tinkerbaek Tinkerbaek ✰

[ChanBaek] Eu era como uma flor amarela, da cor do Sol. Cheio de esperanças, florescendo em uma terra que estava seca e salgada por dentro. Mas tudo aquilo que eu acreditava estava desmoronando como uma grande muralha de lama seca. Não se podia questionar o que era dito como a palavra do Senhor, não deveríamos andar pelos caminhos tortos que, segundo eles, o diabo traçava. Não havia como amar livremente, não havia como expressar meus pensamentos. E no final, aqueles que não se encaixavam, não teriam paz. Percebi que a terra onde crescem os girassóis não aceitaria uma erva daninha que acreditou ser uma flor amarela. [Originalmente postada no spiritfanfiction]


Fanfiction Bands/Singers For over 18 only.

#superação #fluffy #angst #chanyeol #baekhyun #exo #chanbaek #drama #twhomofobia
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Bem-me-quer?

Desde muito pequeno, todos me diziam que havia papéis a serem seguidos. Propósitos divinos, os quais agradariam O Senhor. Mulheres deveriam obedecer seus maridos, cuidando de suas muitas e muitas crianças, além de cozinhar, lavar, passar… Já os homens, deveriam trabalhar para prover, cuidavam do gado, da parte agrícola, muitos também eram mecânicos, marceneiros… Mas, acima de tudo, deveriam cuidar para que nenhuma leviandade entrasse em seus lares.

Nossa comunidade era conhecida como Vale das Glórias e se localizava afastada dos centros, em um local rural, tranquilo. Lembro de amar ver as montanhas verdes que nos cercavam, como elas ficavam bonitas quando havia neve em seus topos. Abrindo a janela de meu quarto, podia ver também diversas árvores e o lago.

Tínhamos costumes que, pelo que nos era dito, as pessoas de fora não entenderiam, e usavam isso para nos julgar. Como sempre usarmos as mesmas roupas. Eu tinha quatro pares de um estilo apenas de blusa social azul clara, quatro pares de calça azul marinho e três gravatas pretas. Quando estava frio, vestia-me com casacos das mesmas cores de minhas calças. Era igual com meu pai e todos os outros homens da nossa comunidade. Minhas irmãs e minha mãe, como todas as mulheres dali, usavam seus vestidos azuis que cobriam todo o corpo, seus cabelos sempre presos a um lenço branco. Sem maquiagem, sem adornos, sem nada que pudesse despertar atenção dos homens.

Também não tínhamos televisões, computadores ou celulares. Não necessitávamos de coisas supérfluas, que nos desviariam do caminho correto. Mas nem por isso não nos divertíamos. Todos os dias eu brincava com meus amiguinhos no parquinho da comunidade, escorregava, me pendurava em balanços, jogava vôlei, futebol, andava de bicicleta… Já em dias quentes, podíamos tirar algumas horas de um dia para mergulhar no lago, deitar sobre a grama e sentir o sol bater em nossos rostos, juntamente com a brisa fresca que a natureza nos provia.

Meu dia favorito, contudo, era o Dia da Família. Dia no qual comemorávamos o que O  Senhor havia nos dado: nossos pais, mães, avós, irmãos, irmãs, filhos e filhas. Louvávamos, fazíamos orações, para logo depois termos um momento de gincanas ao ar livre. Uma das lembranças mais felizes que tinha fora em um ano no qual nossa comunidade comprara bexigas de aniversário, então todos nós nos divertimos atirando balões de água um no outro, antes de irmos para casa nos trocar, fazer nossa refeição e encerrarmos o dia.

Mas em dias normais, a vida era tranquila. Lembro-me de caminhar quase todos os dias em direção ao prédio onde os cultos eram feitos. Desde pequeno, ensaiava para cantar os hinos todos os dias, seguindo à risca todas as aulas de música que tínhamos. Gostava de como meus pais pareciam orgulhosos, e eles diziam que Deus também estaria. Isso me deixava feliz, afinal de contas, era como iríamos para o céu. Este era o caminho certo.

Quando completei dez anos, entrei para o que chamávamos de Pequenos Girassóis. Como nosso pastor nos ensinava, crianças eram as mais amadas pelo Senhor, que Ele era o Sol, e que nós deveríamos segui-lo, assim como os girassóis buscavam a luz do dia. Nessa idade, éramos todos batizados e, logo após a cerimônia, recebíamos broches bordados como girassóis, e todos ali usavam eles pelo resto das vidas, presos às roupas.  

Lembro-me da felicidade, da euforia, quando meu corpo foi mergulhado no lago gélido, um tanto escuro, porém limpo e purificador. O batismo era minha ligação com o céu, minha promessa de seguir tudo o que haviam me ensinado e que iriam ensinar. Estava cada dia mais feliz, minha vida não poderia ser melhor.

Aos dez anos, estava vendo uma de minhas irmãs se casar. Eu era o mais novo de seis irmãos. Os dois mais velhos se casaram quando eu era apenas um bebê, mas os via todo os dias durante as refeições da comunidade, e um deles havia se tornado meu professor de matemática recentemente.

A terceira mais velha havia se casado ano passado com um rapaz que ela não conhecia muito bem. Mas nos era ensinado que os líderes de nossa congregação saberiam escolher nossas esposas e maridos, e que assim agradaríamos ao Senhor. Eu confiava nisso, confiava que minha futura mulher já estava entre as diversas meninas de minha faixa etária. Talvez com dezessete ou dezoito anos eu me casasse, e isso me deixava até mesmo um tanto sonhador. Até lá, deveria me manter puro também, longe das tentações do diabo e do restante do mundo.

Agora minha quarta irmã estava com seu vestido branco, porém discreto como os azuis que sempre usava, segurando as mãos de seu noivo enquanto eram guiados para o quarto preparado especialmente para ambos consumarem o casamento. Naquela idade, eu já tinha uma ideia do que se tratava, e ficava envergonhado com isso. Mas sabia que aquilo deveria ser feito entre duas pessoas casadas, e somente com a intenção de gerar filhos.

Minha irmã mais velha teve seu primeiro filho, meu primeiro sobrinho, aquele pequeno serzinho que segurei em meus braços de criança. Naquele momento, tive uma enorme vontade de crescer logo e ter meus filhinhos, mas tinha de esperar, certo? Ainda era muito novo.

Tudo parecia perfeito, tudo me fazia extremamente feliz… Até que uma de minhas irmãs, que havia acabado de casar, aparecera com o rosto manchado por uma cor roxa intensa, levemente esverdeada. Ela não conseguia abrir seu olho direito, e meu coração pareceu despencar de meu peito para o estômago ao vê-la daquela maneira.

“Está tudo bem, eu mereci.” Ela disse, com um sorriso no rosto. Não sabia o que dizer, não sabia como agir, apenas a olhei de frente para mim enquanto tomávamos nosso desjejum no refeitório, juntamente com toda a nossa comunidade, todos podendo olhar para seu rosto. “É dever dele me educar quando fizer algo errado, ele é meu marido. Sei que errei.”

Pela primeira vez, senti um amargor na boca. Mesmo criança, queria levantar e gritar, vingar minha irmã, e irritei-me ao ver que ninguém parecia querer fazer algo a respeito. Como poderiam ficar calados?!

“Ele não devia ter feito isso.” Rangi os dentes, apertando os punhos. Naquele momento, toda minha família na mesa parara, meu pai me encarava, minha mãe parecia tensa. “Ele não pode bater em você!” Completei, furioso.

“Você ainda é pequeno demais pra entender isso. Se sua irmã recebeu uma lição do marido, é por ela ter desobedecido as ordens dele. Ela desobedeceu também as ordens do Senhor de sempre ouvir e obedecer seu esposo.” Disse meu pai, e aquilo pareceu perfurar meu coração.

“Mas o olho dela tá roxo!” Gritei, sentindo um choro brotar de minha garganta.

“Calado…” Murmurou meu pai. Era um alerta.

“Ele não devia ter batido nela!”

A bofetada que meu próprio progenitor desferiu em meu rosto fez com que eu ficasse tonto. O barulho ecoou pelo local, talvez algumas pessoas tivessem parado para olhar, mas não importava. Percebi o olhar assustado de minhas irmãs sobre mim, de minha mãe… Ele me puxara pelos cabelos, fazendo com que o encarasse. Senti pavor dele, um pavor que nunca sentira antes.

“Não se meta no que você não entende…” Ele me alertou. “E você vai me obedecer… Quando terminar suas tarefas, você vai rezar por uma hora pedindo perdão por levantar a voz comigo, e eu quero ouvir todas as palavras proferidas de sua boca! Entendeu, Baekhyun?!

Engoli em seco, tentando não soluçar em meio às lágrimas que caíam.

“Sim, senhor…” Concordei. Minha voz falhara, mas felizmente pareceu o suficiente para meu pai soltar meu cabelo, praticamente jogando minha cabeça na direção oposta. Olhei para baixo, os olhos arregalados, a boca semiaberta. Estava em choque, queria sair dali e fugir para qualquer lugar, bem longe, apenas para poder chorar. Contudo, sabia que se tentasse fazer aquilo, tudo pioraria.

A partir daí, tudo no que acreditei, toda a felicidade que possuía em meu coração, começaram a desmoronar.




Nov. 3, 2018, 5:21 p.m. 1 Report Embed Follow story
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Tinkerbaek ✰ Tinkerbaek ✰
A fic já está completa no meu perfil do spiritfanfiction, o username é o mesmo!
November 03, 2018, 17:19
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