gabykaijongin gabriela Rodrigues

Após ser pego por caçadores locais criando poções no meio da floresta, Kyungsoo, um bruxo, passa a descobrir que sua definição de bom e mau estava errada, e que sua salvação, talvez, venha na forma de um desconhecido totalmente diferente de tudo o que já viu, um lobisomem.


Fanfiction Bands/Singers Not for children under 13. © Gabriela Rodrigues

#exo #lobisomens #bruxos #kaisoo #fanfic #floresta #yaoi #romance
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Near Death

KyungSoo

Uma semana se passou e eles finalmente vieram até mim, estou sendo tratado como um nada a partir do momento em que caçadores locais me pegaram fazendo poção a luz do luar. 


Eu apenas tentava focar nas palavras que um dia foram ditas pela minha avó: "Não seja um bruxo mau que coisas malignas não lhe acontecerão", eu não sou mau, no entanto, uso a bruxaria para ganhar um dinheiro extra e isso acabou me trazendo para este lugar. Um lugar sujo preso atrás de grades da qual nem um tipo de feitiço prático me ajudou a sair, eles claramente não tem estruturas para bruxas, suas caças são apenas de animais, pois suas armas são de tais, e agora, cá estou eu esperando algum tipo de julgamento.


Eu estou com medo, eu apenas estava fazendo uma poção do amor para a vizinha da igreja, ela quer conquistar o irmão de lá e para isso veio até mim pedindo ajuda, aquele lugar sempre me pareceu inofensivo, mas em alguns minutos todo o meu conceito de bruxo bom tornou-se mau.


 Em seu pedido de poção ela trouxe as fezes de gato e eu fiquei com a tarefa de pegar os corações dos pombos da floresta, que também foi palco da criação do elixir e da minha captura.


Eu sinto que estou morrendo mesmo antes de saber o que vai acontecer comigo, pode sim existir algum jeito de eu sair daqui, talvez alguma bruxa tenha ouvido minhas preces e venha me ajudar, talvez eu apenas seja solto, mas se eu estou aqui a uma semana então não significa coisa boa, eu espero que tudo dê certo para todos, nunca fiz mal a ninguém, mas estou sendo cobrado por coisas que não fiz. A minha realidade não é fácil, sempre dei duro para poder sobreviver, e nunca desisti, nunca nem pensei em desistir, agora estou aqui pensando em quantos minutos ainda me falta de vida.


O portão de ferro foi aberto e eles se aproximaram me puxando com força e prendendo minhas mãos com cordas que em volta havia alhos, eles acham que sou o quê? Um vampiro? Sem contar que isso é um mito para eles, alho não faz nada, mas eles realmente não gostam, dizem que o gosto arde em seus olhos e por isso sua alta sensibilidade.


 — Bruxo, nesse pergaminho consagrado que eu irei pendurar em seu pescoço está escrito as sete palavras sagradas de Jesus, dessa maneira Satã não poderá lhe ajudar a guardar silêncio.


O comandante entre os homens se aproximou de mim colocando um pergaminho em meu pescoço, ao ouvi-lo eu realmente queria chamá-lo de idiota, ser bruxo não significa que tenho ligação com demônios, claro que para ganhos maiores temos que pecar, mas eu realmente estou sendo mal julgado.


 — Vocês estão errando muito feio no meu julgamento, eu sou um humano, sabia?


Minha mão foi torcida para trás e minha canela chutada me fazendo cair de joelhos diante daquele que me julgara.


   — Levem-no


Me puxaram para cima me obrigando a andar, os portões foram abertos e a luz do sol tomara conta de meus olhos.


Eu não sei o que vai acontecer, passei a semana pensando nisso e cheguei a conclusão que eu não saio vivo, minha avó foi enforcada acusada de bruxaria, meus pais sempre tiveram medo de que isso acontecesse comigo, e quando eu resolvi me soltar dos braços deles para aprender com minha vó eu tive um péssimo julgamento daqueles que deveriam me apoiar, sempre fui o estranho na escola e por isso nunca à terminei, parece que em minha vida sempre serei acusado injustamente por coisas que nunca são o que parecem.


Eu andava com meus olhos entreabertos, uma semana no escuro e derrepente chego até a claridade, minhas retinas estão sensíveis.


Cada passo naquela estrada de terra parecia uma eternidade, há muito mato de cada lado, ninguém fala nada, eles apenas me levam como se eu fosse algum tipo de animal.


Chegamos a um lugar onde havia uma grande extensão redonda de terra e bem no meio se encontrava um poste, eles me levaram para frente do mesmo e ali qualquer esperança de vida que eu antes tinha havia morrido juntamente comigo.


 — Olhe para este pedaço de cera consagrada em Corpus Christi.


Olhei para o poste onde havia aparentemente palha enrolada..


— Estou olhando — falei para eles tentando não parecer debochado.


Eles se entreolharam e me levaram até o poste me amarrando no mesmo.


 Meu corpo dói mais do que nunca, eu estou extremamente fraco por não comer e raramente beber, estou sendo tratado como prisioneiro e eu sei o que vem agora, um poste e nas mãos do caçador há um galão, provávelmente com álcool.


 — Tragam-no.


As coisas que eu usei para fazer a poção estavam ali, na minha frente, eles trouxeram consigo e agora tocavam em cada coisa ali presente, o pequeno caldeirão de ferro fundido permanecia fechado com a poção não terminada.


Eles me cercaram. Haviam tantos e todos com suas armas enormes, mandando-me ficar no chão com as mãos para o alto de um jeito ameaçador, como se pudessem a qualquer momento fazer algo contra mim — e, de fato, podiam. Mesmo sabendo que era inútil, tentei usar magia contra os homens que me prendiam, arremessando um deles para longe. Logo que imaginei possuir alguma chance de me safar, senti uma dor nas costas tão imensa ao ponto de, subitamente, me fazer apagar por completo, acordando bem depois, ainda preso.


 — Você é um bruxo seguidor de Satã, em nome de tudo que é mais sagrado iremos te queimar, para sua alma perder o peso se confesse.


Um padre se colocou ali na frente e eu senti as lágrimas tomarem meus olhos. 


 — Eu não faço mal a ninguém, eu juro.


Não havia o que ser dito, eles me viram, eu fui pego e a única regra da minha avó era "não seja pego!".


 — Você é um bruxo e deve morrer.


Suas palavras não contém nexo. Eu sou um bruxo sim, mas não sou mal, dizer que eu uso a palavra de um demônio a meu favor é fácil, olhar a realidade é diferente, essas mesmas pessoas mataram minha avó, meus pais sempre tiveram medo de me deixar aprender aquilo que sou e eu sempre compreendi, mas só passei a entender após a execução de uma bruxa boa, minha avó.


 — Eu não posso negar porque vocês viram, mas tentem entender, eu não sou mal.


Eu só queria sentir as mãos da minha avó em meu rosto limpando minhas lágrimas e dizendo que tudo vai ficar bem.


 — Seus olhos são demoníacos.


Eu não me envolvo com coisas do outro lado, eu apenas faço magia, isso não significa que convoco os demônios.


Os homens giravam uma corda por todo o meu corpo e assim que terminaram eles começaram a jogar o combustível, aquele cheiro já estava me sufocando, aquilo entrava em minhas narinas e tampava minha respiração, eu sei que esse é o momento em que  eu morro.


 — Me desculpe vovó, eu não fui capaz de permanecer com a única exigência que me foi dada.


Minha voz saiu baixa assim como minha cabeça, meu olhar se fixava apenas nas cordas enroladas em meu corpo e por questões de segundos gritos começaram a vir assim como tiros daqueles que me prenderam em meio a essas cordas, ergui minha cabeça vendo pessoas me ajudando, não eram pessoas, são animais, talvez lobisomens?


Em mim não havia esperanças, havia medo, medo de morrer nas mãos de pessoas que matam e judiam de outros seres vivos, eu passei a semana chorando e tentando acreditar que algo bom aconteceria, e talvez esteja enfim acontecendo, toda a angustia que eu senti durante a semana está mais aliviada, talvez eles não me salvem, apenas mate aqueles que tanto lhe fazem mal, mas eu sei que não serei morto por eles.


Minha respiração está péssima e diante de tanto ataque eu comecei a entrar em desespero, minha cabeça roda pela tontura e pelo cheiro forte, flechas iam de um lado para o outro e uma acertou meu ombro me fazendo gritar.


Minha visão que antes se encontrava turva agora se apagou enquanto o sangue escorria pelo meu corpo sujando as cordas que me prendiam no poste.

••••

Meus olhos se abriam devagar e a dor tomava conta de mim, eu me encontro em um lugar escuro com uma janela pequena que emitia apenas a entrada de um pouco de luz, meus braços estão presos na cadeira e eu estou apenas com uma cueca branca grande.


Meu corpo se estremeceu e eu ouvi um som estridente vindo de cima da onde eu me encontrava.


Eu estou vivo, eu nunca quis morrer, sempre lutei para sobreviver mesmo sendo o que sou, sempre procurei o melhor para todos e em toda minha vida tentei ajudar as pessoas próximas a mim até que não sobrasse quase nenhuma.


As pessoas não se aproximavam de mim por eu aparentemente ser estranho, elas diziam que tinham medo de mim por eu ser apenas eu mesmo, na escola me evitavam e quando eu tocava em algum lugar, eles diziam que aquele local estava enfeitiçado, com o tempo eu aprendi a me portar em todos os lugares, aprendi que flutuar livros não é normal, meu pai em especial se assustou ao ouvir tudo aquilo, mas minha mãe já sabia, ela sabia de todos os riscos que gerar um filho poderia lhe trazer, ela contou ao meu pai o que minha avó era e meu pai compreendeu, mas me proibiu de tudo, eu vivia preso até minha avó vir me visitar e eu pedi para ser levado com ela, de certa forma eu fui levado e fui criado com ela na cidade, eu sou normal, sempre fui, meus pais me ligavam as vezes e com o tempo pararam, só ligaram de verdade após a morte da minha avó e agora quase 6 anos depois eles me visitavam as vezes, mas de certa forma, carregavam o medo com si, e eu sinto esse medo constantemente.


 — TEM ALGUÉM AQUI?


Gritei ouvindo minha voz ecoar pelo local.

E se eu estiver preso para ser morto? Aqui é diferente de onde eu estava antes, há uma grade ali na frente não muito visível com muitas correntes, eu não consigo achar uma explicação para isso, a única coisa que se passa na minha mente é que eu estou preso com alguém que tortura as pessoas.


— Eu vou ser torturado?— perguntei em um susurro.


Eu não tenho nada para eles, não tenho dinheiro e nem coisas raras para lhe entregar, porque me torturariam? Eu sou bruxo, mas se eu estiver com aqueles que pareciam lobos provávelmente eles sabem que nem todos de nós são maus.


A porta foi aberta e eu olhei rapidamente para cima das escadas, os passos pesados vinham até meus ouvidos e o cheiro de bode vinha com si.


 — Onde eu estou? Porque estou aqui?


Eu não conseguia ver seu rosto, mas conseguia sentir seu cheiro, ele estava parado no escuro atrás da luz e assim que deu um passo para frente eu pude visualizar sua aparência, ele tem chifres e é grande, maior que um humano, mas não muito, o suficiente, e ele é muito peludo, é como se ele estivesse saindo de sua transformação agora. Ele se aproximou um pouco mais com um prato e um copo, no prato havia um pedaço gigante de carne, era carne crua e aquilo embrulhou meu estômago, mesmo que eu estivesse com muita fome a ponto de estar fraco.


 — Não fazer mal a mim, você não será machucado também.


Sua voz era grosa no começo, mas se confundia e ficava mais fina, ele está em uma completa transformação e eu percebo isso agora.


Meu coração está acelerado, eu já não sei o que pode acontecer comigo, mas só em ouvir que ele não me fará mal talvez eu me sinta mais aliviado.


Seus pés são grandes com unhas enormes, suas mãos são cheias de pelos, suas roupas são grandes e isso explica um pouco a cueca que passou bem longe de ser , , e ele é bem alto.


Eu queria muito comer, mas aquilo não, eu não sou um monstro, ele espera algum milagre vindo de mim para comer esse pedaço de carne que parece ser de bode pelo cheiro?


 — Desculpa, você tem pão?


O grandão bufou, mas recuo negando com a cabeça. Parece ser óbvio minha resposta, ele deve comer isso todos os dias, o seu estilo de vida deve ser assim, eu não posso interferir apenas para matar minha fome de quem não come a mais tempo do que imagina.


 — Coma!


Ao ouvir sua voz autoritária eu apenas me sentei na cadeira olhando para o bife que nem garfo tinha.


 — E-eu não posso comer isso, desculpa.


 — É estranho tomar banho com alguém me olhando. —Ele apenas concordou se virando de costas.


Ele coçou a cabeça olhando para a carne e começou a andar de costas apenas para não tirar seus olhos de mim, ele se agachou pegando algo e eu voltei a olhar a carne, mas logo fechando meus olhos, eu esperava muito que fosse um pão ou uma pizza, ou qualquer coisa comestível, menos uma marreta para me matar.


Senti algo quente em minhas costas e me virei de uma vez vendo o mesmo ir para trás com as mãos novamente levantadas, dessa vez ele bufava, talvez, medo?


Ele havia posto uma manta em meu corpo, e se eu não fosse um prisioneiro eu diria que ele quer cuidar de mim.


 — O que você quer comigo?


O mesmo se aproximou novamente, mas dessa vez estendeu sua mão, ele estendeu aquelas mãos grandes e peludas para mim que receoso a segurei.


 — Jongin meu nome, e o seu ser como?


Ouvi sua pergunta enquanto ele me levantava, suas mãos estavam agarradas em meus ombros e eu só entendi o porquê ao me levantar de vez.

 

Quando eu tinha saído de uma cadeira para outra eu não havia percebido que estava tão fraco porque a distância era muito curta, mas agora eu percebo que estou em um nível horrível de fraqueza.


Gritei levemente ao ser levantado, ele estava me carregando em seus braços agora escada acima, ele está me levando embora do cativeiro. 


 — Seu nome é?


Acordei de meus devaneios e parei de olha-lo, ele tinha um bafo horrível, talvez ele precisasse apenas de uma escovação de dente.


 — K-kyungSoo!


Seu olhar veio de encontro ao meu, mas ele logo desviou, seus olhos são pretos e seu corpo é muito quente, eu tenho medo de toca-lo e ser machucado, principalmente agora que eu não tenho nem um tipo de poder como ajuda.


Ao sairmos do porão — se é que podemos chamá-lo assim —, entramos em um cômodo de aspecto antigo, até as paredes são feitas de pedras e, embora mal iluminada, era limpa. Um sofá estava isolado num canto, perto do que parece ser a cozinha e duas entradas. Ele me levou até uma delas, logo colocando-me em pé perto de um buraco no chão com uma tampa em cima que lembrava uma privada antiga. Assim como o resto da casa, o suposto banheiro não possuía muita iluminação além da que vinha de uma pequena janela, mas já era suficiente para ver Jongin mais claramente; pude notar que seus pelos são de um castanho escuro, quase preto.


 — Tomar banho, buraco fezes.


Me escorei na sua pia o olhando, seu modo de falar é estranho, mas facilmente entendido.


 — Água no corpo.


Eu concordei com a cabeça vendo sua expressão, ele parece assustado, mas quem está em um lugar estranho sou eu.


O mesmo se retirou do banheiro e eu olhei para aquele buraco pensando se deveria fazer ou não, então apenas abaixei a cueca que já estava se abaixando sozinha e fiz um esforço mesmo fraco para me manter agachado e não cair, mas foi perdido e eu acabei literalmente sentado, eu senti nojo por um segundo, mas me lembrei que eu talvez nem saia vivo daqui.


Minha sorte foi que eu não fiz nada, aquele lugar não permitiu e nem mesmo papel higiênico havia ali, eu estou fraco, não há mágica para limpar a bunda quando se está fraco.


 — Lave seu corpo.


Ele entrou com um balde de água colocando no chão, não há chuveiro aqui. Eu me escorei novamente na pia de pedra e o mesmo molhou seus dedos e esticou seu braço mantendo distância de mim, ele tocou meu braço com seu dedo e aquilo me fez arrepiar de certo modo.


 — Bruxo já pode tomar banho. — Então ele sabe que sou um bruxo.


O mesmo puxou uma cadeira de madeira igual a que eu me sentara no porão e me tocou me fazendo sentar, peguei a bucha que estava ali dentro e molhei na água que estava quentinha.


 — As buchas plantadas aqui são. 


Ele me olhava e dizia sobre as buchas, provavelmente ele queria dizer que era nova e que ele não havia usado.


 — É estranho tomar banho com alguém me olhando. — Ele apenas concordou se virando de costas.


 — Sua ajuda eu quero.


 — Em que posso ajudar? Eu não tenho dinheiro e tenho que voltar para casa, tenho um gatinho para alimentar.


Ele levou a mão até a cabeça e parecia confuso de certo modo. Eu não tenho um gato, talvez eu seja o gato que precisa ser alimentado, quer dizer, sua casa em certos lugares fede a carne, é como se ele mesmo matasse o bife para comer, eu já arranquei corações de vários animais e fiquei com uma certa pena, mas ele parece ter humanidade, ele até mesmo esquentou a água para mim.


 — Não agora, dizer não você não pode.


E se eu não puder ajudá-lo? Eu não tenho dinheiro, tô devendo no banco para conseguir pagar a casa na cidade e agora que nem estou trabalhando as coisas tendem a piorar.


 — Jongin seu nome, certo? Eu preciso de comida Jongin, mas comida de verdade e não carne crua.


Terminei de lavar a cueca grande e a vesti novamente mesmo molhada, não ia ficar com algo mais sujo que meu corpo, e eu nem consegui esfregar minhas costas.


 — Carne crua é bom, tem banana de pé.


Sua dicção é ao contrário, ele é um lobisomem, mas o pôr do sol já parece ter ido embora, porque ele ainda não voltou a ser humano?


 — O que... Você deseja?


O mesmo se virou para mim e seus olhos pareciam se encravar nos meus, ele se aproximou tão rápido que eu me levantei da cadeira indo para trás e sentindo suas mãos em mim.


 Em sua cozinha havia um bode morto, o que explica todo aquele cheiro, mas o que eu queria mesmo perguntar era o porquê de ele estar comendo aquilo cru, eu sei que ele é meio lobo, mas mesmo assim, sua parte humana deveria experimentar um tempero na carne.

  Em sua cozinha havia um bode morto, o que explica todo aquele cheiro, mas o que eu queria mesmo perguntar era o porquê de ele estar comendo aquilo cru, eu sei que ele é meio lobo, mas mesmo assim, sua parte humana deveria experimentar um tempero na carne.

   — Para onde estamos indo?

Perguntei para ele que segurava minha mão e andava devagar, ele tem consciência de que estou fraco.

Ele me deu uma cueca grande, limpa, uma blusa também branca e meia rasgada para vestir.


  — Você me conhece, vem.


Jongin abriu a porta de madeira rangente de um quarto e acendeu a luz. Havia alguém na cama, uma mulher deitada. Ele encostou a porta ainda segurando minha mão com leveza e nos aproximamos dela.


Sua pele pálida deitada na cama, seus olhos fechados, mesmo estando fraco eu consigo perceber a tristeza nela, é como se ela estivesse presa, mas viva.


   — Eu era um humano... — começou ele.  — Me sentei na grande cama e vi ele pegar a mão de sua mãe. 


   — Mãe dever para uma bruxa má que seu pequeno filho transformará em um Glabro, muitos anos depois mãe ficará na cama e appa cuidava, mas appa se foi e mamãe não acordou.  — Ele a tocava de uma maneira única, ele a ama mesmo que talvez ele não tenha vivido com ela. — Jongin foi atrás de bruxas, mas acabou ganhando um chifre ao invés de uma cura, errado sempre deu. Jongin sente-se sozinho, mamãe não reage a nada. Jongin sua ajuda quer.


Seus olhos se encontraram com os meus e eu não pude nem mesmo falar algo.

Pela forma que ele fala eu deduzi que ele está assim há anos, uma transformação de uma bruxa não é fácil de ser revertida, ainda mais para mim que sou apenas um bruxinho que tenta fazer receitas de amor.


Ele fala na terceira pessoa as vezes, pelo jeito ele cresceu apenas com seu pai que tentou lhe ensinar a falar, mas sua fala se perdeu e agora ele fala assim, não estou julgando, mas eu nunca vi isso antes.


   — Jongin sendo caçado está, floretistas mortos em seu resgates procuram a mim. Eu querer ser humano apenas.


É impossível, não que seja totalmente impossível, mas eu nunca procurei sobre, eu não sei qual foi o poder que ela jogou sobre ele, e mesmo que ele tenha salvado minha vida matando aqueles homens que me prenderam, eu ainda assim, não sei o que fazer para lhe recompensar. Ele está triste e sozinho, seu pai morreu e a mãe também, ele só não sabe disso.


—  Sua mãe, eu posso resolver, mas preciso comer comida própria para mim, e conversar sobre o estado atual dela.


Seus olhos meio amarelados se abriram completamente e eu pude ver um sorrisinho em seu rosto, ele parece um humano normal, mas sofre com os feitos de uma bruxa passada.


Eu queria que isso não tivesse acontecido, por causa dessas bruxas ruins, nós bruxos bons somos julgados por coisas nunca feitas antes.


Eu preciso ajudá-lo nem que seja um pouco, ele me ajudou mesmo querendo algo em troca, e agora eu estaria queimado se não fosse ele, meus sentidos estão fracos, eu sou bruxo e minha resistência é forte, mas no momento eu estou tão fraco que me sinto lerdo para tudo, até mesmo para pensar.

••••

Antes de sairmos, eu parei para perceber o quão tocado pelas minhas palavras ele ficou, segurando a mão de sua mãe ele me disse que não queria perde-la, e mesmo que eu tenha sido sincero e dito que a única maneira de salva-la é a libertando da maldição, e a deixando descansar para sempre.


Ele acha que eu vou fugir. O sol é tampado pelas grandes árvores que rodeiam sua casa, e enquanto ele fazia fogo eu peguei a carne que ele havia matado friamente. Não existe faca nessa casa e para tudo ele usa suas próprias mãos ou um pedaço de ferro cortante, ele diz não poder tocar naquilo, então eu mesmo cortei alguns pedaços para fazermos, mas admito que senti muita ânsia, e se tivesse forças ou algo para vomitar assim eu faria.


  — Fugir você não vai? — Ele tinha que ir atrás das coisas, mas não confiava em mim.

  — Jongin, você me salvou e eu vou tentar te ajudar da melhor maneira possível, tente confiar em mim, okay?


Ele concordou, mas continuou parado me olhando colocar a carne animal na churrasqueira improvisada. 


É estranho viver como ele, não há geladeira e nem nada que possamos dizer que é de alguém normal, mas ele não é normal, ele não teve uma infância como qualquer outra e teve apenas seu pai, ele tem um pequeno chifre que foi dado por uma bruxa na tentativa de reverter o que houve com ele, eu sou apenas um bruxo e não um deus, eu não sei se sou capaz de ajudá-lo, mas sei que sou capaz de ajudar sua mãe!


O cheiro já estava melhor e eu estava sentado por conta da tontura, o lobinho foi para a selva e eu acho que ele não vai gostar de ser chamado assim.


Carne sem tempero e nem sal, pelo menos não está crua ou fria.

Peguei o pedaço de carne com minhas mãos já que não havia os utensílios certos, estava bem quente, principalmente quando eu mordi, o gosto de sangue de carne mal passada logo veio e eu sorri ao sentir aquele gosto, para quem nunca havia comido carne de bode e muito menos  sem tempero está ótimo.


Talvez pela minha fome ou minha fraqueza eu senti uma forte tontura ao me deitar no sofá de sua casa, fechei meus olhos me permitindo relaxar, e quando finalmente achei que poderia pegar no sono, a porta é aberta e ele aparece na minha frente com o pedaço de chumbo que eu havia pedido. Eu não sei como ele conseguiu isso tão rápido, mas ele conseguiu, e não foi um pedaço pequeno.


  — Está bem você?


Ele se agachou na minha frente colocando um cacho de bananas inteiro no chão, ele tocou meu rosto e eu me assustei com o tamanho de suas unhas, elas estavam maiores, e sujas de sangue, seu rosto estava levemente machucado, talvez ele tenha se metido em briga por causa do chumbo.


Me sentei no sofá e ele pegou uma banana a descascando e me entregando. Ele é um pouco prestativo, Jongin percebeu que não estou bem e me deu uma banana, algo doce e que te mantém forte por ser fruta e ter cálcio, ele me olhou e me tocou como alguém que se preocupa, talvez ele nem de longe seja um monstro, ele tem sentimentos e eu percebi isso quando estávamos na cama de sua mãe e ele a olhava se perguntando o que fazer sobre sua situação atual.


Toquei sua mão que me entregava a fruta e ele se afastou ao sentir meu toque, ele tem medo quando eu o toco, e se sente seguro quando me toca.


Fui para frente pegando a fruta de sua mão e ele se sentou no chão tirando aquelas botinas  grades e totalmente desgastadas pelo grande tempo de uso, quer dizer, ele é um lobisomem, não precisa disso, mas seu pé é normal como se ele fosse um humano diferente, eu não sei muito o que ser um Glabro significa, e eu não tenho internet para descobrir.


Jongin se encostou no fundo da sala perto da lareira e fechou os olhos com seu braço em uma de suas pernas, eu terminei de comer a banana e peguei outra a abrindo e caminhei até ele estendendo minha mão para o mesmo que abriu os olhos devagar.


  — Você também tem que comer. Coma.


Ele pegou a banana a comendo de uma vez sem mordida nenhuma e eu voltei para o sofá. Eu sei que ele é assim, ele come carne crua, mas mastigar da uma digestão melhor das coisas, se eu conseguisse o trazer de volta ele não se adaptaria, e se ele se adaptar demoraria muito, mas eu posso ajudar sua mãe, ajudar a liberta-la do conflito entre dois mundos que ela passa.


— Eu preciso de uma panela muito quente com uma  lareira no quarto, preciso de um balde com água, de preferência gelada, e algo para pegar o chumbo já derretido.


O mesmo concordou se levantando, pegou o cacho de bananas e me olhou, olhando para elas de maneira confusa, ele colocou aquele cacho na minha frente e eu sorri para ele as pegando.


•••

Jongin estava debruçado sobre a cama com sua mãe, ele a apertava e beijava seu rosto repetidas vezes, assim que eu entrei no quarto ele se levantou indo para a cadeira ao lado de sua cama e eu prendi o lençol preto que achei no guarda roupa de seu quarto e fiz uma capa de bruxo, não quero que Jongin pense que não sou um bruxo sério, eu sou!


  — Jongin, você tem certeza?


Sua reação me dava pena, sua mão passava pelo rosto já envelhecido de sua mãe, seu corpo magro já estava descoberto e livres de roupas, ele tinha certeza daquilo, ele queria liberta-la.


  — Mamãe viver muito já, fizestes-me feliz por muito tempo, papai feliz era, eu feliz sou, filho sentirá falta de mamãe, mas mamãe morrer em meu coração jamais! Amo-te rainha.


Ele começou a chorar e sua lágrima caiu no rosto da mais velha. Jongin não é mau, ele não merecia isso, bruxas más são horríveis e ele confiou em uma segunda bruxa que apenas colocou um chifre em sua cabeça, ele não merece nada disso, não merece chorar sobre o leito de morte de sua mãe por anos, e só agora perceber que ela se vai de verdade e para sempre, mesmo que apenas sua alma esteja presa, seu corpo a prende e ela já não se encontra aqui, mas eu não contarei isso a ele.


  — Ela te agradece muito.


Falei, levando a mão até meu rosto que também estava molhado pelas minhas próprias lágrimas.


  — Falar com ela você pode?


Sua voz saiu tão animada que eu não consegui não mentir, talvez isso o confortasse mais, seu coração se sentiria de certa forma quentinho se eu conseguisse passar uma mensagem para sua mãe, mesmo que ele apenas acredite que essa mensagem chegará até ela e não que isso vá acontecer de verdade. Minha avó sempre me ensinou que se magoarmos alguém devemos procurar a melhor forma de pedir desculpa, e mandar sua mãe embora de vez será horrível para ele, essa é minha forma de me desculpar.


  — Sim jongin, ela te ouviu, e te agradeceu, ela quer que você fique bem e que coma muito para não ficar doente. 


Me lembrei que ele havia me dito que se sentia sozinho, e rapidamente acrescentei isso a minha fala.


 — E ela disse que não quer que você se sinta sozinho, quer que você faça amigos e monte sua própria aldeia!


Seus olhos estavam tão vermelhos, ele ao mesmo tempo que sorria, chorava.


Coloquei o chumbo dentro da panela que estava no fogo improvisado com madeiras, e peguei o pedaço de pau me posicionando para aquela tarefa.


  — Omma, ser diferente eu sou, me aceitar eles jamais irão, normal eu quero ser.


Jongin colocou sua cabeça sobre a barriga nua dela segurando sua mão e apenas chorou, eu não sabia o que lhe dizer, eu não sabia que ele era rejeitado, quem era aqueles que o ajudaram no dia que ele me salvou? Havia muitos como ele.


Peguei a colher de madeira improvisada de casca de coco verde e peguei o chumbo na mesma mandando Jongin se afastar, sua realidade bateu na hora e ele a beijou mais uma vez se afastando.


  — Amo-te.


Ela sempre foi sua única companhia, minha avó era minha única companhia e eu sofri muito, e assim como eu, ele também vive solitário, a diferença é que eu sempre tenho outros humanos ao meu redor e ele tem... Sua mãe!


  — Qual o nome dela?


Talvez aquele não fosse o momento, eu havia dito que conseguia falar com ela e agora estava perguntando seu nome, felizmente ele não é tão inteligente assim.


  — Kinsu, mãe eu chamo. — Disse com uma voz baixa.


Respirei fundo passando a colher por cima de seu corpo sem o tocá-lo, fechei meus olhos respirando fundo sentindo a energia vir até mim.


  — O poderoso Saturno, permita que este chumbo de a liberdade contraditória de um corpo inocente preso ao feitiço de uma bruxa maligna!


Ao sentir meus pelos se arrepiarem e uma necessidade enorme de abrir meus olhos, eu percebi que já estava pronto, ela estava desesperada, seu corpo pedia pela libertação!


Joguei de uma vez o chumbo dentro da água, e enfiei minha mão na mesma tirando a pedra que havia se transformado. Jongin olhou para aquilo como se eu tivesse feito alguma mágica, isso é ciência, mas tudo bem se ele quiser me achar foda por isso.


  — Liberte este corpo do que lhe prende aqui na terra, sua morte nada mais será que a libertação de um feitiço bem feito, a paz interior tomara conta, e assim enfim, poderá respirar em outro corpo com uma nova vida, EU TE LIBERTO!


Coloquei o chumbo em seu peito vendo seu corpo se contorcer imediatamente. Kinsu começou a entrar em guerra com si mesma e eu comecei a ouvir Jongin mandando eu parar de machuca-la e apenas fazer isso parar, quando senti que ele se aproximaria criei uma barreira que não permitia sua entrada e assim permaneci segurando o chumbo em seu corpo até ver o mesmo se acalma, e assim eu pude respirar novamente abrindo meus olhos, sentindo sua energia se esvaindo aos poucos até sair por completo.


  — Você...fez?


Cai no chão me sentindo totalmente fraco, aquele feitiço é um dos piores que eu já fiz, eu não estava com saúde para ele, e mesmo assim fiz, mas agora eu estou liberto, eu ajudei ele a salvar sua mãe, eu já paguei minha dívida com ele.


 — Me ouvindo você está?


Meus olhos se fechavam aos poucos e eu sentia sua mão em meu corpo, eu não sei se era capaz de seguir com mais nada naquele momento, queria apenas descansar e tirar todo aquele peso de mim.

°°°°

Mais de 30 minutos parado olhando para um ponto fixo a minha frente, a janela de seu quarto.


Ele está enterrando sua mãe e ao lado de um outro túmulo, o de seu pai, ele está fazendo isso, eu queria dizer algo a ele, mas o que dizer? Eu tenho que ir embora, tenho que trabalhar e pagar minhas contas, eu preciso de uma vida normal novamente!


Me levantei sentindo uma forte dor de cabeça, e ao abrir a porta havia uma bandeja com um pedaço de carne bem cortada e assada, com água e bananas com coco, havia um papel ao lado riscado, era uma página de livro grifada e ali continha uma frase "Despedidas são precisas, agradecer faz parte, me perdoe se te fiz mal, mas não me abandone."


Ele estava pedindo isso para mim? Para não deixá-lo? Mas ele é uma criatura diferente e ele tem suas transformações, como posso fazer isso? Eu tenho que ir embora não posso ficar aqui.


 — Jongin.

Chamei sua atenção e o mesmo me olhou rapidamente ainda jogando areia em cima do corpo de sua mãe.


  — Eu sinto muito...


Ele está sensível, não posso dizer isso a ele agora, tenho que esperar isso passar um pouco, mas eu nem mesmo sei que dia é hoje, eu nem sei se ainda tenho um emprego, essa é a questão.


  — Ao lado de Appa agora ela está, foram suficientes 19 anos, firme mamãe aguentou. 

Ela ficou presa por 19 anos, Jongin deve ter de 21 a 23, ele disse ser pequeno quando sua transformação veio. Isso explica também o desespero da libertação, ela sugou toda minha energia, e nem se eu quisesse eu poderia fazer algo a mais por ela, eu fiz o melhor que podia, mesmo que isso significasse uma morte.


  — Céu ou inferno ela foi?


Ouvi sua pergunta me despertando de meus devaneios e sorri negando com a cabeça.


  — Inferno não existe, demônios vivem no nosso meio. Lúcifer tem um castelo logo na entrada dos dois mundos, se você fizer um pacto com ele é automaticamente obrigado a beijar seu traseiro todo dia sabático.


Ele riu do que eu disse, e eu fiquei feliz por pelo menos ter feito ele rir com algo que teoricamente era verdade.


  — Ela se libertou, sua alma está em total construção agora, sua mãe ficará um tempo perdida, e assim que se encontrar com seu ressentimento ela irá para o céu. Não sei o que acontecesse depois, minha avó disse que quando eu fizesse 20 anos ela me contava, mas ela morreu antes.


  — Você tem? — Sorri o vendo bater a enxada na terra.


  — 24, e você?


  — O suficiente!


Eu sou mais velho, sua resposta foi breve demais, se ele quisesse se sentir superior teria dito sua idade, mas eu não ligo, eu apenas espero que ele não se sinta triste e sozinho pelo resto de sua vida.


Já lá dentro, eu passei a recompor minhas energias comendo tudo que ele havia me deixado, não vou negar que essa está melhor e bem mais temperada, eu trabalho em um restaurante como garçom, me sinto meio inútil as vezes por não saber cozinhar muita coisa.


  — Me ajudar a humano ser você vai?


Me assustei ao ouvir sua voz de repente, ele puxou a cadeira se sentando na ponta ao meu lado, com uma toalha limpando sua mão entre seus dedos.

Eu sei que estava decidido a não lhe dizer aquilo, mas era preciso, ele está aqui perguntando, então eu tenho que responde-lo.


  — Não Jongin, eu não tenho esse poder, não consigo reverter feitiços de bruxas grandes com a pessoa viva, apenas a própria bruxa que o fez pode desfazer. — Ele abaixou a cabeça e bateu com força contra a mesa de madeira.


  — Morreu, ajuda pedir impossível ser!


Eu não sou um bom amigo, nunca sei como tratar alguém que está sofrendo, e ele está sofrendo, sua mãe sofria, todos a sua volta sofrem.


  — Embora você vai?


Concordei com a cabeça soltando o palito da qual eu usava para comer e o olhei.


  — Vou.


Seu olhar ficou triste, mas ele logo levantou a cabeça me olhando de forma bruta, como se estivesse irritado.


  — Me levar você vai!


  — Am?


Ele saiu dali me deixando com perguntas passando em minha cabeça.

Ele quer ir junto? Mas ele é um "monstro", como ele iria viver comigo?


  — Jongin você não pode! — Ele estava tirando as roupas de seu guarda roupa e colocando em sua cama.


 — Porquê?

Suspirei.


   — Você viveria preso, aqui você tem liberdade, você pode correr e andar, lá você ficaria dentro de uma casa sozinho.


Ele não poderá sair com chifres e orelhas grandes e peludinhas, seu tamanho é grande, e ele claramente não se daria bem lá fora.


  — Mas eu quero humano ser, se humano não posso ser, viver com um eu quero.... Solitário eu sou, recusado por todos da minha espécie eu fui, eu preciso de você!



Oct. 27, 2018, 5:26 p.m. 0 Report Embed Follow story
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