lara-one Lara One

Um estranho Papai Noel aparece na vida de Mulder e Scully, com estranhos presentes. Scully resolve passar o Natal com Mulder. Mas pode ela fazer Mulder passar um Natal normal? E afinal, por que Mulder odeia natais?


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S01#25 - CHRISTIMAS STORY


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Mulder dirige. Vê o Papai Noel numa esquina, dando balas para as crianças. Mulder estaciona o carro. Desce rapidamente e agarra o velho, encostando-o na parede. As crianças saem correndo.

MULDER: - Como sabia que eu havia esquecido minhas algemas em casa e que precisaria delas?

PAPAI NOEL: - ...

MULDER: - Quem é você?

PAPAI NOEL: - Papai Noel.

MULDER: - Estou perdendo a minha paciência com você! Como sabia que eu iria chorar quando saiu daquela praça?

PAPAI NOEL: - Eu simplesmente deduzi.

Mulder o solta.

MULDER: - (RAIVA) Eu odeio Papai Noel, odeio Natal e odeio você! Se vir sua cara na minha frente mais uma vez eu juro que vou ser um mau menino!

O velhinho tira uma rosa vermelha do saco. Entrega pra ele. Mulder recua.

MULDER: - Não, dessa vez não.

PAPAI NOEL: - É apenas um presente. Um pedido de desculpas. Leve-a.

MULDER: - ... Vou precisar disso?

PAPAI NOEL: - (SORRI AMÁVEL) Como eu disse, é um pedido de desculpas. Talvez precise pedir desculpas.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

Apartamento de Mulder – 24 de dezembro - 9:32 A.M.

[Som: Tchaikovsky - None but the Lonely Heart]

Câmera de aproximação, atravessando a porta e entrando na sala. Fecha o ângulo em Mulder, sentado no chão, escorado com as costas no sofá. A TV está ligada, mas ele está pensativo, longe, deprimido. Segura o controle remoto nas mãos.


Apartamento de Scully – 24 de dezembro - 9:32 A.M.

[Som: Tchaikovsky - None but the Lonely Heart]

Scully está sentada no sofá, olhando para uma pilha de presentes sobre o tapete. Olha para o telefone, olha para os presentes. Olha para o relógio. Scully pega o telefone.


Apartamento de Mulder - 9:37 A.M.

[Som: Tchaikovsky - None but the Lonely Heart]

Mulder levanta-se e caminha até a janela. Olha para os apartamentos vizinhos. Num deles há uma enorme árvore de natal. No outro, crianças correndo, enquanto a mãe delas passa com um arranjo natalino nas mãos. Um dos filhos a beija.

Mulder fecha a cortina. Senta-se no sofá. Troca os canais da TV. Filmes natalinos. Ele muda. Receitas de natal. Muda. Um Papai Noel. Muda. Filmes de natal. Mulder desliga a TV. Levanta-se, respira fundo, mas os olhos estão tristes, como se relutasse a chorar, prendendo dentro de si solidão.

Mulder senta-se no chão. Olhar ao longe, desespero. Vazio. Tristeza. Mulder pega uma revista, que folheia, mas sem prestar atenção. Olha pra sala.

[A música se atenua]

Batidas na porta.

Mulder levanta-se rápido, como um doente que espera por uma visita desesperadamente. Abre a porta. Scully está parada ali. Mulder abre um sorriso, mas daqueles que se percebe a dor por trás. Scully olha pra ele, coçando a cabeça disfarçadamente, sem graça.

SCULLY: - Eu...

MULDER: - ...

SCULLY: - Ahn... Eu... Como posso dizer isso...

MULDER: - Não quer entrar?

Scully entra. Mulder fecha a porta.

SCULLY: - Não sei se deveria estar aqui... Interrompi alguma coisa?

MULDER: - Não eu... Eu só estava sentado... pensando.

SCULLY: - Sentado e pensando?

MULDER: - ....

SCULLY: - ...

MULDER: - Vai, Scully. Deve ter coisas mais importantes pra fazer hoje do que sentar e pensar. Sua família está te esperando.

Mulder entra na sala. Scully entra atrás dele. Mulder senta-se no sofá. Scully senta-se, pondo as mãos sobre a saia. Fica olhando pro nada, ao lado de Mulder.

MULDER: - O que está fazendo?

SCULLY: - (TENTANDO ANIMÁ-LO) Estou sentada, pensando.

MULDER: - (SORRINDO TRISTE) Pensando no quê?

SCULLY: - Sei, lá. Estou te imitando, como aquelas crianças chatas que imitam tudo o que os adultos falam ou fazem...

MULDER: - É a primeira vez, desde que nos conhecemos, que eu sou o adulto e você a criança.

SCULLY: - ... O que vai me dar neste natal?

MULDER: - Que natal?

SCULLY: - ...

MULDER: - ...

SCULLY: - (RESPIRA FUNDO, TOMANDO CORAGEM) ...Mulder, vamos fazer uma coisa diferente este ano, certo?

Mulder abre um sorriso de felicidade.

MULDER: - Vamos? Nós dois juntos? Pensei que você iria pra casa da Meg, esperar o Papai Noel com o Bill ‘Dog’...

SCULLY: - Eu fiz uma coisa má, Mulder. Liguei pra eles dizendo que precisava trabalhar...

MULDER: - (SORRINDO) Mentiu pra ficar comigo?

SCULLY: - Não fique com esse sorriso nos lábios, Mulder.... Sei que você não gosta muito dessa época do ano e...

MULDER: - ... (ESPERANDO UMA RESPOSTA)

SCULLY: - Não estou com clima para natais em família, Mulder. Eu... Eu... (RELUTA) ...

MULDER: - ... (ERGUE AS SOBRANCELHAS)

SCULLY: - ... Eu acho que minha vida... Na verdade, penso que as coisas mudaram... Que... Que são natais passados, eu... Eu tenho me sentido distante deles, parece que não falamos mais a mesma língua... É como se... Eu me importasse com outras coisas... É como se... Eu passasse os natais com minha família porque era sozinha, não tinha pra onde ir, mas agora... Agora é... É diferente. Eu... Eu tenho um namorado. Quero passar o natal com ele.

Scully levanta-se. Estende a mão.

SCULLY: - Vem, Mulder. Não vamos ficar aí sentados e pensando...

MULDER: - E o que vamos fazer?

SCULLY: - ... Tenho uma ideia.

Mulder percebe que Scully está tensa. Tenta aliviar o clima.

MULDER: - (DEBOCHADO) Por que estou com a sensação de que não vou gostar da sua ideia?

SCULLY: - (SORRI) Mulder, sempre tenho ideias fantásticas. Você tem que reconhecer isso.

MULDER: - ... Temos um Arquivo X pra resolver?

SCULLY: - Acho que neste natal não teremos casas mal-assombradas e fantasmas, Mulder. Este ano teremos algo diferente para você.

MULDER: - E o que seria diferente pra mim?

SCULLY: - Vem comigo. Confie nos meus instintos. Você não é o único por aqui que tem isso.

Mulder dá a mão pra Scully e levanta-se.

MULDER: - Aonde vamos?

SCULLY: - Segredo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Enigmática agente Dana Scully, se me aprontar alguma, eu volto pra cá e fico aqui sentado e pensando.


10:11 A.M.

[Som: Dean Martin – Let it Snow! Let it Snow! Let it Snow!]

Scully sai de uma loja com uma sacola. Mulder sai atrás dela carregando uma árvore de natal, com uma cara de poucos amigos. Eles saem caminhando pela calçada.

MULDER: - (INDIGNADO) Eu não acredito que essa é a sua ideia de uma coisa nada comum pra se fazer no Natal!

SCULLY: - No seu caso é, Mulder.

MULDER: - Scully, onde vai colocar essa droga?

SCULLY: - No seu apartamento.

MULDER: - (IRRITADO) No meu apartamento? Ah, você deve estar brincando!

SCULLY: - Olha pra mim, Mulder. Estou com a fisionomia de quem está brincando?

MULDER: - Ah, que droga, Scully! Eu não sou mais criança, eu odeio natais! É uma data comercial, só isso!

SCULLY: - ... (RESPIRA FUNDO, TRISTE)

MULDER: - Espero que nenhum dos meus conhecidos esteja por aqui pra flagrar a cena da decadência de Fox Mulder, carregando uma árvore de natal pelas ruas de Washington!

SCULLY: - (REVIDANDO) Ninguém vai ligar, Mulder. Sabem que você é estranho mesmo.

Um velhinho, vestido com uma roupa surrada de Papai Noel passa por eles, com um saco vazio nas costas. O velhinho tem uma barba natural, usa óculos, é gordo, bochechas rosadas, bem como um tradicional Papai Noel. Mulder continua caminhando e olha pro velhinho que já se afastou.

MULDER: - (INDIGNADO) Tá vendo? Agora é Papai Noel. Nem as crianças acreditam mais nisso! Tudo é besteira, Scully!

O velhinho escuta. Pára. Vira-se pra eles, que continuam caminhando. O velhinho vai atrás deles. Toca no ombro de Mulder. Eles param.

PAPAI NOEL: - Ouvi o que falou, filho. Meu coração dói em saber que não tem ilusões em sua vida.

Mulder não liga e continua caminhando. Scully fica parada ao lado do Papai Noel. Mulder percebe e pára novamente. Larga a árvore no chão. O Papai Noel vai até ele. Scully observa Mulder, triste, com a frustração de alguém que está tentando ajudar, mas que não tem certeza se está ajudando realmente.

MULDER: - (INVOCADO) Olha aqui, meu senhor, não sei quem é ou o que faz na vida, mas não me irrite mais do que já estou irritado!

PAPAI NOEL: - Você sabe quem eu sou. Mas cresceu, teve decepções na vida e se esqueceu de mim.

MULDER: - Ah, por favor, senhor! Me poupe de suas fantasias, eu não sou criança! Vá distribuir doces por aí e não me torre a paciência!

PAPAI NOEL: - Você é uma criança grande, mas é uma criança. Ainda tem olhos inocentes.

MULDER: - (IRRITADO) Escuta aqui, amigo. Eu não sei qual é a sua tara, mas acho melhor ir circulando porque sou federal e estou armado!

Um menino passa por eles, ao lado de sua mãe. Roupas surradas, percebe-se que são pobres. O menino pára e abre um sorriso ao ver o velho. Scully observa a cena, mais triste ainda.

MENINO: - Mãe, o Papai Noel!

O velhinho sorri. O menino se aproxima.

PAPAI NOEL: - Então, meu amiguinho, o que vai querer neste Natal?

MENINO: - ... (SORRINDO) Um carro de controle remoto!

PAPAI NOEL: - Boa escolha.

A mãe sinaliza para o Papai Noel que aquele presente é impossível, não há dinheiro pra isso. Mulder fecha os olhos, angustiado. Scully aproxima-se dele. Mulder cochicha pra ela.

MULDER: - Está vendo? Pra quê dar ilusões quando a realidade é mórbida e miserável?

O velhinho abre o saco. Retira algumas balas e entrega ao garoto. O garoto vai se afastando. Mulder puxa a carteira. O Papai Noel o observa, disfarçadamente.

MULDER: - (GRITA) Ei, volte aqui, garoto!

O menino volta. Mulder vai entregar o dinheiro, mas o velhinho se põe na frente dele, o impedindo.

PAPAI NOEL: - Papai Noel tem muitos presentes para distribuir hoje à noite. Por isso...

O velhinho abre o saco vazio. Retira dele um carrinho de controle remoto.

PAPAI NOEL: - Por isso vou dar seu presente agora.

A mãe olha com os olhos cheios de lágrimas para o velhinho. O menino pega o brinquedo, com os olhos brilhando de felicidade.

MÃE: - Obrigado, Papai Noel.

Os dois afastam-se. O menino vai caminhando, segurando o carrinho, sorrindo. O velhinho olha pra Mulder. Mulder guarda a carteira. O velhinho olha pra Scully. Entrega balas pra ela.

PAPAI NOEL: - E você, minha amiguinha, o que vai querer de Natal?

Scully sorri.

SCULLY: - (SORRI) Ora, Papai Noel, eu não tenho mais idade pra isso...

PAPAI NOEL: - Claro que tem. É uma criança. Todos nós temos uma criança dentro da gente, gritando para sair. (OLHA PRA MULDER) Mas muitas vezes, nós fingimos que não a escutamos, porque temos medo de ouvi-la.

Scully olha para o velho com um brilho nos olhos, de quem entendeu a mensagem. Mulder pega a árvore e sai caminhando, deixando-os pra trás. Mulder está indignado. O Papai Noel olha pra Scully. Entrega mais algumas balas.

PAPAI NOEL: - Leve pro seu amiguinho. Diga que eu mandei. Diga que Papai Noel sabe que ele não é um mau menino. E mesmo que existissem maus meninos, Papai Noel se lembraria deles também.


BLOCO 2:

Apartamento de Mulder – 12:54 P.M.

Scully monta a árvore. Mulder, sentado no sofá, está triste. Scully percebe e tenta animá-lo.

SCULLY: - Mulder, os enfeites estão na sacola. Não quer me ajudar?

MULDER: - Isso é uma perda de tempo, Scully! Não significa nada, é bobagem.

SCULLY: - ... Não quer mesmo me ajudar?

MULDER: - Não. Por que não levou essa droga pra sua casa?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Porque já tenho uma ‘droga’ dessas por lá.

Scully despeja a sacola de enfeites sobre o sofá. Pega um anjinho. Aproxima-se da árvore, mas não alcança o topo.

SCULLY: - (MEIGA) Mulder, sei que não quer me ajudar, mas... Eu não alcanço o topo da árvore. Poderia colocar o anjinho pra mim lá em cima?

MULDER: - ...

SCULLY: - (MEIGA) Por favor?

Mulder levanta-se. Pega o anjinho e coloca no topo da árvore.


1:13 P.M.

[Som: Dean Martin – Let it Snow! Let it Snow! Let it Snow!]

Scully alcança os enfeites e Mulder os pendura na árvore. Com uma fisionomia de quem já se esqueceu que estava triste.

SCULLY: - Tá vendo como é gostoso fazer isso?

MULDER: - É um exercício de estética e decoração... Isso fica legal nesse galho?

SCULLY: - Fica.

MULDER: - Me alcança aquela bolinha vermelha. Vai combinar com essa dourada aqui.

Scully tira as balas do bolso.

SCULLY: - Mulder, o Papai Noel mandou isso pra você.

MULDER: - Que velho maluco, Scully! E você ficou dando assunto pra ele! Não sabe que nessa época, os assassinos seriais se disfarçam de Papai Noel?

SCULLY: - Mulder, acho que eu deveria ter queimado seus livros do Stephen King e não suas revistas de mulheres nuas. Ele era apenas uma boa alma que se importa, perdida entre tantas outras que simplesmente não se importam... Só fico intrigada como ele tinha justamente o presente que o menino queria. E por que aquele saco parecia vazio, se ele retirou um presente grande dali?

MULDER: - Ora, Scully, por que está intrigada com isso? Agora vai dizer que ele era o Papai Noel de verdade? Daqui a pouco vai querer abrir um Arquivo X sobre o Coelhinho da Páscoa!

SCULLY: - Mulder, Santa Klaus existiu...

MULDER: - Ah, Scully, por favor! Vai me dizer que acredita em Papai Noel ainda?

SCULLY: - Mulder, você acredita em tanta coisa... Só me responda se alguma vez em sua vida acreditou no Papai Noel?

MULDER: - Scully, qual é a graça disso tudo? Qual é a graça de um cara vestido de comunista dando presentinhos? Papai Noel não existe!

SCULLY: - Se tivesse um filho, diria isso a ele?

MULDER: - ...

Mulder fica calado, como se tivesse sido apunhalado de surpresa. Mulder fecha os olhos. Lembranças vêm em sua mente.


FLASH BACK:

[Som: Tchaikovsky - None but the Lonely Heart]

Casa dos Vinhedos. Samantha, com 5 anos de idade, desce as escadas. Há um enorme pinheiro de natal na sala. A ceia sobre a mesa. Presentes debaixo da árvore. Samantha vê os presentes e corre pra árvore. Mulder, com 10 anos, desce as escadas, também correndo.

SAMANTHA: - O Papai Noel esteve aqui, Fox!

Mulder começa a sorrir.

SAMANTHA: - Vamos abrir?

MULDER: - Se abrir alguma coisa vamos nos encrencar! O papai disse que não era pra abrir nada até amanhã.

SAMANTHA: - Ora, Fox, não está curioso?

MULDER: - Estou com medo. E se por causa daquele vaso que eu quebrei, o Papai Noel não trouxer o meu Play Mobill?

SAMANTHA: - Puxa, eu também não me comportei como devia...

MULDER: - Ah, Samantha, nunca, por pior que a gente se comporte, o Papai Noel deixa de dar o que a gente pede. Vamos abrir! O velhinho é nosso camarada!

Bill desce as escadas, vestindo um terno, segurando uma pasta, completamente bêbado. Teena atrás dele, vestindo um robe, furiosa. Mulder e Samantha se afastam rapidamente dos presentes, com medo. Olham assustados pra eles, mas eles nem percebem que as crianças estão ali. Estão mais preocupados em discutir.

TEENA: - (GRITA) Nunca... Você nunca tem tempo! Nem pra mim, nem para os seus filhos! São sete horas da noite! Não pode pelo menos esperar a ceia de natal?

BILL: - (GRITA) Tempo? Você acha que eu não gostaria de estar com a minha família na noite de natal? Teríamos uma bela noite de natal! Nossos amigos nos convidaram pra festejar com eles! Mas você não quis ir!

TEENA: - (GRITA) Amigos? Os seus colegas de trabalho! A sua corja! Porque é sempre assim, natais a sós ou com aquelas pessoas que eu não conheço e não confio!

Bill olha pras crianças.

BILL: - O que estão fazendo acordados?

MULDER: - Papai Noel deixou os presentes...

BILL: - (CORTANDO-O) Vá para a cama, Fox! E leve sua irmã!

MULDER: - Mas pai...

BILL: - (GRITA) Eu disse pra vocês irem dormir!

Mulder pega Samantha pela mão. Olha triste pra Bill. Teena olha furiosa pra Bill.

TEENA: - Saia já daqui! Não desconte nas crianças! Você não sabe o que é natal, você nunca respeitou nada muito menos sua família!

Samantha olha assustada pra Teena. Mulder segura a mãozinha dela. Samantha começa a chorar.

TEENA: - Cala a boca! Fox leve sua irmã pro quarto!

BILL: - Depois eu desconto neles, não é mesmo?

TEENA: - Você é o culpado de tudo por aqui! Eu devia ter pego as crianças e ido pra casa dos meus pais!

BILL: - Já falei sobre isso! Ninguém pode vir aqui, meu trabalho depende de sigilo. Não quero bisbilhoteiros nessa casa!

TEENA: - Ninguém pode vir aqui nunca! Nem meus pais podem passar o natal conosco porque você não quer! Você quer que eu fique aqui isolada do mundo, das pessoas, da minha família! Tudo por causa de seu trabalho! Seu e daquele desgraçado!

BILL: - Eu não quero sua família aqui dentro! Não quero ninguém aqui dentro!

TEENA: - Eu não vou mais aturar isso de você! Vou embora!

BILL: - Vá se quiser! Pegue suas coisas e saia daqui!

Teena, num acesso de raiva, puxa a tolha da mesa e derruba toda a ceia no chão. Mulder olha assustado pra ela. Samantha se abraça nele. Mulder olha triste pra ceia caída no chão.

TEENA: - Pra quê perdi meu tempo decorando tudo pra você não ficar em casa! Pra ninguém vir aqui?

Eles discutem. Mulder pega Samantha pela mão e sobe as escadas com ela. Os dois observam os pais lá de cima. Teena grita com Bill. Bill, num acesso de raiva, derruba a árvore, chuta os presentes. Samantha se abraça em Mulder. Mulder começa a chorar. Bill os vê na escada. Teena pega uma garrafa de bebida e serve um copo, bebendo tudo depressa.

BILL: - Eu não disse pra irem dormir?

Mulder solta Samantha e desce as escadas.

MULDER: - Podemos abrir nossos presentes que o Papai Noel deixou?

Bill começa a rir.

MULDER: - Papai Noel... O Papai Noel vai ir pro trabalho agora. Peguem essas porcarias e abram.

MULDER: - (NÃO ENTENDENDO)

BILL: - Papai Noel... Papai Noel não existe!

TEENA: - Bill!

BILL: - Por que contou essas mentiras pra eles? O Papai Noel aqui sou eu. Se não ir trabalhar, não tem presente! Ou acham que um velho gordo vai entrar pela chaminé e deixar brinquedos idiotas e caros de graça? Alguém precisa ficar do meu lado por aqui! Precisam agradecer por eu ter que trabalhar!

Mulder, arrasado, sobe as escadas. Samantha olha pra ele, chorando. Mulder estende a mão pra ela.

MULDER: - Vem, Samantha. É melhor a gente dormir.

SAMANTHA: - ...

Os dois entram no quarto. Mulder senta-se na cama e chora, abraçado com a irmã.


TEMPO PRESENTE:

[Som: Dean Martin – Let it Snow! Let it Snow! Let it Snow!]

Mulder sai de suas lembranças, os olhos cheios de lágrimas. Scully o está observando. Mulder seca as lágrimas e disfarça.

MULDER: - Bom... Acho que a árvore está pronta...

SCULLY: - ... (OLHA PRA ELE, COM PIEDADE)

MULDER: - ...

SCULLY: - ... Mulder, não quer me contar o que aconteceu?

MULDER: - (FRIO) Scully, vamos fazer um acordo. Vá ficar com sua família e me deixe quieto por aqui. Meus natais eram tão bons até você inventar essa história de ‘trocar presentinhos’...

SCULLY: - E o que vai fazer? Pedir uma pizza? Assistir TV?

MULDER: - (GRITA FURIOSO) É a minha vida, Scully! São os meus natais! E eu fico melhor sozinho! Saia agora daqui!

SCULLY: - ... (TRISTE POR ELE)

MULDER: - (GRITANDO) Eu já disse pra sair daqui, Scully! O fato de estarmos apaixonados um pelo outro não significa que você tenha o direito de se intrometer na minha vida! Você não é nada, Scully! Por que acha que é importante pra mim? Por que acha que eu gostaria de estar com você hoje?

SCULLY: - ...

MULDER: - Vá embora! Sua família está esperando! Eles são importantes pra você!

SCULLY: - (COM LÁGRIMAS NOS OLHOS) Você é importante pra mim, Mulder...

Mulder vai pro quarto e bate a porta. Scully suspira, desanimada.

SCULLY: - Coragem, Scully.

Scully vai até a porta do quarto. Respira fundo.

SCULLY: - (GRITA) Mulder, preciso sair, mas volto logo! Aviso, Mulder: Tenho uma cópia da chave. E não tente desaparecer. Eu te encontro!


3:11 P.M.

Scully caminha pela calçada, carregando dois sacos de compras enormes. O Papai Noel passa por ela.

PAPAI NOEL: - Amiguinha? Está precisando de ajuda?

SCULLY: - Não, obrigada...

O Papai Noel pega um dos sacos de compras e caminha ao lado dela.

PAPAI NOEL: - Fiquei preocupado com seu amiguinho.

SCULLY: - Peço desculpas por ele, senhor.

O Papai Noel pára. Scully também. O Papai Noel olha pra Scully, ternamente.

PAPAI NOEL: - Algumas vezes na vida, temos decepções e modos trágicos de cair do nosso pedestal de sonhos... Algumas vezes, criança, carregamos amarguras, dores que só a gente pode guardar. Não que queiramos esconder dos outros. É que precisamos esconder, porque falar é reviver duas vezes...

SCULLY: - ...

PAPAI NOEL: - Somos estúpidos às vezes, mas é a maneira que temos para nos defender de nossos medos. É algo inconsciente. Mas saiba que existe sempre um voz gritando dentro de cada um. Gritando por socorro. Criança, não se esqueça que nunca perdemos aquilo que nunca tivemos. E seu amigo não está perdendo um natal. Ele nunca os teve.

SCULLY: - ???

PAPAI NOEL: - Nós vemos com o olhar que temos das coisas, vemos por nossas próprias experiências, pelo convencional do mundo, sem jamais imaginar que para alguns, nem este convencional existiu e as coisas não aconteceram como aconteceram com a gente. E quando amamos demais, temos medo de nos apegar a pessoa amada. Porque perdemos tantas outras que amamos, que preferimos não nos apegar, para não sofrer novamente. Por isso, não se machuque. Não foi intencional. Foi medo. Medo do desconhecido. Medo da felicidade. Afinal, se ela demorou tanto pra chegar, por que acreditar que é ela agora? Por que acreditar que a merecemos?

Scully olha pra ele, segurando as lágrimas.

PAPAI NOEL: - Quando você, criança, lembrar de sua infância, sempre terá coisas agradáveis para reviver. Mas pense que nem todos viveram bons momentos como você. Alguns revivem dores. Por isto, esta é uma data mágica. Porque nos expomos, ficamos vulneráveis, e assim, os outros percebem o quanto precisamos de uma segunda chance.

Scully segue caminhando ao lado dele.

SCULLY: - Eu...

PAPAI NOEL: - Não fale, criança. Não precisa falar nada. Não pra mim.

SCULLY: - ...

PAPAI NOEL: - Ainda não me disse o presente que quer.

SCULLY: - (SORRI) Acho que sabe o que eu quero.

PAPAI NOEL: - Você já o tem. Mas ainda teme que possa perdê-lo. Não tema. Nunca perdemos o que é realmente nosso.

Scully chega na frente do prédio de Mulder.

SCULLY: - Obrigado. Eu fico aqui.

O Papai Noel entrega o pacote pra ela. Retira um embrulho de dentro do saco. Entrega pra Scully.

PAPAI NOEL: - Guarde esse presente. Não será útil agora, mas quando for, vai se lembrar de mim. E eu estarei ali, criança... Porque você vai me deixar existir.

O Papai Noel sai caminhando. Scully entra no prédio.


Apartamento de Mulder - 3:31 P.M.

[Som: Nat King Cole - Smile]

Scully entra. Coloca as compras na cozinha. Pega o pequeno embrulho que ganhou do velhinho. Senta-se numa cadeira. Abre-o. Retira um par de sapatinhos cor-de-rosa pra bebê. Scully leva a mão aos lábios e começa a chorar.


BLOCO 3:

3:42 P.M.

Scully vai até a porta do quarto. Bate.

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - ...

SCULLY: - Posso entrar?

MULDER: - Já invadiu minha vida mesmo.

Scully entra, receosa. Mulder seca as lágrimas, disfarçando.

SCULLY: - Desculpe. Não tinha o direito de estar aqui. Afinal é a sua vida. Prometemos um ao outro que respeitaríamos nossos espaços. Não estou fazendo isso.

MULDER: - ...

SCULLY: - Acho que tem razão. É melhor eu ir embora.

Scully vai saindo, cabisbaixa.

MULDER: - Scully.

Scully vira-se.

MULDER: - Não quero que vá embora.

SCULLY: - (SORRINDO/ SEGURANDO AS LÁGRIMAS) ... Tem certeza?

MULDER: - Tenho. Quero que fique comigo. Se eu ficar chato, você pode ir embora com todo o direito. Eu... Eu vou tentar, Scully. Por que ter vontade é diferente de fazer. E eu preciso fazer. Pois eu achava que perdia, mas vejo que não se pode perder o que nunca se teve.

Scully lembra-se das palavras do velhinho. Aproxima-se da cama. Deita-se ao lado de Mulder e o abraça forte. Mulder fecha os olhos.


4:13 P.M.

Scully entra no carro, mais animada. Coloca o cinto de segurança.

SCULLY: - Onde vou achar uma maldita vela vermelha numa hora dessas?

Scully olha para o lado. O Papai Noel bate no vidro. Scully olha pra ele com surpresa. Abaixa o vidro.

SCULLY: - O senhor novamente?

PAPAI NOEL: - O mundo é pequeno.

Scully desce do carro. Olha-o nos olhos, curiosa.

SCULLY: - Por que tenho a sensação de que está me seguindo?

PAPAI NOEL: - Acho que não deveria ficar paranoica como o nosso amigo.

SCULLY: - Ele não é seu amigo!

PAPAI NOEL: - Nem tão agressiva quanto ele.

SCULLY: - ... Me desculpe, senhor eu sou...

PAPAI NOEL: - Eu sei. É agente federal, precisa desconfiar das pessoas. Seu senso de razão sobrepõe suas emoções, mas às vezes você não consegue segurá-las.

SCULLY: - ??? Como sabe?

PAPAI NOEL: - Filha, eu sou o Papai Noel. Observo as pessoas também. E sei que está muito ocupada tentando juntar os cacos de seu amigo. Tentando dar-lhe prazer nas coisas comuns. Isso é bonito. É puro.

Scully olha assustada pro velhinho. Ele tira do saco uma vela vermelha.

PAPAI NOEL: - Acho que precisa disso.

O Papai Noel dá as costas e sai caminhando. Distribui balas para as pessoas que passam. Scully fica olhando perplexa pra ele, enquanto segura a vela em suas mãos.


Apartamento de Mulder - 4:17 P.M.

Scully bate na porta do quarto.

SCULLY: - Mulder, posso entrar?

MULDER: - Pode.

Mulder está deitado na cama, deprimido. Scully deita-se ao lado dele. Silêncio por minutos. Scully deita sua cabeça no peito de Mulder e lhe faz carinhos.

SCULLY: - ... Eu... (FECHA OS OLHOS) Eu só queria entender por que você age desse jeito, por que esconde as emoções. Porque eu sei que tem emoções, Mulder, porque está a ponto de explodir.

Mulder levanta.

MULDER: - Vou caminhar um pouco, Scully. Por favor, não estrague seu natal na minha companhia. Vá pra San Diego enquanto pode.

Mulder sai. Scully encolhe-se na cama. Fecha os olhos, angustiada.


4:47 P.M.

Mulder pára o carro na frente de uma praça. Desce. Caminha até um banco e senta-se. A neve cai em flocos suaves. Mulder observa alguns garotos jogando basquete. Abaixa a cabeça, triste. Percebe a sombra de alguém sentando-se ao seu lado. Olha para o lado. Vê o velhinho.

MULDER: - (INCRÉDULO) Você?

PAPAI NOEL: - (SORRI) Mundo pequeno.

MULDER: - Tirou o dia pra me assombrar, vovô?

PAPAI NOEL: - Ora, isso é um parque público. Posso me sentar nesse banco. Sou um cidadão americano, livre...

MULDER: - (IRRITADO) Corta esse papo de cidadania. Vá sentar-se em outro lugar!

O Papai Noel continua ali. Mulder se indigna e vai para o outro banco. O Papai Noel levanta-se e vai até ele. Senta-se a seu lado.

MULDER: - Mas que droga! Que tipo de maluco é você? Ainda não cataloguei nenhum que andasse vestido de Papai Noel!

PAPAI NOEL: - Talvez porque não tenha muito tempo para sair por aí, despreocupado e observando as pessoas.

MULDER: - Tá, tá legal. Você é um psicanalista da linha Freudiana, aposentado, que nos natais sai por aí vestido desse jeito, dando balinhas pras pessoas tentando se esconder debaixo de uma fantasia, como uma maneira de se redimir de suas culpas pessoais!

PAPAI NOEL: - E você sai por aí fugindo das pessoas, achando que é culpado por tudo. Tenta se esconder debaixo de uma fantasia de ‘durão’ mas no fundo precisa chorar e não sabe pra onde pode correr pra fazer isso.

Mulder desvia o olhar. Observa as crianças na praça. O Papai Noel tira uma caixa de lenços de papel do saco. Deixa sobre o banco.

PAPAI NOEL: - Vai precisar disso.

O velhinho sai. Mulder continua olhando pras crianças. Uma menina entra na quadra. As mesmas feições de Samantha. Ela chama o irmão mais velho e os dois saem de mãos dadas. Mulder começa a chorar. Olha pra caixa de lenços deixada sobre o banco.


5:11 P.M.

[Som: Dean Martin – Let it Snow! Let it Snow! Let it Snow!]

Mulder entra num bar. Senta-se ao balcão e pede uma bebida. Começa a beber. O Papai Noel senta ao lado dele. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Eu não acredito! Você está me seguindo?

PAPAI NOEL: - Como eu disse, sou um cidadão livre e não tenho culpa se frequenta os mesmos lugares que eu.

O velhinho olha pro Barman.

PAPAI NOEL: - Uma Coca.

Mulder olha pra ele.

MULDER: - Já sei. Isso é castigo! Agora vai dizer que você é o meu futuro. Que sou eu amanhã.

PAPAI NOEL: - (SORRINDO) Não, eu não gostaria de ser você.

MULDER: - Tá bom, então você é o fantasma dos natais passados. Já vi isso num filme. Resolveu me assombrar, quer que eu reviva meu passado e me arrependa e então tudo termina numa boa, e eu vou passar a adorar os natais...

PAPAI NOEL: - Imaginação fértil a sua, amigo. Mas já vi esse filme também, reprisa em todos os natais. As coisas não funcionam desse jeito.

O Papai Noel bebe o refrigerante. Mulder empina o copo de uísque.

PAPAI NOEL: - Isso não vai lhe fazer bem.

MULDER: - Corta essa, maluco!

Mulder mostra a credencial, esfregando na cara dele.

MULDER: - Tá vendo isso aqui?

PAPAI NOEL: - Bem, eu uso óculos, não precisa esfregar no meu rosto. Não sou cego.

MULDER: - Sou federal e se ficar me enchendo o saco eu vou arranjar uma justificativa pra você ir dar balas na cela da delegacia mais próxima! Aposto que os presos vão adorar!

PAPAI NOEL: - Não sente vergonha de ameaçar um velhinho como eu?

MULDER: - Você é um velho maluco! Por que não está em casa com a sua família?

PAPAI NOEL: - Estou em casa. Estou com a minha família. Você faz parte dela. As pessoas que estão nesse bar fazem parte dela. Todos vocês.

MULDER: - Você é doido!

Mulder pega a carteira e coloca o dinheiro sobre o balcão. Olha pro barman.

MULDER: - Pago o refrigerante dele também.

O Papai Noel o segura pelo braço.

PAPAI NOEL: - Espere, tenho uma coisa pra você. Vai precisar disto.

O Papai Noel tira um par de algemas do saco. Mulder as pega. Começa a rir.

MULDER: - Tenho isso, seu Papai Noel idiota!

PAPAI NOEL: - Tem. Mas vai precisar destas. Leve-as.

Mulder sai rindo do bar. Coloca as algemas no bolso. O Papai Noel continua tomando seu refrigerante tranquilamente.


5:23 P.M.

Mulder entra numa loja de conveniências. Compra um pacote de sementes de girassol. Um homem alto, mal vestido, entra. Disfarça que está vendo algumas revistas e observa a loja. Apenas Mulder e o atendente estão ali. O homem puxa uma faca e encosta em Mulder.

LADRÃO: - Um assalto! Passa a grana ou eu furo o cliente!

Mulder fecha os olhos, irritado. Ergue as mãos. O atendente, desesperado, esvazia o caixa e coloca o dinheiro sobre o balcão. O homem vai pegá-lo e Mulder acerta um golpe no braço dele. A faca cai no chão. Mulder o empurra contra o balcão, puxando os braços dele para trás.

MULDER: - FBI, canalha. Tirou a pessoa errada pra brincar! Não estou num bom dia.

Mulder procura sua algema mas não encontra. Então põe a mão no bolso e olha pra algema que ganhou do velhinho. Mulder algema o bandido. Fica intrigado.


5:31 P.M.

Mulder dirige. Vê o Papai Noel numa esquina, dando balas para as crianças. Mulder estaciona o carro. Desce rapidamente e agarra o velho, encostando-o na parede. As crianças saem correndo.

MULDER: - Como sabia que eu havia esquecido minhas algemas em casa e que precisaria delas?

PAPAI NOEL: - ...

MULDER: - Quem é você?

PAPAI NOEL: - Papai Noel.

MULDER: - Estou perdendo a minha paciência com você! Como sabia que eu iria chorar quando saiu daquela praça?

PAPAI NOEL: - Eu simplesmente deduzi.

Mulder o solta.

MULDER: - (RAIVA) Eu odeio Papai Noel, odeio Natal e odeio você! Se vir sua cara na minha frente mais uma vez eu juro que vou ser um mau menino!

O velhinho tira uma rosa vermelha do saco. Entrega pra ele. Mulder recua.

MULDER: - Não, dessa vez não.

PAPAI NOEL: - É apenas um presente. Um pedido de desculpas. Leve-a.

MULDER: - ... Vou precisar disso?

PAPAI NOEL: - (SORRI AMÁVEL) Como eu disse, é um pedido de desculpas. Talvez precise pedir desculpas.

Mulder pega a rosa. Caminha em direção ao carro.

PAPAI NOEL: - (GRITA) Se precisar de mim, estarei aqui!


Apartamento de Mulder – 6:24 P.M.

Mulder entra, com a rosa dentro do bolso. Olha pela sala. Vai para o quarto. Vê Scully deitada na cama, chorando. Mulder olha pra ela, arrependido. Aproxima-se. Scully olha pra ele. Senta-se na cama, tentando inutilmente secar as lágrimas. Mulder senta-se ao lado dela. Scully olha pra ele, derrubando lágrimas.

SCULLY: - Eu... E-eu só queria... te fazer feliz...

Mulder a abraça.

MULDER: - Me desculpe, Scully. Eu...

Mulder puxa a rosa do bolso. Olha pra rosa e sorri. Entrega pra Scully. Scully segura o choro.

MULDER: - Me desculpa?

Scully sorri, afirmando com a cabeça e pegando a rosa. Mulder está intrigado.

MULDER: - Como ele faz isso?

SCULLY: - Quem?

MULDER: - Scully, você não acreditaria nas coisas que me aconteceram hoje...

Mulder olha pra cômoda. Vê uma vela vermelha.

MULDER: - Conseguiu encontrar a vela pro arranjo que ia preparar?

SCULLY: - Papai Noel me deu.

MULDER: - A-a-que-que-le Pa-pa-pai Noel?

SCULLY: - Ele apareceu novamente, me ajudou com as compras, me deu a vela... Não me pergunte como ele sabia que eu queria aquela vela.

Mulder levanta-se da cama. Olha pra ela.

MULDER: - Preciso sair. Não quero que chore, eu volto logo.

SCULLY: - ...

MULDER: - É algo importante, Scully.

SCULLY: - (RECEOSA) Tá... Eu vou te esperar com uma ceia só pra nós dois.

Mulder beija-a na testa. Sai depressa. Scully suspira.

SCULLY: - Eu sempre estarei esperando, Mulder...


BLOCO 4:

7:01 P.M.

Mulder pára o carro na mesma esquina. O Papai Noel não está. Mulder desce, caminha pela calçada, procurando-o.

MULDER: - Droga!

Alguém aproxima-se por trás dele. Mulder vira-se.

PAPAI NOEL: - Procurando alguma coisa, amiguinho?

Mulder sorri pra ele, como uma criança. O Papai Noel retribui o sorriso.

PAPAI NOEL: - Ora, então você sorri. E acredita em Papai Noel! Eu sabia que não era um mau menino.

MULDER: - Quem é o senhor?

PAPAI NOEL: - Papai Noel.

MULDER: - Papai Noel não existe.

PAPAI NOEL: - Acredita mesmo nisso?

MULDER: - Olha, eu já vi muita coisa estranha nesse mundo, mas Papai Noel não existe. Tenho certeza.

PAPAI NOEL: - Deu a rosa pra sua namorada que estava chorando, tentando descobrir onde ela errou?

MULDER: - Como pode saber essas coisas? Como faz isso?

PAPAI NOEL: - Acho que agora está se comportando bem. E acho que agora está precisando de alguma coisa.

MULDER: - Como o quê?

PAPAI NOEL: - Peça o que lhe vier na mente.

MULDER: - Você não tem o que eu preciso.

PAPAI NOEL: - Como pode saber?

MULDER: - Pode me mostrar a verdade?

PAPAI NOEL: - Se é isso que você quer... Mas a verdade está longe, é um caminho difícil...

MULDER: - ...

Mulder fica triste, como criança que não ganhou o presente que queria. O velhinho olha pra ele.

PAPAI NOEL: - Mas como o Papai Noel sempre traz o presente que é pedido... Venha. Sei que seu carro é mais veloz do que o meu trenó. Mas eu sou um velho conservador. O mundo precisa de natureza, não de combustíveis poluentes. Caquinha de cavalo não afeta a camada de ozônio...

MULDER: - (SORRINDO) Você tem um trenó?

O Papai Noel dobra a esquina. Mulder vai atrás dele. Vê um trenó, cheio de pequenas lâmpadas e com alguns cavalos atrelados.

MULDER: - Você não é Papai Noel. Papai Noel tem renas, não cavalos.

PAPAI NOEL: - As renas não são confiáveis. E os cavalos são mais rápidos.

O Papai Noel sobe no trenó. Mulder fica admirando o trenó, com os olhos brilhando. O velhinho olha pra ele.

PAPAI NOEL: - Se quer a verdade, temos que ser rápidos, porque já é noite e tem uma pessoa maravilhosa te esperando pra jantar. E confie em mim, ela cozinha muito bem. E eu nunca menti pra você.

Mulder sorri. Sobe no trenó.


7:28 P.M.

[Som: Nat King Cole - Smile]

Scully, sentada numa cadeira, na cozinha, fala ao telefone, segurando as lágrimas.

SCULLY: - Não, mãe, estou bem.... É sério... Não quero que se preocupe comigo... Olha, me desculpe por não passar o natal com você, mas tenho uma tarefa muito importante, que não posso adiar.... Não, o Mulder não está aqui... Eu deixo seu abraço pra ele... Eu sei, mãe, é o primeiro natal que passamos separadas... Tá, mãe eu... Só quero que entenda que preciso fazer o que estou fazendo... É, mãe, é o maior Arquivo X que já enfrentei! Não é um caso fácil de resolver...


Numa rua da cidade... 7:32 P.M.

O velhinho guia o trenó. Mulder olha pra cidade.

MULDER: - Pode ao menos me dizer como tira tantos objetos desse saco que parece sempre vazio?

PAPAI NOEL: - Pode me dizer como pode ser tão curioso?

MULDER: - Já andamos por quase toda a cidade! Falta muito?

PAPAI NOEL: - Estamos perto. Quer ganhar seu presente ou não?

MULDER: - ... Eu devo estar louco! Andando num trenó, em Washington, com um cara que pensa que é Papai Noel...

PAPAI NOEL: - Tem certeza de que quer mesmo saber sua verdade? É uma responsabilidade muito grande. Implica um conhecimento profundo de si mesmo.

MULDER: - Já tive grandes ‘conhecimentos’ sobre mim mesmo neste ano. Pior não pode ser.

Os cavalos correm mais depressa. O Papai Noel olha pra frente.

PAPAI NOEL: - Feche os olhos.

Mulder fecha os olhos. O trenó desaparece no nada.

[Fusão]

Mulder em pé, numa sala escura, com apenas três pontos de luzes.  Mulder não entende nada. Caminha até as luzes. Mas ele só vê uma fumaça dissipada em cada luz e uma silhueta indefinida por entre elas.

MULDER: - (INDIGNADO) Isso não é a verdade!

Mulder, curioso aproxima-se de uma das luzes. Entra na fumaça. Percebe alguém vindo a seu encontro. O rosto torna-se nítido. É o Canceroso. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - (INDIGNADO) Você?

CANCEROSO: - Surpreso, agente Mulder?

MULDER: - Era a última pessoa que gostaria de ver.

CANCEROSO: - Seu próprio pai? Nunca imaginei que pudesse ouvir isso de você, não depois de tudo o que passei pra enganar aqueles homens, pra proteger você, escondendo de todos que era meu filho. Armando ciladas que eu tinha certeza de que você sairia delas. Afinal, é esperto como eu sou.

MULDER: - (ÓDIO) Desgraçado, eu não quero comentar nada sobre isso! Você não significa nada pra mim!

CANCEROSO: - Eu tenho um lado bom, sabia? E você tem um lado mau. Afinal é meu sangue.

MULDER: - ...

CANCEROSO: - Eu sou sua verdade. Aceite isso. Vai precisar conviver com ela.

MULDER: - Eu não sou você! Eu odeio você!

CANCEROSO: - Isso é bom. Mas não sabe o quanto é parecido comigo. É natal, Mulder. Estou sozinho em meu apartamento, pensando no trabalho. Você está só, pensando em seu trabalho. As pessoas me evitam porque sou mau. As pessoas te evitam porque você é anti-social. Somos mal compreendidos, Mulder. Tenho meus motivos, você tem os seus. É tão só e infeliz quanto eu sou. Somos egoístas. Trabalhamos para esquecer os problemas que temos com nossa incapacidade de conviver com os outros.

Mulder abaixa a cabeça, chorando.

MULDER: - Eu nunca vou te chamar de pai. Nunca!

CANCEROSO: - Não quero emoções, Mulder. Nem sentimentos. Afinal, fugimos deles, não é mesmo? Magoamos quem amamos, porque escolhemos sempre o pior caminho pra seguir... O mais difícil, o mais tortuoso. E ambos achamos que estamos com a razão e que os outros estão errados.

MULDER: - ... Você é um mentiroso!

CANCEROSO: - Olhe nos meus olhos. Veja se conheço você. E se você se reconhece em mim? Sou uma verdade? Ou sou uma mentira?

Mulder olha nos olhos dele.

MULDER: - Não, você não me conhece. E eu não me reconheço em você! Você não é minha verdade!

Mulder dá as costas e sai desatinado de dentro da luz. Chora convulsivamente. Olha para a segunda luz. Uma silhueta vem a seu encontro.

SAMANTHA: - Fox? Fox, preciso de você!

MULDER: - Samantha?

Mulder entra na luz e vê sua irmã, aos oito anos de idade.

SAMANTHA: - Fox, por que demorou tanto? Não tem muito tempo.

MULDER: - Samantha...

SAMANTHA: - Fox, quero dizer o quanto te amo por sacrificar sua vida por mim. Porque se eu estivesse no seu lugar, eu não teria abandonado minha vida por uma busca sem certeza. Eu não teria ido atrás de você. Não tenho sua força.

Mulder olha pra ela, chorando, não compreendendo.

SAMANTHA: - Fox, não sinta-se culpado. A verdade é que ninguém é culpado de nada. Todos somos vítimas.

MULDER: - Samantha, por que me diz isso?

SAMANTHA: - Fox, mesmo que um dia nos reencontremos novamente, eu serei outra pessoa. Não temos mais nada em comum, Fox. Eu não conheço você, nem você me conhece. Apenas temos um passado juntos... Olhe nos meus olhos, você me conhece? Se reconhece neles? Sou uma verdade ainda?

Mulder olha pra ela. Chora.

SAMANTHA: - Não, Fox. Somos diferentes, não nos conhecemos mais. Apenas há um passado. Nada mais que isso.

Mulder sai da luz. Chora convulsivamente. Papai Noel aproxima-se dele.

PAPAI NOEL: - Então é por isso que não gosta de natais?

MULDER: - ...

PAPAI NOEL: - Sempre foram assim.

MULDER: - (CHORANDO DESESPERADO) Não!

PAPAI NOEL: - Você continua só. Isolando-se na sua concha e nas suas culpas.

MULDER: - Não é verdade!

PAPAI NOEL: - Se não é, por que está chorando?

MULDER: - ...

PAPAI NOEL: - Não temos muito tempo. Tem uma última luz a ser descoberta.

MULDER: - Eu não quero ver mais nada!

PAPAI NOEL: - Eu sei disso. Você nunca quer enxergar essa luz porque tem medo. É mais fácil acreditar que ela não existe. É mais fácil ficar chorando com pena de si do que reagir.

MULDER: - ...

PAPAI NOEL: - Achou sua verdade? Se reconheceu nos olhos deles? Eles sabem quem você é? Não, filho. Eles não te reconhecem e nem sabem da sua alma. Vocês precisam de palavras para se comunicarem porque não se conhecem. E quando duas pessoas se reconhecem uma na outra, não precisa haver palavras. Há cumplicidade. Há silêncio.

Mulder olha pra ele. Olha pra última luz. Caminha relutante até ela. Entra pela fumaça.

Há uma silhueta, parada.

Mulder aproxima-se com medo.

A silhueta vem em sua direção, Mulder afasta-se. Pára. Respira fundo e caminha até ela. Percebe que é Scully.

Os dois olham-se nos olhos, se reconhecendo um no outro, sem dizer uma só palavra. Mulder chora. Scully aproxima-se dele, em silêncio e o abraça.


10:32 P.M.

[Som: Nat King Cole - Smile]

Mulder acorda no carro. Olha pro lado, tentando se localizar no tempo e no espaço. Procura o Papai Noel com os olhos. Ele sumiu. Há apenas um presente em cima do banco do carona. Mulder percebe que chorou. Seca as lágrimas. Olha pro relógio e percebe que sofreu um lapso de tempo de 3 horas. Ele pega o pacote. Há um bilhete em cima dizendo: “Para Mulder e Scully. Vocês precisam disso. Papai Noel.”


Apartamento de Mulder – 11:43 P.M.

Scully está sentada no sofá. Observa a mesa de centro toda arrumada, onde colocou uma pequena ceia para dois e a vela vermelha acesa. Está triste, abatida.

Mulder entra. Scully levanta-se. Mulder abre um sorriso. Ela retribui. Os dois aproximam-se e trocam um abraço bem forte. Mulder segura o presente do Papai Noel.

SCULLY: - (AFLITA) Pensei que não viria...

Mulder larga o presente sobre o sofá. Ajoelha-se na frente dela, abraçando-a pela cintura.

MULDER: - Me perdoa por ter magoado você...

SCULLY: - Mulder, eu...

Mulder levanta-se. Olha nos olhos dela, chorando. Aproxima lentamente seus lábios dos dela. Beija-a suavemente. Scully enlaça suas mãos nos cabelos dele. Os dois afastam os lábios. Mulder respira fundo, fechando os olhos. Abre-os. Olha pra mesa. Olha pra árvore enfeitada. Olha pra Scully.

MULDER: - (DEBOCHADO) Está perfeito, mas... Onde está a champanhe?

Scully sorri. Vai até a cozinha e trás uma garrafa de champanhe. Põe sobre a mesinha. Scully olha pro presente sobre o sofá.

SCULLY: - Mulder, eu sou uma criança curiosa. O que é isso?

MULDER: - Papai Noel deixou pra nós.

SCULLY: - Hum, e o que Papai Noel nos daria?

Os dois sentam-se no chão, como crianças curiosas. Scully começa a abrir a embalagem.

MULDER: - Ele disse que é algo de que precisamos.

Scully abre a caixa. Os dois olham fixamente pra dentro. Mulder sorri. Close das algemas que Papai Noel deu à ele anteriormente. Scully retira as algemas, olhando curiosa.

SCULLY: - Não entendi a piada, Mulder.

MULDER: - Acho que Papai Noel acredita em nós, Scully. Nos quer presos um ao outro.

Mulder retira um pequeno embrulho do bolso.

MULDER: - Comprei uma lembrancinha pra você.

Scully sorri. Pega o presente. Sacode.

SCULLY: - O que é isso, Mulder?

MULDER: - Abra.

Scully, como criança curiosa abre o embrulho rapidamente. É uma caixinha. Ela sacode novamente.

SCULLY: - Hum... Mulder, estou com uma sensação estranha de que não deveria abrir isso.

MULDER: - Se não quiser, não abra.

SCULLY: - (NERVOSA) Mulder, é o que estou pensando?

MULDER: - Scully, eu admiro muito a paranormalidade, mas infelizmente não tenho o dom de saber o que você está pensando.

Scully abre a caixinha. Há um bilhete. Ela abre-o. Está escrito: Te peguei. Scully começa a rir.

SCULLY: - Mulder, você me assustou! Pensei que fosse...

MULDER: - Uma aliança?

Scully o abraça.

MULDER: - Feliz natal, Scully!

SCULLY: - Feliz natal, Mulder!


25 de dezembro – 12:31 A.M.

Mulder e Scully, sentados no chão, à mesa de centro, um ao lado do outro. Mulder com um capuz de Papai Noel na cabeça. Há uma maquete da Enterprise no chão. Os dois brindam com champanhe. Estão rindo. Scully põe um gomo de uva na boca de Mulder.

SCULLY: - Gostou do seu presente?

MULDER: - Claro que gostei, Scully.

SCULLY: - Foi uma busca desgastante. Corri dias atrás de uma maquete da Enterprise NCC 1701. Mas sabe, criança é criança... é melhor nunca desapontá-la.

Os dois trocam um beijo rápido. Mulder serve mais champanhe pra Scully.

SCULLY: - Você fica uma graça com esse capuz de Papai Noel, Mulder!

MULDER: - Ora, eu fico uma graça de qualquer jeito.

SCULLY: - (RINDO) Hum, convencido!

MULDER: - ... (OLHOS BRILHANDO) Scully, obrigado.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Esse foi o melhor natal que eu tive na minha vida.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Tenho outro presente pra você, Mulder... Mas deixa pra mais tarde...

Mulder coloca o braço por trás dela. Põe a outra mão no bolso. Disfarça um sorriso. Scully percebe e ergue as sobrancelhas, curiosa.

SCULLY: - O que tem aí, Mulder? Eu sou curiosa.

Mulder tira um anel de diamantes do bolso. Scully olha pra ele, enchendo os olhos de lágrimas, emocionada.

MULDER: - (DEBOCHADO) Esqueci. Isso veio com aquela caixinha. Comprando a caixinha, você ganha isso de brinde.

SCULLY: - (OLHA-O CHORANDO) Mulder, eu não posso, ainda não...

MULDER: - Scully, é só um anel. Não precisamos de símbolos para mostrar que somos um. Os nossos olhos já dizem isso. Vai, aceita. Acho que combina com você.

SCULLY: - ... (SORRI) Mulder, isso custou caro...

MULDER: - (DEBOCHADO) Não é ouro não. É imitação barata. Comprei de um ambulante que ficou me chateando.

Scully sorri. Coloca o anel no dedo. Deita a cabeça no ombro de Mulder. Mulder olha pra árvore.

MULDER: - Sabe de uma coisa, Scully? Eu acredito em Papai Noel.

SCULLY: - Mulder, por falar nisso, quem era aquele homem?

MULDER: - Acho que era o Papai Noel, Scully.

SCULLY: - ... Mulder, você é o melhor presente que eu poderia ganhar na vida.

MULDER: - Nossa! Você se contenta com tão pouco, Scully.

Os dois sorriem. Trocam um longo beijo.

[Som: Nat King Cole - Smile]

Corta para a janela, onde uma estrela cadente passa pelo céu.

Na rua, o Papai Noel observa a janela do apartamento de Mulder. O velhinho abre um sorriso, observando as luzes acesas do apartamento. Coloca o saco nas costas e sai caminhando pela rua. Uma forte luz desce do céu sobre ele. O Papai Noel desaparece nela.

Fade out.


20/01/2000

Nov. 22, 2018, 7:25 a.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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