mandyphantom Amanda Rocha

Jongin relembra os tempos onde vivia uma vida pacata no interior, em que todos os dias eram iguais e nada mudava. Naquele fim de mundo as coisas pareciam girar diante do próprio eixo até a chegada de Sehun, o garoto carisma da capital. Jongin, que nunca fora próximo de nada, se vê preso naqueles dias infinitos ao lado do novato e descobre como a juventude pode ser tão bonita tanto quanto trágica.


Fanfiction Bands/Singers For over 18 only.

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Regen

Se eu soubesse do gosto agridoce que Sehun traria à minha juventude, teria aproveitado muito mais de seus lábios enquanto podia, enquanto éramos jovens e despreocupados.

~



Aos dezesseis anos qualquer garoto normal já tivera algumas experiências sexuais ou amorosas com outras pessoas, já tinha dado beijos escondidos dos adultos e explorado o próprio corpo. É uma fase onde se começa a enxergar com olhos diferentes o mundo ao redor e certas coisas perdem a magia, a puberdade provoca um turbilhão de transformações esquisitas no corpo e de repente a adolescência pode se tornar uma lembrança perturbadora.

Meu primeiro contato com esse mundo distorcido fora na volta às aulas quando ouvia os meninos da minha classe comentando sobre as pernas magras das garotas dentro daqueles uniformes apertados. De alguma forma eu nunca me interessara muito em questões sexuais, meus pais eram religiosos demais para permitir que seu pequeno garoto se desvirtuasse do caminho iluminado. Fui criado à base de ensinamentos católicos que me faziam reprimir todos meus impulsos desejosos e hoje em dia me pergunto se tanta privação fora a causa da minha “distorção”, minha doença.

“Sejam bem vindos a mais um ano letivo, espero que possamos trabalhar juntos para concluirmos com êxito todas as tarefas semestrais”, o professor Yang falava com aquela voz desgastada de pessoas mais idosas e quase não era possível ouvi-lo diante de toda aquela algazarra que os outros alunos causavam, especialmente para quem estava no fundo da sala como eu. Costumava sentar nas últimas carteiras estrategicamente para ler os livros que de nada tinham a ver com o material escolar, lembro bem de que não via graça alguma naquele equipamento didático fornecido pela escola, os livros guardados na biblioteca particular de casa pareciam muito mais atraentes aos meus olhos juvenis, livros que um docente jamais ousaria disponibilizar para humanos em formação como nós.

“Silêncio, por favor!”, ele falou aumentando bem pouco sua voz e a bagunça ia diminuindo enquanto todos se assentavam nas carteiras, quando o lugar estava mais quieto ele continuou, “Este ano estaremos recebendo um aluno transferido da capital, quero que o recepcionem bem e o acolham para que ele não fique de fora das atividades escolares, por favor apresente-se para turma”.

Lembro que assim como todos os outros, meus olhares voltaram-se para a figura magra que adentrava a sala e por um breve momento senti que todo o meu corpo iria entrar em combustão.


Aquela era a primeira vez na vida que me sentia daquele jeito.


“Olá a todos, me chamo Oh Sehun, muito prazer em conhecê-los”, falou de um jeito esquisito e quase não consegui entender o que dizia. Ele tinha cabelos castanhos escorridos pelo rosto pálido e olhos pequenos que se dobravam quando sorria, a boca fininha era rosada assim como as bochechas que ardiam de vergonha. Sehun era alto, talvez um pouco mais que eu e lembro-me de achá-lo estranhamente adorável naquele uniforme pequeno que o vestia, provavelmente seus pais tinham comprado o tamanho errado.

A luz do sol que vinha das janelas de vidro batia estrategicamente contra a pele alva do novato e por breves segundos ele pareceu um anjo diante de mim, embora apenas eu tenha ficado completamente extasiado com aquela visão. A lembrança daquele breve momento era capaz de me causar arrepios até hoje.

Enquanto o pobre garoto permanecia estatelado diante de toda a classe com um sorriso amarelo no rosto, eu podia ouvir as meninas fofocando sobre o quão bonito ele era e que mal viam a hora do intervalo chegar para poderem conversar com ele. Era normal sentir certa euforia acerca de novidades, mas eu inexplicavelmente me sentia incomodado com tanta falácia. O burburinho voltava a tomar força enquanto o senhor Yang pedia silêncio e indicava a carteira para Sehun se sentar, sendo esta localizada exatamente ao meu lado, o que significava que teríamos que dividir o livro de história e todos os outros ao longo do dia.

“Sehun, junte sua banca com o colega ao lado para que possa acompanhar a aula”, o professor falou virando-se para o quadro e começou a escrever, completamente ignorante da ansiedade que me acometia enquanto eu observava aquele estranho se aproximando de mim. Sehun não parecia munido de vergonha na hora de juntar nossas carteiras, era quase como se fôssemos amigos durante uma vida inteira e hoje agradeço internamente por ele sempre ter sido esse garoto extrovertido.

Me mantive em silêncio enquanto ele me observava com aqueles orbes curiosos, quase pude ouvir seu questionamento do por que eu não compartilhar o material e apenas quando fitou o livro que repousava sobre meu colo é que entendeu que eu não tinha pretensão alguma de prestar atenção na aula. Sehun soltou uma risadinha discreta e por um momento fiquei realmente temeroso dele me denunciar ao professor, justo eu que era sempre tão invisível aos olhos dos outros e que fazia de tudo para me manter assim.

Contos da Tartaruga Dourada… Você tem bom gosto, quase ninguém da nossa idade parece ter ânimos para literatura. ”, ele falou alegre enquanto me dirigia um sorriso suave e foram tantas descargas elétricas que sofri naquele momento que eu soube exatamente que Sehun seria alguém para recordar. Sorri pequeno para ele não conseguindo evitar ficar vermelho da cabeça aos pés, patético, embora estivesse genuinamente feliz por encontrar outra pessoa que me compreendesse.

“Prazer, Oh Sehun”, estendeu sua mão magra em direção a mim e timidamente a apertei, sentindo a textura leve de sua palma e o calor morno que emanava de sua pele. “Kim Jongin”, respondi meio sem graça enquanto ele me fitava ainda sem tirar a expressão alegre do rosto. “Kim Jongin...”, ele repetiu saboreando meu nome em seus lábios e eu jamais imaginaria que ouvi-lo chamar meu nome se tornaria a minha coisa favorita no mundo inteiro mesmo após tantos anos.

Quando o sinal tocou para o intervalo uma pequena multidão se fez em volta da minha carteira, todo mundo queria saber um pouco sobre o novo garoto de Seul, ainda mais nós, meros caipiras. “É verdade que existem carros voadores na capital? ”, “Vocês têm robôs que cozinham? ”, “As pessoas andam com roupas metálicas? ”, eram algumas das perguntas absurdas que lançavam em direção ao novato e eu sinceramente senti muita vergonha de pertencer àquela sala, por isso recolhi meu material e marchei em direção ao refeitório deixando o pobre coitado para trás.

Não tornamos a nos falar pelo restante da semana após aquilo.




A segunda-feira vinha quente como um inferno e eu amaldiçoava todos os deuses possíveis pelo calor que fazia. Minha mãe parecia não se preocupar com o clima absurdo enquanto aprontava o café da manhã, tampouco meu pai que lia despreocupadamente o jornal sentando à mesa e comia algumas torradas enquanto aguardava o desjejum. Eu terminava de arrumar os livros na mochila quando ela quebrou o silêncio: “Soube que a família Oh mudou-se para cá por que o caçula deles desenvolveu síndrome do pânico lá na cidade”.

Será que ela se referia a Sehun? Prontamente direcionei minha atenção ao diálogo que se desenrolava. “Síndrome do quê? ”, meu pai perguntou olhando por cima dos óculos que repousavam no nariz. “Do pânico, Jongdae, é quando uma pessoa tem medo de sair de casa por causa do estresse, algo assim”, ela respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo inteiro.

“Para mim isso é frescura, onde já se viu ficar com medo de sair de casa? É bem alguma desculpa para faltar a aula”, ele voltou a ler o jornal e por algum motivo eu me senti um tanto quanto incomodado com aquela afirmação.

“Ora essa, não fale isso, homem! Você acha mesmo que alguém viria para esse fim de mundo por causa de um preguiçoso que não quer estudar? ”, ela virou-se em direção ao meu pai e continuou, “Só sendo muito burro para largar a vida da capital e passar o resto dos dias nesse interior onde não se tem nada”.

Será mesmo que a família Oh se mudara para o interior por causa de um filho doente? Se sim, será que aquele filho era Sehun? Pelo que eu tinha observado ao longo da semana ele me parecia bastante do saudável interagindo com a turma inteira e sempre de bom humor. Talvez fosse mais uma daquelas fofocas infundadas que circulavam por aí como telefone sem fio e iam se distorcendo a cada passada. Pelo sim, pelo não aquilo continuou circulando minha cabeça o restante do dia.

Durante o almoço nas vezes em que ia até a cantina, sempre pegava a mesa mais afastada da multidão, gostava de comer em paz enquanto desfrutava da refeição e ninguém fazia muita questão de sentar-se comigo, como disse antes, gostava de ser invisível. Mas naquela tarde tudo começou a sair dos eixos quando vi um par de pernas paradas na minha frente e logo em seguida a voz suave perguntando: “Posso me sentar aqui? ”. Assenti com a cabeça e dei espaço para que ele se acomodasse ao meu lado, o coração batendo forte contra o peito e um misto de nervosismo e ansiedade carcomendo as entranhas, me perguntava o que diabos aquele garoto queria comigo.

De cara percebi que Sehun comia muito. Para uma escola pequena localizada no interior do país a nossa merenda era um tanto quanto limitada, principalmente quando o nosso sustento era de base agrícola, então meio que todo mundo estava acostumado a comer pouco. Mas Sehun era um garoto da capital, onde os recursos eram bem mais abastados e provavelmente deveria almoçar um banquete por dia, o que depois fui descobrir ser verdade.

Comemos em silêncio e eu sentia seus olhos pesando sobre mim, observando atentamente cada mínimo movimento que eu fazia e pela primeira vez na vida me sentia realmente desconfortável fazendo uma coisa tão cotidiana. Mas Sehun parecia verdadeiramente à vontade, comia seu arroz com toda a calma do mundo, vez ou outra parando para apreciar a paisagem do campo através das grandes janelas de vidro. “Você sempre morou aqui? ”, perguntou-me tirando a concentração na refeição, assenti silenciosamente e já esperava seu escárnio por estar conversando com um garoto tipicamente interiorano, mas ele sorriu fraco e continuou: “Deve ter sido uma infância feliz”.

Naquele instante eu me encontrava sem palavras, por que de fato eu havia tido uma infância feliz, mas o que mais me surpreendeu era a realização momentânea de que Sehun infelizmente havia sido uma criança amargurada. Ele não precisava falar mais que aquilo, era perceptível em seu olhar.

Encarei a comida no prato sem saber exatamente o que responder, infelizmente era um garoto de poucos conselhos e de quase nenhuma ajuda. “Gosto da sensação de leveza que as pessoas daqui passam”, ele falou preguiçosamente, “em Seul é tudo muito rápido, muito barulhento, parece que ninguém vive de verdade”.

Naquela época me sentia um verdadeiro intelectual por causa das toneladas de livros que devorava e palavras complexas que somente eu parecia conhecer e por isso ninguém daquele fim de mundo aparentava ter cabeça para me compreender. Porém naquele exato momento Sehun me mostrara que o aprendizado não provinha apenas de histórias literárias, mas também de experiências pessoais e naquele quesito o novato parecia ter muito mais conhecimento que eu.

“Desculpa, eu estou sendo poético demais, né? ”, falou dando um sorriso sem graça encarando suas mãos escondidas embaixo da mesa. Prontamente neguei com a cabeça e disse: “Está tudo bem, não precisa se desculpar, eu não me importo”, tentei lhe sorrir o mais gentil possível sem saber exatamente o que fazer para contornar aquela situação. Ele sorriu e voltou a almoçar em silêncio apreciando o vai e vem dos estudantes que cruzavam pelo refeitório e eu me peguei refletindo acerca das palavras que ele tinha dito.

As pessoas da capital costumavam filosofar sobre a vida e o cotidiano como Sehun fazia? Mais tarde fui descobrir que não, ninguém mais tinha o costume de sentar e observar o comportamento da multidão, ninguém era como Sehun.

Discretamente olhei em sua direção e ele parecia carregar tanta dor enquanto fitava o nada, seus olhos vazios estavam perdidos no espaço e por um breve momento ele aparentava ser a pessoa mais triste que eu já havia visto na vida. Era estranho demais olhar para Sehun e sentir uma energia pesada rondando-o, mas enquanto eu o observava encarando o nada podia notar a nuvem de melancolia que ele carregava.

Não consegui evitar relembrar a conversa de mais cedo sobre a família Oh se mudar para a cidade por causa do filho caçula, seria mesmo verdade? Aquele filho era mesmo Sehun? Senti um frio esquisito na barriga quando minha cabeça inconscientemente ligou a fala dele ao que tinha escutado da minha mãe, talvez fosse coincidência demais. Engoli em seco tentando abstrair aquele pensamento, mas por que me incomodava tanto? Talvez fosse porque parecia chocante demais descobrir que aquele garoto aparentemente alegre e normal sofresse de uma doença tão séria. Ou eu apenas era inocente demais para lidar com alguém doente.


Se naquela época eu soubesse o quão pesada poderia ser essa nuvem, talvez hoje tudo fosse diferente.



De volta à sala de aula Sehun parecia outra pessoa enquanto conversava alegremente com os outros estudantes, ria das perguntas descabidas que faziam e respondia de volta com piadinhas bobas, não demoraria muito para que cativasse metade do colégio com seu carisma, inclusive eu mesmo. Vendo-o daquele jeito ele até parecia um jovem como outro qualquer, embora a imagem mental dele mais cedo me fizesse ter um sentimento de que ele carregava uma cruz muito mais pesada do que eu pudesse imaginar.

Enquanto eu me perdia admirando a outra personalidade de Sehun o mesmo me encarou de volta e de repente senti todo meu corpo esquentar de vergonha. Não tinha nada demais para me sentir embaraçado, quem nunca havia sido flagrado fitando alguém sem querer? Mas o jeito como seus olhos queimavam sobre mim era no mínimo desconcertante, ele era muito mais intenso que qualquer outra pessoa que eu já tivesse conhecido.

A aula de geografia correu sem problemas, mas ainda assim eu conseguia sentir os olhos
castanhos do novato me fitando descaradamente e não conseguia evitar aquela sensação terrível de se sentir estranho dentro do próprio corpo. Qual era o problema dele? Tinha alguma coisa esquisita para ele me encarar tanto? Me policiei várias vezes para não alimentar aquela troca de olhares esquisita, mas em dado momento vacilei e o encarei diretamente, coisa que jamais tinha tido a coragem de fazer.

Sehun sorriu de volta para mim e de alguma forma eu conseguia enxergar sua aura brilhante cegar todo o resto do cenário. Ele tinha olhos fechados em meias luas e ainda que seus dentes meio tortos fossem esquisitos não atrapalhava nem um por cento da admiração que eu sentia naquele momento. Parando para pensar sobre isso cheguei a conclusão de que naquela época eu realmente era um garoto facilmente impressionável, já que sempre me sentiria assim em todas as vezes que ele viria a me sorrir.

“Algum problema, Jongin? Gostaria de lembrá-lo que Oh Sehun é apenas um aluno e quem está ensinando a matéria sou eu, por favor volte sua atenção para o quadro”, o professor Yang falou mais alto que sua voz de velhinho permitia e eu o amaldiçoei naquele momento por suas cordas vocais não serem mais frágeis. Toda a sala me encarou curiosa e se eu não tivesse ficado tão vermelho com a intimação talvez não recebesse a enxurrada de risadas que preencheram o cômodo. Eu não sabia na época, mas para minha infelicidade Park Chanyeol percebeu naquele momento que Oh Sehun viria a se tornar especial.



Quando abri meus olhos na quinta-feira tudo chovia e havia algo sobre o clima frio que era realmente confortante, mas eu deveria ter percebido a tempestade que aquele céu cinzento me traria.

O caminho para a escola era sempre monótono, minha casa ficava um pouco longe da instituição e por isso eu sempre precisava caminhar pela estrada de terra até o asfalto para então pegar o ônibus escolar. Para a maioria das pessoas poderia ser um tanto quanto cansativo, mas eu gostava de observar os campos enquanto andava, havia sempre algo novo para ser apreciado, fosse uma flor desabrochando ou um casal de idosos caminhando de mãos dadas, nunca era chato demais apreciar a paisagem.

Naquele dia em especial eu não tive tempo para apreciar ao redor por causa da chuva, meu guarda-chuva era velho e não suportava muito as gotas pesadas que caíam. Eu apressava os passos tentando me molhar o mínimo possível, mas quando o clima ficou muito pesado e não dava para correr mais, me abriguei debaixo de uma árvore até estiar um pouco.

Era bonito, quase poético observar o farfalhar dos galhos sacudindo com o vento forte, eles iam para lá e para cá e hoje percebo como sinto falta dessa leveza ao observar o mundo ao redor mesmo estando com tantas preocupações nas costas. Pois bem, minha mente divagava entre as folhas que chacoalhavam e com isso não percebi a movimentação que se aproximava de mim e estacionava justamente ao meu lado.

“Bom dia”, era a voz de Sehun abafada pela chuva.

Ele tinha os cabelos escuros grudados na testa por causa da água, ou era apenas suor, já que estava ofegante. Suas bochechas rosinhas contrastavam com o tom de pele claro, ele era tão branco que quase parecia uma folha de papel. Sehun carregava um guarda-chuva preto no braço esquerdo enquanto segurava a mochila pendurada do lado direito e ele estava uma bagunça completa, como se tivesse acabado de acordar e pulado da cama. Algumas gotas desciam pelo seu torso e quando me dei conta de que era possível ver todo seu corpo através da camisa branca do uniforme acabei ficando nervoso sem motivo. O tecido fino grudava em seu corpo e a calça estava completamente encharcada na altura dos joelhos, seus sapatos escuros estavam envoltos em lama e me perguntei por que diabos alguém sairia sem botas de chuva num dia daqueles.

Sehun ainda me encarava em expectativa e me dei conta de que ainda não tinha lhe respondido. “B-bom dia”, falei meio baixinho e atrapalhado, fazendo-o sorrir ainda mais. Um embrulho me atacou o estômago quando percebi que estávamos sozinhos e eu não fazia ideia de como se comportar, Sehun gostava de conversas profundas e eu mal conseguia raciocinar sobre o café da manhã. Era como apresentar um trabalho em grupo diante da classe inteira sendo que não participou de nada. Vergonhoso, no mínimo.

“Que chuva... Mal consegui sair de casa”, ele comentou sacudindo os fios úmidos tirando-os dos olhos e não consegui evitar soltar uma risadinha quando ele me encarou novamente, já que estava todo bagunçado com o cabelo despontando para todos os lados. Sehun se mostrou confuso e então entendeu a minha risada, ajeitando bem rapidinho o penteado como se fosse uma garotinha.

“Está rindo do quê? Seu cabelo também não está muito melhor”, apontou para o meu cabelo e dessa vez eu quem fiquei sem jeito, passando os dedos desajeitadamente entre os fios. Sehun sorriu de novo e eu não sei como que nós dois acabamos iniciando uma guerra debaixo daquela tempestade enquanto corríamos sem rumo entre as poças de água e nos sujávamos de lama como se o mundo não existisse mais.

Quem olhasse de longe conseguiria ter um vislumbre de como meu peito explodia em felicidade ao correr atrás de Sehun com um punhado de lama em mãos e para sujar seu uniforme. Também conseguiria ver como ele brilhava enquanto pulava nas poças e chutava a água todinha em cima de mim, fazendo questão de me molhar mais do que a chuva estava fazendo.

Há quem realmente deteste chuvas e todo o clima mórbido que uma tempestade possa trazer, que fique deprimido em seu quarto orando para os céus pararem de chorar. Há também aqueles que corram e pulem entre as poças de água formadas no chão, que dancem debaixo das gotas que caem e agradeçam às divindades pela benção de poder sentir suas lágrimas. Sehun me ensinou que a chuva era uma dádiva e mesmo que ela pudesse atrapalhar algumas vezes, sempre havia um motivo para sorrir.

Em dado momento as gotas geladas não incomodavam mais, eu não sentia frio algum enquanto ria bobo desviando dos ataques de Sehun e voltava a persegui-lo outra vez.

Não havia chuva que apagasse aquela felicidade.

June 27, 2019, 12:46 a.m. 0 Report Embed Follow story
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Amanda Rocha Eu gosto de doces e gatos; gosto do crepúsculo das 17:00 e de música clássica; gosto de animes e do barulho que as pessoas fazem quando comem algo crocante. Sinta-se a vontade para conversar comigo :)

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