Luar Follow story

Lá estava ela. A feição rígida, os olhos verdes demonstrando seriedade observando atentamente o discurso do Kazekage, entretanto atenta a qualquer movimentação. Os cabelos loiros estavam presos em um coque, diferente de seu penteado costumeiro, e vestia-se formalmente com uma camisa social azul petróleo e uma saia preta lisa que ia até o joelho. A imagem perfeita de uma diplomata e assistente de um Kage, e ninguém se atreveria a tentar qualquer ataque, já que a fama da mesma como kunoichi mais cruel de sua geração e força reconhecida pelo próprio Madara Uchiha a precedia. Qualquer outra pessoa que a observasse neste momento acreditaria que o olhar que ela passava por todo o salão enquanto Gaara – seu irmão e Kazekage – discursava não passava de ação tática como guarda costas não oficial. Mas eu sabia muito bem o que ela procurava quando seu olhar se cruzou com meu e certamente apenas eu percebi o leve sorriso que surgiu em seus lábios neste momento. Só eu percebi a sua postura mudar e o olhar suavizar.

Estávamos no evento de inauguração da via férrea que ligava Konoha e Suna, um novo meio de transporte que diminuiria o tempo de viagem que costumava durar três dias em apenas poucas horas. A primeira viagem já havia sido feita, depois de uma cerimônia mais simples na estação de Konoha. A festa oficial ocorreria em Suna, assim que o Hokage Kakashi, junto com os shinobi mais famosos da vila, chegassem ao destino com a viagem inaugural. É estranho pensar que com a paz no mundo após a guerra, nossas funções de Shinobi vinham se resumindo a basicamente fazer viagens diplomáticas e publicidade nos últimos anos.

- Acho melhor você desviar um pouco o olhar Tenten, outras pessoas vão acabar percebendo. – Hinata cochichou perto de mim, com um pequeno sorriso no rosto. Desde o fim da guerra, havíamos nos aproximado e acabamos nos tornando amigas próximas após a morte de Neji, que era seu primo e meu companheiro de time. Era a única que sabia da minha relação com Temari.

- Eu deixo tão na cara assim? – olhei para ela e ri constrangida.

- Para mim, pelo menos, sim. Seus olhos brilham quando você olha para ela. – Respondeu Hinata, sorrindo timidamente. Deixei escapar um suspiro frustrada. – Você tem certeza que quer acabar com tudo?

- Você sabe que nosso relacionamento não seria bem visto nem em Konoha, nem aqui. Nosso mundo alcançou a paz e passou por grandes guerras, mas ainda não foi capaz de aceitar nosso tipo de relacionamento. – Suspirei, contrariada. – E, ainda assim, eu não quero mais me esconder e manter as coisas do jeito que estão. E ela parece que está sendo cobrada pelos anciões de Suna a se casar, mas obviamente não com outra mulher.

Hinata pressionou meu ombro em sinal de apoio, o olhar entristecido. Sorri tristemente para ela. Infelizmente o fim do nosso relacionamento seria o melhor para nós duas e já estava fadado a isso desde que começou, dois anos após nos conhecermos no Exame Chuunin, quando fui enviada para auxiliar o time Kakashi no resgate de seu irmão.

Desde então, nosso relacionamento se resumia a troca de cartas e encontros esporádicos quando ela precisava ir a Konoha ou quando eu dava um jeito de pegar missões que fosse possível que eu passasse por Suna. Me deixei levar um pouco pelas lembranças que inundavam minha mente e tomei um susto quando percebi o restante da plateia já aplaudindo o discurso de Gaara. Imediatamente, também bati as minhas e voltei a prestar atenção no pequeno palco montado ao fundo do salão. Percebi que ela já não estava mais lá e Hinata também já havia desaparecido do meu lado, provavelmente fora de encontro a Naruto.

- Procurando alguém? – ouvir a voz dela sussurrar a pergunta em meu ouvido fez com que todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. Era ridículo como ela tinha o poder de me desnortear sem fazer o mínimo de esforço.

- Bem, não estou mais. – Respondi, evitando olhar para ela. Eu sabia que bastava cruzar o olhar com o dela que eu desistiria completamente de finalizar.

- Vem comigo, já estão todos distraídos o suficiente para notar nossa ausência.

- Acho melhor não, a Hinata pode voltar a qualquer momento. – Respondi, ainda sem olhar para ela e a ouvi bufar antes de se posicionar a minha frente, os olhos irritados nos meus.

- Qual o seu problema? Você não tinha algo importante para conversar comigo? Pelo menos foi o que me disse na última carta que me enviou. – Eu não era estúpida e percebi que ela parecia magoada, provavelmente percebeu minhas intenções. Droga, como eu odiei aquele olhar de dor e me culpei.

- Olha, Temari, eu não sei se vai continuar dando certo a gente ficar assim... – tentei começar a explicar, mas ela me deu as costas e começou a caminhar para o lado de fora do salão onde estávamos. Bufei e a segui para a varanda, a qual estava fechada para os convidados, mas não era um problema para ela, que possuía a chave da porta que dava acesso ao local. O vento forte e o frio me pegaram desprevenida, me fazendo arrepiar.

- Pronto, agora vamos conversar de maneira decente e você pode explicar o porquê de estar agindo estranha comigo. Você quer terminar? – direta ao ponto, como sempre. Essa era uma das características que mais me encantavam nela. Suspirei, triste, e desviei o olhar dela. – Pelo menos olhe para mim quando disser o que quer.

- Se eu olhar, eu não vou ter coragem de acabar com isso. – Eu já sentia meus olhos queimando e as lágrimas se formando. – É impossível te ver e não querer te beijar imediatamente.

- Então por quê? – a voz dela soava magoada, porém firme. Ela tocou sua mão esquerda na minha face, me obrigando a olhar para ela. Merda, ela ficava tão linda sob a luz da lua cheia, com as vestes e o cabelo sendo bagunçados pelo vento. Respirei fundo antes de responder.

- Porque esse relacionamento não tem futuro e você sabe disso. Nós não somos mais as adolescentes de quando começamos isso, você vai ter que se casar e eu nem sei o que fazer mais da minha vida... Já estamos juntas a quase cinco anos e quase não nos vimos durante esse tempo, além de haver o provável escândalo que aconteceria caso nosso relacionamento venha a tona. Eu não quero mais viver assim. – as lágrimas corriam livremente pelo meu rosto, e de alguma forma eu senti o coração mais leve quando pus tudo para fora. Entretanto, não tive muito tempo de sequer notar qual foi a reação dela, pois ela colou seus lábios aos meus repentinamente.

Eu imediatamente a correspondi, toda a saudade que sentia dela se transbordando. Na última vez que nos vimos, ela fora a Konoha e a levei para curtirmos um pouco as fontes termais. Senti o corpo aquecer, apesar do vento frio. Paramos um momento, as respirações ofegantes, as testas ainda coladas. Abri os olhos e percebi que ela sorria.

- Eu também não consigo te ver sem querer te beijar. – Ela, então, abriu os olhos e pude ver que ela segurava as lágrimas, embora um sorriso contido ainda brincasse em seu rosto. – Merda... Eu só queria te levar pro meu quarto agora.

- Se você continuar falando assim, vou perder o pouco da coragem que ainda me resta... – mal terminei minha fala e ela já me beijava novamente, dessa vez com maior intensidade e volúpia. Novamente, me entreguei aos seus beijos, às nossas carícias, a nossa conexão que eu acreditava existir. – Que merda, Temari! Você não ‘ta facilitando as coisas por aqui.

Ela suspirou, concordando com a cabeça.

- É, eu sei... Eu não quero te perder, mas sei que você tem razão e que terminarmos pode ser o melhor para nós duas. Então só me deixa te ter mais um pouco antes de você partir de vez.

Eu não tinha como negar um pedido daqueles. E, dessa vez, fui eu quem a beijei. Trocamos carícias, palavras de afeto e o luar testemunhou mais uma de nossas noites de amor. E, mais tarde, também foram os lençóis de sua cama, como tantas outras vezes. Fora tudo mais intenso, nos entregamos de corpo e alma.

Provavelmente me faltaria coragem de dizer adeus no dia seguinte. Provavelmente eu voltaria atrás na minha decisão. Mas, no momento, eu pouco me importava, pois estava com ela.