Desde que decidi me tornar uma escritora, havia passado a frequentar cafeterias, e consequentemente a gostar de café.
Era aconchegante o lugar, com pessoas entrando e saindo durante toda manhã apressadas para um compromisso.
Assistir à vida de todas elas, enquanto desfrutava de um café quente, me dava a inspiração necessária.
Entre as inúmeras pessoas que por ali passavam todos os dias, existia uma em especial, que sempre recebia minha atenção.
Diferente de mim, a morena baixinha que se escondia atrás de uma franja, não parecia desenvolver nenhum tipo de amor pela cafeína, apesar disso, todo dia estava ali, marcando presença em uma das mesas do canto, perto de onde ficava a vitrine com bolo de cenoura.
Com o passar dos dias, descobri que seu nome era Taeyeon, e que seu amor era dedicado a Jéssica, a garçonete americana que tinha sempre uma carranca no rosto.
Passava-se o dia e lá estava ela, às 7:30 sem nenhum atraso, se acomodava na cadeira, chamava a causadora de sua insônia a noite, fazia seu pedido:
— Café com leite — Era seu pedido de sempre, sua marca.
E o resto da manhã rabiscava coisas em um caderno, talvez desenhos, poemas ou melodias para uma música, o que era de fato? Nunca saberei, por isso gosto de acreditar que aquele caderno possuía poemas, e que cada verso era dedicados a sua amada de expressão fria.
Não, eu nunca nem mesmo cheguei a conversar com nenhuma das duas, mas nutri empatia por ambas as envolvidas, quando vi Taeyeon finalmente se confessar, entregando um de seus poemas junto com a gorjeta, e Jessica corresponder, me senti feliz por elas, considerei até usar algo daquela história para meu livro.
Era interessante ver o desenvolvimento daquela relação, um tanto peculiar, admito. Mas o que importa o que eu achava? Eu era apenas um mero expectador que assistia cada capítulo da história daquele amor.
Mas um dia, Taeyeon não chegou às 7:30, talvez se atrasou, mas às 8:30 chegou e nada da baixinha aparecer, os dias se sucederam, até Jéssica por algum tempo sumiu.
Fiquei agoniada, já temendo pelo pior, mas nem quando já esperamos por ele, a dor se ameniza, as notícias rodam rápido, e o mistério foi resolvido, “Oh, pobre garota, tão jovem para morrer dessa maneira” uma velhinha disse, em um sincero lamento, e assim soube, a baixinha havia sofrido um AVC e não conseguiu ser atendida a tempo.
Hoje, já não se tem mais livro, café com leite, ou poemas amadores de amor, e a mesa do lado do bolo de cenoura ninguém ousa ocupar.
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