Foi naquele dia chuvoso.
Nós dois estávamos atrasados porque você demora demais no banho e quando eu passei na sua casa você não estava pronto. Se quer saber, honestamente, Oikawa, aquele seu sorriso divertido de quem não se importava com o fato de termos perdido o ônibus e pegado chuva – sem guarda-chuva, já que você nunca o carregava e ainda havia sumido com o meu –, me fez querer atirá-lo na frente de um ônibus.
Mas é claro que você não ia querer saber, e mesmo que soubesse não levaria a sério, porque estava ocupado demais dançando como um idiota, pulando de poça em poça e sujando os tênis que eu sabia que ia ter que ajudar a lavar depois; e ainda sorrindo de forma boba enquanto me puxava pela mão nas ruas vazias – só havia um idiota para querer pegar chuva durante aquele temporal, e um mais idiota ainda por simplesmente não deixá-lo sozinho ali – e cantarolava aquelas músicas pop tão irritantes quanto esse seu sorrisinho animado.
Se quer saber também, vou dizer mesmo que você ainda não queria saber, você me tira do sério. E eu odeio meu autocontrole falhando perto de você, odeio porque adoro. Porque me faz querer mais de você e desse teu sorriso bobo só pra mim.
E isso é uma merda, sabe? Porque você é meu melhor amigo e eu não deveria me sentir assim, porque você é um espírito livre e eu duvido que vá querer se prender a alguém, porque você é uma maré agitada e eu tinha medo de navegar…
— Uma moeda por seus pensamentos, Iwa-chan! — Você ainda exibia aquele sorriso idiota quando mostrou uma moeda que guardava no bolso, e eu fiz cara feia porque meu olhar vidrado disfarçava o quanto eu queria beijar sua boca. Na verdade, estava olhando pra ela naquela hora.
— Você é um idiota.
Vi suas expressões mudando, o sorriso se transformando num bico dramático enquanto punha a mão no peito. Sinceramente, Oikawa...seus dramas ainda vão me fazer explodir.
— Você é malvado, Iwa-chan!
Segundos depois, estávamos andando lado a lado outra vez e você cantarolava como se nada tivesse acontecido, nossas mãos se esbarraram, estavam frias, e você escondeu as suas porque tinha vergonha de alguns calos que os treinos excessivos lhe causaram.
Quantas vezes eu não te avisei sobre isso?
Quantas vezes te arrastei pra casa depois de horas treinando até a exaustão? Quantas vezes não cuidei dos teus resfriados e, Kami-sama, quantas vezes vou ter que fazer isso até que você pare de dar atenção àquelas malditas fãs e olhe pra mim?
Que inferno, Oikawa!
E depois você começou a espirrar!
— Assim que chegarmos ao colégio você vai tomar um banho quente no vestiário.
Você reclamou, a voz manhosa se manifestou quando agarrou meu braço e pôs a cabeça em meus ombros. O cheiro de jasmim que vinha da tua pele era uma distração absurda, senti os olhos turvos por um segundo enquanto suas lamúrias ecoavam pelo asfalto.
— Não, Iwa-chan! Eu quero jogar logo! Não estou doente, estou ó... — Um outro espirro interrompeu sua frase e eu acelerei o passo, aproveitando nosso grude momentâneo para te levar comigo.
— Nem comece a discutir!
Não entramos na quadra, mas pedimos desculpas ao treinador do lado de fora. Depois daquilo, ainda tive que arrastá-lo pelas orelhas até o vestiário e praticamente arrancar sua blusa e sapatos antes que você finalmente fosse para dentro do box.
— Rude, Iwa-chan! Rude! — Movi meus lábios, dublando sua fala, já sabendo que aquilo viria, e rindo em silêncio enquanto você resmungava um ou outro palavrão malcriado. E ainda vi sua silhueta se arrepiar quando afirmei estar ouvindo.
Oh sim, eu não deveria espionar sua sombra durante o banho. Mas não vou me desculpar.
Troquei minhas roupas molhadas enquanto o vapor do seu banho subia, e, na medida em que você suspirava aliviado, eu relaxava por saber que você estaria bem. E se estava achando que ia ficar exposto ao frio na volta, trashkawa... Que fosse sonhando!
Sentei num banco de madeira qualquer no canto do vestiário, os olhos fechando naquela névoa quente e confortável que possuía o teu cheiro, sentindo um calafrio familiar e pensando que era melhor comprar um remédio para febre depois que te colocasse dentro do ônibus pra casa.
Ah, quanta dor de cabeça para um dia só…
Deixei a moleza tomar conta de meu corpo por alguns instantes, enquanto você continuava a cantarolar debaixo d'água, e creio ter me encolhido um pouco no processo. Estava frio, mas o calor da água me aquecia e o teu cheiro era relaxante.
Poderia parecer besteira, mas aquele sentimento era familiar porque estava comigo vinte e quatro horas por dia. Você sempre pairando sobre mim como uma espécie de sol e eu absorvendo um pouco desse teu calor irradiante.
Não ouvi você fechando o chuveiro, estava quentinho e confortável e eu já deveria estar sonolento, mas senti teu toque preocupado em minha testa, e o casaco do time, que você havia esquecido aqui no dia anterior, sobre mim.
— Você está sempre cuidando de mim, Iwa-chan...— Não soube se era um sonho, mas você me puxou devagar e eu senti teu peito quente me apoiando, teus braços me envolvendo. — Será que um dia vai deixar eu cuidar de você?
No primeiro instante pensei estar delirando, tomado pela febre, mas as batidas compassadas do teu coração e as mãos acariciando minhas costas pareciam muito reais. No segundo instante, fui tragado pela semi inconsciência e tudo se resumia ao barulho da chuva ao encostar na janela e uma movimentação meio atrapalhada, minha cabeça e um pouco do meu tronco repousarem sob suas pernas erguidas. No terceiro instante, meus lábios formigaram, pressionados por uma maciez que era desconhecida e ao mesmo tempo familiar.
Naquele dia chuvoso, despertei com seu rosto grudado ao meu e você corou até o último fio de cabelo enquanto eu me levantava, completamente surpreso e extasiado.
Naquele dia chuvoso, meu auto controle cedeu de vez e eu puxei você para mais perto antes de tomar seus lábios da forma devida.
Naquele dia chuvoso, nós nos confessamos e eu me apaixonei mais uma vez por você.
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