guilhermerubido Guilherme Rubido

Os gritos de um perseguidor começam a atormentar a vida de Igor. Sendo perseguido por esse berros macabros, Igor começa a tentar encontrar meios de acabar com esse terror que deteriora cada vez mais sua vida decadente.


Horror Gothic horror Not for children under 13.

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O Berrador

— Vamos lá, Igor. Eu sei que pode ser difícil pra você, mas eu preciso que entenda. Se as coisas não ficarem claras, eu não vou poder te ajudar. Isso aqui é um trabalho que precisamos fazer juntos, entende? Precisamos ser como Sam e Frodo — falou o homem com seriedade. E, percebendo que Igor talvez não entendesse muito de cultura pop, completou: — São personagens de Senhor dos Anéis, caso você não saiba. O que importa é que eles cooperam. Agora, continue. Que tipos de gritos você escuta?

Igor secou o curto rastro de choro que escorrera em seu rosto cansado. Não pretendia chorar. Isso dificilmente acontecia, já que era uma coisa da qual ele não gostava muito, nem mesmo quando não havia ninguém para espiá-lo. Estava pouco se lixando para seja lá o que ele quisesse dizer com Senhor dos Anéis. Até onde sabia, não passava de um filme estranho que servia muito bem como sonífero. Queria apenas entrar no consultório, conversar um pouco com o doutor e, quem sabe – se tudo ocorresse bem–, marcar uma próxima consulta.

Mas, com meia-hora no divã, seus olhos começaram a marejar. No momento em que se sentou na poltrona para os pacientes, Igor experimentou um misto de raiva e vergonha. Via o médico repetir à sua frente que “tudo bem, isso é normal. A maioria dos pacientes chora uma hora ou outra e não há problema nisso”, contudo, Igor sabia que não estava tudo bem. Via uma insinuação de risada surgir naquele rosto escondido por óculos quadrados em um ar de superioridade. O jubilo na voz do homem ao chamar os outros de “pacientes”. Estaria mentindo para si mesmo se dissesse que superioridade era o único sentimento que pairava naquelas lentes grossas do homem.

Igor perguntou-se se o doutor tratava todos assim, com essa mesma proximidade desconfortável que o fazia recuar no assento. Estava meio deitado. Suas pernas estavam voltadas e apontadas para fora como se dissessem “estou vendo o que você está fazendo, doutor, e, se tentar ir além, juro que saio correndo por aquela porta”.

Só por precaução, ele pensou.

Suas economias sofreriam um belo rombo com essa “visita”. Ele achava que visita era um nome errado para aquilo. Ao menos, no mundo dele, não havia pedágios em casa quando visitas chegavam. Além disso, ele nem mesmo acreditava que uma conversa poderia ajudá-lo. Passara do nível das conversas faz tempo. Mas o que mais poderia fazer? Se aquilo persistisse por mais algum tempo, a ideia de se jogar na frente do vagão do metrô começaria a parecer mais atraente do que já era. Um pecado, é claro, mas Igor tinha deixado de se importar com a moralidade de Jesus há muito tempo. Assim, resolveu prosseguir.

— Primeiro, senhor, não quero que pense que sou louco. Sei o que vejo e o que vi, doutor. Embora também saiba que cê não vai acreditar.

— Não, não — o médico remexeu as mãos de forma exagerada. — Sei que não é louco. Por isso gostaria de ouvi-lo. Tenho certeza que qualquer relato seu, por mais extraordinário que seja, será útil em nossa tarefa. Por favor, Igor, prossiga.

— Bom, vou direto ao ponto. Sei que vai parecer estranho, mas, de vez em quando, quando volto a pé do trabalho à noite, eu escuto alguns gritos. Não são gritos normais, doutor. Prefiro chamar aquelas coisas de berros. Sabe, o que mais me perturba neles é que não consigo compreender os motivos por trás. Não sei se são gritos de dor, raiva ou excitação. E, pra piorar, nunca sei quem é o cara que tá gritando. Tenho meus suspeitos, se quer saber, doutor.

Parou por alguns segundos, parecendo decidir se deveria continuar. Decisão feita, tomou fôlego e prosseguiu:

— Os gritos simplesmente me seguem. Sei que não são da minha cabeça porque eles sempre vêm de longe. De dentro de alguma casa apagada; por trás de alguma esquina escondida; no final de alguma rua escura. Só cheguei a ver o filh... Desculpe... só vi a pessoa que grita uma vez, quando voltava pra casa. Já era de noitinha. Virei em uma esquina na Joaquim Montenegro e, lá no fundo, bem no final da rua vazia, pude ver o idiota. Ele era pequeno, parecia uma criança — pareceu ponderar um tempo sobre isso. — Mas não era. Tenho certeza que não era. Não de verdade. Tinha as palmas das mãos grudadas aos lados da cabeça como se o imbecil as tivesse colado com Super Bonder — e mais uma vez parou de falar. Dessa vez a pausa foi mais rápida, embora aquela que mais o incomodou. Na verdade, ele não acreditava nessa historinha de Super Bonder. Pensava em coisa pior. Era como se o maldito segurasse a cabeça para que ela não caísse no chão feito uma bola de boliche. Mas não diria isso ao homem. Não, não isso. Isso não. Porque isso já era demais até para ele mesmo, que vira aquilo com os próprios olhos. Retomou:

— A boca estava aberta e ele olhava pra mim. Sabe a sensação que se tem quando se olha para o fundo de uma escadaria muito alta? A sensação de ver a escuridão e sentir todo seu corpo tremer? É, foi o que eu senti. Quando o desgraçado me viu, começou a berrar sem parar. Foi horrível, doutor. Era o grito de um louco em sofrimento. Acho que o senhor sabe mais que eu que loucos são perigosos. Se fosse um cara normal, eu teria dado um jeito nele. Mas um louco... um louco você nunca pode prever. Se eu corresse ele podia achar que eu tava com medo e viria atrás de mim. Então, eu comecei a andar rápido, deixando a esquina pra trás. O grito ficou cada vez mais distante, mas eu não parava por nada. Vai saber. Me lembro de ter visto algumas luzes se acendendo pelas casas em volta, mas não fiquei pra ver o que aconteceu depois. Até torci pra que as pessoas apagassem as luzes e voltassem pra suas camas. Seria melhor. Talvez alguém tenha chamado a polícia, sei lá. Como disse, não paguei pra ver. Mas já passava das dez horas e tem a tal lei do silêncio, então pensei que podia ter rolado algo do tipo.

— Cheguei bem rápido em casa nesse dia. — Interrompeu-se por outro momento, pigarreou e, tentando organizar os pensamentos, pegou um copo d’água que havia ao lado do sofá e deu um longo gole. Um pouco mais devagar, continuou: — O segundo encontro aconteceu ontem à noite. Já era tarde e eu tava andando bem rápido pela calçada ao lado do canal seis. Como o senhor sabe, ontem foi um dia de muita chuva. O canal tava com água até a borda. Quase transbordando. Aquelas ruas lá não são das mais seguras, todo mundo me fala. Eu sempre levo um canivete no bolso. Sabe...só pra casos de emergência, doutor. Por sorte nunca precisei. Mas é bom se prevenir. Então nessas horas eu tô sempre bem rápido e ligado à minha volta, não dou bobeira. Foi quando eu escutei o maldito grito outra vez. Vinha lá de baixo, da parte tampada do canal. Obviamente o esgoto era todo água. Sei que parece impossível por conta da água, mas, mesmo assim, eu escutei o maldito berro. E vinha lá de baixo! Não sei explicar como, doutor. Mas vinha lá de dentro!

O doutor então pediu para que ele se acalmasse. Igor assentiu e bebeu mais um pouco do que havia no copo.

— Não foi só um grito. Era... persistente. O bicho urrava de excitação. Doutor, não quero ser rude, mas, de alguma forma, era como se ele estivesse mandando ver lá em baixo. Me entende? Mas como poderia?! O canal tava cheio d’água! Sei bem que essa geração não se importa muito com as coisas, mas no esgoto?! De qualquer modo, não era possível... Só sei que corri muito. Agora tô aqui com o senhor. Mesmo não sendo louco, decidi procurar sua ajuda.

O médico ouvia tudo sem se mover ou esboçar reação. No final do relato, ajeitou-se na poltrona, anotou algumas coisas em uma caderneta e falou:

— Muito bem, Igor. Muito bem, você foi ótimo. Sabe me dizer quando esses gritos começaram? Algum trauma de infância? Um filme que assistiu, um livro? Algo que você consiga identificar como o desencadeador do seu problema? Você me disse que seu pai morreu cedo. Isso te deixa ou deixou triste?

Igor pensou por alguns minutos, estudando as armadilhas que o doutor plantava para pegá-lo com a mão na massa e chamá-lo de louco ou, pior, doente. A imagem de seu pai morto veio à mente e ele voltou retrocedeu em suas memórias.

— Não. O desgraçado merecia, doutor. Batia na minha mãe e em mim sem parar. Ele bebia demais. — Esboçou um sorriso amarelo. — Bebia demais... É, acho que esse é outro nome que a gente dá quando o cara é alcoólatra, não é mesmo? Ele chegava em casa de madrugada, louco pra descontar as frustrações em alguém. Quando acordava de resseca no outro dia, reclamava sem parar: “Não faça isso! Não faça aquilo! Faça dessa maneira! Não toque nisso!”. Uma vez eu fui abrir uma gaveta dele escondido. Eu era criança, tava curioso com aquilo. Crianças gostam de fuçar o que deveria tá escondido. Não sei o motivo. Só sei que ele apareceu atrás de mim, possesso de raiva. Possesso é pouco. Eu diria que aquilo era o próprio Diabo. Bufava e gritava sem parar. Tinha um bafo de cerveja quando falava: “você não devia mexer aí, filho! Eu sempre te aviso pra não mexer nas coisas que estão quietas, Igor, mas você nunca escuta! Agora você vai ter que aprender. É pro seu bem”. Até que um dia, quando eu já era um pouco mais velho, um cara da fábrica que ele trabalhava ligou pra minha mãe e disse pra ela que ele tinha morrido. Parece que se envolveu em uma briga com um cara grande do lugar e acabou se dando mal. A história sempre foi mal contada, mas a gente meio que não ligou muito...

— Bom, Igor, vamos encerrar por aqui hoje. Você foi ótimo. Mesmo. Progredimos bastante. Conseguimos falar um pouco dos seus problemas atuais e do seu passado. Vejo que teremos que conversar mais sobre seu pai também, Igor. Preciso que visite sua infância e volte aqui pra me contar o que encontrou: sobre sua mãe, amigos, gostos pessoais. Coisas do tipo.

Coisas do tipo. Igor saboreou as palavras. Coisas do tipo é como você trata a merda que seus pacientes trazem pra esse consultório e que você é que tem que limpar, pensou, mas não falou.

O homem conduziu-o até a porta, os dois se cumprimentaram, Igor agradeceu com um sorriso e deixou o consultório. Prometeu que voltaria para um próximo encontro, mas já no elevador decidiu que não haveria outro encontro. Era adeus e até nunca mais. Remexeu a jaqueta em busca do celular. Puxou-o e viu que horas eram: 21:15. Merda, pensou, nada de filmes pra você hoje, Igor.

A volta para casa foi tranquila. Colocou as mãos nos bolsos duas ou três vezes – uma delas, admitia, apenas para sentir o toque do canivete. Como acariciar um animal querido – em busca do canivete velho, mas não precisou usá-lo. As ruas vazias da cidade não traziam mais o conforto do silêncio de uma cidade pequena. Embora aquela nunca tenha sido exatamente uma cidade pequena, Igor sentia como se fosse. Sua caminhada foi rápida e infestada de olhadelas por sobre os ombros. Seguiu até o final da rua preenchida com carros adormecidos nas duas guias, pegou as chaves e destrancou o portão gradeado do prédio. Caminhou até o hall de luz amarelada ondo o elevador era vigiado por duas grandes poltronas azuis que não deviam ser lavadas há séculos. Seus passos rangiam e faziam a madeira sob seus pés estalarem de vez em quando. Para sua surpresa, havia um aviso pendurado na porta de madeira do elevador: “Interditado até segunda ordem”. Que legal, sete andares de escada. Eu devia processar aquele sindico filho da puta.

Ao lado do elevador, o corredor que levava à garagem era separado por uma porta. Ali, uma larga escadaria serpenteava para o alto. O piso amarelo tinha um aspecto extremamente sujo e refletia sob a débil luz branca automática que se acendera no lance em que Igor estava. O resto da escadaria estava mergulhado em escuridão, aguardando para ser desbravado.

Igor respirou fundo e pôs-se a subir lentamente. Os joelhos estalavam com o exercício. As luzes se acendiam a medida que Igor subia, revelando esquinas vazias da escada e os corredores adormecidos dos andares. As portas de madeira dos apartamentos rodeavam o elevador. O silêncio dava ao prédio um ar abandonado. Igor tinha a impressão de que as portas de madeira escondiam apartamentos mortos e escuros, com móveis entulhados e cobertos por panos brancos.

A luz fraca dos andares oscilava preguiçosamente. Suas lâmpadas produzindo um zumbido estático e monótono. No silêncio, as passadas de Igor ressoavam sombrias pelo prédio decrépito. O arrastado som de seus sapatos percorrendo os andares compridos em uma cacofonia confusa. O ecoar fantasmagórico descendo e subindo pelas escadarias espaçosas.

No quarto andar, o arfar exausto de Igor misturou-se à monotonia. Seu peito subia e descia rapidamente. As pernas ardiam cansadas pela subida. Percebia o quanto estava velho, decadente como o prédio.

Com as dores e o cansaço, uma imagem começou a se formar em sua cabeça ansiosa pela chegada de seu andar: imaginou a porta do andar térreo se abrindo no silêncio escuro que deixara lá em baixo, atrás de si. A luz branca se acendendo e recaindo sobre o pálido corredor, revelando a figura com as mãos ao redor da cabeça. Imaginou-a subindo as largas escadas em seu encalço; o grito terrível formando-se na garganta como um alarme que dispara no meio da noite. Primeiro subindo em marcha lenta, deliciando-se com o temor que as passadas vagarosas causariam em Igor, depois, frenético.

A ideia fez os pelos de Igor se eriçarem e seu coração saltar para a boca. O mero vislumbre daquilo foi suficiente para fazê-lo correr. As pernas ardentes agora vencendo mais rápido os degraus amarelados. Um de cada vez. Os joelhos rangendo sob o peso da corrida. Cada novo corredor apresentando um súbito terror pelo que a luz revelaria quando se acendesse.

No quinto andar, suas panturrilhas ardiam em fogo e seu coração – não satisfeito – parecia querer pular para fora da boca. A barriga doía e recebia fortes pontadas nas laterais. Sentia-se sufocado. À sua volta, apensas portas residenciais fechadas para ele. Apáticas, observavam seu esforço cômico. Sentia agulhadas crescentes nas coxas, que estavam próximas de pedir uma pausa para um pit-stop.

No sexto andar, cada respiração causava-lhe uma dor ardente. Suas pernas estavam dormentes e o suor brotava-lhe sem parar sobre a face. Uma ou duas vezes pensou em parar para respirar. Mas imaginar-se parado em uma daquelas ilhas sombrias da escada fazia-o se mover. Dois andares acima, o apartamento de Igor o aguardava como um porto seguro. Porém, andares abaixo, ele ouviu. Ouviu as passadas lentas que rapidamente se tornaram uma correria frenética. O grito insano percorreu a escadaria e acertou Igor como uma bola de demolição. Lá em baixo, algo corria com pressa até ele. Suas pernas dormentes agora pareciam não responder. Só mais dois andares, pensou desolado. Dois andares. Vamos lá, seu velho!

Começou a vencer os degraus com um novo ímpeto. A força que exercia em cada movimento era terrível. Seu coração estava quase estourando. Os passos agitados aproximavam-se, diminuindo com velocidade a distância de andares. O grito insano ecoava pelos corredores sem parar, rompendo o pouco de calma que ainda lhe restava. Se é que havia alguma.

O sétimo andar chegou e Igor correu para a porta com o número 72. O molho de chave debatia-se em suas mãos como um peixe vivo. O chacoalhar tilintante das chaves misturando-se com os passos retumbantes às suas costas.

— A chave azul, Igor! Vamos lá, porra, você faz isso todos os dias. — Ouvir sua própria voz foi assustador. As palavras deslizavam para fora de sua boca em uma rouquidão frágil. Desejou que seus vizinhos escutassem o barulho que fazia. Pesou em gritar, mas soube que não teria forças para isso.

Os dedos tateavam como lagartas esfomeadas em busca da chave certa. Colocou-a na fechadura e, olhando para trás, viu em um dos lances a sombra da pessoa que subia dançar pelas paredes brancas como um fantasma. A cabeça balançava para os lados coberta pelas mãos.

Igor abriu a porta e bateu-a com força atrás de si. O som reverberou potente pelo andar. Seco e rápido. Com ele, todos o barulho desapareceu. Igor aguardou apoiado na porta a chegada de seu perseguidor. A orelha encostada na madeira fria em busca de algum som do lado de fora. No meio da porta com tinta descascando, havia um olho mágico. Hesitou em olhar por ele e, por fim, decidiu ignorar. Não mexa nas coisas que estão quietas, Igor, a voz morta de seu pai falou em sua mente. E deixar essa coisa por aí? Nem pensar. Isso já durou tempo demais, e eu não sou uma menininha pra ficar me escondendo.

Sob a luz branca da cozinha, Igor pensou sobre o que deveria fazer. Andava sem parar; mexendo nas coisas, indo de um lado ao outro, abrindo e voltando a fechar a geladeira que emitia um ronco leve de tempos em tempos.

— Se eu não acabar com esse merda, ele é que vai acabar comigo — contava a si mesmo com uma voz baixa. — Que beleza. Assustado por uma bixinha que grita. Papai estaria orgulhoso de ti.

Ficou um tempo encarando o chão encardido da cozinha. Despertando, arrastou as pernas que ainda se recuperavam da maratona na escada e foi até a área de serviço do apartamento. Passando por uma porta, entrou em um quartinho que usava como dispensa para as tralhas. O lugar cheirava a verniz e madeira molhada. Passando a mão por uma escrivaninha, abriu uma de suas gavetas e pegou a velha arma que herdara do pai. Era uma .38 com capacidade para cinco disparos. Cansada, mas ainda funcionava. Sim, um bom cão velho poder farejar como ninguém. Sabia como manuseá-la, e tinha-a mantido limpa por todos esses anos, apesar de nunca ter precisado dela. Colocou-a na cintura e voltou para a cozinha.

Amarelado e grudento por conta da fumaça constante na cozinha, o interfone descansava na base. Sacou-o do gancho e discou 91. Esperou que atendessem do outro lado. Quando o toque parou, ele falou:

— Alô, Antônio? É o Igor, do 82. Sei que tá tarde, mas preciso da tua ajuda, cara. Já que você é o zelador, vai gostar de saber de algumas coisas. Pode vir até aqui?

Do outro lado, uma voz ainda confusa pelo súbito despertar respondeu:

— Igor? Ah... —suspirou a voz desapontada. — É urgente? Não tem como falar por aqui? Se é sobre a droga da caixa da água eu já falei pro Carlos que eu já tô dando um jeito nisso...

— Que se dane a caixa d’água! Acho que alguém entrou aqui no prédio! Acho não, tenho certeza! O filho da puta me perseguiu até aqui. Preciso que você me ajude a inspecionar o lugar. Sabe como é, pra se certificar, sacou? Não tô afim de fazer isso sozinho.

— Saquei... Tá... Tô indo aí, então. Até.

Ia dizer para o homem tomar cuidado enquanto descia, mas não teve tempo.

A linha ficou muda.


***

May 30, 2019, 6:28 a.m. 0 Report Embed Follow story
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