar com isso. Não há nada mais a meu favor. O que fiz de errado, estou pagando. A solidão é minha sentença. O ódio do meu filho é minha forca. E o tempo será o executor.

Meg olha pra ele.

MARGARET: - Por que não tenta começar de novo? Dar uma chance pra você mesmo?

CANCEROSO: - ... Não vou viver muito tempo. Tenho câncer.

MARGARET: - ... Sinto muito.

CANCEROSO: - Na verdade eu poderia ter a cura. Mas não quero.

MARGARET: - Desistiu?

CANCEROSO: - Meg, olhe pra mim. Você não sabe nada da minha vida, não sinta pena de um homem como eu. Não quero mais viver. Isso não é vida, entende? E-eu... Eu nem sei porque estou aqui falando essas coisas.

MARGARET: - Senhor Spender, a vida é um dom precioso. Pense em quantas possibilidades existem? Desde o momento em que se é concebido, a natureza pode se manifestar. Você pode nascer com uma doença grave, com um problema genético, pode até nem nascer! Um erro de divisão na célula e você pode ser um retardado mental pro resto da vida. Não acha que é um motivo pra ver a vida com outros olhos?

CANCEROSO: - Talvez eu nem devesse ter nascido. Tive uma família complicada. Meu pai era um homem em busca do poder e eu nunca quis decepcioná-lo. Mesmo que eu o odiasse por ter me entregue. Agora o entendo. Mas isso não me torna alguém melhor.

MARGARET: - Não sei se acredita em paranormalidade, senhor Spender.

CANCEROSO: - Ficaria surpresa com as coisas em que acredito.

MARGARET: - Vejo sua aura escura, as sombras que lhe envolvem. Sinto o peso enorme de sua alma, mas também sinto uma luz que insiste em ficar brilhando. Posso não saber de sua vida, mas eu sinto. Não pense que eu não deduzo o que está me dizendo.

CANCEROSO: - Alguns homens carregam uma sombra pesada atrás de si.

MARGARET: - O senhor falou bem. Mas essa sombra pode se tornar mais leve. Dê uma chance ao senhor mesmo. Não existe maldade que Deus não queira... O destino pode ser fixo, mas existem muitos caminhos para chegar até ele. Repense se está no caminho certo.

O celular do Canceroso toca. Ele pede desculpas e atende.

CANCEROSO: - Sim?

HUBF: - Ele teve outra parada cardíaca. Não vai aguentar mais.

O Canceroso olha pra Meg. Vira-se de costas pra ela. Fala baixo.

CANCEROSO: - ... Pare com tudo.

HUBF: - Tem certeza?

CANCEROSO: - Pare com tudo.

O Canceroso desliga. Olha pra Meg.

CANCEROSO: - Preciso ir.

Meg pega o casaquinho que acabara de tecer.

MARGARET: - Se descobrir onde Dana está, entregue isso pra ela. Fiz amarelinho, porque não sei se é menino ou menina.

O Canceroso toma o casaquinho nas mãos. Fecha os olhos.

CANCEROSO: - Eu entregarei, Meg. Eu entregarei.

MARGARET: - ... (SORRI) Senhor Spender, sendo racional, como diria minha filha, penso que se é pai de Fox, alguma coisa boa há em você. Porque um filho sempre herda os genes e o caráter de seu pai.

O Canceroso olha pra ela. Sai, levando o casaquinho na mão.


BLOCO 4:

La Macella – 8:34 P.M.

Samantha abre a porta. Está grávida. Alguns homens a seguram, puxando-a pra fora. O Canceroso traga um cigarro.

SAMANTHA: - Me deixem!!!! O que querem de mim?

CANCEROSO: - Ela entrou em contato com você.

SAMANTHA: - Não sei do que está falando! Bruce!!!!

Bruce sai do quarto. Olha pro Canceroso. Olha pra Samantha.

BRUCE: - Me perdoe, mas... Acha que caí em sua vida à toa?

Samantha olha pra ele, com os olhos cheios de lágrimas. Balança a cabeça negativamente, não querendo acreditar.

SAMANTHA: - Não...

Bruce sai da casa. Samantha segura as lágrimas, com ódio.

CANCEROSO: - (AMEAÇADOR) Se não disser onde ela está, o pior vai acontecer. Eu já não lhe dei o queria? Por que está me traindo? Se está grávida é porque eu dei isso à você!

SAMANTHA: - Acha que entregaria o meu irmão? Acha que eu deixarei fazerem com o filho dele o que fizeram comigo? Pode me matar, seu desgraçado, mas eu não vou dizer onde ela está!

O Canceroso empurra Samantha pra dentro de casa, irritado. Fecha a porta.

CANCEROSO: - (GRITA/ FURIOSO) Ora de conversarmos muito seriamente! Ou ora de voltar a ser uma maldita cobaia miserável como meu filho foi! Porque se ele pode ser cobaia, você será cobaia também, porque não significa nada pra mim. Entendeu? Nada! Você é um mero objeto de experiências científicas, sua desgraçada!

Samantha começa a chorar.

CANCEROSO: - Onde está Scully?

SAMANTHA: - O que vai fazer com ela?

CANCEROSO: - Nada.

SAMANTHA: - (GRITA) Você mente!

CANCEROSO: - (GRITA COM ÓDIO) Onde está a Scully?

SAMANTHA: - (CHORANDO) Você vai pegar o filhinho deles! Você vai fazer coisas horríveis como fizeram comigo!

CANCEROSO: - (GRITA) Vou fazer coisas piores com você se não me disser onde ela está!

SAMANTHA: - (CHORANDO) Eu não sei onde ela está! Eu não sei!

CANCEROSO: - (ACENDE UM CIGARRO) Não sairei daqui sem resposta.

SAMANTHA: - (CHORANDO) Mulder tem razão! Você é um monstro!

O Canceroso a segura pelo braço.

CANCEROSO: - (AMEAÇADOR) Minha paciência está esgotando. Tem menos de um minuto pra me dizer onde Scully está. Se não me disser, hoje à noite terá visitinhas acinzentadas por aqui e que não virão pra jantar! Mas podem trazer amigos líquidos e pretos que adoram carne humana. Principalmente se comê-la de dentro pra fora!

SAMANTHA: - Por que quer a criança?

CANCEROSO: - Porque ele é a salvação da humanidade!

SAMANTHA: - Como vai salvar a humanidade se vai morrer?

CANCEROSO: - Estou farto de você!

O Canceroso puxa uma arma. Samantha se encolhe, assustada.

SAMANTHA: - (FALA NO DESESPERO) Ela está com Skinner, estão indo pra fronteira do Canadá, pelo Maine. De lá tomarão um avião até a Suíça.

O Canceroso guarda a arma.

CANCEROSO: - Se estiver mentindo, feche as portas esta noite. Embora isso não resolverá nada. Se tiver me dito a verdade, eu te dou proteção. Terá tudo que precisa pra ter seu filho.

SAMANTHA: - (CHORANDO) ...

O Canceroso sai porta à fora. Samantha se atira no sofá.

SAMANTHA: - (CHORANDO) Mulder vai me odiar pro resto de sua vida! Ele vai me odiar! Nunca mais vai querer ver a minha cara...


Motel Youngsville – Maine - 10:33 P.M.

Scully dorme profundamente. Skinner, sentado numa poltrona, conversa com Frohike, sentado numa cadeira.

FROHIKE: - Acha que estão maltratando Mulder?

SKINNER: - Se a Scully estiver certa, estão usando-o pra fecundar mulheres e criar uma nova raça humana.

FROHIKE: - ... Espero que não o matem. Não confio naquele homem.

SKINNER: - Nem eu confio. Nunca sabemos de que lado está e o que está tramando. Só que uma coisa não faz sentido pra mim.

FROHIKE: - O fato de quererem o filho dela se podem ter vários filhos de Mulder, pois estão com ele?

SKINNER: - Exatamente.

FROHIKE: - Talvez não tenham tanto tempo pra esperar novas crianças. Ou talvez seja só pra machucar os dois, pra acabar com eles.

SKINNER: - Eu nem quero pensar o que vai acontecer se tirarem esse filho dela.

FROHIKE: - Com ela ou com Mulder?

SKINNER: - Com ela. Mulder supera. Scully não.

FROHIKE: - ‘Chefão’, tenho que te dizer que conheço Mulder há muito tempo. Se alguém vai cair será ele. Ela vai juntar os cacos de Mulder e tentar colá-lo.

SKINNER: - Não, Frohike. Scully sempre quis ter um filho. Isso vai acabar com ela.

FROHIKE: - Acredite em mim, Skinner. Ela tem uma arma poderosa pra se erguer chamada fé. Mulder não acredita em nada. Só no caos. Isso vai derrubar Mulder.

SKINNER: - Acho que não, Frohike. Ele sempre teve medo que ela cairia, por isso mentiu tanto tempo. Não queria magoá-la, porque sabia que ela não resistiria.

FROHIKE: - A noite vai ser longa...

SKINNER: - Sairemos de madrugada. Fretei um voo. Você segue com ela, eu não posso sair daqui. Preciso achar Mulder. Prometi isso a Scully e vou cumprir.


Base Aérea de Wright-Patterson – 11:59 P.M.

O Canceroso entra numa sala. O Sindicato está ali, reunido.

CANCEROSO: - Está indo pro Canadá, pelo Maine. Já providenciei tudo.

O Canceroso senta-se. Acende um cigarro.

HOMEM 2: - Krycek está doido por causa do chip.

CANCEROSO: - Deixe-o ficar doido o quanto quiser. Já temos o que queremos. Ele está cego pelo feto. Vamos dar o feto pra ele.

Garganta Profunda levanta-se.

GARGANTA PROFUNDA: - Vou verificar os preparativos.

O Canceroso o acompanha com os olhos. Garganta Profunda sai.

HOMEM 2: - Há algo que queria nos dizer?

HUBF: - Não há mais nada, senhores. Agora podemos começar a vacina. Se os alienígenas nos infectarem com aquele óleo, ou com qualquer forma de doença, estaremos preparados. Eles pensam que somos tolos, mas não o somos. Se quiserem este planeta, agora terão de nos derrotar primeiro.

CANCEROSO: - Não vamos ficar entusiasmados. Precisamos primeiro da vacina. Não há nada que impeça a invasão. Os rebeldes são em número insuficiente. Mas pelo menos, vamos desenvolver essa vacina e trocar com eles pelo feto alienígena. Estão tão interessados quanto nós.

HOMEM 1: - Criaremos uma nova raça. Uma raça que resistirá ao caos. Teremos clones de Mulder.

O Canceroso olha para o Homem das Unhas Bem Feitas. Ele olha para o Canceroso. O Canceroso levanta-se.

CANCEROSO: - Senhores, vamos aguardar a vinda da nossa salvação. Da cura de todas as doenças.

O Canceroso sai da sala. Um dos homens olha pro Homem das Unhas Bem Feitas.

HOMEM: - Acha que ele tem pressa porque quer se curar do câncer?

O Homem das Unhas Bem Feitas esmurra a mesa, assustado e nervoso.

HUBF: - ... Isso tudo está me deixando com os nervos abalados!

Ele levanta-se em silêncio. O sindicato fica aos cochichos, estranhando a atitude.


Motel Youngsville – Maine - 2:33 A.M.

Frohike levanta-se da cadeira.

FROHIKE: - Quer café?

SKINNER: - Aceito.

Frohike sai do quarto. Skinner continua sentado na poltrona, observando Scully que dorme profundamente. Skinner segura uma arma na mão. De olhos bem abertos. A TV está ligada, sem volume. Skinner olha pra TV. Os móveis começam a se mover de lugar e tudo treme. Skinner salta da poltrona, aos gritos.

SKINNER: - Scully!!!!

Scully senta-se na cama. Vê os objetos caírem de sobre os móveis o barulho da nave. Uma luz projeta-se pela janela. Scully não consegue se mexer. Skinner tenta se aproximar, mas é jogado contra a parede, ficando imóvel e assustado. Scully chora, aos gritos.

SCULLY: - (GRITA) Não!!! Meu filho não!!!


Mulder abre os olhos. Consegue mexer seu corpo. Senta-se na mesa. Olha pra divisória de vidro que separa as salas. Vê Scully, inconsciente, deitada numa mesa, na sala ao lado. Médicos ao redor dela. Mulder se desespera. Vai se levantar mas um médico injeta algo na nuca dele.

Câmera subjetiva. Mulder cai deitado, paralisado.

MULDER: - (CHORANDO) Scully... Scully... Não... (GRITA) Não!!!! Meu filho não!!! Seu desgraçado, o meu filho não!!! Estou aqui, faça o que quiser comigo!!! È de mim que precisa pra fazer essa vacina, não dele!!!!


Corta para o Canceroso, ao lado de Garganta Profunda. Os dois observam Scully por uma janela de vidro. O Canceroso ao ouvir os gritos de Mulder, vira o rosto, nervoso. Acende um cigarro.

CANCEROSO: - Faça o que combinamos.

Os homens do sindicato aproximam-se.

HOMEM 1: - O russo está chegando.

Krycek aproxima-se.

KRYCEK: - Vim buscar o que me prometeu. Tentou me passar a perna, não foi? Por que a estava monitorando?

CANCEROSO: - Não sei de nada. Talvez os alienígenas o tenham feito.

Krycek olha pra ele desconfiado.


Mulder continua imóvel, de olhos abertos, derrubando lágrimas. A voz não sai, está anestesiado.

MULDER (OFF): - (DESESPERADO) Seus covardes desgraçados! Eu juro que vou matar um por um de vocês! Scully!!! Scully, acorda por favor!!!

Scully está inconsciente. O Canceroso olha pra Garganta Profunda. Ele entende o sinal. Krycek e os homens do sindicato não percebem. Garganta Profunda entra na sala. Fica ao lado dos médicos, observando.

O bebê é retirado de Scully. Colocado num recipiente, com um líquido esverdeado. Garganta Profunda segura o recipiente, tenso, nervoso. Afasta-se. Corta para o lado de fora da sala. Krycek reage.

KRYCEK: - O que estão fazendo?

CANCEROSO: - Acha que um pai não tem o direito de ver seu filho pela primeira e última vez?

Garganta Profunda entra na sala onde Mulder está. Mulder olha pra ele. Garganta profunda lhe sorri. Larga o recipiente com o feto, no chão, ao lado da mesa. Puxa outro recipiente de debaixo da mesa e sai com ele. Mulder tenta se mexer, mas não consegue. Fica incrédulo, sem entender nada.

MULDER (OFF): - (GRITA) Que diabos estão fazendo com meu filho? Quem é esse outro?

Garganta Profunda volta, segurando o recipiente trocado. Entrega pra Krycek.

KRYCEK: - Não sei quanto aos outros que estão criando. Mas este, eu tenho a certeza absoluta que é de Mulder.

Krycek pega o recipiente. Retira um tubo de ensaio do bolso. Coloca a substância dentro do recipiente de vidro. O Canceroso o observa. Krycek olha pra ele.

KRYCEK: - Agora sim. Não preciso dessa criança viva.

CANCEROSO: - E precisava matá-la?

Krycek lança um olhar de vitória sobre o Canceroso e sai às pressas. Garganta Profunda olha pros homens.

GARGANTA PROFUNDA: - (SORRI CÍNICO) O que é um feto? Enquanto estamos com vários ali dentro?

Os homens riem. Se afastam. Garganta Profunda aproxima-se. Olha para o Canceroso, que observa, através do vidro, os médicos trabalhando em Scully.

GARGANTA PROFUNDA: - Ela vai ficar bem.

CANCEROSO: - (TRAGA O CIGARRO) Nenhum dos dois ficará bem. Sabe disso.

GARGANTA PROFUNDA: - Tudo saiu como planejamos.

CANCEROSO: - Pegue a criança.

GARGANTA PROFUNDA: - Me parece bem e forte. Vai sobreviver no tanque.

CANCEROSO: - Faça isso. Sou um covarde, certas coisas eu prefiro não ver.

O Canceroso entra na sala. Aproxima-se de Scully, que está desacordada. Coloca as mãos em seu pescoço e retira o crucifixo. Afasta-se. Põe o crucifixo no bolso e acende outro cigarro. Sai da sala, nervoso. Os médicos fecham o corte na barriga de Scully, sem deixar marcas. Garganta Profunda caminha até Mulder, que está de olhos abertos, derrubando lágrimas. Segura seu braço. Olha-o com lágrimas nos olhos.

GARGANTA PROFUNDA: - ... Filho, não posso saber a dor que está sentindo, mas eu posso respeitá-la... Sei que um dia vai fazer justiça contra todos, inclusive contra mim. Porque eu também faço parte disso. Não espero que entenda os motivos, mas espero que um dia os compreenda. Isto, de todos os males, é o menor. Acredite em mim, Mulder. Eu nunca menti pra você.

Garganta Profunda coloca a mão sobre os olhos de Mulder e os fecha.

Fade out.


Hospital Memorial – 7:33 A.M.

Movimento de viaturas da polícia. Agentes do FBI. Skinner desce de um carro e entra às pressas no prédio. Puxa o distintivo apresentando às enfermeiras.

SKINNER: - Skinner, FBI. Recebemos um chamado. Onde está a agente Scully?

As enfermeiras apontam o quarto. Skinner corre até lá. Entra. Vê Scully de costas, sentada na cama, com o soro no braço, olhando pra janela. Cabelos desgrenhados. Skinner fecha os olhos.

SKINNER: - Scully...

SCULLY: - Me deixa sozinha. Por favor, eu preciso ficar sozinha.

Skinner sai do quarto.

Close do rosto de Scully, segurando as lágrimas com ódio. Ela arranca o soro do braço, com raiva. Levanta-se, apoiando-se na cama, com uma das mãos na barriga. Pega suas roupas. Começa a vestir-se.


Apartamento de Scully – 11:21 A.M.

Skinner arromba a porta. Procura-a pelo apartamento. Vê Scully, sentada na cama, cabisbaixa, segurando um ursinho de pelúcia.

SKINNER: - Fiquei com medo. Você sumiu do hospital...

Skinner fica em silêncio. Ajoelha-se ao lado dela. A abraça. Scully começa a chorar. Skinner a abraça com força, derrubando lágrimas.

SCULLY: - Eu... eu sabia que não conseguiria evitar isso.

SKINNER: - ...

SCULLY: - Ao contrário de Mulder, eu sei quando não há mais esperanças...

SKINNER: - ...

SCULLY: - Ele... ele nem oito meses de vida tinha... Ele nem chegou a abrir os olhos e ver o sol... ele...

SKINNER: - Scully, não se torture...

Scully levanta-se. Chora e fala. Os olhos brilham de lágrimas e ódio.

SCULLY: - Sabe que isso é a maior covardia? Sabe o que é tirarem um filho de sua mãe? Um filho que nem nasceu? E... eu nem pude olhar pra ele!

Scully escora o braço no armário e chora.

SCULLY: - Eu nem pude tocar no meu filho!

Scully tem um acesso de raiva. Começa a quebrar tudo o que vê pela frente, enlouquecida, numa atitude jamais vista.

SCULLY: - (GRITA) Desgraçados!!! Eu juro pelo meu filho que eu vou matar vocês!!!

Scully quebrando tudo. Atira um vaso contra a parede, derruba pertences, atira coisas contra o vidro da janela. Skinner, cabisbaixo e nervoso, sai do quarto. Os pistoleiros entram na sala.

FROHIKE: - O que...

SKINNER: - Deixem-na. Ela precisa ficar sozinha.

Eles saem, comovidos. Byers fica parado, olhando pra porta do quarto, derrubando lágrimas. Frohike o puxa.

FROHIKE: - Vem, companheiro. Não há nada que se possa dizer num momento como esse.

Os dois saem, fechando a porta. Scully continua quebrando tudo com ódio. Atira-se no chão e chora.

SCULLY: - Mulder... Mulder, onde está você? Eu não pude evitar isso! A culpa é toda minha! Eu fui tonta, eu acreditei naquele homem! (CHORA/ ESMURRANDO O CHÃO) Eu acreditei nele! Eu acreditei...

Scully fica atirada no chão, chorando, agarrando o tapete com força.


10:34 P.M.

O Canceroso caminha pelo laboratório, entre vários tanques de vidro. Pára em frente a um tanque, contendo um feto de quase oito meses. Acende um cigarro. Close do número do tanque: 1231. O Canceroso dá um sorriso.


11:33 P.M.

Num deserto, Krycek larga o recipiente com o feto no chão. Olha para o céu. Uma luz surge no horizonte. Krycek afasta-se e entra no carro às pressas, com medo. Observa.

Clarão.

Som de estampido.

O clarão desaparece. Krycek desce do carro e caminha até onde deixara o feto. Há ali um outro recipiente de vidro, contendo um feto alienígena. Krycek volta para o carro. Coloca o recipiente no banco ao lado. Fecha os olhos e respira fundo. Alguém toca em seu ombro. Krycek vira-se para trás.

MARITA: - Conseguimos?

KRYCEK: - (SORRI) Conseguimos.


12:46 A.M.

Um furgão preto pára numa ruela. A porta abre-se. Dois homens atiram Mulder na calçada, entre latas de lixo.

Mulder está vestido com uma roupa de hospital. Está machucado, com uma bandagem na cabeça, sangrando. Um dos homens desce e chuta-o. Mulder grita. Ele volta pra dentro do furgão. O furgão parte.

Câmera baixa em Mulder, que fica atirado no chão, encolhido, sem se mover. Olhos abertos, chorando de dor, fora de si, traumatizado.

Subjetiva, simulando a visão de Mulder: Um carro que pára. Foco nos pneus e nas pernas de um homem que aproxima-se, bem vestido.

Mulder continua gemendo baixinho de dor.

O homem aproxima-se, percebe-se que tira o sobretudo e agacha-se ao lado de Mulder, o juntando do chão. Coloca seu sobretudo por cima dele e o abraça, com força.

O foco da câmera (visão de Mulder) ergue-se. Vê os olhos do Canceroso, num brilho de tristeza e medo. Fecha os olhos, cansado. (Fade out)

Câmera objetiva. O Canceroso, segura Mulder em seus braços. Fecha os olhos, o apertando com força contra si, num desespero, o embalando. Olha pra todos os lados. O motorista do carro aproxima-se. Ajuda o Canceroso a colocar Mulder no banco de trás. Mulder observa, sem entender nada. Continua gemendo de dor. O Canceroso retira um revólver do sobretudo. Engatilha. Aponta pra Mulder. Mulder fecha os olhos.

Fade out.

[Som do disparo.]

Fade in.

Mulder abre os olhos e vê o motorista morto no chão. O Canceroso o arrasta até as latas de lixo. Limpa a arma e a coloca na mão do motorista morto. Aproxima-se do carro. Puxa uma injeção do bolso. Aproxima-se de Mulder.

CANCEROSO: - Isto vai ajudar a aliviar a dor.

Mulder não reage, apenas derruba lágrimas, sem entender nada do que se passa. Confuso, perplexo. O Canceroso entra no carro. Acende um cigarro. Mulder desmaia.

Fade out. Apenas ouve-se a voz do Canceroso.

CANCEROSO: - Espera-se sempre algo mais de um pai, Mulder. Gostaria que soubesse que ele sempre esteve aqui. Não como você queria, como eu queria ou como o mundo diz que é. Mas do jeito que a vida me permitiu ser.


TO BE CONTINUED


09/06/2000

Aug. 6, 2019, 5:54 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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