moypiestch Moyses Piestch

Johnny é um marinheiro e que acaba por se apaixonar por uma mulher na cidade em que seu navio está atracado. A questão é que ele nem a conhece direito, e os dois saem para um passeio noturno. Essa história foi inspirada em uma cantiga de marinheiro irlandesa, que possui o mesmo nome de nossa história só que na língua inglesa: Leave Her Johnny . Escrevi o conto há alguns anos atrás, então decidi manter ele nessa forma mais bruta e simples, mas isso não significa que não seja uma boa história!


Short Story Not for children under 13.

#terror #conto #mar #romance
Short tale
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Deixe ela Johnny

Chegando à Inglaterra, largaram as bagagens e pararam no bar Cavalinho Montês. Um bar tipo boteco, onde os navegadores contam as suas histórias e compartilham seu gosto pelo ar salgado. Essa menina de quem Johnny ficava vinte e quatro horas por dia se chamava Roseline. Seus colegas do navio cargueiro não aguentavam mais tamanha paixão:

-Iremos nos encontrar na parte norte! Não consigo me acalmar de jeito nenhum, só de pensar de como ela vai ser arrumar para me ver...

- Parte norte do porto? Vocês não vão conseguir namorar com tanto fedor da carga! Cala boca guri. Sem querer estragar seu conto de fadas, mas amanhã cedo partimos.

- Deixe-me sonhar um pouco! Por acaso se esqueceu das histórias que você me contava? Aquelas que você até se esquecia que o navio partiria, ou aquela outra que você correu seminu na praia só para devolver o chinelo da moça.

- Os tempos são outros...

- Sim são outros, mas me permita ter um pouco de ternura. Tudo o que escuto o dia inteiro são homens com cheiro de açúcar gritando e carregando aqueles caixotes enormes. Se eu pudesse ter escolhido minha profissão, seria um advogado, ou um médico, mas não um carregador caixotes de açúcar. Pelo menos gosto do mar, ou gostava até que me lembrei que teria que partir...

-Você sabe que me preocupo com você, não crie expectativas tão profundas. Esses romances vão embora de um dia para outro, você vai ver...

Já eram quase meia-noite e a tão amada não havia chegado na parte norte do porto. O lugar e as ondas do mar estavam agitadas, o próprio ambiente parecia não concordar com a situação. Johnny apenas se perguntava o por quê de tanto receio de seus companheiros, ora, eles também já tinham tido suas histórias de amor! Era a vez dele agora se aventurar na estrada da paixão, no mar das labaredas de fogo, ou qualquer outra expressão brega que se dê para essas histórias de amor.

Johnny estava quase adormecendo em um poste em frente a loja de botas quando avistou uma figura pálida, baixa e branca correndo em sua direção. Por um momento achou que fosse um fantasma ou coisa do tipo, mas como era um marinheiro, ele exalava masculinidade que foram refinadas no trabalho braçal diário de levantar caixotes, qualquer espanto seria um sinal de fraqueza. Ainda mais porque a todo momento ele pensava em seus companheiros de navio, e de como o julgariam por ser o mais novo e novato naquela embarcação.

Depois de alguns segundos encarando aquele ser, ele reparou que era a sua amada que vinha em um pijama velho. Ah! A linda Rosaline! Mas porque ela estaria vestida em um trapo desses? Ou melhor, para ele aquilo nem roupa era, ela parecia um mendigo. A dama estava não nem um pouco como ele esperava, não estava do jeito que ele a havia encontrado na loja de departamento três dias antes.

-Minha querida o que houve? Por que está desse jeito?

- Me desculpe, tive que enganar meu pais. Eles não podem descobrir que estou me encontrando com você tarde da noite.

- Tudo bem, o que importa é que estamos aqui.

Depois de ter disso isso a noite ficou mais silenciosa do que antes. Ele percebeu que não havia mais nada a dizer. Eles permanecerem ali parados, encarando um ao outro. Os dois sorriam, e tudo que ele conseguia pensar era nos dos se beijando. Ele observava os detalhes do rosto da dama: seus olhos verdes, seu cabelo castanho preso, seu queixo lindo sujo de sangue. Não espera, sujo de sangue? O coração do nosso Johnny acelerou, ele se deu de que em uma noite fria e escura, ele se encontrava com uma moça que ele mal sabia quem era, e que ela estava vestida em um pijama velho e suja de sangue; e para piorar a situação, ele se lembrou de que teria que acordar antes do sol nascer para colocar o carregamento no navio.

-Que-que-querida - Ele perguntou. Gaguejando. - Por que está suja de sangue?

Ela agora sorria de um jeito diferente, não era da mesma forma meiga como antes. Sua mão, que permanecera em suas costas o tempo todo, agora estava erguida. Nela havia uma pequena adaga, e sangue escorria dela. O marinheiro não decidiu perguntar nada. Ele apenas decidiu se afastar lentamente. O rosto da moça parecia cada vez mais macabro. Seu sorriso agora ia de orelha a orelha, como o de um palhaço assassino naqueles filmes de terror.

Agora sua masculinidade, ou qualquer outra coisa que esses homens robustos aparentam ter, tinha ido embora. A resposta era simples: correr. Em menos de alguns segundos ele já estava na outra parte do porto. Entretanto, a figura fantasmagórica continuava atrás dele. Ele se perguntava porque não trouxe uma arma ou algo do gênero, mas isso não faria sentido nenhum em um encontro.

Infelizmente, aquela parte do porto dava para uma rua sem saída e se ele continuasse correndo para direção sul ele poderia acordar as pessoas que moravam ali. A sua única solução era invadir uma loja de antiguidades da cidade que estava um pouco mais à frente. Em apenas um baque ele arrombou a porta do estabelecimento. O sininho, que ficava em cima da porta para alertar a chegada dos clientes, tocou repentinamente. Suas mãos estavam geladas por causa do frio da noite e por causa da dimensão da situação. Ele olhava para todos os cantos da loja, procurando um lugar para se esconder.

Decidiu ficar atrás de um quadro velho gigantesco que estava no chão encostado em uma parede. Era uma tela que já estava velha, não tinha moldura, havia pequenos buracos espalhados por toda a pintura. Ele então decidiu observar a loja e a saída por um desses buracos. Com o canto do olho via o fundo da loja. Nele haviam vários bonecos, isto é, marionetes de todos os tipo e tamanhos. A que mais lhe chamou atenção foi uma marionete de um marinheiro que estava deitada no chão. Havia um âncora tatuada em seu braço e ele incrivelmente se parecia com seus colegas do navio.

O sino da porta tocou novamente, era ela. John agora olhou para sua direita, onde era a saída. Ela ainda estava com aquele sorriso macabro, mas pelo menos agora sua mão não estava mais erguida pronta para apunhalar alguém. A dama voraz olhava de um lado para o outro desesperadamente, ela revirava cada armário, e olhava por debaixo de cada mesa. A figura psicopata dava grunhidos a cada vez que revirava algo e não o achava, mas o marinheiro não conseguia prestar atenção nisso. Tudo que passava em sua mente era como iria sair dali.

A assassina foi para os fundos da loja e encarou as marionetes. Na sua mente calculista, ele suspeitava que em seus ataques psicóticos a moça ficasse mais burra, mas isso é apenas uma suposição. Quando ela se deparou com a marionete do marinheiro, simplesmente largou a faca e caiu de joelhos no chão em pranto. Pedindo desculpas por todo dano causado ao marinheiro.

-Me desculpe, às vezes fico assim. Meu pai já me levou a milhões de médicos e psicólogos.

O jovem ouvindo a situação da moça se compadeceu, mas não decidiu sair de seu esconderijo. A moça, ao perceber que aquilo era só um boneco, recuperou sua faca e deu duas facadas na marionete. Uma no peito, e a outra degolando sua cabeça de madeira. Aproveitando o acesso de fúria ele decidiu correr em direção a porta semiaberta. Cambaleando e jogando artigos de antiguidade nela ele saiu da loja.

Conseguindo despista-la, voltou para o navio onde seus companheiros dormiam. Após uma hora de sono, ele teve que acordar e se preparar para colocar o carregamento no navio. Todos seus colegas estavam enfileirados e esperavam o comandante do navio chegar. Seu amigo que o advertiu abanou e se aproximou dizendo:

- Como foi? Sabe que temos que partir, não sabe?

-Não se preocupe com isso... Descobri que essas moças da cidade são muito exigentes. Imagina só, ela me fez correr pelo porto inteiro! E nós nem nos conhecíamos direito! Você tem razão... Não devo me apegar a ninguém com essa vida agitada que tenho.

Acabando de dizer isso a chamada começou, todos ali enfileirados na madrugada esperando para começar o trabalho. Seu outro amigo estava pensativo. Acontece que ele era do outro navio, mas todo iriam ajudar a com o carregamento de açúcar.

- O que foi Mantinho? - Perguntou Johnny.

-Ah sabe como é! O amor!

Aug. 22, 2019, 8:35 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

Moyses Piestch Escrevo no tempo livre como Hobbie, mas ainda pretendo publicar livros. Curto escritores fantásticos como J.K Rowling, C.S. Lewis e Tolkien. Se gostar ou não de minhas histórias, por favor deixe seu feedback!

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