Apenas Mais Um Ferrado Follow story

Dei uma última olhada no corpo bonito e preenchido de desenhos em traços pretos. A respiração tranquila de Seokjin mascarava o caos que era sua vida e às vezes eu queria poder absorver tudo de ruim que aquele rosto bonito poderia aguentar — a verdade é que eu daria a minha vida pela sua se eu não fosse apenas mais um fodido sem ter onde cair morto.

Sentimento era tudo que eu ainda tinha para poder negociar por aí.

Levantei do colchão velho relegado ao chão do quarto, catando peças de roupa qualquer para cobrir meu corpo e quando minha língua passou por entre os lábios, uma mania antiga, pude sentir o gosto do cigarro amargo como se ainda o fumasse.

— Namjoon? — A voz sonolenta do outro Kim agraciou meus ouvidos.

— Hum?

— É melhor estar aqui quando eu acordar de verdade.

A ordem mal disfarçada de pedido me fez sorrir por um momento, afinal quem era Kim Namjoon para não fazer exatamente o que Kim Seokjin queria? Me manteria vivo por mais uma temporada enquanto ele ainda pedisse.

— Sempre estou.

Fechei a porta de maneira mais silenciosa possível e fiz meu caminho para fora do prédio cinza e feio. O céu estava igualmente cinza e as grossas gotas de chuva tentavam lavar as calçadas irregulares.

Talvez eu espere que toda essa água pudesse lavar minha alma também. Eu adoro essa ilusão, por isso sento em um banco quebrado e me deixo ensopar enquanto tento pensar em coisas filosóficas e sem sentido como, por exemplo, a possibilidade de a maldita “esperança” ter escapado da tal da caixa e agora eu preciso pensar, e fantasiar, minha própria morte — acho que ela é cinza, não preta.

Pelo menos era amor, e não paixão, o que sentia pelo homem de voz bonita que ainda estava em meu quarto, e esse sentimento não acabaria tão logo vivesse.