A definição de lar não significa onde você mora, mas sim onde você encontra a sua paz.
- P. Nystrom -
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Estava chovendo. E talvez isso fosse a melhor e a pior coisa para ele. A chuva pode fazer um pecado ser perdoado. Deixava seus devaneios filosóficos sobre perdão, aguaceiro e passado fluírem, assim como aquele fatídico outono chuvoso.
O dia mais perfeito também pode ser o dia mais trágico de todos.
As folhas de um caderno estavam jogadas no chão ao seu redor, o colo em que se encontrava deitado, lembrava aroma de café, pois aquecia e tranquilizava a sua alma. O som e o cheiro da chuva o agradavam, não tanto quanto o cafuné que estava ganhando, mesmo que sempre bagunçasse seu cabelo de uma maneira interessante, ela sempre os ajeitava depois, típico de mãe, ponderava retribuindo com mesmo sorriso singelo.
— Gostei disso — Exibiu aquele sorriso que tinha o significado de ‘você tem a minha benção’. — Então... Este é o esboço da sua Monalisa?
— Igual a prévia para uma tempestade, diferente desta. — Está longe de ser um esboço, pensara ao estar confortavelmente ali, fechou os olhos.
— Dias tempestuosos serviam como uma renovação da esperança na antiguidade, era o sinal que Thor havia recuperado seu martelo. — Fazendo-lhe uma massagem capilar, ele sabia que era uma forma dela tirar o seu receio. Mães são todas iguais.
— Você acha... Que ela vai gostar...?
Ela lhe trouxe para mais perto de si, lhe abraçando. Dizia a si mesmo que o abraço dela era igual a um doce recém-saído do fogão, pois sempre aquecia seu coração, arrancando-lhe um sorriso e um obrigado mãe.
— Acho que a Lis ficaria feliz por você estar transformando isso em algo totalmente seu, — em diversos pontos deste mundo, mães serão sempre as que conhecem melhor os seus filhos, e por serem assim, era que ela passava gentilmente a ponta de seu dedo sobre os dedos da mão dele — exatamente igual ao que vocês têm marcado em seus dedos.
— Ainda está doendo mãe... — Ali era o seu porto seguro, o colo e o abraço dela, eram suas zonas de segurança, onde ele podia desabafar o que afligia a sua alma.
— Eu sei que ainda está doendo pelo o que aconteceu com ela, — deu-lhe um beijo na cabeça — mas assim como cada estação do ano vem para nos renovar, eu acredito que você voltará a ver as flores na primavera, sentirá o alívio das chuvas de outono, irá sorrir mesmo com o frio do inverno e será renovado com o calor do verão.
Obrigado.
Palavras se tornam desnecessárias quando o gesto de gratidão é maior, ele sabia disso, por isso aplacava aquele momento de dor, aninhando-se igual a um gato no seu paraíso particular chamado colo de mãe.
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Chute a porta. Pensou a mesma coisa, e por mais que não conseguisse abri-la, ainda persistia nos pontapés. Sua perna doía, o som daquela música que ficava repetindo a mesma estrofe, lhe incomodava.
Alguém... ajuda...
A tempestade estava mais forte, não conseguindo ver muita coisa através da janela do carro, ainda assim ele continuava a tentar forçar a porta para abri-la a base de chutes e mais chutes.
Estranho, pensara, jurava que tinha visto alguém lhe olhar e sumir logo em seguida. Talvez esteja vendo coisas, argumentou para si mesmo.
Sua perna quebrou, o desespero aumentou. Escutando uma voz lhe sussurrando ao pé do ouvido, tudo aquilo que acontecia ali, e tudo o que tinha acontecido antes de tudo, parecia apenas um reflexo entre milhares de espelhos...
... Acordara suado e ofegante, tivera o mesmo sonho novamente, ele tentava controlar a respiração novamente.
A mesma coisa, num ângulo diferente.
Olhou para o criado-mudo, seus cigarros de cappuccino, o questionário de sua mãe, dois livros, algumas folhas de anotações, o colar de nébula e o rádio relógio marcando três da madrugada. O horário que a realidade do inferno se choca com o da terra, sempre a essa hora, aquele mesmo sonho voltava. A ilusão é apenas o pensamento que emergiu na realidade.
Pegou o colar, observando a nébula que fora feita com algodão.
Toda a minha sorte, eu entrego a você.
Uma sorte entrega a ele, e no fim das contas, sua amiga estava dormindo a quase seis meses e não tinha previsão de quando ia acordar....
Lis, não queria a sua sorte, daria a sua e a minha, para você estar aqui...
Fechara seus olhos, lembrando-se de uma música que dizia... “Feche seus olhos e agora é passado...”
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