Levantou cedo naquele dia chuvoso, pegou sua toalha desenhada com unicórnios de cor azul e rosa, com um toque amarelo bebê, entrou então para o banheiro fechando o box, ligou na temperatura quente, pois o tempo lá fora não ajudava muito, teria que sair debaixo daquele temporal, e tomar banho quente para depois sair no frio, era algo que estava longe dos planos de Huang ZiTao, esses para o fim de semana e não poderia cogitar a possibilidade de adoecer justamente na quinta feira.
Cantarolava Stand By Me do Oasis, banda de rock dos anos 90, que o garoto de 23 anos adorava e ainda torcia para o retorno dos mesmos, ainda que esse retorno não acontecesse tão cedo.
“So what's the matter with you?
Sing me something new
Don't you know the cold and wind and rain don't know?
They only seem to come and go away
Stand by me
Nobody knows
The way it's gonna be
Stand by me
Nobody knows
The way it's gonna be
Stand by me
Nobody knows
The way it's gonna be
Stand by me
Nobody knows
Yeah, nobody knows
The way it's gonna be..”
ZiTao era o típico garoto tímido que tentava tirar o máximo de sua profissão como estilista, conhecendo lugares diferentes onde era contratado para trabalhar, com tantas pessoas distintas, a partir dali, ZiTao ou apenas Tao, como preferia ser chamado, tentava deixar de lado a timidez de garoto do interior. Deixou os pais e um irmão mais novo para morar na famosa cidade grande, Nova York, sempre fora seu sonho de menino seguir a profissão que escolheu, desenhar roupas de grife e marcas famosas, em Nova York, já tinha metade do caminho andado, trabalhando com ninguém mais ninguém menos que Michael Halpern, dono da Halpern Studio. O garoto Tao sentia no peito que um dia realizaria seu maior sonho: ter sua própria marca.
Morava há 1 ano com sua melhor amiga, Irene, a qual trabalhavam junto, fazendo de seus dias os melhores e mais interessantes na companhia da moça ingênua que vivia arrumando confusão e muitas das vezes, acabava se dando mal, porém, Tao, como o velho e bom amigo, vivia livrando a moça das enrascadas... quando conseguia claro.
(...)
Terminou o banho demorado, enrolou-se na toalha, Irene estava encostada na porta com seus olhos vermelhos, indicando que havia chorado. Mais problemas a vista, pensou o garoto.
- O que foi amiga? - Tao estava preocupado, Irene então, o abraçou, se debulhando em lágrimas, Tao não sabia o que dizer mas já tinha uma noção do que havia acontecido. – Ele terminou não é?
- Poxa amigo, tudo ia tão bem entre nós sabe. Eu não sei o que fiz de errado para ele ter simplesmente dito que queria um tempo.
Tao comovido com as lágrimas torturosas da amiga, a levou até a cama e a sentou.
- Me dá 5 minutos pra pelo menos, eu colocar uma cueca e uma bermuda, senão você terá a visão do inferno se me ver pelado.
A garota sorriu fofo secando as lágrimas, Tao tinha o dom de fazer com que a dor dela fosse amenizada, mesmo que brincasse com a própria baixa estima. – Até parece, você tem um corpo lindo. Nunca te vi totalmente pelado mas só de boxer sim e foi uma visão privilegiada.
- Tá bom, Nenê. Vou colocar a roupa e já volto. – Saiu de perto da garota, indo até seu closet, pegou o primeiro short que viu no local, um apertado na coxa, que deixava bem marcada sua silhueta, pegou também uma boxer preta, vestindo as peças no próprio lugar que tinha bastante espaço. Voltou para a companhia da morena que havia voltado as lágrimas se lembrando do namorado que a abandonou.
- Agora pode dizer flor. Quero saber tudo.
- Então, Jongin disse ontem a noite que queria um tempo. Não me lembro de ter feito algo que o desagradasse. Ele só pode ter se interessado por outra garota.
- Nenê, ficaram juntos por quanto tempo? - Ela mordeu o lábio, talvez por sentir vergonha com o que diria a seguir, olhou para o amigo com aquela carinha de cachorrinho que caiu da mudança e então falou:
- 10 dias... mas foram os melhores 10 dias da minha vida Tao.
- 10 dias amiga? 10 dias e você tá assim? Imagina se fosse um casamento com direito a filhos? Tudo bem caso fosse esse mas só 10 dias?
Ela se levantou furiosa com o argumento que o amigo usou, o encarou com as mãos na cintura, bufando sentindo seu corpo queimar afinal, ela estava correta, ter se apaixonado por um estranho que conheceu numa balada num fim de semana. Pelo menos ela pensava estar certa.
- Você me conhece, Huang, sabe como sou carente de carinho e atenção. Sou tipo...
Suspirou olhando para si mesma, através do vestido floral que trajava, sentiu vergonha por se entregar tão facilmente a quem não conhece o bastante. – Sou uma idiota mesmo, eu sei... – Voltou a chorar e se martirizar quando o Huang a abraçou acariciando seus cabelos a sentando na cama novamente.
- Amiga, precisamos refletir os pontos negativos da sua relação. Jongin é bastante excêntrico você sabe disso. Você fez algo errado com certeza.
- Poxa Tao, porque a culpa deve ser minha? E se ele errou? Se ele me traiu?
- Bom, vamos fazer o seguinte, acho que estamos atrasados para o trabalho e sabe como é nosso chefe. A Yerim já deve estar chegando e eu estou de bermuda e você de floral. Vamos conversar no caminho.
Olhou a hora no relógio, afastou -se da amiga, indo para seu closet escolhendo uma roupa bonita para ir para o trabalho. Irene por sua vez, fez o mesmo, indo ao seu quarto se arrumar. Tao escolheu uma calça marfim de linho 500 fios, uma camisa Baby look branca com listras azuis que deixava marcado seu corpo trabalhando com músculos que pareciam rasgar o tecido fino, posicionou - se em frente ao espelho, fazendo um laço de cetim em torno do pescoço, utensílio que o menino adorava compartilhar aos olhos alheios, mesmo que a primeira vista, o gosto fosse duvidoso mas Tao sabia das tendências e usava e abusava de todas elas. Calçou uma sandália de couro preta, gostava também de mostrar seus pés bem delineados e bonitos de se observar, pegou sua bolsa de mesma coloração da calça que usava, o Huang gostava das combinações calça x bolsa ou sapatos. Ah sim, Huang ZiTao era homossexual assumido, não se importando com a opinião alheia.
Deu uma última olhada no espelho, ajeitando os fios do cabelo que insistiam em ficar fora do lugar, arrumou a gola da camisa listrada de azul, deu um belo sorriso junto a uma piscadela e saiu do quarto indo ao quarto no fim do corredor que pertencia a Irene. A garota já estava pronta para trabalhar, usava um belo vestido verde água, um pouco acima dos joelhos, com detalhes de renda branca nas alças, uma sapatilha marfim e uma bolsa de mesma coloração.
- Vai para qual loja? - Tao fez um trocadilho mas ela não entendeu.
- Como assim?
- Porque parece uma bonequinha vestida assim.
Irene olhou para o vestido com um belo sorriso nos lábios, ajeitou a bolsa no ombro esquerdo, deu uma meia volta e logo falou:
- Será que... Jongin vai voltar atrás?
Tao puxou a amiga pela mão, saindo de casa e ligou para Yerim, avisando que já estavam prontos a espera da moça e motorista de ambos.
- Você deveria passar a se vestir pra você mesma e não para os outros. Faça como eu. Ame a sim mesma antes de amar alguém.
- Eu queria ter mesmo essa confiança que você tem.
- Vou te ensinar amiga. Pode ter certeza que vai aprender com o melhor.
Sorriu com o que acabara de dizer, não que Tao fosse orgulhoso de si mas, aprendeu a não entregar seu coração a quaquer um e a amar-se a sim mesmo antes de qualquer outra coisa. Yerim estacionou na beirada da calçada e lá se foram os três para o trabalho.
(...)
- Eu não quero falar desse assunto Yerim. – Irene falava levando o copo de cappuccino na boca antes mesmo da loira dizer algo, porém, ao terminar a frase, a própria Irene desabou novamente pela milionésima vez naquela manhã chuvosa. – Porque isso sempre acontece comigo? Nada da certo na minha vida. Ninguém me ama.
- Calma amiga... talvez seja só um tempo que ele precisa. – Yerim tentava acalmar a morena que chorava antes de entrar para o prédio onde trabalhavam.
- Poxa, tudo ia tão bem pra 10 dias de namoro sabe. Eu não entendo.
Tao abriu as porta para que as amigas entrassem, continuaram a conversa até o elevador.
- Ele deve ter tido seus motivos, Nenê. Já te falei.
- Tao, você fala isso porque não se prende a ninguém. Mas eu sou mesmo uma boba que se apaixona a toa. Então, só estou recebendo o que plantei.
- Não é pra tanto né amiga. Espera, você já está apaixonada? - Yerim estava curiosa sobre a resposta.
- Completamente. – Tao respondeu por ela abrindo a porta do elevador. Ao ver os 3 entrando no departamento, o chefe de modelos, Zhang Yixing, os convocou para uma reunião de última hora.
- Vamos crianças, reunião na sala rosa agora. – Falou batendo palmas e saiu esbaforido pelo andar até a sala de reuniões, nomeada sala rosa. Tao, Irene e Yerim tentaram o acompanhar mas o chefe já estava longe, chegaram então a sala, tiraram os sapatos, sentando-se em almofadas espalhadas. A reunião seria com o dono, Michael Halpern, que tinha novidades.
- Bom meus amores, nossa reunião de hoje é para comunicar-lhes que fomos contratados para fazer as roupas do casamento de Linda Fargo.
Linda Fargo, considerada os “olhos da Bergdorf Goodman”, por materializar a voz da marca em produções inacreditáveis na loja de departamentos em Nova York. Ícone da moda para qualquer fashionista, para aqueles estilistas não seria diferente.
- Meu Deus que honra! - Yerim expressou sua gratidão por ser escolhida para trabalhar para alguém tão importante, porém, Zhang Yixing reparou no olhar avermelhado de Irene e então comentou:
- Nenê, você está bem?
Ela olhou para o chinês balançando a cabeça afirmando que estava.
- Não parece Nenê. – Michael indagou e Tao precisou tomar a palavra.
- Ela está bem, Michael. Só terminou um namoro recentemente mas já vai melhorar.
- Oh querida eu sinto muito. Seu ex não sabe o que está perdendo. Você vai encontrar alguém mil vezes melhor.
- Sim... vou... – A morena respondeu com os olhos marejados, voltou a atenção em Tao que acariciava sua mão e deram continuação a reunião. Ao término da mesma, voltaram para suas salas, Irene e Yerim foram para a do Huang, que havia pedido mousse de Coco com chocolate para acalmar a tensão, fecharam a porta quando o entregador trouxe o doce, sentaram-se nas almofadas no chão e passaram a papear sobre o fiasco do namoro de 10 dias de Irene.
- Amiga conta tudo o que aconteceu nesses 10 dias. Mas não esconda nada para que possamos te ajudar. – Tao falou levando uma colher considerável de doce na boca.
- Então... Eu gostava de ligar pra ele todos os dias, tipo na hora do almoço, do café da tarde e a noite.
- Você ligava o dia todo?
- Não... sim...
- Nenê! Homens não gostam de mulheres no pé tá. Eu sei disso.
- Poxa, eu só queria ele por perto, sentia tanto sua falta, mas depois que disse que o amava ele...
- Você o que? - Tao já ficava irritado com aquilo, achando impossível ajudar Irene daquela vez. – Depois de quantos dias você disse isso?
- Depois de 7 dias... 5...
- Irene! Você ficou maluca? Como você pode amar alguém em 5 dias? Alguém que você conheceu na balada e que com certeza, ficou com o time do Barcelona inteiro antes de você?
- Eu sei que sou idiota. Não precisa lembrar o tempo todo.
Tao percebeu que a amiga estava ficando cada vez pior com aquela conversa, ao invés de melhorar seu dia, o Huang só piorava a situação. – Olha amiga, vou te ensinar como conquistar um cara.
- Mas eu não sei como não cometer mais os mesmos erros, Tao. Eu não acredito que homens não gostam de serem surpreendidos no trabalho, ou com várias ligações por dia, ou até mesmo quando a mulher se emociona depois da primeira transa.
- Espera, você chorou? - Yerim perguntou confusa com a boca melada com o creme do doce.
- Chorei sim. Fiquei emocionada. Todas as mulheres ficam emocionadas.
- Não ficam. Pode ter certeza.
- Amiga, eu vou provar que a sua teoria está completamente errada. – Tao ainda tentava fazer com que Irene entendesse onde estava errando mas até então sem êxito.
- Não está Tao! Esses brutamontes que não tem coração. São uns ogros sem sentimentos.
- Ei! Eu ainda sou homem tá.
- Que gosta de homem então pode ser classificado como uma mulher.
- Independente disso. Você fez tudo errado por isso perdeu Jongin e eu vou te provar.
- E como pretende fazer isso?
Tao olhou para as duas que o encaravam atentas em cada palavra que poderia pronunciar ali, deixou a taça com o doce no chão e pensou em algumas possibilidades.
- Já que posso ser classificado como mulher, por gostar de homens, vou procurar um cara, faze-lo se interessar por mim e a partir dali, vou fazer ele se arrepender disso.
- Como assim? Eu não fiz nada de propósito com Jongin. Fiz por amor. – Irene ainda se defendia e Yerim passou apenas a observar o plano do amigo.
- Eu sei Nenê, vou te provar que homens não gostam de mulheres pegajosas, chatas, choronas, enfim, como você quando agia com Jongin.
- Isso doeu.
- Me desculpe amiga, mas sabe que estou certo. Só quero que você entenda que fez tudo errado.
- Eu aceito o desafio. Se você realmente provar que a sua teoria está correta, eu mudo todos os meus conceitos e passo a ouvir seus conselhos.
- Ouvir não basta amiga, tem que seguir. – Yerim falou terminando o doce que já parecia enjoativo.
- Sim. Irei seguir seus conselhos.
- Okay. Balada amanhã a noite e vamos dar início ao plano.
- Estou me sentindo dentro de um filme como a vilã. – Irene riu da situação imaginando como será esse plano maluco.
- Nosso plano irá se chamar “Como namorar ao contrário”. – Yerim deu a ideia para um nome, bem tosca por sinal.
- Nossa, tem nomes melhores Yerim! Acho que pode ser “Cometendo os erros mais normais numa relação.”
- Não. Grande demais. Será “ Como perder um homem em 10 dias.” - O Huang falou e as meninas gritaram o abraçando pela ideia.
- Perfeito o nome! Adorei! Como perder um homem em 10 dias. Você terá 10 dias pra fazer um cara se arrepender de ter te conhecido.
- Fechado. Amanhã daremos início ao plano.
Bateram nas mãos uns dos outros, se levantaram do chão jogando as vasilhas descartáveis no lixo, dali voltaram ao trabalho, esse que estava atrasado e tinham muito o que fazer pela frente.
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