lara-one Lara One

Continuação da fic anterior. Mulder descobre que Scully está com amnésia. Scully confirma que foi agredida por Mulder, e ele é preso pelo FBI. Um inquérito é levantado dentro do Bureau para apurar o caso. Mulder pode perder seu distintivo. Skinner tenta ajudá-los, como um desesperado. Scully tenta se lembrar de quem era. Mas a única coisa que consegue é confirmar que havia um homem no acidente com ela. E que este poderia ser Mulder, tentando matá-la. O Canceroso, traído por Krycek, diante dessa confusão toda resolve agir sozinho... E deixa que o FBI se encarregue da situação de Mulder e Scully. O Sindicato começa a desconfiar do Canceroso... E o Canceroso revela algumas surpresas...


Fanfiction Series/Doramas/Soap Operas For over 18 only.

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S03#02 - I DON’T REMEMBER YOU

NA FIC ANTERIOR:

Krycek entra no carro. Olha pro banco de trás. Scully está deitada, inconsciente. Krycek liga o carro.

No Sindicato:

Krycek começa a rir.

CANCEROSO: - (DEBOCHADO) Infelizmente, quando mandou apertar o botão, Mulder já tinha ido embora. Pena que tenha se atrasado...

KRYCEK: - (CÍNICO) Sorte dos Rebeldes que aquele vagão tenha sido explodido, não acham? Planos da invasão atrapalhados novamente...

Os homens se entreolham. Canceroso olha pra Krycek, friamente.

KRYCEK: - (DEBOCHADO) É, os Rebeldes têm muita sorte.

O Canceroso engole seco, desconfiado.

CANCEROSO: - Mas tudo bem... Pelo menos a parceira dele está morta. Nenhuma nave alienígena apareceu pra ajudá-la.

O Canceroso traga o cigarro profundamente, olhando pra Krycek. Krycek sorri triunfante.

KRYCEK: - É, senhores. Não se pode ganhar todas. (RINDO) Mas ela está morta. Disso nós temos certeza. Absoluta.

Apartamento de Mulder:

Mulder cai no chão, gemendo de dor. Coloca a mão esquerda sobre a barriga. O sangue não pára de escorrer. Mulder ergue-se, com dificuldades. Pega o picador de gelo, com a mão manchada de sangue. Arrasta-se até Scully. Mira na nuca de Scully. Respira fundo.

MULDER: - (CHORANDO) Me perdoa.

Mulder segura o rosto de Scully e prepara-se para o golpe final. É quando Mulder percebe que o rosto de Scully está molhado. Mulder vira o corpo de Scully. Do nariz dela, escorre sangue. Sangue vermelho.

MULDER: - (GRITA/ DESESPERADO) Scully!!!!!!!!!!!!!!!

VINHETA DE ABERTURA: TRUST NO ONE


BLOCO 1:

O Canceroso entra em seu apartamento. Tranca a porta. Caminha pela modesta sala, em direção ao quarto, desconfiando até da sua sombra. Entra no quarto, no banheiro, na cozinha, procurando por possíveis locais onde alguém possa se esconder. Não encontra nada. Fisionomia séria, cansada. Olha para a estante na sala. Pega um velho disco e coloca na velha vitrola.

[Som: Michel Legrand – Summer of 42]

O Canceroso acende um cigarro. Senta-se no sofá. Percebe-se a mesma fisionomia de Mulder no rosto dele, quando está sentindo-se perdido e confuso. Quando percebe que um erro foi cometido.

O Canceroso traga profundamente o cigarro. Fica divagando com o cigarro na mão. Fecha os olhos. Lembranças de Teena, ainda jovem brotam-lhe na memória. Lembranças da primeira noite entre eles. Tudo era tão mágico, sem qualquer sentimento negativo. Lembra-se de quando ela lhe contou, na beira da praia, que estava grávida. Lembra-se de quando chegou no hospital e viu seu filho pela primeira vez.

Flash back:

O Canceroso ao lado de Bill Mulder, os dois bem jovens, olhando pelo vidro do berçário, o pequeno Fox Mulder que chora sem parar.

BILL: - Ele é lindo! Um homem merece se orgulhar de ter um filho pra dar continuidade a sua geração.

CANCEROSO: - Como vai chamá-lo?

BILL: - Ainda não sei. Teena também não tem ideia para nomes. Ela achava que seria uma menina. Seria a Samantha.

CANCEROSO: - Fox... Fox é um bom nome.

BILL: - Fox? Por que Fox? Não é algo traiçoeiro?

CANCEROSO: - Nomes influenciam na personalidade de uma pessoa. Seu filho há de ser um homem astuto, sábio, inteligente como uma raposa.

Bill fica olhando pra Mulder. Sorri.

BILL: - Fox... Fox é um bom nome. Fox Willian Mulder. Porque ele é meu filho.

Bill afasta-se. O Canceroso olha pra Mulder. Lágrimas caem de seus olhos.

CANCEROSO: - Fox, espero que um dia você possa ser o grande homem que eu nunca fui. Que tenha a coragem de lutar pelo que você acredita, não pela guerra dos outros.

Tempo real:

[Som: Michel Legrand – Summer of 42]

O Canceroso sorri, sentado no sofá. Sua fisionomia muda rapidamente.

CANCEROSO (OFF): - (NERVOSO) Fui um tolo! Ela seria deixada pelos Rebeldes em algum lugar, sem memória alguma... Mulder ficaria desconfiado e eu a devolveria inteira, negociando seu silêncio. Eles nunca saberiam... Pensariam que era o clone. Mas Krycek descobriu... Ele viu o que planejei naquele acidente... Aquele desgraçado complicou tudo e vai me expor ali dentro... Por minha maldita crise de sensibilidade, coloquei meu pescoço na guilhotina.

O Canceroso levanta-se. Apaga o cigarro. Olhar frio.

CANCEROSO: - Nunca tente destruir o destruidor, Alex Krycek. O preço pode ser muito alto. Não sabe do que sou capaz. Eu sou um homem mau. Porque isso me faz ser alguma coisa.

O Canceroso caminha até a vitrola e a desliga. Abre a porta e sai.


Hospital Trinity – Washington D.C. - 2:21 P.M.

Mulder, em lágrimas, desatinado, escorado na parede, observa Scully. A camisa ainda está manchada com sangue, aberta, revelando uma atadura em volta de seu abdômen. A enfermeira dá comida na boca de Scully.

ENFERMEIRA: - Precisa comer toda a sopa. Está fraca.

SCULLY: - (NERVOSA) Quem é esse sujeito? Por que ainda está aqui? Ele tentou me matar! Por que não chamam a polícia?

Mulder fecha os olhos. Scully está irritada e estranha.

SCULLY: - Alguém por aqui sabe me dizer quem sou e o que estou fazendo aqui?

Mulder aproxima-se de Scully. Ela grita desesperada.

ENFERMEIRA: - (CENSURANDO-O) Senhor, por favor!

Mulder afasta-se.

ENFERMEIRA: - O senhor deveria estar em seu quarto, repousando.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Somos parceiros no FBI. Seu nome é Dana Katherine Scully.

SCULLY: - ... Ele é louco!!!!!

MULDER: - Eu sou um homem louco, Scully. Porque isso me faz ser alguma coisa.

SCULLY: - ...

MULDER: - Não se lembra?

SCULLY: - (COMEÇA A CHORAR)

MULDER: - Tente se acalmar, está bem. Amnésias podem ser passageiras.

SCULLY: - (CHORANDO)

A enfermeira levanta-se. Scully fica em pânico.

SCULLY: - Não! Não me deixe aqui com esse psicótico!

ENFERMEIRA: - Senhor, terei de pedir que se retire. Está deixando a paciente nervosa.

Mulder senta-se na cadeira. Olha desesperado pra Scully.

SCULLY: - Se tocar em mim, eu te mato!

MULDER: - ...

Mulder entrega a credencial de Scully. Scully a pega. Olha pra foto, assustada.

MULDER: - Qual a última coisa de que se lembra?

SCULLY: - ... Não me lembro de nada. Me lembro que acordei e você tentava me estuprar e me matar!

MULDER: - Scully, por favor... Eu não faria isso! Eu não sabia que era você!

Scully mostra a credencial pra Mulder. Aponta pra foto.

SCULLY: - E quem seria?

MULDER: - ...

SCULLY: - Se somos parceiros mesmo, por que não me reconheceu?

Mulder abre a boca pra explicar, mas desiste.

MULDER: - Deve se lembrar. Faça um esforço. Se não lembrasse de nada, não estaria falando comigo. Teria se esquecido de como se fala.

SCULLY: - ... (NERVOSA) Eu não me lembro!

Mulder sai do quarto, desatinado. Escora-se na parede. O médico aproxima-se.

MÉDICO: - Fizemos a tomografia. Nenhum traumatismo, não há nada de errado fisicamente com a cabeça dela... Realmente, agente Mulder, sua parceira está com sintomas de amnésia. Acho que deveria chamar algum especialista no assunto. Não podemos fazer nada.

O médico afasta-se. Mulder fecha os olhos. As lágrimas caem dos olhos dele.

Skinner aproxima-se.

SKINNER: - Mulder, o que está havendo?

MULDER: - Ela está com amnésia... Armaram outra, Skinner. Queriam ter o prazer de ver eu matá-la com minhas próprias mãos. Eu vou pegar aquele Canceroso desgraçado!

SKINNER: - ...

MULDER: - O que houve com a falsa Scully?

SKINNER: - ... Vim pra cá assim que você me ligou, e a deixei no hospital. Ligaram dizendo que tinha sumido.

MULDER: - ... O que fizeram com ela?

Skinner disfarça, olhando para os lados. Mulder suspira. Olha pra Skinner.

MULDER: - Ela está com amnésia, Skinner. Não se lembra de nada. Nem quem é, onde está, quem eu sou...

Skinner suspira, fecha os olhos. Mulder começa a derrubar lágrimas.

MULDER: - Acho que sofreu uma forte lesão no cérebro, talvez tenha passado por um choque traumático muito forte... Ela não quer voltar pro FBI.

SKINNER: - Disse isso?

MULDER: - (CHORANDO) Disse que tem medo da vida que não se lembra. Quer ficar aqui mais um tempo. Eles conseguiram, Skinner. Conseguiram, de um modo grotesco, eliminar a Scully do caminho...

Corta para o corredor. McKenna e três agentes aproximam-se.

MULDER: - ... E acho que também conseguiram me eliminar do jogo.

Mulder suspira. McKenna olha pra Skinner.

McKENNA: - Quando me disseram, não acreditei. Ressuscitou dos mortos, diretor assistente?

Um dos agentes empurra Mulder contra a parede, virando-o de costas. Tira a sua arma e credencial. O revista e depois o algema. Mulder não reage.

McKENNA: - Está preso, agente Mulder, por tentativa de assassinato e agressão física contra uma agente federal.

SKINNER: - Não podem provar nada...

McKENNA: - Skinner, está fora desse assunto. Seus agentes ainda me pertencem... Levem o agente Mulder. Quero sua confissão e quero que passe pelo detector de mentiras.

Os agentes levam Mulder. Skinner olha pra McKenna.

SKINNER: - (IRRITADO) Não sabe o que está acontecendo por aqui, nem com quem está lidando! Não pode julgar Mulder pelo que desconhece!

McKENNA: - Sei muito bem o que está acontecendo. Mulder precisa ser afastado. Está sofrendo de algum distúrbio mental. Não tem condições de ser um agente federal. Ele é um perigo pras pessoas.

SKINNER: - ... Pras pessoas ou pra você?

McKENNA: - Senhor Skinner, tenho o testemunho da parceira dele. Preciso mais do que isso para tirá-lo do FBI por comportamento agressivo?

SKINNER: - Ela não está em condições psicológicas pra saber o que aconteceu!

McKENNA: - Acha que a comissão de inquérito levará isso em consideração? Talvez o estado dela tenha sido causado pelo Mulder. Talvez estivesse bem antes da violência que sofreu. Já pensou no trauma que essa mulher está vivendo?

McKenna afasta-se. Skinner suspira.


FBI – 3:33 P.M.

[Som: Nirvana – Come as You Are]

Mulder, algemado, é empurrado por um agente pra fora do elevador. Dois agentes o escoltam. Eles caminham pelo corredor, até a sala de interrogatórios. Há um agente ali, que olha surpreso pra Mulder. A psicóloga do Bureau também.

Um dos agentes que escolta Mulder, empurra-o pra cima de uma cadeira. Mulder senta-se. Estende os braços algemados.

MULDER: - Poderiam pelo menos tirar isso, colegas? Acham que vou machucar vocês?

AGENTE #1: - Responda as perguntas, agente Mulder.

MULDER: - (DEBOCHADO) Quero meu advogado.

AGENTE #2: - Por que agrediu a agente Scully?

MULDER: - Porque não pensei que fosse ela!

AGENTE #2: - E pensou que fosse quem? A Jodie Foster?

MULDER: - Pensei que fosse o maldito clone... (SORRI, DESANIMADO) ... Que por sinal sumiu, não tenho provas de que exista, e... Quem acreditaria nisso?

AGENTE #2: - Do que está falando, agente Mulder?

Mulder, cansado, fecha os olhos. As perguntas começam, deixando-o atordoado.

Corta para o espelho no fundo da sala.

Atrás do espelho, que é uma janela disfarçada, há outra sala. McKenna, Kersh e alguns homens do alto escalão do FBI escutam o depoimento de Mulder.


Apartamento de Skinner - 8:21 P.M.

Skinner abre a porta. Ao ver o Canceroso, agarra-o pelo pescoço, furioso, encostando-o contra a parede do corredor.

SKINNER: - Desgraçado! Você armou isso tudo, como pude confiar em você?

O Canceroso empurra Skinner e olha pra Skinner com raiva. Skinner olha pra ele, surpreso.

CANCEROSO: - Volte pro FBI. O cargo é seu.

SKINNER: - ...

CANCEROSO: - Quero Mulder sob sua responsabilidade, não nas mãos daquele idiota.

SKINNER: - Quer me explicar o que está acontecen...

CANCEROSO: - Sem perguntas, senhor Skinner. Faça o seu trabalho como diretor assistente. E cuide de seus problemas.

O Canceroso dá as costas, irritado.

SKINNER: - Te enganaram, não foi?

O Canceroso pára. Vira-se pra Skinner. Lança um olhar ameaçador.

CANCEROSO: - (CEGO DE ÓDIO) Senhor Skinner, ninguém me engana. Ninguém.

O Canceroso desce as escadas. Skinner entra no apartamento.


FBI – Sala de detenção – 9:49 P.M.

Mulder, sentado em sua cela. Pensamento ao longe. A fisionomia dele é de um cansaço ainda acumulado, de noites mal dormidas. Mulder deita-se.

MULDER: - Pelo menos agora posso dormir tranquilo. Você está viva. O resto, é com o tempo.

Mulder fecha os olhos, sorrindo, como se agora pudesse fazer isso.


11:29 P.M.

Mulder acorda-se com barulhos. Senta-se na cama. Vê McKenna ao lado da psicóloga do Bureau.

McKENNA: - Agente Mulder, já deve conhecer a agente Otis.

Mulder olha irritado pra McKenna.

MULDER: - Não sou eu quem precisa dos serviços dela. Quem precisa deles é a Scully! Ela precisa da ajuda de vocês pra ter sua memória de volta.

OTIS: - Agente Mulder, acalme-se...

MULDER: - (IRRITADO) Me acalmar? Como posso me acalmar se estou aqui, detido por um maldito incidente, enquanto ela está lá naquele hospital?

McKENNA: - Ela está com a família.

MULDER: - (RI) Família? Ela não se lembra nem se tem família!

McKenna olha pra Otis.

McKENNA: - Eu disse, personalidade perturbada e explosiva.

Mulder levanta-se. Um agente entra na cela e mete-se na frente de McKenna, defendendo-o. Mulder senta-se. Põe as mãos no rosto.

OTIS: - (CALMA) Gostaria de conversar, agente Mulder. Ouvir o que está sentindo?

MULDER: - (NERVOSO) Não sou louco! Não sou perturbado! Há um louco à solta aí fora e no entanto, sou eu que estou enjaulado nessa droga!

McKENNA: - É um agente do FBI e como tal será julgado pelo FBI. Tem seus direitos, mas temos os nossos. E aquela mulher que está lá naquele hospital quer seus direitos também.

McKenna sai. O agente o segue. Fica na porta da cela, do lado de fora. Otis senta-se numa cadeira, de frente pra Mulder.

OTIS: - (CALMA) Então? Quer me contar o que houve?

MULDER: - Não preciso de psicóloga, agente Otis. Sou psicólogo e sei que todo o psicólogo é mais louco das ideias do que seus próprios pacientes.

OTIS: - Bom, pelo menos está mais calmo. Já está até contando piada!

Mulder olha pra Otis. Balança a cabeça negativamente.

MULDER: - (INCRÉDULO) Não, eu me recuso a acreditar! Isso não é real!

OTIS: - No que se recusa a acreditar, agente Mulder?

MULDER: - (RINDO) Não se preocupe, não estou sofrendo de nenhuma desordem psicótica. É só uma expressão inocente!

OTIS: - Quer me dizer por que agrediu sua parceira? Por que tentou estuprá-la?

Mulder ergue a cabeça perplexo.

MULDER: - O quê? Por que eu faria isso?

OTIS: - É o que estou tentando saber... Alguma vez sentiu-se atraído por ela e... Ela o recusou?

Mulder tem um acesso de riso. A psicóloga olha pra ele assustada. Mulder fica sério.

MULDER: - Olha aqui, agente psicóloga ou psicótica Otis. Me faça um favor: Saia daqui, não estou interessado em sua terapia.

OTIS: - Podemos conversar, agente Mulder. Por favor, precisa falar comigo. Estou aqui como sua amiga. Posso ajudá-lo. Se estiver passando por problemas psicológicos, o FBI vai entender. Isso justificaria sua agressão... Mas por que matá-la?

MULDER: - (DEBOCHADO) Por que ela não acredita em alienígenas?

OTIS: - ... (ARREGALA OS OLHOS ASSUSTADA)

MULDER: - (IRRITADO) Eu já falei tudo, não quero repetir tudo de novo!

OTIS: - Mas eu gostaria de ouvir novamente. Só eu e você. Sem perguntas ou mais pessoas por aqui.

MULDER: - (SUSPIRA) ...

OTIS: - (AGUARDANDO) ...

MULDER: - ... McKenna deu um caso pra agente Scully em Knoxville. Não sei sob ordens de quem, mas era pra nos afastar. Lá tentaram matá-la e não conseguiram. Enquanto isso, a substituíram por um clone. Pra me fazer acreditar que era ela. Depois eu descobri a verdade. Então eles pegaram o clone e o trocaram pela verdadeira. Eu mataria a verdadeira Scully pensando que era o clone.

A psicóloga olha pra Mulder, incrédula.

OTIS: - É essa a história?

MULDER: - É essa a verdade.

OTIS: - E quem eram “eles”? Eles que trocaram a agente Scully por um clone? Eram os “marcianos”?

Mulder suspira.

MULDER: - (IRRITADO) Me interna! Eu tô maluco! ... Marcianos... Não estou falando de marcianos! Estou falando de pessoas! Pára de me tratar como se eu fosse um maluco!!!!!

OTIS: - E que pessoas são essas?

MULDER: - ... (PARANOICO/ AGRESSIVO) E você é uma delas! Você está trabalhando pra aquele homem, eu sei que está! Quer me trancafiar num sanatório porque ele pediu isso! É uma conspiração! Não vê? Homens que controlam o país, que estão acima de presidentes, confabulando, negociando, trabalhando com alienígenas que querem invadir nosso planeta! Eles têm a mais alta tecnologia já vista, por que acha que nós, americanos temos tanta tecnologia de guerra? Por quê? Eles querem usar uma forma de vida extraterrestre que parasita nosso corpo, através da contaminação por abelhas! Eles fazem experiências genéticas com humanos, roubam óvulos de mulheres inocentes, criam clones e eu é que sou doido?

OTIS: - ... (ASSUSTADA)

MULDER: - (SUSPIRA) Tudo bem. Eu sei que não acredita em mim.

OTIS: - Agente Mulder, eu acredito que você acredita nisso.

Mulder sorri, balançando a cabeça, desanimado. A psicóloga sai da cela. McKenna vem a seu encontro.

McKENNA: - Então?

OTIS: - Vou receitar antipsicóticos e tranquilizantes.

McKENNA: - ...

OTIS: - Ele sofre de desordem psicótica, associado com desordem de personalidade. A desordem psicótica inclui disfunções, na qual as funções adaptativas da pessoa e o contato com a realidade, são significativamente prejudicados. Acredito que sofra de esquizofrenia, porque apresenta sérias distorções de pensamento, percepção e sentimentos. Não sabe a diferença entre o real e a fantasia. Apresenta também sintomas de desordem da personalidade. Ele tem má adaptação ao ambiente em que vive e má conduta. É um desajustado, agressivo e anti-social.

McKENNA: - Vamos transferi-lo pra um hospital psiquiátrico.

OTIS: - É o melhor a ser feito.

McKENNA: - Vai ver a agente Scully?

OTIS: - Vou conversar com ela. Estou indo para o hospital.


BLOCO 2:

8:29 A.M.

Mulder acorda-se. Levanta-se e caminha até as grades da cela. Um agente vem até ele.

PHILLIP: - Olá, agente Mulder. Precisa de alguma coisa?

MULDER: - Quero falar com o Skinner.

PHILLIP: - Vou verificar se ele está.

O agente afasta-se, vai até o telefone. Mulder senta-se na cama. Põe as mãos no rosto. Três enfermeiros aproximam-se da cela. Otis e McKenna também. Mulder olha pra eles, assustado. Phillip abre a cela e eles entram.

MULDER: - O que...

Os enfermeiros pegam Mulder pelos braços.

ENFERMEIRO: - Vamos, agente Mulder.

Mulder reluta.

MULDER: - Vamos aonde?

ENFERMEIRO: - Vamos pra um outro lugar. Vai sentir-se melhor do que aqui.

Mulder tenta se soltar.

MULDER: - Não vou a lugar algum!

Mulder reluta.

MULDER: - (GRITA) Não!

OTIS: - Agente Mulder, precisa de ajuda!

MULDER: - (GRITA) Eu não estou louco!!!!!!!!!!!!!

Mulder fica agressivo. Eles o seguram com mais força. Mulder tenta reagir, mas é vencido pelo sedativo que injetam em seu braço.

MULDER: - (TONTO) Não sou louco... Eu não sou louco...

Eles colocam Mulder numa camisa de força.


Rua 46 Este – 9:17 A.M.

[Som: Mark Snow – Trust no One]

Krycek entra na sala. Surpreende-se ao ver o Canceroso, sentado na poltrona, fumando um cigarro calmamente.

KRYCEK: - Tão cedo por aqui?

CANCEROSO: - Surpreso? Ia fazer a mesma pergunta, Alex.

Krycek fecha a porta. O Canceroso o observa com um ar de deboche.

CANCEROSO: - Parece que o senhor Skinner voltou.

KRYCEK: - ...

CANCEROSO: - Veio me pedir ajuda. Claro que o ajudei, afinal sempre precisamos de alguém como ele... Sem mágoas.

KRYCEK: - ...

CANCEROSO: - Sabia que Mulder está num sanatório?

KRYCEK: - ...

CANCEROSO: - Sabia que a agente Scully verdadeira está num hospital, o processando por agressão?

KRYCEK: - Pelo menos conseguimos nos livrar dos dois. Ela não voltará, está com amnésia. Ele é um biruta. Ninguém vai deixar um biruta a solta por aí.

CANCEROSO: - E se ela recuperar a memória, Alex? Já pensou nisso?

KRYCEK: - ...

CANCEROSO: - E se ela lembrar detalhe por detalhe do que aconteceu? Lembrar do seu rosto? Lembrar que foi tirada do hospital por você, que fez a troca entre ela e um clone...

KRYCEK: - Não sei do que está falando...

CANCEROSO: - Ora, você sabe sim... E sabe onde está o clone, Alex? Talvez esteja por aí, solto. A última das provas que deveria ser destruída, se a missão falhasse, está por aí, solta. Por sua incompetência. Por sua traição.

KRYCEK: - Você...

CANCEROSO: - Estou falando, Alex. Sei das coisas imbecis que você fez. Você acabou de apertar o botão vermelho. Se não percebeu, não podemos evitar que a qualquer momento, as ordens de evacuação cheguem. Não está em nossas mãos. O poder não é nosso. Besteiras como estas só servem para atrapalhar.

KRYCEK: - Você é o traidor! Você está entregando nossos planos aos Rebeldes! Você matou aqueles velhos todos do Sindicato com o único propósito de se livrar de quem não concordava! Agora esses imbecis acreditam que poderemos resistir com nossas próprias mãos, mas mesmo assim, ainda não sabem de que lado do muro estão!

CANCEROSO: - (CÍNICO) Então por que acha que não o matei, Alex? Acredita mesmo que eu não fui enganado pelos alienígenas também? Acha que planejei aquilo tudo? Que mataria as pessoas que trabalham comigo? Tive a sorte de chegar atrasado.

KRYCEK: - Não me matou porque precisa de mim. Porque quer ser diplomático. Nós sabemos o que sabem. Nós também mentimos sobre o lado oculto da lua. Nós também sabemos que não há uma lua lá em cima!

CANCEROSO: - Não seriam tão imbecis de estragar a conquista espacial americana. Nem somos imbecis de estragar a conquista soviética. Somos os únicos com tecnologia pra isso. E o espaço deve continuar em nossas mãos. Segredos entre muitos criam problemas.

KRYCEK: - ...

CANCEROSO: - Alex, não estou com os Rebeldes. Alguém aqui vaza informações. E não serei eu a pagar a conta pela imbecilidade de alguém aqui dentro. Pouco me importa se o mundo acabar amanhã. Pouco me importa se vocês são comedores de criancinhas, se o Brasil é o país do carnaval e se os japoneses não tem senso de humor. Quero pegar o traidor, Alex. Porque sei que o exército Rebelde não pode nos ajudar. Não ajudaram a si mesmos, como ajudariam aos outros?

Krycek olha pra ele desconfiado.

KRYCEK: - Você tramou tudo pra ajudá-la, não foi?

CANCEROSO: - Ajudá-la? Do que está falando, Krycek? Você a ajudou. Você sumiu com um de nossos homens. Sabemos que foi você quem desacatou as ordens. Não sei porque ficou tão enfurecido por ter perdido a missão pro Hermann... Acredito que frustrei os seus planos na última hora, quando decidi tirá-lo da missão. Sou esperto, Alex. Você implorou muito pra executá-la. Fiquei desconfiado.

KRYCEK: - (NERVOSO) Eu? Eu implorei? Eu me ofereci!

CANCEROSO: - Você tinha planos para ir até lá. Tirá-la do carro, levá-la ao hospital e... Sabe o quê mais um homem apaixonado pode fazer...

KRYCEK: - (RINDO) Está doido? O que está armando? Eu desconfiei da sua ordem de última hora! Por isso fui até lá! Você armou tudo pra nos enganar!

CANCEROSO: - ... Sabe que não é isso, Alex. Você tinha planos de salvar a agente do FBI. Acho que está aos poucos se apaixonando por ela. Ou pela causa de Mulder. E o ciúme doentio está atrapalhando as suas idéias. Prefere ver Scully morta a vê-la com Mulder.

KRYCEK: - (INCRÉDULO) O quê? Você é louco, sabia! Foi você quem armou tudo!!!!

CANCEROSO: - Alex, quem não está comigo está contra mim. Entende o que quero dizer?

KRYCEK: - (IRRITADO) Você é o canalha mais mentiroso e hipócrita que eu já conheci!

CANCEROSO: - Ora, Alex Krycek, você não é nenhum mocinho na história. Você faz parte dos vilões. E está tão absurdamente cego na sua ignorância que me pergunto às vezes, se não é você o traidor que está contatando com os Rebeldes.

KRYCEK: - (RI) Ora, mas você é muito...

CANCEROSO: - Pense, Alex, o que acontece com os traidores. Afinal estamos todos aqui, americanos... Você é o único maldito vermelho que faz parte da organização. Não porque escolhemos. Mas porque não temos escolha. Nos escondeu a vacina, poderia esconder muito mais.

KRYCEK: - (DESESPERADO) Não vai conseguir inverter o jogo!

CANCEROSO: - Fico ressentido em ter que comunicar aos seus amigos russos que você está traindo a nossa causa. Você está com os Rebeldes. E nós, americanos, temos uma maneira mais cortês de tratar os traidores... Na terra de Lênin, as coisas são mais duras... Imagina se o governo soviético admitiria...

KRYCEK: - Não vai conseguir! Eu trabalho sozinho, desgraçado!

CANCEROSO: - Realmente, você acabou de dizer tudo. Você trabalha sozinho. Não precisa de ninguém. Tem seus próprios métodos. Mas escute meu conselho de amigo: tranque sua porta. Nunca sabe quando o lobo mau virá soprar sua casinha de feno.

Krycek sai porta à fora, furioso.

O Canceroso apaga o cigarro. O Homem #1 sai por uma porta.

MAN OF SYNDICATE # 1: - ...

CANCEROSO: - (MAQUIAVÉLICO) Eu não disse? Ele quer nos prejudicar. Garoto bobo, não sabe que a experiência que temos é o que nos ajuda em momentos de crise como estas.

MAN OF SYNDICATE # 1: - ... Vou mandar matar o russo.

CANCEROSO: - Vai causar problemas com isso. Como com a sua missão fracassada de trocar a agente Scully por um clone! Se tivesse seguido meus métodos, não estaríamos agora com problemas.

MAN OF SYNDICATE # 1: - Vou mandar eliminar o russo.

O Homem #1 sai, irritado. O Canceroso acende outro cigarro. Sorri debochado.

CANCEROSO: - Xeque mate, Alex Krycek. Cheque mate.


Dois dias depois...

FBI – Gabinete do diretor assistente McKenna – 8:03 A.M.

[Som: Faith no More – Evidence]

Scully, sentada, olha pra McKenna.

McKENNA: - Acha que está em condições de trabalhar?

SCULLY: - Senhor, preciso voltar as minhas atividades. Talvez isso me ajude a lembrar quem eu seja.

McKENNA: - Agente Scully, você ainda não recuperou sua memória e não pode exercer sua atividade como médica. Nem sabe mais como se faz uma autópsia.

SCULLY: - Senhor, nem acredito que eu era capaz de fazer isso. A ideia me revolta o estômago... Ficarei agradecida se puder fazer qualquer coisa pelo FBI, nem que tenha de ser tratada como uma iniciante da academia.

McKENNA: - Vai reiniciar do zero?

SCULLY: - Sem nenhum problema, senhor. Eu gostaria de ficar. Preciso trabalhar ou vou enlouquecer.

McKENNA: - Precisa voltar pras aulas de tiro.

SCULLY: - Farei isso. Senhor, só peço uma restrição.

McKENNA: - Sim?

SCULLY: - Não quero voltar a trabalhar com o agente Mulder.

McKENNA: - Ele está afastado até uma análise mais completa de seu comportamento.

SCULLY: - Mesmo assim, senhor. Quero transferência para outro setor. Não quero ficar lá embaixo com ele. Ele me dá medo.

McKENNA: - Agente Scully, vou lhe confessar: Mulder também me dá medo.

Scully levanta-se.

McKENNA: - Vá para a casa, agente Scully. Ligarei assim que achar um lugar para recolocá-la.

SCULLY: - Sim, senhor. Agradeço muito o que tem feito por mim.

McKENNA: - Acredito que vai relembrar o que aconteceu.

SCULLY: - Assim espero, senhor.

Scully sai. Ao passar pelo corredor, esbarra em Skinner.

SKINNER: - Agente Scully, como está?

SCULLY: - ... Quem é você?

SKINNER: - ... Fui seu superior, me chamo Walter Skinner.

SCULLY: - Oh, me desculpe, senhor... Estou melhorando.

SKINNER: - Lembra-se de alguma coisa?

SCULLY: - Ainda não, mas estou tentando voltar ao trabalho.

SKINNER: - Isso é bom... Sabe o que aconteceu ao Mulder?

SCULLY: - Não, senhor. E acredito que seja lá o que aconteceu, foi bem merecido.

SKINNER: - Scully, precisa se lembrar. Mulder precisa de você agora!

Scully olha pra Skinner. Afasta-se e entra no elevador.


Clínica Psiquiátrica Dr. Watowsky – 11:29 A.M.

Skinner caminha por um corredor. Puxa a credencial e mostra ao guarda. O guarda abre uma porta. Skinner entra. Ouve-se o barulho pesado da porta fechando-se. Skinner caminha até um quarto. Bate na porta.

MULDER: - Entre!

Skinner entra. Mulder, de moletom, está sentado na cama. Brinca com cartas de um baralho ao lado de uma garota loira.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ora, ainda tenho um amigo pelo menos.

SKINNER: - ...

MULDER: - Essa é a minha parceira de canastra, a adorável, talentosa e pacienciosa Weird Girl.

Skinner a cumprimenta.

MULDER: - Ela não gosta de nariz de batata. Desista. Ele prefere os narigudos... Não é Weird?

WEIRD: - (SORRI)

MULDER: - Ela tá aqui porque a família dela acha que precisa de ajuda. A consideram perigosa, porque come compulsivamente, porque chora com os desaforos que fazem pra ela e porque ela é uma pessoa extremamente sensível e de bom coração. E porque ela acredita que 99% da maldade das pessoas é causada pela falta de amor. Isso é ser louco, na concepção deles... Liga não, Weird. Como diria Janis Joplin: Vamos procurar nossos cogumelos nas montanhas porque o mundo não é digno da nossa lucidez.

Skinner senta-se na outra cama, que está vazia.

SKINNER: - Como está, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Ótimo! Tenho tempo pra ler, jogar cartas e se me comportar bem, poderei jogar basquete acorrentado na companhia de dois gorilas amanhã!

SKINNER: - Mulder, invejo o seu senso de humor... Scully voltou para o FBI.

MULDER: - ...

SKINNER: - McKenna a enviou pra academia e ela vai continuar sob sua tutela. Não posso assumir a responsabilidade por vocês dois até que esse caso seja resolvido.

MULDER: - Como ela está? Fez o que pedi?

SKINNER: - Liguei para o Dr. Werber, Mulder. Ele está na China, numa conferência e só voltará daqui à um mês.

Mulder suspira.

MULDER: - Skinner, não pode deixá-la sob os cuidados deles! Não sabemos o que estão tramando!

SKINNER: - Mulder, não acho que estejam tramando alguma coisa.

MULDER: - (INCRÉDULO) O quê?

SKINNER: - Mulder, confie em mim, isto tudo deu errado.

Mulder levanta-se. Atira as cartas sobre a cama. Weird olha pra ele e sai de fininho do quarto. Mulder olha pra Skinner, desconfiado.

MULDER: - (IRRITADO) O que está me escondendo, Skinner?

SKINNER: - (SUSPIRA) Mulder, aquele homem... Não acredite que ele seja bonzinho não... Mas os planos eram outros. Alguém atrapalhou tudo. As coisas fugiram do controle dele.

Mulder começa a rir.

MULDER: - Skinner, você está ou não do meu lado? Ou está sobre o muro? Como pode defender aquele sujeito asqueroso?

SKINNER: - Mulder, não o estou defendendo. Só estou dizendo que isso não estava nos planos.

MULDER: - (DESCONFIADO) Como sabe tanto assim dos planos dele? Ele te contou? Ou está trabalhando pra ele agora?

Skinner levanta-se. Toma coragem.

SKINNER: - Mulder... Digamos que algum passarinho soprou no meu ouvido sobre aquela bomba. Digamos que eu desisti de lutar porque queria ficar vivo. Digamos que concordei em ir embora, em troca de deixar meu posto pra outro sujeito. Não seria pelas minhas mãos que a Scully sairia do Bureau. Eu não podia fazer isso.

Mulder olha pra Skinner, com raiva. Skinner caminha até a janela e fica olhando pra fora. Triste. Abaixa a cabeça. Põe as mãos nos bolsos das calças.

SKINNER: - Sim, Mulder. Eu sou um covarde, sabe disso.

MULDER: - ...

SKINNER: - (CABISBAIXO) Eu... Eu tomei consciência do quanto sou covarde e... então resolvi segui-lo. Resolvi lutar contra minha covardia. Segui seus passos... Mas ele me usou pra entregar aquela bendita fita sobre o trem! Ele queria que você destruísse as provas!

MULDER: - Se eu não tivesse ido até lá, as provas ainda estariam aí!

SKINNER: - E longe de suas mãos.

MULDER: - (REVOLTADO) E o que me adianta vê-las se não posso pegá-las?

SKINNER: - ...

MULDER: - Por que ele iria querer isso?

SKINNER: - Como vou saber? Eu matei aquela clone, Mulder. Em troca disso, voltei pro Bureau. Foi meu pagamento.

MULDER: - ... (PERPLEXO)

SKINNER: - Sabe por que voltei? Porque de nada adianta ficar vivo e abandonar a guerra. Não sou um desertor. Posso ser um covarde, mas sou um soldado. E eu não vou desertar. Não o fiz durante uma guerra, no meio do fogo cruzado, vendo meus amigos morrerem... E eu não pude salvá-los!

MULDER: - ...

SKINNER: - Não espero que entenda os meus motivos, Mulder.

MULDER: - Skinner... Se eu pudesse controlar e passar por cima da minha mania de buscar a verdade... Eu mesmo já teria ido embora.

Skinner olha pra Mulder, surpreso.

MULDER: - Acho que fez besteira. Deveria ter ido embora.

SKINNER: - Não, não fiz. Tenho dois soldados aqui, no meio do fogo cruzado. Tenho dois amigos aqui, Mulder, que só podem caminhar uma jarda se eu usar meu corpo contra o time adversário.

MULDER: - (DEBOCHADO) Acha que pode segurar o time adversário?

SKINNER: - (SORRI) Com dificuldades, mordendo, chutando e dando socos, mas... Eu tento. Não vou deixá-los no meio de uma guerra. Se for pra morrer lutando, que morramos os três. Tenho mania de herói, Mulder. Se não voltar pra casa e receber minha medalha, quero ser enterrado com honras e com a bandeira do país pelo qual tanto luto e lutarei.

MULDER: - ... Skinner, ele queria se livrar da Scully. Por que acredita que foi traído em seus planos? Ele nunca foi tão bem sucedido! Se livrou de nós dois ao mesmo tempo!

SKINNER: - Mulder, eu vi o olhar daquele sujeito e confesso... Nunca o tinha visto assim. Era o diabo em carne e osso.

MULDER: - (DEBOCHADO) Então alguém enganou o senhor Fumacinha... (SÉRIO) E colocou a Scully nessa e me fez passar por doido. Fico pensando, se o Fumacinha é o diabo, imagine o que ele tinha planejado!

SKINNER: - Acho que foi Krycek.

MULDER: - Ora, eu nem preciso de provas pra saber que aquele desgraçado está por trás disso. Ele tem mais uma no meu caderninho.

SKINNER: - ...

MULDER: - Skinner, precisamos ajudar a Scully. Precisa achar outro psicólogo pra ela. Não confio na Otis. Pra dizer a verdade, não é que não confio.

SKINNER: - Mulder, o que está dizendo?

MULDER: - Confie em mim, Skinner. Tem algo de errado aí e o Fumacinha sabe.

SKINNER: - ?

MULDER: - Não acredito que a Scully esteja com amnésia.

SKINNER: - (ASSUSTADO) Não acha que ela é outro clone?

MULDER: - Não. Confie em mim. Preciso que me arranje acesso aos computadores, nem que seja com um gorila me fiscalizando. Mas eu preciso. Não me lembro detalhadamente das coisas que aprendi, não exerço minha carreira por completo. Mas tem algo de errado aí e talvez nem a Otis saiba disso. Não é psicológico, Skinner. Acredite.


BLOCO 3:

Apartamento de Scully – 2:46 P.M.

Margaret abre a porta. Scully entra. Olha por todo o lugar, não reconhecendo nada. Margaret larga a sacola de roupas sobre o sofá.

MARGARET: - É aqui que mora, Dana.

SCULLY: - ...

MARGARET: - Tem certeza de que não quer que eu fique?

SCULLY: - Eu... Eu não quero que fique magoada, mas... Preciso ficar sozinha. Eu não me lembro de você. Nem sei se é minha mãe mesmo.

Margaret segura as lágrimas.

MARGARET: - Precisa lembrar, Dana. O Fox precisa de você.

SCULLY: - Fox?

MARGARET: - O Mulder.

SCULLY: - Como assim? Por que precisaria? Ele tentou me matar!

MARGARET: - Dana, não sei o que aconteceu com você, mas o Fox jamais tentaria fazer isso.

SCULLY: - (IRRITADA) Há algo estranho aqui, sim. Vocês! Parece que todos defendem aquele assassino! Eu não deveria ser uma pessoa bem quista pelo jeito... Acho que era má e vocês estão se vingando de mim!

MARGARET: - Dana, não é isso. Você é uma boa filha, tem um coração maravilhoso e as pessoas se aproximam de você pela sua pureza e bondade.

SCULLY: - ... Então por que o defende? Você não é minha mãe? Por que quer que eu me preocupe com um assassino tarado?

Meg abre a boca, mas é interrompida por Skinner, que vem chegando.

SKINNER: - Senhora Scully... Precisamos conversar.

Scully olha pros dois.

SKINNER: - Agente Scully, seu depoimento será ouvido amanhã às 8 da manhã. Não se atrase.

Skinner pega Margaret pelo braço e os dois saem. Skinner fecha a porta. Olha pra Meg.

SKINNER: - Senhora Scully, não disse nada a ela sobre o relacionamento entre eles?

MARGARET: - Não. Eu ia dizer, quem sabe ela...

SKINNER: - Por favor, acredite, a intenção é boa, mas não é recomendável. Ela não sabe de nada e pode expor isso lá dentro. Aí teremos mais um problema.

MARGARET: - Como está o Fox?

SKINNER: - Ele está bem. Amanhã será o dia do inquérito e... eu não sei o que vai acontecer e estou alarmado com isso.

MARGARET: - Se a Dana não recuperar a memória até amanhã, o que pode acontecer com o Fox?

SKINNER: - O FBI vai pagar todas as despesas de tratamento e... Ele perderá seu distintivo.

Meg põe as mãos nos lábios, assustada e preocupada.

SKINNER: - Com certeza será transferido de cidade. Recomeçará uma vida nova... É sempre assim quando um agente sai das regras. O enviam pro Hawaii ou pra Flórida.

MARGARET: - Oh, senhor Skinner, diga ao Fox pra perdoá-la. Ela não está em seu juízo perfeito...

SKINNER: - Senhora Scully, ele sabe disso. Ele queria estar aqui ajudando, mas as coisas se complicaram. Sabe que Mulder poderia ajudá-la, ele é psicólogo. Mas acha que a Scully confiaria nele?

MARGARET: - E se eu falasse com ela?

SKINNER: - Ela confia na senhora?

Meg suspira. Toma coragem e mostra sua irritação.

MARGARET: - Não, senhor Skinner. Mas ela está maluca e eu sou a mãe dela. Eu tenho responsabilidades como mãe e tenho o direito por lei de salvar a minha filha. Ela não está no seu juízo perfeito.

Skinner sorri.

MARGARET: - Diga ao Fox que se sair de lá, eu pago seus honorários como psicólogo. Nem que leve a Dana à tapa!

SKINNER: - (SORRI) A senhora é uma mulher fantástica, senhora Scully. Deveria ter entrado para o FBI.

MARGARET: - Pra dizer a verdade, senhor Skinner, não daria certo. O FBI me perseguia. Eu era uma agitadora feminista!

Margaret sai. Skinner abaixa a cabeça e sorri.


Rua 46 Este – 11:01 P.M.

O sindicato está reunido. O Canceroso não está ali. Krycek olha pra eles.

KRYCEK: - Acreditam em mim? Ou vão ter de morrer como seus amigos pra que isso aconteça?

MAN OF SYNDICATE # 2: - Ele teria matado a todos nós se isto fosse verdade.

KRYCEK: - Não entendem, não é? Pensem em cada um dos que foram até aquela emboscada rebelde! Pensem nos postos que exerciam aqui dentro!

Eles se entreolham. O Homem #1 está intrigado.

MAN OF SYNDICATE # 1: - Por que deveríamos acreditar em você?

KRYCEK: - Porque estamos juntos nessa. E não admitimos traidores da causa! Se os alienígenas descobrirem isso, estaremos ferrados!

MAN OF SYNDICATE # 3: - E se ele for o traidor como Krycek está dizendo? Ele sabe de segredos que nós não sabemos. Talvez devamos dar ouvidos ao homem. Talvez ele seja o único lúcido por aqui. Talvez ele tenha boas intenções.

MAN OF SYNDICATE # 1: - (INDIGNADO) O quê?

MAN OF SYNDICATE # 3: - Estou dizendo que talvez a solução seja aceitar a ajuda dos rebeldes.

MAN OF SYNDICATE # 1: - Eles não puderam ajudar a si próprios! Acham que tem alguma intenção em colaborar conosco? Por que se importariam com esse planeta se não tivessem intenções aqui? Talvez por terem sido dominados queiram um novo lar pra viverem!

O Sindicato se divide. A discussão começa.

MAN OF SYNDICATE # 3: - Mas se pensarmos os Rebeldes são os únicos que podem nos ajudar contra os alienígenas! Eles foram vítimas do óleo como nós seremos! Os acinzentados têm medo daquela coisa! Imagine se o óleo negro entrar em cada um de nós? Acham justo que devamos pagar por promessas que não fizemos? Querem ver seus filhos dominados por aquela coisa?

MAN OF SYNDICATE # 2: - Sabe que em troca seremos poupados.

MAN OF SYNDICATE # 3: - Poupados? Acredita nisso? O que temos pra oferecer a eles que eles não tenham? Acham que se preocuparão com criaturas inferiores como nós? O pouco que temos foi com a ajuda de acinzentados... E já lhes demos todas as pessoas que queriam pra estudar! Nosso acordo com eles está andando, mas com esses outros eu não sei se andará.

MAN OF SYNDICATE # 1: - ...

MAN OF SYNDICATE # 3: - Vocês são covardes! Vão entregar a nossa casa pra uma raça de seres nojentos que se divertem invadindo planetas alheios?

MAN OF SYNDICATE # 4: - A Terra oferece condições próprias à eles.

MAN OF SYNDICATE # 1: - E sabem se não oferece condições aos rebeldes? Sabem de onde eles vêm? Sabe que planos eles têm? Acreditam realmente que só queiram vingar-se e que pra isso ofereceram sua ajuda?

MAN OF SYNDICATE # 3: - ...

MAN OF SYNDICATE # 1: - Eles são poucos, não podemos arriscar. Se os alienígenas descobrirem, estaremos apertando o botão. A Terra é deles, já viviam aqui há muitos bilhões de anos.

MAN OF SYNDICATE # 4: - Ora, não se faça de tolo! Isso era um presídio! Foram jogados aqui, sabe-se lá por quem. E agora querem tomar tudo de nós?

MAN OF SYNDICATE # 1: - Não estou preocupado com o que vão pensar de nossa espécie na mesa de negociações do universo! Precisamos nos livrar daquele homem ou vamos pagar um preço muito alto.

MAN OF SYNDICATE # 3: - E vai confiar nesse russo?

MAN OF SYNDICATE # 2: - Por que ele mentiria?

O Homem #1 olha pra Krycek.

MAN OF SYNDICATE # 1: - Alex, faça o serviço. Por aqui, quando temos problemas, nós mesmo o resolvemos.

Krycek levanta-se. Sai. O Homem #3 levanta-se, indignado.

MAN OF SYNDICATE # 3: - Está doido? Vai matar o último dos dinossauros?

MAN OF SYNDICATE # 1: - Não confio naquele fumante. Ele é uma raposa, é traiçoeiro! E não confio nos rebeldes. Não sei quem são, nem de onde vem.


Lugar desconhecido – 11:23 P.M.

[Som: Mark Snow – Trust no One]

O Canceroso está sentado na frente de um monitor de vídeo. Vê o Sindicato reunido. Desliga o monitor. Fuma o cigarro, tranquilamente.

CANCEROSO: - Idiotas. Não sabem de nada. Estão perdidos... Não reconheceriam sua própria espécie num futuro distante...

O Canceroso apaga o cigarro. Levanta-se. Tira a arma da cintura. Carrega-a.

CANCEROSO: - Vamos ver quem é a ‘raposa’ por aqui, senhores.


Apartamento de Scully – 12:01 A.M.

[Som: Michel Legrand – Summer of 42]

Scully, andando pela casa. Observa os objetos, pega-os. Tenta se lembrar.

SCULLY: - Queria ao menos me lembrar de alguma coisa. Encontrar algo que pudesse reviver minhas lembranças mortas... As pessoas me conhecem, mas eu não as reconheço. Não sei quem sou, tudo em mim foi apagado.

Scully entra no quarto. Olha por tudo.

SCULLY: - Queria saber que vida eu tinha...

Scully abre o guarda roupas. Olha seus cabides, suas roupas penduradas.

SCULLY: - Quem é você, Dana Scully? Tudo que sei é que é uma agente federal. Mas quem é você em sua casa, em sua vida particular?

Scully ergue as sobrancelhas. Alguma coisa lhe chama a atenção. Ela puxa um paletó de Mulder, pendurado entre suas roupas.

SCULLY: - (CURIOSA) Hum... Tem um namorado? ... Não, ninguém falou sobre isso.

Scully fecha o guarda roupas. Senta-se na cama. Olha curiosa pra todo o lugar.

SCULLY: - (SUSPIRA) Que mundo é esse seu? Que sonhos tem? Seus medos, suas angústias? O que te faz rir ou chorar? Quem é você, Dana Scully?

Scully deita-se na cama. Fecha os olhos. Começa a chorar.


FBI – 8:24 A.M.

Uma sala de reuniões, uma grande mesa. Scully está tensa. Skinner a observa. McKenna organiza alguns papéis. Há vários agentes ali. Mulder entra, algemado e escoltado por dois agentes. Um deles puxa a cadeira e Mulder senta-se. Os dois agentes caminham até a porta e ficam ali dentro, observando. Mulder olha pra Scully. Sorri pra ela. Scully abaixa a cabeça, irritada, fugindo do olhar dele. Otis entra na sala e senta-se. Observa Mulder e Scully.

FERGUSSON: - Acho que todos estão aqui... Não gostamos quando coisas como estas acontecem, por isso as providências são tomadas aqui dentro e não lá fora. Somos um escritório de investigação, subordinados ao departamento de justiça. Portanto, injustiças não serão aceitas aqui dentro.

Skinner observa Scully. O presidente da comissão inicia as perguntas.

FERGUSSON: - Agente Scully, temos uma avaliação psicológica em nossas mãos que dizem que você está fora de qualquer bom julgamento psicológico no momento. Está sofrendo de amnésia retrógrada, devido a um acidente traumático que sofreu, que ainda é de causas desconhecidas.

SCULLY: - Não mais, senhor.

Skinner olha pra Scully. Mulder fica confuso. Scully está atordoada.

SCULLY: - Eu... Eu consegui me lembrar de alguma coisa... Eu sei que sofri um acidente de carro. Me lembro de estar num carro.

Scully olha pra Mulder, com raiva.

SCULLY: - E me lembro que tinha um homem ao meu lado.

Mulder fecha os olhos. Entra em desespero.

FERGUSSON: - Reconheceria esse homem?

SCULLY: - Não, senhor. Eu sei que era um homem, mas não posso dizer quem era. Não me lembro.

FERGUSSON: - Poderia ser o agente Mulder?

SCULLY: - Talvez.

FERGUSSON: - Tem alguma lembrança anterior ao acidente ou posterior?

SCULLY: - Lembro do acidente e depois que estava na cama de Mulder.

Skinner fica tenso. Olha pra Mulder. Mulder está analisando Scully com os olhos.

FERGUSSON: - Sabe o que fazia no apartamento dele?

SCULLY: - Não, senhor. Sei que ele tentou me estuprar e depois me matar.

FERGUSSON: - Por que ele faria isso?

SCULLY: - Acredito que a Dra. Otis tenha razão. Talvez o agente Mulder tenha ficado revoltado porque eu o recusei.

FERGUSSON: - Agente Scully, tem um fato que não se encaixa. Por que o agente Mulder tentaria matá-la, e sem obter sucesso, a levaria pra seu apartamento, a estupraria e tentaria matá-la de novo?

SCULLY: - Senhor, como eu já lhe disse, não lembro de nada anterior ao acidente. Talvez ele tenha ido até Knoxville, eu o tenha recusado e ele tenha tentado me matar.

FERGUSSON: - (DEBOCHADO) E como não conseguiu, resolveu trazê-la inconsciente até seu apartamento em Alexandria para concluir seu intento? Agente Scully, vocês trabalham juntos. Por que Mulder sairia de Washington, iria até o Tennessee só pra dar em cima de você? Isso não é lógico! Ele poderia ter feito aqui, a qualquer hora, há muito tempo!

SCULLY: - Não sei, senhor. Não posso afirmar nada.


9:26 A.M.

[Som: Michel Legrand – Summer of 42]

Scully chora, desatinada. Mulder olha pra ela com piedade.

FERGUSSON: - Agente Scully, o FBI vai custear todo o seu tratamento com os melhores psicólogos dos Estados Unidos. E o FBI pede sinceras desculpas por esse incidente. Acredito que com sua memória de volta, poderá nos dar maiores informações.

Mulder continua observando Scully, com olhar clínico. Scully fica tensa com ele. Vira o rosto. Fergusson olha pra Mulder.

FERGUSSON: - Agente Mulder, quero que pare de encarar sua parceira. Não vai conseguir seu intento de constrangi-la ou persuadi-la a poupá-lo de suas culpas.

MULDER: - ...

FERGUSSON: - Queremos ouvir sua versão dos fatos, agente Mulder. Levando em consideração que está afastado por distúrbios psicológicos, já relatados pelo diretor assistente McKenna antes do incidente com a agente Scully. Sabemos que já estava maluco o suficiente pra cometer um ato grotesco como esse.

Mulder olha pra McKenna.

MULDER: - Não sou eu o único maluco por aqui. Tem gente que tem neurose por purificadores de ar. Outros por ordem na escrivaninha. Outros tem fobia de elevador e muitos sofrem de depressão, que é uma das desordens mentais mais comuns. A Dra. Otis pode confirmar isso. Pode confirmar que há mais de 250 tipos de desordem mental, segundo o livro da Associação Americana de Psiquiatria, chamado Manual de Diagnóstico e Estatística de Desordens Mentais. Entre 16% e 25% dos cidadãos americanos sofrem algum tipo de desordem. Isso não me torna um louco.

Otis confirma com a cabeça.

MULDER: - Pra dizer a verdade, todos nessa sala tem algum tipo de distúrbio psicológico. Você tem mania de poder, a Dra. Otis tem mania de perfumes e roupas caras. O diretor assistente Skinner tem mania de papel e organização.

Skinner abaixa a cabeça e segura o riso.

FERGUSSON: - Agente Mulder, quero que nos dê sua versão dos fatos e poupe-nos de seus comentários

MULDER: - ... Tudo começou quando o diretor assistente McKenna deu um caso em Knoxville pra minha parceira.

[Corta o som. Percebe-se Mulder falando. Scully o observa, atenta às informações.]


10:46 A.M

Fergusson coça a cabeça. Suspira.

FERGUSSON: - Se não a levou, como explica que ela tenha ido por vontade própria até seu apartamento?

MULDER: - Não disse que ela tenha ido por vontade própria. A levaram, ela estava desacordada.

FERGUSSON: - Não podemos provar isso.

MULDER: - ... Nem podem provar o contrário. A única testemunha aqui do ocorrido são os dois envolvidos.

FERGUSSON: - Agente Mulder, qual seu grau de envolvimento com ela?

MULDER: - Não estou entendendo sua pergunta.

FERGUSSON: - Quero saber até que ponto ela tem intimidades pra entrar em seu apartamento e deitar-se em sua cama!

MULDER: - Quem disse que ela fez isso?

FERGUSSON: - Responda a pergunta, agente Mulder.

MULDER: - (CÍNICO) ... Somos parceiros no Bureau há muito, muito tempo. Pelo que sei, somos uma das 23 duplas que ainda permaneceram juntas por tanto tempo. Somos como irmãos, senhor Fergusson. Trabalhamos dia, noite, final de semana, feriados... Porque gostamos do que fazemos. Porque o FBI é importante em nossas vidas. Não nos importamos se demos nossas vidas em nome do Bureau. Agora, alegar que por ela ser uma mulher isto implicaria que temos um relacionamento íntimo?

FERGUSSON: - Não falei nada.

MULDER: - Mas está sugerindo. Está dizendo que um homem e uma mulher não podem trabalhar juntos! Isso é preconceito! Acredito, senhor Fergusson, que há muita maldade nesse mundo. E a maldade contra a qual eu luto, muitas vezes encontro aqui dentro também.

Otis observa Mulder e ele sabe disso. Por isso continua dando uma de normal.

MULDER: - Quem sugeriu uma besteira dessas?

McKenna mexe-se na cadeira. Skinner olha pra ele. Mulder dá um sorriso de ‘mete que te dou o troco’.

FERGUSSON: - Ninguém sugeriu nada. Estamos apenas analisando fatos... Acho melhor fazer um intervalo pra um café.

Fergusson sai da sala. McKenna passa por Mulder.

MULDER: - Diretor...

McKENNA: - Sim, agente Mulder?

Mulder aproxima-se do ouvido dele, maquiavélico. Cochicha.

MULDER: - (AMEAÇADOR) Sei que trabalha pra eles e que sua missão é nos expor aqui dentro. Mas vou lhe dizer uma coisinha. A senhorita Ryan me pediu para lhe dar um recado: Sexta-feira será impossível, e menos ainda no apartamento dela. Pode ser no Sábado, em Nova Iorque, numa investigação de emergência, com as despesas pagas pelo Bureau?

McKenna olha pra Mulder. Fica assustado.

MULDER: - Eu disse que ia ver o quanto sou louco, McKenna. E eu sou só um agente. Não tenho muito pra perder. Nem estou me aposentando ainda.

McKenna sai da sala, constrangido. Skinner olha pra Mulder, curioso.

SKINNER: - O que falou pra ele?

MULDER: - (DEBOCHADO) Nada, Skinner. Não vou te contar. Não sou fofoqueiro.

Scully levanta-se. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Scully.

Scully vira-se pra ele.

MULDER: - Quero ajudá-la. Não fiz essas coisas e entendo que está confusa. Mas por favor, Scully. Ouviu tudo o que falei, ouviu o que o Skinner falou, os depoimentos de vários agentes, até o que o presidente da comissão falou sobre nosso trabalho. Por que não acredita em mim? Viu que sempre fomos um pelo outro aqui dentro. Não pode aceitar que está enganada? Eu nunca levantaria um dedo contra você.

Scully sai, indiferente. Mulder fecha os olhos.


BLOCO 4:

12:47 P.M.

Fergusson abre uma pasta e lê alguns papéis.

FERGUSSON: - A versão do agente Mulder combina com a versão que o xerife Clayton Hopkins, de Knoxville nos deu. Bate com a versão das enfermeiras e do Dr. Andrew Caulfield, do hospital de Oak Ridge. Temo que não possa deixar de lado a palavra de um médico e de um xerife.

Mulder respira aliviado.

FERGUSSON: - Entretanto, a história de clones ainda não faz sentido. Mas não posso explicar como a agente Scully estava aqui no mesmo momento que estava em Oak Ridge, em coma. Receio que isso seja um Arquivo X.

Mulder sorri.

FERGUSSON: - Agente Mulder, o FBI pede desculpas pela situação que passou, mas sabe que nossos procedimentos básicos em situações como estas são assim. Sabe os termos e condições que aceitou ao ser um agente federal.

MULDER: - Sim, senhor.

FERGUSSON: - Quero que assuma seu posto e quero esclarecimentos sobre esse caso.

Scully fica séria. Incrédula. Magoada, sentindo-se injustiçada.

FERGUSSON: - Agente Scully, devido à sua perda de memória e sua solicitação para voltar ao Bureau como forma de recuperar suas lembranças, levaremos em consideração o seu pedido e poderá assumir suas funções como agente federal. Caso não sinta-se bem com o agente Mulder, futuramente poderá ser recolocada em outro departamento.

Mulder olha pra Scully. Scully olha pra ele, indiferente.

SCULLY: - (SÉRIA) Quero outro departamento, senhor.

Mulder abaixa a cabeça.

FERGUSSON: - Acha que tem condições de trabalhar?

SCULLY: - Posso me envolver em operações menos complicadas, senhor. Mas não posso realizar tarefas médicas, porque nem sei se sou médica.

FERGUSSON: - Poderá se encarregar de tarefas internas, agente Scully.

SCULLY: - Sim, senhor.

FERGUSSON: - Ficará subordinada ao diretor assistente Skinner... Mas não posso afastá-la dos Arquivos X. Não por enquanto. Precisamos recolocar outro agente para tal função e você precisa estar apta para ir pra outro departamento. Os Arquivos X não são prioridades aqui e se você não se revelar competente o suficiente pra sair daquele porão, ficará por lá. Erros vindo do porão são justificáveis. Dos outros andares não. Ficará nos Arquivos X assessorando Mulder. Mas não sairá a campo. Compreendido?

SCULLY: - ...

FERGUSSON: - Senhor Skinner, o diretor assistente McKenna solicitou que transferíssemos os agentes Mulder e Scully e os Arquivos X para o senhor novamente. Alegou que você tem mais experiência para tal tarefa.

Skinner olha pra Mulder surpreso. Mulder dá um sorriso com o canto da boca.

FERGUSSON: - Bem, aguardarei relatórios do progresso da agente Scully e da apuração do incidente ocorrido. Sem mais no momento, acho que esta seção de inquérito está encerrada.

Fergusson levanta-se e sai da sala. McKenna o segue, olhando pra Mulder com raiva.

[Som: Michel Legrand – Summer of 42]

Scully levanta-se. Mulder olha pra ela, enquanto é desalgemado.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Aceita minha oferta?

SCULLY: - Não quero nada de você. Nem sei quem é. Eu não me lembro de você. Fique longe de mim, por favor. Nem olhe pra mim. Não te conheço. Refira-se a mim como agente Scully e nada mais que assuntos profissionais. Até eu provar que posso ser uma agente federal e ser transferida daquele porão.

Scully sai. Mulder abaixa a cabeça, segurando as lágrimas. Skinner põe a mão no ombro dele.

SKINNER: - Mulder... Aguente a barra. Sei que será difícil, mas vai precisar.

Mulder sorri, cansado.

MULDER: - Posso ir pra minha casa hoje?

SKINNER: - (DEBOCHADO) Tem trabalho a fazer. Acha que vai ter moleza por aqui, agente Mulder? Eu não sou o McKenna.

MULDER: - ... Vai, tio. Só hoje. Tô precisando colocar meus parafusos no lugar.

SKINNER: - (DEBOCHADO) Só desta vez, agente Mulder. E fique longe de encrencas. E se disser novamente, perante uma comissão do FBI que eu sou viciado em ordens e relatórios, garanto que vou fazê-lo limpar o chão que eu piso.

Mulder sorri.

SKINNER: - ... Percebi que passou o tempo todo analisando o comportamento dela. Chegou a alguma conclusão?

MULDER: - Mas não é o suficiente pra dar um diagnóstico.

SKINNER: - ... Vá pra casa, Mulder. Tome um banho.

MULDER: - (DEBOCHADO) Vai comprar um spray como o McKenna e dizer que estou fedendo a jaula?

SKINNER: - (RINDO) Vá, relaxe. Amanhã é Sábado, poderá dormir até tarde.

MULDER: - (TRISTE) Skinner, se eu não dormi quando ela sumiu, acha que vou dormir antes de encontrá-la? Porque ela ainda não se encontrou.

SKINNER: - Mulder, sei que... Vamos falar de homem pra homem. Sei que vai ser difícil ficar longe dela... Mas não me crie problemas. Lembre-se que ela não é a Scully.

MULDER: - Acha que sou um tarado?

SKINNER: - Não acho, Mulder. Tenho certeza. Controle seus impulsos, pra não criar mais problemas aqui dentro. Fique longe dela. Nem olhe pra ela. Mas nem ouse em tocar num dedo dela!

MULDER: - Falar é fácil...

SKINNER: - Sei que falar é fácil, mas... Um banho gelado resolve.

MULDER: - (DEBOCHADO) Também têm experiência com banhos gelados, diretor assistente Skinner?

SKINNER: - Mulder saia já daqui. Está sendo insubordinado com a chefia.

Mulder sai da sala rindo. Skinner suspira.

SKINNER: - Por que tenho a estranha sensação de que tudo vai começar de novo, como há oito anos atrás? Os dois discordando aos gritos, ela fugindo dele, ele fugindo dela... Aquela tensão entre os dois e... Acho que eu é quem deveria ter ido caçar sapos... Dessa vez sem cabanas no Nepal. Juro!


Apartamento do Canceroso – Local desconhecido – 6:22 P.M.

Krycek entra. O Canceroso o espera, sentado no sofá.

CANCEROSO: - Não pode ser mais inteligente?

KRYCEK: - Não vou matá-lo covardemente. Você não merece isso.

CANCEROSO: - Bom, pelo menos sabe que sou um homem competente no que faço... Posso te contar uma historinha?

Krycek puxa a arma, com um silenciador.

KRYCEK: - Sua última piada, eu garanto.

CANCEROSO: - Existe um sujeito no Sindicato, o homem número 1. Eu descobri que ele estava pensando por si próprio.

KRYCEK: - ... (DESCONFIADO)

CANCEROSO: - Resolveu agir por conta. Colocou Mulder sob a tutela daquele imbecil do McKenna. O objetivo: expor o relacionamento dele e da ruivinha ali dentro... Mas escolheu o cidadão errado, ele tinha o rabo preso, o que prova que esse homem não poderia ser o número 1. Ele não era competente o suficiente. Não verificava a ficha dos escolhidos...

KRYCEK: - Não quero saber sobre isso.

CANCEROSO: - Esse mesmo homem ordenou que o Sindicato eliminasse você. Ia jogar a culpa toda em você. E eu quase fui tolo pra acreditar que você era o traidor.

KRYCEK: - Mentira! Ele ordenou que eu te eliminasse.

CANCEROSO: - Alex, meu querido. Dê dois minutos e um pistoleiro entrará por aquela porta, com uma arma igualzinha a sua, pra não fazer barulho, direcionada em seu ouvido. Veio sob ordens do Homem número 1. Vai alegar que veio verificar se eu tinha sido morto. Portanto, vou ficar na cozinha.

KRYCEK: - Não acredito em você.

Krycek engatilha a arma. Olha pro Canceroso. O Canceroso acende um cigarro. Dá as costas, tranquilo e vai pra cozinha. Krycek fica nervoso. Indeciso. Mas vira-se pra porta.

[Som: Mark Snow – Trust no One]

Vemos a maçaneta girar.

Krycek esconde a arma nas costas. Um pistoleiro entra, segurando uma arma com silenciador.

PISTOLEIRO: - Alex?

KRYCEK: - O que faz aqui?

PISTOLEIRO: - Vim ver se fez a tarefa...

O pistoleiro aponta a arma, mas Krycek é mais rápido e atira nele. O homem cai sangrando.

KRYCEK: - (NERVOSO) Quem te mandou aqui?

PISTOLEIRO: - ...

KRYCEK: - Quem?

PISTOLEIRO: - Eles.

KRYCEK: - Eles quem?

O Canceroso entra na sala. Olha debochado. O pistoleiro arregala os olhos.

PISTOLEIRO: - Você não o matou, seu russo desgraçado! Você é o traidor, eles tinham razão!

O Canceroso puxa a arma da cintura. Coloca o silenciador na ponta. Aproxima-se friamente e atira na cabeça do pistoleiro.

Krycek aponta a arma para o Canceroso. O Canceroso joga sua arma no sofá.

CANCEROSO: - Acha que mataria você, Alex?

KRYCEK: - ... (CONFUSO)

CANCEROSO: - Acha que deixaria esse homem vivo pra dizer que você era o traidor? Eu salvei sua vida.

KRYCEK: - E eu salvei a sua.

CANCEROSO: - Não salvou não. Eu já te esperava. Mas não sou o mau menino da história e não devemos lutar contra nós mesmos. Mas contra o inimigo.

KRYCEK: - ...

CANCEROSO: - O traidor da nossa causa já está morto. Não fui o responsável por aquilo. Ele foi.

O Canceroso abre a porta do quarto. Krycek aproxima-se. Vê o Homem #1 morto, com um tiro na cabeça.

CANCEROSO: - Ainda crê, Alex, que eu daria um presente pro Mulder? Que eu pouparia a parceira dele? Por que faria isso? Por que evitaria que a tirassem dele? Por que admiro o amor? Por que conheço o amor? Por que sei o que é amar de verdade?

KRYCEK: - ...

CANCEROSO: - Ora, Alex. Amor é uma palavra que eu desconheço. Invente outro argumento pra se livrar de mim.

Krycek sai rindo. Volta.

KRYCEK: - Você... Você acreditar no amor? Acho que tenho bebido demais nos últimos dias!

Krycek sai rindo. O Canceroso traga o cigarro. Fecha a porta. Pega o telefone.

CANCEROSO: - Senhores, inimigo exterminado. O informante dos Rebeldes foi morto. Realmente eu estava certo. Era ele. O russo esteve aqui, mas está sob nosso controle.

O Canceroso desliga o telefone.

CANCEROSO: - Você tem contas comigo, Alex Krycek. Não com o Sindicato. E um dia eu vou cobrar. Pode acreditar nisso. Vai pagar caro, da pior maneira, o que tomou de mim.

O Canceroso olha pro homem morto no chão. Indiferente. Abre uma gaveta da estante. Retira uma foto. Senta-se no sofá.

[Som: Michel Legrand – Summer of 42]

Close da foto de Teena com Mulder, ainda pequeno, em seus braços.

O Canceroso sorri. Passa o dedo sobre o rosto de Teena.

CANCEROSO (PENSANDO): - Quando afago teus cabelos... E beijas minhas mãos... Uma estrela vira cambotas, apaga a luz e se deita no chão. Quando beijas meu rosto, Agosto fecha o guarda-chuva e setembro senta no banco do jardim. Quando beijas meu ombro para meu assombro, sou Atlas e leve é o mundo que levo em cima de mim*.

O Canceroso fecha os olhos.


X

*Atlas. Autoria: Luiz Coronel.


20/05/2000

Aug. 4, 2019, 8:16 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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