lara-one Lara One

Mulder e Scully investigam dois casos. Enquanto isso, a paranoia de Mulder aumenta. Ele começa a se dar conta de que às vezes, sonhos podem se transformar em realidade. E que encontrar-se às escondidas, pode ser uma coisa muito estranha...


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S03#07 - BURNING

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Noite. Marcus Delaware, um senhor gordo, de uns 65 anos de idade, termina de acender a lareira. Serve um conhaque, coloca o copo na mesinha ao lado da poltrona, perto de alguns petiscos. Pega o cobertor sobre o sofá. Enrola-se e senta-se em sua poltrona. O frio é enorme. Percebe-se a neve caindo pela janela em parcos flocos. A lareira está acesa.

O senhor Delaware liga a TV pelo controle remoto. Ajeita os óculos.

[Som da televisão. Escutamos um comentário esportivo.]

TV (OFF): - McGwire esteve melhor em outras temporadas. (RINDO) Parece que agora não faz homerun nem com um vento forte vindo por trás.

TV (OFF): - Exatamente, Sam. Parece que a temporada não está muito boa pra McGwire. Ele não acertou uma tacada desde o início do jogo.

O velho assiste a TV, começa a rir. Retira o cobertor de cima de si. Continua olhando pra TV.

[Som: Beethoven – 5th Symphony]

O calor vai aumentando e Delaware tira o blusão, sem desgrudar os olhos da TV. De repente, olha pra seu corpo. Está saindo fumaça. O velho fica assustado. As chamas começam a brotar de seu corpo. Ele tenta apaga-las virando copo de conhaque sobre si. Incendeia mais. Pega a almofada e bate contra o corpo, mas nada. Tenta com o cobertor, numa luta desesperada mas não consegue apagar o fogo que só aumenta.

Delaware sai correndo pra fora da casa aos gritos. Cai de rosto na escada, com o corpo completamente em chamas. Vira uma tocha humana em questão de segundos, mesmo com a neve na escada e que cai sobre ele.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

Residência de Marcus Delaware - Charleston – Virgínia Ocidental - 11:28 A.M.

Mulder agachado, observando as cinzas brancas na neve da escada.

[Do corpo do velho, restaram apenas os pés intactos e metade das pernas, com os ossos enegrecidos. A arcada dentária presa na escada, como se ele tivesse mordido o degrau. O resto do corpo ficou em cinzas.]

Movimento de policiais e bombeiros.

Mulder coloca as luvas e recolhe amostras das cinzas.

Corta para Scully, dentro da casa. Ela examina a lareira, os cinzeiros, os móveis queimados parcialmente. Sai pra fora da casa. Olha séria pra Mulder.

SCULLY: - Acho que não sobrou muito pra se fazer uma autópsia completa.

Mulder levanta-se. Olha pra um policial.

MULDER: - Preciso de alguma coisa pra tirar a arcada dentária que está presa na escada.

Um policial se aproxima e começa a tirar a arcada dentária com uma chave de fenda. Outro recolhe os pedaços do corpo e os coloca em sacos plásticos.

Mulder tira as luvas e joga na lixeira. Aproxima-se de Scully.

MULDER: - (EMPOLGADO) Combustão humana espontânea.

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - (SÉRIA) Quando recebermos os resultados da análise dos bombeiros sobre as causas do incêndio e da minha autópsia, poderá sugerir alguma coisa.

Scully sai caminhando com as mãos nos bolsos. Mulder vai atrás de Scully.

[Som: Information Society – Repetition]

Os dois caminham lado a lado, como colegas, falando baixinho, em direção ao carro, estacionado há uma quadra dali. Mulder olha pros lados, verificando se não há ninguém por perto.

SCULLY: - (NERVOSA) Ontem à noite eu... Eu quase fiz besteira. Cheguei a pegar o telefone, mas desisti... Estava morrendo de saudades de ouvir a tua voz.

MULDER: - Fale baixo... Então foi recíproco, Scully.

SCULLY: - Por que estamos falando tão baixo?

MULDER: - Continue caminhando, não mude a fisionomia e fale baixo. Talvez estejam nos seguindo. Se tiverem microfones de longo alcance, nesse tom de voz não vão ouvir nada. Pensarão que estamos falando do caso.

SCULLY: - (SUSPIRA) Tô com saudades de você, Mulder.

MULDER: - Pode acreditar, Scully, que eu tô doido pra segurar a tua mão e roubar um beijo, mas tô tentando me segurar.

SCULLY: - Mulder, agora vai ser a prova final. Juntos nós funcionamos. Quero ver se nosso relacionamento vai suportar isso.

MULDER: - Sabe o que parece, Scully? Parece que voltamos ao início. Parece que sua amnésia serviu pra trazer a velha Scully de volta, depois você voltou a ser a nova Scully, parece que aquela noite em New Bern foi nossa primeira vez e agora parece que estamos escondendo o nosso relacionamento de todos, nos encontrando às escondidas, como era no início... Bem que o Fumacinha disse que o inferno é a repetição.

SCULLY: - Mulder, dessa vez vamos ser sérios. Nos empolgamos tanto que passamos a não nos importar com o que acontecesse. Eu continuo sem saber porque você me pediu pra fazer parte dessa sua encenação, mas eu bem que gostaria de saber.

MULDER: - Não vai saber, Scully. Pedi que confiasse em mim. Agora vejo que está fingindo, mentindo, fazendo tudo o que eu digo porque confia em mim cegamente. Mesmo que não saiba o motivo do porquê estou te pedindo isso.

SCULLY: - ...

MULDER: - Como vamos nos encontrar hoje à noite?

SCULLY: - Pense por você. Eu penso no meu plano.

MULDER: - Onde?

SCULLY: - Até a meia noite, aqui, na frente da casa do senhor Delaware.

MULDER: - Bizarro, não?

SCULLY: - Pelo menos se nos virem, teremos argumento. Estamos investigando o local do crime.

MULDER: - Não vai querer transar na cama do falecido, vai?

Mulder olha pra trás.

MULDER: - Não vejo ninguém, mas... Scully, o Raposão aqui tá morrendo de saudades de você.

SCULLY: - (RI) Pára Mulder!

Os dois entram no carro. Em silêncio. Scully põe a mão na cabeça.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Sei lá... Estou me sentindo tonta...

MULDER: - Tonta?

SCULLY: - Acho que é pressão demais nos últimos tempos.

MULDER: - Relaxa, Scully. Pra tudo na vida tem uma solução.


Motel KILL.D.D. - 7:21 P.M.

Scully bate na porta, carregando um envelope. Mulder abre a porta.

SCULLY: - Chegaram os resultados das análises dos bombeiros, Mulder.

MULDER: - Fala, tô doidinho pra ouvir.

SCULLY: - O incêndio iniciou-se na poltrona... Não conseguiram achar uma explicação sobre o fato de não ter se propagado pela poltrona e pela casa. Os móveis ao redor estão apenas chamuscados.

MULDER: - Eu não disse? Você viu o que sobrou dos ossos, Scully! Você sabe que para reduzir um corpo a cinzas, o fogo deve alcançar uma temperatura de 2.500 graus! Incêndios que podem destruir um prédio inteiro apenas chegam a 200 graus!

SCULLY: - Vou fazer uma autópsia. Há pistas por ali, Mulder. Isso não vai me convencer. Pode ter sido criminoso.

MULDER: - Tudo bem, siga em frente e depois volte pelo mesmo caminho.

SCULLY: - Mulder, admitindo a possibilidade de que esteja certo, os casos de combustão humana espontânea são provocados pelo efeito pavio. O efeito pavio sugere que as vestimentas atuam como um pavio externo e a gordura do corpo como cera de uma vela. Caso o corpo continue em contato contínuo com uma chama e haja boa quantidade de oxigênio, isto é possível.

MULDER: - Scully, Scully... Se eu morrer agora e for cremado, você ainda vai esperar de 24 à 48 horas para receber minhas cinzas. O senhor Delaware levou menos de uma hora para conseguir isso. Serviço rápido e eficiente, não?

SCULLY: - ... Tá, Mulder. É combustão humana, mas não significa que a combustão humana seja espontânea. Pode ser ativada por alguma fonte de calor externa e...

MULDER: - Especialistas no assunto afirmam que a CHE pode ser resultado da reação do hidrogênio e do oxigênio do corpo, a nível celular. Os foguetes espaciais utilizam uma mistura adequada desses elementos.

SCULLY: - Mulder, olha o que está dizendo! Está dizendo que as vítimas de CHE são um foguete humano?

MULDER: - Eu não disse isso. Você é quem falou.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Mulder, como é possível uma pessoa literalmente ‘pegar fogo’?

Mulder olha pra Scully com deboche, segurando o riso. Scully faz um beiço segurando o riso também. Scully abre a porta do quarto e sai pra rua, pra rir. Mulder enfia o travesseiro na cara, rindo sem parar. Scully entra no quarto.

SCULLY: - Desculpe, eu... (SEGURA O RISO) Eu fui espirrar. Estou resfriada.

MULDER: - (RINDO EM SILÊNCIO)

Scully ameaça rir de novo. Mulder percebe e ataca.

MULDER: - (RINDO) Ô, Scully, conhece a piada do português que levou a mulher pra assistir a orquestra sinfônica?

SCULLY: - (RINDO) Não.

MULDER: - Bom, a mulher levou horas pra se arrumar e eles chegaram quando o maestro estava subindo no palco e dizendo: Agora, a Quinta Sinfonia de Beethoven. Então o português pegou a mulher pelo braço, irritadíssimo e disse: Viu, ô sua besta! Por sua causa, já perdemos quatro!

Os dois começam a rir, mas não é da piada. Scully tem um acesso de riso, olhando pra Mulder, percebendo a estratégia dele pra encobrir o real motivo do riso.

SCULLY: - Tá, chega, Mulder. Eu... Eu já ouvi falar de casos assim, mas...

MULDER: - Scully, vá fazer sua autópsia. Passe a noite com o defunto se for possível. Não saia de lá enquanto não me trouxer provas consistentes de que minha teoria está errada. (PISCA O OLHO)

SCULLY: - (ENTENDENDO) Tá. E você, onde vai?

MULDER: - (CÍNICO) Scully, não é porque tivemos alguns momentos juntos que agora eu tenho de te dar satisfações. Não temos mais nada. Eu sou um cara livre, sabia? Aproveite sua vida, porque eu vou aproveitar a minha.

SCULLY: - (CÍNICA) Já disse que eu sou uma profissional, Mulder. Sei distinguir as coisas, porque se não soubesse, estaria bem longe de você.

MULDER: - Então não preciso te dar explicações.

Scully sai. Mulder atira-se na cama.

MULDER: - Hoje eu vou pra gandaia! Sou um cara livre de novo!

Corta pra rua.

Do outro lado da rua há um carro estacionado. Dentro dele, um homem do sindicato com escuta no ouvido. Ele pega o rádio.

MAN OF SYNDICATE: - Confirmado. Nada suspeito por aqui. Parece que não estão juntos mesmo.


Necrotério Municipal - 12:04 A.M.

Scully, no necrotério, lavando as mãos. Mulder entra.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - O que descobriu?

SCULLY: - ... O senhor Delaware pegou fogo... (SEGURA O RISO) Incendiou-se de dentro pra fora. Você estava certo.

Mulder olha pra Scully. Scully olha pra Mulder. Mulder desce os olhos pelo corpo de Scully, suspirando. Scully morde os lábios, o desejando com os olhos.

[Som: Off Spring – Come Out & Play]

Mulder agarra Scully pelo braço e a puxa pra outra sala. Tranca a porta. Ergue Scully pelas pernas e a pressiona contra a parede. Começa a beijá-la, enlouquecido.

SCULLY: - ... (DESEJO) Mulder, como saiu de lá?

MULDER: - ... (OFEGANTE) Pela janela dos fundos. Tem um carro suspeito na frente do motel... Eu disse, há escutas nos quartos...

SCULLY: - Hum, Mulder...

MULDER: - (OFEGANTE) Scully, também estou pegando fogo de dentro pra fora e não quero terminar numa mesa de autópsia.

Os dois ficam trocando beijos. Mulder solta Scully. Olha pra ela, maquiavélico.

MULDER: - Scully, acho que vou terminar numa mesa de autópsia.

Mulder empurra Scully contra a mesa de autópsia e começa a tirar o paletó.

SCULLY: - (NERVOSA) Que decadência, Mulder! Começamos em cabanas, daí pra apartamentos, motéis, carros e agora num necrotério?

MULDER: - (DESESPERADO) Dane-se! Onde for seguro é onde vamos nos encontrar!!!! Scully, você me deixa aceso, eu não consigo ficar longe de você!

Mulder coloca Scully sobre a mesa. Fica entre as pernas dela, beijando o pescoço dela, completamente enlouquecido.

MULDER: - ... Scully, eu disse que nada seria normal entre a gente... E foi você... Quem começou com essas taras malucas...

Os dois beijam-se como loucos. Scully abre a camisa dele enquanto o beija e Mulder abre a blusa dela.

MULDER: - Tá uma confusão de mãos por aqui! Me deixa tirar sua roupa primeiro...

Os dois aos beijos, enquanto falam.

SCULLY: - (PREOCUPADA) Mulder, tem certeza de que ninguém vai aparecer?

MULDER: - (DEBOCHADO) Só se um dos mortos sair dali, Scully.

Scully pára de beijá-lo. Olha pra geladeira e fica em crise. Mulder continua a beijar o pescoço dela e a passar as mãos pelo corpo de Scully.

SCULLY: - (ASSUSTADA) Mulder, não brinca com isso!

MULDER: - (OFEGANTE) Vem cá, Scully.

SCULLY: - (CULPADA) Mulder, tem mortos ali, sabia?

MULDER: - (DEBOCHADO) ... E tem um vivo aqui, todinho pra você...

SCULLY: - (NERVOSA) Mulder, pára! Isso é profanação! É desrespeito! Estamos num necrotério!

MULDER: - (ENLOUQUECIDO) Scully, eu transaria com você dentro de um confessionário se preciso fosse!

Mulder continua aos beijos, desesperado. Scully o empurra.

SCULLY: - (NERVOSA) Mulder!

Mulder olha pra Scully, com cara de cachorrinho pidão.

MULDER: - Scully, eu tô doidinho, não pula fora hoje não! Faz uma semana! Uma maldita semana! Eu tô explodindo de tesão!!!!!

SCULLY: - (NERVOSA) Mas, Mulder...

MULDER: - Scully, aposto que se aqueles defuntos estivessem aqui no nosso lugar, não pensariam duas vezes...

Mulder começa a beijá-la. Scully não tira os olhos da geladeira. Mulder agarra as coxas dela. Scully inclina-se sobre a mesa.

SCULLY: - (INDIGNADA) Isso é degradante!

MULDER: - (EMPOLGADO) Eu acho excitante.

Mulder beija o pescoço de Scully.

SCULLY: - Mulder, eu não vou conseguir!

MULDER: - ... Eu consigo pra você.

SCULLY: - Mulder, não...

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, não vai dar.

MULDER: - ... Dá sim, Scully, dá sim.

SCULLY: - Eu não consigo relaxar!

MULDER: - ... Eu te ajudo.

SCULLY: - Mulder, isso aqui tá frio!

MULDER: - ... Nós vamos esquentar...

SCULLY: - Mulder, daqui a pouco vamos fazer amor debaixo da mesa do Skinner!

MULDER: - ... Se ele estiver fora da sala, eu sou rápido...

SCULLY: - (PREOCUPADA) Mulder... Aqui não tem grades.

Mulder ergue-se. Olha pra todos os lados. Pega uma caneta. Entrega pra Scully.

MULDER: - (DEBOCHADO) Morde isso, diz que alivia a dor.

Scully senta-se, indignada.

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, não dá! Eu não estou sofrendo uma cirurgia sem anestesia!

MULDER: - (DESESPERADO) Scully, juro por Deus que hoje só sai besteira da minha boca! Então esqueça a droga de anestesia antes que eu te mostre a anestesia!

SCULLY: - ... (ERGUE AS SOBRANCELHAS, RINDO)

MULDER: - ...

SCULLY: - (ENLOUQUECIDA) Vem cá!!!!!!

Mulder corre pra ela. Scully se agarra nele, lambendo seu peito, afastando a camisa dele pelos ombros. Parecem dois malucos. Scully desliza as mãos e abre as calças dele.

SCULLY: - (SUSPIRA) O que não se faz por amor...

MULDER: - Deixa o amor de lado, Scully. Isso é tesão mesmo.

SCULLY: - Mulder, prometa que nunca vai contar isso pra ninguém. Ou minha carreira como legista vai pro espaço!

[Som: Off Spring – Come Out & Play]

Corta pro lado de fora da sala. Um estagiário passa por ali. Ouve ruídos na sala do necrotério. Arregala os olhos. Sai correndo assustado.


12:34 A.M.

Scully sai da sala. Mulder atrás dela. Scully ajeita o cabelo e a roupa. Mulder arruma a gravata.

MULDER: - (DEBOCHADO) Viu? Eu te disse que rapidinhas eram interessantes.

SCULLY: - (BEIÇO) ... Odeio rapidinhas! Queria as longuinhas! As longas noites de amor que tínhamos, Mulder.

MULDER: - Enquanto não chegar o fim de semana, vai ter de se contentar com isso.

SCULLY: - Você parece estar adorando, não é mesmo?

MULDER: - Claro, Scully. Vou escrever uma auto biografia intitulada: Eu transei até em cima de uma árvore por amor.

SCULLY: - Esqueça aquela árvore, Mulder...

MULDER: - Então está combinado? Deixa eu ver se me lembro...

SCULLY: - Se formos designados pra fora de Washington?

MULDER: - Rapidinhas.

SCULLY: - Se não formos?

MULDER: - (PÂNICO) Banhos gelados e televisão...

SCULLY: - Finais de semana?

MULDER: - Planos feitos e elaborados na Sexta. Eu elaboro na primeira e na terceira semana do mês. Você elabora na segunda e na quarta.

SCULLY: - E se tiver uma quinta semana?

MULDER: - Fica comigo porque eu sou ‘mais criativo’.

SCULLY: - Feriados?

MULDER: - (PENSANDO) ... Hum... Casa da Meg?

SCULLY: - (ASSUSTADA) Não!

MULDER: - Você não falou em feriados!

SCULLY: - Feriados ficam comigo.

MULDER: - Tá. Tem certeza que não quer voltar pra aquela sala por mais meia hora?

SCULLY: - ... (PENSATIVA) Que dia é hoje?

MULDER: - (SUSPIRA) Terça.

[Som: Off Spring – Come Out & Play]

Os dois se entreolham. Scully corre desesperada pra dentro da sala de novo. Mulder vai atrás dela.


BLOCO 2:

FBI – Recepção do Gabinete do diretor assistente – 10:39 A.M.

Skinner termina de ler o relatório, sentado na mesa da secretária.

SKINNER: - Bem... Eu receio que tenha más notícias pra vocês.

MULDER: - Que más notícias?

SKINNER: - ... Pensei que demorariam mais nesse caso. Mas como resolveram rápido, tenho outra coisa pra vocês.

Mulder dá um sorriso. Scully, encabulada.

MULDER: - Vai, tio. Diz que é bem longe de Washington!

Skinner entende e abaixa a cabeça, rindo.

SKINNER: - Em Little Rock, Arkansas, Mulder. É bem longe dos olhares curiosos.

MULDER: - (DEBOCHADO) Skinner... Acho que vou te dar um beijo de língua.

SKINNER: - (DEBOCHADO) Mulder, é por causa desse seu desespero que vou te mandar pra bem longe de mim! Tem um sujeito em Little Rock que pensa que é Deus.

MULDER: - E onde está o perigo? Por acaso ele já criou um Jardim do Éden e colocou um casal idiota pra comer uma maçã idiota, tentados por uma serpente idiota?

SKINNER: - Não. Ele pensa que é Deus porque é inatingível. Há um ano, sua mulher desapareceu. Até agora, não encontramos o paradeiro dela. O FBI acredita que ele a tenha assassinado. O tribunal de justiça quer resposta. Não conseguimos um mandado pra revistar a casa, não temos provas de que foi ele. O sujeito é muito importante na cidade, a opinião pública está a seu favor, têm testemunhos bons... Os amigos e a família dizem que não é violento, que ele e a esposa viviam bem. Mas o depoimento da psicóloga dela e da família da mulher, nos dizem o contrário. Se o FBI não descobrir, o caso será arquivado. A família dela está em desespero.

MULDER: - Ah, tio... Você quer que eu entre na casa dele? Sem problemas.

SKINNER: - Mulder, isso não é oficial. O FBI vai negar tudo.

MULDER: - Tudo bem. Adoro o que não é oficial.

Mulder levanta-se.

MULDER: - Skinner, você prefere diamantes ou safiras?

SKINNER: - Sai daqui, Mulder!

Scully levanta-se. Segura o riso.

MULDER: - Ô, Skinner... Eu já sei, mas só pra conferir... Vamos de carro, né?

SKINNER: - Exatamente. O FBI quer cortar despesas inúteis.

MULDER: - Todas?

SKINNER: - (RINDO) ... Tá, Mulder. Todas.

MULDER: - Só pra completar minha felicidade: Alguém sabe desse caso?

SKINNER: - Não é oficial, Mulder e nem é um Arquivo X. Portanto só eu e o diretor sabemos... E vocês, agora.

MULDER: - E... microfones...

SKINNER: - Por isso estou falando aqui, não lá dentro.

MULDER: - Skinner, eu... Eu acho que te amo. Não, eu te amo mesmo. Você prefere um anel de noivado ou uma aliança?

Skinner atira uma bola de papel em Mulder.


Rua 46 Este – NY – 2:17 P.M.

O Sindicato reunido. Krycek não está. O Canceroso com o olhar ao longe.

MAN OF SYNDICATE #2: - Eles não estão juntos. Nosso homem os seguiu. Ela passou uma parte da noite no necrotério e ele não saiu do quarto.

O Canceroso levanta-se, acendendo um cigarro.

CANCEROSO: - Por que se preocupam com isso? Que diferença faz?

Eles olham pro Canceroso, divergentes e sérios. Um deles atira uma pasta na frente do Canceroso, por sobre a mesa.

MAN OF SYNDICATE# 3: - Acho melhor olhar pra isso e ativar sua memória. Dizem que este papel estava escondido num álbum de fotografias, e que um certo Caçador trocou as amostras no laboratório do FBI, de modo que aquela cética idiota não visse a cadeia genética do parceiro.

O Canceroso olha pra pasta.

CANCEROSO: - É bom saber que confiam mais naquele rato russo do que em mim.

MAN OF SYNDICATE #2: - Você nos escondeu isso! Ia nos dizer quando?

CANCEROSO: - Quando tivesse a certeza.

MAN OF SYNDICATE #2: - Certeza de que ele era seu filho?

CANCEROSO: - Certeza de que ele poderia nos dar o que queremos.

MAN OF SYNDICATE #4: - (INCRÉDULO) Você sabia que tínhamos a chance pronta e mesmo assim, preferiu esperar?

CANCEROSO: - ...

MAN OF SYNDICATE #4: - Preferiu esperar pra ver se você serviria no lugar de Mulder? Crise de paternidade ou ideologia de herói? Ou ia nos deixar esperando que aquele garoto crescesse? Você nos enganou, desviou nossas atenções pro Gibson! Enquanto Mulder estava ali pronto! No desespero de que alguém aqui descobrisse, quis dar uma de herói e transplantar os genes pro seu cérebro! Falhou! Agora nós sabemos o que queria. Considere-se um homem morto.

CANCEROSO: - (AMEAÇADOR) Pensam que me assustam? Acham que tenho medo de vocês? Se eu morrer levo tudo comigo, porque vocês não sabem de nada! Vocês são um bando de alarmistas que não sabem pra que lado correr!

MAN OF SYNDICATE #2: - Você e Bill tentaram nos esconder isso! Vocês começaram a hibridação primeiro! Nos enrolaram com a Cassandra!

CANCEROSO: - ...

MAN OF SYNDICATE #2: - Portanto, você tem razão. Se eles estão ou não juntos, isso não vai afetar os planos. O que nos preocupa é que ela é médica e vai desconfiar. Mas já temos tudo sob controle. Os alienígenas se encarregarão dela.

CANCEROSO: - ...

MAN OF SYNDICATE #2: - Você escolheu a mulher errada! E agora vejo que riu da nossa tentativa frustrada de matá-la. Você já estava com tudo em ordem. Desviou nossas atenções todas com aquelas clones enquanto tramava o projeto. Você não a queria morta por que precisava dela. Quem o ajudou? Os rebeldes?

CANCEROSO: - Acham que eu não soube escolher a mulher certa? Os genes certos? Vocês realmente não sabem de nada!

MAN OF SYNDICATE #3: - Sabemos que começou isso sem nós e não sabemos se teria nos dito! Quais são as suas intenções?

CANCEROSO: - Sobreviver. Essa é a minha intenção. E tentar confiar em vocês, porque são um bando de traidores!

MAN OF SYNDICATE #2: - Só não consigo entender o que fizeram. Como Mulder pode ser filho natural de você e daquela mulher, se tem sangue alienígena?

CANCEROSO: - ... Talvez eu seja alienígena.

Eles se olham entre si, ficando em tumulto. O Canceroso dá a cartada final.

CANCEROSO: - Pode se derrotar os inimigos não estando entre eles?

MAN OF SYNDICATE #4: - Se fosse um alienígena não teria roubado as células de Mulder!

CANCEROSO: - E sabem se as roubei? Quem sabe eu não as dei a ele? Quem está comigo, está comigo. Quem não estiver vá embora. E que descanse em paz.

O Canceroso sai da sala, despreocupado, mas por dentro suando frio.


Motel KILL.C.C. – Arkansas – 7:39 P.M.

[Som: Off Spring – Come Out & Play]

Mulder e Scully entram na recepção. Mulder puxa a credencial. O rapaz da recepção observa.

MULDER: - Um quarto.

RECEPCIONISTA: - Um?

MULDER: - Contenção de despesas. Ordens do FBI. Duas camas separadas, por favor.

O rapaz dá um sorriso com o canto da boca e entrega uma chave.

RECEPCIONISTA: - Assine o livro, por favor.

O rapaz entrega o livro e uma caneta. Mulder olha pra ele e assina o livro. No livro há uma assinatura dizendo: ‘One esteve aqui’.

Mulder sai da recepção. Scully vai atrás dele.

SCULLY: - Mulder, está louco?

MULDER: - Você ouviu o chefe, Scully. Nada de despesas desnecessárias. Afinal somos bons amigos. Respeito entre nós é uma coisa fundamental. Somos parceiros, confiamos um no outro...

SCULLY: - (RINDO) Mulder, que cara mais deslavada! Como consegue ser tão cara de pau desse jeito?

MULDER: - Prática, Scully. Muitos anos de prática. Troquei meu barbeador por uma lixadeira. E o Skinner é pão duro, eu já te disse. O McKenna era mais mão aberta... Por culpa do Skinner, vamos ter que ficar no mesmo quarto. Espero que isso não te incomode. É uma situação desagradável, eu sei.

SCULLY: - Mulder, você não presta, sabia? Como você é cínico!

MULDER: - Scully, só tem um porém. Vamos ter de sair de manhã bem cedo pra invadir uma casa.

SCULLY: - Até amanhã, Mulder, muita coisa pode acontecer... Bem longe de necrotérios!


8:39 P.M.

[Som: Information Society – Repetition]

Scully, sentada na cama, observa o parceiro neurótico, revirando o quarto de cima a baixo.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Mulder, por favor! Não sabem que estamos aqui.

MULDER: - Não confie em ninguém, Scully! Já verificou as lâmpadas do abajur?

SCULLY: - (DESANIMADA) Já, Mulder. Três vezes! Quando você terminar sua brincadeira aí, eu já estarei dormindo.

MULDER: - Faz isso não, Scully...

Mulder atira-se na cama.

MULDER: - Ah! Liberdade!

SCULLY: - Até quando?

MULDER: - Aposto que logo saberão. Por isso, relaxa e aproveite o momento.

Scully deita-se ao lado dele. Os dois ficam olhando pro teto, atravessados na cama.

Scully começa a se esfregar em Mulder, com uma fisionomia maquiavélica.

SCULLY: - ... (SEDUTORA) Mulder...

MULDER: - Fala.

SCULLY: - ... (SEDUTORA) O quê está me escondendo, Mulder?

MULDER: - Nem vem com esse jeitinho, Scully. Não vai conseguir nada. Não estrague minha noite... Quer vinho?

SCULLY: - Hum, vamos ter festinha hoje?

MULDER: - Com toda a certeza. Festinha agitada.

SCULLY: - Suas festinhas são entediantes, Mulder. Da última vez, peguei minha calcinha e fui embora.

Mulder olha pra ela, debochado.

MULDER: - Senti uma ironia aí, Scully?

SCULLY: - ... (SÉRIA) Mulder, tô com saudade daquelas loucuras, sabia?

MULDER: - Tá. Que loucura quer hoje? Nada de árvores, me prometa.

SCULLY: - (RINDO) Nada de árvores... Não sou mais uma pessoa ecológica...

Mulder sobe em cima dela. Olha em seus olhos.

MULDER: - Longuinhas?

SCULLY: - Hum... Com certeza.

Mulder começa a beijar o pescoço dela. Scully o empurra.

SCULLY: - Ei, o FBI tá com contenção de despesas. Eu não!

MULDER: - ???

SCULLY: - ... (SORRINDO DEBOCHADA)

MULDER: - (SORRI) Scully, menina malvada, o que está planejando nessa sua mente doentia e sacana?

SCULLY: - 50 dólares.

MULDER: - (SURPRESO) Ah! Tenho que pagar 50 dólares pra fazer amor com você? Isso não tem nada a ver com aquela história de faço com a mão, com a boca...

SCULLY: - (RINDO) Não. Aquilo custava 30. Isso é sério.

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully, o preço tá subindo, não acha?

SCULLY: - A qualidade também, Mulder...

MULDER: - Cliente VIP deveria ter descontos...

SCULLY: - Não tem descontos, tem brinde...

Mulder olha pra Scully sacanamente. Scully segura o riso. Mulder senta-se na cama. Pega a carteira. Coloca o dinheiro sobre a cômoda.

MULDER: - Tá aí os seus 50 dólares. Mas saiba que eu sou exigente! E quero saber qual é o brinde.

Mulder a agarra, Scully se afasta.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Mulder, acho que não me entendeu.

MULDER: - (DESCONFIADO) Por que tenho a sensação de que isso é outro golpe?

SCULLY: - (RINDO) Mulder, são 50 dólares por centímetro!

MULDER: - (RINDO) Ô, Scully... Não vou deixar o salário do mês com você. Não mesmo!

Os dois ficam rindo. Mulder ajeita-se com as costas no travesseiro. Scully deita a cabeça em seu peito.

SCULLY: - Ah, Mulder... Adoro fazer essas piadas com você.

MULDER: - Adoro ser logrado por você.

SCULLY: - Mulder, é necessário todo esse sacrifício? É realmente necessário que nos afastemos dessa maneira?

MULDER: - ... Scully, eu... Confie em mim, tá?

SCULLY: - ... (SUSPIRA) Tá, Mulder...

Scully fica desanimada. Mulder afaga os cabelos dela. Percebe que ela está triste. Tenta animá-la.

MULDER: - Scully, você sabe quem inventou o preservativo?

Scully sorri. Ergue a cabeça e olha pra Mulder.

SCULLY: - Você sabe me animar, não é, Mulder?

MULDER: - Vai, fala.

SCULLY: - Não sei, Mulder.

MULDER: - Eu acho que foi um judeu.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Porque nós judeus não jogamos porra nenhuma fora.

Scully começa a rir. Abraça-se nele.

SCULLY: - Ô, Mulder... Amo tanto você, sabia? Queria que dividisse comigo esse fardo secreto que está carregando nos ombros...

MULDER: - Não, Scully. Esse fardo é meu. Eu sou o homem por aqui.

SCULLY: - Hum, que machismo! Acha que as mulheres não são fortes?

MULDER: - Depende.

SCULLY: - Depende do quê?

MULDER: - Onde são atingidas.

SCULLY: - Mulder, você é um machista hipócrita.

MULDER: - Tá, sou o que você quer que eu seja.

Mulder afasta-se dela. Fica sentado na cama. Olha pra Scully.

MULDER: - Posso ser poeta?

SCULLY: - (EMPOLGADA) Hum... Isso vai ser interessante.

MULDER: - ... Acha que só os meus vizinhos são poetas, é? Também posso escrever alguma coisa pra você.

SCULLY: - (RI)

Mulder fica sério. Scully olha pra ele, atenta, curiosa.

MULDER: - ... O tempo pensava... Como pensar em mim? Eu procurava teu corpo, eu observava a tua mente... Procurando tocar tua alma... E quando a toquei senti... Ter tocado em mim mesmo.

Scully olha pra Mulder, segurando lágrimas. Os dois se abraçam. Ficam ali grudados, sem dizer uma palavra, de olhos fechados.


BLOCO 3:

2:21 A.M.

Scully, enrolada num lençol, deitada com cabeça na barriga de Mulder, afaga-lhe o peito nu, olhando pra ele.

SCULLY: - Sabe de uma coisa? Acho que eu fui detestável!

MULDER: - Não, a Scully com amnésia até que foi engraçada... Assustadora, mas... Vamos dizer, um humor negro.

SCULLY: - (SORRINDO) Você ficou louquinho pra me salvar?

MULDER: - Não. Pra dizer a verdade, não mexi um dedo.

SCULLY: - (RINDO) Mentiroso!

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - Mulder... Por que ele não me matou?

MULDER: - ... (CONFUSO) Porque é meu pai, Scully. Ele quer me ver feliz e...

SCULLY: - Mulder... Minhas lembranças estão voltando. Me lembro de Krycek ter me tirado do hospital... Não sei explicar, mas coisas estão surgindo em minha cabeça e me pergunto se tem algo a ver com o seu silêncio.

MULDER: - ... Sabe quando eu estava com aquele probleminha no cérebro? Que eu estava prestes a morrer?

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu fui induzido a ter um sonho. Um sonho de uma vida normal... Você já assistiu a Última Tentação de Cristo?

SCULLY: - Sim.

MULDER: - Foi assim. Eu estava morrendo pela minha causa, então sonhei com o outro caminho que eu poderia ter seguido. Sonhei com uma vida normal, com as coisas que deixei pra trás. Vi um casamento, filhos, minha mulher morrendo, as pessoas a minha volta morrendo, eu envelhecendo e a vida toda passando sem sentido. Foi onde descobri que estou no caminho certo e agradeço todos os dias por estar nesse caminho. Foi a escolha certa.

SCULLY: - Quem era a esposa, Mulder?

MULDER: - ...

SCULLY: - Cachorro!

MULDER: - Scully, eu fui induzido, tá legal? Foi onde vi que ela não era nada pra mim. Você estava ali, Scully. Você me salvou da morte. Foi onde tive a certeza absoluta que esse caminho, do teu lado é o certo. Que lutar é preciso. Porque se eu não lutar, eu não serei feliz.

SCULLY: - ...

MULDER: - Acho que o Fumacinha queria que eu soubesse disso. Posso dizer que foi uma injeção de ânimo saber que estou no caminho certo.

SCULLY: - Mulder, às vezes penso que você está se apaixonando por ele, sabia? Que isso mexeu com você. Ele é nosso inimigo, Mulder.

MULDER: - ... Scully, vou te dizer uma coisa que nunca disse antes. Não espero que entenda, mas... Os meios que o desgraçado utiliza são sinistros, doentios e perversos. Mas eu consigo entender, lá no íntimo, porque ele faz isso.

Scully senta-se na cama, segurando o lençol.

SCULLY: - Mulder, o que está dizendo?

MULDER: - Nada, Scully. Deixa pra lá. Só sei que muitas desgraças acontecem e que nem todas dependem dele.

SCULLY: - Krycek?

MULDER: - Nunca confie naquele sujeito, Scully. Nem no senhor ‘CGB Spender faz fumaça’. Mas se tiver que dar ouvidos a uma das duas cobras, o Fumacinha vai ser menos perigoso. Vai mentir menos.

SCULLY: - Por que é seu pai?

MULDER: - Nunca confie num homem que tem algo a perder, Scully. Ele pode ser muito cruel e mentiroso. Eu fico assim quando perco você.

SCULLY: - ... Mulder, estou confusa. Você está escondendo nosso relacionamento do seu pai ou do Krycek?

MULDER: - Dos dois.

SCULLY: - Querem nos separar?

MULDER: - Não. Querem nos usar pra propósitos sinistros, que eu não quero dizer e não vou falar nem sob tortura.

SCULLY: - ... Mulder, se eu soubesse do que se trata, poderia ajudar a evitar, sabia?

MULDER: - Não há nada que possa fazer, Scully. No fundo, sei que também não adiantará nada do que estou fazendo. Só quero ganhar tempo.

SCULLY: - ... Mulder, você está cada dia mais esquisito.

MULDER: - ...

SCULLY: - ...

Mulder senta-se na cama, nervoso. Olha pra ela. Relutante.

MULDER: - Scully, eu... Eu quero te pedir uma coisa.

SCULLY: - ... (MEDO)

MULDER: - Estamos há um bom tempo juntos, gostamos um do outro, temos um relacionamento lindo e...

SCULLY: - E...?

MULDER: - Scully, quero ter um filho com você. Pra ontem.

Scully arregala os olhos, incrédula.

SCULLY: - Sério?

MULDER: - Sério.

SCULLY: - E aquela história de planejar e...

MULDER: - (PÂNICO) Scully, eu não quero mais planejar nada. Tenho até medo de filhos planejados! Nada como acidentes de percurso, acredite!

SCULLY: - ... Mulder, eu... Eu nem sei o que dizer...

MULDER: - Scully, quando voltarmos, vamos até aquele hospital e vamos pegar um dos seus óvulos.

SCULLY: - Tão depressa assim? Mulder...

MULDER: - Scully, juro que estou com pressa. Quero você grávida de uma vez!

SCULLY: - (DESCONFIADA) Por que essa pressa toda? Mulder, pra quem não podia nem pensar na idéia...

MULDER: - Scully, eu quero um filho! Aproveita a chance!

SCULLY: - Não, você está estranho!

MULDER: - Eu sou estranho.

SCULLY: - (DESCONFIADA) Mulder, o que fez você mudar tão repentinamente de ideia?

MULDER: - ... Eu... Eu quero ter um filho com você. Só isso. Não posso querer ser pai? Quero um filho que eu tenha a certeza de que é nosso.

SCULLY: - ???

MULDER: - Scully, eu sei que está doida pra ser mãe...

Scully começa a chorar.

SCULLY: - Mulder, se isso for brincadeira, eu...

Mulder aproxima-se dela. Segura o rosto dela em suas mãos.

MULDER: - Scully, eu quero. Por favor, vamos ter um filho. Não vamos mais esperar.

SCULLY: - ... Mulder, você tá me assustando, sabia?

MULDER: - Eu mudei, Scully. Eu amadureci. Eu quero ter nosso garotinho ou garotinha correndo pela casa...

SCULLY: - Mas e o FBI? Os Arquivos X?

MULDER: - Dane-se tudo, Scully. Só a nossa felicidade me importa.

SCULLY: - ... Eu saio do FBI.

MULDER: - Não. Você ficará até essa criança nascer. Quero você do meu lado, 24 horas por dia.

Scully sorri.

MULDER: - Não vale o sacrifício?

SCULLY: - Vale, Mulder. Eu faria de tudo pra ter um filho.

MULDER: - Ótimo. Já que estamos com os sentimentos vulneráveis no que se refere a crianças, vamos providenciar o júnior. E rápido.

Scully se abraça nele, chorando emocionada. Mulder fecha os olhos, angustiado.

MULDER (OFF): - Scully, preciso fazer isso logo, antes que eles façam isso com você. É a única maneira de enganá-los... E de poupar você do que vem pela frente. Podemos evitar tudo, se tivermos um filho agora... Embora nem tenha certeza de como será essa criança.


Quarto ao lado – 2:38 A.M.

O Caçador de Recompensas tira as escutas. Pega o telefone.

CAÇADOR: - Estão juntos. Ela está se lembrando da abdução.

CANCEROSO (OFF) : - ...

CAÇADOR: - Tem outro cara os seguindo.

CANCEROSO (OFF): - Deixe-o. Mas não se exponha.

CAÇADOR: - Mulder pediu um filho a ela.

CANCEROSO (OFF): - Pobre atordoado... Siga a vigilância e execute o procedimento combinado. Deixe o resto comigo.

CAÇADOR: - Tem certeza de que não sabia sobre isso?

CANCEROSO (OFF): - Já disse quem são os inimigos da causa.


Residência de Billy Robbins – 8:33 A.M.

[Som: Off Spring – Come Out & Play]

Mulder e Scully, dentro do carro, observam a casa. A propriedade tem muros altos, pichados com ‘One esteve aqui’, ‘One não ama mais o Chris’, ‘Duchovny é um bastardo’, ‘Revolta shipper’, ‘Revolução já’, 'Abaixo a oitava temporada', ‘Cartas urgentes pra Fox’, ‘Trekkers sempre foram mais unidos’, ‘Star Trek venceu porque tinha fãs de verdade’, etc. Embaixo está escrito: “Ah, não faz assim com o DD, assinado: Weird, protetora oficial dos narigudos.”

MULDER: - Ele mora sozinho. É um ativista político, diz que o governo esconde a verdade do povo... Alega que a CIA levou sua mulher e quer jogar a culpa nele.

SCULLY: - Estou percebendo uma certa afeição pelo suspeito?

MULDER: - Eu não mataria você, nem que eu precisasse morrer por isso.

Scully olha pro relógio em seu pulso. Olha pra Mulder.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Hum... 8 e 34 da manhã e já estamos românticos? Começamos bem o dia, não é, Mulder?

MULDER: - Scully, depois de uma noite inteira com você, eu me transformo.

Billy sai da casa. Entra em seu carro. É um sujeito de 30 e poucos, cabeludo, bem desleixado. Usa uma camiseta escrito: ‘Oitava temporada, eu sabia a merda que ia dar ’. Mulder desvia sua atenção pro espelho retrovisor. Scully continua observando Billy.

SCULLY: - Mulder, ele foi embora.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - Scully, mantenha silêncio. Tem alguém nos vigiando.

Scully olha pelo espelho da porta.

SCULLY: - ... Droga!

MULDER: - Vamos entrar.

Mulder desce. Scully também. Há um carro parado à distância. Um homem os observa. Os dois caminham até a casa.

MULDER: - (IRRITADO) Eles não se convenceram ainda. Por quê? Por que eu não acertei aquele tiro no desgraçado?

SCULLY: - Mulder, relaxa, está bem?

MULDER: - Ficam nos espreitando como se fossem caçadores... Somos seres humanos, Scully! Não somos animais, cobaias de laboratório!

SCULLY: - Mulder, por favor...

MULDER: - (ENFURECIDO) Pra mim chega, Scully!

Mulder vira-se e caminha até o carro do espião. Scully fica nervosa. Mulder puxa a arma e aproxima-se da janela. O homem olha pra ele. Mulder aponta a arma.

MULDER: - Tá procurando alguma coisa?

HOMEM: - Quem é você?

MULDER: - Desce dessa merda agora e ponha as mãos aonde eu possa vê-las.

O homem sai do carro, com as mãos pra cima. Scully aproxima-se, nervosa. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Scully, sai daqui. Isso é particular.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (GRITA COM ELA FURIOSO) Scully, sai daqui!

Scully se afasta, indo pro outro lado da rua. A fisionomia de Mulder a deixa preocupada. Nunca o vira daquele jeito antes.

Mulder revista o homem. Retira uma arma do paletó dele.

MULDER: - Ok, filho da mãe. Me mostra o registro disso e sua identidade, ou te levo agora mesmo pra primeira delegacia.

HOMEM: - (RI) Tá com medo do quê, agente Mulder?

MULDER: - Vamos fazer o seguinte, tá? Te devolvo essa droga e você vai dar um recadinho pro seu chefe: Quero falar com ele. Tenho um acordo.

Mulder entrega a arma pro homem.

MULDER: - Agora vá embora daqui.

O homem entra no carro. Sai rapidamente.


8:44 A.M.

Mulder veste as luvas. Chuta a porta dos fundos. Entra na casa. Está irritado. Violento. Fora de si de tanto ódio. Scully nem ousa falar com ele. Mulder olha pra ela, sério.

MULDER: - Scully.

Ela arregala os olhos, assustada, recuando. Mulder sorri, amável.

MULDER: - Scully, desculpe tá? Não é com você.

SCULLY: - ... Me deixou assustada, Mulder.

Mulder a abraça. Beija-a na testa.

MULDER: - Vamos trabalhar. Vou pro andar de cima.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - ...

SCULLY: - O que aquele homem fazia atrás de nós?

MULDER: - Eu já disse, Scully.

SCULLY: - (IRRITADA) Não, Mulder! Hoje você vai me explicar o que está acontecendo. Eu quero a verdade! Se estou metida nisto tanto quanto você, eu tenho o direito de saber o que está acontecendo!

Scully fica furiosa. Entra na sala. Coloca luvas nas mãos. Mulder sobe as escadas. Scully segura as lágrimas. Começa a revirar o lugar, deixando tudo como encontrou. Vê uma porta com um cadeado.

SCULLY: - (GRITA) Mulder!

Mulder desce as escadas.

MULDER: - Encontrou algo?

Scully mostra a porta.

MULDER: - Ah, minha detetive... Quer abrir a porta e descobrir o que há atrás dela? Pode ganhar o prêmio máximo ou perder tudo.

Scully fica séria. Está irritada com ele. Mulder chuta a porta várias vezes. Consegue abri-la. É o acesso ao porão. Mulder acende a luz.

MULDER: - Temos menos de uma hora antes dele voltar...

Os dois descem as escadas apressados. Há caixas de papel por todo o canto.


8:54 P.M.

[Som: Information Society – Repetition]

Scully revira uma das caixas.

SCULLY: - Nosso suspeito é escritor... Tem pilhas de rascunhos digitados aqui.

Mulder retira algumas caixas empilhadas.

MULDER: - Scully, olha aqui.

Scully aproxima-se. Percebe uma caixa de madeira. Mulder procura algo pra abrir a caixa. Pega um pé-de-cabra.

MULDER: - Scully, espero que encontremos o que estamos procurando.

SCULLY: - Pra dizer a verdade, espero que ela não esteja aí.

Mulder abre a caixa. Close das várias folhas de ofício, espalhadas, contendo versos. Mulder revira as folhas. Percebe um pó branco dentro da caixa. Mulder cheira.

SCULLY: - O que é isso?

MULDER: - Aposto que não é cocaína... (MEDO) É cal...

SCULLY: - (PRESSENTINDO) Ah, Deus!

Mulder coloca a mão e revira o cal. Faz cara de pânico.

MULDER: - Scully, tem algo aqui.

Mulder ergue a mão puxando o braço de uma mulher, já ressequido. Scully põe a mão na boca e sai desesperada, entrando num banheiro anexo ao porão. Mulder olha pra caixa. Pega o celular. Aperta uma tecla.

MULDER: - Deus! Que miserável! ... Skinner, sou eu. Encontramos um corpo na casa.... Tá, vou aguardar.

Mulder desliga. Aproxima-se da porta do banheiro. Bate.

MULDER: - Scully, você está bem?

Scully sai do banheiro, limpando os lábios.

SCULLY: - Acho que isso foi demais pra mim... Muito choque emocional.

MULDER: - ... (INTRIGADO) Scully, eu... Eu não sei.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Acho que o cara é inocente.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Inocente? Mulder, diga isso àquela mulher, morta há um ano e colocada dentro daquele baú, guardada como um troféu!

Mulder caminha até a caixa. Pega uma das folhas de ofício.

MULDER: - Skinner está acionando a polícia.

SCULLY: - ...

MULDER: - São poemas que ele escreveu pra ela.

SCULLY: - Matou a musa inspiradora e enterrou as poesias com ela... Esse cara é um maníaco, Mulder!

MULDER: - E se não for? E se armaram pra cima dele? E se nos usaram pra conseguir entrar aqui e incriminar o cara?

SCULLY: - Mulder, vamos sair daqui.

Mulder coloca a folha novamente na caixa. Olha pro braço da mulher. Fecha a caixa.


9:21 A.M.

Mulder e Scully, dentro do carro. A polícia sai da casa, levando Billy algemado.

BILLY: - (GRITA) Eu tenho meus direitos! Não fiz isso! Foi uma armação da CIA! Eles sabem que eu estou no encalce deles! Eu sei dos chips de memória! Eu trabalhei pra eles!

A polícia coloca Billy na viatura. A viatura sai. O delegado aproxima-se do carro de Mulder. Olha pro banco de trás. Vê um televisor, um aparelho de som e um vídeo cassete.

DELEGADO: - (DEBOCHADO) Não sabia que o FBI assaltava residências.

MULDER: - Quando é preciso.

DELEGADO: - Ele perguntou como descobrimos o corpo. Alegamos ter recebido um chamado anônimo sobre arrombamento.

MULDER: - Tirem as coisas dele do meu carro. Eu quero interrogar o suspeito.

Scully está com uma fisionomia de poucos amigos. Mulder desce do carro e ajuda o delegado a tirar os objetos de Billy.


Delegacia de Little Rock - 11:39 A.M.

Sala de interrogatórios. Billy, algemado, sentado numa cadeira. Mulder coloca o gravador sobre a mesa. Scully, com um beiço, observa, sentada na outra ponta da mesa.

BILLY: - Eu já disse tudo à polícia.

MULDER: - Agora vai dizer ao FBI.

BILLY: - (RI) Vocês trabalham todos pros mesmos caras!

MULDER: - Billy, escute. Eu quero ajudar você, mas precisa me dizer o que aconteceu! Quem fez isso?

SCULLY: - Você matou sua mulher?

BILLY: - Não! Eu não mataria a Jennifer!

MULDER: - Se não matou, quem a matou?

BILLY: - A CIA, cara! A CIA está armando uma cilada pra cima de mim!

Scully respira fundo, olhando pra Billy com ódio.

SCULLY: - Por que a CIA faria isso?

BILLY: - Eu trabalhei pra eles! Eu ajudei a fazer aqueles chips que programavam assassinos.

MULDER: - Estou tentando entender. Se for um pouco mais específico.

BILLY: - Eu sou engenheiro, cara. Eu ajudei eles. Mas não concordava com os métodos. Não sabia que utilizariam isso pra programar assassinos... Então dei o fora e coloquei a boca no trombone, falou?

MULDER: - ...

BILLY: - Comecei a contar pra todo mundo. Eles ficaram com raiva e sumiram com a Jenny. Agora, colocam o corpo dela no meu porão pra me incriminar. Os malditos bastardos!

Scully levanta-se. Está tomada de ódio.

SCULLY: - (IRRITADA) Se fizeram o que alega, pode nos dar provas disso?

BILLY: - Não tenho provas, agente. Aposto que se revirarem os arquivos da CIA não vão achar meu nome. Eles pensam em tudo.

SCULLY: - Não vai conseguir se safar dessa, senhor Robbins. Sua justificativa é muito simplória.

MULDER: - Scully...

BILLY: - (INDIGNADO) Tá vendo? Você também trabalha pra eles! É uma conspiração! Esse país não tem mais vergonha na cara! A justiça não existe, o direito de defesa não existe... Os órgãos públicos são definidos pela palavra escatologia! Escatologia! Até as séries de TV conspiram! Os caras ficam tão neuróticos com o que escrevem, que começam a criar conspirações na vida real! Uns ficam por contratos, outros ficam pra não largarem sua obra nas mãos de estranhos, outros saem porque se não saírem, a coisa se estende por mais 10 anos, porque donos de emissoras querem grana, não qualidade! É um engodo! Tudo foi combinado entre os três pra fuçar com a emissora burra, que não aceita a perda! A vítima somos nós, os otários que assistem! É uma conspiração!... Ele não é Deus! E você não é o Espírito Santo, meu amigo... Ah, não é não! Isso não é científico...

Scully abre a porta. Sai da sala, furiosa. Mulder olha pra Billy.

MULDER: - Billy, acredito em você. Mas precisamos de provas. Não pode simplesmente acusar a CIA sem ter provas disso.

BILLY: - Acha que não sei? Por que acha que entrei pra vida política? Porque eu quero mudar esse país!

MULDER: - ... Pense, Billy. Está disposto a enfrentar tudo pra provar sua inocência?

BILLY: - O que tenho a perder? Já perdi minha mulher! Já perdi minha série de TV mesmo. Roswell! Roswell!


BLOCO 4:

Motel KILL.C.C. - 1:56 P.M.

Scully abre a porta do quarto. Mulder entra.

SCULLY: - Eu não acredito! Mulder, aquele homem está mentindo descaradamente! Está usando sua paranoia contra você mesmo.

MULDER: - Scully, acredite, já vi isso acontecer...

SCULLY: - Mulder, pode ser que isso exista, mas não se aplica neste caso! Ele é um mentiroso patológico! É um assassino desgraçado!

MULDER: - Scully, você leu os depoimentos dos amigos. Todos batem na mesma alegação! Ele é uma pessoa bem vista, não tem antecedentes criminais, não é violento...

SCULLY: - Mulder... Me pergunto quem de vocês dois naquela sala, era o menos paranoico.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Me escuta!

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, não caia na conversa daquele sujeito! Ele tem lábia, Mulder! Ele é esperto, é um intelectual populista! Ele sabe usar a palavra e o discurso a favor dele mesmo! Se estivesse tão preocupado com a mulher, ele mesmo teria dado queixa na polícia sobre o desaparecimento dela!

MULDER: - Acontece, Scully, que eles tinham problemas conjugais. Ela costumava fugir dele às vezes! O cara nem ligou.

SCULLY: - Talvez ela fugisse por que era espancada dentro de casa! A terapeuta de Jennifer disse que ela fazia tratamento pra conseguir criar coragem de deixá-lo!

MULDER: - Quem falou em espancamento?

SCULLY: - Mulder, ele nem sentiu dor alguma quando soube que a mulher estava morta.

MULDER: - Scully, isso não prova nada...

SCULLY: - (INCRÉDULA) Ah, não prova? Quer dizer que se eu enfartar agora e morrer, você não dará a mínima por isso?

MULDER: - Scully, não é isso que eu quis dizer...

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, vocês homens são todos iguais! Mal a gente apodrece e já estão com outra!

MULDER: - (INDIGNADO) Ei, ei, ei! Vamos com calma. O acusado de assassinato aqui é Billy Robbins, não eu!

SCULLY: - Mas você também está sob minha mira, Mulder! Você tem mentido descaradamente...

MULDER: - Scully, não mude de assunto! Estamos trabalhando, não estamos questionando nossa vida privada.

SCULLY: - Pois saiba, Mulder, que suas atitudes profissionais revelam suas atitudes em casa!

MULDER: - (PÂNICO) Mulher, o que eu te fiz? Por que está irritada desse jeito? Juro que não comi o mousse de maracujá da geladeira! Nem vou mais ao seu apartamento.

SCULLY: - Mulder, ironia tem hora, tá legal? E não pense que vai me amansar com suas piadinhas! Eu estou cansada de fazer tudo por você, mesmo sem saber o que estou fazendo! Nem porquê!

MULDER: - Scully, você ficou tensa porque quer justiça, eu entendo. Você é mulher. Mas não podemos nos envolver nas investigações. Não é porque a mulher do cara foi assassinada, o que nem sabemos se foi ainda, que você vai dizer que foi o marido dela. Quer dizer que se você enfartar, eu vou ser preso?

SCULLY: - Não se faça de idiota, Mulder. Você é outro que tem lábia! Você engana quem quiser com esse seu discurso de conspirações do governo!

MULDER: - Ah, quer dizer que eu sou louco.

SCULLY: - Não! Você é louco de sem vergonha! Eu sei que tem muitas coisas ocultas por aí, mas o governo também não pode ser o culpado por tudo!

MULDER: - Impressão minha ou estamos tendo uma briga?

SCULLY: - Não! Eu já terminei a minha briga! Agora me dá licença, Mulder. Vou pro necrotério. As respostas todas estão na Jennifer e ela vai me dizer a verdade. Não você e muito menos aquele hipócrita do Billy Robbins!

Scully veste um casaco e sai, furiosa. Mulder suspira. Atira-se na cama.


Necrotério Municipal - 7:47 P.M.

Mulder entra no necrotério, com a camiseta cinza. Scully está sentada, numa cadeira.

MULDER: - ... Eu... Eu fiquei preocupado, uma autópsia não leva a tarde toda...

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, eu...

Scully levanta-se. Tranca a porta. Olha pra ele.

SCULLY: - Quer saber de uma coisa, Mulder? Estou enlouquecendo! É muita coisa pra uma mente só, em tão pouco espaço de tempo!

MULDER: - ...

SCULLY: - Estou cansada, estou nervosa, estou estressada!

MULDER: - ... Tenho algo a ver com isso?

SCULLY: - Tem.

MULDER: - (CULPADO) Me desculpe.

SCULLY: - ... A senhora Robbins morreu vítima de espancamento. Também havia fraturas antigas nas costelas, o que sugere que a vítima já tinha sido espancada outras vezes.

MULDER: - ... Acharam o diário dela. Scully, você tinha razão. Não há conspiração nesse caso. Ele é o assassino.

SCULLY: - ...

MULDER: - Bom, mas... A teoria dele sobre séries de TV, me parece bem interessante... Queria saber se ele tem alguma teoria sobre idéias semelhantes, em lugares diferentes, que atrapalham os planos de uma miserável escritora de fanfics, causando uma catarse geral, que era pra ser só mais uma página anônima na internet!

SCULLY: - Mulder, não é questão de qual de nós dois estava certo. A minha questão é que você, um homem tão inteligente, se deixa levar por asquerosos como aquele! Mulder, você é muito ingênuo, acredita demais nas pessoas. Você diz: Não confie em ninguém, mas você mesmo confia!

MULDER: - ... Scully, novamente você tem razão. Ele me atingiu num ponto fraco.

SCULLY: - ...

MULDER: - Me desculpe?

Scully sorri.

MULDER: - ... (SUSPIRA)

SCULLY: - Quando olhei pra aquela mulher, acho que senti uma certa cumplicidade com ela... O amor que sentia por ele era tão grande, que, mesmo não suportando mais viver com ele, ela não conseguia mais deixar de amá-lo.

MULDER: - (INCRÉDULO) Scully? Você está dizendo isso?

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, ele espancava a mulher! Não me fale de amores doentios como esse! Eu não acredito!

SCULLY: - ... Sei lá, Mulder. Já nem sei o que pensar. Na verdade, acho que não estou longe de terminar como a Jennifer. Morrendo por você.

Mulder senta-se. Abaixa a cabeça.

SCULLY: - Eu... Mulder, sabe que somos amigos. Você é o único amigo que tenho, portanto, sinto muito, mas eu preciso desabafar com você.

MULDER: - ... Fala, Scully.

Scully segura as lágrimas.

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, eu... Eu olho pra você todos os dias e convivo com a culpa de que se não fosse por mim, nada de mal teria te acontecido.

SCULLY: - Essa culpa não existe, Mulder. Eu estou nessa porque quis.

MULDER: - Não, eu te envolvi demais, desde o início.

SCULLY: - E se não tivesse me envolvido? Acha que hoje estaríamos juntos?

MULDER: - ... Talvez não. Mas seria bem melhor, porque você estaria segura.

SCULLY: - ... Mulder, se há um culpado aqui não somos nós. É aquele homem. E não acho justo que soframos por causa dele. Mulder, há algum tempo atrás, nós enfrentávamos o mundo. Agora, parece que só nos desatinos é que criamos coragem pra isso.

MULDER: - ... Scully, eu só luto por você. E acho que você não quer uma luta. Então penso que deveria deixar tudo de lado. Já encontrei minha irmã. O que faço ainda naquele porão?

SCULLY: - ...

MULDER: - Justiça por você? Não. Se eu quisesse fazer justiça do que te aconteceu, eu deveria sair de lá pra evitar mais danos. Mas eu sou egoísta demais, Scully. Só penso na minha verdade. E ela vai acabar me matando e matando todos a minha volta. O Bill tinha razão, Scully. Quantos eu vou levar pro túmulo em nome da minha verdade?

SCULLY: - Mulder, mesmo que quiséssemos sair do FBI, não iríamos conseguir. Estamos num ponto onde sabemos demais. O FBI nos é agora uma proteção, não um meio pra chegar a verdade.

MULDER: - ... (SUSPIRA)

SCULLY: - Eles nunca nos deixarão, Mulder.

MULDER: - Não, Scully. Eles nunca me deixarão. Eu sou valioso demais pra eles.

SCULLY: - ???

MULDER: - Agora eu entendo como cheguei ao lugar onde estou. Como consegui abrir os Arquivos X. Eu nunca os encontrei. Eles me encontraram. Tudo foi calculado desde o início. E acredito que até você se inclua nos cálculos deles. Até nosso envolvimento.

SCULLY: - Mulder, não pense assim. Você está cansado, isso não é verdade...

MULDER: - Scully, se eu sou ou não filho dele, o fato é que ele amava minha mãe. Mas não significa que me ame. Talvez ele seja meu pai, mas... Tenho outro pai, Scully. E não é daqui.

SCULLY: - Mulder, não vai começar com isso de novo! Já provei pra você que é humano! Seu sangue é vermelho, sua cadeia genética é normal!

MULDER: - Então qual o interesse dele no meu cérebro?

SCULLY: - ...

MULDER: - Por que somente eu fui afetado com aquela pedra?

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, afaste-se de mim. Posso ser um humano, mas sou um alienígena também. Você examinou meu DNA. Sabe se realmente era o meu?

SCULLY: - ...

MULDER: - Talvez os exames que você viu, quando descobriu que ele era meu pai, tenham sido trocados no laboratório. Já pensou nisso? Eu tenho pensado. E algumas coisas estão vindo em minha cabeça, lembranças que eu nem sei se são minhas...

SCULLY: - ...

MULDER: - Mesmo que você não acredite em alienígenas.

Os dois ficam em silêncio. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Mulder, talvez eu acredite em alienígenas. Se você for um, eu acredito nos alienígenas. Você nunca mentiu pra mim.

Mulder sorri. Levanta-se. Scully vai até ele.

SCULLY: - Mulder, eu não quero saber de que planeta você veio, nem quem é seu pai, sua mãe, seu cachorro... Mulder, pouco me interessa seu passado. O que me importa é o presente e o futuro, que espero, seja longo e sempre a seu lado.

MULDER: - Acho que isso rimou.

SCULLY: - Hum... Às vezes também sou poeta.

MULDER: - Scully, eu só tenho medo de perder você. De que um dia você me culpe pelas suas desgraças.

SCULLY: - Mulder, eu só tenho medo de que você acredite nisso. Não seja tão paranoico e pessimista. Mulder, olha quantas coisas maravilhosas nós tivemos! Acha que se não ficarmos juntos vou lembrar de você como ‘o desgraçado que me trouxe abduções, chips no pescoço e paranoia’? Mulder, isso é tão pouco, perto do muito que tivemos!

MULDER: - (TRISTE) E como vai lembrar de mim, Scully?

SCULLY: - ... (DEBOCHADA) Como o ‘Gostosão de Alexandria’?

Mulder começa a rir.

SCULLY: - Ou como ‘O melhor amante que já tive’?

MULDER: - Scully, sei que está tentando me divertir, mas...

SCULLY: - Ou posso me lembrar de você como...

Scully aproxima-se dele. Ergue o corpo, na ponta dos pés. Mulder se abaixa. Ela cochicha no ouvido dele. Mulder dá uma risada.

MULDER: - Sério?

SCULLY: - Hum... Acho que essa vai ser a lembrança. Afinal, isso é inesquecível e não se encontra muito por aí. Artigo raro, Mulder.

MULDER: - ... (RUBORIZANDO)

SCULLY: - E... Sendo bem safada, mas bem safada mesmo... Eu gosto. Apesar de que cientificamente isto não tem fundamento... Mas eu tenho uma teoria própria que (DEBOCHADA) se ‘encaixa’ mais na pseudo-ciência: isto é muito, mas muito bom!

Mulder abaixa a cabeça, constrangido.

SCULLY: - Olha, Mulder, chega de bobagens, de brigas... Vamos parar de perder tempo. Esqueça o Fumacinha, esqueça os Arquivos X, esqueça desse mundo maluco aí fora, das séries de TV. E pare de sentir afeto pelo CGB. Isso não vai te fazer feliz.

MULDER: - Não gosto do Fumacinha. Ele além de atrapalhar minhas investigações, atrapalha minha vida sexual.

SCULLY: - Bem, pelo menos temos os necrotérios... Já tô me acostumando com a ideia...

MULDER: - Insista em autópsias, Scully. Sempre! Nem que não examine o cadáver...

SCULLY: - ... (RECEOSA) Hum, Mulder... Já que estamos aqui... Bem... Mulder, deite-se aí que eu vou te fazer uma autópsia completa.

MULDER: - (INCRÉDULO/RINDO) O quê? Não, essa não é a Dana Scully que eu conheço! Ela é louca, mas agora... (MEDO/SÉRIO) Isso inclui algum objeto pontiagudo?

SCULLY: - Minhas unhas.

MULDER: - (EMPOLGADO) Uau!

[Som: Off Spring – Come Out & Play]

Mulder deita-se, completamente empolgado com a idéia. A observa.

MULDER: - Luvinhas. Não se esqueça das luvinhas!

Scully olha pra ele, censurando-o. Mas coloca as luvas.

MULDER: - E a máscara!

Scully segura o riso. Põe a máscara.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Bom... Iniciando a autópsia num homem branco, caucasiano, 90 quilos...

MULDER: - Não exagera...

SCULLY: - Eu sei bem o quanto você pesa, Mulder... Moreno, de olhos verdes...

MULDER: - Isso vai no relatório?

SCULLY: - Sou detalhista... Vou começar pela roupa.

MULDER: - Hum, isso vai ser muito, mas muito interessante.

SCULLY: - Interessante vai ficar quando você estiver nu aí nessa mesa e sentir essa superfície gelada no traseiro...

MULDER: - Tudo por você...

SCULLY: - Bem, tirando essa maldita camiseta cinza... (SUSPIRA)...

Mulder ergue-se. Scully tira a camiseta dele. Mulder deita-se novamente. Fica olhando pra Scully.

MULDER: - Frio!

SCULLY: - Eu disse pra você que era frio... Agora vou fazer uma incisão em Y.

MULDER: - (PÂNICO) Scully, o que é Y? Eu não conheço isso...

SCULLY: - Cala a boca, Mulder... Vou te ensinar um Y.

MULDER: - Já me ensinou o X, mas o Y...

SCULLY: - (RINDO) Mulder, fica quieto!... De todas as nossas fantasias sexuais, essa foi a mais bizarra!

MULDER: - Vou incluí-la na minha auto-biografia.

Scully começa a tirar a roupa. Fica de lingerie. Mulder olha pra ela. Ela senta-se sobre ele. Começa a beijar o pescoço dele.

SCULLY: - Mulder, me lembre que essa droga tem rodinhas, tá?

MULDER: - Por quê?

SCULLY: - Não quero me mexer muito pra isso não sair andando por aí.

MULDER: - (PÂNICO) ...

SCULLY: - Tire essa fisionomia de pânico do rosto, Mulder. A idéia foi sua.

MULDER: - Que tal esquecer o Y e ir pro X?

SCULLY: - Não, sem X hoje, Mulder... Dando prosseguimento a autópsia... Hum... Acho que tem alguma coisa viva por aqui se manifestando.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você acha? Quer ter a certeza?

SCULLY: - Mulder, todos nós queremos acreditar, não duvidar... Eu quero acreditar! Eu quero! Eu preciso!


Rua 46 Este – 10:31 P.M.

[Som: Information Society – Repetition]

Close da mesa. Um saquinho plástico é atirado sobre ela.

Corta para o Canceroso. Ele pega o saquinho plástico. Olha contra a luz. Vê um chip. Corta para o Caçador de Recompensas, à sua frente.

CAÇADOR: - Tinha razão em monitorar. Se não o fizesse, não saberíamos que Mulder retirou o chip da nuca de Scully.

CANCEROSO: - Preciso dela às cegas. Se começar a se questionar, estragará tudo. Não quero ela relacionando o que Mulder sabe com o que lhe aconteceu. Poderia nos afetar drasticamente. Ela é médica. Você entende a minha preocupação.

O Canceroso larga o saco plástico sobre a mesa.

CANCEROSO: - Façam. Assim que puderem, o façam.

CAÇADOR: - Ele não desconfia que tem um desses?

CANCEROSO: - Ele está preocupado com o inevitável. Portanto não tem olhos pra si, só pra ela.

CAÇADOR: - ...

CANCEROSO: - Mas quero vigília constante em cima deles. Nada pode atrapalhar o processo. E quero que reporte-se a mim. Só a mim. Fui claro?

O Caçador sai. O Canceroso fecha os olhos. Respira fundo. Olha pra mesa. Vê a pasta de papéis com o nome de Mulder na capa.

CANCEROSO (OFF): - O caos está instalado, Mulder. E não veio pelas minhas mãos. Mas pela sua tolice. Espero que esteja feliz, por ter me derrotado. Agora vai ver quem é realmente seu inimigo.

Fade out.


X

30/05/2000 à 03/06/2000 (credo!)

Aug. 4, 2019, 9:54 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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